Eça de Queiroz era um escritor português do século XIX conhecido por suas sátiras sociais. O documento contém vários excertos das obras de Eça que mostram suas percepções sobre viagens, comida, e o papel das mulheres na sociedade.
5. Eça viajante… por Baião
“Enfim, decidi. Apertei os punhos na cabeça, e gritei —
Vou a Tormes! E vou!... E tu vens! (…) — Mas tu sabes,
meu bom Jacinto, que a casa de Tormes está inabitável...
Ele cravou em mim os olhos aterrados. — Medonha, hem?
— Medonha, medonha, não... É uma bela casa, de bela
pedra. Mas os caseiros, que lá vivem há trinta anos,
dormem em catres, comem o caldo à lareira, e usam as
salas para secar o milho. Creio que os únicos móveis de
Tormes, se bem recordo, são um armário e uma espineta
de charão, coxa, já sem teclas.” (A cidade e as serras)
6. Eça viajante… por Resende
“(…) algumas raras pessoas que em Lisboa ainda se
lembravam dos Maias, e sabiam que desde a Regeneração
eles viviam retirados na sua quinta de Santa Olávia, nas
margens do Douro. (…)
Em Santa Olávia as chaminés ficavam acesas até Abril;
depois ornavam-se de braçadas de flores, como um altar
doméstico; e era ainda aí, nesse aroma e nessa frescura,
que ele gozava melhor o seu cachimbo, o seu Tácito, ou
o seu querido Rabelais.”
(Os Maias)
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9. “Mas lá abancou resignado, e muito tempo,
pensativamente, esfregou com o seu lenço o garfo
negro e a colher de pau. Depois, mudo,
desconfiado, provou um gole curto do caldo, que
era de galinha e rescendia.
— Está bom! Estava realmente bom: tinha fígado
e tinha moela: o seu perfume enternecia. Eu, três
vezes, com energia, ataquei aquele caldo: foi
Jacinto que rapou a sopeira. Mas já arredando a
broa, arredando a vela, o bom Zé Brás pousara na
mesa uma travessa vidrada, que transbordava de
arroz com favas.”
(A cidade e as serras)
10. Contrastes do mundo queirosiano
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/77/Jeroen_Bosch_%28ca._1450-1516%29_-_De_verzoeking_van_de_heilige_Antonius_%28ca.1500%29_-
_Lissabon_Museu_Nacional_de_Arte_Antiga_19-10-2010_16-21-31.jpg
http://4.bp.blogspot.com/_lMPxOfSF22I/TURRqsIawmI/AAAAAAAABZQ/uVcYRwc2-60/s1600/Pedir+esmola.bmp
11. Eça gastrónomo…
“[O abade] vivia tão absorvido pela sua "arte" que lhe
acontecia, nos sermões de domingo, dar aos fiéis (…)
conselhos sobre o bacalhau guisado ou sobre os
condimentos do sarrabulho. E ali vivia feliz, com a sua
velha Gertrudes, de muito bom paladar também (…).
— Oh senhor pároco! dizia ele a Amaro, por quem é!
mais um bocadinho de cabidela, faça favor! Essas
codeazinhas de pão ensopadas no molho! Isso! Isso!
Que tal, hem?”
(O Crime do Padre Amaro)
12. Eça gastrónomo…
“Um pobre então viera à porta rosnar lamentosamente
Padre-Nossos; e enquanto Gertrudes lhe metia no
alforje metade duma broa, os padres falaram dos
bandos de mendigos que agora percorriam as
freguesias.”
(O Crime do Padre Amaro)
15. Eça no feminino…
“Era a propósito da secretária da Legação da Rússia
(…). O Ega achava-a deliciosa, com o seu corpinho
nervoso e ondeado, os seus grandes olhos garços... E o
conde, que a admirava também, gabava-lhe sobretudo
o espírito, a instrução. Isso, segundo o Ega,
prejudicava-a: porque o dever da mulher era primeiro
ser bela, e depois ser estúpida... O conde afirmou logo
com exuberância que não gostava também de literatas;
sim, decerto o lugar da mulher era junto do berço, não
na biblioteca...” (Os Maias)
16. Eça no feminino…
“A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e
amar bem..”
(Os Maias)
18. Eça no feminino…
“Precisava de uma mulher serena, inteligente, com uma
certa fortuna (não muita), de carácter firme disfarçado
sob um carácter meigo, que me adotasse como se adota
uma criança, me obrigasse a levantar a certas horas, me
forçasse a ir para a cama a horas cristãs –e não quando
os outros almoçam – que me alimentasse com
simplicidade e higiene, que me impusesse um trabalho
diurno e salutar e que, quando eu começasse a chorar
pela Lua, ma prometesse – até eu a esquecer….”
(Carta de Eça a Ramalho Ortigão)
19. Palavras de Emília…
“Parece-me que a solidão
é má para ti.
O que eu queria era estar
contigo, a tua solidão
assim adoentado custa-
me tanto. Sempre que
pensares em mim, podes
quase ter a certeza que
estou pensando em ti.”
(Eça de Queiroz entre os seus)