Roberto Civita discursou sobre a importância da democracia, imprensa livre e livre iniciativa. Ele destacou que esses três elementos são interdependentes e que sem um, os outros também sucumbem. Civita também enfatizou a importância da formação em jornalismo por meio da criação de um curso de pós-graduação na ESPM.
Aula inaugural pós-graduação em Jornalismo - Palestra Roberto Civita
1. Palestra
Democracia,
imprensa livre
e livre iniciativa
Palestra com Roberto Civita
Roberto Civita, presidente do Conselho
de Administração do Grupo Abril, minis-
trou a aula inaugural do curso de pós-
graduação em Jornalismo da ESPM.
A seguir, confira a íntegra do discurso
proferido, no último dia 14 de março, por
esse que é considerado um dos mais
renomados jornalistas brasileiros.
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2. 119
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3. PALESTRA
É uma alegria, uma grande satisfação e um a liberdade de expressão de jornalistas ou
verdadeiro prazer participar da inauguração proprietários de empresas de comunicação.
do curso de Jornalismo, que é a concretização O que se procura é um meio para garantir
de um velho sonho, o projeto de introduzir no a sobrevivência de uma sociedade livre.
Brasil algo que simplesmente não existia e que, Existe uma indissolúvel interdependência
do meu ponto de vista, estava fazendo falta. entre a democracia, a imprensa livre e a
livre iniciativa. Sem uma, as outras também
Quero agradecer ao Conselho da ESPM, tão
sucumbem.
bem representado pelo meu querido amigo
Armando Ferrentini, ao meu amigo também Os meios de comunicação independentes
e companheiro de armas J. Roberto Whi- representam a primeira vítima das tiranias.
taker Penteado, hoje presidente da Escola, Sempre que estas se abatem sobre os povos
aos professores Richard Lucht e Gilberto e as nações cuidam logo de amordaçar a im-
Cavicchioli, que tanto contribuíram para prensa livre, pois somos, ao mesmo tempo,
a montagem e preparação do conjunto, ao a expressão e a consequência das liberdades
extraordinário corpo de professores do cur- públicas. O nosso principal compromisso
so, ao Eugênio Bucci, velho companheiro não é com governos, anunciantes, amigos ou
de jornadas jornalísticas e novo diretor do acionistas, mas sim com os nossos públicos
curso, sem os quais não estaríamos aqui e com a verdade.
hoje. Quero agradecer à Cleide Castellan,
A obrigação do jornalista é verificar os fatos
minha querida assistente executiva, que
e ser responsável, zelar pela ética, procurar
nos aguentou e carregou durante todo o
manter a isenção e sempre fazer o seu me-
tempo de gestação. Finalmente, bem-vindos
lhor. Não devemos esconder embaixo do
e muito prazer, novos alunos do curso, para
tapete mazelas e irregularidades de quem
os quais isso tudo está sendo feito.
quer que seja em nome de uma pseudo-
Quero começar por uma relação de premis- paz social ou econômica, nem tão pouco
sas e princípios que considero fundamentais podemos escolher o momento certo para
na frente editorial e jornalística, que orienta publicá-las.
tudo que tenho realizado ao longo da minha
O equilíbrio econômico e a justiça social
vida profissional.
que tanto sonhamos somente poderão ser
A liberdade e a livre manifestação do pensa- obtidos quando o povo puder acreditar na
mento, que incluem a liberdade de impren- solidez de suas instituições e nas respostas
sa, além de se constituírem em um direito que elas possam dar às suas necessidades.
natural do homem são pressupostos básicos A forma como os veículos de comunicação
de todas as demais liberdades: política, re- abordam, focam, apresentam e analisam
ligiosa, econômica, de associação e tantas os fatos, ev identemente, os altera e os
outras. A liberdade de imprensa não cons- afeta. Apesar de todas as insistências de
titui um fim em si mesma nem visa garantir que somos apenas os olhos, o espelho, os
}O nosso principal compromisso não é com
governos, anunciantes, amigos ou acionistas, mas
sim com os nossos públicos e com a verdade.~
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4. Roberto Civita
}Um grande dirigente editorial precisa ter os valores
do bom jornalismo: independência, integridade, ética,
excelência e respeito ao leitor.~
mensageiros da sociedade, é inegável que diariamente, a cada edição do jornal, dos
o famoso Efeito Heisenberg – criada pelo programas das emissoras de TV e de rádio,
físico alemão Werner Heisenberg, a teoria das reportagens publicadas nas revistas e
demonstrou que o mero ato de observar um nos sites. Evidentemente, não estamos aqui
fenômeno altera sua natureza – é também apenas para falar de jornalismo com “J”
aplicável ao mundo das notícias e do jor- maiúsculo, de política, de economia e da
nalismo. Não devemos nunca abandonar o salvação da pátria. Estamos aqui para falar
papel de investigar e denunciar irregula- de jornalismo lato sensu, desde política e
ridades, corrupção, erros e mentiras, mas economia até moda, turismo, gastronomia,
não podemos abdicar de procurar os fatos carros, bebês, esportes, beleza e todo o vas-
estimulantes, positivos e construtivos. to leque de interesses dos nossos diversos
públicos. Seja qual for a modalidade, e esta
A imprensa não deve ser vista apenas como
é uma das disciplinas do nosso currículo,
vingadora, justiceira, destruidora, um anjo
exterminador. Deve ser uma força que aju- é preciso sempre levar em conta que isso é
da a compreender, constituir, construir e muito mais do que um simples negócio. O
defender a comunidade, o Estado e o País. ideal é manter um equilíbrio permanente
É fundamental que a preocupação ética, o entre a excelência do conteúdo produzido e
triunfo do princípio sobre a conveniência, a saúde financeira da empresa.
a responsabilidade junto aos indivíduos, ao Estou convicto de que fazer jornalismo de
público, à nação e até ao planeta estejam qualidade, independente, confiável, além
sempre na balança. de contribuir com a sociedade, pode-se,
Afinal, quem nos outorgou o direito de infor- às vezes, até ganhar algum dinheiro. Para
mar, criticar, opinar, investigar, denunciar, isso a melhor maneira que conheço é o que
divertir e servir? A resposta é dupla: de um chamamos na Abril de a “separação entre a
lado ninguém nos elegeu, da mesma maneira Igreja e o Estado”.
que ninguém elege a igreja, as universida- Mas onde aprender isso tudo? Onde poder
des, os editores de livros, o supermercado mergulhar no assunto num nível avançado
onde nos abastecemos. Por outro lado, todos e debater as grandes questões básicas? A
nos elegem a cada instante.
importância da formação e da especia-
A imprensa não é um poder estruturado, lização nesse caso tornou-se óbvia para
erigido institucionalmente. O mercado livre, mim ao longo das décadas porque a escola
sim, que é a fábrica das eleições, a usina até aqui, de formação de dirigentes e de
permanente de opções. O mercado aberto e redação, tem sido a prática, mas a prática,
sem constrangimentos gera uma multiplici- você encontra. Hoje, temos 54 diretores
dade de estímulos e demandas que levam à de redação na Abril e, ao longo dos anos,
concorrência intensa e constantemente reno- tenho obser vado o quanto é difícil subir
vada. Esta eleição é permanente e acontece na carreira e aprender e dominar todos os
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5. PALESTRA
assuntos necessários a um dirigente edi- Um dia ocorreu-me que estávamos um
torial, para realmente exercer sua função pouco atrasados, que não tínhamos uma
com competência, brilho e sucesso. dessas escolas e que era algo que queria
fazer, porque acredito na importância da
Então, lembrei-me de uma história: nos fins
educação de modo geral, especialmente
de 1890, Joseph Pulitzer, que era fundador e
nas grandes universidades, que têm um
principal editor de alguns dos grandes jor-
papel fundamental na formação de uma
nais de Nova York na época, foi procurar uma
sociedade mais desenvolvida. Decidi que o
universidade de renome para fundar uma
curso deveria ser em uma universidade pau-
escola de jornalismo. Visitou as melhores
listana e, naturalmente, sem fins lucrativos,
universidades dos Estados Unidos e disse
porque tenho uma velha convicção de que a
que estaria disposto a financiar a montagem
melhor educação se faz sem fins lucrativos e
de uma escola de jornalismo. Mas todas dis-
lembrei-me da minha alma mater. Lembrei-
seram que “jornalismo não era coisa séria.
me da ESPM, que frequentei na rua Sete
Jornalismo não era coisa para universidade.
de Abril, no fim da década de 50, quando
Jornalismo era um ofício”. Aliás, mais de 100
ensinava somente Propaganda, mas já era
anos depois, um dia um reitor de uma dessas
uma extraordinária escola. Com muito or-
universidades disse-me a mesmíssima coisa.
gulho, integro o Conselho da ESPM há anos.
Certa vez, estava na Brown University, que
Procurei primeiro o Armando Ferrentini,
é uma das mais tradicionais universidades
depois os outros Conselheiros e o professor
dos Estados Unidos, para fazer uma palestra
J. Roberto Penteado para saber se estariam
sobre o Brasil e, conversando com o reitor,
interessados em montar uma escola dessas
perg untei se eles tinham uma escola de
em São Paulo e eles gostaram.
jornalismo em Brown. Ele me olhou e disse:
“Sr. Civita, há 200 anos, os fundadores dessa Depois disso perguntei como faríamos isso,
universidade decidiram que não ensinaría- porque nos Estados Unidos você simples-
mos ofícios”. O mesmo que disseram ao Sr. mente preenche um cheque, entrega para a
Pulitzer: “Nada feito. No school”. Ele insistiu universidade específica, qual é a finalidade
durante 14 anos. Todo ano voltava para a e o assunto está encerrado. Isso chama-se
Universidade de Columbia, dizendo estar endowment. Consultei advogados e perguntei
disposto a bancar uma escola de jornalismo: como o endowment era feito no Brasil e eles
“Vocês têm certeza de que não querem?” me disseram que não existia. Quando per-
Depois de 14 anos e da troca de alg uns guntei como isso deveria ser feito, eles res-
conselheiros, finalmente concordaram. Em ponderam que era muito complicado. Vocês
1905 aceitaram uma doação de Pulitzer e não vão acreditar, mas levamos seis meses
montaram o que hoje é a Columbia Jour- para encontrar uma fórmula que possibili-
nalism School. tasse fazer algo equivalente, com algumas
}A primeira preocupação de um bom gestor deve
ser com o recrutamento, o desenvolvimento, a
manutenção e a motivação de sua equipe. Isso
inclui saber demitir.~
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6. Roberto Civita
}A função do dirigente editorial é orquestrar o
conjunto da sua redação, começando com a
escolha e o treinamento dos músicos para dirigir
o processo.~
pequenas diferenças. A principal é que nos plexo. Eugênio é ex-secretário editorial da
Estados Unidos e na Europa, quando se faz Editora Abril e ex-presidente da Radiobrás,
uma doação para uma universidade seja ela posto que exerceu durante o Governo Lula.
qual for, há uma dedução no seu Imposto Atual mente é professor de jornalismo tanto
de Renda; já no Brasil você tem um imposto da ECA-USP quanto da ESPM. Conhece
adicional a pagar. Esse é só um exemplo para praticamente todos os lados da nossa pro-
vocês se divertirem com uma das coisas que fissão e tem se demonstrado um verdadeiro
vamos ter de mudar neste país, um pequeno maestro na arte de juntar talentos, planejar
detalhe que dificulta as doações não só para o curso e orquestrar o conjunto.
universidades como também para hospitais
Tivemos também a sorte e o privilégio de
e museus. Tenho amigos que tentaram doar
reunir uma extraordinária coleção de talen-
uma coleção de arte para a Pinacoteca, mas
tos para ministrar o curso, que inclui desde
desistiram depois de três anos de tentati-
uma quantidade de monstros sagrados da
vas. O saudoso José Mindlin passou nove
história do jornalismo brasileiro, até algu-
anos tentando doar a sua biblioteca para a
mas das maiores autoridades em fundamen-
USP, ou seja, não é fácil fazer doações para
tos como ética, economia, administração,
universidades no Brasil. Mas, enfim, con-
gestão de pessoas e processos, marketing,
seguimos criar o Instituto de Altos Estudos
internet e os principais aspectos jurídicos
em Jornalismo, a partir de um acordo com
que dizem respeito ao jornalismo no País.
a Escola; ele está montado e funcionando,
o imposto está pago e agora vamos à luta. A todos eles, meus ag radecimentos por
terem aceitado o nosso convite. E a todos
Qual é o objetivo disso tudo? Em poucas
os alunos dessa primeira turma, quanto
palavras contribuir, por intermédio desse
privilégio e quanta inveja. Todos que co-
curso, para o desenvolvimento das carreiras
nheceram esse currículo disseram “quero
dos melhores talentos editoriais brasileiros
estudar, quero fazer o curso, não quero ser
e a consequente melhora da qualidade
professor”. Aliás, ouvi uma citação dessas
do jornalismo no País. Isso, obviamente,
hoje pela manhã.
depende muito mais de gente, do que de
instalações, salas de aula ou equipamentos. Em outubro de 2009, J. Roberto Penteado,
Tudo depende das pessoas que você con- Richard Lucht e eu fomos visitar algumas
segue juntar dos dois lados da equação: os escolas de jornalismo em nível de pós-gra-
alunos e os professores. Tivemos a sorte de duação, as melhores dos Estados Unidos:
conseguir convencer Eugênio Bucci a dirigir Columbia University Graduate School of
este curso full time, porque é um trabalho de Journalism; Graduate School of Journalism
tempo integral, não dá para fazer isso nas at the City University of New York; Medill
horas vagas. Nos primeiros anos, durante School of Journalism of the Northwestern
a montagem, esse curso exige semanas de University in Chicago; e Berkeley Graduate
sete dias e 12 horas, o processo é muito com- School of Journalism of the University of
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7. PALESTRA
California, que são as quatro mais repu- longo do tempo, rea l i ze i nterc â mbios
tadas escolas de jornalismo dos Estados internacionais de alunos e professores. A
Unidos. Levei no bolso uma lista do que proposta é avaliar os valores e as práticas
achava que deveria ser o currículo do curso do jornalismo independente, e as noções
porque queria checar esse currículo com o avançadas de gestão editorial. Não va-
que eles faziam lá. O objetivo da viagem mos ensinar o que vocês já aprenderam
era verificar como funcionava as melhores du ra nte a sua for mação e ao longo de
escolas de jornalismo de pós-graduação do suas carreiras. Claro, seria idiota ensinar
planeta. Mostrei a lista para os deans que a fazer textos, títulos, legendas e aquelas
encontramos e um deles me perg untou coisas que todos aqui tiram de letra. Não
como e quanto tempo eu tinha levado para vamos entrar em técnicas de jornalismo.
montar o elenco de disciplinas – eram 15 ou O c u r r íc u lo é t udo q ue u m d i r ig ente
16 disciplinas. Respondi que tinha feito a editorial precisa saber e o revisitar para
lista em meia hora, levando em conta o que desempenhar a sua missão com sucesso e
as pessoas precisavam saber e o que tinha melhor do que seus concorrentes. Não se
descoberto ao longo dos anos que elas não esqueçam disso.
sabiam. Ele respondeu que levou dois anos
de pesquisas, muitos estudos, debates e Como já obser vei, vamos cobrir todos os
discussões para chegar exatamente à mesma fundamentos básicos, não para que vocês
lista. Fiquei muito contente. Demos uma se tornem experts em cada um deles, mas
polida em nossa lista e vimos o curso mais para entendê-los suficientemente bem e
de perto, como disse o professor David Kla- poder dialogar com seus companheiros
tell e a equipe da Columbia. Agora, temos do lado do negócio e formarem parcerias
um currículo que talvez irá exigir alguns baseadas em confiança e conhecimentos
acertos ao longo dos anos, mas que já tem mút uos. Teremos matér ias especí f icas,
o básico que um currículo destes precisa essenciais para o exercício da função de
para formar e preparar pessoas. Essa pri- dirigente editorial, como, por exemplo,
meira turma é composta basicamente por a d isc ipl i na “O jor na l ista e os nossos
pessoas que têm, no mínimo, dez anos de números”, crucial para poder lidar com a
experiência prática de redação e que já che- enxurrada de estatísticas, dados econô-
garam ao topo ou estão prestes a começar a micos, balanços, pesquisas e projeções
dirigir uma operação editorial de televisão, necessárias para que as nossas audiências
rádio, jornal, revista e até internet. Estamos possam se situar e entender o mundo em
procurando os dirigentes, gente do futuro que vivem. Do lado prático, vamos falar da
do jornalismo brasileiro.
vida como ela é dentro de uma redação – o
A intenção e o desafio é o de montar um dia-a-dia, os desafios, as pressões, as ine-
curso world-class, que não fique devendo vitáveis dúvidas. Vamos analisar e contar
nada aos melhores do planeta e que, ao muitos bons cases e histórias de sucessos
}A era multimídia, da conectividade, da interatividade
e da próxima novidade que já está chegando, está
definitivamente instalada.~
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8. Roberto Civita
}O ideal é manter um equilíbrio permanente entre
a excelência do conteúdo produzido e a saúde
financeira da empresa.~
e de f racassos ta mbém, pois é com os los. Além de conhecer o seu público, precisa
fracassos que se aprende mais. respeitá-lo, cuidar dele e antecipar os seus
desejos. Precisa saber gerir gente, isso se
Um grande dirigente editorial precisa ter os
aprende um pouco na prática, mas também
valores do bom jornalismo: independência,
na teoria. A primeira preocupação de um
integridade, ética, excelência e respeito ao
bom gestor deve ser com o recrutamento, o
leitor. Toda vez que falar em leitor pense no
desenvolvimento, a manutenção e a motiva-
seu público e isso vale para todos os meios. O
ção de sua equipe. Isso inclui saber demitir.
segundo ponto é ter uma visão clara de onde
Há momentos em que demitir é necessário,
está e aonde quer chegar com o seu veículo,
já em outros é preciso apoiar seus jornalis-
qual é a sua missão, sua função, como servir,
tas, mesmo que tenham falhado, e nunca
provocar, estimular, instigar a sua audiência,
demiti-los sob pressão, nunca, esse é um
qual é a reação que espera da sua audiência
pecado mortal. Precisa conhecer todos os
em função do jornalismo que pratica. Para
processos que envolvem uma publicação, um
isso, todos os bons dirigentes editoriais
site, uma emissora: o que é administração, o
que conheci em minha vida tinham uma
que são os controles, como utilizar indicado-
curiosidade onívora. Não conheço grandes
res de desempenho, que vão desde o custo
dirigentes editoriais e diretores de redação
editorial por página ou edição por minuto
que não sejam, permanentemente, curiosos
até a proporção do conteúdo jornalístico no
a respeito de tudo. Estão sempre ligados 24
conjunto do veículo. Precisa entender de
horas por dia. A capacidade de fazer o que
publicidade, assinaturas, gráficas, tecnolo-
chamo de zoom in e zoom out é necessária
gia, transmissão, distribuição, pesquisas,
para poder ver o detalhe com o zoom in e
marketing, tudo isso como pano de fundo
também para não se perder nele, conseguin-
não é responsabilidade do diretor editorial,
do fazer o que no cinema se chama zoom out
mas faz parte do contexto em que ele precisa
para ver a situação de longe em perspectiva.
operar para entender a correlação entre as
A capacidade de agir no momento certo, o
partes e a importância de sua inter-relação
timing, como todos nós já sabemos, é abso-
harmoniosa.
lutamente fundamental. E ter sempre como
objetivo a excelência jornalística, a isenção, Precisa saber mediar conflitos, saber di-
a precisão, a verificação, o equilí brio, a zer não ou ainda quando e como recusar
relevância e o compromisso permanente anúncios que conf litem, invadam ou se
com a verdade. O que um bom dirigente confundam com o seu conteúdo editorial.
editorial deve saber adicionalmente é que Precisa saber quando está impelido para
precisa conhecer a sua audiência, o leitor, o evitar conflitos de interesses e resistir às
internauta, o telespectador, o ouvinte, que é tentações. Isso tudo se torna ainda mais
a razão de ser, o princípio e o fim de tudo o importante e complexo graças à revolução
que fazemos, a sustentação de nossos veícu- digital em curso.
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9. PALESTRA
}Esse novo curso tem a ambição e o objetivo de
contribuir para a melhoria do jornalismo no Brasil.~
Tem gente que me pergunta por que fazer a escolha e o treinamento dos músicos
um curso de jornalismo agora. Será que o para dirigir o processo. Precisa também
jornalismo não está acabando? Será que saber intuir e descobrir o que seu público
a internet não liquidou o jornalismo? Os quer, além de entender a concorrência,
jornais, as revistas, a televisão e o rádio que sentir quando mudar de direção mediante
conhecemos vão continuar existindo? Essa disputas e conf litos, e defender sempre
é a grande pergunta. Minha resposta é um o saudável equilí brio editorial e comer-
enfático sim, e por muito tempo, porém cial. Enfim, precisa sempre lembrar que
com um tom mais crítico na sequência. As qualquer veículo é um todo e seu sucesso
fronteiras entre os veículos estão acabando, depende da harmonia entre corpo e alma,
a imprensa tradicional já incorporou sons entre Igreja e Estado, princípios e inteli-
e imagens em movimento. A era multimí- gência, experiência e imaginação, ousadia
dia, da conectividade, da interatividade e e competência. Precisa não se esquecer
da próxima novidade que já está chegan- nunca de que o diretor editorial é o res-
do, está definitivamente instalada. Como ponsável final pela reputação, integridade
consequência, hoje, as pessoas estão literal-
e credibilidade da sua revista, seu jornal,
mente submersas em um verdadeiro dilúvio
seu site, seu canal ou sua emissora. Ele é
informativo. Como se informar, selecionar,
o g uardião da chama que diferencia um
confiar no que está acessível na rede com
veículo de um simples produto ou serviço.
todos esses milhões de sites, blogs, vídeos
É também o defensor e propagador de seu
e redes sociais?
veículo, em última instância, a consciência
Mais do que nunca, os nossos públicos da publicação. Os dirigentes editoriais têm
necessitam de solo firme quando buscam uma enorme responsabilidade para com a
informação. Precisam de coordenadas e re- nossa audiência, com os nossos públicos
ferências confiáveis. Precisam de quem faça e com o nosso país.
o trabalho de editar. Precisam de um guia
É exatamente esse conjunto de coisas que,
que selecione, organize, cheque, analise e
em minha opinião nada imparcial, torna
em quem, repito, possam confiar. É aqui que
nós, produtores de conteúdo, entramos, ou esse metiê, este ofício, a atividade mais esti-
melhor, continuamos na história. Precisa- mulante, mais divertida, mais desafiadora e
mos continuar a ser profundos conhecedores mais compensadora, em vários sentidos, que
e referência nos assuntos que tratamos e a existe neste planeta.
fonte privilegiada de quem quer se atualizar, Como eu disse no início, este novo curso tem
entender o que é um tsunami, avaliar um a ambição e o objetivo de contribuir para a
cardápio, comprar um carro novo, experi-
melhoria do jornalismo no Brasil. Com os
mentar um novo penteado, escolher uma es-
ensinamentos do nosso excepcional corpo
cola para os filhos, uma maneira de diminuir
docente e o interesse, empenho e dedica-
a barriga ou até um presidente para o país.
ção de cada um de vocês, atingiremos, sem
A função do dirigente editorial é orquestrar dúvida, esse objetivo. Bom proveito, bom
o conjunto da sua redação, começando com divertimento e muito sucesso! ESPM
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