A mãe chega cansada do trabalho e não pode brincar com a filha. A menina desenha "O mundo dentro do meu coração", representando sentimentos e emoções com elementos da natureza. A menina explica o significado de cada elemento e inspira a mãe a lembrar-se de quando não tinha medo de sonhar.
1. Sente com o Coração e Liberta a Imaginação
Concurso Literário
Chegara por fim a casa, com as sacas das compras a transbordar e a cabeça
cheia de problemas quotidianos. Mal abri a porta, um grito familiar correu na minha
direcção:
- Mãe, mãe! Chegaste!
Dei um beijo naquela cabeça cheia de sonhos e de caracóis, enquanto tirava o
casaco encharcado de chuva e de trabalho.
- Mãe, vem brincar comigo. - pediu-me com alegria.
- Agora não posso, querida, - respondi cansada. - tenho de fazer o jantar.
Porque não pedes ao pai?
- Ele está no escritório a trabalhar. Está sempre a trabalhar. - e cabisbaixa
correu para a sala.
Suspirei. Como era bom ter outra vez quatro anos e não ter trabalho e
responsabilidades para enfrentar em cada esquina …
Dirigi-me com as compras para a cozinha e concentrei-me na tarefa de arrumar
cada produto no seu devido lugar na despensa. Seguidamente, puxei de tachos e
panelas e liguei o rádio para ouvir um pouco de música, enquanto cozinhava. A mesma
voz de sempre anunciava as mesmas notícias de sempre. Suspirei e mudei de estação. A
realidade não é algo agradável de se ouvir ao fim de um duro dia de trabalho.
Por fim, quando o jantar estava dentro do forno, dirigi-me à sala para ver se a
minha pequena princesa não tinha ficado muito magoada. Encontrei-a deitada no
tapete em frente da lareira que crepitava alegremente, de barriga para baixo, com uma
caixa de lápis de cor e um bloco de folhas de papel.
No seu desenho via-se uma menina num jardim, sentada debaixo de uma árvore.
Nesse mesmo jardim havia um canteiro com flores, um pequeno monstro e um rio. No
céu via-se um sol e uma nuvem cinzenta da qual caiam gotas de água.
- Que estás a desenhar? - perguntei.
- O mundo dentro do meu coração. - respondeu.
- O mundo dentro do teu coração?
- Sim. Todos nós o temos desde bebés.
Olhei para ela confusa e ela com um ar muito sereno e adulto explicou,
apontando no seu desenho.
- As flores são a alegria, pois são bonitas e coloridas como a alegria. A chuva é a
tristeza, pois é igual às lágrimas. O sol é o amor, pois aquece e torna as pessoas felizes
como o amor. O monstro é a fúria, pois as pessoas zangadas podem ser muito más umas
para as outras. O rio é a paz, pois é lento e calmo como a paz. A nuvem cinzenta é o
medo, pois cobre o céu e não nos deixa ver o sol, que é o amor, tornando-nos infelizes.
E a menina sou eu. - finalizou com um sorriso.
- E a árvore? - perguntei curiosa.
2. - A árvore é a imaginação e os sonhos, pois cresce em direcção ao céu. Cresce sem
parar sem ter medo de se tornar muito grande ou de bater no topo do céu. Porque o céu
não tem topo, como a imaginação e os sonhos não têm limites.
Olhei para a minha pequena sábia que, sem se aperceber da grande lição que me
acabara de dar, continuava a desenhar e lembrei-me de todos os sonhos e ambições que
tinha deixado para trás. Lembrei-me de quando não tinha medo de sentir a árvore a
crescer no meu coração. Lembrei-me de quando era menina também e o céu não era um
limite.
Francisca Seabra, nº 8, 8ºB