1. [RE]ENCONTROS COM A HISTÓRIA DAS ARTES Centro de Formação Júlio Resende 8 de Outubro de 2011 Práticas Artísticas a partir da segunda metade do século XX Ambiente, Galeria Quadrante, Lisboa, 1971 Algumas questões, experiências e considerações sobre modos de abordagem Maria Leonor Barbosa Soares
2. Obra de Arte Fernández Arenas: “O que realmente confere a uma obra de arte a sua qualidade artística é o seu valor histórico-cultural e a sua configuração formal, como um produto técnico e mental do Homem num dado momento histórico e geográfico.” InTeoría y Metodología de la Historia del Arte Diogo Alcoforado: “Designo como obra de arte todo o objecto que num campo cultural específico, puder ser reconhecido através das suas virtualidades formais, como um sinal paradigmático capaz de expor, de uma forma sintética, distinta e consistente, o quadro existencial (valores, angústias, aspirações, possibilidades…) que uma relação particular com o mundo provocou e exigiu…”
3. Hans Belting: “They [os artistas] themselvescontinuedthepathofhistorywhenborrowingfromhistorytheirmodels. Sometimes a workisbetterexplainedbythetimeitrecallsthanbythetime to whichitbelongs. Artiststoday use thehistoryofart (against “lowart” and popular taste) for cultural recollectionofwhatthemeanningofarthasbeen.” (InArtHistoryafterModernism. Chicago/London: TheUniversityof Chicago Press, 2003, p. II)
4. Marcel Duchamp, Secador de Garrafas, 1914 César, O polegar, 1965-1994 LaDefense, Paris AndyWarhol, Brillo Boxes, 1964 Joana Vasconcelos, Dorothy, 2007, Veneza 280 tachos de alumínio Brancusi, Coluna sem fim, 1937 TarguJiu, Roménia Claes Oldenburg, Clothespin, 1976 Philadelphia A. Warhol, ElectricChair, a partir de 1964
6. Confessional 2003 Dog house, Segundo instruçãoemdesenho, Realizadopelopúblico . http://student.mediarts.net.nz/internet_design/2010b/assignment_02/Mihi_Riesterer/Erwin%20Wurm%20Site/gallery.html
22. Vanguardas históricas Tendências artísticas dos anos 50 e 60: Pop-art, Expressionismo abstracto, Nouveau-réalisme, as variadas expressões da process-art, Anti-forma, Arte Minimal, Arte Conceptual, Happening, Fluxus… Ultrapassar os domínios de cada expressão artística Destruir as fronteiras entre as artes Questionar as categorias artísticas e estéticas Actuação na sociedade: Recusando uma “uma economia de prostituição” (RobertFilliou), inventar uma “economia poética” “A vida deveria ser essencialmente poética” Modificação nas práticas: Da pintura Da escultura Da música Da poesia Do teatro
24. Depois dos anos 60…. Ansiedades Identidades Trama de pesquisas .Constelação de propostas .Ausência de certezas .Valorização de contributos de origem diversa histórias culturais Factores de opressão
25. Anos 60 - Mudança de paradigmas na prática artística Recusa da representação mimética O Acto O Gesto O Processo A Ideia Os materiais e os seus comportamentos em relação As novas tecnologias
26. KasuoShiraga, trabalho de pintura realizado com os pés, suspenso por cordas, 1965 Pollock ,fotografado por Hans Namuth, 1950 CaroleeSchneemann, Up to andIncludingHer Limits,1973-76 CaroleeSchneemann: “Up To And Including Her Limits was the direct result of Pollock's physicalized painting process....I am suspended in a tree surgeon's harness on a three-quarter-inch manila rope, a rope which I can raise or lower manually to sustain an entranced period of drawing– my extended arm holds crayons which stroke the surrounding walls, accumulating a web of colored marks. My entire body becomes the agency of visual traces, vestige of the body's energy in motion." http://www.caroleeschneemann.com/works.html
27. Desvalorização da noção de obra de arte como um objecto concluído Consciência do corpo Action Painting Desvalorização da pré-determinação Desvalorização da ordem Consciência do espaço Fotografias de Hans Namuth, 1950
28. POLLOCK Acção “dentro da vida real” Gestualidade PINTURA DE ACÇÃO A ACÇÃO DE PINTAR […} eu disse que há duas direcções em que a herança [de Pollock] pode agir. Uma é continuar e desenvolver uma espécie de pintura de acção que era o que ele estava a fazer e a outra é tirar partido da própria acção implícita como uma forma de dança ritual. Em vez de fazer acções ritualistas que era uma das direcções possíveis eu propus extrapolar para dentro da vida real, dar um passo para fora da tela o que ele fez enquanto as pintava. (AllanKaprow, entrevista em Dallas PublicLibraryCable Access Studio em 1988) http://www.mailartist.com/johnheldjr/InterviewWithAlanKaprow.html
29. Circunstâncias culturais O R D A R O V D Obra R A V E 0bservador - Consciência do processo de percepção da obra R S E B S O O B Tempo Espaço Lições do Minimalismo
30. O Tempo Tempo (da observação do objecto ou da performance) = microcosmos Nova dimensão temporal Equivalências com experiências Memória aditiva Associações Acumulação de acções Percepção e criação pelo observador
31. Giovanni Anselmo, Sem Título, 1968 Granito, cobre, arame e alface A arte como condição experimental Reinvenção da vida em todas as dimensões
32. Germano Celant “Que se passa? A banalidade é elevada ao estatuto de arte. O insignificante começa a existir e impõe-se. A presença física, o comportamento, tais como são e existem, são artísticos. Os recursos instrumentais das linguagens são submetidos a uma nova filologia: elas renascem e fazem viver um novo humanismo.” InArte Povera, catálogo da exposição na Galeria LaBertesca, 1967 John Cage: ‘Art comes from a kind of experimental condition in which one experiments with living’.
33. Os anos sessenta e setenta – questões e rupturas Do objecto artístico para a reflexão sobre a arte Reflexão sobre as disciplinas artísticas Reflexão sobre as linguagens Libertação dos limites do objecto Valorização da ideia Reflexão sobre a vida como experiência Análise da percepção e do conhecimento Especificidade do acto, do momento Indeterminação Valorização da Matéria Permanências do objecto: - sínteses (conhecimento e representação) Erosão da moldura disciplinar tradicional - expansão e transdisciplinaridade Intervenção – nova relação do artista com o público
34. … de Duchamp a Kosuth…. O que é a arte? Porque é que isto é arte? Objectos banais, de uso quotidiano Intervenções – descontextualização de um objecto provocando uma reflexão sobre o contexto Documentação Palavras Quem é o artista? Quem é o observador? Qual é o contexto em que isto é arte?
35. Reflexão sobre as linguagens e os sistemas de representação Eduardo Luiz La guerre des jouets, 1966-86 Óleo s/ tela, 73 x 54 cm C’est un Oeuf, 1986 Óleo s/ tela, 73 x 54 cm
36. Do objecto para a reflexão sobre as linguagens e os sistemas de representação Sem Título, Desenho e colagem, ca. 1968 José Rodrigues Sem Título, Desenho a grafite s/ papel, ca. 1969/70
37. Reflexão sobre a representação José Rodrigues Travessias do espaço Sem Título, s/d [ca. 1970-1973] [Série Travessias do Desenho]
38. dorejeição da plástica pura proposta de “novas abordagens perceptivas da realidade” Daniel Spoerri, Tableau-piège, 1960
39. dorejeição da plástica pura proposta de “novas abordagens perceptivas da realidade” Lurdes Castro, Travessa Oval, 1962Colagem e objectos pintados de alumínio, 36 X 25 X 8cm Lurdes de Castro, Caixas de Alumínio com Caixas de aguarelas, 1963
40. rejeição da plástica pura proposta de “novas abordagens perceptivas da realidade” Arman, HomeSweetHome II, 1960 « recyclage poétique du réel urbain, industriel, publicitaire » (Pierre Restany) Cesar, Ricard, 1962
41. Reflexão sobre a vida como experiência Ângelo de Sousa Cotão, 1997
42. Ângelo de Sousa Reflexão sobre a vida como experiência A mão esquerda, 1976 conjunto de 51 slides
43. Reflexão sobre a vida como experiência “Eu, o mundo, as coisas, a vida, nós somos situações de energia e não se trata de cristalizar situações mas de as manter abertas e vivas, é uma função da nossa vida” Giovanni Anselmo, Torção, 1968
44. Reflexão sobre a vida como experiência arte = forma Arte=energia “[…] os meus trabalhos são verdadeiramente a “corporização” da força de uma acção […] É necessário, por exemplo que uma torção viva com a sua força verdadeira porque não poderia viver só com a forma” (G. Anselmo, 1969) Giovanni Anselmo, Torção, 1968 Ferro e tecido, 160 x 160 cm
45. Reflexão sobre a vida como experiência Eu agarrei com a mão uma árvore, 1968 Registos fotográficos da acção GiuseppePenone, Eu agarrei com a mão uma árvore Acção registada em fotografia
47. Reflexão sobre a vida como experiência Ana Vieira, Ocultação/Desocultação, 1978
48. Reflexão sobre a vida como experiência Lurdes de Castro, Sombras s/ lençol, 1969 Lençol bordado à mão
49. Valorização do processo, da especificidade do acto do artista, do momento Clara Menéres, Mulher-Terra-Vida, 1977
50. Representação mimética Desmaterialização da arte Diluição das fronteiras arte/vida Apropriação do lugar comum, do objecto banal, realização de acções e obras efémeras, utilização de novas tecnologias… Isto é ARTE !?
51. Convite: Caixa de Sardinha com o texto de Pierre Restany: “Um acontecimento capital na galeria Iris Clert, em 1960, dá ao Nouveau Réalisme a sua dimensão arquitectónica. Neste enquadrametno, o acontecimento é importante. Até ao momento presente, nenhum gesto de apropriação nos antípodas do “Vide” tinha encerrado e se tinha aproximado da autenticidade orgânica da verdade do real contingente” Arman, Le plein, exterior da galeria Múltiplo de Lata de Sardinha, Fabricante: Arman e a Galerie Iris Clert, Paris. Edition: 1,500
53. Umberto Eco, A obra Aberta, 1962 Múltiplos sentidos Recusa da obra como produto concluído – a experiência é permanentemente actualizada e renovada A indeterminação da comunicação “O informal, como aliás toda a obra “aberta” não nos conduz a proclamar a morte da arte mas a forjar uma noção mais flexível. A conceber a forma como um campo de possibilidades.”
54. As disciplinas redefinem-se e compartilham modos operatórios F I D E L D E D N Dança Teatro A P pintura X escultura E fotografia Ciências exactas artes gráficas cinema vídeo instalação Artes aplicadas D L E E I X F P D A N D E
55. Vias do conceptualismo Permanências do objecto: - sínteses (conhecimento e representação) - reflexão sobre a representação
56. …do objecto para a ideia Exclusão do objecto Rauschenberg, Retrato de Iris Clert, 1961
60. A transformação da relação do artista e da arte com o público Grupo Acre (1974-1977) ACRE ACRE DITAR AL ACRE IDADE Arte é acto MODIFICAR A ESTRUTURA VISUAL DE UMA RUA DE GRANDE MOVIMENTO […] ACRECENTAR UMA LONGA BANDEIRA FLUTUANTE AO MONUMENTO QUE O TEMPO TORNARA INVISÍVEL[…] INVENTARIAR A TEXTURA E A CARTA OCULTA DA EPIDERME URBANA, EXTRAINDO PARA O PAPEL A CONFIGURAÇÃO DAS PLACAS DE CANALIZAÇÃO […] ABRIR UMA REPARTIÇÃO DE ASSUNTOS ARTÍSTICOS PARA FORNECER DIPLOMAS DE ARTISTA[…] ARTE É INVENÇÃO O GRUPO ACRE FEZ AO FAZER INVENTOU (-SE) ACRE É ARTE Alfredo Queiroz Ribeiro, Clara Menéres, Lima Carvalho Diploma de Artista
61. A transformação da relação do artista e da arte com o público Grupo Acre Intervenções estéticas em espaços públicos do Porto, Lisboa e Caldas da Rainha Decreto-Lei Nº 1/75 de 15 de Janeiro Ser artista é uma maneira de estar na vida, não é uma profissão. O artista não é um ser privilegiado com capacidades especiais pertencente à elite da cultura, detentora do monopólio da criatividade. O artista é uma pessoa como todas as outras que têm, como ele, o direito integral de falar do mundo, dos homens e das coisas, de fazer Arte e de produzir também o seu discurso cultural. Nestes termos: Usando da faculdade conferida pelos Estatutos do Grupo Acre este decreta e promulga, para valer como lei, o seguinte: Artigo 1º - Não há profissão de artista. Artigo 2º - Todos têm o direito de ser artistas. Artigo 3º - A Arte é de todos, feita por todos e para todos. Pinturas na rua do Carmo, 1974
62. A transformação da relação do artista e da arte com o público. Encontros Internacionais de Arte em Portugal Organização: Grupo Alvarez I Encontro: Casa da Carruagem, Valadares II Encontro: Viana do Castelo, 1975 III Encontro: Póvoa do Varzim, 1976 IV Encontro: Caldas da Rainha, 1977 V Encontro: Vila Nova de Cerveira, 1978 Albuquerque Mendes, Ritual, II Encontro Internacional de arte, Viana do castelo, 1975
63. Décadas de 60 e 70 Indústrias culturais A obra de arte como mercadoria As categorias estéticas tradicionais Comportamentos estereotipados Olhar crítico Sistema económico (consumismo e tradição) A atitude dominadora e exploradora do ser humano em relação ao meio ambiente As certezas das primeiras Vanguardas Formalismos
64. Novos paradigmas na prática artística A arte é o tema da Arte -reflecte sobre os seus problemas intrínsecos: divulgação, recepção, comercialização, Kounellis, Cavalos, 1969 (onze cavalos) Galeria l’Attico, Roma Edwardkienholz, Theart show (1963-77): artvernissage, Berlinischegallerie
65. Década de 70 – desenvolvimento das pesquisas responsabilização do observador Arte Conceptual Process Art Happennings e Performances NouveauRéalisme Arte Povera Instalações e ambientes Minimal Art LandArt e EarthArt Anti-forma Interactividade Resposta criativa do observador
69. Lawrence Weiner, “As Far As The Eye Can See”, Whitney Museum (Novembro de 2007 - Fevereiro de 2008. Imagem em http://dailyserving.com/2007/10/lawrence-weiner/
70. “Reading Position for Second Degree Burn,” 1970. Jones Beach, New York. Duration of exposure: 5 hours. http://www.amandinealessandra.com/research/?tag=mark
72. “Todas as visões sobre a Arte Contemporânea estão em aberto; não é possível captar o seu significado de uma só vez e definitivamente.” (Hans Belting, ArtHistoryafterModernism. Chicago/London: TheUniversityof Chicago Press, 2003.)
74. ARTE Partir do objecto e não do sistema ao qual as formas parecem pertencer “A análise das formas deve partir não de categorias apriorísticas mas dos dados empíricos de cada configuração formal particular” RolandRecht, L’object de l’histoire de l’art, p. 39
75. Mudança de paradigma na prática artística Alterações no discurso sobre a arte Afastamento do Tradição do modelo dedicado à descrição de períodos e estilos e identificação das sua alteração ao longo da história - destinado a colocar em perspectiva aprodução Reflexão sobre as condições de produção da História da Arte Muitas histórias da arte existindo lado a lado Questionamento do carácter universal da História da Arte – consciência da predominância de um enquadramento europeu e consequências disto Integração da Teoria dos artistas em contexto histórico
77. Pensamento crítico Pensar criticamente Porque é que eu tenho esta opinião? Em que evidências me baseio? Estou a considerar dados como certos sem os confirmar? Porque é que os outros têm opinião diferente? E em que se baseiam? Como posso saber qual a opinião mais precisa? Estou a ter em conta todos os factores? Estou a ter saltar para conclusões precipitadamente? Relevância dos factos seleccionados Necessidade de Critérios Selecção da informação seleccionada Determinação do nível de conhecimento essencial ….
78. « L’art est ce qui rend la vie plus intéressante que l’art. » Robert Filliou