O documento discute o papel da tomografia computadorizada no estadiamento do câncer de pulmão. A TC é a principal modalidade de imagem usada para determinar o estágio do tumor primário, envolvimento linfonodal e metástases à distância de acordo com o sistema TNM. A ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons podem complementar a TC em alguns casos.
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TC tórax: estadiamento de câncer de pulmão
1. Câncer de pulmão: papel da TC no estadiamento
Gustavo de Souza Portes Meirelles1
1 – Doutor em Radiologia pela Escola Paulista de Medicina – UNIFESP
1 – Introdução
O estadiamento tumoral preciso é fundamental para a seleção do tratamento e conseqüente avaliação do
prognóstico de pacientes com carcinoma broncogênico. É sempre uma tarefa multidisciplinar, realizada pelo
clínico, cirurgião, radiologista e patologista.
2 – Estadiamento do câncer de pulmão com TC de tórax
O atual Sistema Internacional para Estadiamento tem dois componentes principais: o tipo celular e a
extensão anatômica da doença (sistema TNM). O carcinoma de pulmão do tipo pequenas células ainda é
classificado como apresentando acometimento limitado ou extenso (tabela 1).
Tabela 1. Critérios para doença disseminada na neoplasia pulmonar do tipo pequenas células
· Metástases contralaterais
· Linfonodos contralaterais
· Infiltração da parede torácica
· Derrame pleural neoplásico
· Síndrome da veia cava superior
· Linfangite
· Metástases
O estágio do tumor de pulmão do tipo celular não-pequenas células é determinado pela extensão do tumor
primário (T), pela presença de metástases para linfonodos intrapulmonares, hilares ou mediastinais (N) e
pela presença de metástases extratorácicas (M). A classificação e o sistema de estadiamento encontram-se
nas tabelas 2 e 3.
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2. Tabela 2 Definição das características do tumor primário, envolvimento linfonodal e metástases a
distância (TNM) no câncer de pulmão
Tumor primário
Tx O tumor primário não pode ser avaliado, ou tumor comprovado pela presença de células malignas no
escarro ou lavados brônquicos, mas não visualizado pelos métodos de imagem ou broncoscopia.
T0 Nenhuma evidência do tumor primário.
Tis Carcinoma in situ.
T1 Tumor ≤ 3cm na maior dimensão, circundado por pulmão ou pleura visceral, sem evidências
broncoscópicas de invasão do brônquio principala
T2 Tumor com qualquer das seguintes características de tamanho ou extensão: > 3 cm no maior
diâmetro; com envolvimento do brônquio principal a mais de 2 cm da carina; com invasão da pleura
visceral; associado a atelectasia ou pneumonia obstrutiva estendendo-se até a região hilar mas não
afetando todo o pulmão.
T3 Tumor de qualquer tamanho invadindo diretamente alguma das seguintes estruturas: parede torácica
(inclusive tumores do sulco superior), diafragma, pleura mediastinal, pericárdio parietal; ou tumor no
brônquio principal a menos de 2 cm da carina, mas sem envolvimento da mesma; ou atelectasia ou
pneumonia obstrutiva associada de todo o pulmão.
T4 Tumor de qualquer tamanho que invada qualquer das seguintes estruturas: mediastino, coração,
grandes vasos, traquéia, esôfago, corpo vertebral, carina; ou tumor com derrame pleural ou
pericárdico malignob, ou com um ou mais nódulos tumorais satélites no mesmo lobo pulmonar do
tumor primário.
Linfonodos regionais (N)
Nx Linfonodos regionais não podem ser avaliados.
N0 Nenhuma metástase para linfonodos regionais.
N1 Metástases para linfonodos peribrônquicos, intrapulmonares e/ou hilares homolaterais.
N2 Metástases para linfonodos mediastinais e/ou subcarinais homolaterais.
N3 Metástases para linfonodos mediastinais e/ou hilares contralaterais, escalenos e/ou supraclaviculares
homolaterais ou contralaterais.
Metástases à distância (M)
Mx Metástases à distância não podem ser avaliadas
M0 Ausência de metástases à distância
M1 Metástases à distância presentesc
aO tumor superficial incomum de qualquer tamanho, com seu componente invasivo limitado à parede
brônquica, que pode se estender proximalmente ao brônquio principal, também é classificado com T1.
B Muitos derrames pleurais associados ao câncer de pulmão são causados pelo tumor. Há, porém, alguns
pacientes nos quais múltiplos exames citopatológicos do líquido pleural não demonstram nenhum tumor.
Nesses casos, o líquido não é sanguinolento e não é um exsudato. Quando estes elementos e o julgamento
clínico indicam que o derrame não está relacionado ao tumor, deve-se excluir o derrame como um elemento
para o estadiamento e a doença do paciente deve ser classificada como acometimento T1, T2 ou T3. O
derrame pericárdico é classificado de acordo com as mesmas regras.
c Nódulos tumorais metastáticos em lobos pulmonares diferentes daquele do tumor primário, mesmo que
homolaterais, também são classificados como M1.
Tabela 3. Novo agrupamento pelo estadiamento internacional revisto
Estágio de classificação Classificação TNM
Estágio 0 TIS
Estágio IA T1, N0, M0
Estágio IB T2, N0, M0
Estágio IIA T1, N1, M0
Estágio IIB T2, N1, M0; T3, N0, M0
Estágio IIIA T1-3, N2, M0; T3, N1, M0
Estágio IIIB T4, qualquer N, M0; qualquer T, N3, M0
Estágio IV Qualquer T, qualquer N, M1
TIS, tumor in situ; T, tumor; N, linfonodos; M, metástases.
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3. A radiografia simples tem baixa eficácia para avaliação do comprometimento linfonodal e do fator M1. A TC
ainda permanece como a principal modalidade de imagem usada na determinação do estágio intratorácico
do câncer de pulmão. As figuras 1 a 14 ilustram alguns exemplos da classificação TNM de acordo com este
método de imagem.
Figura 1. Neoplasia maligna no lobo superior esquerdo (seta), menor que 3,0 cm. Tumor T1.
Figura 2. Neoplasias T2. A. Massa lobulada no pulmão direito (seta), maior que 3,0 cm. B. Neoplasia com atelectasia
parcial do lobo superior esquerdo (seta).
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4. Figura 3. Formação expansiva espiculada no pulmão direito (seta), que
invade o brônquio principal ipsilateral e estende-se até as proximidades
da carina (a menos que 2,0 cm). Tumor T3.
Figura 4. Neoplasia T4. Massa central direita (setas), envolvendo a carina e associada
a derrame pleural (asterisco), que na punção apresentava células neoplásicas.
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5. Figura 5. Massa paramediastinal esquerda (setas), envolvendo os ramos arteriais
supra-aórticos (seta tracejada). Neoplasia T4.
Figura 6. Neoplasia pulmonar T4. Massa central direita (seta), com sinais de invasão
do átrio esquerdo (seta tracejada). Derrame pleural neoplásico (asterisco).
Figura 7. Neoplasia pulmonar T4 com sinais de pericárdio maligno (setas),
caracterizado por espessamento nodular do pericárdio e encarceramento cardíaco.
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6. Figura 8. Tumor N0. Nódulo espiculado (seta) no lobo superior esquerdo (A), sem
linfonodomegalias (B).
Figura 9. Tumor N1. Nódulo (seta) no lobo superior direto (seta em A), com linfonodomegalias
hilares ipsilaterais (seta em B).
Figura 10. Neoplasia N2. Massa pulmonar esquerda (seta), com linfonodomegalias
mediastinais ipsilaterais (seta tracejada).
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7. Figura 11. Exemplos de carcinoma N3. A. Formação expansiva pulmonar direita (seta), com
linfonodomegalias mediastinais contralaterais (seta tracejada). B. Linfonodomegalia supraclavicular
direita (seta)
Figura 12. Massa pulmonar direita (seta), com nódulos metastáticos contralaterais. Tumor M1.
Figura 13. Neoplasia M1. Tumor pulmonar (seta em A), com sinais de linfangite carcinomatosa (B),
caracterizada por espessamentos dos septos interlobulares, formando arcadas poligonais, e dos
septos interlobares.
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8. Figura 14. As setas demonstram locais de metástases (tumor M1) em pacientes com carcinoma
pulmonar. A. Adrenal esquerda. B. Costela. C. Fígado. D. Cérebro.
3 – Estadiamento do câncer de pulmão – outros exames de imagem
A ressonância magnética (RM) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET) podem complementar a TC
em casos selecionados. Os casos em que a RM demonstra muita utilidade são: tumores do sulco superior,
para avaliação de invasão da parede torácica e/ou coluna ou canal vertebral (figura 15); tumor em contato
com o coração, especialmente o átrio esquerdo; tumores centrais com extensão direta para a região
subcarinal; extensão do tumor para a janela aortopulmonar; invasão da veia cava superior e tecidos
mediastinais adjacentes em pacientes com acometimento hilar direito radiograficamente passível de
ressecção; tumor localizado nos ângulos cardiofrênicos e no aspecto medial dos lobos inferiores (nestes
casos a RM é útil para determinar a invasão da aorta e tecidos paraesofágicos).
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9. Figura 15. RM demonstrando neoplasia pulmonar do sulco superior esquerdo
(seta) invadindo a pleura e o plexo braquial.
A PET é um método novo e muito promissor na avaliação e estadiamento do câncer de pulmão,
principalmente quando acoplada a um aparelho de tomografia computadorizada (PET-CT). Consiste na
avaliação do metabolismo de glicose pelas células, estando este geralmente aumentado nas células
neoplásicas (figura 16). Apesar de também poder apresentar resultados falsos-positivos e falsos-negativos,
a PET tem sensibilidade e especificidade superiores à TC na maior parte dos casos, podendo inclusive
mudar o prognóstico e a conduta terapêutica.
Figura 16. A. TC demonstrando opacidade irregular paramediastinal esquerda, que poderia corresponder a foco de
atelectasia ou a neoplasia. B. A PET isolada mostra hiperconcentração do radiofármaco, mas não precisa com clareza a
topografia. C. A PET-CT permite melhor avaliação da lesão, ao acoplar as 2 imagens. Carcinoma pulmonar.
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10. 4 – Leitura recomendada
Black WC, Armstrong P, Daniel TM. Cost effectiveness of chest CT in T1N0M0 lung cancer. Radiology
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Guyatt GH, Lefcoe M, Walter S et al. Interobserver variation in the computed tomographic evaluation of
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