1. 1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
CRISTINA FIGUEREDO DA SILVA
LEITURA AÇÃO: A PRÁTICA DOS PROFESSORES NA FORMAÇÃO
DO ALUNO LEITOR
SENHOR DO BONFIM-BA
2012
2. 2
CRISTINA FIGUEREDO DA SILVA
LEITURA AÇÃO: A PRÁTICA DOS PROFESSORES NA FORMAÇÃO
DO ALUNO LEITOR
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação-Campus VII, da Universidade do
Estado da Bahia, como parte dos requisitos para
obtenção de graduação no Curso de
Licenciatura em Pedagogia: Docência e Gestão
dos Procedimentos Educativos.
Orientadora: Profª MsC. Rita de Cássia Braz
Conceição de Melo
SENHOR DO BONFIM-BA
2012
3. 3
CRISTINA FIGUEREDO DA SILVA
Monografia apresentada ao Departamento de Educação-Campus VII,
da Universidade do Estado da Bahia, como parte dos requisitos para
obtenção de graduação no Curso de Licenciatura em Pedagogia:
Docência e Gestão dos Procedimentos Educativos.
Aprovada em_______,de Agosto, de 2012.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Orientadora: Profª MsC. Rita de Cássia Braz Conceição de Melo
Universidade do Estado da Bahia –UNEB
Orientadora
_____________________________________________________
Prof _________________________________
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Examinador (a)
_____________________________________________________
Prof____________________________
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Examinador (a)
4. 4
A Deus, pela luz que ilumina a todos
nós e pelas bênçãos que têm feito em minha
vida.
A minha mãe Eva, meu irmão Virgílio
e minhas irmãs: Cremilda, Eliana e Eliene
pelo apoio, força e incentivo que me deram
durante todo o processo; família linda que é
base fundamental em minha vida.
Aos meus queridos sobrinhos: George
Emanuel, Sara e Vinícius, sempre juntos
presenciando minhas angústias, dúvidas e
sucessos, mas sempre me dando muita
alegria e carinho.
5. 5
À Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus VII pela oportunidade
de fazer parte desse espaço acadêmico, que tanto contribui para inquietar e
despertar para a construção de novos saberes.
Aos meus professores e professoras que fizeram parte dessa jornada, onde a
cada semestre contribuíram significativamente para a nossa aprendizagem. Em
especial ao professor Pascoal Eron e a professora Sandra Fabiana por despertar a
provocação no tema monográfico.
Aos colegas e amigas, pela convivência durante todo o curso, onde
acreditamos que juntos construímos aprendizagens que levaremos por toda a nossa
vida. Em especial às minhas companheiras inesquecíveis Andresa, Ariana, Daciane
e Silvana que tornaram mais suaves e coloridos todos esses anos.
A professora orientadora Rita de Cássia Braz Conceição Melo, pela paciência,
carinho, dedicação, apoio, cooperação na construção da pesquisa e pelas
intervenções que proporcionaram a construção de saberes relevantes a minha vida
acadêmica e profissional.
6. 6
“Ninguém aprende a gostar de leitura
apenas ouvindo falar de livros ou vendo-os
de longe, trancafiados numa prateleira, é
necessário que a criança pegue e manipule
o ingrediente “livro”, leia o que está escrito
dentro dele para sentir o gosto e para
verificar se essa atitude tem ou poderá ter
aplicação prática em seu contexto de vida.”
Ezequiel Theodoro da Silva
7. 7
RESUMO
O presente estudo com o título Leitura Ação: A prática dos professores na formação do
aluno leitor, realizado na Escola Municipal de Andorinha do município de Andorinha, buscou
identificar as práticas dos professores do Ensino Fundamental I da referida escola. Neste
estudo buscamos referencial teórico em Abramovich (1997); Freire (2003); Lerner (2002);
Martins (2004); Yunes (1995); PCNs (1997); Solé (1998); dentre outros, proporcionando
uma discussão acerca deste estudo. Os procedimentos metodológicos utilizados foram de
natureza qualitativa, utilizando o questionário fechado e aberto para obtenção do perfil dos
sujeitos e para identificar as práticas dos professores frente a leitura em sala de aula. A
partir da análise dos instrumentos de coleta de dados foi possível percebermos através das
falas dos professores a importância de práticas de leitura dinâmicas e eficazes acrescidos a
figura do professor leitor na formação do cidadão que gosta de ler. Perante fatos concretos
concluímos que a escola ainda deixa lacunas no processo de formação de leitores.
Palavras – Chave: Leitura; Práticas Leitoras; Ensino Fundamental; Professor e o contexto
leitor.
8. 8
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO Nº DESCRIÇÃO PÁGINA
01 Faixa Etária 34
02 Gênero 35
03 Formação profissional 36
04 Experiência profissional no Ensino Fundamental I 38
05 Número de livros que lêem anualmente 39
06 O que costumam ler 40
07 Fonte de informação 42
08 Incentivos à leitura 43
09 Encantamento pela leitura 44
9. 9
LISTA DE ABREVIATURAS
SIGLA SIGNIFICADO
PCNS Parâmetros Curriculares Nacionais
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
EJA Educação de Jovens e Adultos
10. 10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
CAPITULO I 13
1. Problematizando a temática. 13
CAPITULO II 17
2. Fundamentação teórica 17
2.1. Leitura 17
2.2. Práticas leitoras 20
2.3. Ensino Fundamental 22
2.4. Professor e o contexto leitor 24
CAPITULO III 27
3. Procedimentos Metodológicos 27
3.1. Natureza da pesquisa qualitativa 27
3.2. O local da pesquisa 28
3.3. Sujeitos da pesquisa 29
3.4. Instrumento de coleta de dados 29
3.4.1 Questionário 30
CAPITULO IV 32
4. Análise dos dados e interpretação dos resultados 32
4.1. Perfil dos sujeitos 32
4.1.1. Faixa etária 32
4.1.2. Gênero 33
4.1.3. Formação profissional 34
4.1.4. Experiência profissional no Ensino Fundamental I 35
4.2. Práticas dos docentes enquanto leitores e incentivadores da leitura 36
4.2.1. Número de livros que lêem anualmente 37
4.2.2. O que costumam ler 38
4.2.3. Quanto a fonte de informação o que preferem 39
4.2.4. Incentivadores da leitura 40
4.2.5. Encantamento pela leitura 42
4.3. Análise e discussão das falas dos professores 42
4.3.1. O gosto do professor pela leitura 43
4.3.2. A concepção de leitura 44
4.3.3. Função da leitura 46
4.3.4. Processo de formação do leitor 47
4.3.5. Práticas de leitura: o dia a dia da sala de aula 48
4.3.5.1. Prática de leitura individual 49
4.3.5.2. Prática de leituras diversas 50
4.3.5.3. Prática de leitura silenciosa 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS 54
REFERÊNCIAS 56
APÊNDICE 59
11. 11
INTRODUÇÃO
Diante do contexto nacional, nota-se que a leitura é de fundamental importância para
o indivíduo em sua inserção na sociedade letrada. Através da leitura o sujeito passa
a adquirir novos conhecimentos e informações essenciais para que possa interagir
como cidadão consciente na sociedade.
O objetivo do presente trabalho é identificar as práticas dos professores do Ensino
Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha frente à leitura em sala de aula.
Esta identificação é relevante em uma sociedade que tem urgência em superar a
concepção reducionista de leitura, pois somente através do seu acesso é que os
indivíduos romperão com as barreiras que lhe distanciam da transformação social.
A escolha da temática, Leitura-Ação: A prática dos professores na formação do
aluno leitor está associada a nossa trajetória escolar por percebermos as lacunas
deixadas na formação do aluno leitor. Acrescenta-se a isso o percurso como
educadora ao observarmos alunos afirmarem não gostar de ler. Além das
discussões no processo de formação do curso de Pedagogia, acerca da temática.
Dessa forma, com intuito de identificar as práticas dos professores do Ensino
Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha frente a leitura, elaboramos o
presente trabalho por meio de quatro capítulos a seguir relacionados:
No capítulo I, contextualizamos a questão da pesquisa, refletindo sobre a
importância da leitura na vida dos sujeitos ascenderem socialmente e se tornarem
cidadãos participativos e críticos.
No capítulo II, apresentamos a fundamentação teórica a partir da exploração dos
conceitos chaves, trazendo à tona discussões com alguns teóricos, proporcionando
uma visão ampla da questão de pesquisa.
12. 12
No capítulo III, abordamos os procedimentos metodológicos adotados para a
efetivação da pesquisa a partir de alguns teóricos, onde possibilitou evidenciar o
lócus, os sujeitos envolvidos e os instrumentos.
No capítulo IV, consta a análise e interpretação dos resultados, onde utilizamos o
questionário fechado para delinear o perfil dos sujeitos e o questionário aberto para
identificar as práticas dos professores do Ensino Fundamental I da Escola Municipal
de Andorinha frente a leitura.
Para finalizar, trazemos as considerações finais, onde ressaltamos a relevância de
práticas leitoras eficazes que visem à formação de leitores e cidadãos críticos,
conscientes e autônomos.
13. 13
CAPÍTULO I
1. PROBLEMATIZANDO A TEMÁTICA
A humanidade através de registros escritos descobre e aprende culturas, histórias e
hábitos diversificados, compreende a realidade, o sentido real das idéias, vivências e
sonhos.
Em vista disso, pode-se considerar a leitura como uma das mais importantes tarefas
que a escola tem que ensinar, porém vale ressaltar que para isso é necessário que o
professor tenha consciência desta necessidade, além de praticar com eficiência o
hábito da leitura, se tornando grandes entusiastas dos livros. Evangelista (1999)
afirma que:
(...) a leitura será mediadora das relações entre o aluno e o mundo e, a
partir dela, ele poderá interferir na realidade e reconstruí-la. Dessa forma, a
idéia de ferramenta, como objeto que permite agir sobre o mundo, é
transportada para a leitura como instrumento, recurso para a expressão e,
como tal, basta dominar seu código já que sua técnica é superada pela
perspectiva da leitura como um modo de organizar e construir o
conhecimento, estando a serviço, pois, da construção de um mundo de
referências que dão sentido à existência humana. A atividade de leitura é
posta como um ato político. (p. 121-122)
Assim vimos então, que a leitura é um mundo ou talvez seja ela o mundo, e
promover à criança a chave que abre as portas desse universo é permitir que ela se
torne um cidadão informado, autônomo, dono dos rumos de sua própria vida e,
principalmente desenvolver os comportamentos leitores e o gosto pela leitura.
Vale ressaltar que durante muito tempo, ler e ter acesso a livros eram características
exclusivas da nobreza. A leitura era privilégio de uma minoria que se tornava
detentora de grande importância e poder, pertencente à classe social mais elevada.
Como cita Silva (1986):
14. 14
Qualquer retrospectiva histórica voltada à análise da presença da leitura em
nossa sociedade vai sempre redundar em aspectos de privilégios de classe
e, portanto, em injustiça social. Quero dizer com isto que o acesso a leitura
e aos livros nunca conseguiu se democratizar em nosso meio. (p. 11 e 12)
Sendo assim, percebe-se que ter acesso a leitura era um ponto determinante na
divisão da sociedade em classes que marginalizava a grande maioria que não podia
pagar por ela, pois, ter o poder do dinheiro era mesmo que ter saber. Como confirma
Cagliari (1999):
Antigamente, as classes privilegiadas tinham o poder do dinheiro e do
saber; hoje, ainda possuem o poder do dinheiro, mas lutam terrivelmente
para não perder mais do que já perderam do poder do saber, que lhes era
exclusivo, procurando controlar o saber que tiveram que revelar ao povo.
(p.11)
Dessa forma, é relevante saber que a educação durante muito tempo
desconsiderava a maioria da sociedade para privilegiar uma pequena parte, dando a
elite o poder e controle social sucessivo. Sob esta perspectiva é que muitos
pesquisadores tem se empenhado em mostrar a importância da leitura na vida dos
estudantes e de incluir cada vez mais o livro no dia - a - dia da sala de aula, pois a
leitura é de suma importância na formação do ser humano.
O pensamento de Demo (2006) vem reafirmar a leitura como instrumento de
libertação, ao ler melhor ou fazer sua leitura da realidade, crianças e jovens teriam
chance de enfrentar o mundo como indivíduos capazes de criar oportunidades, não
como meros objetos ultrapassados ao dispor das vontades dos dominadores e na
dependência de ferramentas que desconhecem, porque não “sabem ler”.
Hoje em dia, apesar dos velhos ranços, de práticas pedagógicas que não obtiveram
resultados, percebemos novas concepções sobre o uso social da leitura e que
apesar dos diversos desafios a serem enfrentados é possível à escola, como espaço
onde se dá a aprendizagem da leitura formar uma comunidade de leitores. Assim
Cagliari (1999) cita a tarefa primeira da escola:
A atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos
alunos é a leitura. É muito mais importante saber ler do que saber escrever.
O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a
leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for
um bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa.
(p.148)
15. 15
Neste caso, o processo de aquisição e hábito da leitura abrange diversos aspectos,
e quanto mais o professor for consciente de que a leitura é o caminho para a
educação e aprender a ter prazer na leitura para que possa conduzir um processo
de formar leitores, muito mais chance terá esse profissional de formar cidadãos.
Para Lajolo (2002) o ato de ler é um processo de aprendizagem que se adquire com
as experiências cotidianas, não está condicionada ao ambiente escolar, ou seja,
muitas leituras não dependem do aprendizado formal, mas se processam na
interação destas experiências com o mundo. “Lê-se para entender o mundo, para
viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e
de vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim que pode e deve
começar na escola, mas não pode (nem deve) encerrar-se nela” (p.7)
Bamberger (2005) traz a leitura como um direito de avançar “o direito de ler” significa
igualmente o de desenvolver as potencialidades intelectuais e espirituais, o de
aprender e progredir. (p.09). É necessário pontuar que, a leitura é uma habilidade
lingüística fundamental para o desenvolvimento da comunicação oral e escrita e
começa bem antes do aprendizado das letras. O contar de histórias desperta o gosto
pela leitura revela-se como um ponto fundamental no desenvolvimento do hábito de
leitura entre os alunos.
Em verdade, acreditamos que a qualidade do ensino passa pelo hábito da leitura,
pois a leitura frequente leva a uma melhor escrita, quanto mais se lê, mais domínio
se tem sobre o texto escrito, leva a um raciocínio mais apurado, a uma habilidade
expressiva aprimorada.
Para Rezende (1993) a leitura é um ato de abertura para o mundo. A cada mergulho
nas camadas simbólicas dos livros emerge-se vendo o universo interior e exterior
com mais claridade. (p.164). Em vista disto, é necessário repensar sobre o processo
de ensino - aprendizagem, como também, a prática docente acerca do tipo de
leitores que deseja formar, ter bem definido que tipo de leitura deseja trabalhar, pois
o ato de ler restrito à decodificação de símbolos, não é suficiente, ou ainda uma
concepção reducionista, de que ler é pronunciar em voz alta as letras que formam as
palavras. O ideal é uma leitura que proporcione ao leitor significado ao que leu, para
16. 16
que seu momento leitor seja composto por compreensão, interpretações e leitura do
mundo.
Como pontua Cagliari (1999) “A leitura é extensão da escola na vida das pessoas. A
maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura
fora da escola”. (p. 148). Portanto, a escolha desta temática surgiu devido a
inquietações acerca da leitura, ao recordar o próprio caminho trilhado no decorrer
dos estudos, onde podemos afirmar não ter sido fácil e prazeroso, o ato de ler
representava sempre um momento de tensão. Assim, a escolha da temática surgiu
por considerar a leitura um entrave, um desafio. Diante destas abordagens surge a
seguinte questão: Quais as práticas dos professores do Ensino Fundamental I da
Escola Municipal de Andorinha frente à leitura em sala de aula?
Assim, temos como objetivo identificar as práticas dos professores do Ensino
Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha frente à leitura em sala de aula.
A relevância social dessa pesquisa consiste, na contribuição que a mesma poderá
trazer no debate desta temática que vem sendo fonte de estudo para pesquisadores
(as).
Ao pesquisarmos sobre as práticas dos professores do Ensino Fundamental I da
Escola Municipal de Andorinha, acreditamos contribuir com o meio acadêmico para
uma maior reflexão em relação à educação, pois confiamos na importância de
práticas leitoras acrescidas a figura do professor leitor na formação de cidadãos
críticos, conscientes do seu papel na sociedade e no melhoramento da educação.
17. 17
CAPÍTULO II
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
É sabido que a leitura é uma das principais competências que a escola deve
proporcionar aos alunos e que ao longo dos anos sofreu consideráveis
modificações, principalmente, no que diz respeito a ler e ter acesso a livros. Sendo
assim é relevante pontuar que ela é de suma importância na construção do ensino -
aprendizagem e na formação do cidadão. Por isso o nosso objetivo é identificar as
práticas dos professores do Ensino Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha
frente à leitura em sala de aula. Sendo que para uma melhor compreensão da
inquietação imposta trazemos os Conceitos-chave: Leitura, Práticas Leitoras,
Ensino Fundamental, Professor e o contexto leitor.
2.1 Leitura
No momento atual, muito tem se debatido a respeito do que é leitura, sobre o seu
verdadeiro papel e suas implicações na sociedade moderna. A leitura é um ato
imprescindível no ambiente escolar que anseia para seus educandos uma
aprendizagem com significado para vida. Dentro dessa perspectiva é relevante ter
definida a compreensão de leitura que pretendemos trabalhar, para que em sala de
aula as práticas leitoras abordem uma ação educativa eficaz, como fonte de
formação e transformação social.
Dessa forma, cabe frisar a necessidade de muita leitura na vida dos sujeitos, pois
proporciona a obtenção de diversas informações, contextos e áreas do
conhecimento, porque “ler é um processo desafiador, exige do leitor mais do que
apenas decodificação de signos, somente a necessidade, seja qual for ela, será
capaz de garantir a adesão do sujeito a esse mundo” (YUNES, 1995; p. 187).
18. 18
Por isso, é importante o reconhecimento do aluno enquanto sujeito leitor e do
professor enquanto modelo desse leitor, pois é notório o poder transformador da
leitura. Sendo assim é essencial que o professor compreenda a leitura como uma
prática fundamental a todas as áreas do currículo e principalmente na vida do ser
humano.
Sob esse ponto de vista Silva (1986) relata: “Estou plenamente convencido de que a
leitura é um instrumento para a libertação do povo brasileiro para o processo de
reconstrução de nossa sociedade” (p. 11). Assim então, é papel da instituição formal
responsável pela construção do conhecimento sistematizado, a escola, promover
práticas de leitura que despertem nos educandos o desejo de lutar por mudança e
justiça social, pois através da leitura adquirimos criticidade e autonomia para
reconstruir um mundo melhor. Feita essa colocação, Silva (1986) afirma:
É, pois, principalmente no âmbito da escola que as expressões “aprender a
ler” e “ler para aprender” ganham o seu significado primeiro, apontando,
inclusive, os efeitos que devem ser conseguidos pelo trabalho pedagógico
na área de formação e preparo de leitores. Eu ate iria mais longe, afirmando
que um dos objetivos básicos da escola é o de formar o leitor critico da
cultura. (p.91)
Com essa reflexão, nota-se que é papel da escola desenvolver nos educandos o
hábito da leitura através da promoção de práticas leitoras que possibilitem uma visão
de mundo e ferramentas que proporcionem a inserção do indivíduo na sociedade
que é tão excludente e cruel.
Para Lerner (2002): “(...) ler é adentrar outros mundos possíveis. É questionar a
realidade para compreendê-la melhor, é distanciar-se do texto e assumir uma
postura crítica frente ao que de fato se diz ao que se quer dizer, é assumir a
cidadania no mundo da cultura escrita (p.1)”.
Partindo dessa premissa, a leitura precisa ter sentido para quem está lendo, não
sendo uma mera decodificação de símbolos. É necessário que a leitura vá além do
que se lê, possibilitando ao leitor fazer um intercâmbio com o que está escrito e as
suas vivências para que possa fazer uso das informações adquiridas.
19. 19
A leitura vai, portanto além do texto (seja ele qual for) e começa antes do
contato com ele. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser um mero
decodificador ou receptor passivo. E o contexto geral em que ele atua, as
pessoas com quem convivem passam a ter influência apreciável em seu
desempenho na leitura. Isso por que o “dar sentido a um texto” implica
sempre levar em conta a situação deste texto e de seu leitor (MARTINS,
2004; p. 32).
Nessa perspectiva, é perceptível a importância da aprendizagem da leitura na
integração do indivíduo no mundo. A leitura abre portas e novas perspectivas de
vida a partir do momento que o leitor consegue estabelecer uma relação entre o
texto e que está ao seu redor. O ato de ler possibilita-lhe posicionar-se criticamente
diante da sociedade e não mais se submeter ao poder dos dominantes.
Como bem diz Freire (2003) “A leitura do mundo precede a leitura da palavra” (p.11).
E justamente por compreendermos que a leitura de mundo antecede o ato de ler é
que acreditamos que as práticas de leitura possam explorar ao máximo esse período
que antecede a leitura, pois é nesse momento inicial onde ocorrem as atribuições de
sentido.
É relevante frisar uma compreensão de leitura revelada por Yunes (2002), quando
ressalta: “Ler é realizar a experiência de se pensar pensando o mundo” (p.25).
Através da leitura passamos a conhecer e fazer uma leitura da realidade, tornando-
os cidadãos capazes de transformar o mundo e não mais se submeter ao poder dos
dominantes.
Sobre este olhar Cagliari (1999) afirma: “A leitura é uma herança maior do que
qualquer diploma”. Ao pensar sobre o mundo de possibilidades e caminhos que
podemos trilhar a partir da leitura Abramovich (1997) nos diz: “Ser leitor é ter um
caminho absolutamente infinito de descobertas e compreensão de mundo”.
Convém lembrar que a leitura tem um poder conscientizador, que possibilita
ao homem descobrir as suas representações do mundo.
Consequentemente, este processo faz com que o homem, dialeticamente,
direcione-se para determinados fatos e relações contidos na realidade
circundante e tome distância desses, a fim de refletir sobre eles, questioná-
los e transformá-los, quando necessário. (BETENCOURT, 2000, p.24)
20. 20
Sendo assim, a leitura proporciona ao homem o convívio com o seu semelhante,
promovendo uma interação com a sociedade em que vive e com o mundo. Para
Almeida (2005) “Ler é criar uma trama própria de relações, relações essas que vão
deferindo de indivíduo para indivíduo à medida que esses vão percebendo
possibilidades, preenchendo lacunas, tomando partido, interagindo, desafiando e
dando outros significados (p.143).
A partir desse olhar sobre a leitura estaremos formando cidadãos capazes de
questionar e lutar pelos seus direitos, podendo significar uma advertência para
determinados conceitos e valores da sociedade. Eis algumas afirmações que
consideramos relevantes para o objetivo de identificar as práticas dos professores
do Ensino Fundamental, etapa da escolarização que entendemos ser primordial para
despertarmos o gosto e o prazer pela leitura.
2.2 Práticas leitoras
Ao pensar em formação de leitores competentes, ressaltamos a leitura de diferentes
tipologias textuais, de modo a conduzir o indivíduo a variadas leituras de mundo.
Mediante isso, verificamos a necessidade de práticas leitoras eficazes, no sentido,
de despertar o interesse e a motivação no educando pelo hábito da leitura, sendo
este um meio de torná-lo um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem e
capaz de modificar a realidade que o cerca.
Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes
textos com os quais se defrontam, é preciso organizar o trabalho educativo
para que experimentem e aprendam isso na escola. Principalmente quando
os alunos não têm contato sistemático com bons materiais de leitura e com
adultos leitores, quando não participam de práticas onde ler é indispensável,
a escola deve oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores
proficientes e práticas de leitura eficazes. (BRASIL, 1997, p.55)
Assim sendo, faz-se necessário oferecer aos educandos uma amplitude de textos,
não se restringindo apenas ao uso do livro didático, pois somente com uma prática
leitora que valorize a diversidade textual formaremos bons leitores e não apenas
ensinaremos a ler. Com isso, evidenciamos a importância de desenvolvermos em
21. 21
sala de aula práticas leitoras que vão além da decodificação e do uso de cartilhas ou
livros, mas que as práticas de leitura desenvolvidas em sala de aula visem à
formação de um leitor eficiente e crítico.
É indispensável à presença do professor como parceiro no desenvolvimento dessa
habilidade. Como afirma Solé (1998):
Aprender a ler não é muito diferente de aprender outros procedimentos ou
conceitos. Exige que a criança possa dar sentido àquilo que se pede que
ela faça que disponha de instrumentos cognitivos para fazê-lo e que tenha
ao seu alcance a ajuda insubstituível do seu professor, que pode
transformar em um desafio apaixonante o que para muitos é um caminho
duro e cheio de obstáculos. (p.65)
Desta forma, cabe ao professor como um modelo de adulto leitor e através de
práticas leitoras ativas, despertar e incentivar o gosto pela leitura, promovendo o
desenvolvimento efetivo do aluno leitor. Posto isso, fica mais visível o
reconhecimento da escola na formação de leitores, o que despertará possíveis
mudanças nas práticas em sala de aula, com o objetivo de impulsionar o desejo e o
gosto pela leitura. Como confirma Solé (1998) quando diz:
Um dos múltiplos desafios a ser enfrentado pela escola é o de fazer com
que os alunos aprendam a ler corretamente. Isto é lógico, pois a aquisição
da leitura é imprescindível para agir com autonomia nas sociedades
letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas pessoas que não
conseguiram realizar essa aprendizagem. (p.32)
Sendo assim, percebe-se que as práticas leitoras desenvolvidas em sala de aula
interferem diretamente na formação de um leitor crítico, competente e proficiente.
Cumpre lembrar, ainda, a relevância do educando ser exposto a variadas
oportunidades de leitura, tornado-se assim, a prática da leitura algo muito prazeroso
que levará para fora do ambiente escolar.
Nesse sentido, entende-se que a leitura dos diversos gêneros textuais no espaço
escolar é primordial no processo de formação de leitores, com isso as práticas
leitoras dos professores deve proporcionar a diversidade de textos para seus alunos,
com objetivos que vão além da aquisição de habilidades mecânicas de
decodificação da escrita. Dentro desse pensamento Kleiman (2004) complementa:
22. 22
Se o aluno é capaz de decodificar a texto escrito, se ele é capaz de utilizar a
informação sintática do texto na leitura, e se, ademais, ele já completou a
aquisição da língua materna, as dificuldades que ele revela na
compreensão do texto escrito são decorrentes de estratégias inadequadas
de leitura. (p. 56)
É justamente essa reflexão que necessita ser feita pelos professores com relação ao
desenvolvimento de suas práticas leitoras em sala de aula, já que o sentido maior da
leitura é despertar no aluno a compreensão de mundo e a formação do cidadão.
2.3 Ensino Fundamental
O Ensino Fundamental é o início da Educação Básica Brasileira, iniciando aos 6
anos de idade conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, Lei
9.394/96 que determina:
Art.32 O ensino fundamental obrigatório, com duração de nove anos,
gratuito na escola pública, iniciando-se aos seis anos de idade, terá por
objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
I. o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II. a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III. o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores:
IV. o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.
Dessa forma é visível que o Ensino Fundamental é uma preparação básica para
uma continuidade dos estudos, com finalidades de formar cidadãos críticos e cientes
do seu papel na sociedade, sendo sua gratuidade nas escolas públicas assegurada
por lei, favorecendo não só a criança a partir dos 6 anos de idade mas a todas as
pessoas que não tiveram acesso por algum motivo na idade própria.
É importante frisar que os objetivos determinados pela LDB infelizmente nem
sempre têm sido alcançados, muitas vezes, o fracasso no desenvolvimento do
hábito de ler inicia-se nos primeiros anos do Ensino Fundamental e
23. 23
consequentemente esse aluno chega às próximas séries levando o resultado dessa
experiência fracassada.
A partir desse pensamento, compreende-se a importância da leitura no cotidiano dos
educandos das séries iniciais do Ensino Fundamental, de modo que desde cedo
possa ampliar a visão de mundo e perceber que a leitura vai muito além da
decodificação de letras.
É preciso superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da
leitura. A principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar,
converter letras em sons, sendo a compreensão conseqüência natural
dessa ação. Por conta desta concepção equivocada a escola vem
produzindo grande quantidade de “leitores” capazes de decodificar qualquer
texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler.
(BRASIL, 1997, p.55)
Desta forma, quão grande é a responsabilidade da escola e do professor do Ensino
Fundamental, despertar e encantar seus alunos por uma leitura que proporcione
uma compreensão particular da realidade. Assim sendo, faz-se necessário um
espaço aconchegante e acolhedor que traga prazer para quem frequenta.
Trata-se de incentivar a prática da leitura com meio de acesso ao saber e a cultura
letrada, pois a leitura é uma das aprendizagens fundamentais que a escola deve
proporcionar aos indivíduos. Como salienta Zilberman (1993) quando afirma que: “a
escola alcança seu justo sentido, no momento em que retorna à sua função original;
e se esta é de ensinar a ler, que o faça de maneira integral, para efetivar a revolução
duradoura no bojo da qual foi gerada” (p.22).
Nesse sentido, é papel da escola desenvolver nos educandos a compreensão
leitora, capaz de estabelecer uma conexão entre a leitura e a realidade em que está
inserido. Ressaltamos assim que um dos objetivos dos PCNs em relação ao aluno
que está inserido no Ensino Fundamental, é que ele seja capaz de “posicionar-se de
maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando
o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas” (p.69).
24. 24
Assim, a leitura é uma das prioridades no Ensino Fundamental, pois sua aquisição
proporciona ao indivíduo agir com autonomia na sociedade letrada. Como muito bem
diz Solé (1998) quando afirma que: “Um objetivo importante nesse período de
escolaridade é que as crianças aprendam progressivamente a utilizar a leitura com
fins de informação e aprendizagem.” (p.34)
Portanto, pode-se afirmar que, é papel da escola ao longo do Ensino Fundamental,
promover no aluno o gosto pela leitura e a descoberta de novas aprendizagens, para
avançar na escolaridade e se tornarem leitores proficientes.
2.4 Professor e o contexto leitor
O professor é um agente de grande importância para a construção do conhecimento
e na formação do cidadão reflexivo e crítico, pois ele é capaz de transformar,
desmistificar conceitos e mediar o conhecimento. Assim sendo, a compreensão do
professor frente à leitura em sala de aula contribui na mediação da prática
pedagógica, no processo de ensino aprendizagem e, principalmente, no incentivo e
motivação da prática leitora. Segundo Freire (1996):
O bom professor é que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a
intimidade do movimento do seu pensamento, sua aula é assim um desafio
e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam
por que acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem
suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (p.96)
Compreende-se o professor como um mediador do saber, um formador de opinião,
que socializa o conhecimento e intervêm para que os educandos possam interagir
em sala de aula, fazendo despertar inquietação e a compreensão. Nesse contexto
Gadotti (1991) contribui afirmando que: “o educador, o filósofo, o pedagogo, o
artista, o político tem e tiveram historicamente um papel eminentemente crítico. O
papel de inquietar, de incomodar, de perturbar (...). Portanto, sua tarefa é de quem
incomoda de quem ativa conflitos para sua superação” (p.16). Dessa forma
Menegolla (1989) acrescenta que:
25. 25
O professor é a pessoa que demonstra a grande habilidade de interpretar;
ele não simplesmente repete, mas dá uma nova visão do fato. Faz
interferências que não são evidentes, mas possíveis. Deduz aquilo que não
aparece, mas que está escondido, procurando clarear, do escrito, escreve o
não escrito; do falado, fala o não falado. Vê as coisas de forma diferente,
em tudo descobre o novo. (p.25)
Para tanto, é de suma importância que o professor tenha consciência da relevância
de uma prática pedagógica criativa na inserção do ato de ler no dia a dia do
ambiente escolar, pois a leitura deve ser a base fundamental do ensinar-aprender.
Como bem diz Freire (1996): “Ensinar é um ato criador, um ato crítico e não
mecânico”. (p.81)
Para que a leitura tenha significado e venha a transformar a realidade é
indispensável que os educandos se interessem pelos livros, sendo assim, é
essencial a presença do professor leitor, que apenas não diga o mundo maravilhoso
que é a leitura, mas demonstrem prazer e encantamento em ler um livro. Dessa
forma, a sua prática pedagógica terá significado, será mais verdadeira e
consequentemente mais suave. Sacristán e Gomez (1998) declaram:
Sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é mera reprodução de
hábitos existentes, ou respostas que os docentes devem fornecer as
demandas e ordens externas. Se algumas idéias, valores e projetos se
tornam realidade na educação é porque os docentes os fazem seus de
alguma maneira. (p.09)
Nesse sentido, as práticas de leitura precisam ser empolgantes e inovadoras, com
diversas estratégias de leitura, proporcionando ao educando curiosidade, novas
descobertas, conhecimentos e evidentemente o gosto e interesse pela leitura.
É essencial que os professores se ponham na condição de leitores, mostrando
intimidade com os livros, pois a presença do professor que convive com textos
aliado as práticas de leitura que tem por finalidade a participação crítica do
educando frente à realidade culminará em alunos leitores. Por isso mesmo Chalita
(1999) complementa:
26. 26
O professor só conseguirá fazer com que o aluno aprenda se ele continuar
a aprender. A aprendizagem do aluno é indiscutivelmente, diretamente
proporcional à capacidade de aprendizado dos professores. Essa mudança
de paradigma faz com que o professor não seja o repassador de
conhecimento, mas o orientador, aquele que zela pelo desenvolvimento das
habilidades de seus alunos. Não se admite mais um professor mal formado
ou que para de estudar. (p.165)
Sendo assim, o professor deve ser um eterno leitor, buscando em sua vida
profissional e em sua formação, a cautela de continuar sendo um amante e grande
entusiasta da leitura.
Esta opção demonstra que o professor independentemente da sua experiência
frustrada enquanto leitor reconhece a irrelevância e a inutilidade de práticas de
leitura centradas em palavras soltas e frases descontextualizadas.
No entanto, parece-me fundamental recordar a importância do professor fornecer a
diversidade de gêneros de textos para que o aluno perceba os diversos usos e
funções da leitura. Quanto a essa afirmação Antunes (2003) afirma que “compete ao
professor ajudar ao aluno a identificar os elementos típicos de cada gênero, desde
suas diferenças de organização de sequenciação até suas particularidades
propriamente linguísticas”. (p.118)
Assim, o professor através de práticas de leitura criativas e motivadoras oportunizará
diversas leituras que estarão além do espaço escolar, pois estará proporcionando a
integração do seu aluno com o meio social.
27. 27
CAPÍTULO III
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa é um estudo minucioso, articulado de uma realidade que nos permite
desenvolver a capacidade de pensamento crítico e aperfeiçoamento do saber.
Pesquisa é o inquérito ou exame cuidadoso para descobrir novas informações ou
relações, ampliar e verificar o conhecimento existente. (GRESSLER, 1989). Dentro
dessa perspectiva, Santos (2003) pontua que a ciência pós-moderna sabe que
nenhuma forma de conhecimento é em si mesmo racional; só a configuração de
todas elas é racional, tentando desta forma dialogar com outras formas de
conhecimento, buscando reabilitar o senso comum por reconhecer nesta forma de
conhecimento algumas virtualidades para enriquecer a nossa relação com o mundo.
Pensando neste fazer ciência que valoriza a experiência para compreender o
comportamento humano é que esta pesquisa tem como objetivo identificar as
práticas dos professores do Ensino Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha
frente a leitura em sala de aula. Com base nisso, iremos utilizar a pesquisa
qualitativa, seqüencialmente abordaremos lócus, sujeitos e instrumentos de coleta
de dados.
3.1. Natureza da pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa é muito usada nas pesquisas educacionais nas últimas
décadas, e é caracterizada por buscar entender, a partir do contato direto com os
sujeitos do nosso estudo, nossas dúvidas e inquietações. Assim, optamos por essa
metodologia por entender que ela busca reunir procedimentos capazes de suprir os
limites da análise meramente quantitativa e por aproximar mais o entrevistado do
entrevistador. Como afirma Lüdke e André (1986):
28. 28
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de
dados e o pesquisador como seu principal instrumento. A pesquisa
qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o
ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do
trabalho intenso de campo. (p. 11).
Nesse sentido, este tipo de pesquisa é relevante, pois permite a análise dos dados
de forma diferenciada, considerando o contexto do sujeito a ser pesquisado,
reconhecendo a complexidade das relações humanas e desvendando aspectos que
contribuem para entendermos a realidade educacional.
3.2. O local da pesquisa
O local da pesquisa propicia ao pesquisador uma vivência que traz interações entre
o pesquisador e o sujeito propiciando ao pesquisador uma abertura para investigar e
dialogar. Assim, o nosso lócus de pesquisa foi a Escola Municipal de Andorinha. O
município de Andorinha esta localizado no recôncavo baiano, distante 426 km da
Capital Salvador e 48 km de Senhor do Bonfim, pertence à região do Piemonte de
Diamantina. Limita-se ao norte com Senhor do Bonfim, ao sul com Itiuba, ao oeste
com Jaguarari, ao leste com Monte Santo e ao norte com Uauá. Segundo o IBGE
(2007) o município de Andorinha possui uma população 14.320 mil habitantes. A
emancipação política ocorreu no dia 13 de julho de 1989, desligando-se da condição
de distrito de Senhor do Bonfim.
A Escola Municipal de Andorinha fundada no ano de 1996, situada a Avenida João
Alves, s/n, na cidade de Andorinha, é uma instituição mantida pela Prefeitura,
composta no seu espaço físico por oito salas de aula, com diretoria, cantina,
secretaria, sala de professores, sala de coordenação, biblioteca, depósitos, pátio e
banheiros masculinos e femininos. A Escola Municipal de Andorinha funciona nos
três turnos e atende alunos de Ensino Fundamental I (matutino, vespertino) e a EJA
(Educação de Jovens e Adultos) no noturno.
Diante de toda estrutura da Escola Municipal de Andorinha, o objetivo maior é tornar
o ambiente escolar mais atrativo para os alunos e a comunidade, procurando
oferecer ao educando oportunidades para que os mesmos não percam sua auto-
29. 29
estima perante qualquer obstáculo a que venham surgir no decorrer do período das
aulas.
A referida instituição desenvolve um trabalho educativo no qual procura proporcionar
a inserção desses alunos que vem em busca de saberes e de novas perspectivas
que possam favorecer a melhoria de vida, pois muitos destes alunos passam por
situações de pobreza, outros enfrentam o trabalho árduo na zona rural e vem de
lugares longínquos arriscando suas vidas em transportes com péssimas condições
para transportá-los.
3.3. Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa são fontes de informações para o pesquisador, pois através
de suas ações e discursos, é que o pesquisador tem respaldos para poder
pesquisar. Dessa forma Trivinos (1987) aborda: “Os sujeitos individualmente
poderão ser submetidos a várias entrevistas, não só com o intuito de obter o máximo
de informações, mas também para avaliar as variações das respostas em diferentes
momentos.” (p. 146).
Assim, com o intuito de identificar as práticas dos professores do Ensino
Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha frente a leitura em sala de aula,
elegeu-se como sujeitos da pesquisa 10 professores que atuam na referida escola,
nos turnos matutino e vespertino. A escolha destes professores se tornou pertinente
porque se encaixam no perfil da questão a ser investigada, pois esses 10
professores são os únicos que lecionam na Escola Municipal de Andorinha no
Ensino Fundamental I. Dando dessa forma voz a todos os interessados que são
parte essencial e ponto chave de uma possível mudança, e contribuindo de forma
significativa para a concretização da pesquisa e o alcance dos objetivos.
3.4. Instrumento de coleta de dados
30. 30
Nessa pesquisa utilizamos instrumentos relevantes ao objeto em estudo, pois uma
pesquisa científica requer procedimentos sistemáticos e intensivos, com o objetivo
de descobrir e interpretar os fatos. (LÜDKE e ANDRÉ, 1986). No processo de
realização da pesquisa foi realizado questionário fechado e questionário aberto para
a coleta de dados que forneceram subsídios para alcançar o objetivo proposto.
3.4.1. Questionário
Com o intuito de obter informações para a conclusão da nossa pesquisa, optamos
pelo questionário, por entender que esse instrumento possibilita analisar com mais
exatidão o que se deseja. Segundo Rodrigues (2006) o questionário é um
instrumento de coleta de dados, constituído por uma lista de questões relacionadas
ao problema da pesquisa e deve ser aplicado a um número de pessoas.
Partindo desses pressupostos é que escolhemos o questionário fechado, contando
com questões norteadoras com o tema abordado. Ele irá enriquecer as informações,
traçando o perfil dos sujeitos da pesquisa, possibilitando assim um melhor
conhecimento da realidade dos mesmos.
Segundo Gressler (1989) um questionário deve ser simples, direto e rápido de
responder, devendo assegurar aos utilizadores que os dados recolhidos serão
preservados e não serão cedidos a terceiros. Para Andrade (1999): “perguntas
fechadas são aquelas que indicam três ou quatro opções de resposta ou se limitam
à resposta afirmativa ou negativa e já trazem espaços destinados à marcação da
escolha” (p.131).
Nesse sentido, o questionário fechado permite a coleta dos dados gerais dos
sujeitos envolvidos. Optamos também pelo questionário aberto, por entender que
este instrumento é a forma mais usada para coletar dados. Segundo Cervo (2007) o
questionário aberto permite obter respostas livres e possibilita recolher informações
mais ricas e variadas, embora sejam codificadas e analisadas com mais dificuldade.
Ainda sobre o questionário aberto Cervo (2007) acrescenta que:
31. 31
É necessário estabelecer, com critério, as questões mais importantes a
serem propostas e que interessam a ser conhecidas, de acordo com os
objetivos. Devem ser propostas perguntas que conduzam facilmente as
respostas de forma a não insinuarem outras colocações. Se o questionário
for respondido na ausência do investigador, deverá ser acompanhado de
instruções minuciosas e específicas. (p. 53).
Também sobre o questionário aberto Andrade (1999) afirma que: “é o conjunto de
perguntas que o informante responde, sem necessidade de presença do
pesquisador”. (p.130-131). Dessa forma, o questionário aberto é de grande
relevância, pois permite avaliar melhor as atitudes para análise das questões
levantadas, possibilita a coleta de dados acerca do tema abordado e permite
alcançar o objetivo proposto.
A utilização de questões fechadas e abertas é pertinente porque permitem avaliar
melhor as atitudes dos sujeitos envolvidos, possibilitando que o pesquisador
estabeleça relações entre as respostas. Estes questionários são importantes para a
pesquisa proposta, pois proporcionam a coleta de dados gerais e as compreensões
dos sujeitos acerca do tema.
32. 32
CAPÍTULO IV
4. ANÁLISE DE DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Diante da necessidade de identificar as práticas dos professores do Ensino
Fundamental I da Escola Municipal de Andorinha frente à leitura em sala de aula,
apresentamos a seguir os resultados da nossa investigação, obtidos a partir da
análise dos instrumentos de coleta de dados: questionário fechado e aberto. Vale
ressaltar que tal realidade nos foi proporcionada a partir dos professores que
lecionam na Escola Municipal de Andorinha, os quais nos possibilitaram os
resultados da pesquisa aqui apresentados.
4.1 Perfil dos sujeitos
Faremos neste momento exposição do perfil dos sujeitos através das informações
coletadas com o questionário fechado.
4.1.1 Faixa etária
Gráfico 1: Faixa etária
Fonte: Questionário Fechado aplicado aos sujeitos da pesquisa
33. 33
Podemos perceber que dos participantes da pesquisa 50% tem entre 30 e 35 anos,
40% tem entre 25 e 30 anos, 10% tem mais de 40 anos e que nenhum apresenta
entre 20 e 25 anos.
Conforme o gráfico acima, identificamos que o maior número de professores está
com idade entre 30 e 35 anos, o que nos revela o grau de maturidade e de
experiência de vida dos sujeitos pesquisados. Embora os professores recebam
baixos salários e pouco investimento na qualificação docente é perceptível o
aumento de professores jovens ingressarem na carreira docente, devido à educação
ser uma das maiores fontes de renda para o município de Andorinha e por
proporcionar aos indivíduos crescimento pessoal. Como bem nos diz Maria (2002):
“Acompanhando a valorização que se deu a figura do professor, assistido em sua
tarefa e estimulado a investir em seu próprio crescimento, consciente de que ser
culto é o único modo de ser livre” (p.121).
Dentro dessa discussão é importante frisar que muito ainda deve ser feito para que
os profissionais da educação, em especial a figura do professor, seja valorizada e
respeitada dentro da sociedade, não apenas em termos financeiros, mas
principalmente como sujeito capaz de transformar a sociedade.
4.1.2 Gênero
Gráfico 2: Gênero
Fonte: Questionário Fechado aplicado aos sujeitos da pesquisa
34. 34
Em relação ao gênero constatamos que 90% dos entrevistados são do sexo
feminino e apenas 10% do sexo masculino.
A natureza eminentemente feminina da ocupação do professor é evidente, o que nos
leva a refletir sobre a não continuidade dos estudos com relação aos indivíduos do
sexo masculino e o grande número de mulheres cursando licenciaturas. Aguiar
(1993) enfatiza que “o sexo masculino envolve-se em atividades agressivas de luta
pelo sucesso e pela sobrevivência, enquanto ao sexo feminino são atribuídas
atitudes mais passivas, voltadas para o trabalho doméstico, a educação dos filhos e
tarefas afins (p.21)”.
Nesse sentido, caberia perfeitamente as mulheres a função de professoras,
responsáveis pela formação de cidadãos capazes de enfrentar desafios e agir na
sociedade de forma autônoma, reflexiva e crítica.
4.1.3 Formação profissional
Quanto à formação profissional, constatamos que 41% tem Superior Incompleto,
26% tem Magistério, 18% tem Superior completo e 15% apresenta Pós – graduação.
Gráfico 3: Formação profissional
Fonte: Questionário Fechado aplicado aos sujeitos da pesquisa
35. 35
Constata-se ainda um número elevado de professores que tem apenas o magistério,
demonstrando que há certa fragilidade em relação a formação dos profissionais,
afetando o reconhecimento do professor enquanto modelo de leitor e que continua a
aprender. Diante de tais constatações vale recorrer a Silva (1996):
Faculdades de beira de estrada, cursos aligeirados, ausência ou
precariedade de experiência prática em salas de aula, diluição do domínio
da matéria etc., são índices que revelam a pobreza intelectual do professor.
Igual a ninhadas de coelho, o país vê nascer faculdades de letras e
pedagogia por todos os cantos, atendendo na forma de cursos vagos, em
finais de semana. (p.60)
Nessa discussão é relevante pontuar que nunca é tarde para superar as deficiências
deixadas em nossas primeiras leituras, sempre é possível promover a evolução
pessoal e o progresso dos educandos no processo de formação de leitores.
Dessa forma torna-se indispensável citar a significativa presença dos professores
que estão buscando aperfeiçoamento em cursos superior, outros que já
conquistaram sua graduação e até mesmo os que através de muito esforço têm sua
pós-graduação. Com relação a essa procura do professor por aperfeiçoamento
Cunha (1994) salienta que “os estudos que colocam o professor histórica e
socialmente contextualizado, afirmando que seu desempenho e formação têm que
ver com suas condições e experiências de vida, pressupõem uma relação forte entre
o saber e os pressupostos da elaboração deste saber”. (p.29)
Assim sendo, o desenvolvimento de práticas de leitura no espaço da sala de aula
que visem à formação plena do cidadão teria base teórica sólida através da
construção dos saberes no processo de formação do professor.
4.1.4 Experiência profissional no Ensino Fundamental I
Quanto ao tempo de atuação dos sujeitos entrevistados com relação à experiência
no Ensino Fundamental I, obtivemos o seguinte gráfico:
36. 36
Gráfico 4: Experiência profissional no Ensino Fundamental I
Fonte: Questionário Fechado aplicado aos sujeitos da pesquisa
Percebe-se no gráfico que dos sujeitos entrevistados 50% tem de 5 a 10 anos; 30%
acima de 10 anos e 20% de 1 a 5 anos que lecionam no Ensino Fundamental I.
Visto isso, compreendemos que ser professor é uma tarefa árdua, pois exige desse
profissional, além da experiência, princípios relevantes para o desempenho de sua
função, formar cidadãos cientes do seu papel na sociedade.
O professor deve, por conseguinte, conjugar três princípios básicos na sua
atuação diante dos alunos, a fim de garantir a eficiência dos métodos. Em
primeiro lugar, precisa conhecer a sua classe em termos de expectativas,
interesses, necessidades e aptidões. Em segundo, deve dominar
suficientemente os fundamentos do método que elegeu com mais adequado
aos propósitos de seu grupo de alunos. Finalmente, é necessário que tenha
bem nítida a finalidade educacional que o move. Só assim a tarefa
educativa poderá contribuir para a formação de leitores capazes de
transformarem a sociedade. (AGUIAR, 1993, p.155)
Nessa compreensão queremos enfatizar que independentemente da experiência
como docente do Ensino Fundamental I sempre é o momento de buscarmos o
aperfeiçoamento de práticas de leitura para desempenharmos nosso papel como
educador, pois todos nós somos leitores em formação, uma vez que constantemente
estamos atribuindo sentido ao que está ao nosso redor.
4.2 Práticas dos docentes enquanto leitores e incentivadores da leitura
37. 37
Apresentação das práticas dos docentes enquanto leitores e incentivadores da
leitura através das informações coletadas com o questionário fechado.
4.2.1 Número de livros que leem anualmente
Com relação ao número de livros lidos durante o ano, constatamos que 71% dos
entrevistados leem entre três e cinco livros anualmente, 14% leem entre seis e oito
livros, outros 14% leem no máximo dois livros, 1% lê mais de oito livros e que
nenhum dos entrevistados leem apenas um livro por ano.
Gráfico 6: Número de livros que leem anualmente
Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa
Tendo em vista a importância da vida de leitor do docente na formação de outros
leitores, percebe-se que a realidade demonstrada no gráfico ainda deixa lacunas
que estarão presentes no desenvolvimento de práticas leitoras em sala de aula.
Como afirma Betencourt (2000):
Uma outra questão que não pode ser esquecida diz respeito à figura do
professor que não gosta de ler, por causa de lacunas na sua própria
formação escolar. Em função disso, as metodologias utilizadas nas aulas de
leitura com as crianças e os adolescentes acabam sendo a repetição do que
ele conheceu como “aula de leitura”, pois não há conhecimento das teorias
da leitura, nem a intenção de se formar leitores críticos e maduros. (p.25)
38. 38
Posto isso, fica evidente que é fundamental a figura do professor leitor, a
necessidade que esse profissional tem de continuar aperfeiçoando suas práticas
através de leituras constantes, já que é um dos principais agentes de
transformações sociais e entusiastas da leitura. Dessa forma, torna-se preocupante
o fato de que profissionais da educação responsáveis pela formação de leitores
capazes de interagir na sociedade, durante um ano leiam apenas entre três e cinco
livros e que 1%, número insignificante, leiam mais de oito livros, dentro dessa
realidade será um desafio formar o aluno leitor.
4.2.2 O que costumam ler
Gráfico 7: O que costumam ler
Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa
Quanto às fontes de leitura utilizadas pelos professores da Escola Municipal de
Andorinha, percebemos que 70% leem mais livros didáticos, o que demonstra o
efetivo apego a este recurso no dia a dia da sala de aula; 20% leem romances e
10% leem livros de auto-ajuda
No entanto as práticas de leitura no processo de formação de leitores é muito mais
abrangente, vai além da padronização do livro didático, que não leva em conta as
diferenças indivíduos e sociais dos discentes. Conforme pontua Abaurre (1998):
39. 39
Se o objetivo do trabalho com a leitura de textos é a constituição de leitores
com uma gama variada de habilidades de leitura, de leitores capazes de ler
para informar; para estudar e entender o ponto de vista de um autor; para
compará-lo com o de outros autores; para buscar e construir novos
conhecimentos; para fruir, apreciar e refletir sobre o conteúdo, a estrutura
textual ou os recursos de linguagem utilizados; para relacionar o texto lido
com outros; para criticar aspectos do texto ou da realidade que retrata etc.,
o aluno deve ser exposto a textos reais (e não artificialmente construídos,
para enfatizarem “um problema de ordem gramatical” ou “temático”). (p.10)
É esse entendimento e essa visão alargada da leitura que precisamos, e não o uso
do livro didático como um empecilho na formação de leitores. Pois como foi
abordado na fundamentação teórica, faz-se necessário que o professor em suas
práticas de leitura apresente ao aluno uma diversidade de gêneros textuais, porém o
que evidenciamos é que o professor enquanto leitor não faz uso dessa diversidade
de textos, dificuldade esta que vai se refletir em sua prática.
4.2.3 Quanto à fonte de informação o que preferem
Em relação à principal fonte de informação compreendemos que 50% preferem a
televisão, 30% internet, 20% revistas e que entre os entrevistados nenhum faz uso
do rádio, jornais e outros meios como fonte de informação. Comprovando que a
televisão é preferência de muitos indivíduos.
Gráfico 8: Quanto a fonte de informação o que preferem
Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa
40. 40
Podemos então afirmar que a televisão é um veículo de significativa influência na
vida dos sujeitos, isso demonstra a necessidade de leitores críticos e capazes de
discernir os benefícios e malefícios oferecidos pela televisão, pois esta é
responsável pela transmissão de ideologias que afetam diretamente o modo de
pensar e agir da sociedade. Libâneo (2001) confirma esta questão quando afirma:
A mídia atua na modificação de estados mentais e afetivos das pessoas não
apenas pela propaganda, mas também disseminando saberes e modos de
agir nos campos econômico, político, moral, veiculando mensagens
educativas, relacionadas com drogas, preservação ambiental, saúde,
comportamentos sociais etc. (p.19)
Nessa perspectiva, torna-se indispensável à leitura na vida dos indivíduos, pois em
uma sociedade onde os meios de comunicação interferem diretamente no pensar e
agir das pessoas, é urgente a formação do aluno leitor, para que se tornem cidadãos
críticos e participativos. Porém nos questionamos como chegaremos ao mérito de
formar alunos leitores, se os próprios professores só utilizam a televisão como fonte
de informação.
4.2.4 Incentivadores da leitura
Ao serem questionados sobre a frequência com que proporcionam atividades que
envolvam leitura na sala de aula os sujeitos se dividiram, 50% afirmam que
diariamente e 50% de uma a três vezes por semana.
Gráfico 9: Incentivadores da leitura
Fonte: Questionário Fechado aplicado com os sujeitos da pesquisa
41. 41
No entanto, o trabalho com a leitura deve ser diário, visto que através da leitura
encontramos respostas para os problemas da vida, conhecemos e nos
reconhecemos como parte integrante da realidade e do mundo. Como cita
Abramovich (1997):
Ler, para mim, sempre significou abrir todas as comportas pra entender o
mundo através dos olhos dos autores e da vivência das personagens... Ler
foi sempre maravilha, gostosura, necessidade primeira e básica, prazer
insubstituível (...). E continua lindamente, sendo exatamente isso! (p.14)
Desse modo, percebemos que um dos requisitos básicos na formação do aluno
leitor é a presença de professores leitores, com uma bagagem teórica e
metodológica sólida, proporcionando entusiasmo e incentivo ao mundo maravilhoso
que é a leitura, embora a realidade nas escolas ainda deixe a desejar no seu papel
de incentivadores da leitura.
4.2.5 Encantamento pela leitura
Indagados sobre a nota que dariam para o envolvimento da sua turma nas
atividades que envolvem leitura notamos que 56% dos professores ficaram entre
quatro a seis e 44% entre sete a dez.
Gráfico 10: Encantamento pela leitura
Fonte: Questionário Fechado aplicado aos sujeitos da pesquisa
42. 42
Visto isso, percebemos que a escola ainda, não conseguiu fazer com que a leitura
se tornasse sinônimo de prazer e nem com que os alunos sentissem as diversas
emoções que o ato de ler nos proporciona.
Para tornar os alunos bons leitores - para desenvolver, muito mais do que a
capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura -, a escola terá de
mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler par aprender)
requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e
desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e
independência. Precisará torná-los confiantes, condição para poderem se
desafiar a “aprender fazendo”. Uma prática de leitura que não desperte e
cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente. (BRASIL,
1997, p.58)
Desse modo, formar leitores com intuito de promover seu desenvolvimento como ser
humano, requer condições favoráveis para a prática de leitura e propostas didáticas
voltadas para o objetivo de formar cidadãos que se integram na vida cotidiana.
Sendo assim, faz-se necessário que o professor reveja a sua postura enquanto
formador de leitores, buscando variadas maneiras de buscar informações, não
apenas através da televisão ou de leituras nos livros didáticos e em romances, pois
para desenvolver práticas de leitura visando à formação do aluno leitor é
indispensável que seja oferecido ao aluno diversos gêneros textuais.
A análise do questionário fechado foi fundamental, pois nos possibilitou conhecer o
perfil dos professores da Escola Municipal de Andorinha, além de nos proporcionar
analisar as práticas dos docentes enquanto leitores e incentivadores da leitura,
favorecendo uma melhor análise e interpretação dos dados no próximo instrumento.
4.3 Análise e discussão das falas dos professores
A partir da análise do questionário aberto realizado na Escola Municipal de
Andorinha conseguimos identificar as práticas dos professores frente à leitura em
sala de aula. Apresentamos os resultados do questionário em categorias aos
questionamentos norteadores do nosso estudo - Leitura Ação: A prática dos
professores na formação do aluno leitor.
43. 43
4.3.1 O gosto do professor pela leitura
É relevante tecer algumas análises sobre o gosto dos professores pela leitura, tendo
em vista a importância da presença da figura do professor leitor no incentivo e na
formação do aluno leitor. Questionados sobre se gostavam de ler a maioria dos
professores deixa claro que:
Sim, não diariamente por conta do tempo, de outras ocupações. (P1) 1
Sim, gosto. (P2)
Adoro, todos os dias tenho que ler um romance só assim me sinto bem.
(P3)
Sim, pois a leitura é muito importante na vida das pessoas. (P4)
Não gosto muito de ler, mas tenho procurado dedicar nos momentos de
folga um pouco do meu tempo a leitura, pois sei o quanto é importante. (P5)
Não gosto muito de ler, mas sei que é importante, portanto, tenho dedicado
um pouco mais a leitura. (P6)
Nessa perspectiva, ao serem questionados sobre o gosto pela leitura, os
professores deixam claro a importância da leitura na vida dos indivíduos, como
podemos perceber nas falas de P4, P5 e P6, embora percebemos certas barreiras
que devem ser rompidas para que realmente o professor seja um leitor proficiente e
desperte o gosto pela leitura nos seus alunos, vale citar que um dos entraves que
distanciam o professor da prática de leitura é as diversas atribuições que lhe
compete, como afirma P1 em sua fala, que apesar de gostar de ler, falta-lhe tempo
devido suas outras ocupações. Dentro dessa perspectiva Kleiman (2004) pontua:
“para formar leitores devemos ter paixão pela leitura” (p.15).
É notório o reconhecimento dos professores ao valor da leitura na vida dos seus
alunos, em contrapartida este profissional deixa despercebida a figura do adulto que
1
Utilizou-se a letra “P” seguida de numerais cardinais para designar os professores
entrevistados.
44. 44
gosta de ler e que consegue organizar práticas de leitura eficazes que desenvolvam
o hábito da leitura. E nessa visão Aguiar (1993) dar sua contribuição dizendo que:
Os professores, apesar de visarem a formação do hábito da leitura e o
desenvolvimento do espírito crítico, não oferecem atividades nem utilizam
recursos que permitam a expansão dos conhecimentos, das habilidades
intelectuais, a criatividade ou a tomada de posição, embora arrolem esses
tópicos em seus critérios de aproveitamento escolar. O debate, a livre
discussão e atividades que extrapolam o âmbito da sala de aula são
esquecidos. As fórmulas mais carentes de criatividade e mais
tradicionalmente empregadas, como aulas expositivas e exercícios escritos
e orais de interpretação, são praticados pela maioria o que também
promove a falta de incentivo e de motivação para a leitura dos alunos. (p.33)
Dessa forma evidencia-se que o processo de formar leitores e cidadãos
participativos na busca da transformação social é uma tarefa intensa, que exige
muito esforço e dedicação do professor e da escola, já que é o espaço formal de
construção de aprendizagens. Tendo em vista o gosto do professor pela leitura,
cabe citar e refletir sobre a fala de P3, que embora afirme que adora ler, só cita a
leitura de romances, nos levando a pensar sobre a sua prática em sala de aula
fundamentada em um único tipo de gênero textual.
Certamente, o gosto dos professores pela leitura influencia diretamente em suas
práticas em sala de aula, já que é de sua responsabilidade proporcionar aos alunos
uma variedade de gêneros textuais, visando à formação do cidadão. Nessa vertente,
faz-se necessário a presença do professor que além de compreender a importância
da leitura na vida dos indivíduos, seja ele um leitor. Se isso não ocorrer, valem as
palavras de Silva (1986): “os objetos da leitura, principalmente o livro, passam por
um processo de obscurecimento intencional”. (p.63)
4.3.2 A concepção de leitura
Ao investigar a concepção de leitura na perspectiva dos professores da Escola
Municipal de Andorinha, no sentido do desenvolvimento de práticas em sala de aula
que proporcionem a formação de leitores, evidenciamos que:
45. 45
É um ato que favorece a reflexão e o questionamento da realidade. (P1)
É transcender o conhecimento, é sem dúvida se desprender do ciclo viçoso
do sistema imposto educacional. (P2)
É abrir as possibilidades enriquecedoras na vida, através de informações
que nos levam a pensar que não podemos viver sem ela. (P3)
É uma atividade muito rica que envolve conhecimentos, é um processo de
descobertas, reflexões aprendizagens e informações. (P4)
É algo indispensável na aprendizagem, leitura é norte e meios para mundos
maravilhosos. (P5)
É inegável que ao serem indagados sobre a concepção de leitura todos os
professores deixam claro que a leitura como um meio, uma oportunidade do
indivíduo inserir-se na sociedade, conhecer seus direitos e deveres e ter
conhecimento para lutar e modificar a realidade. Neste aspecto Solé (1998)
esclarece:
A leitura nos aproxima da cultura, ou melhor de múltiplas culturas e, neste
sentido, sempre é uma contribuição essencial para a cultura própria do
leitor. Talvez pudéssemos dizer que na leitura ocorre um processo de
aprendizagem não intencional, mesmo quando os objetivos do leitor
possuem outras características, como no caso de ler por prazer. (p.46)
Essa capacidade que a leitura tem de alcançar vários objetivos na vida do ser
humano, nos faz refletir sobre o ensino da leitura como prioridade na escola, uma
vez que ensinando e despertando o gosto pela leitura, o aluno estará propício a
aprender e construir novos conhecimentos de forma autônoma. Aguiar (1993)
pontua que “quando o ato de ler se configura, preferencialmente, como atendimento
aos interesses do leitor, desencadeia o processo de identificação do sujeito com os
elementos da realidade representada, motivando o prazer da leitura”. (p. 26)
Em suma, podemos frisar que ter bem definida a concepção de leitura, desencadeia
em práticas de leitura eficazes no combate ao fracasso da escola quanto a formação
de leitores, tornando a leitura uma atividade prazerosa, que nada tem a ver com a
decifração de palavras que durante muito tempo foi chamada de leitura.
46. 46
4.3.3 Função da leitura
Nessa categoria buscamos considerar o ponto de vista dos professores com relação
a função da leitura na vida das pessoas. Diante disso questionou-se: No seu ponto
de vista para que serve a leitura?
A leitura serve para transformar o modo de ser e de ver o mundo e de
interagir com o mesmo. (P1)
A leitura serve para tornar um cidadão mais crítico, participativo e
consciente de seus direitos e deveres. (P2)
Para conhecer o mundo, participar dele em todos os seus aspectos e
transformá-los de maneira satisfatória para seu desenvolvimento cognitivo e
social. (P3)
Para nos interarmos de tudo: informações do mundo, atualidades,
conhecimentos etc. (P4)
Serve para relacionar, envolver, informar e formar cidadãos com habilidades
para atender as múltiplas necessidades do cotidiano. (P5)
Serve para atuação do conhecimento de uma forma correta do cidadão
utilizar para o bem comum. (P6)
É interessante perceber a unanimidade na fala dos professores, onde afirmam que a
leitura tem a função de proporcionar nos indivíduos o direito de opinião frente a
realidade, formando o cidadão que pensa e interage nas relações sociais na qual
está inserido. Aguiar (1993) acrescenta:
É através da linguagem que o homem se reconhece como humano, pois
pode se comunicar com os outros homens e trocar experiências. Existe,
porém, uma condição prévia para a manifestação da linguagem: é preciso
haver um grupo humano, no qual o sujeito se confronte com o conjunto e se
perceba como indivíduo. É, portanto, na convivência social que nascem as
linguagens, conforme as necessidades de intercâmbio. (p.9)
Posto isto, compreendemos que os professores tem uma fundamentação teórica
sólida quando deixam evidenciar que compreendem a leitura como um instrumento
de libertação do homem, proporcionando uma maior reflexão sobre si mesmo e o
mundo ao seu redor, e tornando-se autor da sua própria história.
47. 47
Sendo assim, vale recorrer às palavras de Solé (1998) quando diz que: “é preciso
levar em conta que o propósito de ensinar as crianças a ler com diferentes objetivos
é que, com o tempo, elas mesmas sejam capazes de se colocar objetivos de leitura
que lhes interessam e que sejam adequados”. (p.100).
Diante disso, comprovamos a relevância da leitura no processo de formação do
cidadão através de práticas leitoras fundamentadas na função da leitura na vida das
pessoas. Nessa vertente nos questionamos sobre o desenvolvimento das práticas
leitoras no espaço escolar por professores que embora afirmem que reconhecem a
leitura como instrumentos de libertação do homem revelam que a leitura não está
presente no seu dia a dia.
4.3.4 Processo de formação do leitor
Sobre essa questão, procuramos identificar a experiência pessoal dos professores,
com relação à leitura em sua vida, por entendermos que embora os professores
estejam a cada dia buscando aperfeiçoamento em cursos de graduação e pós-
graduação, acabam trazendo para as suas práticas vestígios de sua experiência
pessoal, enquanto leitor. Por isso indagou-se: Em relação à prática de leitura, como
foi a sua experiência pessoal, desde a infância até os cursos de formação?
O gostar de ler foi despertado pela minha mãe que comprava gibi e revista
para minha irmã e eu, desde que aprendi a ler com 5 anos e até hoje
continuo lendo e incentivando meus filhos e alunos para que leiam todos os
dias. (P1)
Foi no Ensino Fundamental que tive contato com os livros a partir daí que
comecei a ler. (P2)
Sempre gostei de ler. Lia tudo inclusive no tempo do Ensino Fundamental I
e II, foi o período em que mais me relacionei que tive contato com uma boa
leitura. (P3)
Foi é muito ótima, pois comecei a ler muito cedo. (P4)
Ótima, quando criança na minha casa todos gostavam de ler, eu recordo
minha mãe lendo histórias (...) Minha paixão pela leitura acredito que
despertou na minha infância no contato familiar, foi o que me ajudou no
decorrer dos estudos. (P5)
48. 48
Notamos na argumentação de P1 e P5 que o processo de formação do leitor inicia-
se no aconchego do âmbito familiar e se processa em longo prazo com apoio e
incentivo da escola e dos professores. Vale reforçar que o espaço escolar deve
proporcionar a esses pequenos leitores em formação, leituras significativas que
despertem prazer e lembranças das primeiras leituras no espaço familiar. Dentro
deste ponto de vista Kleiman (2004) relata:
Devemos lembrar que, para a maioria, a leitura não é aquela atividade no
aconchego do lar, no canto preferido, que nos permite nos isolarmos,
sonhar, esquecer, entrar em outros mundos, e que tem suas primeiras
associações nas estórias que a nossa mãe nos lia antes de dormir. Pelo
contrário, para a maioria as primeiras lembranças dessa atividade são a
cópia maçante, até a mão doer, de palavras da família do da, “Dói o dedo
do Didu”; a procura cansativa, até os olhos arderem, das palavras com o
dígrafo que deverá ser sublinhado naquele dia; a correria desesperada até o
dono do bar que compra o jornal aos domingos, para a família achar as
palavras com a letra J. Letras, sílabas, dígrafos, encontros consonantais,
encontros vocálicos, “dificuldades” imaginadas e reais substituem o
aconchego e o amor para essas crianças, entravando assim o caminho até
o prazer. (p.16)
Nesse sentido, entendemos que o primeiro contato com a leitura, seja ela no contato
familiar ou na escola, como podemos evidenciar na fala de P2, deve proporcionar
impressões positivas sobre o mundo de possibilidades que é a leitura, caso contrário
o fracasso se instala na vida do aluno, e este se torna um não-leitor em formação.
Todo hábito entra na vida como um jogo que, por mobilizar emoções e
inspirar prazer, exige repetição contínua e renovada. Por essas vias, chega-
se, por certo, ao hábito da leitura literária, que permite a multiplicação do
prazer, através da experiência sempre recomeçada de viver os sentidos do
mundo em cada texto percorrido. (AGUIAR, 1993, p.27)
Dessa forma se evidencia a importância de despertar o gosto pela leitura, através de
práticas leitoras prazerosas, a partir de leituras que permitam a cada contato com o
texto uma nova experiência e desejo de continuar enxergando novas possibilidades
de transformação do seu meio social.
4.3.5 Práticas de leitura: o dia a dia da sala de aula
Com o objetivo de identificar as práticas dos professores do Ensino Fundamental I
da Escola Municipal de Andorinha frente a leitura em sala de aula, questionamos
49. 49
aos professores: Quais são as práticas de leitura utilizadas no dia a dia da sala de
aula?
A partir das falas dos professores conseguimos identificar as práticas de leitura que
estão presentes no dia a dia da sala de aula, onde apresentaremos em categorias.
4.3.5.1 Prática de leitura individual
Com relação às práticas de leitura desenvolvidas no dia a dia da sala de aula
deixam claro que:
Em sala de aula faço leitura individual, coletiva e roda de leitura. Vou a
biblioteca com os alunos e ajudo a escolherem livros para a sua idade. (P1)
Em sala de aula faço leitura individual, em grupo que ajuda o aluno a
desenvolver a pronúncia de certas palavras, a pontuação entre outros. (P2)
Evidenciamos na fala de P1 que no dia a dia da sala de aula incentiva os alunos a
frequentarem a biblioteca, espaço propício ao desenvolvimento de futuros leitores,
além da apreensão de escolher livros que estejam de acordo com a idade dos
alunos. Sobre este ponto de vista Aguiar (1993) enfoca que “a idade do leitor
influencia seus interesses: a criança, o adolescente e o adulto têm preferência por
textos diferentes. Mesmo dentro de cada período da vida humana, esses interesses
modificam-se à medida que se dá o amadurecimento do indivíduo”. (p.19)
É interessante pontuar a fala de P2, pois deixa transparecer em sua afirmação, a
leitura como mera decodificação de palavras e como oportunidade de ensinar
gramática. Nessa vertente Antunes (2003) acrescenta:
Uma atividade de leitura centrada nas habilidades mecânicas de
decodificação da escrita, sem dirigir, contudo, a aquisição de tais
habilidades para a dimensão da interação verbal, quase sempre, nessas
circunstâncias, não há leitura, porque não há “encontro” com ninguém do
outro lado do texto. (p.27)
Com base nas afirmações de P1 e P2, constatamos que a prática de leitura
desenvolvida no espaço da sala de aula, principalmente, a leitura individual, que
50. 50
aparece nas duas falas, restringe-se, apenas, a decifração de palavras, através de
textos sem significado para a vida do aluno, dessa forma desassocia a principal
função da leitura, que é fazer com que os alunos desenvolvam habilidades de
integração e socialização na sociedade. É interessante pontuar, também, que essa
prática de leitura pode tornar o ato de ler uma obrigação, e é justamente aí que a
leitura perde o brilho e o processo de formação do aluno leitor começa a sucumbir.
4.3.5.2 Prática de leituras diversas
Tendo em vista a importância de práticas de leitura que abracem a diversidade de
possibilidades de adolescer o gosto dos alunos por leituras diversas, a fim de
contribuir para o desenvolvimento humano e transformar a sociedade, torna-se
relevante citar a fala de P3 e P4 com relação as suas práticas de leitura no dia a dia
da sala de aula:
Leitura de livros didáticos, livros infantis, produções textuais e revistas. (P3)
Todos os dias meus alunos tem que ler, nem que seja uma frase, também
utilizo livros, revistas, gibis, cada dia eles leem um texto diferente. (P4)
Queremos ressaltar na fala de P2 o uso do livro didático no dia a dia da sala de aula,
pois como abordamos na fundamentação teórica essa prática de leitura pode trazer
várias implicações para a formação do leitor. Segundo Kleiman (2004) “uma
consequência dessa atitude é a formação de um leitor passivo, que quando não
consegue construir o sentido do texto acomoda-se facilmente a essa situação”.
(p.19)
Apesar de um discurso amplo e bem fundamentado dos professores com relação à
concepção e a função da leitura na vida dos indivíduos, identificamos em suas falas
práticas de leitura que não permitem ao aluno desenvolver a capacidade de interagir
no mundo em que vivem. A utilização do livro didático ao invés de servir de elemento
que proporcione discussões, formação de idéias e tomada de posições frente aos
problemas sociais, simplesmente permitem ao aluno uma ação mecânica, pois
apresentam textos descontextualizados da realidade do aluno.
51. 51
Embora, é relevante pontuar que tanto na fala de P3 como na fala de P4, além do
livro didático utilizam livros infantis, revistas, gibis e afirmam trabalharem com
produções textuais, o que é verdadeiramente importante quando temos como
objetivo a formação do aluno leitor. Dentro dessa perspectiva Antunes (2003) afirma
que “fica evidente a pretensão quanto à diversidade de gêneros de textos que o
professor deve providenciar. É importante que o aluno, sistematicamente, seja
levado a perceber a multiplicidade de usos e de funções a que a língua se presta, na
variedade de situações em que acontece”. (p.118)
Sendo assim, cabe frisar a utilização de práticas de leitura voltadas para os
interesses e expectativas dos alunos, através de atividades significativas de leitura,
que proporcionem o desenvolvimento do senso crítico e a formação do cidadão que
se posiciona frente aos problemas e questões sociais. Vale ressaltar que as práticas
de leitura só terão sucesso se o professor for um eterno entusiasta e amante da
leitura.
4.3.5.3 Prática de leitura silenciosa
É evidente que a formação do aluno leitor está diretamente ligada as práticas dos
professores frente a leitura em sala de aula. Dessa forma analisaremos as falas de
P5 e P6:
Leitura silenciosa de textos diversos (narrativos, informativos etc) e
interpretações orais e escritas. (P5)
Roda de leitura, leitura silenciosa, leitura visual. (P6)
Notamos na fala de P5 e P6 a leitura silenciosa exemplificando algumas das
diferentes atividades que podemos fazer com a leitura, porém é relevante pontuar a
necessidade de selecionar textos para cada momento e objetivos que se deseja
alcançar, proporcionando, assim, uma leitura significativa. Com relação à leitura
silenciosa Solé (1998) enfatiza:
Os alunos não vão acreditar que ler – em silêncio, só para ler, sem ninguém
lhes perguntar nada sobre o texto, nem solicitar nenhuma outra tarefa
referente ao mesmo – tenha a mesma importância que trabalhar a leitura –
ou qualquer outra coisa – se não virem o professor lendo ao mesmo tempo
em que eles. É muito difícil que alguém que não sinta prazer com a leitura
consiga transmiti-lo aos demais. (p.90)
52. 52
Assim, as práticas de leitura no dia a dia da sala de aula devem ser planejadas e
refletidas pelos professores, pois, sabemos que existem diversas situações de
leitura e umas são mais motivadoras do que outras, onde o aluno ler por prazer e a
para se libertar. Dessa forma é relevante citar Kleiman (2004) quando afirma:
As práticas desmotivadoras, perversas até, pelas consequências nefastas
que trazem, provêm, basicamente, de concepções erradas sobre a natureza
do texto e da leitura, e, portanto, da linguagem. Elas são práticas
sustentadas por um entendimento limitado e incoerente do que seja ensinar
português, entendimento este tradicionalmente legitimado tanto dentro
como fora da escola. É dessa legitimidade que se deriva um dos aspectos
mais nefastos das práticas limitadoras: elas são perpetuadas não só dentro
da escola, o que seria de se esperar, mas também funcionam como o
mecanismo mais poderoso para a exclusão fora da escola. (p.16)
Como se pode verificar, as práticas de leitura identificadas no dia a dia da sala de
aula, ainda, são muito empobrecedoras e está distante de formar o aluno leitor, pois
as práticas dos professores estão baseadas em atividades de decodificação, uma
vez que em nada interferem na visão de mundo do aluno. Outra questão que
interfere diretamente na formação do aluno leitor é o silêncio do professor quando
solicitado a falar sobre suas práticas, pois, muitos se mantiveram calados, o que nos
leva a concluir que a leitura é deixada a segundo plano no dia a dia da sala de aula,
ocasionando o fracasso da escola quanto à formação de leitores.
Identificamos na argumentação dos professores um distanciamento entre a teoria e
a prática, já que percebemos em suas falas práticas de leitura que valorizam a
decodificação de mensagens escritas e o ensino da gramática através de frases e
textos sem sentido. Contudo a leitura é bem mais abrangente, pois proporciona a
integração do indivíduo na sociedade permitindo-lhe posicionar-se de maneira crítica
diante da realidade. Dentro dessa perspectiva Zilberman (1993) afirma que “ler não
é, então, apenas decodificar palavras, mas converte-se num processo compreensivo
que deve chegar às idéias centrais, às inferências, à descoberta dos pormenores, às
conclusões” (p.26).
Diante desses fatos podemos concluir que muito ainda tem por se fazer para a
escola conseguir formar uma sociedade de leitores, pois as práticas de leitura
desenvolvidas pelos professores em salas de aula apresentam uma visão
reducionista e limitada de leitura, evidenciando, assim, o grande entrave que precisa
53. 53
ser superado pela escola para fazer com que a leitura seja ação e transformação na
vida das pessoas, apesar dessas constatações, acreditamos no importante papel e
na força que o professor tem como mediador de conhecimentos e na formação do
aluno leitor.