Este documento resume a origem de 10 expressões da língua portuguesa, incluindo "bom samaritano" que vem de uma parábola bíblica, "conto do vigário" originado de uma disputa entre dois vigários, e "homem não chora" que vem de uma regra de sobrevivência dos homens esquimós.
3. 1. BOM SAMARITANO
A expressão "bom samaritano" veio de uma passagem da
Bíblia, em Lucas 10:25-37, em que um homem, que se
diz muito entendido nas leis de Deus, pergunta a Jesus o
que é preciso fazer para entrar no Reino dos Céus. Então,
Jesus conta uma parábola sobre um homem que seguia
de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de
ladrões. Os bandidos roubaram suas roupas e bateram
tanto no coitado que ele quase morreu. Um padre
passava pela estrada e, ao ver o homem, desviou do
caminho. Um levita, que vinha pelo mesmo lugar, mudou
de direção. Até que apareceu um samaritano, que ficou
com pena do homem. Ele fez curativos em suas feridas
com óleo e vinho. Depois, colocou o pobre em seu
burrico, levou-o para uma pousada e lá cuidou dele. Para
Jesus, quem ajuda seu vizinho teria passaporte garantido
para o céu.
4. 2. CONTO-DO-VIGÁRIO
Uma imagem de Nossa Senhora dos Passos
doada pelos espanhóis à cidade de Ouro Preto
(MG) originou uma disputa entre os vigários
de duas igrejas, a de Nossa Senhora do Pilar e
a de Nossa Senhora da Conceição. Para
resolver o impasse, o vigário de Pilar sugeriu
que a imagem fosse colocada em cima de um
burro no meio do caminho entre as duas
igrejas. O rumo que o animal tomasse
decidiria com quem ficaria a imagem.Quando
foi solto, o burro imediatamente se dirigiu à
igreja de Pilar. Mais tarde, soube-se que ele
pertencia ao vigário de lá.
5. 3. RASGAR A SEDA
A expressão, que significa fazer um elogio
exagerado, é originária de uma das
comédias do dramaturgo Luís Carlos
Martins Pena (1815-1848), o fundador do
teatro de costumes no Brasil. Em uma
cena, um vendedor de tecidos tenta
cortejar uma moça bonita e, como
pretexto, oferece alguns cortes de
fazenda a ela, "apenas pelo prazer de ser
humilde escravo de uma pessoa tão bela".
A garota entende o recado e responde:
"Não rasgue a seda, que esfiapa-se".
6. 4. FRANGO A PASSARINHO
De acordo com José Carlos Machado, gerente
do restaurante São Judas Tadeu, em São
Bernardo do Campo, que serve o prato desde
1949, o frango é chamado assim porque é
cortado em pedaços menores, 22 para ser
mais exato. "Os pedaços pequenos acabam
por assemelhar o frango a um passarinho,
daí o nome", afirma Machado. O frango a
alho e óleo, por exemplo, é cortado apenas
nas juntas e rende 14 pedaços.
7. 5. PAGAR O MICO
De acordo com o dicionário Houaiss, a
expressão, que significa "passar por um
vexame", é originária do jogo do mico. Cada
jogador usa as cartas que retira do monte
para formar casais de animais e quem fica
com a carta do mico preto, que não tem par,
perde a partida. O perdedor tem que sofrer
algum tipo de castigo, como passar por uma
situação embaraçosa, e "paga o mico".
8. 6. CHATO DE GALOCHA
Infelizmente, os chatos continuam a existir, ao
contrário do acessório que deu origem a essa
expressão. A galocha era um tipo de calçado de
borracha colocado por cima dos sapatos para
reforçá-los e protegê-los da chuva e da lama.
"Por isso, há uma hipótese de que a expressão
tenha vindo da habilidade de reforçar o calçado.
Ou seja, o ’chato de galocha’ seria um chato
resistente e insistente", explica Valter Kehdi,
professor de Língua Portuguesa e Filologia da
Universidade de São Paulo. De acordo com
Kehdi, há ainda a expressão "chato de botas",
calçados também resistentes, o que reafirma a
idéia do chato "reforçado".
9. 7. DO ARCO-DA-VELHA
Coisas do arco-da-velha são coisas
inacreditáveis, absurdas. Arco-da-velha é
como é chamado o arco-íris em Portugal, e
existem muitas lendas sobre suas
propriedades mágicas. Uma delas é beber a
água de um lugar e devolvê-la em outro -
tanto que há quem defenda que "arco-da-
velha" venha de arco dabere ("de beber", em
italiano).
10. 8. PRESENTE DE GREGO
A expressão, que significa dádiva ou oferta que traz prejuízo
ou aborrecimento a quem a recebe, surgiu em decorrência
da Guerra de Tróia. A lendária história é narrada no livro
Ilíada, do poeta Homero, que cobre o final de uma disputa
de 10 anos (1250 a.C. - 1240 a.C.) entre a Grécia e Tróia
cujo principal estopim foi o rapto de Helena, mulher do rei
de Esparta Menelau, por Páris, filho do rei troiano Príamo.
Para resgatar sua esposa, o monarca pede ajuda a seu
irmão Agamenon, rei de Micenas. Ele envia um enorme
exército à Ásia Menor, onde montam um cerco ao redor das
muralhas da cidade inimiga. O conflito só termina graças a
um plano de Ulisses, rei da ilha de Ítaca. Ele ordena que as
tropas finjam deixar o local da batalha e deixem à porta dos
muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os
troianos acreditam se tratar de um presente e, felizes, o
colocam para dentro. À noite, os soldados gregos que
estavam escondidos no cavalo saem e abrem as portas da
fortaleza para a invasão. Tróia é arrasada; seus líderes,
mortos; e Helena, levada de volta a seu país.
11. 9. VARA JUDICIAL
A expressão surgiu por causa de uma prática comum na
Roma antiga. Na época, os juízes usavam varas para
sinalizar que eram homens poderosos e para distinguir os
letrados dos leigos. Os primeiros usavam varas brancas e
os segundos, vermelha. Esse costume foi trazido para o
Brasil pelos colonizadores portugueses. Quando alguém
se recusava a atender uma convocação judicial, os juízes
ameaçavam os "rebeldes" com seus bastões. Foi por
causa disso que apareceu também as expressões
"conduzido debaixo de vara" e "corrido à vara", ambas
com o significado de "perseguido pela justiça". Vara
judicial, por sua vez, ficou consagrada como "área
judicial onde o juiz de primeira instância exerce seu
poder".
12. 10. HOMEM NÃO CHORA
Na verdade, a expressão veio de uma regra de
sobrevivência dos homens esquimós. É deles a
responsabilidade de enfrentar o frio rigoroso.
Para encarar as baixas temperaturas, eles
tomam alguns cuidados como evitar correr. O
suor poderia congelar e, conseqüentemente,
lhes causar hipotermia. O mesmo princípio se
aplica ao choro. As lágrimas congeladas
poderiam obstruir os canais dos olhos e
prejudicar permanentemente a visão. Por isso,
os esquimós ensinam a seus filhos: "homem
não chora".