SlideShare a Scribd company logo
1 of 71
Demetrio Alexandre Guimarães
RUDAMON
Rio Claro-2013
Copyright © 2013 por Demetrio Alexandre Guimarães
Rudamon - O Novo Herói
Demetrio Alexandre Guimarães
Publicação Eletrônica –Julho de 2013
Coordenação Editorial
Demetrio Alexandre Guimarães
2ª edição
Revisão
Demetrio Alexandre Guimarães
Projeto gráfico e capa:
Demetrio Alexandre
Guimarães
ISBN – 978-85-920620-1-9
CIP – (Cataloguing-in-Publication) – Brasil – Catalogação na Publicação
Ficha Catalográfica feita na 1ª edição, pela Editora Livre Expressão
Guimarães, Demetrio Alexandre – 1975
G611r Rudamon / Demetrio Alexandre Guimarães ; [ capa
Demetrio Alexandre Guimarães ; projeto gráfico Demetrio Alexandre Guimarães– 2 ed. Rio
Claro-2013 Título Original: Rudamon: O Novo Herói-2008
139 p. : A4 (broch.)
ISBN 978-85-920620-1-9
1. Literatura Infanto-Juvenil. 2. Egito antigo. 3. Ficção.
4. Egito. 5. Herói Mitológico I. Título.
CDU 82-3 CDU 82-3
93282.93
620
291213
Índice para catálogo sistemático
1. Literatura Infanto-Juvenil – 82-3
2. Egito antigo – 932
3. Ficção – 82-3
4. Literatura Infanto-Juvenil – 82.93
5. Egito – 620
6. Herói Mitológico – 291213
Dedicatória
Dedico esse livro a todos aqueles que, de certa forma,
são heróis...
Aos policiais que prendem os bandidos...
Aos bombeiros que salvam as pessoas dos perigos...
Às pessoas que ajudam instituições de caridade...
Aos médicos e enfermeiros que curam e salvam a vida
das pessoas...
Aos grandes avatares que existiram na humanidade, deixando
os seus ensinamentos que proporcionaram a evolução
da consciência humana...
Às pessoas que conseguem levar a vida, mesmo que as
dificuldades pareçam ser mais fortes...
Às ONG’s que trabalham para ajudar e melhorar a vida
de centenas de pessoas...
Aos voluntários que sacrificam um dia da própria felici-
dade, só para confortar e ajudar os seus semelhantes...
Aos poucos políticos que conseguem ou tentam ser honestos,
mesmo que as circunstâncias sejam desfavoráveis...
Aos profissionais que tentam fazer o seu melhor, não se
importando com a quantia que recebem...
Às pessoas que escolhem fazer o bem, mesmo que o mal
pareça ser a melhor opção...
Aos professores comprometidos que ao ensinarem seus alunos de
modo correto, tornam-se verdadeiros heróis para a sociedade...
A Jesus Cristo, o maior herói de todos!
Dedico esse livro a todas as pessoas que fazem ou
fizeram parte de minha vida!
Dedico esse livro a todos os meus alunos e ex-alunos (Vocês são
muito queridos)!
Dedico esse livro a todos os meus amigos, familiares e colegas de
trabalho, especialmente aos meus pais (A.P), (W.A.G.P), minha
irmã de Jundiaí (A.B.S) e meus irmãos de Rio Claro (A.G.P) e
(D.G.P).
Dedico esse livro à pessoa que eu mais amo nesse mundo!
Minha namorada (C.A.S).
Sumário
Notas do Autor, 9
Prefácio, 11
Um Mito Dentro do Mito, 13
O Egito que a História Desconhece, 17
A Lenda de Disebek, 21
Osorkon: Um Especialista em Escorpiões, 26
Os Escorpiões Sobrenaturais , 31
A Ordem Secreta dos Waja-Hur, 37
Estranhos Acontecimentos, 49
Osorkon Conhece Freda, 55
Osorkon tem Superpoderes, 60
A Leitura do Manuscrito, 67
Rudamon: O Novo Herói, 73
As Primeiras Missões de Rudamon, 83
O Crime Organizado Gera o Caos, 104
A Maldade Sobrenatural, 117
O Confronto, 125
A História Está Apenas Começando..., 139
7
Notas do Autor
Caro (a) leitor (a):
Seja muito bem-vindo (a)! Se você está aqui agora, é porque de
algum modo ficou interessado no meu trabalho. Eu quero agradecer
de coração por você estar lendo o que eu escrevi.
Eu gosto de escrever por hobby, e quero dividir com você o prazer
que eu tive ao fazer esse trabalho.
Essa é a segunda edição do primeiro livro que eu escrevi, intitulado
“Rudamon: O Novo Herói”, publicado pela editora Livre Expressão
no ano de 2008.
A primeira edição teve uma tiragem de mil exemplares, das quais
metade foi vendida para cobrir o empréstimo feito para a
publicação, a outra metade foi doada para algumas pessoas,
instituições de caridade e para um projeto social da prefeitura da
cidade de Rio Claro, com o objetivo de estimular os jovens a ler.
Esse ano eu resolvi retomar o meu trabalho. Eu fiz a revisão do livro
RUDAMON II (que já estava escrito desde 2008) e publiquei agora
em 2013. Aproveitando o gancho eu resolvi fazer a 2ª edição do
meu primeiro trabalho.
Esse livro que você tem agora em mãos, mudou o seu título original
“Rudamon: O Novo Herói”, para apenas “Rudamon”.
Eu optei por não mexer nos textos e nem na estrutura da primeira
história. Alguns detalhes que ficaram faltando, bem como coisas
que precisavam ser melhoradas no meu estilo de escrever, eu
preferi deixar para o livro Rudamon II.
Eu decidi não mexer na história, até por uma questão de respeitar a
mim mesmo, e tudo o que eu pensava na época em que meu
primeiro trabalho foi publicado. Na verdade, eu não quis tirar o
caráter original da primeira publicação.
Eu também fiz uma alteração na capa. Embora ela esteja mais
simples, está dentro da idéia que eu quero passar aos leitores.
Eu adoro o universo dos super heróis. Eu gosto de criar
personagens dentro desse tema e dar vida aos mesmos através da
literatura. Inicialmente, eu tive vontade de fazer um projeto para
colocar meus personagens em HQs, mas abandonei a idéia por
diversos motivos.
Sou um autor independente. Faço tudo sozinho, inclusive as
revisões. Eu me considero um escritor amador, que está
começando. Por isso, eu peço desculpas caso o leitor encontre
algum erro gramatical ou ortográfico. Como eu disse anteriormente,
eu escrevo por hobby, apenas para me divertir. No entanto, eu
tenho estudado e tentado aprimorar o meu trabalho (talvez o leitor
perceba meu esforço após ler Rudamon II).
Ao entrar nesse maravilhoso universo da literatura, eu percebi o
quanto tudo sempre pode ser melhorado. Eu aprendi a ser mais
humilde, mais autocrítico, e acima de tudo ser mais guerreiro.
Eu preciso deixar um registro muito importante. Existe uma pessoa
muito especial... Um ser lindo, maravilhoso, que eu amo muito!
Trata-se da minha namorada (C.A.S).
Se esse livro está em suas mãos nesse momento, é graças a ela.
Se o Rudamon II saiu, também é graças a ela!
Esse anjo que surgiu em minha vida me encorajou a retomar meus
trabalhos literários, e acima de tudo, me mostrou o que é o
verdadeiro amor.
(C.A.S ) Eu te amo!!!
10
Prefácio
Osorkon levava uma vida dedicada à ciência. Biólogo e especialista
em escorpiões dedicou muitos anos de sua vida ao estudo de
antídotos contra o veneno desses aracnídeos.
Após divulgar seu grande invento ao mundo, Osorkon recebeu um
misterioso contato do Egito, atraindo-o para pesquisar uma espécie
de escorpiões nunca vista antes. Ao chegar à terra dos faraós, o
personagem percebe tarde demais, que foi atraído para uma
armadilha. Após ser atacado por doze escorpiões sobrenaturais no
deserto egípcio, Osorkon passa a adquirir super poderes oriundos
dos deuses do Egito Antigo.
Cético e totalmente incrédulo, Osorkon inicialmente não acredita
que aquilo está acontecendo com ele, e demora a aceitar a missão
ao qual foi incumbido. Após uma série de “coincidências” e fatos
constatados, Osorkon fica convencido de que o sobrenatural existe
mesmo. Agora ele não teria mais como escapar do legado que
deixaria para a humanidade. Sua missão foi revelada pelos
manuscritos secretos da OSWH (Ordem Secreta dos Waja Hur),
uma antiga escola de mistérios do Egito, que lhe entregaria a
máscara de Osíris, revelando-lhe a missão à qual estava
predestinado. Osorkon tinha a missão de salvar a humanidade...
Osorkon tinha que ser um herói... Osorkon se tornaria Rudamon!
11
Apóphis- Personagem da mitologia Egípicia.
Capítulo 1
Um Mito Dentro do Mito
N
os tempos antigos, um pouco antes de surgir vida huma-
na no planeta Terra, o deus Rá conseguiu prever que os
seres humanos viveriam em total estado de barbárie. Pre-
ocupado com este fato, esta divindade convocou os deuses
elementais para uma assembléia, a fim de decidir que um
semideus seria criado com o propósito de preparar o mundo
para a vinda da humanidade. Os deuses batizaram-no Disebek.
A missão deste semideus seria conduzir os primeiros homens a
um rápido processo civilizatório. Os poderes especiais que lhe
foram conferidos permitiriam a ele total êxito nessa missão. Rá
queria que o planeta vivenciasse um Período de Ouro, desde o
início. Ele só não conseguiu prever que algo muito ruim iria
acontecer... Disebek aliou-se ao mal e traiu a confiança dos
deuses. O semideus teve de ser punido antes que os humanos
chegassem ao planeta.
Rá precisou pensar numa nova solução. Enquanto ele
planejava o que fazer, os humanos começaram a viver na Ter-
ra. A Era de Ouro da civilização foi atrasada e os homens vivi-
am praticamente como animais. A situação estava insustentá-
vel. Em assembléia extraordinária, os deuses decidiram enviar
Osíris para civilizar os homens, começando pelo Egito. Esse
deus ensinou os humanos a cultivar, trabalhando com o arado
e a enxada. Os velhos hábitos irracionais foram sendo abando-
13
Rudamon - O Novo Héroi
nados. Graças à primeira etapa desse trabalho, a região se tor-
nou próspera. A humanidade também aprendeu a fundir
metais para a construção de armas e ferramentas. Depois que
conseguiu grande êxito no Egito, Osíris decidiu levar a sua luz
para o resto do mundo. Para ajudá-lo, convocou os deuses
Anúbis e Thot, partindo em uma expedição que disseminou o
conhecimento egípcio por todo o planeta. A empreitada teve
grande êxito...
O sucesso de Osíris despertou a inveja de seu irmão, o
deus Seth. O mesmo tramou a morte de Osíris, elaborando
um plano pérfido, enquanto este cumpria a sua missão na Terra.
Quando Osíris voltou da expedição, o irmão fez questão
de recepcioná-lo “amigavelmente”. Esta recepção fazia parte
de uma cruel trama premeditada. Uma linda festa foi prepa-
rada. Uma grande urna foi construída, para fazer uma “pe-
quena brincadeira” com Osíris. Na verdade, a brincadeira era
uma armadilha... Osíris foi colocado dentro da urna, e esta foi
lançada ao rio Nilo. Pelos planos de Seth, não bastava o irmão
estar morto. Sua alma deveria vagar sem rumo, pois o seu cor-
po não fora mumificado. Seth queria impedir que Osíris che-
gasse à Mansão dos Mortos, e lá fosse soberano. Depois que
matou o irmão, Seth assumiu o trono do Egito. Ísis, a esposa
de Osíris, descobriu a maldade de Seth, e saiu em busca do
esposo. A deusa percorreu todo o Egito com o auxílio dos deu-
ses Thot e Anúbis. Após muitas aventuras e infortúnios, Ísis
decidiu seguir a voz de seu coração... Separou-se dos deuses e
partiu sozinha para a Fenícia. Sua intuição estava certa... Na-
quele país, conseguiu encontrar a urna onde estava o cadáver
de seu amado esposo, escondendo a mesma nos pântanos de
Buto, a fim de reencontrar Thot e Anúbis. Este último deveria
fazer os ritos de embalsamamento para que Osíris remanescesse
na eternidade e gerasse um filho com a deusa. Enquanto Ísis
procurava os amigos, um espião de Seth encontrou a urna. O
14 Um Mito Dentro do Mito
Demetrio Alexandre Guimarães
maléfico deus cortou o corpo de Osíris em quatorze pedaços,
espalhando-os pelo Egito. Néftis, esposa de Seth, ficou saben-
do da história e ficou ao lado de Ísis. Esta deusa ajudou a equi-
pe a procurar os pedaços de Osíris. Anúbis farejou cada um
dos pedaços, um por um, encontrando apenas treze, o sufici-
ente para embalsamar Osíris com dignidade. Depois que o
deus foi reconstituído, ressuscitou para fazer amor com Ísis,
engravidando-a. Depois disso, Osíris se tornou o senhor abso-
luto dos mortos. Ísis deu à luz ao deus Hórus, que, posterior-
mente, fez o seu tio Seth perder o trono do Egito, após uma
sangrenta batalha que durou oitenta anos. Para que essa bata-
lha não ficasse eterna, e mais sangue fosse derramado, os deu-
ses decidiram nomear Seth “soberano nas alturas”. Este ficaria
na proa da barca do supremo deus Rá, como o senhor dos
raios e das tempestades. Alguns deuses foram enviados à Terra
como faraós, para reconstruírem os estragos causados pela lon-
ga e interminável guerra.
Após um longo período de paz, a maléfica serpente
Apóphis, o demônio que liderava todos os demônios, decidiu
instalar o mal entre os humanos... A serpente que habitava o
além-túmulo tinha a intenção de destruir tudo o que havia
sido criado por Rá. A fim de conseguir o seu objetivo, Apóphis
espalhou a crueldade, o egoísmo e a violência entre os homens.
Os seres humanos começaram a destruir uns aos outros. Rá, o
supremo, ficou preocupado com o estado de degradação em
que a humanidade passou a viver, e atribuiu uma nova função
ao deus Osíris. Este deveria levar o ouro dos deuses até o Sol, e
construir a máscara faraônica de Rudamon, que transforma-
ria, em herói, o ser humano que tivesse o coração mais puro.
Esse ser humano seria o escolhido de Rá e deveria receber os
poderes de Disebek antes de colocar a máscara, a qual tam-
bém conferiria poderes extras, de acordo com a personalidade
de quem a utilizasse. Quando Seth descobriu que o irmão re-
Um Mito Dentro do Mito 15
Rudamon - O Novo Héroi
ceberia uma missão tão importante, ficou enfurecido... O
maléfico deus dirigiu-se a Rá, exigindo-lhe assumir o posto de
“senhor supremo dos mortos”, enquanto seu irmão Osíris não
regressasse da nova missão. O seu pedido foi negado. Revolta-
do com a decisão de Rá, Seth elaborou outro plano
maquiavélico: quando a barca de Rá penetrou nas trevas e na
desolação das cavernas do Ocidente, o malvado deus, que ti-
nha a missão de manter o equilíbrio da mesma, pulou, e aban-
donou os deuses, passando a habitar as trevas. Seth fez um
pacto com Apóphis... A serpente demoníaca conferiu-lhe po-
deres extras, estabelecendo a condição de que o deus passasse
a servir ao mal por toda a eternidade. Desde então, Seth ficou
incumbido de destruir a harmonia do mundo criado por Rá.
16 Um Mito Dentro do Mito
Capítulo 2
O Egito que a
História Desconhece
S
egundo os livros de história, nos primeiros tempos do Egito,
vários grupos humanos se estabeleceram em aldeias agrí-
colas, às margens do Nilo. Esses grupos tiveram líderes am-
biciosos e inteligentes, que os unificaram. Essa unificação for-
mou províncias denominadas nomos. Estes, por sua vez, eram
governados pelos nomarcas. Posteriormente, os nomos se uni-
ram, dando origem aos reinos do norte e do sul. Por volta do
ano de 2850 a.C., Menés unificou os dois reinos. A partir daí,
começou o período histórico denominado Antigo Império. Os
historiadores dividiram a história do Egito em quatro perío-
dos: Antigo Império; Médio Império; Novo Império e Baixo
Império. Esses períodos foram antecedidos pelo período Pré-
Dinástico.
Um fato que todos desconhecem é que existiu um perío-
do muito anterior aos primeiros tempos. A história desse perí-
odo teve de ficar protegida pela escola de mistérios OSWH
(Ordem Secreta dos Waja-Hur). Essa escola ficava sob as arei-
as do deserto, em uma pirâmide de ouro secreta, localizada a
oeste de Crocodilópolis.
Por volta do ano de 4200 a.C., a civilização egípcia exis-
tia há um milênio, e estava em seu auge. Sua sociedade possuía
17
Rudamon - O Novo Héroi
uma tecnologia que ninguém nunca imaginou. Segundo os
manuscritos secretos, nos primórdios dessa civilização, os pró-
prios deuses foram faraós. Depois que esses faraós ensinaram
toda sua sabedoria aos seres humanos que habitavam nas mar-
gens do Nilo, passaram os seus cargos aos homens mais dignos
de recebê-los.
Naqueles tempos, quase toda a vida dos egípcios se con-
centrava nas proximidades do lago Méris. Naquele local, situ-
avam-se as mais belas pirâmides, todas construídas com o ouro
mais puro que havia no Egito. As pirâmides não tinham a fina-
lidade de sarcófagos, e eram feitas para adorar os deuses. Aliás,
quase toda a arquitetura daquela época havia sido construída
em ouro. Somente as moradias dos servos eram feitas de quart-
zo, granito e basalto, extraídos da região de Assuã. A sociedade
era a mais organizada e evoluída do planeta. As moedas de
troca eram pedras de esmeralda, ametistas, turquesas e safiras.
Qualquer ser humano tinha o direito de ser mumificado dig-
namente após a sua morte, independentemente de ser bom
ou mau, rico ou pobre. A diferença de classe era indicada pelo
local das catacumbas, e pela cor do tecido utilizado no proces-
so de mumificação. Os faraós e os sacerdotes eram mumifica-
dos com tecidos de cor dourada, e colocados nas catacumbas
situadas sob as areias próximas ao lago Méris, no deserto Líbico,
a oeste do Nilo. Os militares e os escribas eram mumificados
com tecidos amarelos, e colocados nas catacumbas situadas sob
as areias de Heracleópolis, também localizadas no deserto
Líbico. Os artesãos e comerciantes eram mumificados na cor
cinza, e suas catacumbas situavam-se sob as areias de Hardai,
no deserto Arábico, à leste do Nilo. Os servos e escravos eram
mumificados com tecido branco, e colocados nas catacumbas
também situadas em Hardai. Essas catacumbas se localizavam
a alguns quilômetros de distância, à leste dos sarcófagos dos
artesãos e comerciantes. As catacumbas dos criminosos locali-
zavam-se a milhares de quilômetros, sob as areias de Ombos.
18 Um Mito Dentro do Mito
Demetrio Alexandre Guimarães
Os malfeitores eram mumificados com cores diferentes, de-
pois que cumprissem a sua pena de morte, pelos escorpiões do
deserto. As cores utilizadas nos tecidos eram de acordo com o
crime cometido. Assim sendo: os incendiários, os estupradores
e os agiotas eram mumificados na cor vermelha; os que come-
tiam o latrocínio, na cor roxa; os psicopatas, na cor azul; os
charlatões, traidores do faraó (que cometiam graves traições) e
os falsos profetas, na cor verde; os feiticeiros do mal, na cor
preta. Os ladrões não eram condenados à morte, mas tinham
suas mãos amputadas.
Os deuses que tinham previsto dois ataques dos hicsos
deixaram suas previsões registradas em dois pergaminhos de
ouro, com uma criptografia que era usada naquela época. O
pergaminho que alertava sobre o primeiro ataque não ficou
conhecido pela história, e foi protegido pela OSWH. O outro
pergaminho ficou perdido, e ninguém nunca soube de seu
paradeiro. O segundo ataque, que todos conhecem, aconte-
ceu na época do Médio Império, quando os hicsos venceram e
dominaram o território egípcio por um século. Os egípcios
foram derrotados porque os invasores utilizaram cavalos e car-
ros de guerra, algo que era desconhecido no Egito daquele
período. Os hicsos não tiveram a mesma sorte quando fizeram
o primeiro ataque no ano 3500 a.C. Naqueles tempos, devido
ao alerta dos deuses, os egípcios se prepararam para a guerra
mais fantástica que existiu no mundo. O Egito tinha o exército
mais preparado e bem equipado do planeta. Os soldados eram
bem treinados, e todas as suas armas eram feitas de ouro. O
seu exército possuía o seguinte arsenal: arcos e flechas; escu-
dos; lanças; machados; catapultas e espadas. Além das armas,
os egípcios contavam com gigantescos chacais, cães e crocodi-
los adestrados para a guerra. O exército hicso foi dizimado. Os
sobreviventes se tornaram escravos, ao lado dos servos que ha-
viam cometido traições leves contra o império. Os anos se pas-
O Egito que a História Desconhece 19
Rudamon - O Novo Héroi
saram e o país viveu outro longo período de paz. Inconformada
com toda aquela calmaria, Apóphis enviou Seth ao Egito para
promover o mal e a destruição. Era o ano de 3400 a.C. A
corrupção e a violência passaram a dominar o povo. O caos
tomou conta de toda a sociedade. Rá enviou, ao planeta, o
único ser humano que seria digno de ser um Rudamon: Jarha.
O eleito do deus Supremo nasceu filho de escravos, e, devido
à sua lealdade, se tornou um soldado do faraó. Após ser con-
denado à morte injustamente, Jarha adquiriu superpoderes e
se transformou em Rudamon. O herói cumpriu bem a sua
missão, e estava conseguindo colocar ordem naquele caos. Seth
ressuscitou terríveis múmias de criminosos, conferindo-lhes
poderes sobrenaturais. Elas conseguiram destruir Rudamon.
Os deuses ficaram furiosos. Rá enviou Osíris ao planeta para
retirar a força vital que animava as múmias, colocando-as de
volta nos sarcófagos. Depois de muito tempo, as pessoas volta-
ram a praticar a corrupção e a maldade, através da maléfica
influência de Apóphis. O povo egípcio foi punido, e tudo o
que havia construído desapareceu. Toda população perdeu a
memória, exceto os homens de bom coração. Enquanto a mai-
oria das pessoas voltava à barbárie, Waja-Hur, o mais sábio dos
egípcios que foram poupados, recebeu de Osíris a missão de
cuidar de uma pirâmide de ouro secreta, onde deveria reunir
os bons homens que restaram e fundar uma escola de mistéri-
os. Estes homens mantiveram os conhecimentos perdidos atra-
vés de rituais iniciáticos que eram feitos secretamente. Quan-
do os hieróglifos foram inventados, e os papiros passaram a ser
utilizados, a história desconhecida passou a ser registrada em
manuscritos. No entanto, os manuscritos, sem os rituais, não
seriam completos. Somente um autêntico membro da OSWH
poderia decifrá-los.
20 O Egito que a História Desconhece
Capítulo 3
A Lenda de Disebek
Q
uando os deuses foram criados, uma antiga lenda ficou
guardada. A mesma conta que um semideus foi criado
especialmente para habitar o planeta Terra e governar a
futura humanidade que estava por vir, segundo a vontade da
corte dos deuses. Este ser chamava-se Disebek e era metade
homem, metade escorpião. Seu lado humano constituía-se de
braços, pernas e tronco. A parte de cima de seu tórax, bem
como suas costas, que tinham um enorme aguilhão, pertenci-
am ao seu lado aracnídeo e eram de cor preta. Sua metade
escorpião também possuía quatro pares de patas e duas pinças
gigantescas. Disebek
tinha três metros de
altura e era dotado
de poderes especiais.
Esses poderes lhe
foram conferidos por três
deuses elementais.
O deus do elemento
terra, Genubath, concedeu-
lhe o poder material e físico.
Genubath possuía dez metros
de altura e pesava oito
toneladas. O seu corpo
21
Rudamon - O Novo Héroi
assemelhava-se ao corpo de um rinoceronte, e constituía-se de
elementos vegetais e minerais. Sua cabeça era humana e
ostentava uma gigantesca coroa faraônica de ouro. Seus olhos
eram marrons. Fisicamente, era o maior e o mais forte entre os
deuses elementais. Ele habitava o centro da Terra. Tinha o poder
de sustentar e regenerar a vida, reconstituindo e criando os
minerais necessários para a manifestação do espírito na matéria.
Tinha força para criar e, também,
destruir, se necessário fosse, todas as
coisas que faziam parte da matéria.
Menhet, a deusa das águas, concedeu a
Disebek o poder das emoções e da
sociabilidade. Essa deusa tinha o corpo
fluido e azul, e seus olhos eram amarelos.
Habitava as partículas de água do planeta e
podia voar. Usava uma coroa de rainha egípcia
de cor azul-escura, que tinha um véu
roxo. Suas mãos emanavam a água sa-
grada primordial, que era o único ele-
mento que podia destruir o fogo sagrado criado pelos deuses.
Sua função era a de controlar as emoções de todos os
seres.
Ankhef, o deus do ar, tinha uma parte de seu
corpo na forma humana, com cabeça, tronco e braços
azul-escuros. Sua constituição física era etérea, sendo o
mais leve dos seres. Usava uma coroa faraônica violeta,
mesma cor de seus olhos, sobrancelhas e boca. Suas
mãos emanavam tufões com poderes
oriundos do ar primordial. Ele insuflava
o poder do espírito no planeta,
controlando as forças sobrenaturais
e espirituais de todo o universo.
Ankhef habitava toda a atmosfera.
22 A Lenda de Disebek
Demetrio Alexandre Guimarães
Suas mãos emanavam o ar primordial que insuflava o poder
do espírito nos seres, e operava as forças sobrenaturais. Este
poder foi insuflado em Disebek.
Siamun, o deus do fogo, tinha o poder de conferir inte-
ligência e raciocínio aos seres vivos. Esse deus habitava as lavas
dos vulcões. Com cinco metros de altura, tinha o corpo etéreo
e constituído pelas chamas do fogo sagrado. Sua cabeça e seus
braços tinham forma humana, e seus olhos eram vermelhos
como a coroa faraônica que utilizava. Suas mãos emitiam raios
de fogo. Sua principal função era a de controlar todo o fogo
do universo.
Esse deus ficou incumbido de conferir inteligência e ra-
ciocínio a Disebek, assim que o mesmo mostrasse merecimen-
to diante das missões que deveria cumprir no Planeta. Segun-
do a lenda, Disebek teria a sua parte aracnídea destruída pelo
fogo sagrado de Siamun, que lhe colocaria uma cabeça huma-
na logo após a destruição. A partir daí, Disebek seria um deus
completo. Quando isto estava prestes a acontecer, ocorreu algo
que nem os próprios deuses esperavam...
A Serpente Apóphis, que habitava o além-túmulo, e
representava as trevas, procurou Disebek, prometendo-
lhe um poder infinitamente maior ao que o deus do fogo
poderia lhe dar. Após uma série de demonstrações que
convenceram o semideus das vantagens que esse
poder lhe daria, o mesmo aceitou a missão de
aliar-se à maléfica serpente, preparando o pla-
neta Terra para a chegada dos seres do mal.
Ao assistir a fraqueza de Disebek, os deu-
ses elementais fizeram uma assembléia, toman-
do a decisão de punir o traidor. Siamun foi
convocado para ser o seu algoz, desafiando-o
para um duelo. No dia da disputa, convicto
A Lenda de Disebek 23
Rudamon - O Novo Héroi
de sua vitória, Disebek lançou vários raios escuros contra o
deus, que nada sentiu. Este, por sua vez, lançou-lhe rajadas de
fogo que traumatizaram o bizarro monstro, de tal forma que
esse passou a preferir a própria morte, a ter de enfrentar o
fogo novamente. Disebek pediu clemência aos deuses, e eles
aceitaram as suas súplicas, amenizando a sua pena. Ao invés de
lhe tirarem a vida, tiraram-lhe a parte humana. Reduzindo o
seu tamanho pela metade, aprisionaram-no na região desértica,
a milhares de quilômetros de Mênfis. Logo em seguida, criaram
uma fêmea para lhe fazer companhia. O casal de escorpiões
foi colocado dentro de um enorme cubo de ouro, criado pelos
deuses para esta finalidade. Os deuses enterraram esse cubo
pessoalmente, a vinte metros de profundidade sob as areias do
deserto. Doze furos foram feitos no mesmo, para que o casal
pudesse sair pra caçar, e fazer a dança do acasalamento. No
entanto, uma condição foi imposta... Se um dos dois ficasse
por mais de duas horas fora do cubo, teriam de enfrentar o
deus Siamun. Quando suas crias atingissem a idade adulta,
deveriam sair e não retornar mais. Estas perderiam o poder
sobrenatural que havia em seu código genético, e teriam o seu
tamanho reduzido a centímetros. O poder seria substituído
pelo veneno, que lhes auxiliaria nas caçadas e na autodefesa,
tornando-as repugnantes aos olhos humanos. Esta foi uma
maldição que os deuses conferiram à espécie, que deveria ser
amaldiçoada e temida para sempre pela humanidade. Segundo
esta mesma maldição, o medo do fogo deveria fazer parte da
natureza dos escorpiões eternamente, por causa da traição de
Disebek. À medida que as crias saíam do cubo, cada qual ia
para uma região do planeta onde se adaptava e procriava. Assim,
algumas mudaram de cor, de tamanho, de habitat, de veneno,
etc. As mudanças aconteciam conforme as características
climáticas dos locais onde passavam a habitar.
24 A Lenda de Disebek
Demetrio Alexandre Guimarães
Certa vez, a fêmea de Disebek excedeu
o tempo permitido para ficar fora do cubo, e uma nova
punição foi aplicada por Siamun. O deus fez um círculo
de fogo ao redor da mesma, que não suportando o
medo das chamas, enfiou o aguilhão na própria
cabeça e morreu. Com a ajuda dos
outros deuses, Siamun fez um
enorme disco de ouro, que tinha
o poder de emitir as chamas do
fogo sagrado. O disco de ouro só
deixaria de existir se Disebek fosse
morto através dele. Esse objeto
foi colocado posteriormente na
pirâmide dos iniciados Waja-
Hur, que deveriam destruir o
escorpião, se o mesmo saísse do cubo.
Somente um autêntico membro daquela escola secreta saberia
ativar ou desativar as chamas do disco, desde que o mesmo
estivesse dentro da pirâmide. Disebek foi condenado à vida
eterna, tendo que ficar aprisionado para sempre sob as areias
do deserto. Os seus instintos de aracnídeo não foram retirados,
para que o seu caráter fosse colocado à prova. Ele sentiria fome
eterna, e sabia que jamais poderia sair de dentro do cubo, sob
pena de morrer nas chamas do disco de ouro. No entanto,
teve direito à companhia de seis casais da última cria. Os
mesmos deveriam trazer alimento para o pai, e assim que
procriassem, sairiam para o mundo, deixando sempre seis ca-
sais para manter o ciclo. Quatrocentos milhões de anos se pas-
saram, e somente os membros da “Ordem secreta dos Waja-
Hur” conhecem esse segredo.
A Lenda de Disebek 25
Capítulo 4
Osorkon:Um Especialista em
Escorpiões
E
stamos no ano de 2007, às 20:30h do primeiro dia do mês
de outubro. Dr. Osorkon, biólogo especialista em escorpi-
ões, nascido na cidade de São Paulo, e descendente de egíp-
cios, se encontra no ginásio de boxe, como sempre faz às se-
gundas-feiras, esmurrando o saco de pancadas que não parou
da apanhar desde as 20h. Sempre que treinava, um filme de
sua infância lhe passava na mente, e só era interrompido quan-
do alguém lhe chamava...
– “Hora de trocar luvas!” Ordenou o seu treinador.
Osorkon foi ao ringue e praticou mais trinta minutos de pugi-
lismo, que só treinava naquele dia da semana. O fato de trei-
nar boxe somente às segundas-feiras tinha uma explicação: o
cientista praticava Jiu-Jitsu às quartas-feiras, musculação às ter-
ças e quintas, e karatê às sextas-feiras. Aos sábados e domingos,
fazia o seu “Cooper” de uma hora para manter o fôlego. Esta
era a forma que Osorkon encontrava para aliviar o estresse
causado por suas pesquisas e pela culpa que carregava desde a
infância.
Vamos conhecer um pouco a história de Osorkon. O
pesquisador nasceu aos 18 dias do mês de novembro de 1975,
e sempre gostou de ser do signo de Escorpião, embora não
26
Demetrio Alexandre Guimarães
acreditasse muito em Astrologia. Desde pequeno, tinha fascí-
nio por esses aracnídeos, em todos os aspectos. Certa vez, o seu
gato de estimação morreu vítima da aguilhoada de um escor-
pião que escapou de um dos vidros de sua coleção. Mesmo
assim, Osorkon continuava a aprisionar os artrópodes para
observá-los. O terreno baldio ao lado de sua casa facilitava a
sua “pesquisa”, que sempre foi condenada por sua mãe: “Me-
nino! Pare de trazer esses peçonhentos aqui em casa! Isso pode
não acabar bem! Você não viu o que aconteceu com o Félix
quando aquele maldito escorpião escapou?!”. Infelizmente, a
premonição de sua mãe concretizou-se. Certa vez, Osorkon
esqueceu de trancar o seu quarto e sua irmãzinha de três anos
entrou no local sem que ninguém soubesse, abrindo um dos
vidros. A aguilhoada que a pobre criança levou foi fatal. Um
grande pesar tomou conta de sua família, que sempre o cul-
pou pela morte da irmã. A partir daquele dia, ele
jurou que seria um cientista e que criaria um
antídoto de prevenção que tornaria o ser hu-
mano imune à aguilhoada de qualquer
espécie de escorpião do mundo. Aqui-
lo se tornou uma obsessão em sua
vida. A culpa pela morte do gato e
da irmã sempre o atormentou. O
jogo psicológico que sua mãe fa-
zia piorava a situação. Mesmo
assim, sua meta foi atingida.
Naquele dia, no ginásio de boxe, o cientis-
ta estava ansioso... Era véspera da palestra que
faria para divulgar o êxito de sua descoberta
no meio científico.
Osorkon: Um Especialista em Escorpiões 27
O SORKON
Rudamon - O Novo Héroi
Dois de outubro de 2007. O salão de convenções da Universidade
de São Paulo estava lotado. Eram quinhentas pessoas do mundo
acadêmico,vindas de várias partes do Brasil e do mundo. Diversas
equipes de televisão cobririam o evento. Era o grande dia. Com
trinta e um anos de idade, Osorkon tinha de expor longos anos de
pesquisa em tão pouco tempo. Essa importante descoberta se-
ria um marco na história da humanidade. Apesar de nervoso,
Osorkon segurou o microfone e deu início à palestra:
– Boa noite, senhoras e senhores! Considero este dia o
mais importante de minha vida, e da vida de todos os seres
humanos. Ao longo de vários anos, pesquisei as mil e seiscentas
espécies de escorpiões que existem no planeta! Foram bolsas,
patrocínios, e muitas viagens que, às vezes, paguei com meu
próprio dinheiro! Mas valeu a pena... Antes de falar sobre os
antídotos que inventei, falarei um pouco sobre os escorpiões...
Esses aracnídeos existem há quatrocentos milhões de anos. Fo-
ram os primeiros artrópodes a conquistar o ambiente terres-
tre. O seu corpo é dividido em duas partes: o cefalotórax e o
abdômen. Eles possuem quatro pares de pernas e as duas pin-
ças variam de acordo com a espécie. Os escorpiões são vivíparos
e podem trocar de pele até seis vezes, quando atingem a matu-
ridade. Na espécie Tityus Serrulatus, não há macho. Essa espé-
cie de escorpiões amarelos se reproduz por parto gênese. A
gestação da espécie Pandinus, grandes e perigosos escorpiões
africanos, dura nove meses. Os escorpiões costumam habitar
todos os continentes, exceto a Antártida. Podem ser encontra-
dos em desertos, savanas, cerrados, florestas temperadas e tro-
picais. Vinte e cinco espécies podem causar acidentes com
óbitos. Os espécimes dessa categoria de aracnídeos são carní-
voros, e gostam de devorar as suas vítimas ainda vivas. Alimen-
tam-se de algumas espécies de insetos e de vertebrados. A glân-
dula dos escorpiões possui uma pequena quantia de veneno,
que pode ter um grande poder tóxico. A maioria dos ataques
torna-se quase sempre fatal, principalmente em crianças e ido-
28 Osorkon: Um Especialista em Escorpiões
Demetrio Alexandre Guimarães
sos, se não forem socorridos em tempo hábil. A vítima sofre do
seguinte modo: os músculos da pele absorvem o veneno de
forma rápida. Esse veneno é deslocado para o sangue, pul-
mões, rins e sistema nervoso. O envenenamento causa uma
dor local intensa que é irradiada para todo o resto do corpo. O
local que levou a aguilhoada pode ficar inchado e vermelho. A
dor pode fazer a vítima entrar em choque neurogênico, levan-
do-a à morte. A gravidade do envenenamento é relacionada à
quantidade de veneno injetado, e com a proporção da massa
corporal de quem sofreu a aguilhoada.
Quando ocorre o envenenamento por escorpiões do gê-
nero Tityus, costuma-se aplicar o soro antiescorpiônico. Este
soro é uma solução purificada de anticorpos específicos para
esse gênero. Anestésicos locais são aplicados somente nos casos
benignos, quando a dor for suportável. Nesses casos, a
soroterapia costuma ser dispensada somente se a dor desapa-
recer. A soroterapia costuma ser indicada em crianças meno-
res de sete anos e nos idosos. Nos adultos em geral, ela só é
utilizada se o anestésico for ineficaz para controlar a dor. O
soro antiaracnídico polivalente possui anticorpos contra o ve-
neno de escorpiões, e também pode ser utilizado. No entanto,
o seu uso é mais restrito, devido às reações alérgicas e ao cho-
que que pode provocar. Deve ser aplicado rapidamente, por
via endovenosa, somente por profissionais especializados.
Crendices populares e lendas passaram uma idéia de ma-
lignidade sobre o aracnídeo, que, apesar de perigoso, é muito
importante para o equilíbrio ecológico. Por causa disso, nunca
tive a intenção de eliminar essa espécie, embora, uma vez, esse
pensamento já tenha passado em minha mente. Digo isso, pois
quando eu era pequeno, perdi uma irmã e um animal de esti-
mação, vítimas de escorpiões. Não poderei trazê-los de volta
com a minha descoberta, mas poderei evitar que milhares de
pessoas sofram a dor que minha família e eu passamos! Desen-
Osorkon: Um Especialista em Escorpiões 29
Rudamon - O Novo Héroi
volvi dois tipos de antídoto: um é de prevenção, o OSK1. Fun-
ciona como uma vacina e deve ser tomado uma vez por ano.
Ele não evita a dor das aguilhoadas, mas inibe o efeito do ve-
neno de qualquer escorpião existente no planeta. O OSK2 é
um salva-vidas, que deve ser aplicado logo após uma aguilhoa-
da. Ele serve para as pessoas que não tomaram o OSK1, e cura
o efeito do veneno de qualquer espécie. Tanto um, como o
outro, não causam nenhum tipo de reação alérgica ou efeito
colateral. Daqui a três meses, os dois antídotos já estarão à ven-
da em todas as farmácias do mundo. Eu aconselho todas as
pessoas a tomarem o OSK1 a título de prevenção. Para aqueles
que moram em lugares onde o índice de escorpiões é maior,
ou para profissionais, esportistas e aventureiros que freqüentam
áreas de risco, o OSK1 é imprescindível. Lembrem-se de que é
melhor prevenir do que remediar. Obrigado!
Após a enorme salva de palmas e inúmeras entrevistas,
Osorkon foi para casa.
30 Osorkon: Um Especialista em Escorpiões
Capítulo 5
Os Escorpiões Sobrenaturais
O
sorkon era solteiro e morava sozinho. Tinha um enorme
laboratório em casa, com viveiros de várias espécies de
escorpiões. Sempre foi um sujeito cético e só acreditava
naquilo que a ciência podia provar. Dono de um corpo atléti-
co, nunca foi vaidoso para se vestir. Sua habitual vestimenta
era uma camiseta vermelha e uma calça jeans com uma cinta
marrom. Sua bota preta era uma companheira inseparável,
pois lhe protegia dos aracnídeos que pesquisava. Feliz da vida
com o enorme sucesso de sua palestra, estava ansioso para ver
os noticiários sobre o evento, que sairiam no dia seguinte. Após
tomar um banho para tirar o cansaço do corpo, entrou em seu
quarto e ligou o computador para ver os seus e-mails. Um de-
les, em especial, lhe chamou a atenção: “Espécie de escorpião
desconhecida”. Boquiaberto, e mais do que depressa, ele clicou
no e-mail e começou a ler a notícia.
“Quinto caso de morte misteriosa no Egito. As cinco ví-
timas que foram atacadas apresentavam as mesmas caracterís-
ticas: o corpo inteiro ficou roxo, os olhos ficaram vermelhos, a
boca e a língua ficaram pretas e espumavam uma substância
totalmente desconhecida. Pelo relato, as vítimas ficaram incha-
das e levaram de duas a três semanas para atingirem a tempe-
ratura normal de um cadáver. Os especialistas garantem que,
nos cinco casos, há indícios de que doze escorpiões atacaram as
31
Rudamon - O Novo Héroi
pessoas ao mesmo tempo. Pela profundidade das aguilhoadas,
essa espécie provavelmente deve ser a maior que já foi vista até
agora. O que intrigou os pesquisadores, é que tudo indica que
essa espécie prefere atacar em grupo. Diversas equipes já vas-
culharam a área, que fica localizada na região desértica, a oeste
do local onde ficava o nomo de Mênfis do Antigo Egito. Ne-
nhuma pista foi encontrada. Possivelmente, essa espécie de
aracnídeo ainda não foi catalogada, e os cientistas egípcios de-
duzem que ela deve habitar os subsolos das areias do deserto, e
provavelmente, atacar, em grupo, as suas vítimas no período
noturno. Nós, do grupo Waja-Hur, estamos contando com a
sua ajuda. Sabemos que é o único especialista do mundo que
tem condições de descobrir esta nova espécie. Patrocinaremos
e daremos toda a assessoria que precisar. Atenciosamente,
OSWH”. Osorkon olhou um tempão para as fotos das vítimas
e ficou se perguntando: “O que será que significa OSWH?”.
No dia seguinte, pegou o primeiro vôo para o Egito.
x
O avião estava pousando no Egito. Era a primeira vez
que o cientista iria pisar na terra de seus ancestrais. Ao obser-
var a bela paisagem pela janela da aeronave, os seus olhos
lacrimejaram no mesmo instante. A visão do rio Nilo e das
enormes mesquitas do Cairo lhe provocou profundas emoções.
Quando desceu do avião, um misterioso homem estava a sua
espera. Era Amenemopet, representante da OSWH. O ho-
mem misterioso e de poucas palavras foi ao seu encontro...
– Olá! O meu nome é Amenemopet. Estava a sua espe-
ra. O táxi já está nos aguardando. Queira me acompanhar,
por favor.
Pela janela do automóvel, Osorkon presenciou um Egito
que jamais imaginava. As ruas da cidade eram modernas e ti-
nham belos edifícios, carros do ano e lojas sofisticadas. O mo-
32 Os Escorpiões Sobrenaturais
Demetrio Alexandre Guimarães
vimento nas avenidas era intenso, e as pessoas usavam diferen-
tes tipos de trajes. A capital do país mostrava uma visão total-
mente diferente da que ele esperava encontrar. Quando che-
garam ao centro da cidade, o táxi parou em frente a um luxu-
oso hotel cinco estrelas. Amenemopet voltou a falar...
– Hoje, o senhor ficará hospedado aqui. Nos próximos
dois dias, faremos um passeio para que você conheça os princi-
pais lugares do meu país. O Sr. Huni, que vai patrocinar a sua
pesquisa, faz questão que o senhor não saia daqui sem conhe-
cer os principais pontos turísticos do Egito. Amanhã, bem cedo,
virei buscá-lo. Esperamos que tenha uma ótima hospedagem,
Sr. Osorkon. Dito isso, Amenemopet deu uma enorme quan-
tia de dinheiro ao cientista, e antes mesmo que este pudesse
dizer qualquer coisa, o homem se antecipou...
– Esse dinheiro é para os seus gastos pessoais. Pode com-
prar e pagar o que quiser. A noite no Cairo é muito especial,
Sr. Osorkon. Esperamos que aproveite bem a sua estadia.
Osorkon agradeceu e foi para o quarto. Preferiu ir dor-
mir, pois estava muito cansado da viagem que tinha feito.
Quando Osorkon terminou de tomar o café da manhã,
Amenemopet já estava lhe aguardando. Desta vez, uma linda
limusine, com motorista particular, estava à sua espera. Quan-
do o luxuoso carro saiu da parte urbana, o cientista pôde ob-
servar o enorme contraste que existia no país. As paisagens
naturais eram belíssimas, mas a miséria da população era níti-
da. A pobreza estava presente nas aldeias, onde os felás, que
eram camponeses pobres, sobreviviam através das práticas agrí-
colas. Apesar de toda aquela miséria, os felás tinham um gran-
de orgulho de sua descendência do povo antigo do Egito.
Depois de um longo trajeto, Osorkon foi conhecer os primei-
ros pontos turísticos.
O primeiro local que o especialista em escorpiões conhe-
ceu, foi a planície de Gizé. A esfinge e as pirâmides deixaram-
Os Escorpiões Sobrenaturais 33
Rudamon - O Novo Héroi
no fascinado. Depois desse passeio, conheceu a pirâmide
escalonada de Sacara. Aquele monumento, localizado próxi-
mo às ruínas de Mênfis, tinha sido edificado pelo faraó Djoser,
no Antigo Império. Todas aquelas relíquias que conheceu eram
maravilhosas. E as ruínas monumentais! Como eram lindas!
Seus templos, suas estátuas, seus túmulos... Os templos mais
importantes do Egito estavam em Tebas. O templo de Carnac,
o maior de todos, era fascinante. Não muito longe dali esta-
vam os restos do templo de Lucsor, que também tinha uma
enorme proporção. No sul do país, em Núbia, conheceu o
templo de Abu-Simbel. Esse, sem dúvida, foi o que mais lhe
encantou. Na verdade, não era só um templo. Eram dois! Es-
cavado numa rocha, apresentava quatro estátuas idênticas de
vinte metros de altura. Aqueles dois dias inesquecíveis termi-
naram no museu do Cairo, onde Osorkon pôde conhecer as
múmias de diversos faraós, bem como as diversas obras que se
conservaram ao longo dos séculos. O cientista teve uma forte
impressão de que já tinha vivido naquele lugar. “Deve ser por
causa dos livros de história”, pensou ele.
x
No dia seguinte ao passeio, Amenemopet providenciou
um helicóptero, com piloto, para Osorkon. Todos os equipa-
mentos que o cientista havia solicitado já estavam a sua dispo-
sição. Tudo o que era tecnologia para se poder fazer uma pes-
quisa daquele porte havia sido fornecida. O cientista montou
um acampamento no deserto, próximo ao local onde as víti-
mas foram encontradas. Preferiu ficar sozinho e levou supri-
mentos para uma semana. Tinha um comunicador, para en-
trar em contato com o piloto em caso de emergência.
Anoiteceu. Osorkon aplicou o OSK1 nele próprio. O
silêncio e a escuridão do deserto eram sinistros. Ele abriu uma
enorme caixa, que transportava trinta ratinhos cobaias com
34 Os Escorpiões Sobrenaturais
Demetrio Alexandre Guimarães
sensores GPS. Esses sensores eram ativados quando a adrenalina
do animal subia por medo, ou por dor. Havia um localizador
para cada um deles, que apitava mostrando, na tela de seu
notebook, o exato local onde a cobaia estava. Este procedi-
mento poderia ser longo e frustrante, pois o ataque de outras
espécies também ativaria o localizador. Osorkon sabia que a
sorte e o azar também faziam parte da ciência. Toda pesquisa
sempre tinha certo risco. Mas por sorte, azar ou destino, sua
barraca estava armada bem em cima do cubo de ouro de
Disebek.
Osorkon contemplava as estrelas do lado de fora da bar-
raca. A fogueira acesa, para afastar a fria noite do deserto, era
sua única companheira. Aquela era a hora da caçada dos fa-
mintos escorpiões de Disebek... Os doze aracnídeos saíram do
cubo. Estavam com sorte! A refeição estava próxima...
Distraído e olhando para a fogueira, de repente, Osorkon
percebeu que estava rodeado por doze escorpiões gigantescos,
pretos e aterrorizantes, e que tinham o tamanho aproximado
de um metro e meio. – Minha Nossa! Não são escorpiões...
São monstros! – disse ele consigo mesmo... Pela primeira vez
na vida, sentiu medo daquilo que sempre venerou. Imediata-
mente, improvisou uma tocha para ir afastando os aracnídeos.
Estes recuavam, mas iam rapidamente se aproximando e en-
volvendo Osorkon, que deu um jeito rápido de entrar na bar-
raca, acionando o alerta de emergência para chamar o piloto,
e apanhando a sua sofisticada câmera fotográfica de última
geração, para tirar algumas fotografias daqueles terríveis mons-
tros. Nesse meio tempo, um dos escorpiões que já tinha chega-
do praticamente no seu pé direito, deu-lhe uma aguilhoada.
Nem a sua resistente bota preta conseguiu conter aquele enor-
me aguilhão. A dor era tão horrível, que o fez cair no chão.
Nesse exato momento, os outros escorpiões partiram para o
ataque. Apesar da terrível dor, o cientista conseguiu fotografá-
Os Escorpiões Sobrenaturais 35
Rudamon - O Novo Héroi
los. Cada aguilhoada era insuportável, e ele começou a tremer
e sentir um terrível calafrio. Não agüentando a dor, desmaiou
e começou a ter delírios. Via a imagem de sua mãe lhe dizen-
do: “Assassino! Matou sua irmã!” Via o seu gato com propor-
ções gigantescas, e o enterro de sua irmã, dentro daquele pe-
queno caixão branco que nunca mais saiu de sua memória. As
imagens surgiam de repente e sumiam, dando lugar a outras
imagens. Sua falecida irmã de três anos apareceu, fitando-o
com uma lágrima no rosto. Logo após, viu um homem de lon-
gas barbas brancas, vestido com uma túnica violeta, que tinha
um capuz da mesma cor. Esse homem segurava uma caixa de
ouro, e estava lhe observando o tempo todo. Em seguida,
Osorkon viu-se fora de seu corpo, exatamente como ele era, e,
depois, como uma criança recém nascida nos braços de uma
presença feminina e etérea. A entidade olhava para o bebê e
dizia: “A força de Osíris está com você! Você tem uma impor-
tante missão no mundo!” Uma luz saiu das mãos da linda mu-
lher, que parecia uma deusa, e iluminou o bebê. Seu corpo,
que estava caído no chão, também foi iluminado. Dessa vez, a
entidade aproximou-se de Osorkon, e ficou em frente ao mes-
mo. Fitando-o, bem no fundo de seus olhos, disse-lhe: “O
mundo precisa novamente de um herói! Você será salvo, para
salvar o mundo!” – Osorkon desmaiou. Nesse meio tempo, o
helicóptero começou a se aproximar. Os doze escorpiões afun-
daram na areia e voltaram para o cubo de ouro.
36 Os Escorpiões Sobrenaturais
Capítulo 6
A Ordem Secreta
dos Waja-Hur
O
sorkon despertou no quarto de um hospital. Ao abrir os
olhos, notou que o piloto do helicóptero estava ao seu
lado:
– O senhor está bem?
– Sim! Estou bem, obrigado. Onde estamos?
– Estamos num hospital do Cairo. O senhor teve sorte
de escapar com vida! Os médicos acharam que ia morrer!
– Não acredito muito em sorte! Acho que fui salvo pelo
meu antídoto OSK1...
– Tem uma pessoa que deseja falar com o senhor. Vou
chamá-lo...
Enquanto Osorkon esperava a tal pessoa, começou a re-
fletir sobre as alucinações que teve depois dos ataques. “Preci-
so anotar os sintomas do veneno dessa espécie!” Pensou consi-
go mesmo. Nesse exato momento, entrou no quarto um sujei-
to elegantemente vestido. O homem usava um blazer marrom-
escuro, com uma camisa de tonalidade marrom mais clara por
baixo. Em sua calça, que também era marrom, usava uma cin-
ta preta, mesma cor de sua gravata e de seus sapatos. Apesar de
37
Rudamon - O Novo Héroi
aparentar uns cinqüenta anos de idade, o misterioso homem,
de média estatura, usava barba, bigode e cavanhaque pretos...
– Bom dia, Sr. Osorkon! Permita-me apresentar-me: meu
nome é Huni, mestre da OSWH, a seu dispor!
– Prazer em conhecê-lo, Sr. Huni. O que significa
OSWH?
– Ordem Secreta dos Waja-Hur. Somos uma escola Se-
creta que perpetua a Tradição Egípcia há séculos.
– Me desculpe a pergunta... Nada contra, mas... O que
eu tenho a ver com isso? Sou um cientista! Pensei ter sido con-
tratado por uma instituição científica!
– Meu caro Osorkon... E a ciência por um acaso não
lida com mistérios? O antídoto contra todos os escorpiões do
mundo, que você criou, não era um mistério antes de você
descobri-lo?
– Senhor Huni, preste atenção: na ciência, se você so-
mar um, mais um, são dois! Eu trabalhei durante anos para
desenvolver os meus antídotos. Não existe nada de esotérico e
misterioso nisso. Agora, eu quero saber: o que deseja, realmen-
te, de mim, um mestre de uma escola de mistérios?
– Você pode não acreditar no que vou lhe dizer, mas
você é o escolhido de Rá, e o papel da OSWH foi o de condu-
zi-lo até aqui, para que fosse atacado pelos doze escorpiões no
deserto, a fim de cumprir a tua missão de salvar o planeta!
Aquela reportagem que você recebeu por e-mail era falsa!
– O senhor ficou maluco? Ou melhor... Acho que ainda
estou tendo alucinações! Preciso registrar isso no meu relatório!
– Basta de relatórios! Preste atenção na história que eu
vou lhe contar... Talvez você me entenda...
– Eu não quero ouvir histórias! Quero receber alta e vol-
tar para o Brasil!
38 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Demetrio Alexandre Guimarães
– Chega! – bradou Huni furioso. – Agora, você vai me
ouvir...
Contarei a história de um escravo que se chamava Jarha.
Ele e toda a família sempre foram devotos do deus Osíris. Jarha
trabalhou com tanto empenho, que foi tirado da condição de
escravo e promovido a soldado do Faraó. Era forte, bom no
manejo de armas, justo e respeitoso. Sua dedicação lhe rendeu
a liberdade e um melhor padrão de vida para a família.
Tudo ia bem na vida de Jarha, até ele conhecer Inet, a
irmã mais nova do Faraó. O problema não foi conhecê-la, e
sim, a atração que ela passou a sentir por ele. Todos os dias, ela
se insinuava para Jarha, que procurava manter uma postura
firme e controlada, pois sabia que a fraqueza diante
da tentação poderia lhe custar caro. Certa vez, Inet
ordenou a seus servos que chamassem o rapaz em
seu quarto, e disse ao mesmo que, se ele con-
tinuasse esnobando-a daquela forma, des-
truiria sua família inteira. Ao mesmo tem-
po em que Jarha temia por sua família,
também sentia certa atração pela linda
mulher que estava lhe ameaçando. Des-
de então, começaram um romance secre-
to dentro do palácio. Meremptor, o co-
mandante da tropa que era apaixonado por
Inet, descobriu e contou ao Faraó. Este nada
fez contra a família do rapaz, pois era muito
justo. O casal de amantes foi submetido a
um interrogatório, e o pobre soldado assu-
miu toda a culpa, pois temia por sua família.
Inet, com medo de ser punida, confirmou a
mentira. Jarha foi condenado por traição.
Sua pena foi a morte pelos escorpiões gi-
JARHA
A Ordem Secreta dos Waja-Hur 39
Rudamon - O Novo Héroi
gantes do deserto, junto com os cinco criminosos mais perigo-
sos da época, que foram julgados na mesma semana por causa
de seus crimes hediondos. Após a execução, cada qual seria
mumificado com um tecido de cor diferente, relacionada a
seu respectivo crime.
– Mas a mumificação não seria um privilégio dos faraós?
– perguntou Osorkon.
– Caro amigo, existem tantos mistérios no Egito, que você
não faz idéia! Não há uma data precisa na história dos faraós.
A escassez de testemunhos, bem como a escrita que estava em
seu início, tornam parte dessa história enigmática e desconhe-
cida. Somente os Waja-Hur têm acesso à verdadeira história.
O tempo que estou lhe relatando faz parte de nossos segredos.
Nessa época, qualquer ser humano que mor-
resse tinha de ser mumificado. A diferença era
feita pela cor do tecido usado na
mumificação. Cada classe tinha a sua
cor específica, e cada criminoso tam-
bém. Continuando a história...
Os criminosos eram: Apuki,
o estrangulador; Bak, o
esquartejador; Hunefer, o in-
cendiário; Ramessu, o ilusio-
nista, e Serapion, o mago ne-
gro. Vou lhe contar um pouco sobre cada
um deles...
Apuki era um ladrão, que entrava na
casa das pessoas para roubá-las, e estrangu-
lava-as em seguida, para que ninguém lhe
entregasse ao faraó, que punia os ladrões am-
putando-lhes as mãos. Um dia, ele teve a in-
felicidade de tentar roubar a casa de um sol-
40 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Estrangulador
Demetrio Alexandre Guimarães
dado, e foi capturado. Posteriormente, foi mumificado com
um tecido roxo.
Bak teve um trauma de infância, que o transformou em
um psicopata. Os seus pais, que eram pessoas boas e ingênuas,
hospedaram dois viajantes em sua casa. Esses dois homens eram
cruéis assassinos foragidos de terras distantes. Eles roubavam
suas vítimas, e, depois, esquartejavam-nas pelo simples prazer
de matar. Naquela noite, Bak, que tinha apenas cinco anos de
idade, assistiu os pais serem mortos pelos forasteiros. Os ho-
mens só não o mataram porque ele conseguiu fugir. Aquela
imagem ficou em sua retina por toda a vida. O seu estado psi-
cológico ficou alterado definitivamente. Ele jurou a si mes-
mo que, quando fosse adulto, esquartejaria a to-
dos que encontrasse pela frente. Em seu pensa-
mento, aquele mundo cruel, que permitiu que
seus pais fossem mortos de forma tão trági-
ca, merecia morrer do mesmo modo que
eles. Bak conseguiu esquartejar duzentas
vítimas, até o dia em que foi capturado
pelos soldados do faraó e condenado à
morte. Posteriormente, foi mumificado
com um tecido azul-claro.
Hunefer era um agio-
ta da época. Muito rico, emprestava
suas jóias preciosas aos necessitados,
mas lhes dava um prazo muito curto para
a devolução do empréstimo. Os juros que
cobrava das pessoas eram altíssimos. Mui-
tos não conseguiam lhe pagar a quantia co-
brada no tempo estipulado. Para punir os
seus devedores, fazia questão de incendiar
suas casas pessoalmente, e, de preferência,
com os devedores dentro. Depois que mor-
A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Esquartejador
41
Rudamon - O Novo Héroi
reu, foi mumificado com um tecido vermelho, cor usada pelo
seu tipo de crime.
Ramessu aprendeu as artes mágicas com o seu pai, desde
a infância. Ele sabia provocar efeitos de ilusão com os truques
que sabia, e com um alucinógeno que queimava em um
turíbulo. A fumaça daquela planta, que só a sua família co-
nhecia, causava alucinação nas pessoas. Seus truques eram usa-
dos quando as vítimas estavam naquele estado. Ramessu era
considerado, por todos, como um mago que tinha
o poder de evocar os mortos e de derrotar as forças
maléficas que perseguiam as pessoas. Na ver-
dade, ele não fazia nem uma coisa, nem
outra. O que fazia era extorquir o di-
nheiro das pessoas de boa-fé, que fica-
vam com o seu estado de consciência
alterado. Durante anos, ganhou mui-
to dinheiro fazendo isso. Certa vez, en-
volveu-se com uma mulher que ficou a
par de seus segredos. Tudo ia bem até que ele
arrumou uma amante. Sua mulher descobriu e
ficou furiosa, relatando ao faraó os métodos de-
sonestos que Ramessu usava para ganhar a vida.
Posteriormente, foi mumificado com um tecido
verde, mesma cor que seria usada na mumificação
de Jarha por causa de sua suposta traição.
Serapion foi o pior de todos! Este homem
foi um mago negro da pior espécie. Após fa-
zer um pacto com Apóphis, confeccionou
um cajado com poderes diabólicos, passan-
do a usar o mesmo para gerar doenças nas pessoas, sem que
elas soubessem. Depois que suas vítimas ficavam doentes, o ter-
rível mago se oferecia para curá-las, cobrando um alto preço.
Somente os ricos conseguiam pagar pela cura. Os demais mor-
42 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Incendiário
Demetrio Alexandre Guimarães
riam após longos meses de dor e sofrimento. Sua cobiça foi tão
grande, que ele resolveu fazer o mesmo com a mãe do faraó.
Aquele seria o seu maior feito, pois poderia cobrar quanto qui-
sesse. Ele só não sabia que, no palácio, havia um sacerdote
poderosíssimo! O sacerdote captou e anulou as
ondas maléficas do cajado de
Serapion, descobrindo a sua ori-
gem. No dia seguinte, o mago
contou ao faraó sobre a maldade
do mago, mandando executá-lo.
Posteriormente, Serapion foi mu-
mificado com um tecido preto.
Continuando a história de
Jarha...
Antes de ser enviado ao deser-
to, o pobre rapaz foi marcado com fer-
ros em brasa, que tinham o formato de
um escorpião. Esta punição era
conferida aos soldados que traíam o
Faraó. As marcas, por tradição, eram
feitas da seguinte maneira: dois es-
corpiões no peito, um de cada lado,
e um maior nas costas. Jarha e os
cinco criminosos seriam mumifi-
cados após a execução, quando os
seus respectivos cadáveres fossem recolhidos no dia seguinte.
Essa foi uma tradição que ficou apagada da história. Todos
tinham de ser mumificados com a mesma dignidade. Até os
criminosos! No dia da execução, os condenados foram enter-
rados nas areias do deserto, ficando somente com suas cabeças
para fora. Assim que anoiteceu, os doze escorpiões do cubo de
ouro de Disebek saíram à caça. Os aracnídeos massacraram as
seis vítimas. Antes do ataque, Jarha pediu clemência ao deus
A Ordem Secreta dos Waja-Hur 43
Ilusionista
Rudamon - O Novo Héroi
Osíris, para que o mesmo lhe tirasse daquela situação. Os es-
corpiões atacavam ao mesmo tempo, vítima por vítima. Jarha
foi o ultimo a ser atacado, o que aumentou ainda mais a sua
angústia. Os gritos solitários dos seis condenados ecoavam pelo
deserto. O veneno começou a penetrar no sistema nervoso das
vítimas, que começaram a tremer todo
o corpo e ter delírios. “De repente, sur-
giu uma forte luz do céu que foi na
direção de Jarha.”
– Quem é Disebek? Que cubo de
ouro é esse? – Interrompeu Osorkon.
– A história de Disebek lhe será con-
fiada através de um manuscrito secreto. Fi-
que tranqüilo! Continuando... Após o
surgimento da Luz que envolveu todo o cor-
po de Jarha, retirando-lhe da areia, surgiu,
diante dele, a deusa Ísis, esposa de Osíris,
como deve ter surgido para você também! Ísis
revelou ao soldado que ele era o escolhido,
pelo deus Rá, para ser um herói, e que o mes-
mo deveria realizar uma missão muito impor-
tante no planeta. Os doze escorpiões que o ata-
caram tornaram-se sagrados e eternos, mas fi-
caram estéreis. A missão deles, de alimentar o
eterno Disebek, continuaria. A eternidade não
tirou o apetite de Disebek e seus doze escorpi-
ões, que precisavam se alimentar para não
ficarem furiosos. A deusa conferiu
superpoderes a Jarha, dando-lhe a máscara de
Rudamon, que tinha sido fabricada no Sol pelo seu esposo
Osíris. Os poderes que Jarha havia adquirido resultavam da
soma das forças de Disebek, com as forças da máscara. O ma-
nuscrito secreto também revelará alguns desses superpoderes
44 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Mago Negro
Demetrio Alexandre Guimarães
a você, sendo que os outros poderes que a
máscara conferiu ao ex-escravo eram ca-
racterísticos da personalidade que ele ti-
nha na época. Jarha foi um herói da-
queles tempos! Ninguém sabia quem ele
era, pois escondia sua verdadeira perso-
nalidade com a máscara de Rudamon, como era
conhecido por todos. O herói colocou
ordem no caos que era vivido. Ele en-
frentou inimigos humanos e sobrenatu-
rais, vencendo todos eles. O bem tinha tri-
unfado sobre o mal! O mundo estava em
harmonia...
Essa situação incomodou a maléfica serpente
Apóphis, que ordenou a Seth, eterno inimigo de
Osíris, que destruísse aquela harmonia que estava
no planeta. O maligno deus provocou uma tem-
pestade, manifestando-se através de raios e trovões.
Depois que apareceu, ressuscitou as cinco múmias dos crimi-
nosos que tinham sido condenados com Jarha, conferindo-lhes
poderes sobrenaturais do mal. O poder de cada múmia era
uma combinação de sua própria característica, somada às for-
ças de Disebek e Seth. Este último ordenou às mesmas que
destruíssem o herói. Para a perfeita realização de seu plano,
Seth apanhou um quilo de ouro. O ouro foi levado até as
profundezas do inferno de Apóphis, e fundido em suas cha-
mas. A malvada serpente descobriu a única substância que po-
deria derrotar Rudamon: as chamas do fogo sagrado. Seth fa-
bricou um bastão de trinta centímetros que teria o poder de
armazenar as chamas do fogo sagrado, e uma caixa de ouro
que teria o poder de viajar pelo tempo, assegurando que nada
sairia errado. O deus maléfico tentou descobrir onde estava o
disco de ouro, e não conseguiu encontrá-lo. Depois da fracas-
A Ordem Secreta dos Waja-Hur 45
Rudamon
Rudamon - O Novo Héroi
sada busca, Seth procurou Apóphis novamente, e a
maquiavélica serpente tramou um plano mirabolante...
Serapion foi hipnotizado para realizar uma importante mis-
são. O mago negro recebeu o bastão e a caixa de ouro do tem-
po. Ele teve de voltar ao passado para reassumir sua forma
humana, e depois viajou ao futuro para entrar na escola secre-
ta dos Waja-Hur. Depois que descobriu todos os segredos da
escola de mistérios, tornou-se mestre e incorporou as chamas
do fogo sagrado ao bastão. O malvado mago também teve de
viajar ao ano de 2034, para fazer uma operação secreta que,
até hoje, não conseguimos descobrir qual foi. Após cumprir a
sua missão, regressou como múmia aos tempos de Rudamon.
O bastão de ouro tinha o poder de um potente maçarico, e foi
entregue a Hunefer, para que o malvado incendiário destruís-
se o herói com a ajuda das outras múmias. Seth guardou a
caixa do tempo nas profundezas do inferno de Apóphis. Ago-
ra, vou te revelar como Rudamon foi destruído...
Serapion usou o seu cajado, provocando uma forte dor
no herói. Ramessu criou uma miragem que fez Rudamon pen-
sar que estava sendo atacado por um exército de múmias. Apuki
aproveitou-se da distração provocada pela ilusão, pegou-o pelo
pescoço, e começou a estrangulá-lo com toda a força. Bak cor-
tou as pernas e os braços de Rudamon. Hunefer deu o golpe
de misericórdia, destruindo-o com as chamas do fogo sagrado.
O combate foi presenciado por um misterioso ser que tinha os
braços em forma de serpente, corpo humano masculino e uma
cabeça de naja. Este ser observou tudo a distância, sem que
ninguém notasse.
O deus Rá ficou revoltado com aquela crueldade, e en-
viou Osíris ao planeta para acabar com toda aquela maldade.
O deus tirou as energias vitais que animavam as cinco múmias,
que já estavam incumbidas, por Seth, a destruir toda a huma-
nidade depois que Rudamon tivesse destruído. Depois que
46 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Demetrio Alexandre Guimarães
Osíris tirou a vitalidade das múmias, colocou-as de volta nos
sarcófagos. A máscara de Rudamon desapareceu misteriosa-
mente, voltando a ser vista por olhos humanos em 1975,
exatamente um dia antes de você nascer. Naquela época, eu
era um guardião Waja-Hur e tive a honra de receber a másca-
ra pessoalmente. Mas este é um outro segredo importante, que
só contarei a você no momento adequado. O mundo estava
sem heróis. As pessoas, pouco a pouco, deixaram de acreditar
nos deuses. A falta de fé diminuiu o poder da Luz sobre o
planeta, e aumentou o poder do mal. Hoje, temos um planeta
totalmente dominado pela maldade: estupro, pedofilia, assas-
sinato, seqüestro, tráfico de drogas, corrupção, tráfico de mu-
lheres, assaltos, crimes hediondos, etc.
– Gostei muito da história! Esse mito eu não conhecia! –
Comentou Osorkon.
– Esta história é real, não é um mito! E tem tudo a ver
com você!
– Como assim?
– Você é a reencarnação de Jarha! Atraímos você ao Egito
para que recebesse o seu poder novamente, livrar a humani-
dade do caos em que ela se encontra.
– Escute, senhor Huni, eu respeito a sua fé, mas estudei
e sou partidário da teoria da evolução. Quanto ao senhor e sua
“Ordem Secreta”, farei de tudo para processá-los. Vocês quase
me mataram com esse fanatismo idiota! Eu sobrevivi graças ao
meu antídoto e tive alucinações com o veneno daqueles escor-
piões, só isso!
– Está bem! Você até pode nos processar e acabar conosco!
Mas peço o prazo de uma semana! Só uma semana! Para você
ver que tudo isso é verdade. Leve o manuscrito secreto, leia-o
quando tiver vontade e, depois, me procure! Tenha certeza de
que, da próxima vez que voltar aqui, não precisará de avião.
A Ordem Secreta dos Waja-Hur 47
Rudamon - O Novo Héroi
– Não me diga que vou voar? – Ironizou Osorkon.
– Não! Fará muito mais que isso! Enquanto você estava
internado, os guardiões da OSWH capturaram e aprisiona-
ram, separadamente, os doze escorpiões. Quando você chegar
ao Brasil, sua coleção completa de doze escorpiões já estará em
seu laboratório. Você precisa estudá-los e incorporar a subs-
tância de seus venenos na sua descoberta. Não sabemos o que
poderá acontecer daqui pra frente.
– Como assim?
– A idéia é fazer Disebek ficar furioso de fome. Desta
forma, ele sairá do cubo e os guardiões da OSWH irão capturá-
lo, e destruí-lo no fogo sagrado. Não sabemos se haverá êxito
total nesta missão. Por isso, precisa incorporar a substância dos
doze escorpiões no antídoto, caso algo dê errado.
– Senhor Huni, eu conheço bons profissionais de psi-
quiatria no Brasil. O senhor precisa de ajuda médica! De qual-
quer forma, eu agradeço pelos doze escorpiões, apesar de vocês
terem entrado em minha casa sem o meu consentimento. Não
vou te processar mais. O senhor não deve ser preso, deve rece-
ber cuidados médicos!
– Pense o que quiser! Esta maleta, que estou lhe dando,
contém o manuscrito secreto e cinco milhões de reais. Levare-
mos você ao Brasil com meu jato particular. Procure-me daqui
a uma semana! Passar bem!
Huni saiu do quarto, deixando Osorkon pensativo.
48 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
Capítulo 7
Estranhos Acontecimentos
A
o chegar a sua casa, Osorkon sentou-se no sofá e abriu a
maleta. O manuscrito secreto estava sobre o dinheiro.
Ele pegou o mesmo com desdém, e o jogou sobre a mesa
da sala. Pensou consigo mesmo: “Preciso depositar esse dinhei-
ro no banco! Se aqueles malucos entraram na minha casa para
colocar os escorpiões no meu laboratório, podem, perfeitamen-
te, entrar de novo para pegarem o dinheiro de volta. Vou apro-
veitar e ir ao médico fazer uns exames para ver se não ficou
alguma seqüela.”.
Depois de ir ao banco, Osorkon foi diretamente ao con-
sultório médico. Na sala de espera, um senhor sentou-se ao seu
lado e começou a puxar assunto.
– Como está calor hoje, hein?
– Verdade! – Respondeu Osorkon, que teve uma terrí-
vel sensação de incômodo com a presença daquele homem,
que nunca tinha sentido com ninguém. O velho homem pe-
gou um álbum de fotos que tinha várias crianças. Osorkon
resolveu retribuir o diálogo: – Quantas crianças! São seus neti-
nhos? – O velho homem fez uma cara feia, fechou o álbum e
respondeu de mau humor: – Não! Naquele instante veio um
pensamento instantâneo na mente de Osorkon: “Este velho é
um pedófilo miserável! Amanhã, a máscara dele vai cair! Nos-
sa! Por que pensei isso deste pobre homem? Será que o veneno
49
Rudamon - O Novo Héroi
dos escorpiões me deixou esquizofrênico?” Seus pensamentos
foram interrompidos com a chamada da recepcionista do
médico: – Senhor Osorkon! Doutor Carlos está lhe
aguardando. Pode entrar no consultório.
Doutor Carlos era um grande amigo de
Osorkon, além de ser o seu médico de confiança.
Os dois se conheciam desde pequenos e eram
como irmãos. Quando a irmã do cientista mor-
reu, Carlos sempre esteve presente para dar a
maior força ao amigo. Prestaram juntos o ves-
tibular, na mesma área. Um quis ser médico,
o outro biólogo. Sonho antigo, de que fala-
vam a respeito desde a infância. Osorkon con-
tou toda a história ao amigo que, mesmo perple-
xo, pediu tranqüilidade ao velho amigo de in-
fância, solicitando-lhe uma série de exames. Ao
sair do consultório, Osorkon lhe disse: – Estou
mesmo preocupado! Acho que estou ficando
louco! Além da história que lhe contei sobre o
velho da recepção, agora me veio uma neurose
que me deixou em pânico! Eu vi você sendo víti-
ma de um seqüestro relâmpago! A imagem em mi-
nha mente ficou nítida. O que eu faço? – Calma velho amigo!
Vamos resolver o seu problema. Amanhã você faz os exames, e
damos um jeito para que melhore! Vai passear um pouco para
distrair a cabeça. Recomendo que você não pratique esportes
até eu ver os exames. Fique tranqüilo!
Osorkon passou o dia inteiro olhando lojas no shopping
center. Ao contrário do que fazia sempre, desta vez, deixou a
livraria por último. Quando chegou à mesma, ficou um tempão
olhando os livros. Uma enorme propaganda sobre um lança-
mento lhe chamou a atenção: “Não perca! Amanhã, às vinte
horas, será o grande dia no salão de palestras do shopping! A
50 Estranhos Acontecimentos
Dr. Carlos
Demetrio Alexandre Guimarães
egiptóloga Doutora Freda, especialista em deuses egípcios, fará
uma palestra sobre o lançamento de seu mais novo livro sobre
deuses egípcios. Haverá sessão de autógrafos e coquetel.” O
que mais chamou a atenção de Osorkon foi a beleza da
palestrante na fotografia, mas o assunto que, de certa forma,
começou a fazer parte de sua vida, também lhe cativou.
Osorkon resolveu perguntar à atendente da livraria se havia
algum título da autora disponível na loja, quando outro estra-
nho pensamento lhe veio à mente: “Essa atendente é amante
do dono da livraria! Ela contraiu o vírus HIV! Você precisa
curá-la!” Osorkon ficou nervoso com a esquizofrenia que esta-
va tomando conta de sua mente, e foi embora sem prestar aten-
ção na resposta da atendente. Ao dirigir-se para o estaciona-
mento do shopping, encontrou o seu amigo Carlos: – E aí,
meu irmão! – Disse Carlos, que continuou... – Resolveu se-
guir o meu conselho? Que bom! – Segui sim, meu amigo! Só
que outro pensamento esquizofrênico surgiu em minha men-
te, e resolvi ir para casa dormir. – Você já está indo para casa? –
Estou! – Faz assim: estou indo pagar uma conta na loja, e já
vou em seguida para conversarmos. Você precisa distrair-se! –
Que bom Carlos! Preciso mesmo desabafar! Até mais! – Já es-
tava anoitecendo. Carlos pagou a conta e foi até o estaciona-
mento do shopping, no local onde estava o seu carro. No exato
momento em que ele estava abrindo a porta de seu veículo, foi
abordado por um ladrão, que lhe encostou o cano do revólver
na cintura, dizendo calmamente: – Não faça movimentos brus-
cos e não “dê bandeira”. Vamos comigo calmamente até o cai-
xa eletrônico. Você tira o dinheiro da conta, passa ele pra mim,
eu trago você de volta e vou embora. Se tentar bancar o herói,
eu te mato! – Naquele mesmo instante, Carlos lembrou da
“esquizofrenia” do amigo.
Osorkon dirigia o seu carro devagar e pensativo, quan-
do, de repente, uma camionete, fugindo da polícia, cruzou o
Estranhos Acontecimentos 51
Rudamon - O Novo Héroi
sinal vermelho, colidindo com toda a violência em seu auto-
móvel, que foi lançado a cinco metros de distância e explodiu.
Enquanto isso, no engarrafamento causado pelo acidente...
– Hoje não é o meu dia! – Reclamou Carlos. Além de
ter sido vítima de um seqüestro relâmpago, ainda tem esse trân-
sito para ajudar! Será que foi acidente? Carlos andou mais al-
guns metros e viu que realmente era um acidente. O pior é
que o acidente envolvia o seu melhor amigo. Quando Carlos
reconheceu o carro de Osorkon, parou o seu automóvel de-
sesperadamente no acostamento, e dirigiu-se até a equipe de
resgate. – Me deixa passar! Eu sou médico! O rapaz que está
naquele automóvel é meu amigo! – Um dos bombeiros lhe
falou: – Sinto muito, mas olhe o estado em que ficou o carro!
Não há a menor possibilidade de seu amigo estar vivo! Carlos
chorava copiosamente ao ver os bombeiros removerem a lataria
do carro para retirar o corpo de Osorkon, depois que apaga-
ram o incêndio. Foi quando um dos bombeiros da equipe gri-
tou eufórico: – Milagre! Valha-me Deus! Ele está vivo! Não
sofreu nenhum arranhão e nenhuma queimadura! Está ape-
nas desmaiado! Vamos levá-lo ao hospital! – Carlos acompa-
nhou o carro de resgate, que transportou Osorkon ao hospital.
x
Osorkon acordou no leito do hospital. Uma enfermeira
que estava no quarto lhe disse: – Que impressionante, moço!
Você nasceu de novo! Está inteiro! Assista um pouco de televi-
são que, daqui a pouco, o doutor Carlos vem ver você.
Naquele instante, estava passando um noticiário:
– “Finalmente a polícia encontrou o pedófilo, que rap-
tava, estuprava e matava crianças há trinta anos! Ele aliciava as
vítimas prometendo-lhes que compraria brinquedos, levava as
mesmas à sua casa, tirava fotografias e, depois, cometia o seu
ato monstruoso. Reconhecido como vovô, por algumas crian-
52 Estranhos Acontecimentos
Demetrio Alexandre Guimarães
ças que não caíram em sua conversa, o psicopata costumava
abordar suas vítimas na faixa etária de sete a oito anos. Ele
confessou a polícia que, após o crime, enterrava os corpos das
mesmas em terrenos baldios e em lugares descampados. Ago-
ra, a polícia vai investigar os lugares para encontrar as ossadas.
Os investigadores do caso calculam que o monstro matou mais
de novecentas vítimas ao longo dos últimos trinta anos.”
Osorkon ficou estupefato ao ver a foto daquele senhor que
estava sentado ao seu lado, um dia antes, na sala de espera do
consultório médico.
Quando o doutor Carlos entrou no quarto, perguntou
se o amigo estava bem. Disse-lhe que aproveitou para fazer os
exames que tinham sido solicitados no dia anterior. Os exames
foram feitos enquanto o amigo estava desacordado. Depois lhe
contou sobre o seqüestro relâmpago e ouviu, admirado, o re-
lato de Osorkon sobre o pedófilo.
– Meu grande amigo Osorkon, essas evidências estão mui-
to estranhas! Você escapou com vida de um acidente que seria
fatal para qualquer ser humano. Acertou duas previsões... Será
que são apenas coincidências, ou há algo sobrenatural?
– Sinceramente... Não sei o que lhe dizer... – Respondeu
Osorkon pensativo.
Duas horas depois, Osorkon recebeu alta do hospital. A
seguradora de veículos lhe trouxe o carro que ficaria com ele
até chegar o novo automóvel, coberto pela apólice. Encafifado
com tudo aquilo, Osorkon foi até a livraria do shopping e pro-
curou a atendente.
– Olá! Eu estive aqui ontem, não sei se você está lembrada!
– Sim! Claro que eu me lembro! Posso ajudá-lo?
– Escute com atenção: eu não sou maluco, e nem tenho
nada com a sua vida, pois nem lhe conheço. Mas me responda
uma única pergunta: Você mantém um romance com o dono
da livraria?
Estranhos Acontecimentos 53
Rudamon - O Novo Héroi
– Ai, meu Deus! Quem lhe contou?
– Isso não vem ao caso agora. Eu só preciso que faça uma
coisa. Você faria algo por mim?
– Você é um detetive ou um chantagista? – Perguntou a
moça desesperada.
– Nenhum dos dois. Eu vou te dar o meu telefone. Vou
te pedir encarecidamente que faça um teste de HIV. Seja qual
for o resultado, você me liga, por favor?
– O que é isso? O que o senhor tem a ver com minha
intimidade? O que o senhor pensa que eu sou? Quem te man-
dou? Foi a mulher dele, não foi?
– Não! Você pode ficar tranqüila. É só um tira-teima.
Você faz esse favor pra mim, e pra você? – A moça pegou o
número do telefone dele, e respondeu assustada: – Está bem!
Osorkon saiu da loja e falou consigo mesmo: “Devo es-
tar ficando maluco.” Naquele instante, lembrou da palestra
da Doutora Freda, que seria naquela mesma noite. Como ti-
nha um dia inteiro pela frente, resolveu ir pesquisar os escor-
piões.
Em seu laboratório, Osorkon aproveitou para pegar sua
máquina fotográfica, com o intuito de ver as fotos do dia em
que foi atacado. Não havia nenhuma fotografia.
– Aquele desgraçado do Huni deve ter apagado os ras-
tros! – Queixou-se Osorkon. – Vou fotografá-los aqui mesmo,
no laboratório. Para a sua surpresa, os aracnídeos não saíam na
foto. Osorkon tentou filmá-los, e a imagem deles também não
aparecia no vídeo. “Mas que estranho!” pensou Osorkon con-
sigo mesmo. O jeito foi extrair o veneno dos escorpiões e
catalogá-los.
– Amanhã eu faço a análise. Por que será que essa espé-
cie não sai em filmagens e fotografias? O que será que aconte-
ce? – Sussurrou consigo mesmo.
54 Estranhos Acontecimentos
Capítulo 8
Osorkon Conhece Freda
O
salão de palestras estava lotado. A exuberante doutora
Freda cativava todos os olhares masculinos que estavam
presentes, e, é claro, o olhar de Osorkon também. Loira,
de olhos azuis, bonita e inteligente, sempre chamava a atenção
por onde passava. A bela palestrante, descendente de alemães,
começou a falar...
– Boa noite, senhoras e senhores aqui presentes! Vocês
podem me chamar de Freda. Sou graduada em egiptologia e
pós-graduada em mitologia egípcia. Sempre me encantei com
os mistérios e lendas do povo egípcio. Toda minha vida foi
dedicada ao estudo deste assunto. O motivo desta palestra é o
lançamento do livro “Os deuses egípcios: Mito, Realidade e
Tradição Primordial”. Minha obra aborda a questão de que o
símbolo é um só em todo o mundo. O que muda é a forma
como ele é expresso nas diferentes mitologias e nas escrituras
sagradas, de acordo com a cultura de cada povo. Nessa noite,
vou falar um pouco sobre a lenda de Osíris, procurando fazer
uma ponte entre o mito e a Tradição Primordial. Segundo essa
lenda, o deus Osíris educou o povo egípcio numa época em
que a barbárie imperava. Ele ensinou: o cultivo; o abandono
de velhos hábitos que tornavam o povo animalesco; o trabalho
com o arado e a enxada; a fundição de metais para construção
de armas e ferramentas; ou seja, o processo civilizatório. No-
55
Rudamon - O Novo Héroi
tem que, segundo a lenda, Osíris foi o respon-
sável pelo processo civilizatório do Egito. Va-
mos fazer uma pausa para reflexão... Não po-
deríamos comparar Osíris aos grandes
avatares que fizeram parte da humanida-
de? Aos homens que levaram luz aos que
se encontravam nas trevas? Graças
aos ensinamentos de Osíris, o
Egito tornou-se próspero. Como
e s s e deus era portador de uma extrema
bondade, decidiu levar a luz de seu co-
nhecimento para o resto do planeta. Para
isso, convidou os deuses Thot e Anúbis,
para ajudá-lo a divulgar o conhecimento
egípcio pelo mundo. Vocês podem notar
que a própria lenda reconhece o Egito
como o berço da civilização. Osíris e seus
ajudantes obtiveram êxito total. Mas vamos
ter um pequeno imprevisto nesse mito. Seth,
o irmão que sempre o invejou, tramou a
morte do mesmo, enquanto este fazia a
sua expedição pelo mundo. Que vocês me
dizem se compararmos essa história com a de
Caim e Abel? Não poderíamos também fazer uma ponte entre
Cristo e Judas? Seth elaborou uma pérfida armadilha,
recepcionando o irmão de forma amigável, no regresso de sua
expedição. Fez uma falsa brincadeira para colocá-lo numa
gran-
de urna, onde, posteriormente, seria assassinado. A urna foi
lançada ao Nilo, o que seria um caos para Osíris. Acreditava-se
que, se um corpo não fosse mumificado, sua alma vagaria sem
rumo. O ódio que Seth tinha de Osíris era tão grande, que
nem a sua alma deveria ser poupada. Nesse ponto da lenda,
entra a deusa Ísis, esposa e irmã de Osíris. Ao saber a forma
56
Freda
Osorkon Conhece Freda
Demetrio Alexandre Guimarães
como o seu esposo morreu, Ísis ficou desesperada, pois sabia
que o mesmo não seria soberano na Mansão dos Mortos. Com
a ajuda de Thot e Anúbis, correu todo o Egito para achar a
urna. Num momento da busca, ela se separou dos amigos e
encontrou a mesma. Escondeu-a e foi procurá-los, mas um
espião de Seth a encontrou antes que Ísis voltasse. Seth, para
certificar-se de que a alma de Osíris estaria perdida para sem-
pre, cortou o corpo do irmão em quatorze pedaços, espalhan-
do-os pelo Egito. Uma nova busca começou. Desta vez, Néftis,
esposa de Seth, ajudou a equipe de busca, pois havia desco-
berto a trama do marido. Apenas treze pedaços foram encon-
trados, graças a Anúbis, que farejou um por um. Apesar de
faltar um pedaço, Osíris foi embalsamado com dignidade e
voltou à vida para engravidar Ísis, que, posteriormente, deu a
luz ao deus Hórus. Após cumprir sua missão, Osíris tornou-se
o senhor absoluto dos mortos. Eu poderia ficar a noite toda
contando a seqüência desse mito... Mas uma coisa que eu que-
ro fixar bem, é que o destaque do meu livro é sobre o aspecto
simbólico. Reparem que: o bem e o mal; o início da luz sobre
as trevas; o aspecto masculino que dá a força; e o feminino que
dá a forma; são temas discutidos de maneira simbólica nos mitos
de vários povos, e, também, nas escrituras sagradas. Se fizer-
mos um paralelo entre todos eles, descobriremos que o mesmo
simbolismo está contido em todos, e que apenas o que difere é
a maneira como a história é contada. Se déssemos um nome a
esse único símbolo, poderíamos chamá-lo de Tradição Primor-
dial, pois, as questões tratadas são sempre as mesmas. Não im-
porta o povo, a época e o lugar. Espero que gostem do livro!
Obrigada!
Doutora Freda foi aplaudida de pé. Em seguida, come-
çou o coquetel. Osorkon comprou o livro, e dirigiu-se à escri-
tora para pedir um autógrafo. Lançando o olhar mais pene-
trante que sabia fazer, aproximou-se da moça.
Osorkon Conhece Freda 57
Rudamon - O Novo Héroi
– Com licença, doutora Freda... Fiquei fascinado com a
sua palestra! É muito talentosa no que faz! Foi uma honra po-
der assisti-la.
– Obrigada! Hei... Espera um pouco... Você não é o fa-
moso doutor Osorkon, especialista em escorpiões e criador dos
antídotos OSK1 e OSK2?
– O próprio!
– Eu acompanhei as suas descobertas pelos noticiários.
A honra é toda minha!
– Você domina um assunto que, neste momento, é de
fundamental importância para mim. Eu precisava muito con-
versar com você! Poderíamos jantar amanhã à noite?
– Seria um prazer!
– Me dá o seu endereço, que, amanhã, vou apanhá-la
em casa.
– Quanta gentileza! Pode ser às vinte horas?
– Na hora que você quiser! A propósito, você poderia
fazer uma dedicatória no meu livro?
– Com todo prazer! “Ao grande herói, que salvará mi-
lhões de vidas dos terríveis escorpiões, dedico o simbolismo da
Tradição Primordial. Que a essência do símbolo da Luz única
possa guiá-lo em suas missões. Com carinho, Freda.”
– Obrigado! Linda a sua dedicatória. Posso te apanhar
amanhã, às vinte horas?
– Combinado!
Naquela noite, Osorkon conseguiu esquecer, por alguns
instantes, os problemas que lhe afligiam. Foi dormir pensando
em Freda. Ao adormecer, algo estranho voltou a acontecer.
Osorkon começou a ouvir vozes desesperadas clamando por
socorro. Quando não eram vozes clamando por socorro, eram
vozes tramando crueldades. O seu sono foi agitado. Virou-se
58 Osorkon Conhece Freda
Demetrio Alexandre Guimarães
na cama a noite inteira. No único momento em que conseguiu
dormir teve um pesadelo. “Quatro homens lhe seguravam. Dois
lhe prendiam os braços. Os outros dois, imobilizavam-lhe as
pernas. Um quinto homem veio em sua direção com um ferro
em brasa e... marcou-lhe dois escorpiões no peito, um de cada
lado. Os cruéis homens o viraram de bruços e marcaram suas
costas. A dor das costas foi maior que a sentida no peito. A
impressão era de que um ferro em brasa de maior tamanho
havia sido usado. Os homens riam sarcasticamente.” Osorkon
acordou assustado. Suas costas e seu peito estavam formigan-
do. O resto da noite, quase não dormiu por causa daquelas
vozes perturbadoras que iam e voltavam. Osorkon só conse-
guiu dormir no fim da noite, quase ao amanhecer.
Osorkon Conhece Freda 59
Capítulo 9
Osorkon tem Superpoderes
E
ra um novo dia. Apesar da noite mal dormida, Osorkon
acordou com uma excelente disposição. O fato de estar
disposto, não o fazia esquecer do pesadelo e das vozes que
ouvira naquela madrugada. Espreguiçou-se, saiu da cama e
foi tomar banho. Ao ver a própria imagem no espelho, levou
um tremendo susto. Seu peito estava marcado com dois escor-
piões, um de cada lado. Osorkon virou-se, olhando para trás,
e viu que suas costas também estavam marcadas com um es-
corpião enorme. Sem saber o que pensar, foi para o chuveiro.
À medida que a água caía em seu corpo, as marcas dos escorpi-
ões ardiam, como se realmente tivessem sido feitas naquela noite.
“Preciso urgentemente de um psiquiatra!”, Pensou ele.
Na tarde daquele dia, Osorkon dedicou-se, o tempo todo,
ao estudo dos doze escorpiões. Analisando cada amostra de
veneno, colhida no dia anterior, fez diversas anotações em seu
relatório. Às vezes, quando não estava o suficientemente con-
centrado, ouvia aquelas vozes pedindo ajuda, ou tramando
maldades. Procurou ignorá-las do jeito que pôde. Ficou tão
entretido com suas pesquisas que nem viu o tempo passar. Es-
tava quase na hora de jantar com Freda.
O restaurante era agradável, tinha música ao vivo, e um
ambiente aconchegante e familiar. Osorkon sentia-se como um
adolescente. Será que estava apaixonado?
60
Demetrio Alexandre Guimarães
– Freda, sua palestra ontem estava sensacional! Achei o
assunto fascinante! O tema chamou bastante a minha aten-
ção. O problema é que havia algo que, às vezes, me distraía um
pouco.
– O quê?
– A sua beleza!
– Bondade sua... – Respondeu Freda com um tímido
sorriso. – Por que você me disse, ontem, que o assunto da pa-
lestra era de fundamental importância para você? Sua área não
é o estudo de escorpiões?
– Sim. Mas nos últimos dias, têm acontecido coisas mui-
to estranhas comigo... Estas coisas me fizeram esquecer um
pouco os escorpiões.
– Que coisas foram essas?
– Vou te contar tudo. Mas tem uma condição...
– Qual?
– Você tem que prometer que não vai contar a ninguém!
– Conte com a minha discrição.
– Tem uma outra coisa...
– Que coisa?
– Você também tem que me prometer que não vai me
achar maluco, e que não vai rir da minha cara... Você promete?
– Prometo! – Respondeu Freda com um sorriso maroto.
– É o seguinte...
Não muito longe dali, seis capangas de um agiota, muni-
dos de metralhadora, se preparavam para atacar o restauran-
te. Num momento de desespero, o dono do estabelecimento
havia feito um empréstimo para que o seu negócio não fechas-
se. Quando ele já tinha o dinheiro na mão para pagar a sua
dívida, sua filha foi seqüestrada, e o dinheiro teve de ser dado
Osorkon tem Superpoderes 61
Rudamon - O Novo Héroi
no resgate. O agiota deu mais um prazo para o pagamento,
aumentando abusivamente os juros. Nesse meio tempo, um
concorrente desleal espalhou alguns boatos que afastaram
boa parte da clientela do pobre homem. O prazo de paga-
mento se esgotou, e o agiota enviou os seis homens para
acertar as contas.
Enquanto isso, a doutora Freda estava boquiaberta com
a história de Osorkon...
– Que história fascinante! Eu não posso falar no meio
acadêmico que acredito no sobrenatural... Uma declaração
dessas atrapalharia a minha carreira. Mas eu acredito em você!
– Que bom poder ouvir isso! Você não imagina o alívio
que estou sentindo...
– A única forma que eu encontrei de convencer as pes-
soas do sobrenatural, ainda que pelas entrelinhas, foi através
do estudo mitológico. Mas pelo seu relato, estou achando você
muito cético. Será que todas as evidências que ocorreram até
agora não lhe convenceram?
– Não sei... Ainda estou meio confuso!
– Em minha opinião, você deveria ler o tal manuscrito
secreto e procurar Huni.
– Isso parece loucura!
– Pode parecer, mas a meu ver, é a única alternativa que
você tem! Se for procurar um psiquiatra, como está preten-
dendo, não vai resolver nada! Ele vai te dopar com medica-
mentos que não vão te ajudar.
– Talvez eu faça isso mesmo... Você não imagina como
estou atormentado! Eu escuto pessoas pedindo socorro... pes-
soas tramando o mal... Olho para as pessoas e percebo... Talvez
possa ser uma neurose minha... Mas é como se eu detectasse as
suas verdadeiras intenções!
62 Osorkon tem Superpoderes
Demetrio Alexandre Guimarães
– Você me disse que é do Signo de Escorpião. Talvez você
nunca tenha lido nada sobre Cabala. Segundo os estudos da
mesma, o dom natural do seu signo é perceber.
– Você está certa! Mas essas paranóias me incomodam!
Agora, por exemplo, estou com idéia fixa de que vão entrar
seis homens armados neste restaurante! Eu os vejo metralhan-
do tudo!
– Ai, meu Deus do céu!
– O que aconteceu?
– É melhor sairmos daqui!
– Por quê?
– Os seis homens de que você falou acabaram de en-
trar... Estão com cara de poucos amigos...
Os homens aproximaram-se do balcão do restaurante da
forma mais discreta possível. Não havia o que desconfiar. Ves-
tiam-se com trajes elegantes e falavam baixo. Um deles falou
com o balconista...
– Nós queremos falar com o dono!
– Ele não se encontra no momento, foi acompanhar a
esposa ao médico. Vocês não podem voltar amanhã?
– Ligue para o celular dele! Encontre-o. Diga-lhe que,
se não vier até aqui, vamos metralhar essa espelunca! Não ten-
te nenhuma gracinha, senão uma das balas irá de encontro à
sua testa!
Enquanto isso, depois de muito pensar, Osorkon teve
uma idéia...
– Preste atenção, Freda: eu vou me aproximar do balcão
lentamente... Você abaixa fingindo que vai pegar algo e fica
debaixo da mesa.
– Isso é loucura! Você pode morrer!
Osorkon tem Superpoderes 63
Rudamon - O Novo Héroi
– Depois daquele acidente... tenho a convicção de que
nada irá me acontecer. Este é o momento ideal para um tira-
teima...
– Por que irá se expor? Nós dois podemos nos abaixar!
Não é melhor?
– Na realidade, estou preocupado com você e com as
pessoas que estão aqui! Se o sobrenatural realmente existe, e
está a meu favor, devo evitar que algo ruim aconteça! Você não
acha?
– Tudo bem... Mas tome cuidado! – Osorkon dirigiu-se
lentamente ao balcão...
Naquele momento, os seis homens já estavam impacien-
tes. E ficaram mais irritados, ainda, com a notícia que o balco-
nista lhes deu...
– O celular dele está desligado. Por favor, voltem amanhã!
O interlocutor agarrou o balconista pelo colarinho e disse...
– No mundo dos negócios, não existe amanhã...
Os seis homens sacaram as suas armas e começaram a ati-
rar para cima. As pessoas, assustadas, corriam para todos os la-
dos, derrubando mesas e cadeiras. Osorkon foi ao encontro de-
les, e aplicou uma voadora, acertando o primeiro... Deu um
direto de esquerda no segundo, ao mesmo tempo em que lhe
tomou a metralhadora das mãos... Com a metralhadora, gol-
peou o terceiro e o quarto, tombando-os imediatamente... Os
dois que restaram, apontaram suas metralhadoras para Osorkon,
desferindo-lhe uma rajada de balas... As balas batiam nele e vol-
tavam... Assustados, jogaram as armas no chão e tentaram fugir.
Osorkon deu um salto, pulando em cima dos dois... Segurou-os
pelo pescoço, e bateu a cabeça de um contra a do outro... Os
seis homens estavam desmaiados. Todos assistiram à cena per-
plexos. Osorkon olhou para o balconista, e disse para ele cha-
mar a polícia. Fitou todos no restaurante e disse-lhes:
64 Osorkon tem Superpoderes
Demetrio Alexandre Guimarães
– Por favor, não se assustem! Pratico artes marciais há
vinte anos e... Ando com colete à prova de balas... Vocês sa-
bem como é... A cidade anda muito violenta! – Osorkon foi
aplaudido por todos. Retirou uma enorme quantia de dinhei-
ro do bolso e disse ao balconista...
– Esse dinheiro é pela minha conta... Pelos estragos... E
pela dívida de seu patrão! No caminho para a casa de Freda...
– Minha Nossa! Aquilo foi incrível! Você tem
superpoderes! Aqueles homens metralharam você e as balas
nem o perfuraram! Você os pegou com tanta agilidade, que foi
impressionante!
– O mais estranho é que a minha adrenalina não subiu! Eu
fiz tudo aquilo friamente! Estou convencido! Quando eu chegar
à minha casa, vou ler o tal manuscrito!
Após deixar Freda em casa, Osorkon chegou a sua resi-
dência, tomou um banho quente e pegou o manuscrito para
ler. Nesse exato momento, o telefone tocou. Era uma voz aflita
e desesperada...
– Por favor, o senhor Osorkon se encontra?
– Você está falando com o próprio. Quem é?
– Sou Ariadne, a atendente da livraria.
– O que aconteceu, Ariadne? Noto aflição em sua voz...
– O resultado do exame saiu. Estou com Aids! Como você
sabia? Quem é você, afinal?
Osorkon não sabia o que dizer à moça, e tratou logo de
inventar uma desculpa...
– Conheço uma pessoa que sabe sobre o caráter do seu
patrão e o modo de vida promíscuo que ele leva. Essa pessoa, que
não posso dizer quem é, estava preocupada com você, e pediu
para que eu a alertasse.
Osorkon tem Superpoderes 65
Rudamon - O Novo Héroi
– Eu vou morrer! Minha vida acabou! Você nem imagina o
que se passa na cabeça de uma pessoa que descobre isso. É o fim!
– Calma, Ariadne! Sou um cientista e posso lhe assegurar
que a ciência está progredindo muito. Não entre em pânico!
Amanhã ou depois, a cura pode ser descoberta. Você não deve
perder as esperanças! Procure um psicólogo para lhe dar apoio.
Eu tenho um amigo médico que deve conhecer bons especialistas
em AIDS. Vou passar o telefone dele para você. Procure manter a
calma.
– Eu acreditava no meu patrão! Ele me prometeu que lar-
garia a esposa para ficar comigo! Eu era virgem! Ele me enganou!
– Você não é a primeira pessoa que passa por esta situação.
Não se sinta culpada! Você deveria ter se prevenido! Mas fique
tranqüila! Tudo vai dar certo
– Obrigada!
Aquele telefonema deixou Osorkon mais ansioso para
ler o manuscrito...
66 Osorkon tem Superpoderes
Capítulo 10
A Leitura do Manuscrito
A
capa do manuscrito dizia: “Dossiê Secreto OSWH”.
Osorkon leu a história de Disebek com muita atenção.
Depois leu a história completa de Jarha. O capítulo se-
guinte intitulava-se “A iniciação secreta de Rudamon”, e con-
tava como eram os poderes que foram adquiridos por Jarha.
Eis o que o capítulo dizia...
Após a morte de Jarha, o deus Osíris retirou a força vital
que animava as cinco múmias, enviando-as de volta aos
sarcófagos. Depois de certo tempo, a maior parte das pessoas
foi corrompida pela maldade. Como punição, o deus Rá en-
viou Osíris, que ficou incumbido de fazer desaparecer tudo o
que tinha sido construído. A maior parte da população foi
punida com a perda de memória. Somente os homens de bom
coração foram poupados. Osíris procurou Waja-Hur, o mais
sábio entre os homens da época, entregando-lhe um pergami-
nho de ouro secreto, com uma missão. O deus revelou ao sá-
bio homem que, no futuro, Rudamon deveria voltar a fim de
salvar o mundo. Quando chegasse o momento oportuno, a
máscara de ouro apareceria e teria de ser protegida pela
OSWH. No manuscrito, tinha a iniciação pela qual o novo
Rudamon deveria passar, bem como a descrição dos poderes
que o herói teria. Eis os poderes:
– És imune à dor, ferimentos e morte;
67
Rudamon - O Novo Héroi
– Tens o poder da vontade e da intenção;
– Podes detectar a intenção de alguns pensamentos;
– Podes pressentir o sofrimento ou intenções maléficas
de qualquer ser humano, em qualquer ponto do planeta;
– Se quiseres, poderás aumentar o seu tamanho em até
três metros de altura;
– Podes multiplicar-te, e estar em milhares de lugares ao
mesmo tempo, para resolveres o mesmo tipo de problema, no
mesmo instante;
– Podes ressuscitar aqueles que morreram injustamente;
– Podes curar qualquer doença, tocando o coração da
pessoa. Quando curares um, curarás a todos;
– Podes criar um campo de energia impenetrável, num
raio de cem metros;
– Tu emitirás um raio pelos olhos, denominado “Agui-
lhão Amarelo”. Este raio provocará uma dor comparada ao
ataque dos “doze escorpiões de Disebek”. A pessoa atingida
será punida para sempre. Ao pensar em repetir o mal, sentirá
a dor novamente;
– O Aguilhão amarelo também pode ser usado para pa-
ralisar as pessoas;
– Sempre que fores praticar o altruísmo ou combater o
mal, deverás usar a máscara de Osíris. Ela é ativada com o po-
der do seu pensamento, e esconde a sua verdadeira personali-
dade. A máscara confere novos poderes, de acordo com a per-
sonalidade de quem a estiver usando;
– Terás a força e a velocidade que nenhum mortal jamais
possuiu;
– Poderás ir ao local que quiser, usando o poder da von-
tade e do pensamento;
– És indestrutível. Somente uma força pode lhe matar: o
fogo sagrado.
68 A Leitura do Manuscrito
RUDAMON
RUDAMON
RUDAMON
RUDAMON
RUDAMON

More Related Content

Similar to RUDAMON

Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel QuinnIsmael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Diego Silva
 
As primeiras civilizacoes jaime pinsky
As primeiras civilizacoes   jaime pinskyAs primeiras civilizacoes   jaime pinsky
As primeiras civilizacoes jaime pinsky
Heraldo Oliveira
 
Biblioteca boletim nº 9
Biblioteca   boletim nº 9Biblioteca   boletim nº 9
Biblioteca boletim nº 9
bibdjosei2006
 
Análise Crítica - O Pequeno Príncipe
Análise Crítica -  O Pequeno PríncipeAnálise Crítica -  O Pequeno Príncipe
Análise Crítica - O Pequeno Príncipe
Luísa Teixeira
 
Admiravel mundo novo
Admiravel mundo novoAdmiravel mundo novo
Admiravel mundo novo
Cafola Ms
 

Similar to RUDAMON (20)

Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel QuinnIsmael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
Ismael - Um Romance da Condição Humana - Daniel Quinn
 
RUDAMON II
RUDAMON IIRUDAMON II
RUDAMON II
 
livro pequeno príncipe
livro pequeno príncipe livro pequeno príncipe
livro pequeno príncipe
 
Ficha de leitura do livro "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry.
Ficha de leitura do livro "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry.Ficha de leitura do livro "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry.
Ficha de leitura do livro "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry.
 
Livros essenciais da literatura brasileira
Livros essenciais da literatura brasileiraLivros essenciais da literatura brasileira
Livros essenciais da literatura brasileira
 
Discursos mudos saulo barreto
Discursos mudos   saulo barretoDiscursos mudos   saulo barreto
Discursos mudos saulo barreto
 
000679213
000679213000679213
000679213
 
Historias que edificam animando vencedores
Historias que edificam   animando vencedoresHistorias que edificam   animando vencedores
Historias que edificam animando vencedores
 
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdfAUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
AUGUSTO CURY - O Mestre Inesquecivel.pdf
 
As primeiras civilizacoes jaime pinsky
As primeiras civilizacoes   jaime pinskyAs primeiras civilizacoes   jaime pinsky
As primeiras civilizacoes jaime pinsky
 
Modernismo de 45
Modernismo de 45Modernismo de 45
Modernismo de 45
 
Biblioteca boletim nº 9
Biblioteca   boletim nº 9Biblioteca   boletim nº 9
Biblioteca boletim nº 9
 
A HISTÓRIA DO UNIVERSO COMENTADA
A HISTÓRIA DO UNIVERSO COMENTADAA HISTÓRIA DO UNIVERSO COMENTADA
A HISTÓRIA DO UNIVERSO COMENTADA
 
realismo-e-naturalismo-resumoparaaprovax
realismo-e-naturalismo-resumoparaaprovaxrealismo-e-naturalismo-resumoparaaprovax
realismo-e-naturalismo-resumoparaaprovax
 
Geopoetica
GeopoeticaGeopoetica
Geopoetica
 
O principezinho.docx resumo2
O principezinho.docx resumo2O principezinho.docx resumo2
O principezinho.docx resumo2
 
O pequeno príncipe
O pequeno príncipeO pequeno príncipe
O pequeno príncipe
 
Análise Crítica - O Pequeno Príncipe
Análise Crítica -  O Pequeno PríncipeAnálise Crítica -  O Pequeno Príncipe
Análise Crítica - O Pequeno Príncipe
 
Admiravel mundo novo
Admiravel mundo novoAdmiravel mundo novo
Admiravel mundo novo
 
Tudo tende ao tédio DEMONSTRATIVO DO LIVRO
Tudo tende ao tédio   DEMONSTRATIVO DO LIVROTudo tende ao tédio   DEMONSTRATIVO DO LIVRO
Tudo tende ao tédio DEMONSTRATIVO DO LIVRO
 

RUDAMON

  • 2. Copyright © 2013 por Demetrio Alexandre Guimarães Rudamon - O Novo Herói Demetrio Alexandre Guimarães Publicação Eletrônica –Julho de 2013 Coordenação Editorial Demetrio Alexandre Guimarães 2ª edição Revisão Demetrio Alexandre Guimarães Projeto gráfico e capa: Demetrio Alexandre Guimarães ISBN – 978-85-920620-1-9 CIP – (Cataloguing-in-Publication) – Brasil – Catalogação na Publicação Ficha Catalográfica feita na 1ª edição, pela Editora Livre Expressão Guimarães, Demetrio Alexandre – 1975 G611r Rudamon / Demetrio Alexandre Guimarães ; [ capa Demetrio Alexandre Guimarães ; projeto gráfico Demetrio Alexandre Guimarães– 2 ed. Rio Claro-2013 Título Original: Rudamon: O Novo Herói-2008 139 p. : A4 (broch.) ISBN 978-85-920620-1-9 1. Literatura Infanto-Juvenil. 2. Egito antigo. 3. Ficção. 4. Egito. 5. Herói Mitológico I. Título. CDU 82-3 CDU 82-3 93282.93 620 291213 Índice para catálogo sistemático 1. Literatura Infanto-Juvenil – 82-3 2. Egito antigo – 932 3. Ficção – 82-3 4. Literatura Infanto-Juvenil – 82.93 5. Egito – 620 6. Herói Mitológico – 291213
  • 3. Dedicatória Dedico esse livro a todos aqueles que, de certa forma, são heróis... Aos policiais que prendem os bandidos... Aos bombeiros que salvam as pessoas dos perigos... Às pessoas que ajudam instituições de caridade... Aos médicos e enfermeiros que curam e salvam a vida das pessoas... Aos grandes avatares que existiram na humanidade, deixando os seus ensinamentos que proporcionaram a evolução da consciência humana... Às pessoas que conseguem levar a vida, mesmo que as dificuldades pareçam ser mais fortes... Às ONG’s que trabalham para ajudar e melhorar a vida de centenas de pessoas... Aos voluntários que sacrificam um dia da própria felici- dade, só para confortar e ajudar os seus semelhantes... Aos poucos políticos que conseguem ou tentam ser honestos, mesmo que as circunstâncias sejam desfavoráveis... Aos profissionais que tentam fazer o seu melhor, não se importando com a quantia que recebem... Às pessoas que escolhem fazer o bem, mesmo que o mal pareça ser a melhor opção... Aos professores comprometidos que ao ensinarem seus alunos de modo correto, tornam-se verdadeiros heróis para a sociedade... A Jesus Cristo, o maior herói de todos! Dedico esse livro a todas as pessoas que fazem ou fizeram parte de minha vida! Dedico esse livro a todos os meus alunos e ex-alunos (Vocês são muito queridos)! Dedico esse livro a todos os meus amigos, familiares e colegas de trabalho, especialmente aos meus pais (A.P), (W.A.G.P), minha irmã de Jundiaí (A.B.S) e meus irmãos de Rio Claro (A.G.P) e (D.G.P). Dedico esse livro à pessoa que eu mais amo nesse mundo! Minha namorada (C.A.S).
  • 4.
  • 5. Sumário Notas do Autor, 9 Prefácio, 11 Um Mito Dentro do Mito, 13 O Egito que a História Desconhece, 17 A Lenda de Disebek, 21 Osorkon: Um Especialista em Escorpiões, 26 Os Escorpiões Sobrenaturais , 31 A Ordem Secreta dos Waja-Hur, 37 Estranhos Acontecimentos, 49 Osorkon Conhece Freda, 55 Osorkon tem Superpoderes, 60 A Leitura do Manuscrito, 67 Rudamon: O Novo Herói, 73 As Primeiras Missões de Rudamon, 83 O Crime Organizado Gera o Caos, 104 A Maldade Sobrenatural, 117 O Confronto, 125 A História Está Apenas Começando..., 139 7
  • 6.
  • 7. Notas do Autor Caro (a) leitor (a): Seja muito bem-vindo (a)! Se você está aqui agora, é porque de algum modo ficou interessado no meu trabalho. Eu quero agradecer de coração por você estar lendo o que eu escrevi. Eu gosto de escrever por hobby, e quero dividir com você o prazer que eu tive ao fazer esse trabalho. Essa é a segunda edição do primeiro livro que eu escrevi, intitulado “Rudamon: O Novo Herói”, publicado pela editora Livre Expressão no ano de 2008. A primeira edição teve uma tiragem de mil exemplares, das quais metade foi vendida para cobrir o empréstimo feito para a publicação, a outra metade foi doada para algumas pessoas, instituições de caridade e para um projeto social da prefeitura da cidade de Rio Claro, com o objetivo de estimular os jovens a ler. Esse ano eu resolvi retomar o meu trabalho. Eu fiz a revisão do livro RUDAMON II (que já estava escrito desde 2008) e publiquei agora em 2013. Aproveitando o gancho eu resolvi fazer a 2ª edição do meu primeiro trabalho. Esse livro que você tem agora em mãos, mudou o seu título original “Rudamon: O Novo Herói”, para apenas “Rudamon”. Eu optei por não mexer nos textos e nem na estrutura da primeira história. Alguns detalhes que ficaram faltando, bem como coisas que precisavam ser melhoradas no meu estilo de escrever, eu preferi deixar para o livro Rudamon II. Eu decidi não mexer na história, até por uma questão de respeitar a mim mesmo, e tudo o que eu pensava na época em que meu primeiro trabalho foi publicado. Na verdade, eu não quis tirar o caráter original da primeira publicação. Eu também fiz uma alteração na capa. Embora ela esteja mais simples, está dentro da idéia que eu quero passar aos leitores.
  • 8. Eu adoro o universo dos super heróis. Eu gosto de criar personagens dentro desse tema e dar vida aos mesmos através da literatura. Inicialmente, eu tive vontade de fazer um projeto para colocar meus personagens em HQs, mas abandonei a idéia por diversos motivos. Sou um autor independente. Faço tudo sozinho, inclusive as revisões. Eu me considero um escritor amador, que está começando. Por isso, eu peço desculpas caso o leitor encontre algum erro gramatical ou ortográfico. Como eu disse anteriormente, eu escrevo por hobby, apenas para me divertir. No entanto, eu tenho estudado e tentado aprimorar o meu trabalho (talvez o leitor perceba meu esforço após ler Rudamon II). Ao entrar nesse maravilhoso universo da literatura, eu percebi o quanto tudo sempre pode ser melhorado. Eu aprendi a ser mais humilde, mais autocrítico, e acima de tudo ser mais guerreiro. Eu preciso deixar um registro muito importante. Existe uma pessoa muito especial... Um ser lindo, maravilhoso, que eu amo muito! Trata-se da minha namorada (C.A.S). Se esse livro está em suas mãos nesse momento, é graças a ela. Se o Rudamon II saiu, também é graças a ela! Esse anjo que surgiu em minha vida me encorajou a retomar meus trabalhos literários, e acima de tudo, me mostrou o que é o verdadeiro amor. (C.A.S ) Eu te amo!!! 10
  • 9. Prefácio Osorkon levava uma vida dedicada à ciência. Biólogo e especialista em escorpiões dedicou muitos anos de sua vida ao estudo de antídotos contra o veneno desses aracnídeos. Após divulgar seu grande invento ao mundo, Osorkon recebeu um misterioso contato do Egito, atraindo-o para pesquisar uma espécie de escorpiões nunca vista antes. Ao chegar à terra dos faraós, o personagem percebe tarde demais, que foi atraído para uma armadilha. Após ser atacado por doze escorpiões sobrenaturais no deserto egípcio, Osorkon passa a adquirir super poderes oriundos dos deuses do Egito Antigo. Cético e totalmente incrédulo, Osorkon inicialmente não acredita que aquilo está acontecendo com ele, e demora a aceitar a missão ao qual foi incumbido. Após uma série de “coincidências” e fatos constatados, Osorkon fica convencido de que o sobrenatural existe mesmo. Agora ele não teria mais como escapar do legado que deixaria para a humanidade. Sua missão foi revelada pelos manuscritos secretos da OSWH (Ordem Secreta dos Waja Hur), uma antiga escola de mistérios do Egito, que lhe entregaria a máscara de Osíris, revelando-lhe a missão à qual estava predestinado. Osorkon tinha a missão de salvar a humanidade... Osorkon tinha que ser um herói... Osorkon se tornaria Rudamon! 11
  • 10. Apóphis- Personagem da mitologia Egípicia.
  • 11. Capítulo 1 Um Mito Dentro do Mito N os tempos antigos, um pouco antes de surgir vida huma- na no planeta Terra, o deus Rá conseguiu prever que os seres humanos viveriam em total estado de barbárie. Pre- ocupado com este fato, esta divindade convocou os deuses elementais para uma assembléia, a fim de decidir que um semideus seria criado com o propósito de preparar o mundo para a vinda da humanidade. Os deuses batizaram-no Disebek. A missão deste semideus seria conduzir os primeiros homens a um rápido processo civilizatório. Os poderes especiais que lhe foram conferidos permitiriam a ele total êxito nessa missão. Rá queria que o planeta vivenciasse um Período de Ouro, desde o início. Ele só não conseguiu prever que algo muito ruim iria acontecer... Disebek aliou-se ao mal e traiu a confiança dos deuses. O semideus teve de ser punido antes que os humanos chegassem ao planeta. Rá precisou pensar numa nova solução. Enquanto ele planejava o que fazer, os humanos começaram a viver na Ter- ra. A Era de Ouro da civilização foi atrasada e os homens vivi- am praticamente como animais. A situação estava insustentá- vel. Em assembléia extraordinária, os deuses decidiram enviar Osíris para civilizar os homens, começando pelo Egito. Esse deus ensinou os humanos a cultivar, trabalhando com o arado e a enxada. Os velhos hábitos irracionais foram sendo abando- 13
  • 12. Rudamon - O Novo Héroi nados. Graças à primeira etapa desse trabalho, a região se tor- nou próspera. A humanidade também aprendeu a fundir metais para a construção de armas e ferramentas. Depois que conseguiu grande êxito no Egito, Osíris decidiu levar a sua luz para o resto do mundo. Para ajudá-lo, convocou os deuses Anúbis e Thot, partindo em uma expedição que disseminou o conhecimento egípcio por todo o planeta. A empreitada teve grande êxito... O sucesso de Osíris despertou a inveja de seu irmão, o deus Seth. O mesmo tramou a morte de Osíris, elaborando um plano pérfido, enquanto este cumpria a sua missão na Terra. Quando Osíris voltou da expedição, o irmão fez questão de recepcioná-lo “amigavelmente”. Esta recepção fazia parte de uma cruel trama premeditada. Uma linda festa foi prepa- rada. Uma grande urna foi construída, para fazer uma “pe- quena brincadeira” com Osíris. Na verdade, a brincadeira era uma armadilha... Osíris foi colocado dentro da urna, e esta foi lançada ao rio Nilo. Pelos planos de Seth, não bastava o irmão estar morto. Sua alma deveria vagar sem rumo, pois o seu cor- po não fora mumificado. Seth queria impedir que Osíris che- gasse à Mansão dos Mortos, e lá fosse soberano. Depois que matou o irmão, Seth assumiu o trono do Egito. Ísis, a esposa de Osíris, descobriu a maldade de Seth, e saiu em busca do esposo. A deusa percorreu todo o Egito com o auxílio dos deu- ses Thot e Anúbis. Após muitas aventuras e infortúnios, Ísis decidiu seguir a voz de seu coração... Separou-se dos deuses e partiu sozinha para a Fenícia. Sua intuição estava certa... Na- quele país, conseguiu encontrar a urna onde estava o cadáver de seu amado esposo, escondendo a mesma nos pântanos de Buto, a fim de reencontrar Thot e Anúbis. Este último deveria fazer os ritos de embalsamamento para que Osíris remanescesse na eternidade e gerasse um filho com a deusa. Enquanto Ísis procurava os amigos, um espião de Seth encontrou a urna. O 14 Um Mito Dentro do Mito
  • 13. Demetrio Alexandre Guimarães maléfico deus cortou o corpo de Osíris em quatorze pedaços, espalhando-os pelo Egito. Néftis, esposa de Seth, ficou saben- do da história e ficou ao lado de Ísis. Esta deusa ajudou a equi- pe a procurar os pedaços de Osíris. Anúbis farejou cada um dos pedaços, um por um, encontrando apenas treze, o sufici- ente para embalsamar Osíris com dignidade. Depois que o deus foi reconstituído, ressuscitou para fazer amor com Ísis, engravidando-a. Depois disso, Osíris se tornou o senhor abso- luto dos mortos. Ísis deu à luz ao deus Hórus, que, posterior- mente, fez o seu tio Seth perder o trono do Egito, após uma sangrenta batalha que durou oitenta anos. Para que essa bata- lha não ficasse eterna, e mais sangue fosse derramado, os deu- ses decidiram nomear Seth “soberano nas alturas”. Este ficaria na proa da barca do supremo deus Rá, como o senhor dos raios e das tempestades. Alguns deuses foram enviados à Terra como faraós, para reconstruírem os estragos causados pela lon- ga e interminável guerra. Após um longo período de paz, a maléfica serpente Apóphis, o demônio que liderava todos os demônios, decidiu instalar o mal entre os humanos... A serpente que habitava o além-túmulo tinha a intenção de destruir tudo o que havia sido criado por Rá. A fim de conseguir o seu objetivo, Apóphis espalhou a crueldade, o egoísmo e a violência entre os homens. Os seres humanos começaram a destruir uns aos outros. Rá, o supremo, ficou preocupado com o estado de degradação em que a humanidade passou a viver, e atribuiu uma nova função ao deus Osíris. Este deveria levar o ouro dos deuses até o Sol, e construir a máscara faraônica de Rudamon, que transforma- ria, em herói, o ser humano que tivesse o coração mais puro. Esse ser humano seria o escolhido de Rá e deveria receber os poderes de Disebek antes de colocar a máscara, a qual tam- bém conferiria poderes extras, de acordo com a personalidade de quem a utilizasse. Quando Seth descobriu que o irmão re- Um Mito Dentro do Mito 15
  • 14. Rudamon - O Novo Héroi ceberia uma missão tão importante, ficou enfurecido... O maléfico deus dirigiu-se a Rá, exigindo-lhe assumir o posto de “senhor supremo dos mortos”, enquanto seu irmão Osíris não regressasse da nova missão. O seu pedido foi negado. Revolta- do com a decisão de Rá, Seth elaborou outro plano maquiavélico: quando a barca de Rá penetrou nas trevas e na desolação das cavernas do Ocidente, o malvado deus, que ti- nha a missão de manter o equilíbrio da mesma, pulou, e aban- donou os deuses, passando a habitar as trevas. Seth fez um pacto com Apóphis... A serpente demoníaca conferiu-lhe po- deres extras, estabelecendo a condição de que o deus passasse a servir ao mal por toda a eternidade. Desde então, Seth ficou incumbido de destruir a harmonia do mundo criado por Rá. 16 Um Mito Dentro do Mito
  • 15. Capítulo 2 O Egito que a História Desconhece S egundo os livros de história, nos primeiros tempos do Egito, vários grupos humanos se estabeleceram em aldeias agrí- colas, às margens do Nilo. Esses grupos tiveram líderes am- biciosos e inteligentes, que os unificaram. Essa unificação for- mou províncias denominadas nomos. Estes, por sua vez, eram governados pelos nomarcas. Posteriormente, os nomos se uni- ram, dando origem aos reinos do norte e do sul. Por volta do ano de 2850 a.C., Menés unificou os dois reinos. A partir daí, começou o período histórico denominado Antigo Império. Os historiadores dividiram a história do Egito em quatro perío- dos: Antigo Império; Médio Império; Novo Império e Baixo Império. Esses períodos foram antecedidos pelo período Pré- Dinástico. Um fato que todos desconhecem é que existiu um perío- do muito anterior aos primeiros tempos. A história desse perí- odo teve de ficar protegida pela escola de mistérios OSWH (Ordem Secreta dos Waja-Hur). Essa escola ficava sob as arei- as do deserto, em uma pirâmide de ouro secreta, localizada a oeste de Crocodilópolis. Por volta do ano de 4200 a.C., a civilização egípcia exis- tia há um milênio, e estava em seu auge. Sua sociedade possuía 17
  • 16. Rudamon - O Novo Héroi uma tecnologia que ninguém nunca imaginou. Segundo os manuscritos secretos, nos primórdios dessa civilização, os pró- prios deuses foram faraós. Depois que esses faraós ensinaram toda sua sabedoria aos seres humanos que habitavam nas mar- gens do Nilo, passaram os seus cargos aos homens mais dignos de recebê-los. Naqueles tempos, quase toda a vida dos egípcios se con- centrava nas proximidades do lago Méris. Naquele local, situ- avam-se as mais belas pirâmides, todas construídas com o ouro mais puro que havia no Egito. As pirâmides não tinham a fina- lidade de sarcófagos, e eram feitas para adorar os deuses. Aliás, quase toda a arquitetura daquela época havia sido construída em ouro. Somente as moradias dos servos eram feitas de quart- zo, granito e basalto, extraídos da região de Assuã. A sociedade era a mais organizada e evoluída do planeta. As moedas de troca eram pedras de esmeralda, ametistas, turquesas e safiras. Qualquer ser humano tinha o direito de ser mumificado dig- namente após a sua morte, independentemente de ser bom ou mau, rico ou pobre. A diferença de classe era indicada pelo local das catacumbas, e pela cor do tecido utilizado no proces- so de mumificação. Os faraós e os sacerdotes eram mumifica- dos com tecidos de cor dourada, e colocados nas catacumbas situadas sob as areias próximas ao lago Méris, no deserto Líbico, a oeste do Nilo. Os militares e os escribas eram mumificados com tecidos amarelos, e colocados nas catacumbas situadas sob as areias de Heracleópolis, também localizadas no deserto Líbico. Os artesãos e comerciantes eram mumificados na cor cinza, e suas catacumbas situavam-se sob as areias de Hardai, no deserto Arábico, à leste do Nilo. Os servos e escravos eram mumificados com tecido branco, e colocados nas catacumbas também situadas em Hardai. Essas catacumbas se localizavam a alguns quilômetros de distância, à leste dos sarcófagos dos artesãos e comerciantes. As catacumbas dos criminosos locali- zavam-se a milhares de quilômetros, sob as areias de Ombos. 18 Um Mito Dentro do Mito
  • 17. Demetrio Alexandre Guimarães Os malfeitores eram mumificados com cores diferentes, de- pois que cumprissem a sua pena de morte, pelos escorpiões do deserto. As cores utilizadas nos tecidos eram de acordo com o crime cometido. Assim sendo: os incendiários, os estupradores e os agiotas eram mumificados na cor vermelha; os que come- tiam o latrocínio, na cor roxa; os psicopatas, na cor azul; os charlatões, traidores do faraó (que cometiam graves traições) e os falsos profetas, na cor verde; os feiticeiros do mal, na cor preta. Os ladrões não eram condenados à morte, mas tinham suas mãos amputadas. Os deuses que tinham previsto dois ataques dos hicsos deixaram suas previsões registradas em dois pergaminhos de ouro, com uma criptografia que era usada naquela época. O pergaminho que alertava sobre o primeiro ataque não ficou conhecido pela história, e foi protegido pela OSWH. O outro pergaminho ficou perdido, e ninguém nunca soube de seu paradeiro. O segundo ataque, que todos conhecem, aconte- ceu na época do Médio Império, quando os hicsos venceram e dominaram o território egípcio por um século. Os egípcios foram derrotados porque os invasores utilizaram cavalos e car- ros de guerra, algo que era desconhecido no Egito daquele período. Os hicsos não tiveram a mesma sorte quando fizeram o primeiro ataque no ano 3500 a.C. Naqueles tempos, devido ao alerta dos deuses, os egípcios se prepararam para a guerra mais fantástica que existiu no mundo. O Egito tinha o exército mais preparado e bem equipado do planeta. Os soldados eram bem treinados, e todas as suas armas eram feitas de ouro. O seu exército possuía o seguinte arsenal: arcos e flechas; escu- dos; lanças; machados; catapultas e espadas. Além das armas, os egípcios contavam com gigantescos chacais, cães e crocodi- los adestrados para a guerra. O exército hicso foi dizimado. Os sobreviventes se tornaram escravos, ao lado dos servos que ha- viam cometido traições leves contra o império. Os anos se pas- O Egito que a História Desconhece 19
  • 18. Rudamon - O Novo Héroi saram e o país viveu outro longo período de paz. Inconformada com toda aquela calmaria, Apóphis enviou Seth ao Egito para promover o mal e a destruição. Era o ano de 3400 a.C. A corrupção e a violência passaram a dominar o povo. O caos tomou conta de toda a sociedade. Rá enviou, ao planeta, o único ser humano que seria digno de ser um Rudamon: Jarha. O eleito do deus Supremo nasceu filho de escravos, e, devido à sua lealdade, se tornou um soldado do faraó. Após ser con- denado à morte injustamente, Jarha adquiriu superpoderes e se transformou em Rudamon. O herói cumpriu bem a sua missão, e estava conseguindo colocar ordem naquele caos. Seth ressuscitou terríveis múmias de criminosos, conferindo-lhes poderes sobrenaturais. Elas conseguiram destruir Rudamon. Os deuses ficaram furiosos. Rá enviou Osíris ao planeta para retirar a força vital que animava as múmias, colocando-as de volta nos sarcófagos. Depois de muito tempo, as pessoas volta- ram a praticar a corrupção e a maldade, através da maléfica influência de Apóphis. O povo egípcio foi punido, e tudo o que havia construído desapareceu. Toda população perdeu a memória, exceto os homens de bom coração. Enquanto a mai- oria das pessoas voltava à barbárie, Waja-Hur, o mais sábio dos egípcios que foram poupados, recebeu de Osíris a missão de cuidar de uma pirâmide de ouro secreta, onde deveria reunir os bons homens que restaram e fundar uma escola de mistéri- os. Estes homens mantiveram os conhecimentos perdidos atra- vés de rituais iniciáticos que eram feitos secretamente. Quan- do os hieróglifos foram inventados, e os papiros passaram a ser utilizados, a história desconhecida passou a ser registrada em manuscritos. No entanto, os manuscritos, sem os rituais, não seriam completos. Somente um autêntico membro da OSWH poderia decifrá-los. 20 O Egito que a História Desconhece
  • 19. Capítulo 3 A Lenda de Disebek Q uando os deuses foram criados, uma antiga lenda ficou guardada. A mesma conta que um semideus foi criado especialmente para habitar o planeta Terra e governar a futura humanidade que estava por vir, segundo a vontade da corte dos deuses. Este ser chamava-se Disebek e era metade homem, metade escorpião. Seu lado humano constituía-se de braços, pernas e tronco. A parte de cima de seu tórax, bem como suas costas, que tinham um enorme aguilhão, pertenci- am ao seu lado aracnídeo e eram de cor preta. Sua metade escorpião também possuía quatro pares de patas e duas pinças gigantescas. Disebek tinha três metros de altura e era dotado de poderes especiais. Esses poderes lhe foram conferidos por três deuses elementais. O deus do elemento terra, Genubath, concedeu- lhe o poder material e físico. Genubath possuía dez metros de altura e pesava oito toneladas. O seu corpo 21
  • 20. Rudamon - O Novo Héroi assemelhava-se ao corpo de um rinoceronte, e constituía-se de elementos vegetais e minerais. Sua cabeça era humana e ostentava uma gigantesca coroa faraônica de ouro. Seus olhos eram marrons. Fisicamente, era o maior e o mais forte entre os deuses elementais. Ele habitava o centro da Terra. Tinha o poder de sustentar e regenerar a vida, reconstituindo e criando os minerais necessários para a manifestação do espírito na matéria. Tinha força para criar e, também, destruir, se necessário fosse, todas as coisas que faziam parte da matéria. Menhet, a deusa das águas, concedeu a Disebek o poder das emoções e da sociabilidade. Essa deusa tinha o corpo fluido e azul, e seus olhos eram amarelos. Habitava as partículas de água do planeta e podia voar. Usava uma coroa de rainha egípcia de cor azul-escura, que tinha um véu roxo. Suas mãos emanavam a água sa- grada primordial, que era o único ele- mento que podia destruir o fogo sagrado criado pelos deuses. Sua função era a de controlar as emoções de todos os seres. Ankhef, o deus do ar, tinha uma parte de seu corpo na forma humana, com cabeça, tronco e braços azul-escuros. Sua constituição física era etérea, sendo o mais leve dos seres. Usava uma coroa faraônica violeta, mesma cor de seus olhos, sobrancelhas e boca. Suas mãos emanavam tufões com poderes oriundos do ar primordial. Ele insuflava o poder do espírito no planeta, controlando as forças sobrenaturais e espirituais de todo o universo. Ankhef habitava toda a atmosfera. 22 A Lenda de Disebek
  • 21. Demetrio Alexandre Guimarães Suas mãos emanavam o ar primordial que insuflava o poder do espírito nos seres, e operava as forças sobrenaturais. Este poder foi insuflado em Disebek. Siamun, o deus do fogo, tinha o poder de conferir inte- ligência e raciocínio aos seres vivos. Esse deus habitava as lavas dos vulcões. Com cinco metros de altura, tinha o corpo etéreo e constituído pelas chamas do fogo sagrado. Sua cabeça e seus braços tinham forma humana, e seus olhos eram vermelhos como a coroa faraônica que utilizava. Suas mãos emitiam raios de fogo. Sua principal função era a de controlar todo o fogo do universo. Esse deus ficou incumbido de conferir inteligência e ra- ciocínio a Disebek, assim que o mesmo mostrasse merecimen- to diante das missões que deveria cumprir no Planeta. Segun- do a lenda, Disebek teria a sua parte aracnídea destruída pelo fogo sagrado de Siamun, que lhe colocaria uma cabeça huma- na logo após a destruição. A partir daí, Disebek seria um deus completo. Quando isto estava prestes a acontecer, ocorreu algo que nem os próprios deuses esperavam... A Serpente Apóphis, que habitava o além-túmulo, e representava as trevas, procurou Disebek, prometendo- lhe um poder infinitamente maior ao que o deus do fogo poderia lhe dar. Após uma série de demonstrações que convenceram o semideus das vantagens que esse poder lhe daria, o mesmo aceitou a missão de aliar-se à maléfica serpente, preparando o pla- neta Terra para a chegada dos seres do mal. Ao assistir a fraqueza de Disebek, os deu- ses elementais fizeram uma assembléia, toman- do a decisão de punir o traidor. Siamun foi convocado para ser o seu algoz, desafiando-o para um duelo. No dia da disputa, convicto A Lenda de Disebek 23
  • 22. Rudamon - O Novo Héroi de sua vitória, Disebek lançou vários raios escuros contra o deus, que nada sentiu. Este, por sua vez, lançou-lhe rajadas de fogo que traumatizaram o bizarro monstro, de tal forma que esse passou a preferir a própria morte, a ter de enfrentar o fogo novamente. Disebek pediu clemência aos deuses, e eles aceitaram as suas súplicas, amenizando a sua pena. Ao invés de lhe tirarem a vida, tiraram-lhe a parte humana. Reduzindo o seu tamanho pela metade, aprisionaram-no na região desértica, a milhares de quilômetros de Mênfis. Logo em seguida, criaram uma fêmea para lhe fazer companhia. O casal de escorpiões foi colocado dentro de um enorme cubo de ouro, criado pelos deuses para esta finalidade. Os deuses enterraram esse cubo pessoalmente, a vinte metros de profundidade sob as areias do deserto. Doze furos foram feitos no mesmo, para que o casal pudesse sair pra caçar, e fazer a dança do acasalamento. No entanto, uma condição foi imposta... Se um dos dois ficasse por mais de duas horas fora do cubo, teriam de enfrentar o deus Siamun. Quando suas crias atingissem a idade adulta, deveriam sair e não retornar mais. Estas perderiam o poder sobrenatural que havia em seu código genético, e teriam o seu tamanho reduzido a centímetros. O poder seria substituído pelo veneno, que lhes auxiliaria nas caçadas e na autodefesa, tornando-as repugnantes aos olhos humanos. Esta foi uma maldição que os deuses conferiram à espécie, que deveria ser amaldiçoada e temida para sempre pela humanidade. Segundo esta mesma maldição, o medo do fogo deveria fazer parte da natureza dos escorpiões eternamente, por causa da traição de Disebek. À medida que as crias saíam do cubo, cada qual ia para uma região do planeta onde se adaptava e procriava. Assim, algumas mudaram de cor, de tamanho, de habitat, de veneno, etc. As mudanças aconteciam conforme as características climáticas dos locais onde passavam a habitar. 24 A Lenda de Disebek
  • 23. Demetrio Alexandre Guimarães Certa vez, a fêmea de Disebek excedeu o tempo permitido para ficar fora do cubo, e uma nova punição foi aplicada por Siamun. O deus fez um círculo de fogo ao redor da mesma, que não suportando o medo das chamas, enfiou o aguilhão na própria cabeça e morreu. Com a ajuda dos outros deuses, Siamun fez um enorme disco de ouro, que tinha o poder de emitir as chamas do fogo sagrado. O disco de ouro só deixaria de existir se Disebek fosse morto através dele. Esse objeto foi colocado posteriormente na pirâmide dos iniciados Waja- Hur, que deveriam destruir o escorpião, se o mesmo saísse do cubo. Somente um autêntico membro daquela escola secreta saberia ativar ou desativar as chamas do disco, desde que o mesmo estivesse dentro da pirâmide. Disebek foi condenado à vida eterna, tendo que ficar aprisionado para sempre sob as areias do deserto. Os seus instintos de aracnídeo não foram retirados, para que o seu caráter fosse colocado à prova. Ele sentiria fome eterna, e sabia que jamais poderia sair de dentro do cubo, sob pena de morrer nas chamas do disco de ouro. No entanto, teve direito à companhia de seis casais da última cria. Os mesmos deveriam trazer alimento para o pai, e assim que procriassem, sairiam para o mundo, deixando sempre seis ca- sais para manter o ciclo. Quatrocentos milhões de anos se pas- saram, e somente os membros da “Ordem secreta dos Waja- Hur” conhecem esse segredo. A Lenda de Disebek 25
  • 24. Capítulo 4 Osorkon:Um Especialista em Escorpiões E stamos no ano de 2007, às 20:30h do primeiro dia do mês de outubro. Dr. Osorkon, biólogo especialista em escorpi- ões, nascido na cidade de São Paulo, e descendente de egíp- cios, se encontra no ginásio de boxe, como sempre faz às se- gundas-feiras, esmurrando o saco de pancadas que não parou da apanhar desde as 20h. Sempre que treinava, um filme de sua infância lhe passava na mente, e só era interrompido quan- do alguém lhe chamava... – “Hora de trocar luvas!” Ordenou o seu treinador. Osorkon foi ao ringue e praticou mais trinta minutos de pugi- lismo, que só treinava naquele dia da semana. O fato de trei- nar boxe somente às segundas-feiras tinha uma explicação: o cientista praticava Jiu-Jitsu às quartas-feiras, musculação às ter- ças e quintas, e karatê às sextas-feiras. Aos sábados e domingos, fazia o seu “Cooper” de uma hora para manter o fôlego. Esta era a forma que Osorkon encontrava para aliviar o estresse causado por suas pesquisas e pela culpa que carregava desde a infância. Vamos conhecer um pouco a história de Osorkon. O pesquisador nasceu aos 18 dias do mês de novembro de 1975, e sempre gostou de ser do signo de Escorpião, embora não 26
  • 25. Demetrio Alexandre Guimarães acreditasse muito em Astrologia. Desde pequeno, tinha fascí- nio por esses aracnídeos, em todos os aspectos. Certa vez, o seu gato de estimação morreu vítima da aguilhoada de um escor- pião que escapou de um dos vidros de sua coleção. Mesmo assim, Osorkon continuava a aprisionar os artrópodes para observá-los. O terreno baldio ao lado de sua casa facilitava a sua “pesquisa”, que sempre foi condenada por sua mãe: “Me- nino! Pare de trazer esses peçonhentos aqui em casa! Isso pode não acabar bem! Você não viu o que aconteceu com o Félix quando aquele maldito escorpião escapou?!”. Infelizmente, a premonição de sua mãe concretizou-se. Certa vez, Osorkon esqueceu de trancar o seu quarto e sua irmãzinha de três anos entrou no local sem que ninguém soubesse, abrindo um dos vidros. A aguilhoada que a pobre criança levou foi fatal. Um grande pesar tomou conta de sua família, que sempre o cul- pou pela morte da irmã. A partir daquele dia, ele jurou que seria um cientista e que criaria um antídoto de prevenção que tornaria o ser hu- mano imune à aguilhoada de qualquer espécie de escorpião do mundo. Aqui- lo se tornou uma obsessão em sua vida. A culpa pela morte do gato e da irmã sempre o atormentou. O jogo psicológico que sua mãe fa- zia piorava a situação. Mesmo assim, sua meta foi atingida. Naquele dia, no ginásio de boxe, o cientis- ta estava ansioso... Era véspera da palestra que faria para divulgar o êxito de sua descoberta no meio científico. Osorkon: Um Especialista em Escorpiões 27 O SORKON
  • 26. Rudamon - O Novo Héroi Dois de outubro de 2007. O salão de convenções da Universidade de São Paulo estava lotado. Eram quinhentas pessoas do mundo acadêmico,vindas de várias partes do Brasil e do mundo. Diversas equipes de televisão cobririam o evento. Era o grande dia. Com trinta e um anos de idade, Osorkon tinha de expor longos anos de pesquisa em tão pouco tempo. Essa importante descoberta se- ria um marco na história da humanidade. Apesar de nervoso, Osorkon segurou o microfone e deu início à palestra: – Boa noite, senhoras e senhores! Considero este dia o mais importante de minha vida, e da vida de todos os seres humanos. Ao longo de vários anos, pesquisei as mil e seiscentas espécies de escorpiões que existem no planeta! Foram bolsas, patrocínios, e muitas viagens que, às vezes, paguei com meu próprio dinheiro! Mas valeu a pena... Antes de falar sobre os antídotos que inventei, falarei um pouco sobre os escorpiões... Esses aracnídeos existem há quatrocentos milhões de anos. Fo- ram os primeiros artrópodes a conquistar o ambiente terres- tre. O seu corpo é dividido em duas partes: o cefalotórax e o abdômen. Eles possuem quatro pares de pernas e as duas pin- ças variam de acordo com a espécie. Os escorpiões são vivíparos e podem trocar de pele até seis vezes, quando atingem a matu- ridade. Na espécie Tityus Serrulatus, não há macho. Essa espé- cie de escorpiões amarelos se reproduz por parto gênese. A gestação da espécie Pandinus, grandes e perigosos escorpiões africanos, dura nove meses. Os escorpiões costumam habitar todos os continentes, exceto a Antártida. Podem ser encontra- dos em desertos, savanas, cerrados, florestas temperadas e tro- picais. Vinte e cinco espécies podem causar acidentes com óbitos. Os espécimes dessa categoria de aracnídeos são carní- voros, e gostam de devorar as suas vítimas ainda vivas. Alimen- tam-se de algumas espécies de insetos e de vertebrados. A glân- dula dos escorpiões possui uma pequena quantia de veneno, que pode ter um grande poder tóxico. A maioria dos ataques torna-se quase sempre fatal, principalmente em crianças e ido- 28 Osorkon: Um Especialista em Escorpiões
  • 27. Demetrio Alexandre Guimarães sos, se não forem socorridos em tempo hábil. A vítima sofre do seguinte modo: os músculos da pele absorvem o veneno de forma rápida. Esse veneno é deslocado para o sangue, pul- mões, rins e sistema nervoso. O envenenamento causa uma dor local intensa que é irradiada para todo o resto do corpo. O local que levou a aguilhoada pode ficar inchado e vermelho. A dor pode fazer a vítima entrar em choque neurogênico, levan- do-a à morte. A gravidade do envenenamento é relacionada à quantidade de veneno injetado, e com a proporção da massa corporal de quem sofreu a aguilhoada. Quando ocorre o envenenamento por escorpiões do gê- nero Tityus, costuma-se aplicar o soro antiescorpiônico. Este soro é uma solução purificada de anticorpos específicos para esse gênero. Anestésicos locais são aplicados somente nos casos benignos, quando a dor for suportável. Nesses casos, a soroterapia costuma ser dispensada somente se a dor desapa- recer. A soroterapia costuma ser indicada em crianças meno- res de sete anos e nos idosos. Nos adultos em geral, ela só é utilizada se o anestésico for ineficaz para controlar a dor. O soro antiaracnídico polivalente possui anticorpos contra o ve- neno de escorpiões, e também pode ser utilizado. No entanto, o seu uso é mais restrito, devido às reações alérgicas e ao cho- que que pode provocar. Deve ser aplicado rapidamente, por via endovenosa, somente por profissionais especializados. Crendices populares e lendas passaram uma idéia de ma- lignidade sobre o aracnídeo, que, apesar de perigoso, é muito importante para o equilíbrio ecológico. Por causa disso, nunca tive a intenção de eliminar essa espécie, embora, uma vez, esse pensamento já tenha passado em minha mente. Digo isso, pois quando eu era pequeno, perdi uma irmã e um animal de esti- mação, vítimas de escorpiões. Não poderei trazê-los de volta com a minha descoberta, mas poderei evitar que milhares de pessoas sofram a dor que minha família e eu passamos! Desen- Osorkon: Um Especialista em Escorpiões 29
  • 28. Rudamon - O Novo Héroi volvi dois tipos de antídoto: um é de prevenção, o OSK1. Fun- ciona como uma vacina e deve ser tomado uma vez por ano. Ele não evita a dor das aguilhoadas, mas inibe o efeito do ve- neno de qualquer escorpião existente no planeta. O OSK2 é um salva-vidas, que deve ser aplicado logo após uma aguilhoa- da. Ele serve para as pessoas que não tomaram o OSK1, e cura o efeito do veneno de qualquer espécie. Tanto um, como o outro, não causam nenhum tipo de reação alérgica ou efeito colateral. Daqui a três meses, os dois antídotos já estarão à ven- da em todas as farmácias do mundo. Eu aconselho todas as pessoas a tomarem o OSK1 a título de prevenção. Para aqueles que moram em lugares onde o índice de escorpiões é maior, ou para profissionais, esportistas e aventureiros que freqüentam áreas de risco, o OSK1 é imprescindível. Lembrem-se de que é melhor prevenir do que remediar. Obrigado! Após a enorme salva de palmas e inúmeras entrevistas, Osorkon foi para casa. 30 Osorkon: Um Especialista em Escorpiões
  • 29. Capítulo 5 Os Escorpiões Sobrenaturais O sorkon era solteiro e morava sozinho. Tinha um enorme laboratório em casa, com viveiros de várias espécies de escorpiões. Sempre foi um sujeito cético e só acreditava naquilo que a ciência podia provar. Dono de um corpo atléti- co, nunca foi vaidoso para se vestir. Sua habitual vestimenta era uma camiseta vermelha e uma calça jeans com uma cinta marrom. Sua bota preta era uma companheira inseparável, pois lhe protegia dos aracnídeos que pesquisava. Feliz da vida com o enorme sucesso de sua palestra, estava ansioso para ver os noticiários sobre o evento, que sairiam no dia seguinte. Após tomar um banho para tirar o cansaço do corpo, entrou em seu quarto e ligou o computador para ver os seus e-mails. Um de- les, em especial, lhe chamou a atenção: “Espécie de escorpião desconhecida”. Boquiaberto, e mais do que depressa, ele clicou no e-mail e começou a ler a notícia. “Quinto caso de morte misteriosa no Egito. As cinco ví- timas que foram atacadas apresentavam as mesmas caracterís- ticas: o corpo inteiro ficou roxo, os olhos ficaram vermelhos, a boca e a língua ficaram pretas e espumavam uma substância totalmente desconhecida. Pelo relato, as vítimas ficaram incha- das e levaram de duas a três semanas para atingirem a tempe- ratura normal de um cadáver. Os especialistas garantem que, nos cinco casos, há indícios de que doze escorpiões atacaram as 31
  • 30. Rudamon - O Novo Héroi pessoas ao mesmo tempo. Pela profundidade das aguilhoadas, essa espécie provavelmente deve ser a maior que já foi vista até agora. O que intrigou os pesquisadores, é que tudo indica que essa espécie prefere atacar em grupo. Diversas equipes já vas- culharam a área, que fica localizada na região desértica, a oeste do local onde ficava o nomo de Mênfis do Antigo Egito. Ne- nhuma pista foi encontrada. Possivelmente, essa espécie de aracnídeo ainda não foi catalogada, e os cientistas egípcios de- duzem que ela deve habitar os subsolos das areias do deserto, e provavelmente, atacar, em grupo, as suas vítimas no período noturno. Nós, do grupo Waja-Hur, estamos contando com a sua ajuda. Sabemos que é o único especialista do mundo que tem condições de descobrir esta nova espécie. Patrocinaremos e daremos toda a assessoria que precisar. Atenciosamente, OSWH”. Osorkon olhou um tempão para as fotos das vítimas e ficou se perguntando: “O que será que significa OSWH?”. No dia seguinte, pegou o primeiro vôo para o Egito. x O avião estava pousando no Egito. Era a primeira vez que o cientista iria pisar na terra de seus ancestrais. Ao obser- var a bela paisagem pela janela da aeronave, os seus olhos lacrimejaram no mesmo instante. A visão do rio Nilo e das enormes mesquitas do Cairo lhe provocou profundas emoções. Quando desceu do avião, um misterioso homem estava a sua espera. Era Amenemopet, representante da OSWH. O ho- mem misterioso e de poucas palavras foi ao seu encontro... – Olá! O meu nome é Amenemopet. Estava a sua espe- ra. O táxi já está nos aguardando. Queira me acompanhar, por favor. Pela janela do automóvel, Osorkon presenciou um Egito que jamais imaginava. As ruas da cidade eram modernas e ti- nham belos edifícios, carros do ano e lojas sofisticadas. O mo- 32 Os Escorpiões Sobrenaturais
  • 31. Demetrio Alexandre Guimarães vimento nas avenidas era intenso, e as pessoas usavam diferen- tes tipos de trajes. A capital do país mostrava uma visão total- mente diferente da que ele esperava encontrar. Quando che- garam ao centro da cidade, o táxi parou em frente a um luxu- oso hotel cinco estrelas. Amenemopet voltou a falar... – Hoje, o senhor ficará hospedado aqui. Nos próximos dois dias, faremos um passeio para que você conheça os princi- pais lugares do meu país. O Sr. Huni, que vai patrocinar a sua pesquisa, faz questão que o senhor não saia daqui sem conhe- cer os principais pontos turísticos do Egito. Amanhã, bem cedo, virei buscá-lo. Esperamos que tenha uma ótima hospedagem, Sr. Osorkon. Dito isso, Amenemopet deu uma enorme quan- tia de dinheiro ao cientista, e antes mesmo que este pudesse dizer qualquer coisa, o homem se antecipou... – Esse dinheiro é para os seus gastos pessoais. Pode com- prar e pagar o que quiser. A noite no Cairo é muito especial, Sr. Osorkon. Esperamos que aproveite bem a sua estadia. Osorkon agradeceu e foi para o quarto. Preferiu ir dor- mir, pois estava muito cansado da viagem que tinha feito. Quando Osorkon terminou de tomar o café da manhã, Amenemopet já estava lhe aguardando. Desta vez, uma linda limusine, com motorista particular, estava à sua espera. Quan- do o luxuoso carro saiu da parte urbana, o cientista pôde ob- servar o enorme contraste que existia no país. As paisagens naturais eram belíssimas, mas a miséria da população era níti- da. A pobreza estava presente nas aldeias, onde os felás, que eram camponeses pobres, sobreviviam através das práticas agrí- colas. Apesar de toda aquela miséria, os felás tinham um gran- de orgulho de sua descendência do povo antigo do Egito. Depois de um longo trajeto, Osorkon foi conhecer os primei- ros pontos turísticos. O primeiro local que o especialista em escorpiões conhe- ceu, foi a planície de Gizé. A esfinge e as pirâmides deixaram- Os Escorpiões Sobrenaturais 33
  • 32. Rudamon - O Novo Héroi no fascinado. Depois desse passeio, conheceu a pirâmide escalonada de Sacara. Aquele monumento, localizado próxi- mo às ruínas de Mênfis, tinha sido edificado pelo faraó Djoser, no Antigo Império. Todas aquelas relíquias que conheceu eram maravilhosas. E as ruínas monumentais! Como eram lindas! Seus templos, suas estátuas, seus túmulos... Os templos mais importantes do Egito estavam em Tebas. O templo de Carnac, o maior de todos, era fascinante. Não muito longe dali esta- vam os restos do templo de Lucsor, que também tinha uma enorme proporção. No sul do país, em Núbia, conheceu o templo de Abu-Simbel. Esse, sem dúvida, foi o que mais lhe encantou. Na verdade, não era só um templo. Eram dois! Es- cavado numa rocha, apresentava quatro estátuas idênticas de vinte metros de altura. Aqueles dois dias inesquecíveis termi- naram no museu do Cairo, onde Osorkon pôde conhecer as múmias de diversos faraós, bem como as diversas obras que se conservaram ao longo dos séculos. O cientista teve uma forte impressão de que já tinha vivido naquele lugar. “Deve ser por causa dos livros de história”, pensou ele. x No dia seguinte ao passeio, Amenemopet providenciou um helicóptero, com piloto, para Osorkon. Todos os equipa- mentos que o cientista havia solicitado já estavam a sua dispo- sição. Tudo o que era tecnologia para se poder fazer uma pes- quisa daquele porte havia sido fornecida. O cientista montou um acampamento no deserto, próximo ao local onde as víti- mas foram encontradas. Preferiu ficar sozinho e levou supri- mentos para uma semana. Tinha um comunicador, para en- trar em contato com o piloto em caso de emergência. Anoiteceu. Osorkon aplicou o OSK1 nele próprio. O silêncio e a escuridão do deserto eram sinistros. Ele abriu uma enorme caixa, que transportava trinta ratinhos cobaias com 34 Os Escorpiões Sobrenaturais
  • 33. Demetrio Alexandre Guimarães sensores GPS. Esses sensores eram ativados quando a adrenalina do animal subia por medo, ou por dor. Havia um localizador para cada um deles, que apitava mostrando, na tela de seu notebook, o exato local onde a cobaia estava. Este procedi- mento poderia ser longo e frustrante, pois o ataque de outras espécies também ativaria o localizador. Osorkon sabia que a sorte e o azar também faziam parte da ciência. Toda pesquisa sempre tinha certo risco. Mas por sorte, azar ou destino, sua barraca estava armada bem em cima do cubo de ouro de Disebek. Osorkon contemplava as estrelas do lado de fora da bar- raca. A fogueira acesa, para afastar a fria noite do deserto, era sua única companheira. Aquela era a hora da caçada dos fa- mintos escorpiões de Disebek... Os doze aracnídeos saíram do cubo. Estavam com sorte! A refeição estava próxima... Distraído e olhando para a fogueira, de repente, Osorkon percebeu que estava rodeado por doze escorpiões gigantescos, pretos e aterrorizantes, e que tinham o tamanho aproximado de um metro e meio. – Minha Nossa! Não são escorpiões... São monstros! – disse ele consigo mesmo... Pela primeira vez na vida, sentiu medo daquilo que sempre venerou. Imediata- mente, improvisou uma tocha para ir afastando os aracnídeos. Estes recuavam, mas iam rapidamente se aproximando e en- volvendo Osorkon, que deu um jeito rápido de entrar na bar- raca, acionando o alerta de emergência para chamar o piloto, e apanhando a sua sofisticada câmera fotográfica de última geração, para tirar algumas fotografias daqueles terríveis mons- tros. Nesse meio tempo, um dos escorpiões que já tinha chega- do praticamente no seu pé direito, deu-lhe uma aguilhoada. Nem a sua resistente bota preta conseguiu conter aquele enor- me aguilhão. A dor era tão horrível, que o fez cair no chão. Nesse exato momento, os outros escorpiões partiram para o ataque. Apesar da terrível dor, o cientista conseguiu fotografá- Os Escorpiões Sobrenaturais 35
  • 34. Rudamon - O Novo Héroi los. Cada aguilhoada era insuportável, e ele começou a tremer e sentir um terrível calafrio. Não agüentando a dor, desmaiou e começou a ter delírios. Via a imagem de sua mãe lhe dizen- do: “Assassino! Matou sua irmã!” Via o seu gato com propor- ções gigantescas, e o enterro de sua irmã, dentro daquele pe- queno caixão branco que nunca mais saiu de sua memória. As imagens surgiam de repente e sumiam, dando lugar a outras imagens. Sua falecida irmã de três anos apareceu, fitando-o com uma lágrima no rosto. Logo após, viu um homem de lon- gas barbas brancas, vestido com uma túnica violeta, que tinha um capuz da mesma cor. Esse homem segurava uma caixa de ouro, e estava lhe observando o tempo todo. Em seguida, Osorkon viu-se fora de seu corpo, exatamente como ele era, e, depois, como uma criança recém nascida nos braços de uma presença feminina e etérea. A entidade olhava para o bebê e dizia: “A força de Osíris está com você! Você tem uma impor- tante missão no mundo!” Uma luz saiu das mãos da linda mu- lher, que parecia uma deusa, e iluminou o bebê. Seu corpo, que estava caído no chão, também foi iluminado. Dessa vez, a entidade aproximou-se de Osorkon, e ficou em frente ao mes- mo. Fitando-o, bem no fundo de seus olhos, disse-lhe: “O mundo precisa novamente de um herói! Você será salvo, para salvar o mundo!” – Osorkon desmaiou. Nesse meio tempo, o helicóptero começou a se aproximar. Os doze escorpiões afun- daram na areia e voltaram para o cubo de ouro. 36 Os Escorpiões Sobrenaturais
  • 35. Capítulo 6 A Ordem Secreta dos Waja-Hur O sorkon despertou no quarto de um hospital. Ao abrir os olhos, notou que o piloto do helicóptero estava ao seu lado: – O senhor está bem? – Sim! Estou bem, obrigado. Onde estamos? – Estamos num hospital do Cairo. O senhor teve sorte de escapar com vida! Os médicos acharam que ia morrer! – Não acredito muito em sorte! Acho que fui salvo pelo meu antídoto OSK1... – Tem uma pessoa que deseja falar com o senhor. Vou chamá-lo... Enquanto Osorkon esperava a tal pessoa, começou a re- fletir sobre as alucinações que teve depois dos ataques. “Preci- so anotar os sintomas do veneno dessa espécie!” Pensou consi- go mesmo. Nesse exato momento, entrou no quarto um sujei- to elegantemente vestido. O homem usava um blazer marrom- escuro, com uma camisa de tonalidade marrom mais clara por baixo. Em sua calça, que também era marrom, usava uma cin- ta preta, mesma cor de sua gravata e de seus sapatos. Apesar de 37
  • 36. Rudamon - O Novo Héroi aparentar uns cinqüenta anos de idade, o misterioso homem, de média estatura, usava barba, bigode e cavanhaque pretos... – Bom dia, Sr. Osorkon! Permita-me apresentar-me: meu nome é Huni, mestre da OSWH, a seu dispor! – Prazer em conhecê-lo, Sr. Huni. O que significa OSWH? – Ordem Secreta dos Waja-Hur. Somos uma escola Se- creta que perpetua a Tradição Egípcia há séculos. – Me desculpe a pergunta... Nada contra, mas... O que eu tenho a ver com isso? Sou um cientista! Pensei ter sido con- tratado por uma instituição científica! – Meu caro Osorkon... E a ciência por um acaso não lida com mistérios? O antídoto contra todos os escorpiões do mundo, que você criou, não era um mistério antes de você descobri-lo? – Senhor Huni, preste atenção: na ciência, se você so- mar um, mais um, são dois! Eu trabalhei durante anos para desenvolver os meus antídotos. Não existe nada de esotérico e misterioso nisso. Agora, eu quero saber: o que deseja, realmen- te, de mim, um mestre de uma escola de mistérios? – Você pode não acreditar no que vou lhe dizer, mas você é o escolhido de Rá, e o papel da OSWH foi o de condu- zi-lo até aqui, para que fosse atacado pelos doze escorpiões no deserto, a fim de cumprir a tua missão de salvar o planeta! Aquela reportagem que você recebeu por e-mail era falsa! – O senhor ficou maluco? Ou melhor... Acho que ainda estou tendo alucinações! Preciso registrar isso no meu relatório! – Basta de relatórios! Preste atenção na história que eu vou lhe contar... Talvez você me entenda... – Eu não quero ouvir histórias! Quero receber alta e vol- tar para o Brasil! 38 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
  • 37. Demetrio Alexandre Guimarães – Chega! – bradou Huni furioso. – Agora, você vai me ouvir... Contarei a história de um escravo que se chamava Jarha. Ele e toda a família sempre foram devotos do deus Osíris. Jarha trabalhou com tanto empenho, que foi tirado da condição de escravo e promovido a soldado do Faraó. Era forte, bom no manejo de armas, justo e respeitoso. Sua dedicação lhe rendeu a liberdade e um melhor padrão de vida para a família. Tudo ia bem na vida de Jarha, até ele conhecer Inet, a irmã mais nova do Faraó. O problema não foi conhecê-la, e sim, a atração que ela passou a sentir por ele. Todos os dias, ela se insinuava para Jarha, que procurava manter uma postura firme e controlada, pois sabia que a fraqueza diante da tentação poderia lhe custar caro. Certa vez, Inet ordenou a seus servos que chamassem o rapaz em seu quarto, e disse ao mesmo que, se ele con- tinuasse esnobando-a daquela forma, des- truiria sua família inteira. Ao mesmo tem- po em que Jarha temia por sua família, também sentia certa atração pela linda mulher que estava lhe ameaçando. Des- de então, começaram um romance secre- to dentro do palácio. Meremptor, o co- mandante da tropa que era apaixonado por Inet, descobriu e contou ao Faraó. Este nada fez contra a família do rapaz, pois era muito justo. O casal de amantes foi submetido a um interrogatório, e o pobre soldado assu- miu toda a culpa, pois temia por sua família. Inet, com medo de ser punida, confirmou a mentira. Jarha foi condenado por traição. Sua pena foi a morte pelos escorpiões gi- JARHA A Ordem Secreta dos Waja-Hur 39
  • 38. Rudamon - O Novo Héroi gantes do deserto, junto com os cinco criminosos mais perigo- sos da época, que foram julgados na mesma semana por causa de seus crimes hediondos. Após a execução, cada qual seria mumificado com um tecido de cor diferente, relacionada a seu respectivo crime. – Mas a mumificação não seria um privilégio dos faraós? – perguntou Osorkon. – Caro amigo, existem tantos mistérios no Egito, que você não faz idéia! Não há uma data precisa na história dos faraós. A escassez de testemunhos, bem como a escrita que estava em seu início, tornam parte dessa história enigmática e desconhe- cida. Somente os Waja-Hur têm acesso à verdadeira história. O tempo que estou lhe relatando faz parte de nossos segredos. Nessa época, qualquer ser humano que mor- resse tinha de ser mumificado. A diferença era feita pela cor do tecido usado na mumificação. Cada classe tinha a sua cor específica, e cada criminoso tam- bém. Continuando a história... Os criminosos eram: Apuki, o estrangulador; Bak, o esquartejador; Hunefer, o in- cendiário; Ramessu, o ilusio- nista, e Serapion, o mago ne- gro. Vou lhe contar um pouco sobre cada um deles... Apuki era um ladrão, que entrava na casa das pessoas para roubá-las, e estrangu- lava-as em seguida, para que ninguém lhe entregasse ao faraó, que punia os ladrões am- putando-lhes as mãos. Um dia, ele teve a in- felicidade de tentar roubar a casa de um sol- 40 A Ordem Secreta dos Waja-Hur Estrangulador
  • 39. Demetrio Alexandre Guimarães dado, e foi capturado. Posteriormente, foi mumificado com um tecido roxo. Bak teve um trauma de infância, que o transformou em um psicopata. Os seus pais, que eram pessoas boas e ingênuas, hospedaram dois viajantes em sua casa. Esses dois homens eram cruéis assassinos foragidos de terras distantes. Eles roubavam suas vítimas, e, depois, esquartejavam-nas pelo simples prazer de matar. Naquela noite, Bak, que tinha apenas cinco anos de idade, assistiu os pais serem mortos pelos forasteiros. Os ho- mens só não o mataram porque ele conseguiu fugir. Aquela imagem ficou em sua retina por toda a vida. O seu estado psi- cológico ficou alterado definitivamente. Ele jurou a si mes- mo que, quando fosse adulto, esquartejaria a to- dos que encontrasse pela frente. Em seu pensa- mento, aquele mundo cruel, que permitiu que seus pais fossem mortos de forma tão trági- ca, merecia morrer do mesmo modo que eles. Bak conseguiu esquartejar duzentas vítimas, até o dia em que foi capturado pelos soldados do faraó e condenado à morte. Posteriormente, foi mumificado com um tecido azul-claro. Hunefer era um agio- ta da época. Muito rico, emprestava suas jóias preciosas aos necessitados, mas lhes dava um prazo muito curto para a devolução do empréstimo. Os juros que cobrava das pessoas eram altíssimos. Mui- tos não conseguiam lhe pagar a quantia co- brada no tempo estipulado. Para punir os seus devedores, fazia questão de incendiar suas casas pessoalmente, e, de preferência, com os devedores dentro. Depois que mor- A Ordem Secreta dos Waja-Hur Esquartejador 41
  • 40. Rudamon - O Novo Héroi reu, foi mumificado com um tecido vermelho, cor usada pelo seu tipo de crime. Ramessu aprendeu as artes mágicas com o seu pai, desde a infância. Ele sabia provocar efeitos de ilusão com os truques que sabia, e com um alucinógeno que queimava em um turíbulo. A fumaça daquela planta, que só a sua família co- nhecia, causava alucinação nas pessoas. Seus truques eram usa- dos quando as vítimas estavam naquele estado. Ramessu era considerado, por todos, como um mago que tinha o poder de evocar os mortos e de derrotar as forças maléficas que perseguiam as pessoas. Na ver- dade, ele não fazia nem uma coisa, nem outra. O que fazia era extorquir o di- nheiro das pessoas de boa-fé, que fica- vam com o seu estado de consciência alterado. Durante anos, ganhou mui- to dinheiro fazendo isso. Certa vez, en- volveu-se com uma mulher que ficou a par de seus segredos. Tudo ia bem até que ele arrumou uma amante. Sua mulher descobriu e ficou furiosa, relatando ao faraó os métodos de- sonestos que Ramessu usava para ganhar a vida. Posteriormente, foi mumificado com um tecido verde, mesma cor que seria usada na mumificação de Jarha por causa de sua suposta traição. Serapion foi o pior de todos! Este homem foi um mago negro da pior espécie. Após fa- zer um pacto com Apóphis, confeccionou um cajado com poderes diabólicos, passan- do a usar o mesmo para gerar doenças nas pessoas, sem que elas soubessem. Depois que suas vítimas ficavam doentes, o ter- rível mago se oferecia para curá-las, cobrando um alto preço. Somente os ricos conseguiam pagar pela cura. Os demais mor- 42 A Ordem Secreta dos Waja-Hur Incendiário
  • 41. Demetrio Alexandre Guimarães riam após longos meses de dor e sofrimento. Sua cobiça foi tão grande, que ele resolveu fazer o mesmo com a mãe do faraó. Aquele seria o seu maior feito, pois poderia cobrar quanto qui- sesse. Ele só não sabia que, no palácio, havia um sacerdote poderosíssimo! O sacerdote captou e anulou as ondas maléficas do cajado de Serapion, descobrindo a sua ori- gem. No dia seguinte, o mago contou ao faraó sobre a maldade do mago, mandando executá-lo. Posteriormente, Serapion foi mu- mificado com um tecido preto. Continuando a história de Jarha... Antes de ser enviado ao deser- to, o pobre rapaz foi marcado com fer- ros em brasa, que tinham o formato de um escorpião. Esta punição era conferida aos soldados que traíam o Faraó. As marcas, por tradição, eram feitas da seguinte maneira: dois es- corpiões no peito, um de cada lado, e um maior nas costas. Jarha e os cinco criminosos seriam mumifi- cados após a execução, quando os seus respectivos cadáveres fossem recolhidos no dia seguinte. Essa foi uma tradição que ficou apagada da história. Todos tinham de ser mumificados com a mesma dignidade. Até os criminosos! No dia da execução, os condenados foram enter- rados nas areias do deserto, ficando somente com suas cabeças para fora. Assim que anoiteceu, os doze escorpiões do cubo de ouro de Disebek saíram à caça. Os aracnídeos massacraram as seis vítimas. Antes do ataque, Jarha pediu clemência ao deus A Ordem Secreta dos Waja-Hur 43 Ilusionista
  • 42. Rudamon - O Novo Héroi Osíris, para que o mesmo lhe tirasse daquela situação. Os es- corpiões atacavam ao mesmo tempo, vítima por vítima. Jarha foi o ultimo a ser atacado, o que aumentou ainda mais a sua angústia. Os gritos solitários dos seis condenados ecoavam pelo deserto. O veneno começou a penetrar no sistema nervoso das vítimas, que começaram a tremer todo o corpo e ter delírios. “De repente, sur- giu uma forte luz do céu que foi na direção de Jarha.” – Quem é Disebek? Que cubo de ouro é esse? – Interrompeu Osorkon. – A história de Disebek lhe será con- fiada através de um manuscrito secreto. Fi- que tranqüilo! Continuando... Após o surgimento da Luz que envolveu todo o cor- po de Jarha, retirando-lhe da areia, surgiu, diante dele, a deusa Ísis, esposa de Osíris, como deve ter surgido para você também! Ísis revelou ao soldado que ele era o escolhido, pelo deus Rá, para ser um herói, e que o mes- mo deveria realizar uma missão muito impor- tante no planeta. Os doze escorpiões que o ata- caram tornaram-se sagrados e eternos, mas fi- caram estéreis. A missão deles, de alimentar o eterno Disebek, continuaria. A eternidade não tirou o apetite de Disebek e seus doze escorpi- ões, que precisavam se alimentar para não ficarem furiosos. A deusa conferiu superpoderes a Jarha, dando-lhe a máscara de Rudamon, que tinha sido fabricada no Sol pelo seu esposo Osíris. Os poderes que Jarha havia adquirido resultavam da soma das forças de Disebek, com as forças da máscara. O ma- nuscrito secreto também revelará alguns desses superpoderes 44 A Ordem Secreta dos Waja-Hur Mago Negro
  • 43. Demetrio Alexandre Guimarães a você, sendo que os outros poderes que a máscara conferiu ao ex-escravo eram ca- racterísticos da personalidade que ele ti- nha na época. Jarha foi um herói da- queles tempos! Ninguém sabia quem ele era, pois escondia sua verdadeira perso- nalidade com a máscara de Rudamon, como era conhecido por todos. O herói colocou ordem no caos que era vivido. Ele en- frentou inimigos humanos e sobrenatu- rais, vencendo todos eles. O bem tinha tri- unfado sobre o mal! O mundo estava em harmonia... Essa situação incomodou a maléfica serpente Apóphis, que ordenou a Seth, eterno inimigo de Osíris, que destruísse aquela harmonia que estava no planeta. O maligno deus provocou uma tem- pestade, manifestando-se através de raios e trovões. Depois que apareceu, ressuscitou as cinco múmias dos crimi- nosos que tinham sido condenados com Jarha, conferindo-lhes poderes sobrenaturais do mal. O poder de cada múmia era uma combinação de sua própria característica, somada às for- ças de Disebek e Seth. Este último ordenou às mesmas que destruíssem o herói. Para a perfeita realização de seu plano, Seth apanhou um quilo de ouro. O ouro foi levado até as profundezas do inferno de Apóphis, e fundido em suas cha- mas. A malvada serpente descobriu a única substância que po- deria derrotar Rudamon: as chamas do fogo sagrado. Seth fa- bricou um bastão de trinta centímetros que teria o poder de armazenar as chamas do fogo sagrado, e uma caixa de ouro que teria o poder de viajar pelo tempo, assegurando que nada sairia errado. O deus maléfico tentou descobrir onde estava o disco de ouro, e não conseguiu encontrá-lo. Depois da fracas- A Ordem Secreta dos Waja-Hur 45 Rudamon
  • 44. Rudamon - O Novo Héroi sada busca, Seth procurou Apóphis novamente, e a maquiavélica serpente tramou um plano mirabolante... Serapion foi hipnotizado para realizar uma importante mis- são. O mago negro recebeu o bastão e a caixa de ouro do tem- po. Ele teve de voltar ao passado para reassumir sua forma humana, e depois viajou ao futuro para entrar na escola secre- ta dos Waja-Hur. Depois que descobriu todos os segredos da escola de mistérios, tornou-se mestre e incorporou as chamas do fogo sagrado ao bastão. O malvado mago também teve de viajar ao ano de 2034, para fazer uma operação secreta que, até hoje, não conseguimos descobrir qual foi. Após cumprir a sua missão, regressou como múmia aos tempos de Rudamon. O bastão de ouro tinha o poder de um potente maçarico, e foi entregue a Hunefer, para que o malvado incendiário destruís- se o herói com a ajuda das outras múmias. Seth guardou a caixa do tempo nas profundezas do inferno de Apóphis. Ago- ra, vou te revelar como Rudamon foi destruído... Serapion usou o seu cajado, provocando uma forte dor no herói. Ramessu criou uma miragem que fez Rudamon pen- sar que estava sendo atacado por um exército de múmias. Apuki aproveitou-se da distração provocada pela ilusão, pegou-o pelo pescoço, e começou a estrangulá-lo com toda a força. Bak cor- tou as pernas e os braços de Rudamon. Hunefer deu o golpe de misericórdia, destruindo-o com as chamas do fogo sagrado. O combate foi presenciado por um misterioso ser que tinha os braços em forma de serpente, corpo humano masculino e uma cabeça de naja. Este ser observou tudo a distância, sem que ninguém notasse. O deus Rá ficou revoltado com aquela crueldade, e en- viou Osíris ao planeta para acabar com toda aquela maldade. O deus tirou as energias vitais que animavam as cinco múmias, que já estavam incumbidas, por Seth, a destruir toda a huma- nidade depois que Rudamon tivesse destruído. Depois que 46 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
  • 45. Demetrio Alexandre Guimarães Osíris tirou a vitalidade das múmias, colocou-as de volta nos sarcófagos. A máscara de Rudamon desapareceu misteriosa- mente, voltando a ser vista por olhos humanos em 1975, exatamente um dia antes de você nascer. Naquela época, eu era um guardião Waja-Hur e tive a honra de receber a másca- ra pessoalmente. Mas este é um outro segredo importante, que só contarei a você no momento adequado. O mundo estava sem heróis. As pessoas, pouco a pouco, deixaram de acreditar nos deuses. A falta de fé diminuiu o poder da Luz sobre o planeta, e aumentou o poder do mal. Hoje, temos um planeta totalmente dominado pela maldade: estupro, pedofilia, assas- sinato, seqüestro, tráfico de drogas, corrupção, tráfico de mu- lheres, assaltos, crimes hediondos, etc. – Gostei muito da história! Esse mito eu não conhecia! – Comentou Osorkon. – Esta história é real, não é um mito! E tem tudo a ver com você! – Como assim? – Você é a reencarnação de Jarha! Atraímos você ao Egito para que recebesse o seu poder novamente, livrar a humani- dade do caos em que ela se encontra. – Escute, senhor Huni, eu respeito a sua fé, mas estudei e sou partidário da teoria da evolução. Quanto ao senhor e sua “Ordem Secreta”, farei de tudo para processá-los. Vocês quase me mataram com esse fanatismo idiota! Eu sobrevivi graças ao meu antídoto e tive alucinações com o veneno daqueles escor- piões, só isso! – Está bem! Você até pode nos processar e acabar conosco! Mas peço o prazo de uma semana! Só uma semana! Para você ver que tudo isso é verdade. Leve o manuscrito secreto, leia-o quando tiver vontade e, depois, me procure! Tenha certeza de que, da próxima vez que voltar aqui, não precisará de avião. A Ordem Secreta dos Waja-Hur 47
  • 46. Rudamon - O Novo Héroi – Não me diga que vou voar? – Ironizou Osorkon. – Não! Fará muito mais que isso! Enquanto você estava internado, os guardiões da OSWH capturaram e aprisiona- ram, separadamente, os doze escorpiões. Quando você chegar ao Brasil, sua coleção completa de doze escorpiões já estará em seu laboratório. Você precisa estudá-los e incorporar a subs- tância de seus venenos na sua descoberta. Não sabemos o que poderá acontecer daqui pra frente. – Como assim? – A idéia é fazer Disebek ficar furioso de fome. Desta forma, ele sairá do cubo e os guardiões da OSWH irão capturá- lo, e destruí-lo no fogo sagrado. Não sabemos se haverá êxito total nesta missão. Por isso, precisa incorporar a substância dos doze escorpiões no antídoto, caso algo dê errado. – Senhor Huni, eu conheço bons profissionais de psi- quiatria no Brasil. O senhor precisa de ajuda médica! De qual- quer forma, eu agradeço pelos doze escorpiões, apesar de vocês terem entrado em minha casa sem o meu consentimento. Não vou te processar mais. O senhor não deve ser preso, deve rece- ber cuidados médicos! – Pense o que quiser! Esta maleta, que estou lhe dando, contém o manuscrito secreto e cinco milhões de reais. Levare- mos você ao Brasil com meu jato particular. Procure-me daqui a uma semana! Passar bem! Huni saiu do quarto, deixando Osorkon pensativo. 48 A Ordem Secreta dos Waja-Hur
  • 47. Capítulo 7 Estranhos Acontecimentos A o chegar a sua casa, Osorkon sentou-se no sofá e abriu a maleta. O manuscrito secreto estava sobre o dinheiro. Ele pegou o mesmo com desdém, e o jogou sobre a mesa da sala. Pensou consigo mesmo: “Preciso depositar esse dinhei- ro no banco! Se aqueles malucos entraram na minha casa para colocar os escorpiões no meu laboratório, podem, perfeitamen- te, entrar de novo para pegarem o dinheiro de volta. Vou apro- veitar e ir ao médico fazer uns exames para ver se não ficou alguma seqüela.”. Depois de ir ao banco, Osorkon foi diretamente ao con- sultório médico. Na sala de espera, um senhor sentou-se ao seu lado e começou a puxar assunto. – Como está calor hoje, hein? – Verdade! – Respondeu Osorkon, que teve uma terrí- vel sensação de incômodo com a presença daquele homem, que nunca tinha sentido com ninguém. O velho homem pe- gou um álbum de fotos que tinha várias crianças. Osorkon resolveu retribuir o diálogo: – Quantas crianças! São seus neti- nhos? – O velho homem fez uma cara feia, fechou o álbum e respondeu de mau humor: – Não! Naquele instante veio um pensamento instantâneo na mente de Osorkon: “Este velho é um pedófilo miserável! Amanhã, a máscara dele vai cair! Nos- sa! Por que pensei isso deste pobre homem? Será que o veneno 49
  • 48. Rudamon - O Novo Héroi dos escorpiões me deixou esquizofrênico?” Seus pensamentos foram interrompidos com a chamada da recepcionista do médico: – Senhor Osorkon! Doutor Carlos está lhe aguardando. Pode entrar no consultório. Doutor Carlos era um grande amigo de Osorkon, além de ser o seu médico de confiança. Os dois se conheciam desde pequenos e eram como irmãos. Quando a irmã do cientista mor- reu, Carlos sempre esteve presente para dar a maior força ao amigo. Prestaram juntos o ves- tibular, na mesma área. Um quis ser médico, o outro biólogo. Sonho antigo, de que fala- vam a respeito desde a infância. Osorkon con- tou toda a história ao amigo que, mesmo perple- xo, pediu tranqüilidade ao velho amigo de in- fância, solicitando-lhe uma série de exames. Ao sair do consultório, Osorkon lhe disse: – Estou mesmo preocupado! Acho que estou ficando louco! Além da história que lhe contei sobre o velho da recepção, agora me veio uma neurose que me deixou em pânico! Eu vi você sendo víti- ma de um seqüestro relâmpago! A imagem em mi- nha mente ficou nítida. O que eu faço? – Calma velho amigo! Vamos resolver o seu problema. Amanhã você faz os exames, e damos um jeito para que melhore! Vai passear um pouco para distrair a cabeça. Recomendo que você não pratique esportes até eu ver os exames. Fique tranqüilo! Osorkon passou o dia inteiro olhando lojas no shopping center. Ao contrário do que fazia sempre, desta vez, deixou a livraria por último. Quando chegou à mesma, ficou um tempão olhando os livros. Uma enorme propaganda sobre um lança- mento lhe chamou a atenção: “Não perca! Amanhã, às vinte horas, será o grande dia no salão de palestras do shopping! A 50 Estranhos Acontecimentos Dr. Carlos
  • 49. Demetrio Alexandre Guimarães egiptóloga Doutora Freda, especialista em deuses egípcios, fará uma palestra sobre o lançamento de seu mais novo livro sobre deuses egípcios. Haverá sessão de autógrafos e coquetel.” O que mais chamou a atenção de Osorkon foi a beleza da palestrante na fotografia, mas o assunto que, de certa forma, começou a fazer parte de sua vida, também lhe cativou. Osorkon resolveu perguntar à atendente da livraria se havia algum título da autora disponível na loja, quando outro estra- nho pensamento lhe veio à mente: “Essa atendente é amante do dono da livraria! Ela contraiu o vírus HIV! Você precisa curá-la!” Osorkon ficou nervoso com a esquizofrenia que esta- va tomando conta de sua mente, e foi embora sem prestar aten- ção na resposta da atendente. Ao dirigir-se para o estaciona- mento do shopping, encontrou o seu amigo Carlos: – E aí, meu irmão! – Disse Carlos, que continuou... – Resolveu se- guir o meu conselho? Que bom! – Segui sim, meu amigo! Só que outro pensamento esquizofrênico surgiu em minha men- te, e resolvi ir para casa dormir. – Você já está indo para casa? – Estou! – Faz assim: estou indo pagar uma conta na loja, e já vou em seguida para conversarmos. Você precisa distrair-se! – Que bom Carlos! Preciso mesmo desabafar! Até mais! – Já es- tava anoitecendo. Carlos pagou a conta e foi até o estaciona- mento do shopping, no local onde estava o seu carro. No exato momento em que ele estava abrindo a porta de seu veículo, foi abordado por um ladrão, que lhe encostou o cano do revólver na cintura, dizendo calmamente: – Não faça movimentos brus- cos e não “dê bandeira”. Vamos comigo calmamente até o cai- xa eletrônico. Você tira o dinheiro da conta, passa ele pra mim, eu trago você de volta e vou embora. Se tentar bancar o herói, eu te mato! – Naquele mesmo instante, Carlos lembrou da “esquizofrenia” do amigo. Osorkon dirigia o seu carro devagar e pensativo, quan- do, de repente, uma camionete, fugindo da polícia, cruzou o Estranhos Acontecimentos 51
  • 50. Rudamon - O Novo Héroi sinal vermelho, colidindo com toda a violência em seu auto- móvel, que foi lançado a cinco metros de distância e explodiu. Enquanto isso, no engarrafamento causado pelo acidente... – Hoje não é o meu dia! – Reclamou Carlos. Além de ter sido vítima de um seqüestro relâmpago, ainda tem esse trân- sito para ajudar! Será que foi acidente? Carlos andou mais al- guns metros e viu que realmente era um acidente. O pior é que o acidente envolvia o seu melhor amigo. Quando Carlos reconheceu o carro de Osorkon, parou o seu automóvel de- sesperadamente no acostamento, e dirigiu-se até a equipe de resgate. – Me deixa passar! Eu sou médico! O rapaz que está naquele automóvel é meu amigo! – Um dos bombeiros lhe falou: – Sinto muito, mas olhe o estado em que ficou o carro! Não há a menor possibilidade de seu amigo estar vivo! Carlos chorava copiosamente ao ver os bombeiros removerem a lataria do carro para retirar o corpo de Osorkon, depois que apaga- ram o incêndio. Foi quando um dos bombeiros da equipe gri- tou eufórico: – Milagre! Valha-me Deus! Ele está vivo! Não sofreu nenhum arranhão e nenhuma queimadura! Está ape- nas desmaiado! Vamos levá-lo ao hospital! – Carlos acompa- nhou o carro de resgate, que transportou Osorkon ao hospital. x Osorkon acordou no leito do hospital. Uma enfermeira que estava no quarto lhe disse: – Que impressionante, moço! Você nasceu de novo! Está inteiro! Assista um pouco de televi- são que, daqui a pouco, o doutor Carlos vem ver você. Naquele instante, estava passando um noticiário: – “Finalmente a polícia encontrou o pedófilo, que rap- tava, estuprava e matava crianças há trinta anos! Ele aliciava as vítimas prometendo-lhes que compraria brinquedos, levava as mesmas à sua casa, tirava fotografias e, depois, cometia o seu ato monstruoso. Reconhecido como vovô, por algumas crian- 52 Estranhos Acontecimentos
  • 51. Demetrio Alexandre Guimarães ças que não caíram em sua conversa, o psicopata costumava abordar suas vítimas na faixa etária de sete a oito anos. Ele confessou a polícia que, após o crime, enterrava os corpos das mesmas em terrenos baldios e em lugares descampados. Ago- ra, a polícia vai investigar os lugares para encontrar as ossadas. Os investigadores do caso calculam que o monstro matou mais de novecentas vítimas ao longo dos últimos trinta anos.” Osorkon ficou estupefato ao ver a foto daquele senhor que estava sentado ao seu lado, um dia antes, na sala de espera do consultório médico. Quando o doutor Carlos entrou no quarto, perguntou se o amigo estava bem. Disse-lhe que aproveitou para fazer os exames que tinham sido solicitados no dia anterior. Os exames foram feitos enquanto o amigo estava desacordado. Depois lhe contou sobre o seqüestro relâmpago e ouviu, admirado, o re- lato de Osorkon sobre o pedófilo. – Meu grande amigo Osorkon, essas evidências estão mui- to estranhas! Você escapou com vida de um acidente que seria fatal para qualquer ser humano. Acertou duas previsões... Será que são apenas coincidências, ou há algo sobrenatural? – Sinceramente... Não sei o que lhe dizer... – Respondeu Osorkon pensativo. Duas horas depois, Osorkon recebeu alta do hospital. A seguradora de veículos lhe trouxe o carro que ficaria com ele até chegar o novo automóvel, coberto pela apólice. Encafifado com tudo aquilo, Osorkon foi até a livraria do shopping e pro- curou a atendente. – Olá! Eu estive aqui ontem, não sei se você está lembrada! – Sim! Claro que eu me lembro! Posso ajudá-lo? – Escute com atenção: eu não sou maluco, e nem tenho nada com a sua vida, pois nem lhe conheço. Mas me responda uma única pergunta: Você mantém um romance com o dono da livraria? Estranhos Acontecimentos 53
  • 52. Rudamon - O Novo Héroi – Ai, meu Deus! Quem lhe contou? – Isso não vem ao caso agora. Eu só preciso que faça uma coisa. Você faria algo por mim? – Você é um detetive ou um chantagista? – Perguntou a moça desesperada. – Nenhum dos dois. Eu vou te dar o meu telefone. Vou te pedir encarecidamente que faça um teste de HIV. Seja qual for o resultado, você me liga, por favor? – O que é isso? O que o senhor tem a ver com minha intimidade? O que o senhor pensa que eu sou? Quem te man- dou? Foi a mulher dele, não foi? – Não! Você pode ficar tranqüila. É só um tira-teima. Você faz esse favor pra mim, e pra você? – A moça pegou o número do telefone dele, e respondeu assustada: – Está bem! Osorkon saiu da loja e falou consigo mesmo: “Devo es- tar ficando maluco.” Naquele instante, lembrou da palestra da Doutora Freda, que seria naquela mesma noite. Como ti- nha um dia inteiro pela frente, resolveu ir pesquisar os escor- piões. Em seu laboratório, Osorkon aproveitou para pegar sua máquina fotográfica, com o intuito de ver as fotos do dia em que foi atacado. Não havia nenhuma fotografia. – Aquele desgraçado do Huni deve ter apagado os ras- tros! – Queixou-se Osorkon. – Vou fotografá-los aqui mesmo, no laboratório. Para a sua surpresa, os aracnídeos não saíam na foto. Osorkon tentou filmá-los, e a imagem deles também não aparecia no vídeo. “Mas que estranho!” pensou Osorkon con- sigo mesmo. O jeito foi extrair o veneno dos escorpiões e catalogá-los. – Amanhã eu faço a análise. Por que será que essa espé- cie não sai em filmagens e fotografias? O que será que aconte- ce? – Sussurrou consigo mesmo. 54 Estranhos Acontecimentos
  • 53. Capítulo 8 Osorkon Conhece Freda O salão de palestras estava lotado. A exuberante doutora Freda cativava todos os olhares masculinos que estavam presentes, e, é claro, o olhar de Osorkon também. Loira, de olhos azuis, bonita e inteligente, sempre chamava a atenção por onde passava. A bela palestrante, descendente de alemães, começou a falar... – Boa noite, senhoras e senhores aqui presentes! Vocês podem me chamar de Freda. Sou graduada em egiptologia e pós-graduada em mitologia egípcia. Sempre me encantei com os mistérios e lendas do povo egípcio. Toda minha vida foi dedicada ao estudo deste assunto. O motivo desta palestra é o lançamento do livro “Os deuses egípcios: Mito, Realidade e Tradição Primordial”. Minha obra aborda a questão de que o símbolo é um só em todo o mundo. O que muda é a forma como ele é expresso nas diferentes mitologias e nas escrituras sagradas, de acordo com a cultura de cada povo. Nessa noite, vou falar um pouco sobre a lenda de Osíris, procurando fazer uma ponte entre o mito e a Tradição Primordial. Segundo essa lenda, o deus Osíris educou o povo egípcio numa época em que a barbárie imperava. Ele ensinou: o cultivo; o abandono de velhos hábitos que tornavam o povo animalesco; o trabalho com o arado e a enxada; a fundição de metais para construção de armas e ferramentas; ou seja, o processo civilizatório. No- 55
  • 54. Rudamon - O Novo Héroi tem que, segundo a lenda, Osíris foi o respon- sável pelo processo civilizatório do Egito. Va- mos fazer uma pausa para reflexão... Não po- deríamos comparar Osíris aos grandes avatares que fizeram parte da humanida- de? Aos homens que levaram luz aos que se encontravam nas trevas? Graças aos ensinamentos de Osíris, o Egito tornou-se próspero. Como e s s e deus era portador de uma extrema bondade, decidiu levar a luz de seu co- nhecimento para o resto do planeta. Para isso, convidou os deuses Thot e Anúbis, para ajudá-lo a divulgar o conhecimento egípcio pelo mundo. Vocês podem notar que a própria lenda reconhece o Egito como o berço da civilização. Osíris e seus ajudantes obtiveram êxito total. Mas vamos ter um pequeno imprevisto nesse mito. Seth, o irmão que sempre o invejou, tramou a morte do mesmo, enquanto este fazia a sua expedição pelo mundo. Que vocês me dizem se compararmos essa história com a de Caim e Abel? Não poderíamos também fazer uma ponte entre Cristo e Judas? Seth elaborou uma pérfida armadilha, recepcionando o irmão de forma amigável, no regresso de sua expedição. Fez uma falsa brincadeira para colocá-lo numa gran- de urna, onde, posteriormente, seria assassinado. A urna foi lançada ao Nilo, o que seria um caos para Osíris. Acreditava-se que, se um corpo não fosse mumificado, sua alma vagaria sem rumo. O ódio que Seth tinha de Osíris era tão grande, que nem a sua alma deveria ser poupada. Nesse ponto da lenda, entra a deusa Ísis, esposa e irmã de Osíris. Ao saber a forma 56 Freda Osorkon Conhece Freda
  • 55. Demetrio Alexandre Guimarães como o seu esposo morreu, Ísis ficou desesperada, pois sabia que o mesmo não seria soberano na Mansão dos Mortos. Com a ajuda de Thot e Anúbis, correu todo o Egito para achar a urna. Num momento da busca, ela se separou dos amigos e encontrou a mesma. Escondeu-a e foi procurá-los, mas um espião de Seth a encontrou antes que Ísis voltasse. Seth, para certificar-se de que a alma de Osíris estaria perdida para sem- pre, cortou o corpo do irmão em quatorze pedaços, espalhan- do-os pelo Egito. Uma nova busca começou. Desta vez, Néftis, esposa de Seth, ajudou a equipe de busca, pois havia desco- berto a trama do marido. Apenas treze pedaços foram encon- trados, graças a Anúbis, que farejou um por um. Apesar de faltar um pedaço, Osíris foi embalsamado com dignidade e voltou à vida para engravidar Ísis, que, posteriormente, deu a luz ao deus Hórus. Após cumprir sua missão, Osíris tornou-se o senhor absoluto dos mortos. Eu poderia ficar a noite toda contando a seqüência desse mito... Mas uma coisa que eu que- ro fixar bem, é que o destaque do meu livro é sobre o aspecto simbólico. Reparem que: o bem e o mal; o início da luz sobre as trevas; o aspecto masculino que dá a força; e o feminino que dá a forma; são temas discutidos de maneira simbólica nos mitos de vários povos, e, também, nas escrituras sagradas. Se fizer- mos um paralelo entre todos eles, descobriremos que o mesmo simbolismo está contido em todos, e que apenas o que difere é a maneira como a história é contada. Se déssemos um nome a esse único símbolo, poderíamos chamá-lo de Tradição Primor- dial, pois, as questões tratadas são sempre as mesmas. Não im- porta o povo, a época e o lugar. Espero que gostem do livro! Obrigada! Doutora Freda foi aplaudida de pé. Em seguida, come- çou o coquetel. Osorkon comprou o livro, e dirigiu-se à escri- tora para pedir um autógrafo. Lançando o olhar mais pene- trante que sabia fazer, aproximou-se da moça. Osorkon Conhece Freda 57
  • 56. Rudamon - O Novo Héroi – Com licença, doutora Freda... Fiquei fascinado com a sua palestra! É muito talentosa no que faz! Foi uma honra po- der assisti-la. – Obrigada! Hei... Espera um pouco... Você não é o fa- moso doutor Osorkon, especialista em escorpiões e criador dos antídotos OSK1 e OSK2? – O próprio! – Eu acompanhei as suas descobertas pelos noticiários. A honra é toda minha! – Você domina um assunto que, neste momento, é de fundamental importância para mim. Eu precisava muito con- versar com você! Poderíamos jantar amanhã à noite? – Seria um prazer! – Me dá o seu endereço, que, amanhã, vou apanhá-la em casa. – Quanta gentileza! Pode ser às vinte horas? – Na hora que você quiser! A propósito, você poderia fazer uma dedicatória no meu livro? – Com todo prazer! “Ao grande herói, que salvará mi- lhões de vidas dos terríveis escorpiões, dedico o simbolismo da Tradição Primordial. Que a essência do símbolo da Luz única possa guiá-lo em suas missões. Com carinho, Freda.” – Obrigado! Linda a sua dedicatória. Posso te apanhar amanhã, às vinte horas? – Combinado! Naquela noite, Osorkon conseguiu esquecer, por alguns instantes, os problemas que lhe afligiam. Foi dormir pensando em Freda. Ao adormecer, algo estranho voltou a acontecer. Osorkon começou a ouvir vozes desesperadas clamando por socorro. Quando não eram vozes clamando por socorro, eram vozes tramando crueldades. O seu sono foi agitado. Virou-se 58 Osorkon Conhece Freda
  • 57. Demetrio Alexandre Guimarães na cama a noite inteira. No único momento em que conseguiu dormir teve um pesadelo. “Quatro homens lhe seguravam. Dois lhe prendiam os braços. Os outros dois, imobilizavam-lhe as pernas. Um quinto homem veio em sua direção com um ferro em brasa e... marcou-lhe dois escorpiões no peito, um de cada lado. Os cruéis homens o viraram de bruços e marcaram suas costas. A dor das costas foi maior que a sentida no peito. A impressão era de que um ferro em brasa de maior tamanho havia sido usado. Os homens riam sarcasticamente.” Osorkon acordou assustado. Suas costas e seu peito estavam formigan- do. O resto da noite, quase não dormiu por causa daquelas vozes perturbadoras que iam e voltavam. Osorkon só conse- guiu dormir no fim da noite, quase ao amanhecer. Osorkon Conhece Freda 59
  • 58. Capítulo 9 Osorkon tem Superpoderes E ra um novo dia. Apesar da noite mal dormida, Osorkon acordou com uma excelente disposição. O fato de estar disposto, não o fazia esquecer do pesadelo e das vozes que ouvira naquela madrugada. Espreguiçou-se, saiu da cama e foi tomar banho. Ao ver a própria imagem no espelho, levou um tremendo susto. Seu peito estava marcado com dois escor- piões, um de cada lado. Osorkon virou-se, olhando para trás, e viu que suas costas também estavam marcadas com um es- corpião enorme. Sem saber o que pensar, foi para o chuveiro. À medida que a água caía em seu corpo, as marcas dos escorpi- ões ardiam, como se realmente tivessem sido feitas naquela noite. “Preciso urgentemente de um psiquiatra!”, Pensou ele. Na tarde daquele dia, Osorkon dedicou-se, o tempo todo, ao estudo dos doze escorpiões. Analisando cada amostra de veneno, colhida no dia anterior, fez diversas anotações em seu relatório. Às vezes, quando não estava o suficientemente con- centrado, ouvia aquelas vozes pedindo ajuda, ou tramando maldades. Procurou ignorá-las do jeito que pôde. Ficou tão entretido com suas pesquisas que nem viu o tempo passar. Es- tava quase na hora de jantar com Freda. O restaurante era agradável, tinha música ao vivo, e um ambiente aconchegante e familiar. Osorkon sentia-se como um adolescente. Será que estava apaixonado? 60
  • 59. Demetrio Alexandre Guimarães – Freda, sua palestra ontem estava sensacional! Achei o assunto fascinante! O tema chamou bastante a minha aten- ção. O problema é que havia algo que, às vezes, me distraía um pouco. – O quê? – A sua beleza! – Bondade sua... – Respondeu Freda com um tímido sorriso. – Por que você me disse, ontem, que o assunto da pa- lestra era de fundamental importância para você? Sua área não é o estudo de escorpiões? – Sim. Mas nos últimos dias, têm acontecido coisas mui- to estranhas comigo... Estas coisas me fizeram esquecer um pouco os escorpiões. – Que coisas foram essas? – Vou te contar tudo. Mas tem uma condição... – Qual? – Você tem que prometer que não vai contar a ninguém! – Conte com a minha discrição. – Tem uma outra coisa... – Que coisa? – Você também tem que me prometer que não vai me achar maluco, e que não vai rir da minha cara... Você promete? – Prometo! – Respondeu Freda com um sorriso maroto. – É o seguinte... Não muito longe dali, seis capangas de um agiota, muni- dos de metralhadora, se preparavam para atacar o restauran- te. Num momento de desespero, o dono do estabelecimento havia feito um empréstimo para que o seu negócio não fechas- se. Quando ele já tinha o dinheiro na mão para pagar a sua dívida, sua filha foi seqüestrada, e o dinheiro teve de ser dado Osorkon tem Superpoderes 61
  • 60. Rudamon - O Novo Héroi no resgate. O agiota deu mais um prazo para o pagamento, aumentando abusivamente os juros. Nesse meio tempo, um concorrente desleal espalhou alguns boatos que afastaram boa parte da clientela do pobre homem. O prazo de paga- mento se esgotou, e o agiota enviou os seis homens para acertar as contas. Enquanto isso, a doutora Freda estava boquiaberta com a história de Osorkon... – Que história fascinante! Eu não posso falar no meio acadêmico que acredito no sobrenatural... Uma declaração dessas atrapalharia a minha carreira. Mas eu acredito em você! – Que bom poder ouvir isso! Você não imagina o alívio que estou sentindo... – A única forma que eu encontrei de convencer as pes- soas do sobrenatural, ainda que pelas entrelinhas, foi através do estudo mitológico. Mas pelo seu relato, estou achando você muito cético. Será que todas as evidências que ocorreram até agora não lhe convenceram? – Não sei... Ainda estou meio confuso! – Em minha opinião, você deveria ler o tal manuscrito secreto e procurar Huni. – Isso parece loucura! – Pode parecer, mas a meu ver, é a única alternativa que você tem! Se for procurar um psiquiatra, como está preten- dendo, não vai resolver nada! Ele vai te dopar com medica- mentos que não vão te ajudar. – Talvez eu faça isso mesmo... Você não imagina como estou atormentado! Eu escuto pessoas pedindo socorro... pes- soas tramando o mal... Olho para as pessoas e percebo... Talvez possa ser uma neurose minha... Mas é como se eu detectasse as suas verdadeiras intenções! 62 Osorkon tem Superpoderes
  • 61. Demetrio Alexandre Guimarães – Você me disse que é do Signo de Escorpião. Talvez você nunca tenha lido nada sobre Cabala. Segundo os estudos da mesma, o dom natural do seu signo é perceber. – Você está certa! Mas essas paranóias me incomodam! Agora, por exemplo, estou com idéia fixa de que vão entrar seis homens armados neste restaurante! Eu os vejo metralhan- do tudo! – Ai, meu Deus do céu! – O que aconteceu? – É melhor sairmos daqui! – Por quê? – Os seis homens de que você falou acabaram de en- trar... Estão com cara de poucos amigos... Os homens aproximaram-se do balcão do restaurante da forma mais discreta possível. Não havia o que desconfiar. Ves- tiam-se com trajes elegantes e falavam baixo. Um deles falou com o balconista... – Nós queremos falar com o dono! – Ele não se encontra no momento, foi acompanhar a esposa ao médico. Vocês não podem voltar amanhã? – Ligue para o celular dele! Encontre-o. Diga-lhe que, se não vier até aqui, vamos metralhar essa espelunca! Não ten- te nenhuma gracinha, senão uma das balas irá de encontro à sua testa! Enquanto isso, depois de muito pensar, Osorkon teve uma idéia... – Preste atenção, Freda: eu vou me aproximar do balcão lentamente... Você abaixa fingindo que vai pegar algo e fica debaixo da mesa. – Isso é loucura! Você pode morrer! Osorkon tem Superpoderes 63
  • 62. Rudamon - O Novo Héroi – Depois daquele acidente... tenho a convicção de que nada irá me acontecer. Este é o momento ideal para um tira- teima... – Por que irá se expor? Nós dois podemos nos abaixar! Não é melhor? – Na realidade, estou preocupado com você e com as pessoas que estão aqui! Se o sobrenatural realmente existe, e está a meu favor, devo evitar que algo ruim aconteça! Você não acha? – Tudo bem... Mas tome cuidado! – Osorkon dirigiu-se lentamente ao balcão... Naquele momento, os seis homens já estavam impacien- tes. E ficaram mais irritados, ainda, com a notícia que o balco- nista lhes deu... – O celular dele está desligado. Por favor, voltem amanhã! O interlocutor agarrou o balconista pelo colarinho e disse... – No mundo dos negócios, não existe amanhã... Os seis homens sacaram as suas armas e começaram a ati- rar para cima. As pessoas, assustadas, corriam para todos os la- dos, derrubando mesas e cadeiras. Osorkon foi ao encontro de- les, e aplicou uma voadora, acertando o primeiro... Deu um direto de esquerda no segundo, ao mesmo tempo em que lhe tomou a metralhadora das mãos... Com a metralhadora, gol- peou o terceiro e o quarto, tombando-os imediatamente... Os dois que restaram, apontaram suas metralhadoras para Osorkon, desferindo-lhe uma rajada de balas... As balas batiam nele e vol- tavam... Assustados, jogaram as armas no chão e tentaram fugir. Osorkon deu um salto, pulando em cima dos dois... Segurou-os pelo pescoço, e bateu a cabeça de um contra a do outro... Os seis homens estavam desmaiados. Todos assistiram à cena per- plexos. Osorkon olhou para o balconista, e disse para ele cha- mar a polícia. Fitou todos no restaurante e disse-lhes: 64 Osorkon tem Superpoderes
  • 63. Demetrio Alexandre Guimarães – Por favor, não se assustem! Pratico artes marciais há vinte anos e... Ando com colete à prova de balas... Vocês sa- bem como é... A cidade anda muito violenta! – Osorkon foi aplaudido por todos. Retirou uma enorme quantia de dinhei- ro do bolso e disse ao balconista... – Esse dinheiro é pela minha conta... Pelos estragos... E pela dívida de seu patrão! No caminho para a casa de Freda... – Minha Nossa! Aquilo foi incrível! Você tem superpoderes! Aqueles homens metralharam você e as balas nem o perfuraram! Você os pegou com tanta agilidade, que foi impressionante! – O mais estranho é que a minha adrenalina não subiu! Eu fiz tudo aquilo friamente! Estou convencido! Quando eu chegar à minha casa, vou ler o tal manuscrito! Após deixar Freda em casa, Osorkon chegou a sua resi- dência, tomou um banho quente e pegou o manuscrito para ler. Nesse exato momento, o telefone tocou. Era uma voz aflita e desesperada... – Por favor, o senhor Osorkon se encontra? – Você está falando com o próprio. Quem é? – Sou Ariadne, a atendente da livraria. – O que aconteceu, Ariadne? Noto aflição em sua voz... – O resultado do exame saiu. Estou com Aids! Como você sabia? Quem é você, afinal? Osorkon não sabia o que dizer à moça, e tratou logo de inventar uma desculpa... – Conheço uma pessoa que sabe sobre o caráter do seu patrão e o modo de vida promíscuo que ele leva. Essa pessoa, que não posso dizer quem é, estava preocupada com você, e pediu para que eu a alertasse. Osorkon tem Superpoderes 65
  • 64. Rudamon - O Novo Héroi – Eu vou morrer! Minha vida acabou! Você nem imagina o que se passa na cabeça de uma pessoa que descobre isso. É o fim! – Calma, Ariadne! Sou um cientista e posso lhe assegurar que a ciência está progredindo muito. Não entre em pânico! Amanhã ou depois, a cura pode ser descoberta. Você não deve perder as esperanças! Procure um psicólogo para lhe dar apoio. Eu tenho um amigo médico que deve conhecer bons especialistas em AIDS. Vou passar o telefone dele para você. Procure manter a calma. – Eu acreditava no meu patrão! Ele me prometeu que lar- garia a esposa para ficar comigo! Eu era virgem! Ele me enganou! – Você não é a primeira pessoa que passa por esta situação. Não se sinta culpada! Você deveria ter se prevenido! Mas fique tranqüila! Tudo vai dar certo – Obrigada! Aquele telefonema deixou Osorkon mais ansioso para ler o manuscrito... 66 Osorkon tem Superpoderes
  • 65. Capítulo 10 A Leitura do Manuscrito A capa do manuscrito dizia: “Dossiê Secreto OSWH”. Osorkon leu a história de Disebek com muita atenção. Depois leu a história completa de Jarha. O capítulo se- guinte intitulava-se “A iniciação secreta de Rudamon”, e con- tava como eram os poderes que foram adquiridos por Jarha. Eis o que o capítulo dizia... Após a morte de Jarha, o deus Osíris retirou a força vital que animava as cinco múmias, enviando-as de volta aos sarcófagos. Depois de certo tempo, a maior parte das pessoas foi corrompida pela maldade. Como punição, o deus Rá en- viou Osíris, que ficou incumbido de fazer desaparecer tudo o que tinha sido construído. A maior parte da população foi punida com a perda de memória. Somente os homens de bom coração foram poupados. Osíris procurou Waja-Hur, o mais sábio entre os homens da época, entregando-lhe um pergami- nho de ouro secreto, com uma missão. O deus revelou ao sá- bio homem que, no futuro, Rudamon deveria voltar a fim de salvar o mundo. Quando chegasse o momento oportuno, a máscara de ouro apareceria e teria de ser protegida pela OSWH. No manuscrito, tinha a iniciação pela qual o novo Rudamon deveria passar, bem como a descrição dos poderes que o herói teria. Eis os poderes: – És imune à dor, ferimentos e morte; 67
  • 66. Rudamon - O Novo Héroi – Tens o poder da vontade e da intenção; – Podes detectar a intenção de alguns pensamentos; – Podes pressentir o sofrimento ou intenções maléficas de qualquer ser humano, em qualquer ponto do planeta; – Se quiseres, poderás aumentar o seu tamanho em até três metros de altura; – Podes multiplicar-te, e estar em milhares de lugares ao mesmo tempo, para resolveres o mesmo tipo de problema, no mesmo instante; – Podes ressuscitar aqueles que morreram injustamente; – Podes curar qualquer doença, tocando o coração da pessoa. Quando curares um, curarás a todos; – Podes criar um campo de energia impenetrável, num raio de cem metros; – Tu emitirás um raio pelos olhos, denominado “Agui- lhão Amarelo”. Este raio provocará uma dor comparada ao ataque dos “doze escorpiões de Disebek”. A pessoa atingida será punida para sempre. Ao pensar em repetir o mal, sentirá a dor novamente; – O Aguilhão amarelo também pode ser usado para pa- ralisar as pessoas; – Sempre que fores praticar o altruísmo ou combater o mal, deverás usar a máscara de Osíris. Ela é ativada com o po- der do seu pensamento, e esconde a sua verdadeira personali- dade. A máscara confere novos poderes, de acordo com a per- sonalidade de quem a estiver usando; – Terás a força e a velocidade que nenhum mortal jamais possuiu; – Poderás ir ao local que quiser, usando o poder da von- tade e do pensamento; – És indestrutível. Somente uma força pode lhe matar: o fogo sagrado. 68 A Leitura do Manuscrito