2. A
ATUAÇAO
DO
PEDAGOGO
NA
ESCOLA
PÚBLICA:
MEDIAÇAO
NA
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ESCOLAR
Itagira Vigo Schuh1
Drª. Maria Lídia Sica Szymanski2
Resumo
O pedagogo, enquanto mediador na organização do trabalho cotidiano da escola
pública, busca efetivar a aprendizagem de seus sujeitos. Para garantir essa
especificidade, foram discutidas e implementadas ações no coletivo escolar, visando
reorganizar seu trabalho. As alternativas de mediação partiram de uma pesquisa,
verificando a concepção dos educadores sobre o papel do pedagogo no contexto
escolar. A discussão coletiva dos resultados levou à organização de um grupo de apoio
com os educadores, para estudo dos objetivos da escola e da função do pedagogo
nesse contexto. Organizou-se, paralelamente, um grupo de discussão por disciplina,
tendo como foco o Plano de Trabalho Docente, buscando vivências significativas que
garantissem a transposição didática do saber científico em saber escolar. Realizou-se,
ainda, acompanhamento da atuação docente em sala de aula, ressaltando o papel do
pedagogo enquanto mediador entre o PTD/Professor (ensino/conteúdo) e o aluno
(aprendizagem) para a concretização de um currículo de qualidade. Em uma palestra,
seguida de debate, os educadores buscaram ampliar a compreensão das
características do desenvolvimento cognitivo e emocional na adolescência e suas
consequências no processo pedagógico, de forma a mediar de maneira mais efetiva a
construção do conhecimento. Os resultados evidenciaram ser possível a ressignificação
da atuação do pedagogo na escola pública, porém este é um processo que só se
efetiva por meio de um trabalho coletivo, articulando teoria e prática.
Palavras chaves: Pedagogo, Ensino, Aprendizagem.
1 Caracterização do papel do pedagogo
1
Pedagoga Rede Pública Estadual do Paraná. Especialista em Psicologia da Infância; Didática e Metodologia de
Ensino e Educação de Pessoas com Necessidades Especiais na Educação Inclusiva. Professora PDE turma 20092010.
2
Professora Orientadora da Instituição de Ensino Superior – UNIOESTE. Mestre e Doutora. em Psicologia pelo
Instituto de Psicologia da USP. Pós-Doutora em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação, pela FE da
UNICAMP.
3. Objetiva-se uma escola que se constitua em um contexto de formação docente,
vinculando o desenvolvimento profissional à práxis, onde a experiência seja convertida
em fonte de saber que favoreça um ensino de qualidade. Uma escola preparada para
que o ensino e a aprendizagem aconteçam, por meio de uma proposta pedagógica
amparada em uma postura crítica, que apresente condições de desafiar o educando a
pensar a realidade social, política e histórica. Uma escola na qual o educador, seja
aquele “que ensina conteúdos de sua disciplina com rigor e com rigor cobra a produção
dos educandos” (FREIRE, 2000, p.44).
As características organizacionais dessa escola, o grau de responsabilidades de
seus profissionais, a liderança compartilhada, a participação coletiva, o currículo, as
condições concretas de trabalho, o nível de preparo dos professores são determinantes
para a eficácia e aproveitamento escolar dos educandos. Nas palavras de Paro(2001,
p.35)
[U]uma sociedade democrática só se desenvolve e se fortalece politicamente de
modo a solucionar seus problemas se pode contar com a ação consciente e
conjunta de seus cidadãos.
A escola necessita, portanto, buscar um espaço fundamental de atuação que
contemple novas formas de seleção, organização e tratamento metodológico dos
conteúdos. A promoção de relações significativas entre o aluno e o conhecimento, é
condição para a sua participação efetiva no trabalho e na sociedade, de modo a ser
protagonista da construção de uma nova ordem social (KUENZER, 2000, p.67).
Compreender a escola como mediadora do conhecimento, visando um processo
de emancipação humana, um caminho para a transformação social, implica contemplar
o papel político da escola em consonância ao seu papel pedagógico, um compromisso
que garante o processo de ensino-aprendizagem em favor da transformação
necessária. Uma responsabilidade em formar seres humanos por meio da educação,
que se expressa como construção coletiva da identidade da escola, onde o pedagogo
apresente
4. [C]capacidade de saber ouvir, alinhavar idéias, questionar, interferir, traduzir
posições e sintetizar uma política de ação com propósito de coordenar
efetivamente o processo educativo, o cumprimento da função social e política
da educação escolar (...) (PRAIS, 1990, p. 86).
Assim, o Pedagogo deve estar envolvido com os encaminhamentos pedagógicos
explícitos no Projeto Político Pedagógico, um instrumento que descreve e revela a
escola para além de suas concepções e intenções sistematizadas na forma de
organizar o trabalho pedagógico.
Trata-se da unidade entre teoria e prática, isto é, de uma práxis sempre
intencional, na qual a ação do pedagogo junto ao professor permita realizar o trabalho
educativo. Para que isto aconteça Saviani diz que (2006, p. 60), “[...] é necessário
abalar as certezas, desautorizar o senso comum”, buscando na teoria a concretização
sólida das ações. Construir a identidade do pedagogo no âmbito escolar, significa a
transposição do senso comum através da construção histórica do conhecimento
científico, confrontando teoria e prática, de forma que possa identificar e organizar
sistematicamente a área profissional, levando em consideração a função social da
escola.
O conceito de práxis aqui utilizado não é aquele que evoca a pura e simples
prática, antes, porém, constitui-se como apresenta Vasquez (1977) em atividade
pensada, organizada, “reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo.
Sem ela é impossível a superação da contradição opressor-oprimido”. (FREIRE, 1997,
p.38)
A forma de organização do trabalho do pedagogo, sua postura diante da
realidade, como participa da história, como concebe o saber, a relação que estabelece
com os educandos e educadores na prática pedagógica, articula-se com seus saberes,
sua cultura e determina sua importância diante do processo educativo.
Entretanto, embora o pedagogo tenha se tornado indispensável no ambiente
escolar, desempenhando diferentes funções, pertinentes ou não ao cargo que ocupa,
suas tarefas se concretizam sem a necessária definição e são realizadas de acordo
com as necessidades do cotidiano. São múltiplas as atividades que o pedagogo realiza
em sua prática com influência direta na organização do trabalho escolar, as quais se
refletem nos processos de ensino.
5. Nesse sentido, conhecer as contribuições, as possibilidades e as dificuldades da
prática cotidiana dos pedagogos possibilita a orientação de novos caminhos, na busca
constante para a melhoria do ensino, fundamental para o aporte de informações que
subsidiem as intervenções e promovam o ensino de qualidade para a escola pública.
O pedagogo, responsável pelo trabalho coletivo da escola, articula a concepção
de educação às relações e determinações políticas, sociais, culturais e históricas,
agindo em todos os espaços de contradição, contribuindo para a transformação da
prática escolar. Com isso, sua atuação se faz necessária para a promoção de uma
educação pública de qualidade, agindo de forma a ressignificar a organização do seu
trabalho, o qual envolve diferentes pessoas com tarefas específicas, que requerem
atendimento imediato.
Entender o papel do pedagogo em suas múltiplas e complexas significações
pressupõe assumir o processo pedagógico com objetivos e estratégias diferenciadas,
onde os espaços escolares passam a ser palco de discussões, argumentações e
propostas de ações para que os educadores se lancem na troca de experiências e
saberes escolares.
O pedagogo intervém
para facilitar, reconstruindo constantemente seu
conhecimento profissional e ao refletir sobre as intervenções com educadores exerce e
desenvolve sua própria compreensão realidade. Essa atividade remete a uma
educação continuada, que leve o professor a se questionar, refletir sobre sua pratica, os
conteúdos, a metodologia, os recursos para então, encontrar novos caminhos. Nas
palavras de Libâneo (2009, p.61)
[A] atuação do pedagogo escolar é imprescindível na ajuda aos professores no
aprimoramento de seu desempenho na sala de aula (conteúdos, métodos,
técnicas, formas de organização da classe), na análise e compreensão de
situações de ensino com base nos conhecimentos teóricos, ou seja, na
vinculação entre as áreas do conhecimento pedagógico e o trabalho de sala de
aula.
A concepção curricular envolve todo o trabalho escolar, desde o momento em
que o professor está selecionando o seu conteúdo, a distribuição das aulas e das
disciplinas com a mediação da equipe pedagógica até o momento em que a escola, no
seu coletivo, organiza o trabalho pedagógico. É necessário compreender que o
6. currículo é histórico, resultado de um conjunto de forças sociais, políticas e
pedagógicas que expressam e articulam as práticas escolares e os saberes que as
circunstanciam, na formação dos sujeitos que, por sua vez, são também históricos e
sociais.
Nesse sentido, o currículo deve oferecer elementos para a compreensão e
apropriação dos saberes que o constituem, assim como deve possibilitar movimentos
sociais contraditórios nos quais os sujeitos se insiram, pois o pedagogo não fica
indiferente, neutro, diante da realidade. Procura intervir e aprender com a realidade em
processo, o conflito (GADOTTI, 2004).
As inúmeras exigências impostas à escola e a carência de professores
qualificados vêm exigindo uma ampliação do campo de ação do pedagogo, ocupando a
maior parte de seu tempo. Enquanto articulador no processo pedagógico, sua
presença, é fundamental na organização e concretização das ações propostas,
mediando o processo pedagógico expresso nos atos do ensino e da aprendizagem, de
forma a garantir a consistência das ações pedagógicas para a viabilização de um
currículo de qualidade.
Essa diversidade impõe uma reflexão sobre os elementos que compõem esse
papel e que possibilitam a apropriação dos saberes que acompanham a experiência do
ser pedagogo, comprometendo a qualidade de sua atuação na perspectiva pedagógica
propriamente dita. Conforme Szymanski e Schuh (2010, p.10),
persiste uma visão ilusória no sentido de que o pedagogo seria aquele que
auxiliaria em todas as atividades do cotidiano escolar, o que acaba por dificultar
o desenvolvimento de suas reais atribuições e expressa a dificuldade dos
docentes em compreender o fazer pedagógico como ação coletiva e não
unicamente centrada na atuação do pedagogo.
Os conhecimentos e as habilidades requeridas para esse trabalho prescrevem
ao pedagogo permanente aprendizagem e respeito mútuo no convívio diário, pois sua
ação junto aos educadores deve ser compromissada, responsável, exigente e contínua,
tendo em vista os objetivos definidos no Projeto Político Pedagógico da escola. Porém,
ainda que cada sujeito do processo educativo tenha suas funções específicas, “o
planejamento e implementação das ações parte do coletivo” (PARO 2005, p. 73-74).
7. Nesse sentido, Szymanski e Schuh (2010) desenvolveram uma pesquisa,
envolvendo 38 educadores de uma escola estadual, objetivando verificar quais os
fatores que prejudicam e os que favorecem a atuação do pedagogo na organização do
trabalho escolar. Os dados coletados, diagnosticando o cotidiano do pedagogo,
serviram de referência para ressignificar o plano de ação e orientar o grupo de estudos
com os educadores visando à compreensão das atribuições do pedagogo, frente à
relação educação-sociedade e suas repercussões sobre a prática pedagógica. A
discussão destas questões desencadeou ações coletivas que viabilizaram ao pedagogo
o fortalecimento do exercício de seu papel, favorecendo a reorganização do trabalho
escolar.
Em sincronia, a equipe pedagógica e os profissionais da Educação projetaram
cinco ações, descritas a seguir, objetivando construir caminhos que apontassem para
um trabalho de qualidade. Esse trabalho pressupõe a formação de profissionais que
compreendam, aprofundem e enriqueçam suas concepções pedagógicas, ressaltando e
favorecendo o diálogo que, de acordo com Paulo Freire (1996), gere confiança e
possibilite a relação entre esses profissionais, no sentido do crescimento coletivo e na
busca constante de respostas para os problemas enfrentados na prática pedagógica.
2 Encaminhamentos metodológicos e ações de intervenção
A metodologia utilizada envolveu uma discussão conceitual do papel do
pedagogo e sua dimensão pedagógica na prática
cotidiana da escola pública. E
contribuiu para a construção de estudos agregados que versam sobre a temática da
função do pedagogo na organização do trabalho escolar.
Inicialmente foram tecidas algumas reflexões sobre a relação pedagógica e a
complexidade imbricada na interação cotidiana vivenciada por educadores e educandos
no espaço pedagógico da sala de aula. As ações utilizadas para a concretização dos
trabalhos foram:
I - Pesquisa de campo: investigou-se a concepção dos educadores e da equipe
pedagógica quanto às contribuições e aos fatores que dificultam e os aspectos que
8. favorecem o trabalho do pedagogo na organização do trabalho escolar, a qual serviu de
referência e permitiu a organização, implementação e sistematização do trabalho
pedagógico.
Isso implica que o pedagogo ao confrontar-se, regular e intensamente, com os
complexos problemas de seu cotidiano, precisa mobilizar diversos tipos de recursos
cognitivos, rever os conteúdos que os professores conhecem e dominam, confrontando
situações conhecidas para torná-las significativas,
surpreendentes e motivadoras,
despendendo o esforço que a construção de um conhecimento elaborado exige.
A discussão coletiva sobre as atribuições do pedagogo na organização do
trabalho escolar, revelou a exigência de uma nova atitude cotidiana a ser assumida
pelos sujeitos envolvidos no processo de construção do conhecimento rumo a uma
aprendizagem significativa, possibilitando ações coletivas, provocando e estimulando
uma nova forma de compreensão do trabalho do pedagogo.
Frente à dinamicidade das atividades cotidiana do pedagogo, a instituição de
ensino se viu compelida a rever sua prática e a buscar novos sentidos para o trabalho
pedagógico. Nesse contexto de permanentes ressignificações, as funções do pedagogo
também foram constantemente desafiadas, apontando para a necessidade de uma
proposta de trabalho voltada para desenvolvimento de ações coletivas que privilegiem o
processo de transmissão de saberes visando à apreensão critica da realidade para nela
intervir.
II - Grupo de estudos com a equipe pedagógica e educadores: uma
modalidade de trabalho que partiu da reflexão, análise e discussão quanto à viabilidade
e aplicação das ações atribuídas ao pedagogo, definidas no regimento escolar e no
programa de atuação profissional instituído para a escola pública pela SEED-PR. As
discussões realizadas a partiram dos seguintes questionamentos: as atividades que o
pedagogo desenvolve em seu cotidiano escolar estão compatíveis com as atribuições
propostas pela Secretaria Estadual de Educação? Os embates diários exigidos pelas
inúmeras atividades que o pedagogo desenvolve no cotidiano da escola pública,
contribuem para a realização de suas reais atribuições? Quais os aspectos que devem
ser abordados, considerados e postados como prioridades pelo pedagogo em sua
prática escolar?
9. A proposta de trabalho contribuiu para viabilizar o comprimento das atribuições
do pedagogo na escola púbica, favorecendo um currículo de qualidade, já que a ação
especifica dos pedagogos refere-se à articulação na organização do trabalho
pedagógico e não à execução de todas as funções. Uma proposta de atuação onde os
profissionais da educação, numa prática coletiva, proponham ações que possam
transformar os mecanismos internos da escola para torná-la necessária e democrática.
III - Grupo de trabalho por disciplina: organizou-se um cronograma por grupo
de disciplinas nas horas atividades, para acompanhamento, assessoramento e
atendimento pedagógico aos professores quanto à análise e revisão do Plano de
Trabalho Docente, tendo como objetivo a sua efetivação no contexto de sala de aula.
Trabalhou-se, ainda, a prática de ensino em consonância com os pares, no sentido de
propiciar vivencias significativas, a ponto de modificar suas representações de ensino e
aprendizagem.
Trata-se de uma ação pedagógica fundamentada oportunizando ao educador
compreender os processos mentais, os conceitos e as estratégias para mediar e
contribuir de maneira efetiva para o processo do conhecimento. A consolidação dessa
ação exigiu a tomada de consciência quanto a necessidade de um bom planejamento
com escolhas adequadas de recursos, negociação e estabelecimento de critérios entre
os participantes para atender aos interesses de todos visando à aprendizagem. Além
do entender que decisões quanto à finalidade e conteúdo devem ser tomadas para a
humanização da formação de sujeitos.
Nesse sentido, a função do docente é possibilitar aos educandos a transposição
didática do saber cientifico em saber escolar, possibilitando a construção de novos
saberes. Para que o conhecimento seja significativo, pressupõe-se que a experiência
dos sujeitos aprendentes sirva como referência para o ensino contribuindo para a
aprendizagem.
IV
–
Acompanhamento
Pedagógico
em
sala
de
aula:
realizou-se
acompanhamento, sensibilização e fortalecimento do trabalho pedagógico articulado
pelo pedagogo Seu olhar observador, avaliador e responsável, favorecem momentos de
participação em sala de aula, acompanhando o trabalho docente para observar sua
ação, ressaltando o papel do pedagogo como mediador entre o PTD/Professor
10. (ensino/conteúdo) e o aluno (aprendizagem) para a concretização de um currículo de
qualidade.
Buscou-se assegurar a colaboração entre professores e alunos, utilizando os
recursos disponíveis e necessários para realizarem buscas e trocas de informações,
criando novos espaços de ensino-aprendizagem em que ambos aprendem. Os
educadores precisam estar preparados para capacitar os alunos a desenvolverem
habilidades que lhes permitam resolver situações complexas e inesperadas, encarando
o trabalho como uma equipe, com desafios novos e diferenciados a vencer, com
responsabilidades individuais e coletivas a cumprir.
V – Palestra: Oportunizou-se uma palestra realizada pela professora
Orientadora, buscando ampliar a compreensão das características do desenvolvimento
cognitivo e emocional na adolescência e suas consequências no processo pedagógico
visando à melhoria do ensino e aprendizagem. Refletiu-se sobre a prática educativa no
contexto da escola pública, viabilizando o cumprimento de sua função social e o
entendimento de que o conhecimento educacional acumulado deve ser apropriado e
submetido à crítica, em função dos alunos concretos que ocupam os bancos escolares.
Além de possibilitar aos educadores melhor compreensão dos problemas enfrentados
na prática cotidiana, a palestrista permitiu-lhes o fortalecimento de seus próprios
saberes incentivando o assumir a profissão de forma desafiadora e compromissada.
Trata-se de fundamentar a proposta pedagógica fundamentada oportunizando ao
educador compreender os processos mentais, os conceitos e as estratégias utilizadas
pelos alunos e, com esse conhecimento, mediar e contribuir de maneira efetiva para a
construção do conhecimento.
Os materiais de apoio foram pautados no Regimento Escolar e Programa de
Atuação Profissional instituído pela SEED – PR. Utilizou-se como recurso o texto que
contempla as Atribuições do Pedagogo na escola pública do Paraná e a análise dos
documentos oficiais para o processo de organização do trabalho pedagógico (Projeto
Político Pedagógico, diretrizes Curriculares Educacionais, Proposta Pedagógica
Curricular, Plano de Trabalho Docente, Planejamento da Hora Atividade, Conselho de
classe, Avaliação Escolar, Regimento Escolar, Instâncias colegiadas: Grêmio
11. Estudantil, APMF, Conselho Escolar, Gestão Escolar), estudo do método histórico
critico e da concepção de aprendizagem nessa perspectiva.
Com uma concepção progressista de educação, o pedagogo atua como
mediador do trabalho pedagógico, agindo em todos os espaços de contradição visando
à transformação da prática escolar.
Portanto, para que o coletivo escolar compreenda a natureza e especificidade da
prática do pedagogo na organização do trabalho escolar e respeite a escola como
instituição social, os educadores precisam compreender que sua função, é socialização
dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, um espaço de
mediação entre os sujeito e sociedade. Compreendê-la como mediadora significa
entender o conhecimento como fonte para a efetivação de um processo de
emancipação humana, e conseqüente transformação social.
Isso implica ver o papel político da escola atrelado ao seu papel pedagógico,
dimensionando sua prática pedagógica, em todas suas características e determinantes
com intencionalidades, coerência e compromisso no sentido de garantir que o processo
de ensino e aprendizagem esteja a serviço da mudança necessária.
“A escola para funcionar bem, precisa de profissionais que tenham a visão de
sua especificidade e totalidade orgânica” (PIMENTA, 2002, p.150). Assim, cada sujeito
do processo educativo tem suas funções especificas, porém, o planejamento e a
implementação das ações partem do coletivo. O reconhecimento e efetivação do papel
do pedagogo dependem da intencionalidade e especificidade do trabalho pedagógico
junto à comunidade escolar.
A avaliação do processo foi contínua, envolvendo a proposta de ação, a partir da
análise do envolvimento do grupo, dos conceitos elaborados e aprendidos na relação
estabelecida com a prática, no cotidiano escolar, nos apontamentos e nas propostas de
ações estabelecidas conforme as necessidades relatadas pelo grupo. Contemplou-se a
participação, a reflexão e a tomada de decisões sobre o processo de ação pedagógica,
oportunizando leituras, revendo práticas, reconstruindo caminhos para a busca da
qualidade na escola pública. Para a concretização deste processo foi necessário que a
teoria estudada se articulasse com a prática, permitindo avanços na ação pedagógica
possibilitando a garantia da sua função social.
12. 3 Apresentação e discussão dos resultados - uma proposta de atuação
Em consonância, pedagogos e profissionais da educação buscaram os saberes
necessários à resolução de situações do cotidiano por meio de encaminhamentos
pedagógicos que permitiram a superação das dificuldades em sala de aula. O
pedagogo, ao interagir, desafiou o coletivo escolar a elaborar programas, com base em
permanente diálogo, mobilizando e contextualizando seus conhecimentos frente aos
novos paradigmas educacionais.
Nesse
sentido,
os
pressupostos
pedagógicos,
os
encaminhamentos
metodológicos e a valorização da escola trouxeram significação ao fazer diário,
acentuando a importância dos pedagogos na escola.
Para isso, promoveram-se espaços para estudos no próprio ambiente de
trabalho, buscando na articulação teoria e prática, responder às questões pertinentes
ao papel do pedagogo na organização do trabalho escolar. Organizou-se também, um
cronograma para atendimento aos professores por meio de horas de estudos,
permitindo a todos formação continuada em serviço e o assessoramento pedagógico
no plano de trabalho docente. Constatou-se o enriquecimento, responsabilidade e
sucesso nos processos de ensino e de aprendizagem, de modo a garantir as condições
favoráveis à consecução dos objetivos pedagógicos da educação, efetivados pelos
conteúdos, metodologia e objetivos, considerando seus limites e possibilidades de
avanços.
As ações realizadas foram relevantes, pois seu conjunto desenvolvido
ordenadamente, refletiu-se no desenvolvimento de uma educação escolar de qualidade,
ainda que no caminho empreendido neste estudo, algumas questões permaneçam em
aberto, requerendo aprofundamento.
Uma das principais responsabilidades da equipe pedagógica foi a mediação no
processo de organização do trabalho escolar, expresso no projeto político-pedagógico,
assessorando o professor quanto à materialização e concretização de suas ações em
sala de aula.
Os resultados obtidos por meio das intervenções contribuíram para:
13. •
Favorecer a formação dos educadores, buscando continuamente cultivar o
hábito de estudar, de participar de eventos, de organizar grupos de estudo, de
produzir materiais, de escrever, de trocar experiências com os companheiros de
função;
•
Incentivar os professores e os demais funcionários da escola a buscarem fontes
teóricas para estudos, aprimoramento profissional, compreensão das relações
humanas e contribuir para um comprometimento social;
•
Fortalecer a possibilidade de mudança, de ousadia e a busca de alternativas,
possibilitando um trabalho que garanta a aprendizagem e o crescimento de todos
os envolvidos no cenário educacional;
•
Utilizar consciência crítica na análise e no desenvolvimento da prática educativa,
colocando-se de forma perspicaz com posturas adequadas no apontamento de
caminhos e recriação de intervenções na superação das necessidades reais da
escola;
•
Avançar
com
uma
postura
politicamente
esclarecida
e
cientificamente
fundamentada acerca da natureza do ensinar e do aprender, com referencial
bibliográfico atualizado;
•
Auxiliar os professores na elaboração e utilização de técnicas e instrumentos de
avaliação,
revelando
avanços
e
dificuldades
na
aprendizagem
e,
consequentemente, reorientar o processo educativo;
•
Incentivar uma postura avaliativa processual e continua, integrada ao processo
de ensino e de aprendizagem e, portanto, comprometida com o sucesso de
todos os alunos;
•
Promover o ato de planejar como forma de ultrapassar o improviso e garantir
um percurso fundamentado para o Plano de Trabalho Docente permitindo sua
efetivação na sala de aula;
•
Estabelecer metas a serem alcançadas, contemplando a aquisição dos
conhecimentos historicamente construídos e desencadear ações na perspectiva
política de uma escola pública democrática;
•
Contribuir para o fortalecimento de uma relação pedagógica permeada pela
tolerância, pelo respeito e pela amistosidade, que favoreça e estimule o interesse
14. do aluno na busca do conhecimento relevante e significativo para a sua vida
social;
•
Rediscutir continuamente o plano curricular, os conteúdos e conhecimentos a
serem trabalhados, as metodologias, as avaliações para que todos os alunos
tenham a possibilidade de aprender com consistência o que é ensinado,
atendendo às suas especificidades;
•
Promover acordos por meio do diálogo, encontrando e constituindo objetivos
comuns para garantir um ambiente escolar com desempenho satisfatório e
significativo;
•
Colaborar e cooperar com os envolvidos no cenário educativo considerando e
observando os objetivos comuns, compartilhando informações e conhecimento
para uma pratica pedagógica necessária;
•
Promover com os docentes, diagnósticos do desempenho pedagógico,
favorecendo a formação contínua em serviço, avançando de um nível estratégico
simples para um nível de organização e sustentação complexo, frente aos
processos de ensino e aprendizagem;
•
Demonstrar capacidade de propor estratégias de ações que permitam um
processo pedagógico articulado às novas demandas educacionais que
contemplem o mundo da Educação e do trabalho;
A constatação desses resultados revela que eles podem constituir-se nos
próprios objetivos da ação do pedagogo. Sendo assim, cabe-lhe, enquanto articulador
de ações educativas, contribuir para que a escola redefina sua prática, no sentido de
desmistificar as relações que se configuram no seu interior, buscando compreendê-las
a partir dos pressupostos teóricos que apontem para a democratização do espaço
escolar.
Para isso, é fundamental que o pedagogo supere práticas cotidianas isoladas,
sem reflexão e planejamento, que muitas vezes ficam circunscritas a atividades de
reorganização de horários, atendimento em salas que estão sem professores, e possa
cumprir sua função específica de mediador da ação educativa.
Pensar alternativas, oportunizar espaços de reflexão implica responsabilizar-se
pela efetiva escolarização dos alunos, contemplando as reais necessidades dos que
15. buscam uma escola pública comprometida com uma formação crítica e consistente
visando uma sociedade menos desigual e mais humana e democrática.
Enfim, é necessário romper com a cultura da seletividade e da exclusão, atenuar
posturas avaliativas classificatórias e evoluir para abordagens de ensino, de
aprendizagem e de avaliação mais compatíveis com as necessidades dos alunos,
procurando construir uma escola democrática e acessível a todos, comprometida com a
transformação da realidade.
Mais do que nunca, portanto, é preciso perceber o pedagogo como profissional
que deve cultivar a consciência crítica, o debate, a pesquisa visando uma escola como
lugar de vivenciar o respeito e a dignidade, valores que, certamente, poderão dar um
novo rumo a um processo educativo transformador que faça emergir um outro tipo de
sociedade.
O pedagogo é um profissional cuja identidade se reconhece no campo da
investigação e na variedade de atividades voltadas para o campo educacional, cuja
função está relacionada a todas as atividades de aprendizagem e de desenvolvimento
humano, seja de crianças, jovens, adultos, trabalhadores ou outros. É importante e
necessário reconhecer sua impossibilidade em abarcar toda a gama de saberes
especializado que ele mobiliza, nos diversos espaços escolares e extra-escolares onde
atua. Isso implica uma abordagem mais focada nos conhecimentos do campo da
Educação, que deverá ocorrer a partir da indissociável articulação teoria-prática, tendo
a pesquisa como um princípio estruturante dos saberes a serem elaborados.
4 Considerações finais
A escola, como instituição social, que tem como função a democratização dos
conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, é um espaço de mediação
entre sujeito e sociedade. Compreender a escola como mediação significa entender o
conhecimento como fonte para efetivação de um processo de emancipação humana e,
logo, de transformação social.
16. A escola pública necessita de pedagogos que possibilitem ao coletivo escolar a
compreensão de que o fazer pedagógico determina a sala de aula e a ultrapassa.
Portanto, o pedagogo configura-se como essencial na busca de organizar a escola de
forma a constituir-se efetivamente em um espaço de socialização do saber, riqueza
social produzida pelos seres humanos como uma possibilidade na luta para a
emancipação intelectual dos sujeitos que a integram.
A profissão do pedagogo é histórica na medida em que responde a necessidades
historicamente postas. É na trama do real, do concreto das atividades humanas que
será possível ir se identificando a legitimidade da profissão e em que e como precisam
ser modificadas.
Este trabalho foi elaborado com o objetivo de discutir em que medida o
pedagogo pode contribuir para a organização do trabalho escolar. Respaldou-se em
uma pesquisa realizada sobre a prática cotidiana do pedagogo na escola pública,
trabalhada nos pressupostos da teoria pedagógica histórica - critica que revelou a
necessidade de reorganizar o cotidiano escolar, redefinindo o papel do pedagogo. O
tema proposto revela as suas contradições, a partir das quais se devem encontrar
soluções que permitam ao pedagogo interferir para a modificação da estrutura de sua
prática cotidiana.
É importante notar, que o saber do pedagogo, é um saber plural, pois sua prática
integra diversos saberes com os quais mantém diferentes relações, e se complementa
numa relação de interdependência com profissionais de diferentes áreas, os quais
atuam com o mesmo objetivo final. Uma prática que deve ser traduzida em orientações
que assegurem e contribuam para o desenvolvimento das atividades cotidianas, em
suas várias modalidades e manifestações, tendo como foco os sujeitos que dão vida ao
currículo e à escola.
Assim, o conhecimento se efetiva a partir de uma análise da totalidade, por meio
de um planejamento. Nesse sentido, a atuação do pedagogo faz-se necessária na
orientação, na integração e mediação junto aos professores no aprimoramento do seu
desempenho na sala de aula com métodos, conteúdos, técnica e formas de
organização do trabalho escolar para a análise e compreensão das diversas situações
que aparecem no contexto escolar.
17. Os
pedagogos
subsidiam
o
aprimoramento
teórico-metodológico
dos
professores, promovem estudos e diálogo sobre suas experiências, debates e práticas,
assegurando a realização de todas as atividades que lhe competem. A manutenção
dessas discussões é a base para o desenvolvimento um processo educacional de
qualidade. Para que o pedagogo possa ampliar suas atividades de forma plena e
satisfatória são necessárias condições que lhe possibilitem, apoiado em um referencial
teórico, delimitar o seu espaço de atuação, comprometendo os profissionais a serem
atendidos.
Descreveu-se o processo que envolveu as discussões sobre os limites,
possibilidades e consequências, de retomar o papel do pedagogo, reorganizando os
profissionais de educação da escola para que juntos, dessem respostas a um ensino e
qualidade. Destacou-se que a função da Equipe Pedagógica encontra-se maximizada
no processo educativo, agindo em todos os espaços para a garantia da efetivação de
um projeto de escola que cumprisse com sua função política, pedagógica e social.
Diante das situações vivenciadas constatou-se que a prática não é uma
concretização de receitas, e o ensino oscila entre a rotina e a improvisação, pois os
acontecimentos que constituem o cotidiano escolar não são os mesmos, impedindo a
adoção de fórmulas, entendidas como prescrições que solucionam dificuldades
emergentes. Assim, a busca da resposta pronta para uma situação incerta é ilusória,
pois situações que reúnem tantas especificidades, como ensino e aprendizagem ou
relacionamentos interpessoais, resultam de diferentes atitudes que envolvem
afetividade, valores, que exigem sensibilidade e intuição do pedagogo, para fazer a
leitura precisa do que está ocorrendo no momento.
Entretanto, os acontecimentos que se sucedem diariamente, tendem a ser
resolvidos pela rotina, conjunto de ações interiorizadas pela repetição e guiadas pela
necessidade imediata, o que não constitui um elemento negativo, na prática do
pedagogo, uma vez que é inevitável e contém linhas de ação concretas para
acontecimentos que se repetem.
A questão que se apresenta é quando essa rotina impõe-se em questões
especificas e situações que exigem uma análise mais profunda, correndo o risco de ser
adotada em prejuízo de ações refletidas. É fundamental que o pedagogo supere
18. práticas cotidianas isoladas, sem reflexão e planejamento, muitas vezes circunscritas a
atividades como a reorganização de horários ou o atendimento a salas que estão sem
professores, deixando em último plano o que seria o foco principal do seu trabalho: a
mediação da ação educativa.
Ainda que a “... a unitariedade do trabalho pedagógico de modo geral, e do
trabalho do pedagogo, em particular ... não seja historicamente possível nos espaços
educativos capitalista” (Kuenzer 2002, p. 34) isso não significa ainda a impossibilidade
de um avanço entre teoria e prática. O cotidiano escolar é tão intenso que para não
engolir o pedagogo precisa ser constantemente questionado no coletivo, a luz da
fundamentação teórica. Esse é o grande desafio que o pedagogo enfrenta no exercício
da sua profissão.
Referências
CADEP-Coordenação de apoio a direção e equipe pedagógica. O papel do pedagogo
na escola pública. SEED_PARANÁ. Disponível em: Http//Www8.Pr.Gov.Br. Acesso
em 18 de março de 2010.
FEIGES, M.M.F. Educação, pedagogos e pedagogia; questões conceituais.
Disponível em:
<Http://Www.Diaadiaeducacao.Pr.Gov.Br/Portals/Portal/Cadep/>.
(Acesso
em
29/06/2009.)
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á Pedagogia. São
Paulo: Paz E Terra, 1996.
_____________ Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz E Terra, 2005.
GADOTTI, M. Pedagogia da Práxis. Sâo Paulo: Cortez, 2004.
KUENZER, A. Z. Ensino Médio; uma proposta para os que vivem do trabalho. São
Paulo: Cortez, 2000.
____________. Trabalho pedagógico: da fragmentação à unitariedade possível. In
Para onde vão a orientação e a supervisão escolar? Campinas, SP : Papirus, 2002
LIBÂNEO. José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2004.
19. PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre Educação. São Paulo: Xamã, 2001.
_________________ . A qualidade de ensino; contribuição dos pais. São Paulo:
Xamã, 2000.
_________________ . Reprovação escolar; renuncia à Educação. São Paulo: Xamã,
2001.
_________________ . Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática,
2005.
PRAIS, Maria de Lourdes Melo. Administração colegiada da escola pública. 3ª
Edição. Campinas: Papirus, 1994.
PIMENTA, Selma Garrido. O Pedagogo na escola pública; uma proposta de atuação
a partir da analise critica da Orientação Educacional. São Paulo: Loyola, 2002.
SAVIANI, Demerval. Sentido da Pedagogia e o papel do pedagogo. In: Revista
ANDE, São Paulo, Nº 9, 1985.
________________. Pedagogia Histórico-Crítica; primeiras aproximações. Autores
Associados, 1990.
________________. História das idéias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores
Associados, 2007.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Currículo Básico do Estado do Paraná.
Paraná: 1990.
_______________. Edital de concurso para pedagogos no 10/2007. Paraná, 2007.
SZYMANSKI Maria.Lidia Sica e SCHUH, Itagira Vigo. Fatores que dificultam a ação do
Pedagogo na concretização do currículo escolar. In Anais do II Simpósio Nacional de
Educação. UNIOESTE: Cascavel, 2010.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org). Projeto Político Pedagógico da escola; uma
construção possível. Campinas: Papirus, 1995.