O documento descreve as diferentes tradições da Semana Santa em áreas rurais e urbanas no Brasil. Na zona rural de Venha Ver, as pessoas seguem rituais como a bênção de ramos e a troca de presentes. Já na cidade das Rocas, a Sexta-feira da Paixão é mais um dia de descanso, embora persistam tradições como a "esmola". O elemento central é a queima do boneco do Judas, que envolve toda a comunidade e marca o fim do período religioso com uma grande festa.
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Diferentes modos de se viver a paixão
1. DIFERENTES MODOS DE SE
VIVER A PAIXÃO: A SEMANA
SANTA NA CIDADE E NO
CAMPO
Docente
Andreia Regina Moura Mendes
andreia.mendez2@gmail.com
2. A Semana Santa
A Semana Santa, período que marca simbolicamente a imolação, sacrifício e
ressurreição de Jesus de Nazaré para a crença cristã é uma festa móvel
intimamente relacionada ao Carnaval, de modo geral, a Páscoa é
comemorada quarenta e nove dias depois do Domingo de carnaval. O
Domingo de Ramos é uma data muito importante, pois inicia as celebrações
da Semana Santa ocorrendo sete dias antes do Domingo de Páscoa. Outro
dia importante neste ciclo é a Sexta-feira Santa, que acontece dois dias
antes da comemoração da Páscoa.
A Páscoa cristã tem duas raízes, uma pagã e outra judaica. Entre os
pagãos, era uma comemoração da primavera e seus cultos e ritos estavam
associados aos ciclos lunares e solares. Como festa da primavera celebrava
a entrada de um ano novo e assim foi mantido pela cultura judaica e pelos
primeiros cristãos. Na Páscoa, os judeus também celebram o Êxodo - fuga
do Egito liderada por Moisés.
O Domingo de Ramos celebra a entrada de Jesus em Jerusalém. O povo o
recebeu acenando com ramos verdes e folhagens, sendo esta a origem
para a benção dos ramos no domingo que abre a Semana Santa.
3. Venha Ver e a Semana Santa
Em Venha Ver os ritos da Semana Santa são vivenciados de forma
coletiva e suas práticas usuais são respeitadas e partilhadas pelas
diferentes faixas etárias da população. Podemos observar muitas
práticas relevantes da Semana Santa, tais como a confecção de
uma cruz de palha no Domingo de Ramos, que é benta pelo padre
local. Retornando para casa, após a missa, as folhas e palhas
abençoadas são entrelaçadas no formato de uma cruz latina que é
fixada na porta de entrada (no caso, de Capim Santo), guardada
para a realização de chás curativos. A população local credita
diversos poderes a esta cruz de palha e confia que a mesma possa
livrar a família e a casa de doenças, mau-olhado, ventos fortes e
tempestades lhe atribuindo méritos e qualidades, já que a cruz seria
portadora de energia benéfica e protetora
4. A quinta-feira que antecede o Domingo de Páscoa é marcada pela visitação
entre vizinhos, parentes e afilhados portando e oferecendo alimentos in
natura - geralmente os frutos da colheita de suas roças e sítios. Esta
instituição é conhecida por “esmola” e implica necessariamente numa
reciprocidade imediata, o que fortalece os laços de solidariedade e as
alianças entre as famílias locais, - e nos remete à teoria da dádiva de
Marcel Mauss (1950) .
A Sexta-feira Santa foi o dia de um jejum maior, diferente dos praticados
em outras datas. A abstinência de açúcar e de carne vermelha foi
severamente observada e os incautos ameaçados pelos mais velhos com as
penas do purgatório.
Na manhã do Sábado de Aleluia nos deparamos com os primeiros cortejos
de malhadores de Judas. Naquela cidade, os bonecos do Judas eram
confeccionados pelas crianças e adolescentes do sexo masculino e, em
seguida, levados em cortejo pelas ruas e sítios mais distantes. Todos os
adolescentes e crianças portavam máscaras de tecido ou borracha e
disfarçavam as vozes. A malhação estava marcada para a meia-noite.
6. A Semana Santa nas Rocas
A Sexta-feira de Paixão nas Rocas demonstra pouco do sentido
religioso já observado no campo – Venha Ver. Comum ver grupos
de pessoas, na maioria homens, sentados nas calçadas ou diante de
bares, conversando e tomando vinho. Na observação do mesmo
fenômeno no interior, percebemos que todo e qualquer
estabelecimento comercial encontrava-se fechado, inclusive sendo
interdita a venda neste dia. Entretanto, nas Rocas, o dia de feriado
se caracteriza como uma pausa para o descanso e encontro dos
conhecidos. Naquele dia a Igreja Católica do bairro das Rocas (A
Sagrada Família), encontrava-se com suas portas fechadas .
Segundo os relatos também persiste a instituição da “esmola da
Semana Santa”, quando pessoas carentes visitam as casas pedindo
algum auxílio ou alimento em memória da piedade de Jesus Cristo.
No caso das Rocas as pessoas viriam de outros bairros populares
pedindo a “esmolinha. Neste caso, não há a obrigação da
reciprocidade, o que difere do observado no interior. Outras práticas
cristãs da Semana Santa permanecem, como por exemplo o
respeito pela interdição da carne vermelha.
7. A festa como sentido da Semana
Santa
A Malhação do Judas e a festa que sucede o ritual é o
aspecto mais emblemático da Semana Santa nas Rocas.
Desde a seleção e coleta de materiais, até a confecção e
imolação do Judas, a malhação envolve todas as faixas
etárias e empresta o sentido religioso ao período.
Diferentemente do observado em Venha Ver, todos
participam do ritual e colaboram para que o rito se
processe. Nas Rocas, é o Judas que personifica as forças
em conflito neste tempo religioso, sendo sua destruição
o motivo para a sociabilidade e celebração na forma de
uma grande festa.