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ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES




Aleitamento materno: como é vivenciado                                          Carmen Viana Ramos 1
por mulheres assistidas em uma unidade de                                       João Aprígio Guerra de Almeida                 2

saúde de referência na atenção materno-                                         1 Secretaria de Saúde do Estado do Piauí. Av. Pedro Freitas s.n.

infantil em Teresina, Piauí                                                     Centro Administrativo. Teresina, PI, Brasil. CEP: 64018-000.
                                                                                Fones / Fax: (86) 218-1899/ 2110565.
                                                                                2 Banco de Leite Humano. Instituto Fernandes Figueira.

Breast-feeding: the way it is experienced by                                    Fundação Oswaldo Cruz.

women assisted at a Pediatrics and
Maternity Hospital in Teresina in the State
of Piauí




                Abstract                                                        Resumo
                    Objectives: increase the understanding on how                   Objetivos: ampliar a compreensão acerca de co-
                women who have weaned their children before the                 mo as mulheres que desmamaram os seus filhos antes
                fourth month of life view breast-feeding and care re-           do quarto mês de vida percebem a amamentação e a
                ceived during the pregnancy and puerperal cycle.                assistência recebida no curso do ciclo gravídico-
                    Methods: the theory of Social Representation was            puerperal.
                used as a theoretical and methodological reference.                 Métodos: adotou-se a Teoria das Representações
                In the whole 24 women were interviewed through a                Sociais como referencial teórico-metodológico. Ao to-
                semi-structured questionnaire. Data analysis was per-           do foram entrevistadas 24 mulheres com base num
                formed based on a content analysis method.                      questionário semi-estruturado. A análise dos dados
                    Results: statements analysis of the respondents             se deu a partir do método de análise de conteúdo.
                determined the gap between the standing of the insti-               Resultados: a análise do discurso das entrevis-
                tution favoring exclusive breast-feeding until the sixth        tadas permitiu evidenciar um verdadeiro descompas-
                month of life and the experience of women related to            so entre o discurso proferido pela instituição, em fa-
                breast-feeding which established the impossibility of           vor da amamentação exclusiva até o sexto mês de vi-
                following such recommendation in the face of real life          da, e a vivência das mulheres com relação a este ato,
                conditions.                                                     que se traduziu na impossibilidade de cumprir tal orien-
                    Conclusions: results revealed the need of an urgent         tação frente as suas condições concretas de vida.
                reformulation of healthcare actions concerning the issue            Conclusões: os resultados revelaram a necessi-
                with the objective of considering not only biologic fac-        dade de uma urgente reformulação nos referenciais
                tors but social and cultural conditions involving breast-       que embasam as ações de saúde voltadas para essa
                feeding as well.                                                área, com vistas a contemplar, além dos determi-
                Key words Breast feeding, Weaning, Pregnancy                    nantes biológicos, os condicionantes socioculturais
                                                                                que permeiam a amamentação.
                                                                                Palavras-chave Aleitamento materno, Desmame,
                                                                                Gravidez




                                                                  Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003   315
Ramos CV, Almeida JAG




                       Introdução                                                     entação dada na instituição. Em termos objetivos, no
                                                                                      período de fevereiro a maio de 2000, essa tendência
                       A amamentação se transformou em um dos princi-                 foi observada em 64% das mulheres atendidas no
                       pais objetos de preocupação para os formuladores de            Consultório de Acompanhamento Nutricional
                       políticas públicas em favor da saúde da criança, na-           (CAN) da maternidade.
                       cional e internacionalmente em particular após a                   Como explicar este desvio comportamental da
                       edição de quot;The baby killerquot;na década de 70. 1 Desde            mulher em relação a amamentação? A necessidade de
                       então, inúmeras estratégias foram elaboradas e im-             responder essa questão a partir da fala das mulheres
                       plementadas em diferentes regiões do globo, inclu-             se configurou como objetivo desse estudo, que foi
                       sive no Brasil, com o objetivo de contribuir para a            desenvolvido no intuito de compreender como as
                       redução dos índices de morbi-mortalidade infantil              mulheres percebem a assistência no ciclo gravídico-
                       através do combate do desmame precoce.                         puerperal tendo como eixo central a amamentação.
                           Dentre as formulações da Organização Mundial
                       da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para
                       a Infância (UNICEF),2 figura a hipótese de que um              Métodos
                       dos mais importantes elementos para o declínio da
                       amamentação, nas duas últimas décadas, foi a                   Optou-se por um estudo de caráter exploratório, anco-
                       adoção de rotinas hospitalares inadequadas. Seguin-            rado nos preceitos da pesquisa qualitativa em saúde.
                       do essa perspectiva, a maioria das maternidades ado-           Esse tipo de pesquisa trabalha com o quot;... universo de
                       ta procedimentos que impedem a aproximação mãe e               aspirações, crenças, valores e atitude que não podem
                       filho no puerpério imediato, além de favorecer o uso           ser expressos através de variáveis matemáticasquot; (Mi-
                       de chupetas, mamadeiras e fórmulas lácteas nas                 nayo; 1994: 21-2).8 Para tanto, utilizou-se a teoria das
                       práticas hospitalares.3                                        representações sociais como referencial metodológi-
                           Com base nesses referenciais, foi lançado, em              co. Segundo Minayo (1994: 89),9 quot;... as represen-
                       1991, o Programa Iniciativa Hospital Amigo da Cri-             tações sociais se manifestam em palavras, sentimen-
                       ança (IHAC), a ser implantado em todos os países               tos e condutas e se institucionalizam, portanto, po-
                       signatários da Declaração de Innocenti. 4 Essa pro-            dem e devem ser analisadas a partir da compreen-
                       posta, operacionalizada através da readequação das             são das estruturas e dos comportamentos sociais.quot;
                       rotinas hospitalares em observação ao cumprimento              Pode-se dizer que representações sociais são a
                       de 10 normas básicas, traz como diferencial, em re-            maneira como os indivíduos de uma determinada so-
                       lação as propostas anteriores para a área, a preocu-           ciedade, pertencentes a um determinado grupo so-
                       pação em prestar apoio à mulher que amamenta e de              cial, expressam a sua realidade e a interpretam, de-
                       protegê-la dos condicionantes sociais que falam em             pendendo do seu nível de conhecimento, partindo da
                       favor do desmame, a exemplo das estratégias de                 construção de um saber próprio pautado na sua ex-
                       marketing dos fabricantes de fórmulas lácteas.5                periência do cotidiano. Sobre esse prisma é que se
                           A IHAC vem sendo trabalhada no Brasil desde                lançou luz às representações de amamentação das
                       1992, sob a responsabilidade do Ministério da Saúde            mães que fizeram parte do presente estudo.
                       e com o apoio do UNICEF. A proposta inclui ações                    A MDER é uma instituição pública, estadual,
                       voltadas para a adoção das leis que protejam o tra-            situada em Teresina, PI, Brasil, que tem as suas
                       balho da mulher lactante e a implementação das nor-            ações de assistência dirigida para a saúde da
                       mas de comercialização de alimentos para lactentes.6           mulher, da criança e do adolescente. Por ser uma in-
                           O país dispõe atualmente de 271 Hospitais Ami-             stituição IHAC, suas diretrizes, normas e rotinas es-
                       gos da Criança.7 No Piauí existem sete unidades hos-           tão em conformidade com o disposto no modelo as-
                       pitalares detentoras desse título, sendo a Maternidade         sistencial proposto pela IHAC, que contempla a
                       Dona Evangelina Rosa (MDER), a pioneira no esta-               meta de amamentação exclusiva por quatro a seis a
                       do.                                                            meses.
                           A MDER iniciou o processo de implantação da                     Com base no pressuposto de que o desmame pre-
                       IHAC em 1993, mas somente em 1997 conseguiu                    coce está relacionado com as dificuldades do modelo
                       cumprir todos os pré-requisitos exigidos, readequan-           assistencial em lidar com os fatores socioculturais que
                       do as suas rotinas de acordo com as exigências do              permeiam a amamentação, foram incluídas, no estu-
                       programa. Contudo, apesar de todo o esforço em-                do, as mulheres assistidas na MDER que: freqüen-
                       preendido, verificou-se a existência de mães que               taram pelo menos seis consultas durante o pré-natal,
                       abandonam a amamentação exclusiva antes dos qua-               tiveram parto a termo, fizeram o acompanhamento
                       tro meses de vida do filho, contrariando assim a ori-          regular de seus filhos no serviço de puericultura e ini-




316     Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003
Aleitamento materno




ciaram o processo de desmame antes do quarto mês          flito, principalmente, pelo fato de não ter sido, na
de vida do bebê. Somente participaram do estudo as        maioria das vezes, fruto de um planejamento prévio:
mulheres que tiveram crianças a termo, sem nenhum         quot;Ai meu Deus! É bom ter um filho, mas (pausa) é
tipo de intercorrência no parto ou pós-parto. A maio-     difícil [...] porque o nenen toma muito tempo da
ria das crianças encontrava-se em idade inferior a        gente, mas assim é ótimo!quot;; quot;... não foi uma gravidez
seis meses (92%), as outras (8%) estavam no inter-        planejada, não que eu não aceite, que eu aceitoquot;; quot;...
valo entre seis e 12 meses.                               quando você descobre que está grávida, que não es-
    O número de entrevistadas, 24 mulheres ao todo,       tá gostando da criança, mas com o tempo você vai
definiu-se com base no critério de saturação dos temas    gostando, vai aceitando ...quot;; quot;No início da minha
pesquisados. Segundo Minayo,10 o número adequado          gravidez foi difícil porque meus pais não queriam
de entrevistas deve ser entendido como aquele capaz       aceitar e tal [...] não foi uma gravidez planejada ...quot;
de refletir a totalidade nas suas dimensões.              Quando se tratou da mulher adolescente, a gravidez
    A participação das mulheres no estudo deu-se de       representou, invariavelmente, um grau de transtorno
forma voluntária e foram obeservados os disposi-          para a família: quot;... eu engravidei com 16 anos, foi um
tivos legais que regulamentam atividades de               choque para todo mundo aqui em casa ...quot;
pesquisa envolvendo seres humanos.11 Conduziram-
se as entrevistas com o auxílio de um roteiro temáti-     O parto
co, tomando o cuidado de não cercear a fala das en-
trevistadas. No que tange a assistência em amamen-        O parto ficou marcado nas mulheres como um mo-
tação, o roteiro temático contemplou: por que             mento de sofrimento físico, tomado pelo sentimento
procurou a MDER; como foi o pré-natal, o pré-par-         de solidão e pela sensação de falta de preparo para
to, o puerpério; a alta hospitalar; consultas de segui-   vivenciá-lo: quot;... fiquei triste no momento do parto
mento; pontos fortes e pontos fracos; sugestões de        porque foi uma experiência bem diferente, dolorida
melhoria; relação com os profissionais de saúde; a        né ...quot;; quot;...eu chorava, não sei se era de dor ou de
usuária frente as rotinas hospitalares. As entrevistas    medo de ir pra maternidade, eu tinha tanto medo de
foram gravadas e transcritas.                             ficar sozinha ...quot;
    A análise das falas das mulheres realizou-se com
base na técnica de análise de conteúdo, que consiste      O puerpério
em descobrir os núcleos de sentido que fazem parte
da comunicação e cuja a presença ou frequência im-        O puerpério, à semelhança do pré-parto e parto, se en-
portam em algum significado para os objetivos aos         controu marcado pelos sentimentos de solidão e de-
quais nos propomos. Segundo Gomes,12 esse tipo de         samparo das mulheres. A tônica das falas se concen-
metodologia serve principalmente para a verificação       trou na falta de apoio, principalmente em lidar com o
de hipóteses ou questões formuladas, como também,         recém-nascido, e em especial, com as questões rela-
para confirmar ou não as afirmações estabelecidas         cionadas a amamentação: quot;Tinha que ter uma enfer-
durante o trabalho de campo.                              meira ali com a gente, ela falasse - olha quando ele
                                                          tiver chorando bota ele no peito [...] eu senti mais
                                                          falta de uma enfermeira ali comigo ou então de um
Resultados                                                parente meu que tivesse experiência ...quot;.

A análise compreensiva possibilitou localizar na fala     Consultas de seguimento
das entrevistadas dois eixos para discussão: um rela-
cionado à vivência de cada uma delas durante o ciclo      A experiência da amamentação se revelou como um
gravídico puerperal, e outro, no qual demonstraram        momento conflituoso para as mulheres, no qual as
suas percepções acerca da assistência recebida du-        orientações recebidas na maternidade nem sempre
rante cada fase, quais sejam: o pré-natal, o parto, o     correspondiam à prática vivida por elas, tornando es-
puerpério e as consultas de seguimento.                   sa fase repleta de medo e insegurança: quot;Elas orien-
    A seguir serão apresentadas as considerações das      tam a gente, tiram as dúvidas, porque a gente tem
mulheres de acordo com cada fase vivenciada na            muita dúvida, principalmente depois que a criança
maternidade.                                              nasce né ...quot;; quot;Eu pensava que ela ia brigar comigo,
                                                          porque todas as pessoas lá, tavam perto de mim, lá
A gravidez                                                na maternidade, falavam: 'ela vai dar bronca em ti
                                                          porque tu tá dando leite'...quot;
A gravidez se apresentou como um momento de con-              No que diz respeito à assistência em amamen-




                                                                  Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003   317
Ramos CV, Almeida JAG




                       tação, a recebida pelas mulheres durante toda a tra-           ... de lá, por exemplo, o bebê nasce, ele joga ali na
                       jetória do pré-natal até as consultas de seguimento,           mãe [...] Eu fiquei abandonadaquot;; quot;... queria assistir
                       pode-se perceber que a mulher, invariavelmente, du-            a palestra porque eu achava muito interessante, não
                       rante todo o tempo, fez avaliações acerca da as-               sabia de nada do que ela tava falando ali ...quot;; quot;... a
                       sistência recebida. Sob esse enfoque, alguns temas             gente quer ir embora logo [...] a gente querendo ir
                       apareceram de forma bem enfática a partir de suas              embora e elas conversando.quot;
                       falas. Pode-se destacar entre eles: a assistência no
                       pré-natal e no parto; as rotinas hospitalares, as infor-       Informações recebidas
                       mações recebidas; o discurso dos profissionais; nor-
                       mas existentes.                                                As informações repassadas pelos serviços de saúde
                                                                                      são constantemente avaliadas pelas mulheres, que as
                       Assistência no pré-natal e parto                               confrontam com suas próprias vivências e, dessa
                                                                                      maneira, questionam os novos valores que lhe são
                       A atenção dispensada pela equipe de saúde no pré-              ofertados: quot;... ela disse que não existe leite fraco
                       natal e parto foi muito valorizada nas falas. Muitas           não, a gente pensa né que existe ...quot;; quot;Elas dizem
                       mulheres se dirigiram de forma bem enfática à figu-            que .. .é da cabeça da gente, é imaginação, que a
                       ra do médico, que, segundo elas, deveria dar mais in-          gente tem leite pra amamentar ...quot;.
                       formações sobre a gravidez, o parto e a amamen-
                       tação, além de realizar o exame das mamas de forma             Discurso dos profissionais
                       rotineira e oferecer um apoio efetivo, pois assim es-
                       taria contribuindo para que a mulher se tornasse               O distanciamento entre as percepções da mulher e as
                       mais segura frente ao ciclo gravídico-puerperal e              proposições do modelo assistencial se fizeram evi-
                       para a consecução da amamentação: quot;... no pré-na-              dentes nas falas, revelando um verdadeiro descompas-
                       tal, tem muitas atendentes que são boas, só que tem            so entre o discurso dos profissionais e a prática das
                       outras que são muito ignorantes. As vezes elas vêm             mulheres: quot;... a gente sempre faz diferente de lá, elas
                       de casa mal humoradas e terminam vindo descontar               falam sempre uma coisa, aconselham aquilo que é
                       na gente ...quot;; quot;Eu tive mais ou menos sete consultas,          bom, é melhor, é o certo [...] a gente acha dificuldade
                       o meu médico nunca falou sobre amamentação,                    [...] aí é o jeito a gente fazer as coisas diferentes...quot;.
                       falou de jeito nenhum ...quot;;quot;Não dessa época do na-
                       tal, só mesmo a palestra, depois eu não procurei               Normas existentes
                       saber sobre amamentação não, só depois que eu tive
                       a criança [...] não, eu não vou me preocupar saber é           A distância que se estabelece entre as proposições
                       ... sobre aleitamento porque eu não tou precisando             contempladas pelas normas a favor da amamentação
                       agoraquot;.; quot;Não gostei mais ainda do médico que tava             e a prática das mulheres que iniciaram o desmame
                       fazendo o meu pré-natal porque ele nunca falou so-             antes do quarto mês, também se fez perceber em re-
                       bre amamentação [...] ele nunca examinou minhas                lação ao uso de bicos e chupetas: quot;... ele chorou e aí
                       mamasquot;. O discurso das mulheres revela por um la-              eu fiquei preocupada [...] até minha mãe aconselhou
                       do a preocupação por não terem recebido nenhuma                a dar chupeta ...quot;; quot;... eu sei que é ruim dar bico,
                       informação sobre o assunto, sobretudo dos médicos,             mas eu dou [...] a gente dá bico que é pra ficar mais
                       por outro lado, percebe-se a falta de preocupação em           calmo ...quot;. Apesar dos constantes alertas às mães so-
                       tratar desse tema nessa fase.                                  bre o efeito nocivo dos bicos artificiais e da rigidez
                            Com relação ao parto, a banalização da dor por            das rotinas hospitalares, que impedem definitiva-
                       parte da equipe, durante o trabalho de parto, mere-            mente essa prática durante a internação, não foi pos-
                       ceu destaque na fala das entrevistadas: quot;... acho que          sível observar o eco desejado na fase pós-alta. Uma
                       virar pra você e mandar você calar a boca, isso aí             vez em casa, as mães se mostraram favoráveis ao
                       sinceramente fiquei com ódio disso aí ...quot;                     uso de mamadeiras, por entenderem que esses recur-
                                                                                      sos aliviam-na da dependência de criança, além de
                       As rotinas hospitalares                                        se configurar como uma alternativa prática, capaz
                                                                                      de permitir que ela compatibilize o ser mãe com to-
                       As rotinas hospitalares adotadas na instituição, em            das as demais atribuições e incumbências que lhe
                       atenção ao cumprimento dos 10 passos para o suces-             dizem respeito.
                       so da amamentação, preconizadas pela IHAC, se
                       configuraram em objeto de crítica por parte das en-
                       trevistadas: quot;... eu não gosto muito do negócio de lá




318     Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003
Aleitamento materno




Discussão                                               lheres, merecem destaque o pré-natal e o momento do
                                                        parto. O fato de a gestação representar um dos mo-
A busca acerca da compreensão das mulheres sobre a      mentos de maior vulnerabilidade na vida da mulher,
assistência recebida no tocante à amamentação reve-     apesar de não constituir novidade deveria se configu-
lou também como foi a vivência de cada uma delas        rar num dos principais objetos de preocupação do
frente ao ciclo gravídico-puerperal, demonstrando que   serviço. Contudo, a invés do serviço se mostrar apare-
cada uma das etapas vencidas representou momentos       lhado para lidar adequadamente com as questões da
de solidão e de desamparo.                              gestante, compreendendo-a, amparando-a, foi obser-
    A gravidez, nesse contexto, fez aflorar um senti-   vado o inverso. As gestantes, preocupadas em garan-
mento ambíguo e ao mesmo tempo contraditório,           tir o seu atendimento, se recolheram à condição de
pelas mudanças que ocasionam na vida das mulheres,      pacientes, e como tal, se lançaram a compreender
e também, por ter se revelado, na maioria dos re-       aqueles que deveriam compreendê-las.
latos, não planejada. Almeida e Couto, 13 comentam           Em relação à dor, muito referenciada pelas mu-
que a gravidez e o puerpério podem gerar temores e      lheres na hora do parto, é relatada no estudo de
ansiedade para a mulher. Para Silva, 14 esse fato       Hotmsky et al.,19 como um processo de naturalização
decorre da percepção de algo novo e inesperado na       do sofrimento ligado à maneira como se dá a cons-
vida, com o qual a mulher ainda não aprendeu a li-      trução social de gênero prevalente entre as camadas
dar. Existem muitas razões para as mulheres engravi-    populares brasileiras. Segundo a autora, a relação en-
darem, sendo o amor a principal razão para o casa-      tre os profissionais de saúde e pacientes, se dá, muitas
mento, e um filho é visto como o fruto deste amor.      vezes, através da desconfiança, desrespeito e conflito,
Porém, muitas gravidezes não são desejadas nem          especialmente quando se trata daqueles pertencentes a
planejadas, sendo aceitas somente após um tempo.        camadas socioeconômicas desfavorecidas.
Algumas sequer são aceitas.6                                 As mulheres, com base na experiência vivida du-
    Participaram do estudo seis adolescentes. Nesses    rante o transcurso da gravidez, parto e puerpério
casos, os sentimentos conflituosos se prestaram para    dentro da maternidade, podem avaliar constante-
ampliar a vulnerabilidade emocional da mulher, tan-     mente a assistência recebida. Nesse aspecto, mere-
to na gestação, como durante todo o processo de         cem destaque as normas adotadas na instituição para
amamentação. A percepção dos pais se configurou         apoiar a amamentação. O cumprimento das normas
no elemento desencadeador de tais sentimentos, pois     por si, tal qual foram delineadas originalmente, não
muitas vezes a adolescente não conta com o apoio do     se mostrou universalmente eficaz para o estabeleci-
pai da criança e/ou da própria família.15               mento de amamentação. As mulheres, clientes e não
    Com relação ao momento do parto, as parturi-        apenas pacientes, denunciam em sua falas a falta de
entes submetidas à dor e ao stress, em ambientes        um suporte adequado no serviço, capaz de responder
pouco receptivos, vivenciaram a experiência do par-     a seus anseios e necessidades individuais, construí-
to de forma sofrida e traumática. Além da necessária    das a partir dos referenciais que compõem as suas
preparação para o parto que deve ocorrer durante o      histórias de vida. Essa constatação, mais do que um
pré-natal, com ênfase em ações psico-profiláticas,      alerta, representa uma oportunidade para reformular
alguns autores denotam a importância da presença        as estruturas assistenciais destinadas a promover
de uma pessoa ao lado da mulher, com a função ex-       suporte à mulher que precisa vencer as dificuldades
clusiva de acompanhá-la no período peripartal, a        iniciais para o estabelecimento de amamentação.
semelhança das quot;doulasquot; que existem em algumas               Um outro ponto avaliado pelas mulheres foram
culturas. 16 Além disso, é referida a importância da    as informações repassadas pelos profissionais de
participação do pai e familiares durante o parto e o    saúde. Os valores que compõem a matriz vivencial da
contato precoce dos pais com seus filhos.17             mulher, na maioria das vezes construídos a partir do
    O puerpério, tal qual o parto, mostrou ser um mo-   senso comum, tendem a sobrepor aos novos conheci-
mento difícil, especialmente pela falta de apoio para   mentos que lhe são ofertados através dos serviços de
cuidar da criança. Segundo Vinha,18 o puerpério rep-    saúde, particularmente, no que tange a amamen-
resenta uma importante fase de adaptação, na qual a     tação. A figura do leite fraco ou do pouco leite é uma
mulher necessita de apoio, ajuda e certos cuidados,     das mais evidentes constatações dessa tendência,
face aos sentimentos de insegurança, medo, conflitos    uma vez que desde o início do século XVIII, por
e ansiedades que vivencia. Os sentimentos maternos      mais que a medicina tenha oferecido argumentos ci-
no pós-parto são, sem dúvida, grandes influenciadores   entificamente embasados à sociedade, no sentido de
do que irá ocorrer em relação à amamentação.            comprovar que todas as mulheres são capazes de
    Com relação à assistência recebida pelas mu-        produzir leite em qualidade e quantidade suficiente




                                                                Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003   319
Ramos CV, Almeida JAG




                       para propiciar o crescimento adequado dos seus fi-             aliado à dificuldade da maternidade em lidar com a
                       lhos, um número significativo de mulheres continua-            condução dessa etapa, tornou essa experiência ex-
                       va a insistir que isso não é possível.5                        tremamente dolorosa e traumatizante. Além disso,
                           A bipolarização que se estabelece entre o senso co-        há de se destacar a necessidade do desenvolvimento
                       mum e o saber científico em torno do leite fraco repre-        de um trabalho dirigido à mulher, no sentido de
                       senta uma dificuldade histórica do profissional de             prepará-la para o parto, puerpério e amamentação,
                       saúde em lidar com as questões subjetivas e singulares         contemplando as questões subjetivas da mulher, nu-
                       da mulher. Os programas de saúde tendem a buscar a             ma dimensão psico-profilática. Nesse sentido, o
                       solução para os problemas da nutriz através da dimen-          acompanhamento da mulher, a partir do pré-parto, se
                       são biológica, adotando práticas que estimulam a glân-         configura como uma medida importante e que deve
                       dula mamária e evocando sempre o instinto materno              ser implantada, em resposta a um dos principais
                       como algo inato e próprio da espécie humana, que por           problemas que elas tiveram de vencer: a solidão.
                       sua vez compõe o universo dos mamíferos. O grande                  As principais falhas na atenção pré-natal, em re-
                       equívoco que se comete nesse tipo de abordagem é o             lação ao preparo para a futura amamentação, se rela-
                       de considerar apenas os determinantes biológicos,              cionaram com a pouca efetividade na comunicação
                       deixando de lado os condicionantes sociais que                 estabelecida entre as gestantes e os profissionais de
                       permeiam a amamentação e que, inclusive, tendem a              saúde, sobretudo com os médicos. Sob este enfoque,
                       se sobrepor aos determinantes biológicos.20                    a principal questão levantada pelas mulheres se
                           Por fim, há de se destacar que o hiato entre o dis-        encerra na necessidade de serem ouvidas.
                       curso do profissional de saúde e a prática vivenciada              A solidão e o desamparo, acrescido à falta de ex-
                       pelas mulheres foi o elemento de mais relevo nas               periência de lidar com o bebê, principalmente no que
                       falas, funcionando como uma espécie de fio condu-              diz respeito à iniciação e ao estabelecimento da ama-
                       tor que uniu os diferentes argumentos e alegações no           mentação, foi a tônica da fala das mulheres em re-
                       decorrer de todas as entrevistas. A informação não             lação ao puerpério. Ao que parece, a instituição não
                       se mostrou eficiente em si mesma, e a questão que              oferece um suporte adequado às necessidades da
                       surge diz respeito ao modelo assistencial vigente, em          mulher, e quando o faz, se limita as questões relati-
                       considerá-la como atividade finalística. Assim,                vas ao manejo da lactação, através de uma abor-
                       pode-se concluir que não basta informar; o trabalho            dagem predominantemente biologicista. Ao con-
                       deve ser direcionado no sentido de possibilitar a in-          trário, os relatos evidenciam a necessidade de apoio,
                       trojeção de um novo valor cultural, um conjunto de             no sentido de haver alguém capaz de escutar as suas
                       valores que componha a bagagem de vida da mulher.              angústias e diminuir as ansiedades geradas pelo
                       Nessa perspectiva, o atual modelo assistencial em              comportamento do bebê, que para elas representa al-
                       amamentação não se revelou capaz de lidar com as               go novo e desconhecido.
                       condições concretas de vida das nutrizes, o que ter-               A atuação dos profissionais de saúde deu-se de
                       mina por impedí-las de amamentarem.                            forma descompassada, revelando o grande hiato que
                                                                                      se estabelece entre o discurso proferido por eles e a
                       Considerações finais                                           prática que compõe o cotidiano da mulher. A as-
                                                                                      sistência em amamentação se configurou como um
                       O conhecimento da experiência vivida pelas mulheres            atendimento impessoal, apesar de todas as
                       a partir da assistência recebida na MDER, durante o            proposições normativas, o que visivelmente impos-
                       ciclo gravídico-puerperal, possibilitou ampliar a              sibilitou operar com as questões subjetivas que per-
                       compreensão acerca da percepção do assistir em                 meiam a gestação, o parto, o puerpério e a amamen-
                       amamentação, sob a ótica da cliente. Além disso, foi           tação, culminando com a prática do desmame antes
                       possível evidenciar questões ligadas ao parto e ao             do quarto mês de vida do bebê.
                       puerpério, que refletem algumas necessidades de                    De um lado as mulheres reclamam a falta de apoio
                       mudança na forma como se estrutura o atendimento.              e do outro os profissionais percebem e reconhecem os
                           As mulheres vivenciaram a gestação e o parto               anseios da mulher, mas definitivamente não são ca-
                       como experiências repletas de sentimentos ambíguos             pazes de romper com o modelo em vigor. Há de se
                       e ao mesmo tempo contraditórios. A ansiedade, o                buscar um caminho que possibilite compatibilizar os
                       medo, a solidão e o desamparo acompanharam a                   determinantes biológicos e os condicionantes sociais
                       mulher durante todo o seu percurso na instituição,             que permeiam a amamentação, entendendo-a como
                       desde o momento da descoberta da gravidez até a al-            uma categoria híbrida, com elementos definidos tanto
                       ta hospitalar.                                                 pela natureza, como pela cultura,5 sem supervalorizar
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320     Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003
Aleitamento materno




Referências

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       apoio ao aleitamento materno: o papel especial dos          13. Almeida JAG, Couto LS. Amamentação: um dilema entre
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       1989.                                                             Cone Sul de Aleitamento Materno [CD-ROM].
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8. Minayo MCS. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa            MM. O parto como eu vejo ... ou como eu desejo? Ex-
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       Janeiro: Vozes; 1994. p. 89-111.
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       tiva em saúde. São Paulo: Hucitec; 1992.
11. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Diretrizes e
       normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres
       humanos: resolução 196/96 do Conselho Nacional de
       Saúde. Rio de Janeiro: O Ministério; 1998.




Recebido em 3 de março de 2003
Versão final reapresentada em 16 de julho de 2003
Aprovado em 13 de agosto de 2003




                                                                             Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003   321

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Aleitamento Materno – Como é Vivenciado Por Mulheres Assistidas Em Uma Unidade De SaúDe De ReferêNcia Na AtençãO Materno Infantil Em Teresina, Piauí

  • 1. ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES Aleitamento materno: como é vivenciado Carmen Viana Ramos 1 por mulheres assistidas em uma unidade de João Aprígio Guerra de Almeida 2 saúde de referência na atenção materno- 1 Secretaria de Saúde do Estado do Piauí. Av. Pedro Freitas s.n. infantil em Teresina, Piauí Centro Administrativo. Teresina, PI, Brasil. CEP: 64018-000. Fones / Fax: (86) 218-1899/ 2110565. 2 Banco de Leite Humano. Instituto Fernandes Figueira. Breast-feeding: the way it is experienced by Fundação Oswaldo Cruz. women assisted at a Pediatrics and Maternity Hospital in Teresina in the State of Piauí Abstract Resumo Objectives: increase the understanding on how Objetivos: ampliar a compreensão acerca de co- women who have weaned their children before the mo as mulheres que desmamaram os seus filhos antes fourth month of life view breast-feeding and care re- do quarto mês de vida percebem a amamentação e a ceived during the pregnancy and puerperal cycle. assistência recebida no curso do ciclo gravídico- Methods: the theory of Social Representation was puerperal. used as a theoretical and methodological reference. Métodos: adotou-se a Teoria das Representações In the whole 24 women were interviewed through a Sociais como referencial teórico-metodológico. Ao to- semi-structured questionnaire. Data analysis was per- do foram entrevistadas 24 mulheres com base num formed based on a content analysis method. questionário semi-estruturado. A análise dos dados Results: statements analysis of the respondents se deu a partir do método de análise de conteúdo. determined the gap between the standing of the insti- Resultados: a análise do discurso das entrevis- tution favoring exclusive breast-feeding until the sixth tadas permitiu evidenciar um verdadeiro descompas- month of life and the experience of women related to so entre o discurso proferido pela instituição, em fa- breast-feeding which established the impossibility of vor da amamentação exclusiva até o sexto mês de vi- following such recommendation in the face of real life da, e a vivência das mulheres com relação a este ato, conditions. que se traduziu na impossibilidade de cumprir tal orien- Conclusions: results revealed the need of an urgent tação frente as suas condições concretas de vida. reformulation of healthcare actions concerning the issue Conclusões: os resultados revelaram a necessi- with the objective of considering not only biologic fac- dade de uma urgente reformulação nos referenciais tors but social and cultural conditions involving breast- que embasam as ações de saúde voltadas para essa feeding as well. área, com vistas a contemplar, além dos determi- Key words Breast feeding, Weaning, Pregnancy nantes biológicos, os condicionantes socioculturais que permeiam a amamentação. Palavras-chave Aleitamento materno, Desmame, Gravidez Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003 315
  • 2. Ramos CV, Almeida JAG Introdução entação dada na instituição. Em termos objetivos, no período de fevereiro a maio de 2000, essa tendência A amamentação se transformou em um dos princi- foi observada em 64% das mulheres atendidas no pais objetos de preocupação para os formuladores de Consultório de Acompanhamento Nutricional políticas públicas em favor da saúde da criança, na- (CAN) da maternidade. cional e internacionalmente em particular após a Como explicar este desvio comportamental da edição de quot;The baby killerquot;na década de 70. 1 Desde mulher em relação a amamentação? A necessidade de então, inúmeras estratégias foram elaboradas e im- responder essa questão a partir da fala das mulheres plementadas em diferentes regiões do globo, inclu- se configurou como objetivo desse estudo, que foi sive no Brasil, com o objetivo de contribuir para a desenvolvido no intuito de compreender como as redução dos índices de morbi-mortalidade infantil mulheres percebem a assistência no ciclo gravídico- através do combate do desmame precoce. puerperal tendo como eixo central a amamentação. Dentre as formulações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF),2 figura a hipótese de que um Métodos dos mais importantes elementos para o declínio da amamentação, nas duas últimas décadas, foi a Optou-se por um estudo de caráter exploratório, anco- adoção de rotinas hospitalares inadequadas. Seguin- rado nos preceitos da pesquisa qualitativa em saúde. do essa perspectiva, a maioria das maternidades ado- Esse tipo de pesquisa trabalha com o quot;... universo de ta procedimentos que impedem a aproximação mãe e aspirações, crenças, valores e atitude que não podem filho no puerpério imediato, além de favorecer o uso ser expressos através de variáveis matemáticasquot; (Mi- de chupetas, mamadeiras e fórmulas lácteas nas nayo; 1994: 21-2).8 Para tanto, utilizou-se a teoria das práticas hospitalares.3 representações sociais como referencial metodológi- Com base nesses referenciais, foi lançado, em co. Segundo Minayo (1994: 89),9 quot;... as represen- 1991, o Programa Iniciativa Hospital Amigo da Cri- tações sociais se manifestam em palavras, sentimen- ança (IHAC), a ser implantado em todos os países tos e condutas e se institucionalizam, portanto, po- signatários da Declaração de Innocenti. 4 Essa pro- dem e devem ser analisadas a partir da compreen- posta, operacionalizada através da readequação das são das estruturas e dos comportamentos sociais.quot; rotinas hospitalares em observação ao cumprimento Pode-se dizer que representações sociais são a de 10 normas básicas, traz como diferencial, em re- maneira como os indivíduos de uma determinada so- lação as propostas anteriores para a área, a preocu- ciedade, pertencentes a um determinado grupo so- pação em prestar apoio à mulher que amamenta e de cial, expressam a sua realidade e a interpretam, de- protegê-la dos condicionantes sociais que falam em pendendo do seu nível de conhecimento, partindo da favor do desmame, a exemplo das estratégias de construção de um saber próprio pautado na sua ex- marketing dos fabricantes de fórmulas lácteas.5 periência do cotidiano. Sobre esse prisma é que se A IHAC vem sendo trabalhada no Brasil desde lançou luz às representações de amamentação das 1992, sob a responsabilidade do Ministério da Saúde mães que fizeram parte do presente estudo. e com o apoio do UNICEF. A proposta inclui ações A MDER é uma instituição pública, estadual, voltadas para a adoção das leis que protejam o tra- situada em Teresina, PI, Brasil, que tem as suas balho da mulher lactante e a implementação das nor- ações de assistência dirigida para a saúde da mas de comercialização de alimentos para lactentes.6 mulher, da criança e do adolescente. Por ser uma in- O país dispõe atualmente de 271 Hospitais Ami- stituição IHAC, suas diretrizes, normas e rotinas es- gos da Criança.7 No Piauí existem sete unidades hos- tão em conformidade com o disposto no modelo as- pitalares detentoras desse título, sendo a Maternidade sistencial proposto pela IHAC, que contempla a Dona Evangelina Rosa (MDER), a pioneira no esta- meta de amamentação exclusiva por quatro a seis a do. meses. A MDER iniciou o processo de implantação da Com base no pressuposto de que o desmame pre- IHAC em 1993, mas somente em 1997 conseguiu coce está relacionado com as dificuldades do modelo cumprir todos os pré-requisitos exigidos, readequan- assistencial em lidar com os fatores socioculturais que do as suas rotinas de acordo com as exigências do permeiam a amamentação, foram incluídas, no estu- programa. Contudo, apesar de todo o esforço em- do, as mulheres assistidas na MDER que: freqüen- preendido, verificou-se a existência de mães que taram pelo menos seis consultas durante o pré-natal, abandonam a amamentação exclusiva antes dos qua- tiveram parto a termo, fizeram o acompanhamento tro meses de vida do filho, contrariando assim a ori- regular de seus filhos no serviço de puericultura e ini- 316 Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003
  • 3. Aleitamento materno ciaram o processo de desmame antes do quarto mês flito, principalmente, pelo fato de não ter sido, na de vida do bebê. Somente participaram do estudo as maioria das vezes, fruto de um planejamento prévio: mulheres que tiveram crianças a termo, sem nenhum quot;Ai meu Deus! É bom ter um filho, mas (pausa) é tipo de intercorrência no parto ou pós-parto. A maio- difícil [...] porque o nenen toma muito tempo da ria das crianças encontrava-se em idade inferior a gente, mas assim é ótimo!quot;; quot;... não foi uma gravidez seis meses (92%), as outras (8%) estavam no inter- planejada, não que eu não aceite, que eu aceitoquot;; quot;... valo entre seis e 12 meses. quando você descobre que está grávida, que não es- O número de entrevistadas, 24 mulheres ao todo, tá gostando da criança, mas com o tempo você vai definiu-se com base no critério de saturação dos temas gostando, vai aceitando ...quot;; quot;No início da minha pesquisados. Segundo Minayo,10 o número adequado gravidez foi difícil porque meus pais não queriam de entrevistas deve ser entendido como aquele capaz aceitar e tal [...] não foi uma gravidez planejada ...quot; de refletir a totalidade nas suas dimensões. Quando se tratou da mulher adolescente, a gravidez A participação das mulheres no estudo deu-se de representou, invariavelmente, um grau de transtorno forma voluntária e foram obeservados os disposi- para a família: quot;... eu engravidei com 16 anos, foi um tivos legais que regulamentam atividades de choque para todo mundo aqui em casa ...quot; pesquisa envolvendo seres humanos.11 Conduziram- se as entrevistas com o auxílio de um roteiro temáti- O parto co, tomando o cuidado de não cercear a fala das en- trevistadas. No que tange a assistência em amamen- O parto ficou marcado nas mulheres como um mo- tação, o roteiro temático contemplou: por que mento de sofrimento físico, tomado pelo sentimento procurou a MDER; como foi o pré-natal, o pré-par- de solidão e pela sensação de falta de preparo para to, o puerpério; a alta hospitalar; consultas de segui- vivenciá-lo: quot;... fiquei triste no momento do parto mento; pontos fortes e pontos fracos; sugestões de porque foi uma experiência bem diferente, dolorida melhoria; relação com os profissionais de saúde; a né ...quot;; quot;...eu chorava, não sei se era de dor ou de usuária frente as rotinas hospitalares. As entrevistas medo de ir pra maternidade, eu tinha tanto medo de foram gravadas e transcritas. ficar sozinha ...quot; A análise das falas das mulheres realizou-se com base na técnica de análise de conteúdo, que consiste O puerpério em descobrir os núcleos de sentido que fazem parte da comunicação e cuja a presença ou frequência im- O puerpério, à semelhança do pré-parto e parto, se en- portam em algum significado para os objetivos aos controu marcado pelos sentimentos de solidão e de- quais nos propomos. Segundo Gomes,12 esse tipo de samparo das mulheres. A tônica das falas se concen- metodologia serve principalmente para a verificação trou na falta de apoio, principalmente em lidar com o de hipóteses ou questões formuladas, como também, recém-nascido, e em especial, com as questões rela- para confirmar ou não as afirmações estabelecidas cionadas a amamentação: quot;Tinha que ter uma enfer- durante o trabalho de campo. meira ali com a gente, ela falasse - olha quando ele tiver chorando bota ele no peito [...] eu senti mais falta de uma enfermeira ali comigo ou então de um Resultados parente meu que tivesse experiência ...quot;. A análise compreensiva possibilitou localizar na fala Consultas de seguimento das entrevistadas dois eixos para discussão: um rela- cionado à vivência de cada uma delas durante o ciclo A experiência da amamentação se revelou como um gravídico puerperal, e outro, no qual demonstraram momento conflituoso para as mulheres, no qual as suas percepções acerca da assistência recebida du- orientações recebidas na maternidade nem sempre rante cada fase, quais sejam: o pré-natal, o parto, o correspondiam à prática vivida por elas, tornando es- puerpério e as consultas de seguimento. sa fase repleta de medo e insegurança: quot;Elas orien- A seguir serão apresentadas as considerações das tam a gente, tiram as dúvidas, porque a gente tem mulheres de acordo com cada fase vivenciada na muita dúvida, principalmente depois que a criança maternidade. nasce né ...quot;; quot;Eu pensava que ela ia brigar comigo, porque todas as pessoas lá, tavam perto de mim, lá A gravidez na maternidade, falavam: 'ela vai dar bronca em ti porque tu tá dando leite'...quot; A gravidez se apresentou como um momento de con- No que diz respeito à assistência em amamen- Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003 317
  • 4. Ramos CV, Almeida JAG tação, a recebida pelas mulheres durante toda a tra- ... de lá, por exemplo, o bebê nasce, ele joga ali na jetória do pré-natal até as consultas de seguimento, mãe [...] Eu fiquei abandonadaquot;; quot;... queria assistir pode-se perceber que a mulher, invariavelmente, du- a palestra porque eu achava muito interessante, não rante todo o tempo, fez avaliações acerca da as- sabia de nada do que ela tava falando ali ...quot;; quot;... a sistência recebida. Sob esse enfoque, alguns temas gente quer ir embora logo [...] a gente querendo ir apareceram de forma bem enfática a partir de suas embora e elas conversando.quot; falas. Pode-se destacar entre eles: a assistência no pré-natal e no parto; as rotinas hospitalares, as infor- Informações recebidas mações recebidas; o discurso dos profissionais; nor- mas existentes. As informações repassadas pelos serviços de saúde são constantemente avaliadas pelas mulheres, que as Assistência no pré-natal e parto confrontam com suas próprias vivências e, dessa maneira, questionam os novos valores que lhe são A atenção dispensada pela equipe de saúde no pré- ofertados: quot;... ela disse que não existe leite fraco natal e parto foi muito valorizada nas falas. Muitas não, a gente pensa né que existe ...quot;; quot;Elas dizem mulheres se dirigiram de forma bem enfática à figu- que .. .é da cabeça da gente, é imaginação, que a ra do médico, que, segundo elas, deveria dar mais in- gente tem leite pra amamentar ...quot;. formações sobre a gravidez, o parto e a amamen- tação, além de realizar o exame das mamas de forma Discurso dos profissionais rotineira e oferecer um apoio efetivo, pois assim es- taria contribuindo para que a mulher se tornasse O distanciamento entre as percepções da mulher e as mais segura frente ao ciclo gravídico-puerperal e proposições do modelo assistencial se fizeram evi- para a consecução da amamentação: quot;... no pré-na- dentes nas falas, revelando um verdadeiro descompas- tal, tem muitas atendentes que são boas, só que tem so entre o discurso dos profissionais e a prática das outras que são muito ignorantes. As vezes elas vêm mulheres: quot;... a gente sempre faz diferente de lá, elas de casa mal humoradas e terminam vindo descontar falam sempre uma coisa, aconselham aquilo que é na gente ...quot;; quot;Eu tive mais ou menos sete consultas, bom, é melhor, é o certo [...] a gente acha dificuldade o meu médico nunca falou sobre amamentação, [...] aí é o jeito a gente fazer as coisas diferentes...quot;. falou de jeito nenhum ...quot;;quot;Não dessa época do na- tal, só mesmo a palestra, depois eu não procurei Normas existentes saber sobre amamentação não, só depois que eu tive a criança [...] não, eu não vou me preocupar saber é A distância que se estabelece entre as proposições ... sobre aleitamento porque eu não tou precisando contempladas pelas normas a favor da amamentação agoraquot;.; quot;Não gostei mais ainda do médico que tava e a prática das mulheres que iniciaram o desmame fazendo o meu pré-natal porque ele nunca falou so- antes do quarto mês, também se fez perceber em re- bre amamentação [...] ele nunca examinou minhas lação ao uso de bicos e chupetas: quot;... ele chorou e aí mamasquot;. O discurso das mulheres revela por um la- eu fiquei preocupada [...] até minha mãe aconselhou do a preocupação por não terem recebido nenhuma a dar chupeta ...quot;; quot;... eu sei que é ruim dar bico, informação sobre o assunto, sobretudo dos médicos, mas eu dou [...] a gente dá bico que é pra ficar mais por outro lado, percebe-se a falta de preocupação em calmo ...quot;. Apesar dos constantes alertas às mães so- tratar desse tema nessa fase. bre o efeito nocivo dos bicos artificiais e da rigidez Com relação ao parto, a banalização da dor por das rotinas hospitalares, que impedem definitiva- parte da equipe, durante o trabalho de parto, mere- mente essa prática durante a internação, não foi pos- ceu destaque na fala das entrevistadas: quot;... acho que sível observar o eco desejado na fase pós-alta. Uma virar pra você e mandar você calar a boca, isso aí vez em casa, as mães se mostraram favoráveis ao sinceramente fiquei com ódio disso aí ...quot; uso de mamadeiras, por entenderem que esses recur- sos aliviam-na da dependência de criança, além de As rotinas hospitalares se configurar como uma alternativa prática, capaz de permitir que ela compatibilize o ser mãe com to- As rotinas hospitalares adotadas na instituição, em das as demais atribuições e incumbências que lhe atenção ao cumprimento dos 10 passos para o suces- dizem respeito. so da amamentação, preconizadas pela IHAC, se configuraram em objeto de crítica por parte das en- trevistadas: quot;... eu não gosto muito do negócio de lá 318 Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003
  • 5. Aleitamento materno Discussão lheres, merecem destaque o pré-natal e o momento do parto. O fato de a gestação representar um dos mo- A busca acerca da compreensão das mulheres sobre a mentos de maior vulnerabilidade na vida da mulher, assistência recebida no tocante à amamentação reve- apesar de não constituir novidade deveria se configu- lou também como foi a vivência de cada uma delas rar num dos principais objetos de preocupação do frente ao ciclo gravídico-puerperal, demonstrando que serviço. Contudo, a invés do serviço se mostrar apare- cada uma das etapas vencidas representou momentos lhado para lidar adequadamente com as questões da de solidão e de desamparo. gestante, compreendendo-a, amparando-a, foi obser- A gravidez, nesse contexto, fez aflorar um senti- vado o inverso. As gestantes, preocupadas em garan- mento ambíguo e ao mesmo tempo contraditório, tir o seu atendimento, se recolheram à condição de pelas mudanças que ocasionam na vida das mulheres, pacientes, e como tal, se lançaram a compreender e também, por ter se revelado, na maioria dos re- aqueles que deveriam compreendê-las. latos, não planejada. Almeida e Couto, 13 comentam Em relação à dor, muito referenciada pelas mu- que a gravidez e o puerpério podem gerar temores e lheres na hora do parto, é relatada no estudo de ansiedade para a mulher. Para Silva, 14 esse fato Hotmsky et al.,19 como um processo de naturalização decorre da percepção de algo novo e inesperado na do sofrimento ligado à maneira como se dá a cons- vida, com o qual a mulher ainda não aprendeu a li- trução social de gênero prevalente entre as camadas dar. Existem muitas razões para as mulheres engravi- populares brasileiras. Segundo a autora, a relação en- darem, sendo o amor a principal razão para o casa- tre os profissionais de saúde e pacientes, se dá, muitas mento, e um filho é visto como o fruto deste amor. vezes, através da desconfiança, desrespeito e conflito, Porém, muitas gravidezes não são desejadas nem especialmente quando se trata daqueles pertencentes a planejadas, sendo aceitas somente após um tempo. camadas socioeconômicas desfavorecidas. Algumas sequer são aceitas.6 As mulheres, com base na experiência vivida du- Participaram do estudo seis adolescentes. Nesses rante o transcurso da gravidez, parto e puerpério casos, os sentimentos conflituosos se prestaram para dentro da maternidade, podem avaliar constante- ampliar a vulnerabilidade emocional da mulher, tan- mente a assistência recebida. Nesse aspecto, mere- to na gestação, como durante todo o processo de cem destaque as normas adotadas na instituição para amamentação. A percepção dos pais se configurou apoiar a amamentação. O cumprimento das normas no elemento desencadeador de tais sentimentos, pois por si, tal qual foram delineadas originalmente, não muitas vezes a adolescente não conta com o apoio do se mostrou universalmente eficaz para o estabeleci- pai da criança e/ou da própria família.15 mento de amamentação. As mulheres, clientes e não Com relação ao momento do parto, as parturi- apenas pacientes, denunciam em sua falas a falta de entes submetidas à dor e ao stress, em ambientes um suporte adequado no serviço, capaz de responder pouco receptivos, vivenciaram a experiência do par- a seus anseios e necessidades individuais, construí- to de forma sofrida e traumática. Além da necessária das a partir dos referenciais que compõem as suas preparação para o parto que deve ocorrer durante o histórias de vida. Essa constatação, mais do que um pré-natal, com ênfase em ações psico-profiláticas, alerta, representa uma oportunidade para reformular alguns autores denotam a importância da presença as estruturas assistenciais destinadas a promover de uma pessoa ao lado da mulher, com a função ex- suporte à mulher que precisa vencer as dificuldades clusiva de acompanhá-la no período peripartal, a iniciais para o estabelecimento de amamentação. semelhança das quot;doulasquot; que existem em algumas Um outro ponto avaliado pelas mulheres foram culturas. 16 Além disso, é referida a importância da as informações repassadas pelos profissionais de participação do pai e familiares durante o parto e o saúde. Os valores que compõem a matriz vivencial da contato precoce dos pais com seus filhos.17 mulher, na maioria das vezes construídos a partir do O puerpério, tal qual o parto, mostrou ser um mo- senso comum, tendem a sobrepor aos novos conheci- mento difícil, especialmente pela falta de apoio para mentos que lhe são ofertados através dos serviços de cuidar da criança. Segundo Vinha,18 o puerpério rep- saúde, particularmente, no que tange a amamen- resenta uma importante fase de adaptação, na qual a tação. A figura do leite fraco ou do pouco leite é uma mulher necessita de apoio, ajuda e certos cuidados, das mais evidentes constatações dessa tendência, face aos sentimentos de insegurança, medo, conflitos uma vez que desde o início do século XVIII, por e ansiedades que vivencia. Os sentimentos maternos mais que a medicina tenha oferecido argumentos ci- no pós-parto são, sem dúvida, grandes influenciadores entificamente embasados à sociedade, no sentido de do que irá ocorrer em relação à amamentação. comprovar que todas as mulheres são capazes de Com relação à assistência recebida pelas mu- produzir leite em qualidade e quantidade suficiente Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003 319
  • 6. Ramos CV, Almeida JAG para propiciar o crescimento adequado dos seus fi- aliado à dificuldade da maternidade em lidar com a lhos, um número significativo de mulheres continua- condução dessa etapa, tornou essa experiência ex- va a insistir que isso não é possível.5 tremamente dolorosa e traumatizante. Além disso, A bipolarização que se estabelece entre o senso co- há de se destacar a necessidade do desenvolvimento mum e o saber científico em torno do leite fraco repre- de um trabalho dirigido à mulher, no sentido de senta uma dificuldade histórica do profissional de prepará-la para o parto, puerpério e amamentação, saúde em lidar com as questões subjetivas e singulares contemplando as questões subjetivas da mulher, nu- da mulher. Os programas de saúde tendem a buscar a ma dimensão psico-profilática. Nesse sentido, o solução para os problemas da nutriz através da dimen- acompanhamento da mulher, a partir do pré-parto, se são biológica, adotando práticas que estimulam a glân- configura como uma medida importante e que deve dula mamária e evocando sempre o instinto materno ser implantada, em resposta a um dos principais como algo inato e próprio da espécie humana, que por problemas que elas tiveram de vencer: a solidão. sua vez compõe o universo dos mamíferos. O grande As principais falhas na atenção pré-natal, em re- equívoco que se comete nesse tipo de abordagem é o lação ao preparo para a futura amamentação, se rela- de considerar apenas os determinantes biológicos, cionaram com a pouca efetividade na comunicação deixando de lado os condicionantes sociais que estabelecida entre as gestantes e os profissionais de permeiam a amamentação e que, inclusive, tendem a saúde, sobretudo com os médicos. Sob este enfoque, se sobrepor aos determinantes biológicos.20 a principal questão levantada pelas mulheres se Por fim, há de se destacar que o hiato entre o dis- encerra na necessidade de serem ouvidas. curso do profissional de saúde e a prática vivenciada A solidão e o desamparo, acrescido à falta de ex- pelas mulheres foi o elemento de mais relevo nas periência de lidar com o bebê, principalmente no que falas, funcionando como uma espécie de fio condu- diz respeito à iniciação e ao estabelecimento da ama- tor que uniu os diferentes argumentos e alegações no mentação, foi a tônica da fala das mulheres em re- decorrer de todas as entrevistas. A informação não lação ao puerpério. Ao que parece, a instituição não se mostrou eficiente em si mesma, e a questão que oferece um suporte adequado às necessidades da surge diz respeito ao modelo assistencial vigente, em mulher, e quando o faz, se limita as questões relati- considerá-la como atividade finalística. Assim, vas ao manejo da lactação, através de uma abor- pode-se concluir que não basta informar; o trabalho dagem predominantemente biologicista. Ao con- deve ser direcionado no sentido de possibilitar a in- trário, os relatos evidenciam a necessidade de apoio, trojeção de um novo valor cultural, um conjunto de no sentido de haver alguém capaz de escutar as suas valores que componha a bagagem de vida da mulher. angústias e diminuir as ansiedades geradas pelo Nessa perspectiva, o atual modelo assistencial em comportamento do bebê, que para elas representa al- amamentação não se revelou capaz de lidar com as go novo e desconhecido. condições concretas de vida das nutrizes, o que ter- A atuação dos profissionais de saúde deu-se de mina por impedí-las de amamentarem. forma descompassada, revelando o grande hiato que se estabelece entre o discurso proferido por eles e a Considerações finais prática que compõe o cotidiano da mulher. A as- sistência em amamentação se configurou como um O conhecimento da experiência vivida pelas mulheres atendimento impessoal, apesar de todas as a partir da assistência recebida na MDER, durante o proposições normativas, o que visivelmente impos- ciclo gravídico-puerperal, possibilitou ampliar a sibilitou operar com as questões subjetivas que per- compreensão acerca da percepção do assistir em meiam a gestação, o parto, o puerpério e a amamen- amamentação, sob a ótica da cliente. Além disso, foi tação, culminando com a prática do desmame antes possível evidenciar questões ligadas ao parto e ao do quarto mês de vida do bebê. puerpério, que refletem algumas necessidades de De um lado as mulheres reclamam a falta de apoio mudança na forma como se estrutura o atendimento. e do outro os profissionais percebem e reconhecem os As mulheres vivenciaram a gestação e o parto anseios da mulher, mas definitivamente não são ca- como experiências repletas de sentimentos ambíguos pazes de romper com o modelo em vigor. Há de se e ao mesmo tempo contraditórios. A ansiedade, o buscar um caminho que possibilite compatibilizar os medo, a solidão e o desamparo acompanharam a determinantes biológicos e os condicionantes sociais mulher durante todo o seu percurso na instituição, que permeiam a amamentação, entendendo-a como desde o momento da descoberta da gravidez até a al- uma categoria híbrida, com elementos definidos tanto ta hospitalar. pela natureza, como pela cultura,5 sem supervalorizar A falta de preparo para o momento do parto, uma dimensão em detrimento da outra. 320 Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003
  • 7. Aleitamento materno Referências 1. Muller M. O matador de bebês. Campinas: Cemicamp; 1981. 12. Gomes R. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: 2. OMS (Organização Mundial de Saúde), UNICEF (Fundo das Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: teoria, Nações Unidas para a Infância). Proteção, promoção, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1994. p. 67-80. apoio ao aleitamento materno: o papel especial dos 13. Almeida JAG, Couto LS. Amamentação: um dilema entre serviços maternos infantis. Genebra: A Organização; amamentar e promover. In: Anais do I Congresso do 1989. Cone Sul de Aleitamento Materno [CD-ROM]. 3. OMS (Organização Mundial de Saúde), UNICEF (Fundo das 14. Silva IA. Amamentar: uma questão de assumir riscos ou Nações Unidas para a Infância). Manual técnico: manejo garantir benefícios. São Paulo: Robe; 1997. e promoção do aleitamento materno num Hospital Ami- 15. Gama SNG, Szarcwald CL, Leal MC. Experiência de go da Criança. Curso de 18 horas para equipes de mater- gravidez na adolescência, fatores associados e resultados nidade. Genebra: A Organização; 1993. perinatais entre puérperas de baixa renda. Cad Saúde 4. UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Situ- Pública 2002; 18: 153-61. ação mundial da infância: 1998. Brasília (DF): O Fundo; 16. Helsing E, King FS. Breast-feeding in practice: a manual 1998. for health workers. Nairobi Kuala Lumpur: British Li- 5. Almeida JAG. Amamentação: um híbrido da natureza - cul- brary; 1985. tura. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz; 1999. 17. Silva AMR, Andrade SM, Thomson Z. Opiniões de mães 6. Lana APB. O livro de estímulo à amamentação: uma visão de crianças que morreram no primeiro ano de vida no biológica, fisiológica e psicológica-comportamental da município de Londrina, Paraná, Brasil. Cad Saúde Públi- amamentação. Belo Horizonte: Atheneu; 2001. ca 2002; 18: 1295-302. 7. Situação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança no Brasil. 18. Vinha VHP. O livro da amamentação. São Paulo: CLR Disponível em: http:://www.aleitamento.org.br/ihac/situ- Brasileiro; 1999. aihac.htm. [26 Maio 2003]. 19. Hotmsky SN, Ruther D, Venâncio SI, Bógus CM, Miranda 8. Minayo MCS. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa MM. O parto como eu vejo ... ou como eu desejo? Ex- social. In: Minayo MCS, organizadora. Pesquisa social: pectativa de gestantes, usuárias do SUS, acerca do parto teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 1994. e da assistência obstétrica. Cad Saúde Pública 2002; 18: 9. Minayo MCS. O conceito de representações sociais dentro 1303-11. da sociologia clássica. In: Jochelovichs, Guareshi P, or- 20. Almeida JAG. Leite fraco: um problema da mama ou da ganizadores. Texto em representações sociais. Rio de cultura. Masto Magazine 1998; 2: 2. Janeiro: Vozes; 1994. p. 89-111. 10. Minayo MCS. Desafio do conhecimento: pesquisa qualita- tiva em saúde. São Paulo: Hucitec; 1992. 11. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos: resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Rio de Janeiro: O Ministério; 1998. Recebido em 3 de março de 2003 Versão final reapresentada em 16 de julho de 2003 Aprovado em 13 de agosto de 2003 Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 3 (3): 315-321, jul. / set., 2003 321