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ALEXANDRE RAFAEL GARCIA
                                                                                                                                                           Faculdade de Artes do Paraná - Curso de Cinema


PROJETO “A EXPERIÊNCIA DO OLHAR”


O AUDIOVISUAL HOJE


                                                      É difícil precisar hoje em dia tudo o que o cinema – e todo o meio audiovisual –
representa para a nossa sociedade contemporânea. Para Frederic Jameson, o cinema é a única arte
"na história a ser inventada no período contemporâneo[...], a primeira forma de arte nitidamente
mediática." (JAMESON, p. 93). Se entendemos "mídia" como todo suporte de difusão da informação
que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens, o simples acolhimento do
cinema (e todo audiovisual1) somente por este viés se configura como a negligência de seu
potencial expressivo, ainda que este seja o conceito mais comum nos anos 2000. Inicialmente o
cinema "fora concebido como um meio de registro, que não tinha vocação de contar história por
procedimentos específicos" (AUMONT, p. 89) e era considerado uma "invenção sem futuro"
que se sustentava apenas pelo seu interesse tecnológico, afirmado pelos seus próprios criadores,
como um aparato capaz de captar (e projetar) a fidedigna imagem do mundo em sua plenitude e
em movimento aparente, como os pintores renascentistas – aqueles que tentavam reproduzir a
natureza em sua complexidade – talvez jamais sonharam ser possível.
                                                      Em qualquer ambiente hoje, seja em salas de aula primárias ou acadêmicas; casas de
diferentes classes sociais; locais de lazer, entretenimento e cultura, eruditos ou simplórios; o
audiovisual se tornou certamente o meio preferencial transmissor de mensagens (histórias,
notícias, ideias), substituindo a escrita em seu posto até o começo do século XX. O simples ato
de contar uma história, expressar dados ou acontecimentos, tem no audiovisual seu atual meio
paradigmático – e isso acaba por gerar hoje o que poderíamos chamar de "condicionamento
social do cinema": transmitir informações. Assim sendo, o potencial expressivo e sugestivo do
audiovisual acaba por ser relegado ao segundo plano – e consequentemente sendo atrofiado – em
função da sua obrigatoriedade social em transmitir claramente ideias e informações (de alguma
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1  Para fins didáticos, tratamos "audiovisual" e "cinema" como sinônimos, pois estão inseridos na mesma
problemática – salvo quando seja pertinente a diferenciação. Naturalmente, toda obra cinematográfica também é um
obra audiovisual, mas o inverso não é verdadeiro. Nos dias de hoje tanto o cinema, quanto a televisão, a videoarte e
o telejornalismo, se inserem dentro do meio de '"comunicação audiovisual", mas é sempre bom lembrar que o
cinema se origina antes da própria expressão "audiovisual" ser concebida e designada para tais fins classificatórios.
Até porque o cinema surge silencioso e só décadas depois se torna um meio também sonoro, mas hoje podemos
considerar que uma obra seja "cinematográfica" – consequentemente, "audiovisual" – mesmo sem ter som algum, o
que nos levaria a outras problemáticas.
instituição, de seus realizadores, de qualquer um), em contrapartida à sugestionar, provocar, criar
sensações. Não um objeto artístico, mas simplesmente midiático. O problema está nos dois
extremos aos quais o audiovisual acaba sendo reduzido nestes dias: a) é uma obra não-narrativa,
de videoarte/experimental, abstrato, livre de qualquer obrigatoriedade de compreensão direta
pelo espectador; b) é um filme narrativo, então deve ser perfeitamente compreensível e redutível
em sua primeira instância, a textual, além de "proporcionar ao espectador a impressão de um
desenvolvimento lógico que deve necessariamente desembocar em um fim, em uma solução"
(AUMONT, 92). Logo, uma obra que não se auto denomine "não-narrativa" e não é clara em sua
mensagem textual, sofre o risco de ser taxada como ineficiente e falha. O cinema se encontra
ainda, mesmo depois de ter passado pela provação de se afirmar como arte no começo do século
passado, no dilema de qual caminho seguir; é mesmo uma forma de expressão artística?, mesmo
muitas vezes exigindo custos tão altos – em termos de infra estrutura, financeiros, pessoal? Sendo
assim, não deveria possuir uma obrigação social e comprovação de sua utilidade?
        De modo relativo, o cinema/audiovisual tanto pode custar muito quanto pouco (mesmo
em termos financeiros); é comprovadamente um eficaz meio de comunicação e transformação
social e também um inigualável meio de expressão artística. Logo, quando tratado como objeto
artístico, não deveria estar sujeito à aferição de eficácia e utilidade.


SENSIBILIZAÇÃO DO OLHAR


        Com o surgimento do projeto A experiência do Olhar através da iniciativa dos professores-
coordenadores Eduardo Baggio e Pedro Plaza, por meio do Programa Universidade sem
Fronteiras (SETI-PR) e do edital Diálogos culturais, oito alunos vinculados ao curso de Cinema e
Vídeo da Faculdade de Artes do Paraná se viram possibilitados – e desafiados – a percorrer um
processo de desenvolvimento pessoal e social através da sensibilização do olhar através do
meio audiovisual. Pessoal pois os próprios alunos bolsistas têm como missão elaborar suas
pesquisas, dinâmicas, metodologias de ensino e planos de aulas para realização das oficinas,
produções e apresentações, sempre refletindo a partir de questões norteadoras discutidas na
gênese do próprio projeto – o que é o audiovisual?; por que o audiovisual, em detrimento de
outros meios de expressão?; o audiovisual como arte, como meio catalisador e transformador;
como se relacionar e efetuar um pensamento crítico e favorável a um meio que se torna a mídia
paradigmática do século XXI e tende à uma tendenciosa massificação? Partindo do trabalho com
o meio audiovisual, é estabelecido como objetivo norteador a sensibilização do olhar do seu
público alvo: adolescentes da rede pública do Estado do Paraná – torná-los sensíveis à
construção do discurso audiovisual tão presente em seus cotidianos; com isso afetando também
todos os realizadores do projeto A experiência do olhar no contato com a realidade social
contemporânea, mormente com um público jovem e tradicionalmente sem maior convívio com
diferentes formas de arte (pelas distâncias geográficas de museus, pela ausência de salas de
cinema, maiores bibliotecas e salas de teatro, entre outros fatores); como dialogar com um público
inserido no sistema educacional a partir e a respeito do audiovisual, sendo que este é tão presente
em suas vidas e simultaneamente tão pouco questionado e refletido em âmbitos não-acadêmicos.
Ambiciona-se a transformação não só daqueles que assistem as oficinas de formação, mas de
todos os alunos bolsistas que experimentam a prática de educação através do audiovisual. Assim
como a esperança de Paulo Freire,
               já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os
               homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. [...] Esta prática, que a tudo
               dicotomiza, distingue, na ação do educador, dois momentos. O primeiro, em que ele, na
               sua biblioteca ou no seu laboratório, exerce um ato cognoscente frente ao objeto
               cognoscível, enquanto prepara para suas aulas. O segundo, em que, frente aos educandos,
               narra ou disserta a respeito do objeto sobre o qual exerceu o seu ato cognoscente.
               (FREIRE, p.79)


       Com estes pressupostos vamos ao encontro da experimentação (experimento+ação) do
projeto A experiência do olhar: conciliar a pesquisa pessoal do grupo (busca, debate, programação)
com a realidade que se apresenta à frente. Como lidar com jovens habituados ao uso mais geral e
tendencioso do meio audiovisual (telejornalismo, novelas, grandes produções de Hollywood),
lançando mão de exemplos produzidos no Brasil (principalmente de curtas-metragens) e que
geralmente se encontram à margem da divulgação e veiculação comercial? Este embate –
corporal mesmo, de enfrentamento – logo se mostra rico e proveitoso, pois é perceptível a
imediata resposta a um meio de expressão altamente familiar (o audiovisual) sendo utilizado de
maneira um tanto diversa e para finalidades outras – artísticas, culturais, como registro histórico,
como simples expressão pessoal e poética, entre inúmeros potenciais.
       Este projeto consiste de periódicas reuniões e encontros entre todos os bolsistas para
definição de textos norteadores das discussões e pesquisa teórica, estabelecimento de
cronogramas para as atividades práticas com as localidades abordadas (contato com a
comunidade e escola, abordagem dos alunos e convite às atividades, plano de ação), elaboração
de material didático para as oficinas (metodologia, seleção de material, planos de aula) e as
próprias oficinas em si, que consistem de explanações, assistência de curtas-metragens brasileiros
relacionados a determinados assuntos, discussões e atividades práticas e teóricas, além da
produção de um curta-metragem realizado pelos próprios alunos assistentes com o suporte
(técnico e material) do projeto A experiência do olhar. Este trabalho resultante é finalizado e
apresentado aos alunos e comunidade, como tentativa de retorno (visível) de seus esforços.
Indubitavelmente, após este descortinar do discurso e processo de realização audiovisual, a
percepção de tais estudantes frente a tal linguagem, não é mais a mesma.
        Estabelecer o audiovisual como uma linguagem ferramental na educação brasileira, e não
somente um aparato de lazer e entretenimento ligeiro; um meio de expressão provocador,
gerador e instigador da discussão, debate e transformação do indivíduo. O olhar tornado sensível
ao que se apresenta aos olhos.




BIBLIOGRAFIA:

AUMONT, Jacques et al. A estética do filme. Campinas, SP: Papirus, 2005.

JAMESON, Frederic. Surrealismo sem inconsciente. In: ______. Pós-modernismo: a lógica cultural do
capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1997. p. 91-117.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. p.79

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A Experiência do Olhar - artigo para USF

  • 1. ALEXANDRE RAFAEL GARCIA Faculdade de Artes do Paraná - Curso de Cinema PROJETO “A EXPERIÊNCIA DO OLHAR” O AUDIOVISUAL HOJE É difícil precisar hoje em dia tudo o que o cinema – e todo o meio audiovisual – representa para a nossa sociedade contemporânea. Para Frederic Jameson, o cinema é a única arte "na história a ser inventada no período contemporâneo[...], a primeira forma de arte nitidamente mediática." (JAMESON, p. 93). Se entendemos "mídia" como todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens, o simples acolhimento do cinema (e todo audiovisual1) somente por este viés se configura como a negligência de seu potencial expressivo, ainda que este seja o conceito mais comum nos anos 2000. Inicialmente o cinema "fora concebido como um meio de registro, que não tinha vocação de contar história por procedimentos específicos" (AUMONT, p. 89) e era considerado uma "invenção sem futuro" que se sustentava apenas pelo seu interesse tecnológico, afirmado pelos seus próprios criadores, como um aparato capaz de captar (e projetar) a fidedigna imagem do mundo em sua plenitude e em movimento aparente, como os pintores renascentistas – aqueles que tentavam reproduzir a natureza em sua complexidade – talvez jamais sonharam ser possível. Em qualquer ambiente hoje, seja em salas de aula primárias ou acadêmicas; casas de diferentes classes sociais; locais de lazer, entretenimento e cultura, eruditos ou simplórios; o audiovisual se tornou certamente o meio preferencial transmissor de mensagens (histórias, notícias, ideias), substituindo a escrita em seu posto até o começo do século XX. O simples ato de contar uma história, expressar dados ou acontecimentos, tem no audiovisual seu atual meio paradigmático – e isso acaba por gerar hoje o que poderíamos chamar de "condicionamento social do cinema": transmitir informações. Assim sendo, o potencial expressivo e sugestivo do audiovisual acaba por ser relegado ao segundo plano – e consequentemente sendo atrofiado – em função da sua obrigatoriedade social em transmitir claramente ideias e informações (de alguma                                                                                                                 1 Para fins didáticos, tratamos "audiovisual" e "cinema" como sinônimos, pois estão inseridos na mesma problemática – salvo quando seja pertinente a diferenciação. Naturalmente, toda obra cinematográfica também é um obra audiovisual, mas o inverso não é verdadeiro. Nos dias de hoje tanto o cinema, quanto a televisão, a videoarte e o telejornalismo, se inserem dentro do meio de '"comunicação audiovisual", mas é sempre bom lembrar que o cinema se origina antes da própria expressão "audiovisual" ser concebida e designada para tais fins classificatórios. Até porque o cinema surge silencioso e só décadas depois se torna um meio também sonoro, mas hoje podemos considerar que uma obra seja "cinematográfica" – consequentemente, "audiovisual" – mesmo sem ter som algum, o que nos levaria a outras problemáticas.
  • 2. instituição, de seus realizadores, de qualquer um), em contrapartida à sugestionar, provocar, criar sensações. Não um objeto artístico, mas simplesmente midiático. O problema está nos dois extremos aos quais o audiovisual acaba sendo reduzido nestes dias: a) é uma obra não-narrativa, de videoarte/experimental, abstrato, livre de qualquer obrigatoriedade de compreensão direta pelo espectador; b) é um filme narrativo, então deve ser perfeitamente compreensível e redutível em sua primeira instância, a textual, além de "proporcionar ao espectador a impressão de um desenvolvimento lógico que deve necessariamente desembocar em um fim, em uma solução" (AUMONT, 92). Logo, uma obra que não se auto denomine "não-narrativa" e não é clara em sua mensagem textual, sofre o risco de ser taxada como ineficiente e falha. O cinema se encontra ainda, mesmo depois de ter passado pela provação de se afirmar como arte no começo do século passado, no dilema de qual caminho seguir; é mesmo uma forma de expressão artística?, mesmo muitas vezes exigindo custos tão altos – em termos de infra estrutura, financeiros, pessoal? Sendo assim, não deveria possuir uma obrigação social e comprovação de sua utilidade? De modo relativo, o cinema/audiovisual tanto pode custar muito quanto pouco (mesmo em termos financeiros); é comprovadamente um eficaz meio de comunicação e transformação social e também um inigualável meio de expressão artística. Logo, quando tratado como objeto artístico, não deveria estar sujeito à aferição de eficácia e utilidade. SENSIBILIZAÇÃO DO OLHAR Com o surgimento do projeto A experiência do Olhar através da iniciativa dos professores- coordenadores Eduardo Baggio e Pedro Plaza, por meio do Programa Universidade sem Fronteiras (SETI-PR) e do edital Diálogos culturais, oito alunos vinculados ao curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Artes do Paraná se viram possibilitados – e desafiados – a percorrer um processo de desenvolvimento pessoal e social através da sensibilização do olhar através do meio audiovisual. Pessoal pois os próprios alunos bolsistas têm como missão elaborar suas pesquisas, dinâmicas, metodologias de ensino e planos de aulas para realização das oficinas, produções e apresentações, sempre refletindo a partir de questões norteadoras discutidas na gênese do próprio projeto – o que é o audiovisual?; por que o audiovisual, em detrimento de outros meios de expressão?; o audiovisual como arte, como meio catalisador e transformador; como se relacionar e efetuar um pensamento crítico e favorável a um meio que se torna a mídia paradigmática do século XXI e tende à uma tendenciosa massificação? Partindo do trabalho com o meio audiovisual, é estabelecido como objetivo norteador a sensibilização do olhar do seu público alvo: adolescentes da rede pública do Estado do Paraná – torná-los sensíveis à
  • 3. construção do discurso audiovisual tão presente em seus cotidianos; com isso afetando também todos os realizadores do projeto A experiência do olhar no contato com a realidade social contemporânea, mormente com um público jovem e tradicionalmente sem maior convívio com diferentes formas de arte (pelas distâncias geográficas de museus, pela ausência de salas de cinema, maiores bibliotecas e salas de teatro, entre outros fatores); como dialogar com um público inserido no sistema educacional a partir e a respeito do audiovisual, sendo que este é tão presente em suas vidas e simultaneamente tão pouco questionado e refletido em âmbitos não-acadêmicos. Ambiciona-se a transformação não só daqueles que assistem as oficinas de formação, mas de todos os alunos bolsistas que experimentam a prática de educação através do audiovisual. Assim como a esperança de Paulo Freire, já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. [...] Esta prática, que a tudo dicotomiza, distingue, na ação do educador, dois momentos. O primeiro, em que ele, na sua biblioteca ou no seu laboratório, exerce um ato cognoscente frente ao objeto cognoscível, enquanto prepara para suas aulas. O segundo, em que, frente aos educandos, narra ou disserta a respeito do objeto sobre o qual exerceu o seu ato cognoscente. (FREIRE, p.79) Com estes pressupostos vamos ao encontro da experimentação (experimento+ação) do projeto A experiência do olhar: conciliar a pesquisa pessoal do grupo (busca, debate, programação) com a realidade que se apresenta à frente. Como lidar com jovens habituados ao uso mais geral e tendencioso do meio audiovisual (telejornalismo, novelas, grandes produções de Hollywood), lançando mão de exemplos produzidos no Brasil (principalmente de curtas-metragens) e que geralmente se encontram à margem da divulgação e veiculação comercial? Este embate – corporal mesmo, de enfrentamento – logo se mostra rico e proveitoso, pois é perceptível a imediata resposta a um meio de expressão altamente familiar (o audiovisual) sendo utilizado de maneira um tanto diversa e para finalidades outras – artísticas, culturais, como registro histórico, como simples expressão pessoal e poética, entre inúmeros potenciais. Este projeto consiste de periódicas reuniões e encontros entre todos os bolsistas para definição de textos norteadores das discussões e pesquisa teórica, estabelecimento de cronogramas para as atividades práticas com as localidades abordadas (contato com a comunidade e escola, abordagem dos alunos e convite às atividades, plano de ação), elaboração de material didático para as oficinas (metodologia, seleção de material, planos de aula) e as próprias oficinas em si, que consistem de explanações, assistência de curtas-metragens brasileiros relacionados a determinados assuntos, discussões e atividades práticas e teóricas, além da produção de um curta-metragem realizado pelos próprios alunos assistentes com o suporte (técnico e material) do projeto A experiência do olhar. Este trabalho resultante é finalizado e
  • 4. apresentado aos alunos e comunidade, como tentativa de retorno (visível) de seus esforços. Indubitavelmente, após este descortinar do discurso e processo de realização audiovisual, a percepção de tais estudantes frente a tal linguagem, não é mais a mesma. Estabelecer o audiovisual como uma linguagem ferramental na educação brasileira, e não somente um aparato de lazer e entretenimento ligeiro; um meio de expressão provocador, gerador e instigador da discussão, debate e transformação do indivíduo. O olhar tornado sensível ao que se apresenta aos olhos. BIBLIOGRAFIA: AUMONT, Jacques et al. A estética do filme. Campinas, SP: Papirus, 2005. JAMESON, Frederic. Surrealismo sem inconsciente. In: ______. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1997. p. 91-117. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. p.79