1) O documento discute a cultura e religião dos povos Bantus, especificamente os Bakongos, incluindo suas crenças e práticas religiosas que envolvem a incorporação de elementos católicos e tradicionais.
2) Os Bakongos vivem principalmente em Angola e acreditam em Nzambi Ampungo como o criador e em antepassados e divindades menores.
3) Sua cosmologia envolve a ideia de que todas as coisas foram colocadas em um "saco da criação" por Nzambi
Falando de Axé: Consciência Negra e Cultura dos Bantus
1. Falando de Axé
“TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS -
CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”.
ANO 1 — Edição 06 Novembro de 2011
Òrìsà do Mês
Egúngún, O Falando de
Ancestral que vence
a Morte Axé com Mãe
(Esquecimento)
Elis Peralta
Umbanda completou
seus 103 anos de
Fundação em 2011 Zumbi dos Palmares, o maior
Ícone da resistência negra ao
Nação Jèjí no Brasil escravismo no Brasil
1
2. EDITORIAL
Saudações amigos leitores, cá estamos
nós, com mais uma edição da Falando de
Axé, Novembro de 2011, que está um
pouco atrasadinha, mas prontinha para a
apreciação de vocês. Gostaríamos de
comunicar à todos, que estamos
diminuído as cores da revista, já que a
mesma não é impressa, ficará melhor para
àqueles que desejarem imprimi-la para ler,
pois, os pedidos são muitos.
"Olódùmarè Nossa equipe tem se esforçado
(Meu Deus), aju- bastante, para que a cada edição, a revista
da-me a dizer a esteja melhor e do agrado de todos vocês.
palavra da ver- Por isso, contaremos sempre, com as
dade na cara dos críticas e sugestões de vocês, amigos
fortes, e a não leitores.
mentir para ob-
ter o aplauso Esperamos que gostem desta nova
dos débeis." - edição e uma Ótima Leitura à todos.
Mahatma
Gandhi Hérick Lechinski - O Editor
2
3. Ìbà Olódùmarè Elédà mi - Saudações a Olódùmarè, O
meu Criador.
Ilè Ògéré Ìbà - Terra, cujo poder se espalha por todo o
Universo,
Saudações.
Mo júbà Èsù Alágbára Irúnmalè - Eu respeitosamente
saúdo Èsù, o Poderoso Venerável.
Ìbà gbogbo - Saudações a Todos!!!
ÍNDICE
Consciência Negra Pág. 04
Quem são os Bantus? Parte II Pág. 05
Criação do Mundo segundo a Tradição Bantu
Pág. 08
Cultura Vòdún, a Nação Jèjí no Brasil Pág. 13
Òrìsà do Mês: Egúngún, o Ancestral que vence
a Morte (esquecimento) Pág. 16
Odù do Mês: Òyékú méjì, o Odù da Morte
Pág. 21
Folha do Mês: Tètèrègún, a Folha da Vida e da
Morte Pág. 24
Existe Ògán raspado e Ìyàwó pode tocar
atabaques? Pág. 26
Para onde caminha a Umbanda? Pág. 29
Entrevista do Mês: Mãe Elis Peralta Pág. 30
A Umbanda completou seus 103 anos de
Fundação em 2011 Pág. 35
Livro do Mês: A Umbanda às suas ordens
Pág. 36
Santo do Mês: Nossa Senhora do Rocio, a
Mãe padroeira do Paraná
Pág. 37
Personalidades Negras: Zumbi do Palmares
Pág. 42
Contatos Pág. 47
3
4. Consciência Negra
Consciência e com ciência...
Consciência negra não é coisa só para negros, mas sim para todos, ne-
gros, brancos e de todas as cores, pois, antes de tudo somos iguais.
Iguais, semelhantes, esta é a consciência que todos devemos ter.
A lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro
no calendário escolar, o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei
também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-
Brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas aulas
sobre os seguintes temas: História da África e dos africanos, luta dos ne-
gros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da socieda-
de nacional.
Com a implementação dessa lei, o governo brasileiro espera contribuir
para o resgate das contribuição dos povos negros nas áreas social, eco-
nômica e política ao longo da história do país.
A escolha dessa data não foi por acaso: em 20 de novembro de 1695,
Zumbi - líder do Quilombo dos Palmares- foi morto em uma emboscada
na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que
culminou com o início da destruição do quilombo Palmares.
Então, comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é u-
ma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa figura
histórica. Não somente a imagem do líder, como também sua importân-
cia na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888.
Porém, hoje as estatísticas sobre os brasileiros ainda espelham desigual-
dades entre a população de brancos e a de pretos e pardos. Há muito o
que melhorar.
4
Fonte: IBGE Teen
5. QUEM SÃO OS no Brasil de que os negros estavam u-
sando os santos católicos à maneira de
BANTUS? feitiços, tal como usavam suas próprias
divindades, acrescidos do fato de que
Parte II em África, brancos católicos acabavam
recorrendo aos poderes e saberes dos
sacerdotes tradicionais. Os casamentos
de nativos, ou casamentos mistos, eram
celebrados na igreja de acordo com os
ritos católicos, só que ao som de tambo-
res e embalados por crenças nativas. Os
enterros e velórios recebiam tanto a
benção do padre católico quanto os e-
xorcismos e oferendas do sacerdote da
terra. A aceitação do catolicismo por
parte dos africanos bantu sempre foi
POVO BAKONGO
tranqüila na África ou no Brasil, mas
O s b a k o n g o s sempre de acordo com suas conveniên-
e ambundos apresentam uma caracte- cias e decisões.
rística que é peculiar a todos os povos
bantu, que é a extrema capacidade de No congo, relatam os cronistas, os
assimilação e adaptação às condições, santos católicos eram levados em pro-
valores e crenças locais. São capazes de cissão e louvados ao lado dos Minkissi o
elaborar sucessivas releituras daqueles que causava nos padres Capuchinhos
elementos religiosos que lhes são estra- profunda repugnância e revolta. As ir-
nhos, recriando sempre e em cada cir- mandades religiosas brasileiras são a
cunstância um novo discurso de sua vi- clara demonstração dessa maneira pe-
vência e prática cotidiana, acrescidos culiar de como os povos bantu encaram
dos elementos até então exógenos a sua a questão da religiosidade. No pensa-
cultura. mento mais profundo bantu impera a lei
do nguzu ou do móoio, força vital que
Quando do contato com os portu- perpassa todos os elementos animados
gueses, sobretudo na esfera da religiosi- ou inanimados assim como todos os se-
dade adaptaram-se perfeitamente ao res humanos, não humanos e celestiais.
catolicismo português, aceitando as no- Tudo possui nguzu e sem ele não há vi-
vas divindades e seus atributos, cultuan- da, não há movimento, não há realiza-
do os santos católicos ao lado de suas ção. O nguzu diminui ou aumenta de a-
próprias divindades. cordo com o procedimento do indivíduo
e sem ele o homem torna-se um morto-
Debalde clamavam as autoridades vivo. Uma estátua ou um ídolo podem
5 eclesiásticas portuguesas em África ou tornar-se vivos e atuantes de acordo
6. com o nguzu que recebe das mãos da- no outro lado do mundo, e com esses
quele que o confeccionou ou daquele conhecimentos, ele, o manicongo, tor-
que através de seu próprio nguzu elabo- nar-se-ia um monarca muito poderoso.
rou elementos para a sua vivificação. Tu- Por sua vez, o rei português sonhava em
do que existe pode receber mais nguzu e solidificar em África alianças que garan-
tornar-se mais potente e ao contrário, tissem sua passagem tranqüila para as
pode também na mesma medida perder Índias, essa sim, alvo da cobiça comerci-
nguzo, tornar-se impotente e findar-se. al portuguesa. A aliança entre os dois
Segundo a lógica bantu, Kalunga, aquele monarcas teve como conseqüência a
que se criou a si mesmo, ou Nzambi Am- cristianização do congo, num primeiro
pungo, o grande criador, é a fonte de to- momento, e a implantação do escravis-
da a potência e dele emana nguzu conti- mo comercial e da dominação portugue-
nuamente, por isso sua criação é eficien- s a e m Á f r i c a .
te, presente e contínua.
Os bakongos, hoje, ocupam as pro-
Os bakongos foram o primeiro po- víncias angolanas de Cabinda, Uíge e Zai-
vo a ter contato com os portugueses, em re, onde nesta última se localiza a antiga
1483, através do navegador Diogo Cão capital do reino do Congo. É a terceira
que aportou na foz do Rio Zaire. O nave- maior população de Angola e suas pro-
gador foi acolhido pelo Mani de Soyo, vinciais situam-se a noroeste do país.
dignitário de uma província do noroeste São agricultores e sua principal fonte de
do Reino do Congo na época em que go- alimentação está no plantio da mandio-
vernava o Reino o manicongo Nzinga a ca, que consomem crua, cozida ou em
Nkuwa, que reinava da capital Mbanza forma de farinha. É um povo que se or-
Kongo, a alguns quilômetros terra aden- ganiza em clãs e tem na Kanda, o clã por
tro. O contato com os congoleses foi a- descendência matrilinear, seu maior es-
mistoso e Diogo Cão levou alguns bakon- teio e apoio. Há um provérbio congolês
gos consigo para o reino, cujo monarca que diz: Alguém apanhado fora do clã e
representava e também deixou alguns como um gafanhoto sem asas.
homens em terra do manicongo. Quan- Na esfera religiosa, grande parte é cristã
do retornou em 1485 os quatro bakon- desde o século XVI por influência portu-
gos que haviam passado dois anos em guesa, mas continuam a professar sua
Portugal fizeram relatos muito positivos religião tradicional. De acordo com suas
ao Rei sobre os novos instrumentos de concepções religiosas cada pessoa com-
guerra que conheceram, as novidades põe-se de quatro elementos: o corpo
que viram, o que impressionou vivamen- (nitu), duas almas, uma espiritual e ou-
te o Rei. Essas informações convenceram tra sensível ( moio e mfumu kutu ) e um
o Manicongo a enviar uma embaixada nome (Zina). O deus criador é Nzambi
ao rei português, D.João II com o objeti- Ampugo, mas raramente se dirigem dire-
vo de aprender com os portugueses tu- tamente a ele e sim por intermédio dos
do aquilo que seus súditos haviam visto antepassados, os bakulus ou os Minkissi.
6
7. CRENÇAS BAKONGO coisas, pois, segundo ele, o bom comple-
menta o ruim, o falso complementa o
verdadeiro, e assim por diante. Tudo po-
de ser feito pelo homem, todas as ações
são possíveis e factíveis, apenas ao ho-
mem não é dado conhecer o segredo da
vida, o nó feito por Nzambi ao fechar o
saco da criação. Quando o homem des-
cobrir e compartilhar esse segredo com
Nzambi o saco da criação se autodestrui-
rá porque o segredo da vida foi desven-
dado e esse só Nzambi pode saber.
Como todos vivem no mesmo saco
da existência a comunidade é composta
não apenas dos homens vivos, mas tam-
bém dos homens mortos (os antepassa-
dos) e daqueles que estão para nascer.
Nenhuma atitude mais séria, ou uma a-
ção mais objetiva são tomadas na comu-
Para os bakongos Nzambi Ampun- nidade sem antes se consultar o ante-
go é o deus criador que se criou a si passado, ou um Nkissi. Daí que a figura
mesmo ou é o incriado. Como primeiro do Nganga, o sacerdote é muito impor-
ato de criação, Nzambi criou um grande tante entre esse povo.
saco colocando nele todas as coisas ne-
cessárias a sobrevivência do homem.
Depositou ali o ar, a terra, a água, o fo-
go, os animais úteis e perigosos ao ho-
mem, as plantas comestíveis e veneno-
sas, a maldade e a bondade, ou seja, tu-
do que fosse necessário para o homem
viver em harmonia. Criou também as di-
vindades, boas e más, as atitudes, a saú-
de e a doença. Feito isso, Nzambi deu
um nó na boca do saco, selando com es-
se nó o segredo da vida, pertencente a-
penas a Nzambi e a ninguém mais.
Para o homem bakongo, viver bem
é viver de acordo com as leis da nature- Por Profº. Dr. Sérgio Paulo Adolfo
za, buscando a harmonia entre todas as (Tata Kiundudulu)
7
8. Criação do Mundo segundo a
Tradição Bantu
Segundo a história tradicional contada pêlos mais idosos e categorizados Nganga
(sacerdotes) de tribo bantu (Angola), que todos os povos negros descenderiam dos Bungu e estes
diretamente do Nzambi (Deus Supremo da mitologia bantu).
Eis a história tal qual foi contada, da criação do Mundo e a ascendência divina destes
povos. Nzambi, a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus criador de si próprio), Nzambi
ia Kalunga (Deus Supremo e Infinito) e Nzambi Ampungu (Deus Poderoso), depois de ter criado
o Mundo e tudo quanto nele existe , criou uma mulher para que fosse sua esposa e para que,
por seu intermédio, pudesse ter descendência humana, a fim de que esta povoasse a Terra e do-
minasse todos os animais selvagens, por ele criado.
Disse a sua esposa que passaria a chamar-se Ná Kalunga, em virtude da filha que iria
dar a luz, se chamar Kalunga.
Com efeito, tal como Nzambi tinha anunciado, passados nove meses, nasceu sua filha. Esta
foi crescendo como qualquer criança normal, junto de seus divinos pais, na Sanzala dia Nzambi
(aldeia de Deus). Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi, informou Ná Kalunga, sua es-
posa, que tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três
meses retornaria.
Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acom-
panhasse. Porém Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto
que, além de seu marido, era também seu Deus.
Contrariada, mas impotente para obrigar Nzambi a desistir do seu intento, limitou-se a deixar ir
à filha com o pai, enquanto ela ficou a chorar amargamente.
8
9. Logo que anoiteceu, Nzambi, instantaneamente, construiu uma Kuabata (palhoça), na qual
instalou uma só cama. Ao ver único leito, a filha recusou-se a dormir com o pai e saiu, a cho-
rar da cabana.
Ao ver a recusa da filha e não podendo convencê-la de outra forma, disse-lhe que se não
viesse imediatamente para junto dele, seria devorada pelas feras que infestavam a floresta.
Transitada de medo pelo que acabava de ouvir, Kalunga entrou novamente na cabana,
deitou-se junto de seu pai e com ele dormiu não só naquela noite, mas durante todo o tempo
que durou a viagem. Finda esta, regressaram a casa e, Ná Kalunga, tal como tinha previsto, veri-
ficou que a filha estava grávida do próprio pai. Enraivecida pelo fato e pelo desgosto, no meio
das maiores blasfêmias, enforcou-se numa árvore, perante os olhos atônitos da filha e de Nzam-
bi, que nada fez para evitar tal suicídio.
Desgostoso pela atitude da mulher, que não compreendeu os seus desígnios para povoar o
Mundo que ele tinha criado, mostrando ser indigna de continuar a ser esposa daquele que lhe
tinha dado o ser, em vez de lhe dar vida, novamente, a amaldiçoou e transformou-a num espíri-
to maligno, a quem deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu
na Terra).
A partir dessa altura, Nzambi passou então a viver maritalmente com sua filha Kalunga,
a qual depois da morte da mãe passou a chamar-se também Ndala Karitanga e a ser a segunda
divindade.
Algum tempo depois da morte de sua mãe, durante um sonho, teve uma visão que deixou
apavorada. Viu a mãe com a cabeça apoiada nas mãos, a olhá-la com rancor e a insultá-la, di-
zendo que ainda ia devorá-la, enquanto ela envergonhada, pedia perdão a mãe e dizia que de
nada era culpada, posto que, seu pai a tal a tinha obrigado. No meio desta aflição, acordou e
contou ao pai o pesadelo.
Este a sossegou, dizendo-lhe que nada receasse daquela que tinha sido sua mãe e que
agora era espírito mal, pois nenhum mal lhe poderia fazer, mas apenas lhe pedir comida. Portan-
to, disse Nzambi, vamos dar-lhe.
Levantaram-se ambos e Nzambi preparou um pequeno montículo de terra, junto da porta
casa simulando uma sepultura. Disse ele então a filha, que fosse buscar carne e outra comida e
a pusesse sobre aquela sepultura, proferindo, ao mesmo tempo, as seguintes palavras: Mam’é
nzanga ua-ku-kurila. Halapuila kanda uiza kuri yami nawa: ny ngu-na-ku mono nawa, ngu n’eza
ny ku ku cheha (minha mãe acabo de vir chorar-te; agora, não voltes a ter comigo outra vez,
porque se volto a ver-te, venho matar-te). Nzambi (aldeia de Deus).
9
10. Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi, informou Ná Kalunga, sua esposa, que
tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três meses retor-
naria.
Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acom-
panhasse. Porém Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto
que, além de seu marido, era também seu Deus.
Chegado que foi o tempo, Kalunga deu à luz um filho ao qual Nzambi deu também, o no-
me de Ndala Karitanga, passando este a ser a terceira divindade.
Logo que o seu filho-neto cresceu e atingiu a adolescência, Nzambi ordenou-lhe que ca-
sasse com sua mãe Kalunga, para que esta concebesse dele muitos filhos de ambos os sexos, a
fim de povoarem a Terra e dominarem todos os animais.
Cumprindo as ordens de Nzambi, sua filha e seu filho-neto casaram e tiveram um filho e
uma filha. Quando estes chegaram à maioridade, Nzambi ordenou, então, que o primeiro casasse
com sua mãe e a filha casasse com seu pai, dizendo que já não se justificava a primeira união
que ele tinha ordenado, informando-os, ainda que depois daquelas uniões, as seguintes se fizes-
sem sós entre primos. Por fim, depois de lhes ter ensinado tudo o que deveriam fazer, para a
que sua descendência crescesse e multiplicasse, para que lutasse contra as doenças e os
10
11. feitiços que um dos descendentes do sexo feminino, viria a possuir, porque ele lhes lega-
ria.
Disse, também, que viriam outros descendentes divinos e que após deixarem a vida ter-
rena, cada um dentro de sua atribuição, iria supervisionar o mundo que ele havia criado.
Nzambi despediu-se de todos, chamando depois, o seu cão, que sempre o acompanhava,
dirigiu-se para à Sanzala Kasembe diá Nzambi (Aldeia Encantada de Deus), e dali subiu para o
espaço, levando consigo o cão.
Naquela altura as rochas estavam moles, por terem sido formadas a pouco tempo. Ainda
hoje se podem observar as pegadas esculpidas, numa rocha ali existente, especialmente do pé
direito de Nzambi, assim como da pata dianteira do seu cão, estas pegadas existem também em
diversas outras rochas espalhadas por toda a África, incluindo Angola.(vide pré - história da
Lunda do autor).
Foi, pois, dali, que o Nzambi subiu à TCHEUNDA TCHA NZAMBI (aldeia de deus), ou céu
como nós lhe chamamos, onde se conserva, através dos séculos, para recompensar os bons e cas-
tigar os maus.
A pergunta feita a diferentes sacerdotes bantu, como é e quem foi que criou Nzambi, e-
les responderam que, sendo ele Ndala Karitanga, se deve ter criado a si mesmo e que tudo o
mais é mistério que jamais alguém conseguiu ou conseguirá desvendar.
A resumida lenda que acabamos de expor, foi contada por dois velhos naturais da região
do Sombo, conselho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sá Fuca e o outro Sá Hongo,
ambos já falecidos. O primeiro morreu no Luaco, o segundo faleceu na sua terra natal com cer-
ca de 90 anos em 1994.
11
12. Comprovação feita pela Seção de Arqueologia e pré-história do Museu do Dundo-Angola,
de que são originais e não forjadas por mãos humanas. Segundo as indicações dos nativos, a
Sanzala Kasembe diá Nzambi, situa-se entre os rios Luembe e Kasai, junto da nascente do
Mbanze. Dão-lhe estes nomes, por estar perto do Meue (estrangulamento) do Kasai.
Neste ponto, o rio tem apenas cerca de quatro metros de largura. Segundo a tradição oral,
foi junto à nascente do Mbanze que se estabeleceram, primeiramente, os chefes e autoridades
divinas, Ndumba ua Tembu, Muambumba, Muaxisenge e outros, quando fugiram à soberania do
Muatianvua.
Foi naquele mesmo ponto que mais tarde, reuniram-se novamente, e ali planearam a separação e
distribuição de terras que cada um deveria ocupar.
Lenda é a narração escrita ou oral de caráter maravilhoso, na qual os fatos históri-
cos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética *.
Nzambi s.m. – Deus Criador. Autor da existência e de suas características domi-
nantes - o bem e mal.
Conquanto seja o Ente supremo, não rege diretamente os destinos do Universo. No tocante
ao nosso planeta, serve-se de intermediários a entidade espiritual. Em face das atribuições de
que se revestem, assumem o caráter de semideuses. Por efeito desse privilégio, é a elas, pois, a
quem os crentes se dirigem em suas emergências. Decorrentemente, a quem prestam culto.
Enquanto as entidades espirituais permanecem nas profundezas do globo. Nzambi paira
em toda parte, sem lugar determinado. Pelo alheamento a que votou os problemas mundanos, só
são invocados em última instância. Tal como noutros povos, também existem sinônimos para de-
signá-lo, Kalunga, Lumbi lua Suku, etc.
Kalungangombe, o juiz dos mortos, tem o poder de suprimir a existência. Mas, se Nzambi
não concordar com a decisão, o mortal continuará subsistindo. Portanto, intervém quando neces-
sário.
Do Livro: Crenças, Adivinhação e Medicina Tradicionais dos TCHOKWE do
Norte de Angola
Por Tata Mungangaiami, Curitiba–PR.
12
13. CULTURA VÒDÚN, A NAÇÃO JÈJÍ NO
BRASIL
Como costume da maioria dos povos no mundo, o culto aos antepassados
é um elo com o passado que dá sentido e justifica o presente e faz projetar o fu-
turo. Esse tipo de culto é movido pela admiração, saudade e também utilizado
como um oráculo de orientação e aconselhamento. A terminologia ´´Vòdún´´ é
designada para explicar os fenômenos da natureza e como deificação de ances-
tral. Este é um costume dos Povos que habitam o Benin, Togo, Gana e Nigéria.
Fazendo um recorte étnico poderíamos falar que tal nome ´´Vòdún´´ é usual
dos Povos Fòn, Gún, Ajá (antigo Èwé), Bariba e Somba.
Falando sobre Vòdún, podemos dizer que um grande raio que cai sobre u-
ma árvore pode ser chamado de Vòdún e como um ancestral que teve uma gran-
de relevância aos olhos de um povo também pode ser elevado ao status de
Vòdún.
Em sua pátria-raiz, o Benin, o Culto aos Vòdún é de extrema importância
para constituição familiar, fazendo um tipo de organograma de importâncias e or-
ganizando a questão hierárquica dentro da chamada ´´ Hε̆nnù´´ ou família. O
culto também é importante como resgate e manutenção das tradições mais re-
motas das famílias tradicionais do Benin e assim mantendo-se vivo o elo com o
passado.
13
14. O Culto preserva muito a questão familiar tendo em seu mais velho o cha-
mado ´´Hε̆nnùgán´´ ou também conhecido como ´´Dàá´´ o Grande Patriarca.
Entrando no âmbito religioso e apoiado nos costumes familiares a religião Vòdún
´´Vòdúnsínsɛ́n´´ é organizada por clãs como as famílias no Benin são organiza-
das e com o mesmo cunho orgranomático onde os Vòdún são divididos por clãs.
E cada clã tem o seu fundador chamado de Akɔ̀ Vòdún que é a liderança e o
mais respeitado, ele também recebendo o nome de Gbenúgán, Akɔ̀ nɔ̀ , Akɔ̀ sú ou
Dàdá/Dàá. Existem outras variáveis de nomenclaturas para tal cargo dependendo
do costume de cada povo ou família. Também é atribuído a cada Vòdún um do-
mínio de algum fenômeno da natureza ou costume como a caça, pesca, guerra,
agricultura e afins. O que nós conhecemos como Culto Vòdún com tais divisões e
organização foi fruto do pensamento de um revolucionário que viveu entre os
séc. X e XI com o nome de Yegú Tennú Gesu, filho do Rei Tenú Gesú da cidade
de Tàdó que mais tarde o jovem Yegú seria conhecido como Agàsú (O Bastardo),
Ajáhutɔ́ (O matador de Ajá), Kpɔ̀ ví (O filho da pantera), Kpɔ̀ sú (A Pantera-
macho), Dàdáxó (O grandioso Patriarca) e como Kɔ̀ kpon (O rei fundador da ter-
ra). Ele foi o fundador da cidade do Allada e seus filhos fundaram muitas cidades
e como principais a cidade do Dànxomɛ̀, Glènxwé, Ajácɛ́ ou Hògbònú (Porto No-
vo).
O culto tem uma divisão básica entre dois elementos: Àyì (Terra) e Jí (Céu)
e assim temos os Àyìvòdún que seriam os Vòdún ligados aos elementos e fenô-
menos da Terra que é encabeçado por Sàkpàtá e os Jívòdùn que seriam os
Vòdún ligados aos elementos e fenômenos do céu que é encabeçado por
Xɛbyosò. Dentro desta divisão existem subdivisões e classificações como exem-
plo:
Àyìvòdún: Vòdún da terra
Zùnvòdún: Vòdún da floresta.
Atínhùnvé: Vòdún que habita o interior das árvores. Não seria: àtín-
mɛ̀vòdún ou Àtínvòdún
Sòvòdún: Vòdún do trovão e raio.
Tɔ̀ vòdún: Vòdún das águas
Hε̆nnùvòdún: Vòdún de ancestrais reais.
Em relação às práticas religiosas existem tanto no Benin quanto no Brasil
cerimônias públicas e privadas. Isto é uma característica do Culto Vòdún e a par-
ticipação da comunidade é de extrema importância, pois as festas públicas são
realizadas para o contato dos ancestrais com os seus descendentes, assim acon-
tecendo uma troca importantíssima entre o passado e o presente. No Benin os
cultos mais importantes são dos Hε̆nnùvòdún por estar mais próximo a uma rea-
lidade atual, porém existem os cultos tradicionais que podemos destacar três:
Xɛbyosò, Sàkpàtá e Dàn. No Brasil a herança dos cultos reais pouco ficou, mas
dos três principais Vòdún, sim!
14
15. Em suma, podemos dizer que o Culto Vòdún é basicamente uma forma de
cultuar ancestrais e fenômenos da natureza. Estes dois misturam-se quando o
culto é praticado assim como, exemplo: Sògbó é um Vòdún ancestral ligado ao
poder do raio.
No Brasil, algumas formas de Culto chegaram como O Kerebetãn de
Zòmádonù (Tradição dos Mina/Dànxomé - Maranhão), Os Tambores do Egito e
Turquia (Tradição Ewe, Fanti, Ashanti e Ajá – Maranhão), Zo godo Bogun Male
Hundó (Tradição dos Maxí/Bariba - Bahia), Xwe Sejá Hùn De (Tradição dos Maxí/
Bariba - Bahia), Xwe Kpo Zenhen (Tradição dos Aja/Ayizo – Bahia), Xwe Kpo e Ji
(Tradição dos Maxí/Savalú - Bahia), Casa Amarela (Tradição dos Fòn/Dànxomé –
Pernambuco), Xwé Kpɔ̀ Dàgbá (Tradição dos Màxí/Alàdá – Rio de Janeiro) e
também em algumas casas no Sul do Brasil dentro do costume do rito Batuque.
Em relação à relevância do nome do Culto no Brasil temos O Kerebetãn
(Xwélegbetan) de Zomadonu com os Cultos Reais, Os Tambores com os Vòdún
Togolêses e Ganêses, Zo Godo Bogun Male Hundó com o culto aos Sòvòdún,
Xwe Se Já Hùn De com os cultos a Dàn e Sàkpàtá, Xwé Kpɔ̀ Dàgbá com o culto a
Sakpatá, Gú, Dàn, Atòlú e Jɔ̀ .
Por Ralph Mesquita
(Doté Vodùnnò Zodaáví Fasóví Xebyososí)
15
16. ÒRÌSÀ DO MÊS
Egúngún, o Ancestral que vence a
Morte (Esquecimento)
Egúngún, o que é?
Um culto?
Uma atividade folclórica?
Uma divindade?
Um conjunto de divindades?
A representação dos mortos?
Em fim... O que é e para que é que serve Egúngún?
Você quer descobrir?
Se você amigo leitor, deseja realmente entender um pouco mais sobre isso, viaje
comigo nesta leitura e desvende alguns dos vários mistérios que envolvem essa Divin-
dade: EGÚNGÚN.
Egúngún é uma palavra só, que representa muitas coisas, primeiramente é preci-
so entender que Egúngún é o culto aos ancestrais veneráveis do sexo masculino, note
que a palavra venerável designa pessoas veneráveis, ou seja, não é qualquer ancestral.
Na visão tradicionalista yorùbá, um homem, para se tornar um ancestral venerável, pre-
cisa concluir algumas etapas na vida material e espiritual. Algumas delas são: Ser inici-
ado, especialmente em Ifá, que é o grande revelador do destino humano. Ter cumprido
as determinações de Ifá, ter sido um devoto ou sacerdote de òrìsà sério e comprometi-
do, ter após seu falecimento, sido submetido aos rituais de ajéjé (rituais fúnebres). No
campo material ele necessita de algumas coisas como, ter adquirido casa própria,
constituído família (ter muitos filhos), ter atingido idade avançada (mais de 60 anos de
idade), ter uma influência social e familiar muito grande. Esses são alguns dos requisi-
tos necessários para que um homem, após seu falecimento, seja considerado pela
16
17. Awòrìsà) a comunidade, a iniciação em qual-
quer òrìsà, tem como objetivo principal tor-
nar aquela pessoa um membro do culto da-
quela determinada divindade. No Brasil, tal-
vez pelo egoísmo de nosso povo, foi aglo-
merado, num mesmo sacerdote, várias fun-
ções, que faz com que o mesmo, indepen-
dente de ser iniciado ou não em determina-
do òrìsà, inicie outras pessoas, não conde-
no isso, porém isso foge do principio de
que, só podemos dar aquilo que temos. Sen-
do assim, só posso dar o àse de Òsun para
alguém, se eu tiver este àse, se não, o máxi-
mo que posso fazer é indicar alguém de
confiança que o tenha. Na Nigéria é assim
que funciona, uma pessoa pode perfeita-
mente, ser iniciada em quantas divindades
quiser e PUDER, para isso existe Ifá, para
mostrar a necessidade daquele determinado
Orí (cabeça).
Logo, qualquer culto tem seu grupo
de devotos e sacerdotes, que podem adorar
sociedade yorùbá, um ancestral vene- outras divindades, sem problema, mas, sa-
rável, ou seja, um homem digno de culto, bendo que cada culto e cada divindade tem
um membro da sociedade Egúngún. sua forma e suas particularidades.
Ora, eu disse sociedade egúngún cer-
to? Certo! Pois é isso que egúngún é, uma
sociedade que representa os ancestrais
masculinos dignos de culto.
Além disso, a palavra egúngún repre-
senta um òrìsà, ou seja, uma divindade que
lidera e representa essa sociedade. Muitos
dizem que egúngún não é òrìsà, o que é um
grande equivoco, pois, na visão yorùbá, tu-
do aquilo que é cultuado para trazer benefí-
cios aos seres humanos, é considerado
òrìsà. Assim como, tudo aquilo que é APE-
NAS (veja, APENAS) apaziguado para não
prejudicar o homem é considerado um ajó-
gun.
Sendo, egúngún um òrìsà, porque ra-
zão seu culto é diferente das demais divin-
dades? Eu digo! Pelo simples fato de que
nenhum culto é igual ao outro! Ifá é òrìsà,
porém possui um culto e símbolos diferen-
tes das demais divindades, assim como
Ògún, Òsàlá, Òsun e muitas outras divinda-
des. Todas possuem suas particularidades,
logo, é preciso entender que a iniciação visa
muito mais que fazer uma festa no domingo
e apresentar o Ìyàwó (Adósù, Elégùn,
17
18. Voltando à Egúngún, bem, já sabemos que além de tudo, egúngún é um òrìsà com
um culto diferenciado, mas é uma divindade que auxilia o ser humano em seu
desenvolvimento material, mental e espiritual, agora nos resta saber pra que serve essa
energia, certo?
Bem, egúngún pode ser saudado, evocado e reverenciado por vários motivos,
alguns deles são:
Òkànràn méjì: Mostra a necessidade de se cultuar egúngún para que o ancestral
não fique em esquecimento e para que a vida de seus descendentes seja de alegria e
felicidade.
Òfún méjì: Mostra a necessidade de agradar egúngún para evitar que o espirito de
uma criança abortada (propositalmente) retorne na forma de Àbíkú.
Òwónrín méjì: Mostra a necessidade de cultuar egúngún para que a pessoa volte a
dormir bem, pois pode estar sendo vítima de algum ègún (espirito maléfico).
Lembrando que, Egúngún representa a divindade e o culto, em quanto Égún
representa um determinado ancestral venerável, já a palavra Ègún representa qualquer
espírito que esteja perdido e que se alimenta da energia vital das pessoas, causando à
elas insônia e outros tipos de problemas.
Egúngún também é muito cultuado para que a pessoa tenha longevidade, saúde e
resistência. É usado também para solucionar problemas na família, ou seja, o espirito
continua orientando os descendentes nos assuntos familiares. Egúngún também pode
quebrar com certas negatividades que perseguem uma mesma família por 7 gerações, ou
seja, se aquela família sofre muito com mudanças por 7 gerações, o problema pode estar
em algum erro cometido por algum ancestral, que só será solucionado através do culto de
egúngún.
18
19. Elas podem descobrir o awo de
Ìgúnnukò
Elas podem assistir Agemo
Porém, elas não podem descobrir o
awo de Orò.”(...)
Awo é uma palavra que possui vá-
rios sentidos, nesse seria segredo.
Ìgúnnukò e Agemo são outros tipos
de culto aos ancestrais.
Para Egúngún podemos oferecer de
tudo, uma comida que algum ancestral
nosso gostava, bebidas e etc...
Porém, as oferendas prediletas do
Òrìsà Egúngún são: Èko (akassa), Àkàrà
(acarajé), Obì, Orógbó, Otí (Gyn) e Àgbò
(carneiro).
Por último, desejo falar sobre a polê- Lembremos que, a religião dos ori-
mica: MULHER X EGÚNGÚN, PODE OU xás é uma religião INICIÁTICA, ou seja, pa-
NÃO PODE? ra fazer certas coisas é necessário ter INI-
CIAÇÃO, pois só através dela que se ad-
SIM, PODE! O porquê, eu explico: quiri o axé para colocar em prática certos
Mulheres também possuem pai, avô, conhecimentos e até se aprofundar mais. E
bisavô e etc... Certo? Certo! Logo, o que as no que se diz respeito à Egúngún, isso de-
impediria de terem contato com o culto de ve ser levado muito a sério, há uma orin
egúngún? Nada! (cântico) que explica bem isso:
Na Nigéria, algumas mulheres, por
orientação de Ifá, precisam cultuar egún-
gún e são iniciadas neste culto, esta são as
Ìyá-agan.
Elas possuem uma responsabilidade
igual a dos Òjè e Olójè, a diferença é que
as mulheres não podem vestir a roupa, is-
so a tarefa para os homens.
No Brasil este interdito foi criado por
algum motivo, que realmente desconheço,
talvez pelo fato de terem associado aqui,
egúngún à uma outra energia que repre-
senta os ancestrais masculinos, esta cha-
mada de Orò, que de fato, as mulheres não
podem ter nenhum tipo de envolvimento.
Há uma cantiga de Orò que a tradu-
ção seria mais ou menos assim:
“A mulher pode descobrir o awo de
Gèlèdè
Elas podem descobrir o awo de E-
gúngún,
19
20. “Bàbá ímàlè
Mo le o,
Bàbá ímàlè
Ogberi to l’oun fé seré awo
Bàbá ímàlè le o!” (...)
“O pai dos imalé
É bravo!
O pai dos imalé
Com o não iniciado que quer descobrir o awo (segredo)” (...)
Ousar a praticar atos que você nunca viu, ou a evocar e alimentar energias que vo-
cê desconhece, é um risco muito grande!
Tudo tem seu tempo e sua hora, por isso, tenha Súùrú (paciência).
Eu Zarcel Carnielli (Ilésire) espero que este texto tenha lhe ajudado a desvendar um
pouco, dos muitos mistérios criado em torno desta energia, agradeço ao amigo Hérick Le-
chiski pelo espaço e ao meu amigo e sacerdote Bàbá Olójè Àpésì (Rasaki Sàlámì Sàláwu),
que me ajudou e muito a escrever essa matéria.
Desejo à todos que o Àse de Egúngún os acompanhe por toda a vida!
Ire o!
Por Zarcel Carnielli
(Bàbá Ilésire Òsàlásínà Omigbàmi)
Ilé Àÿç Àpésì Ôlöõjê
Templo de Culto Tradicional
Iorubá
São Paulo - SP
Bàbálöòrìsà e Ôlöõjê Rasaki
Tel: 11 6448-9094
20
21. ODÙ DO MÊS Quando a Morte (Ikú) veio à
Terra (Àiyé) pela primeira vez,
venho através deste signo (Odù).
Por isso Õyêkú rege tudo que
esteja ligado a Ikú.
Rege o Ajéjé (culto fúnebre)
e tudo que estiver ligado ao
mesmo. Regendo também as al-
mas desencarnadas.
Sob a regência deste Odù,
vieram ao Mundo os peixes, o
couro do Crocodilo, o focinho do
Hipopótamo, o chifre do Rinoce-
ronte e todos os animais e aves
Õyêkú méjì Noturnas.
O Odù da Morte Foi através deste Odù, que
os seres humanos aprenderam
a comer peixes.
Õyêkú méjì, Èjì Õyê ou Èjì
Ôlögbôn é o segundo (2º) Odù Este Odù possui domínio
na ordem de Ifá, fala no sobre as nodosidades das Árvo-
Mërìndínlógún Ifá (Jogo de bú- res e também sobre os nós das
zios) com treze (13) búzios a- cordas.
bertos e três (3) búzios fecha-
dos. É um odù de natureza fe- É um signo bastante peri-
minina, ligado ao elemento á- goso, rege a Madrugada.
gua, regente do Oeste.
Õyêkú méjì (Èjì Ôlögbôn) é - Àwon Òrìÿà que falam neste
o oposto (complemento) de Èjì Odù = Ìyámi Odù (Odùlogboje),
Ogbè (Èjì Onílê), enquanto Èjì Nàná Bùkúù, Sõnpõnná, Egúngún,
ogbè é a Luz, Õyêkú méjì é as Ômôlú, Ôlökun, Yèmôja, Abíkú.
Trevas. Enquanto um é a vida, o
outro é a morte, Ogbè rege o - Suas cores = O Negro (dúdú).
Dia, Õyêkú rege a Noite. Ogbè
rege o Sol (Òòrùn), Õyêkú rege a - Suas folhas = Tëtë
Lua (Òÿùpá). (Amarunthus viridis – Caruru),
21
22. Ewé egbo, Ôsàn, Wëwë, Etípönlá (Boerhaavia diffusa – Erva tos-
tão), Àgbáyun.
- Corpo Humano = Rege o maxilar superior.
- Os filhos deste Odù = As pessoas nascida sob este odù
(signo) são pessoas bastante negativas, mesquinhas, que só pen-
sam em si. Velhos, ranzinzas. São perturbadas por ègún (espíritos
perdidos) e devem cultuar Egúngún (Ancestrais) para obterem re-
alizações. Devem tomar cuidado com acidentes e mortes prema-
turas. Devem estar sempre bem amparados espiritualmente.
Quando assim estão, serão pessoas prósperas, porém pão-duras.
Alguns filhos deste odù, geralmente são Abíkú. Geralmente pos-
suem problemas de sangue.
- Èwò’s deste Odù = As pessoas que nascem neste odù, não de-
vem comer ave de rapina (qualquer uma), não devem usar perfu-
mes fortes, roupas vermelhas, não podem beber vinho de palma,
não devem cultivar plantas e flores espinhosas e nem oferecê-las
em oferendas às Divindades (Irúnmôlê), não podem destruir for-
migueiros, devem evitar utilizar-se de amuletos e o principal, to-
car em coisas mortas (animais, pessoas, etc.).
Odù em Ire – Positivo
Este Odù em Ire fala de Vida Longa, mudanças favoráveis, fim de
situação difícil e sofrimento, o recebimento de conselhos que de-
vem ser seguidos. Prosperidade. Vitória sobre Inimigos, descobri-
mento de pessoa falsa (falso amigo). Fidelidade amorosa. Fim de
brigas amorosas. Manter sempre a calma para atingir realizações.
Boa Intuição. Tudo que for realizado a noite terá sucesso. Bên-
çãos de Egúngún.
22
23. Odù em Ibi – Negativo
Este Odù em Ibi fala de Morte prematura, doenças, principalmen-
te de sangue, no maxilar superior e bexiga, depressão. Fim de si-
tuações agradáveis, notícias desagradáveis chegando, cansaço,
esgotamento. Evitar tomar decisões. Vitória dos Inimigos, traição
e vingança por parte dos inimigos. Falta de dinheiro, desempre-
go, caminhos fechados. Problemas emocionais, rompimento amo-
roso sem volta. Doenças em casas. Problemas com abortos
(Abíkú). Pessoa sofrendo perturbações psíquicas, obsessões, pes-
soa vê fantasmas. Problemas com Ègún e Egúngún, não vestir
roupa preta e nem sair após as 00h00min.
Por Hérick Lechinski
23
(Ejòtolà T’Òsùmàrè)
24. FOLHA DO MÊS
Tètèrègún – A Folha da
Vida e da Morte
É da regência de Obàtálá e Bàbá Egúngún.
Uma das folhas mais utilizadas dentro da
Liturgia do Culto a Òrìsà no Brasil
(Candomblé) e na Nigéria (Èsìn yorùbá).
Folha de grande importância e fundamen-
to, e isso se dão ao fato, de Tètèrègún ser
capaz de proporcionar a Vida ou a Morte
a alguém.
A mesma é utilizada em Iniciações
(Igbèrè), na sacralização de elementos ri-
tualísticos, em magias e medicinas =
Oògùn, etc.
No Brasil, é uma das oito (8) principais fo-
lhas (ewé) que fazem parte da composi-
ção do Àgbo (mistura vegetal) que banha
o Iniciado (Ìyàwó) no período de reclusão
Nome Yorùbá = Tètèrègún, Tètè Egún, para seu Orixá. Representando a Morte
Tètèègúndò. (para a vida profana) e a Vida (nascimento
Nome Bantu = Mueki Rizanga. para a vida religiosa). É também capaz de
Nomes Populares = Cana-do-brejo, Cana- provocar o transe em omo Obàtálá (filhos
de-macaco, Cana-do-mato, Sanguelavô, de Oxalá), omo Sàngó (filhos de Xangô) e
Sangolovô, Ubacaia. omo Ògún (filhos de Ògún).
Nome Científico = Costus spicatus.
É uma das principais folhas de Obàtálá
Tètèrègún é uma folha nativa do Brasil, é (Oxalá), sendo utilizada em quase todos
encontrada em todo o território nacional os ritos que se utilizam de folhas, para o
e também e outros continentes. Grande Rei do Pano Branco.
Folha Gún (de exitação), Masculina, ligada Medicinalmente a Cana-do-brejo é utiliza-
ao elemento Ar. da no combate a solitárias, vermes e prin-
cipalmente nos casos de cálculos renais.
24
25. “Têtêrêgún òjò do m’pá
Têtêrêgún òjò wo bi wá”
Têtêrêgún é como a chuva que mata.
Têtêrêgún é como a chuva que dá
vida.
Por Hérick Lechinski
(Ejòtolà T’Òsùmàrè)
————————————————————————-
25
26. Existe Ògán Raspado e Ìyàwó Pode Tocar
Atabaques?
Para responder essas perguntas, precisamos discorrer um pouco sobre o que é
Ìyàwó e o que seria Ògán.
Há uma grande polêmica acerca do tema em título. Hoje, sobretudo no Sudeste,
há uma grande discussão em relação se aqueles que foram iniciados na Religião dos
Òrìsàs, Raspados, “Adoxados”, contudo não são manifestados por Òrìsà (rodantes), seri-
am ou não Ògáns. Nesse aspecto, afirmo de forma indubitável, com toda a segurança
que não, ou seja, Ògáns Não São Raspados! Face ao exposto, surge a indagação: Àqueles
que são raspados, “adoxados”, entretanto não são manifestados por Òrìsà, seriam o que,
então? Respondo categoricamente: Ìyàwó – Iniciado na Religião do Culto aos Òrìsàs -
Candomblé!
Hoje, infelizmente, pela falta de cultura e, sobretudo, pela falta de interesse à
busca da informação correta, muitos crêem que o “ato de tocar atabaques” está corre-
lacionado ao tipo de iniciação, o que é uma inverdade. Nesse sentido, não há óbices re-
ligiosos fundamentados que interditem um Ìyàwó homem que não manifeste Òrìsà, em
tocar atabaques. Aqui, posso mencionar uma lista de Grandes Tocadores, todos não
Ògáns, que são respeitados pela sua arte musical, inclusive por Ògáns e, chamados por
muitos de Ògáns.
O fato da confusão generalizada em acreditar que um Ìyàwó Raspado que não é
manifestado por Òrìsà seja Ògán e não Ìyàwó em grande parte, deve-se aos próprios sa-
cerdotes, vejamos:
26
27. O indivíduo que entra em uma Casa de Candomblé, antes mesmo de ser suspenso,
confirmado, ou iniciado, mas que não é manifestado por Òrìsà é chamado pelo sacerdo-
te como? Ògán! Seus “irmãos”, o chamam de qual forma? Ògán! Como ele se autodeno-
mina? Ògán! Quando esse indivíduo (“Ògán”) adentra oficialmente na religião, se ao
invés de ser confirmado como ògán, ele for raspado e adoxado, ele está sendo iniciado
como Ìyàwó? Portanto é Ìyàwó - e não Ògán. Não obstante, todos, inclusive seu Sacer-
dote continuarão (via de regra é isso que ocorre) a chamá-lo de Ògán e não Ìyàwó! Ali-
ás, se perguntarmos aos Sacerdotes, uma definição sobre Ògán, a maioria será breve e
dirão erroneamente: Ògán é o indivíduo homem que não é manifestado por Òrìsà, sem
discorrer sobre os pormenores com acuro.
Desta forma, observa-se que esse erro comum, decorre do processo de aprendiza-
gem do noviço na religião. No exemplo supracitado, o correto, independente de manifes-
tar ou não, o noviço deverá ser considerado “Àbían”. O fato do Àbían não manifestar
Òrìsà, a priori não lhe concede a posição de Ògán. Esse “status”, além de indevido, gera
as inevitáveis dúvidas sobre o tema em questão, principalmente no futuro da vida reli-
giosa desse noviço.
Ante a afirmativa acima; o que seria um Ògán?
À luz do Candomblé Tradicional Baiano, Ògán é o indivíduo (Homem) que não é
manifestado por Òrìsà, mas que é CONFIRMADO (E NÃO INICIADO). A princípio, esse
Ògán, em suma, é “apontado” (escolhido) por um Òrìsà em alguma determinada festa,
ou mesmo função dentro do Ilé Òrìsà. Na ocasião, esse Ògán é “suspenso”, por outros
desta confraria. Daí, o advento do termo “Ògán Suspenso”. Deste momento, à diante, es-
se indivíduo passa a executar tarefas no Ilé Òrìsà, sem cunho religioso.
Posteriormente, a Ìyálòrìsà/Bàbálòrìsà, determinará que esse Ògán (suspenso),
deverá ser Confirmado (leia-se confirmado e não iniciado) – geralmente para o Òrìsà
que o suspendeu. Daí a razão de na Bahia, por exemplo, um Ògán ser do Òrìsà Ògún
(ele é filho de Ògún), mas ser chamado de Ògán de Omolú (pois, muito embora o Òrìsà
dele ser Ògún, ele fora suspenso e, posteriormente confirmado para ser Ògán do Omolú
de “beltrana”). O processo de Confirmação de um Ògán diverge demasiadamente do
processo de iniciação (Ìyàwó).
Não posso aprofundar no tema, por tratar-se de Awo (segredo que não compete
àqueles que não são iniciados). Mas um Ògán Confirmado, não saí à sala no “Arole Ko-
murajo” (cantiga destinada à Ìyàwó). Há um conjunto de cânticos e rituais específicos
para a Confirmação de um Ògán (que reitero, não se trata do “Arole Komurajo”). Caso
esse Ògán, por exemplo, seja confirmado Alabê, há ainda, outra seqüência especifica de
cantigas; o mesmo ocorre para alguns outros títulos.
Quando pensamos em iniciação no culto aos Òrìsàs na África, não são encontra-
dos indícios/relatos de alguma iniciação com o “modus” da Confirmação de Ògán no
Brasil. Em verdade, esse tema é muito mais polêmico que parece. Quando pensamos em
Confirmação de ògán, temos que entender que esse indivíduo não está sendo iniciado
em todas as etapas que a religião apregoa, dessa forma,
27
28. jamais o Ògán poderá proceder a iniciação de um Ìyàwó.
Mas se na África, berço da cultura dos Òrìsàs não há esse processo, qual teria si-
do a razão do aparecimento deste no Brasil? Vejo como um fato histórico, liderado pe-
las Ìyálòrìsàs de outrora, à busca da manutenção da hegemonia da mulher nos cargos
de liderança nas comunidades Nàgó.
Quando da fundação das mais tradicionais Casas de Candomblé da Bahia, todas,
sem exceção, tiveram o apoio religioso de homens (iniciados – porém não rodantes), e-
xemplifico: Bangbose Obitiko, Okarinde, Oje Lade, Oba Sanya, dentre outros. Entretanto,
após a fundação dessas casas, para que não houvesse a concorrência masculina no sa-
cerdócio, as Ìyálòrìsàs começaram a não iniciar homens (quer seja rodante, quer não).
Contudo, a figura masculina permanecia essencial para o bom andamento da casa. Nes-
se sentido, como manter o homem na casa de Candomblé, com funções distintas, sem
que esse se tornar-se Sacerdote futuramente e, por conseqüência, concorrente do poder
supra-sumo da mulher? Criando a figura do Ògán (ou seja, realizando alguns rituais
para que os homens não rodantes – pudessem ser partícipes de algumas atividades na
casa).
Nessa busca contumaz, as mulheres do Candomblé da Bahia, cercearam da religi-
ão os homens rodantes (uma espécie de apartheid), configurando status e poder aos
Ògáns, figuras criadas pelas mesmas, - mas que não lhe ameaçavam na supremacia do
Candomblé. À eles eram concedidas funções como Tocar Atabaques e Cantar. Razão pela
qual, erroneamente, crê-se que somente os Ògáns podem tocar atabaques.
Diante disso, o que posso afirmar é que, se não rodante e homem – independente
de Ògán ou Ìyàwó, ele pode tocar sim atabaques. O que digo, mas por concepção religi-
osa minha, sem embasamento teológico algum, é que a privação em tocar atabaques
deve ocorrer àqueles que são manifestados por Òrìsà. Essa óptica deve-se única e exclu-
sivamente há eminente possibilidade de um Ìyàwó que manifeste Òrìsà, poder entrar em
transe, durante a execução do toque. O mesmo emprega-se às mulheres, também, sem
fundamentação teológica.
Por fim, apesar de distintos, não vejo como macular, o iniciado não rodante, de-
nominar-se Ògán, sobretudo pelo vício de linguagem, fato que ocorre mesmo comigo.
No entanto, é importante que todos saibam que são distintos, com funções distintas,
com processos iniciatórios distintos!
Espero, com a explanação acima, tirar um pouco da dúvida de muitos sobre a
questão!
Por Carlos Vinícius Santana
28
(Òpotún Vinícius)
29. Para onde caminha Não temos dúvidas de algumas falhas, desentendi-
mentos, obscuridades, segredos invioláveis, imper-
a Umbanda? feições superficiais, porém, passíveis de correções
e aprimoramento com o tempo. O Catolicismo foi
assim; o Protestantismo sofreu perseguições, o Kar-
decismo teve críticas e ceticismo. Mas o povo e o
tempo tudo mudam.
Adaptando a Umbanda e seus rituais à organiza-
ção do Catolicismo, à dedicação do Protestantismo
e à filosofia do Kardecismo, teremos uma Religião
quase perfeita. Quase perfeita, porque perfeição só
em Deus.
Conciliaremos também o Atavismo a adoração te-
merosa que guardamos, desde tempos remotíssimos,
às coisas misteriosas ou respeito a um Ser Supre-
mo que nos criou e que passa de geração, através
do inconsciente coletivo, porém de modo mais ra-
cional. Existe no subconsciente de cada um. Faz
parte da humanidade e levará séculos para desa-
parecer.
A Umbanda Brasileira, como é praticada, é única
Hoje, com seus 103 anos de Fundação, a Umbanda no Mundo. Não existe similar, nem mesmo na Áfri-
(Brasileira) se alastra por todo o País (Brasil), der- ca – Uma de suas Raízes – Pois lá não há tupis
ramando-se até pelos países vizinhos. Argentina, e nem baianos. Uma coisa é certa: Ela (a Umban-
Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Venezuela já da) permanecerá inapagável no seio do povo, por-
possuem Tendas Umbandistas. que a sua tônica principal é a Caridade pura e
desinteressada. Está concorde aos ensinamentos
Qual o futuro dessa religião que já preocupou au- milenares de Jesus Cristo (sincretizado com Oxalá),
toridades eclesiásticas, dirigentes religiosos, pasto- cujos princípios e fundamentos, eternos e imutá-
res, sociólogos, psicólogos e até adeptos do Ocultis- veis, constituem a base do Espiritualismo, da qual
mo? nossa Umbanda faz parte.
Tornar-se-á a Religião oficial do Brasil?
Estagnar-se-á?
Irá para o esquecimento? Texto de J. Edson Orphanake (Livro
Ou continuará se alastrando por todo o Globo ter-
restre? ―A Umbanda às suas Ordens)
Readaptado por Hérick Lechinski
Malgrado o combate que ainda lhe fazem, ela con-
tinua crescendo assustadora e solenemente.
(Ejòtolà T’Òsùmàrè)
29
30. ENTREVISTA DO MÊS
Falando de
Axé com
Mãe Elis
Peralta
Falando de Axé cer pessoas que foram muito generosas em
Mãe Elis, você poderia nos falar como e me passar aprendizados, e me direcionar
quando você conheceu a Umbanda e o que nessa maravilhosa religião que é a Umban-
lhe levou a escolher a mesma como Religi- da.
ão?
Falando de Axé
Mãe Elis O que é Umbanda e o que esta magnífica
Tenho uma história muito “peculiar” em re- Religião Brasileira representa para você?
lação à Umbanda. Desde nova, freqüentava
um Centro de Umbanda no qual meu Pai era Mãe Elis
médium, porém, confesso, ia obrigada, de- Umbanda representa pra mim o sentido da
testava e não me sentia bem, conforme fui força grandiosa da natureza, é a maleabili-
crescendo, minha aversão também, chegan- dade das Águas, a firmeza e transformação
do ao ponto de por volta dos meus 14 anos, da Terra, o ímpeto do Fogo, o dinamismo
tomar cinco tranqüilizantes para não ter que do Ar, é a união desses elementos que se
ir numa gira com meus pais. Muita água traduzem também por Orixás, que se conso-
passou por debaixo da ponte, mas de certa lida em nossa Doutrina em nosso Pentagra-
forma, minha vida sempre se entrelaçava ma Umbandista que é a manifestação do es-
com a Umbanda e eu cada vez “correndo” pírito em prol da Caridade e da Evolução
mais dela. Até que num belo dia, numa as- espiritual, através dos ensinamentos de nos-
sistência, sentadinha, temerosa, ressabiada e sos Mentores e do Pai maior. É o som do
indo porque andava “sentindo-me” muito atabaque, o conselho amoroso do Preto-
mal fisicamente, Mª Cigana pela 1ª vez em Velho, a seriedade do Caboclo, a faceirice
minha vida me fez sentir a força de sua in- das moças, a firmeza do Exú, o jogo de cin-
corporação, daí por diante enveredei por um tura da Malandragem e a felicidade das Cri-
longo caminho, iniciei numa casa de Can- anças (erês)...
domblé, que tocava Umbanda também, a- É também a oportunidade dada a nós que
prendi, conheci vários universos dentre es- escolhemos e fomos escolhidos de propagar
sas maravilhosas religiões, fui de a simplicidade e força de nossa religião. É
“Umbanda Traçada”, “Omolokô”, ter orgulho, porque em nossa Doutrina fala-
“Umbanda Branca”, tive a honra de conhe- mos com o “Alto” e com o “Embaixo”,
30
31. lidamos com dores, sorrimos, transforma- Malandros, Ciganos, Baianos, Marinheiros,
mos, abraçamos, sem distinção de cor, raça, Cangaceiros...
credo, saber, condição material, espiritual e Outra mudança fundamental e que realmen-
até opção sexual, sabemos que perante a e- te nesse centenário se torna o divisor de Á-
les todos somos um... Umbanda (Uma Ban- guas para uma estrutura complexa, firme e
da)... cada vez mais forte, é a busca do aprendiza-
do, é o entendimento, que assim como o
mundo, evolui, precisamos mostrar que nos-
sa religião é tão forte justamente por ser
fundamentada na força e ensinamentos da
própria Natureza.
Falando de Axé
O que você poderia nos falar sobre o com-
pletar dos 103 anos de Fundação da Um-
banda, neste ano?
Mãe Elis
Podemos dizer que somos vitoriosos...
Porque completar 103 anos de uma religião
completamente descriminada, em que pode-
mos constatar absurdos vindos, não somente
de outras religiões que esquecem o sentido
principal do livre-arbítrio, fraternidade, a-
mor ao próximo e de um Pai maior que é
UNO a todos, temos também adeptos de
nossa própria Umbanda (que se intitulam
umbandistas...) que transformam nossa reli-
gião em algo muito longe do que foi e é
passado por nossos Guias espirituais.
Falando de Axé Mas graças a Lei Divina, paralelo a tudo is-
Como você descreve a Umbanda de hoje, so, existe um movimento cada vez maior
será que possui diferença em relação à Um- vindo de todas as esferas, espirituais e car-
banda de antes? nais de desmistificar, ensinar e realmente
fundamentar nossa religião, por isso pode-
Mãe Elis mos dizer que nesse momento ela se encon-
A Umbanda é uma religião tão vasta justa- tra em processo de crescimento estrutural.
mente por essa capacidade mutável que pos-
sui, capacidade de agregar as mais diferen- Falando de Axé
tes visões, doutrinas e principalmente opor- Para você, qual é a Importância das Crian-
tunidade de aprender com os ensinamentos ças e dos Jovens dentro da Religião Umban-
daqueles que são muitas vezes mal vistos dista?
pela “sociedade”. Exemplos dessa diferença
da nossa “Umbanda de antes”, podemos ver Mãe Elis
em entidades que vieram somar a nossa reli- Assim como para qualquer religião ou o
gião e que antes eram desconhecidas, tais próprio mundo, eles são o futuro...
como: Temos que descortinar a nós primeiramente
31
32. e depois aos nossos filhos, eles têm que te- de estruturar os médiuns de minha casa, atu-
rem orgulho e entendimento, para ao serem almente somos por volta de 50, tenho mé-
questionados sobre sua religião, poderem diuns comigo há 3 anos, que é o tempo que
dizer livremente: Sou Umbandista, sem nossa Casa foi fundada - 15/11/2008, exata-
medo de retaliações, chacotas ou descrimi- mente no centenário da Umbanda, mas des-
nações. A mediunidade não pode ser vista de de seu início visei o desenvolvimento
como um fardo, tem que ser explicada pois mediúnico, trabalhando de portas fechadas,
é uma faculdade inerente a todos nós e de- ou em pontos da Natureza, até por falta de
senvolvê-la cria em nós uma energia alta- local para trabalho, neste ano em 23/04/11
mente positiva e Divina. abrimos nossa Tenda à Público numa belís-
Em todas as religiões, vemos Pais que le- sima Homenagem ao grande Sr. Ogum.
vam seus filhos e ensinam desde novos o Trabalhamos desde então com muito desen-
caminho de sua Fé e a vivência se dá por volvimento, Giras de atendimento ao públi-
osmose, porque na nossa que é tão bela não co, e como converso muito com eles, temos
o fazemos também? que fundamentar nossa casa, poderíamos
Afinal, ensinamos a ter Fé, praticamos a dizer que eles são os funcionários de uma
Caridade, valorizamos muito a ajuda ao ir- grande empresa e que precisam estar bem
mão, nossa religião não é para ser escondida capacitados para poder crescer cada vez
e sim propagada e somente através de nos- mais. Já estamos em andamento com proje-
sas crianças e do ensinamento de nossa tos de ensino para nossas Crianças e Jovens,
Doutrina, atingiremos esse ideal. Tratamento Holístico para os que necessita-
rem e muito por vir daqui pra frente.
Falando de Axé
O que justifica pra você, a Umbanda ser u- Falando de Axé
ma religião tão descriminada? De acordo com a sua vivência, o que você
acredita que falta, para que nossa religião
Mãe Elis seja mais respeitada e menos descriminada
A falta de conhecimento, de divulgação, de por todos?
clareza sobre a verdade de nossa doutrina.
A vaidade de alguns que intitulam que seu
guia pratica o mal, que castiga, que sua casa
é “forte” porque faz “trabalhos pesados”...
Casas que cobram, trabalham com amarra-
ções, prometem milagres e comercializam a
fé, e para todos esses casos recorrem ao no-
me de Umbanda. Transformando a grande
oportunidade do ato da incorporação num
verdadeiro circo de horrores...
Falando de Axé
Em seu Templo de Umbanda, é realizado
algum projeto social?
Se sim, por quê?
Se não, por quê?
Mãe Elis
Nesse momento ainda não. Estou em fase
32
33. Mãe Elis é diferente de mim...), é dona de uma sabe-
Cabe a nós, médiuns de Umbanda, mudar doria ímpar, que me faz ouvir, que me mos-
essa imagem negativa cultuada ao longo do trou ao longo desse caminho a minha mis-
tempo. Entender que “Levar ao mundo in- são e a deles (meus guias) junto a mim e a
teiro a Bandeira de Oxalá” está muito mais essas “crianças”, seus “fiotos” como ela ca-
do que palavras de nosso hino... Está em rinhosamente os chama. Mas tem muito
mostrar a verdadeira face da Umbanda, que mais, tem a seriedade de DªJupira, a firmeza
é uma religião que prega as mesmas verda- de seu Giramundo, a esperteza de Mariazi-
des e busca a mesma paz de espírito que to- nha, o desprendimento de seu Caveira, a le-
das as outras religiões. Umbanda é dedica- veza de Mª Cigana e o ensinamento e talvez
ção, disciplina, doação, respeito, reforma a maior lição de vida espiritual que já tive
íntima, é a conscientização sobre o Bem e o que se chama Mª Navalha (um dia em outra
Mal. Umbanda não é milagre, mas mereci- prosa eu conto...).
mento. É estudo e consciência e não como-
dismo ou achismo. É respeito à natureza, Falando de Axé
pois Umbanda é natureza. Para finalizar essa nossa maravilhosa con-
versa, qual é a Mensagem que a senhora
Falando de Axé deixa para os Umbandistas?
Mãe Elis, você poderia nos falar o que Mãe
Oxum, seu Orixá de Cabeça e Vovó Cam- Mãe Elis
binda representam em sua vida? Orgulhem-se de serem Umbandistas, tragam
no Peito, na Alma, na Fé. Estudem, pois, só
assim daremos base e traremos respeito a
nossa religião. E acima de tudo pratiquem a
Umbanda, sejam umbandistas 24 horas ao
dia e não somente no momento de adentrar
em sua Tenda. Deixo a todos um ponto feito
pela médium e intérprete Rosana Pinheiro
no qual o transformei em hino da T.U.E.A -
Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda, que
acho perfeito como mensagem a todos os
Umbandistas...
“ESTAVA NA BEIRA DE UM CAMINHO,
CHORANDO, SOFRENDO SOZINHO,
DE REPENTE UMA LUZ ME APARECEU,
ESSA LUZ VEIO DE OXALÁ,
ESSA LUZ VEIO DE DEUS.
ESSA LUZ ME APONTOU UM NOVO
CAMINHO,
Mãe Elis
HOJE SOU FILHO DE UMBANDA,
Nossa! NUNCA MAIS ESTOU SOZINHO.
Simplesmente assim: TUDO! É, É, É, É,
Oxum é minha Vida, meu Caminho, minha UMBANDA É PRA QUEM TEM FÉ,
Luz, minha Srª Amada, Querida, que me a- PRA QUEM TEM FÉ
calenta, me repreende, me direciona e me É, É, É, É,
dá sentido... UMBANDA É CARIDADE,
Minha “Velha” é a calma em pessoa (como UMBANDA É FELICIDADE.”
33
34. T.U.E.A - Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda
Cascadura - Rio de Janeiro/RJ. Tel. 21 3471-2114
34
http://www.estradacigana.blogspot.com/
35. Umbanda completou seus 103 anos de
Fundação em 2011
A Umbanda completou (15/11/2011) seus 103 anos, desde que o Caboclo das 7 Encruzilhadas
anunciou o seu início. Foram 103 anos difíceis de perseguições, incompreensões e todo o tipo de
preconceito que se possa imaginar. Não foram anos fáceis e os anos que vem pela frente não serão
menos difíceis do que os que passaram, isso porque o preconceito ainda é grande e muitos ainda
vêem a Umbanda apenas como forma de trazer a pessoa amada em 7 dias ou qualquer outro tipo
de “amarrações” que anunciam por aí, sujando o nome da nossa religião.
Mas nós resistimos e resistiremos a qualquer tipo de preconceito porque o verdadeiro umbandista
trás dentro de si a esperança das crianças, a firmeza dos caboclos, a sabedoria dos pretos velhos, a
coragem do povo baiano, a capacidade de adaptação do povo cigano e o jogo de cintura dos nossos
compadres e comadres.
O verdadeiro umbandista não vai ao terreiro à procura de trazer a pessoa amada em 7 dias, não
vai ao terreiro à procura de amarrações e nem à procura de riquezas materiais. O verdadeiro
umbandista está sempre à procura de outro tipo de riqueza, a riqueza espiritual, a riqueza da
sabedoria em lidar com as questões difíceis do dia-a-dia, a paciência de aguardar o que não está
em tempo, a firmeza e a coragem para enfrentar de frente todas as intempéries da vida, a
capacidade de mudar quando a mudança é realmente necessária e a alegria de receber apenas o
que lhe é designado.
O verdadeiro umbandista sabe como agir ou sabe a quem recorrer quando lhe falta a sabedoria
para lidar com as questões mais difíceis, quando lhe falta coragem para encarar de frente o que
deve ser encarado, quando lhe falta o olhar da simplicidade para enxergar o verdadeiro motivo
das coisas e quando lhe falta o jogo de cintura para lidar com os inimigos mais traiçoeiros que
aparecem.
Sim, estamos aqui pacientemente firmes levando a nossa mensagem para todos os que desejam
ouvi-la, senti-la e vivê-la. Somos e sempre devemos ser a mão que acolhe sem pré julgamentos, sem
o olhar de reprovação e apenas com a bondade no coração e na alma.
Parabéns, Umbanda, por seus 103 anos e por todos os outros que ainda virão. Obrigado,
Umbanda, por fazer de nós pessoas ainda melhores.
35
http://www.saravaumbanda.com/textos/103-anos-de-umbanda
36. Altera a Lei no 9.394, de 20
de dezembro de 1996,
modificada pela Lei . 10.639,
de 9 de janeiro de 2003, que
estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional,
para incluir no currículo
oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena”.
Livro do Mês
Ao apresentarmos esta obra, não foi o
nosso intuito fazermos Umbanda. Quando
nascemos, ela já existia. Nem ensiná-la em suas
práticas a pais de santo, babá e tatás. Mas,
formularmos pequeno e humilde estudo, até
mesmo superficial, de sua existência, visando
mostrar virtudes, princípios e fundamentos,
além de falhas (não dos guias e protetores, mas
de dirigentes e praticantes), que sirvam para
orientar futuros interessados em dar-lhes bases
estruturais definitivas.
Vintes e poucos anos de estudos e
pesquisas não foram suficientes para
penetrarmos “in totum” a Umbanda. Mesmo
A Umbanda porque sua profundidade é infinita como a
espiritualidade, da qual faz parte...
às suas Mas, se nosso pequeno estudo puder,
ainda que insuficientemente, contribuir para
Ordens melhorar a compreensão de irmãos carentes de
entendimento de pontos que lhes pareçam
J. Edson Orphanake obscuros, no emaranhado religioso Umbandista,
Tríade Editorial já nos damos por satisfeitos.
O Autor.
36
37. SANTO DO MÊS
Nossa Senhora do
Rocio, A Mãe
Padroeira do
Paraná
15 de Novembro
A Falando de Axé esse mês, através da coluna Santo do Mês, homenageia Nossa
Senhora do Rocio, a Santa Padroeira do Paraná, sincretizada com a Orixá Oxum e algu-
mas vezes com a Orixá Iemanjá, em alguns Templos de Umbanda do Paraná, uma ma-
neira que o Idealizador desta Revista, Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè) encontrou
para homenagear a Santa Padroeira de seu Estado (Paraná), que tem sua festa come-
morativa realizada todo dia 15 de Novembro na Cidade de Paranaguá, cidade onde o
mesmo nasceu e reside. Vamos agora conhecer um pouco de Nossa Senhora do Rocio.
O culto à Virgem do Rocio teve inicio no séc. XVII, logo após a elevação do pe-
lourinho em Paranaguá, em 1648. Quando, em 1686, os habitantes desta Vila, às margens
de sua baia, foram assolados por uma peste, essa gente recorreu aos favores de Maria,
Mãe de Jesus, invocada neste título, para que os livrasse desta terrível lamúria. Desde aí,
esta Virgem vem sendo o socorro das aflições dos devotos católicos paranaenses. Rocio
era o perímetro das Vilas, onde terminava a povoação, o arruamento, e começava a se
condensar orvalho matutino. Rocio quer dizer orvalho, em português arcaico Nossa Se-
nhora do Rocio é Nossa Senhora do Orvalho Matutino, Nossa Senhora do Amanhecer.
O Paraná amanheceu no rocio de Paranaguá
As festas do Rocio fizeram-se famosas pelos fandangos caboclos, com violas, rabe-
cas, e tambores de madeira tiradas das árvores das ilhas e dos manguezais da baía de
Paranaguá. Na gravura da Impressora Paranaense (casa fundada pelo Barão do Sêrro
Azul), o pintor paranaense Arthur Nísio - na época do Centenário do Paraná (1953) - i-
dealizou a Virgem, orvalhando com sua bênção, seu santuário e a baía, antes das modi-
ficações que o afastaram do mar.
O Papa Paulo VI em 1977 declarou Nossa Senhora do Rocio como a padroeira do
Paraná, sendo a iniciativa ratificada pelo governador Jaime Canet.
37
38. A proclamação como Rainha do Paranaguá
Foi durante a 24ª Assembléia dos Bispos do Paraná, que Dom Bernardo José Nol-
ker comunicou a realização de uma aspiração do Episcopado e do povo do Paraná:
Nossa Senhora do Rocio fora proclamada Padroeira Perpétua do Estado do Paraná. No
dia 11 de março de 1977. A petição havia sido feita por dois Arcebispos e 22 bispos do
Estado do Paraná, além dos pedidos formais do governador do Estado, Poder Legislativo
e Judiciário. A concessão feita ao estado do Paraná, pelo que se sabe, é a única, não
constando que outros Estados a tenham conseguido ou solicitado.
O Decreto
Decreto, Protocolo CD 768/77 da Sagrada Congregação para os sacramentos e o
culto Divino, declara em nome do Papa Paulo VI, Nossa Senhora do Rosário do Rocio
eleita Padroeira do Paraná, junto a Deus. O Protocolo fez-se acompanhar de Breve Apos-
tólico (carta) com data de 30 de julho de 1977, assinada pelo Cardeal João Villot, Secre-
tário de Estado do Vaticano, declarando Nossa Senhora do Rocio Padroeira do Paraná
para o presente e futuro, "ad aeternum". Dom Bernardo José Nolker, Bispo da Diocese
de Paranaguá, onde está o Santuário da padroeira, entende que o privilégio que o Papa
concedeu servirá para intensificar a devoção a Nossa Senhora.
D. João Francisco Braga, primeiro Arcebispo do Paraná, há mais de cinqüenta a-
nos. Assim se expressava: "Que a província Eclesiástica de Maria tenha o seu Santuário,
de Nossa Senhora do Rocio, em Paranaguá".
Histórico
A referência histórica mais antiga é de 1686, quando da epidemia chamada
"Peste da Bicha", em Paranaguá, narrada por Vieira dos Santos, quando a cidade conta-
va com apenas 38 anos de fundação e a devoção à Virgem do Rocio já havia conquista-
do a população que a cultuava num modesto oratório doméstico, próximo à praia, onde
fora encontrada por pescadores. Em fases sucessivas de acontecimentos, esta devoção
tem longa história até o estágio atual. Entre outras seguem-se algumas datas marcan-
tes. Em 1939 a imagem de Nossa Senhora deixou seu Santuário em Paranaguá, para ser
transportada à Curitiba, em viagem triunfal, a fim de presidir os atos que marcaram o
Jubileu da Congregação Mariana da Catedral.
Em 1948, pelo Jubileu Episcopal de D. Ático Eusébio da Rocha, Arcebispo Metropo-
litano, realizou-se o 1º Congresso Mariano do Paraná, que antes do atual decreto tinha
um sentido apenas popular.
Em 1953, pela terceira vez a imagem esteve em Curitiba para presidir o
Congresso Eucarístico Nacional, na oportunidade, o Paraná comemorava o seu 1º
Centenário da Emancipação Política. Nessa ocasião, a imagem peregrinou tam-
bém durante 105 dias, pelo interior do Estado.
38
39. Começaram então a chegar às mãos do arcebispo Metropolitano, Dom Manoel da
Silveira Delboux, inúmeros pedidos para solicitar ao Papa que declarasse N. Sra. do Ro-
cio Padroeira do Estado do Paraná , o que hoje tornou-se realidade. Perante o privilé-
gio agora concedido e em face da atual renovação da igreja, no sentido de atualizar-se.
D. Bernardo afirmou: "Não é coincidência mais esta conquista mariana, onde os Reden-
toristas têm um importante papel. Nosso Fundador, S. Afonso de Ligório foi grande de-
voto de Maria e deixou esta herança espiritual a seus filhos que a levam através dos
séculos. Sob nosso cuidados estão o Santuário de Aparecida, em Aparecida/SP; a igreja
do Perpétuo Socorro em Curitiba recebendo mais de 30 mil fiéis por semana. E, agora,
em Paranaguá, o Santuário de N. Sra. do Rocio, Padroeira do Paraná. Os Redentoristas
teriam então nesse momento a missão de fortalecer a devoção mariana, porque os bra-
sileiros são devotos de Maria desde as origens de nossa história, a partir da catequese
de Anchieta.
Atualidades
Todo o ano, de 06 a 15 de Novembro, realiza-se na histórica cidade de Paranaguá,
litoral do Paraná - Brasil, a Festa de Nossa Senhora do Rocio, Padroeira do Estado.
O dia da Festa, 15 de Novembro, é marcado por inúmeras celebrações, para as
quais acorrem milhares de fiéis romeiros de varias cidades do Paraná, além da incon-
tável presença de devotos da Diocese de Paranaguá, onde se localiza o Santuário da Pa-
droeira.
"A devoção a Nossa Senhora do Rocio tem raízes profundas na vida do povo do
litoral do Paraná, pois data dos meados do século XVII, pouco tempo após a elevação
de Paranaguá à Vila, em 1648" (Pe. Karl Eugene Esker, Jornal "Voz Vicentina do Para-
ná").
39
40. Segundo nos relata o historiador paranaense Vieira dos Santos, já em 1686 os ha-
bitantes da então Vila de Paranaguá "haviam recorrido aos favores da Virgem do Rocio
para que os livrasse da terrível peste que assolava o litoral, nessa época". Antes dessa
data, sabemos somente que um pescador chamado Pai Berê achou a imagem que é de
Nossa Senhora do Rosário, em estilo barroco. Uma lenda diz que ele retirou a imagem
da margem da baía na rede, enquanto pescava. Outra diz que a encontrou num campo
de rosas loucas, no barranco à beira da baía. Por um tempo ficou num oratório na ca-
sa de Pai Berê, onde se tornou objeto da devoção dos pescadores, sendo batizada com o
nome de Nossa Senhora do Rocio.
"O culto à imagem se difundiu, aumentando a fé e a esperança em Nossa Senho-
ra do Rosário do Rocio, atraindo devotos não somente das redondezas, mas também da
Vila"
(Waldomiro Ferreira de Freitas, Aspecto Histórico e Turístico de Paranaguá).
Milagres atribuídos a Nossa Senhora do Rocio
Através dos anos, a devoção cresceu até o milagre que deu fim a peste, em 1686,
milagre que se repetiu ao longo dos séculos em inúmeras ocasiões em que a Santa do
Rocio atendeu aos seus devotos com curas individuais e coletivas, como nos casos da
Peste Bubônica, em 1901 e da Gripe espanhola, em 1918.
Há ainda inúmeros registros do socorro da Virgem do Rocio prestado aos mari-
nheiros em violentas tempestades e tragédias no mar, os quais se tornaram seus devo-
tos e a homenagearam com procissões e comoventes romarias pelas ruas da cidade, ru-
mo ao Santuário. É o caso do navio "Raul Soares", no dia 26 de junho de 1931; do navi-
o "Philadélphia", em julho de 1931; e do navio "Maria M", no dia 08 de agosto de 1932.
40
41. Oração à Nossa Senhora do Rocio, A Padroeira do Paraná
(15 de Novembro)
Virgem Gloriosa do Rocio, Mãe e Rainha de teus filhos todos, eis-nos aqui para
te louvar, te bendizer e agradecer por tudo que somos, por tudo que temos, por tudo
que fomos chamados a ser.
Humildemente pedimos, ó Mãe bondosa, o teu olhar misericordioso sobre todos
os nossos momentos de desamor, sobre todos os nossos pecados.
Imploramos aos teus pés, Mãe querida do Rocio, aquela chuva de graças sobre
graças para nossa Pátria, as nossas famílias, os nossos filhos, os idosos, os doentes e
aflitos, os deprimidos e os excluídos.
Fortalece as nossas comunidades, faze crescer o Reino da Paz,
da justiça, do amor, do perdão e da misericórdia.
Virgem Senhora do Rocio, Santa Mãe querida, abençoa - nos, protege-nos, leva-
nos ao encontro eterno com teu Filho Jesus.
Amém.
Assim seja!
Fonte: http://www.cot.org.br/igreja/ns-rocio.php
41
42. PERSONALINADES NEGRAS
Zumbi dos Palmares, o
maior ícone da resistência
negra ao escravismo no
Brasil
Zumbi, símbolo da resistência
negra
Vinte de novembro é o Dia Nacional da Consciência Negra. A data transfor-
mada em Dia Nacional da Consciência Negra pelo Movimento Negro Unificado em
1978 – não foi escolhida ao acaso, e sim como homenagem a Zumbi, líder máxi-
mo do Quilombo de Palmares e símbolo da resistência negra, assassinado em 20
de novembro de 1695. O Quilombo dos Palmares foi fundado no ano de 1597, por
cerca de 40 escravos foragidos de um engenho situado em terras pernambucanas.
Em pouco tempo, a organização dos fundadores fez com que o quilombo se tor-
nasse uma verdadeira cidade. Os negros que escapavam da lida e dos ferros não
pensavam duas vezes: o destino era o tal quilombo cheio de palmeiras.
Com a chegada de mais e mais pessoas, inclusive índios e brancos foragi-
dos, formaram-se os mocambos, que funcionavam como vilas. O mocambo do ma-
caco, localizado na Serra da Barriga, era a sede administrativa do povo quilom-
bola. Um negro chamado Ganga Zumba foi o primeiro rei do Quilombo dos Pal-
mares.
Alguns anos após a sua fundação, o Quilombo dos Palmares foi invadido
por uma expedição bandeirante. Muitos habitantes, inclusive crianças, foram de-
golados. Um recém-nascido foi levado pelos invasores e entregue como presente a
Antônio Melo, um padre da vila de Recife. O menino, batizado pelo padre com o
nome de Francisco, foi criado e educado pelo religioso, que lhe ensinou a ler e
escrever, além de lhe dar noções de latim, e o iniciar no estudo da Bíblia. Aos 12
anos o menino era coroinha. Entretanto, a população local não aprovava a atitu-
de do pároco, que criava o negrinho como filho, e não como servo.
42
43. Apesar do carinho que sentia pelo seu pai adotivo, Francisco não se confor-
mava em ser tratado de forma diferente por causa de sua cor. E sofria muito ven-
do seus irmãos de raça sendo humilhados e mortos nos engenhos e praças públi-
cas. Por isso, quando completou 15 anos, o franzino Francisco fugiu e foi em bus-
ca do seu lugar de origem, o Quilombo dos Palmares. Após caminhar cerca de 132
quilômetros, o garoto chegou à Serra da Barriga. Como era de costume nos qui-
lombos, recebeu uma família e um novo nome. Agora, Francisco era Zumbi. Com
os conhecimentos repassados pelo padre, Zumbi logo superou seus irmãos em in-
teligência e coragem. Aos 17 anos tornou-se general de armas do quilombo, uma
espécie de ministro de guerra nos dias de hoje.
Com a queda do rei Ganga Zumba, morto após acreditar num pacto de paz
com os senhores de engenho, Zumbi assumiu o posto de rei e levou a luta pela
liberdade até o final de seus dias. Com o extermínio do Quilombo dos Palmares
pela expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em 1694, Zum-
bi fugiu junto a outros sobreviventes do massacre para a Serra de Dois Irmãos,
então terra de Pernambuco.
Contudo, em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi traído por um de seus prin-
cipais comandantes, Antônio Soares, que trocou sua liberdade pela revelação do
esconderijo. Zumbi foi então torturado e capturado. Jorge Velho matou o rei Zum-
bi e o decapitou, levando sua cabeça até a praça do Carmo, na cidade de Recife,
onde ficou exposta por anos seguidos até sua completa decomposição.
“Deus da Guerra”, “Fantasma Imortal” ou “Morto Vivo”. Seja qual for a tra-
dução correta do nome Zumbi, o seu significado para a história do Brasil e para
o movimento negro é praticamente unânime: Zumbi dos Palmares é o maior íco-
ne da resistência negra ao escravismo e de sua luta por liberdade. Os anos foram
passando, mas o sonho de Zumbi permanece e sua história é contada com orgu-
lho pelos habitantes da região onde o negro-rei pregou a liberdade.
43
44. A Revista Falando de Axé está fazendo uma promo-
ção de divulgação, faça suas divulgações na Revista,
nos próximos meses: Janeiro, Fevereiro e Março.
GRATUITAMENTE!!!
É só entrar em contato conosco, mandando sua di-
vulgação pelo e-mail: falandodeaxe@live.com
Ou nos contatando pelos telefones: 41 8469-1985
(OI) – 41 9805-9770(TIM), Hérick Lechinski.
Aguardamos seu contato...
44