Norbert Elias (1897-1990) foi um importante sociólogo do século XX. Seu livro mais famoso, O Processo Civilizador, mapeou a evolução dos comportamentos e hábitos europeus ao longo da história para entender como as atitudes individuais são moldadas pela sociedade. Elias também escreveu sobre temas como cultura, civilização ocidental, esporte e morte, demonstrando como manifestações culturais revelam características das sociedades.
3. Ainda que sua obra só tenha recebido atenção a
partir da década de 1970,Norbert Elias é hoje
considerado um dos mais importantes
pensadores do século XX.
A partir de um intenso diálogo com a história da
cultura, Elias situa os diferentes padrões de
relações sociais nos seus devidos contextos
históricos e culturais. Assim como Simmel,
enfatiza a importância das interações. Para ele,
a vida em sociedade é composta de padrões
gerados nas interações entre indivíduos ligados
por uma relação de interdependência.
4. Seu livro O processo civilizador (1939) foi ignorado
até ser traduzido para o inglês em 1969, e hoje é um
grande clássico da sociologia. Em dois volumes, a obra
mapeia historicamente os comportamentos e os
hábitos europeus, procurando entender como as
atitudes individuais são moldadas por atitudes
sociais. Num diálogo com a psicanálise de Freud, Elias
pensou sociologicamente o desenvolvimento do
autocontrole e de sentimentos como a vergonha e a
repugnância, de modo a traçar uma história e uma
sociologia da ideia de civilização gerada pela Idade
Moderna.
5. * Além de O processo civilizador escreveu outros trabalhos de
grande destaque, como por exemplo A sociedade de corte
(1969), O que é sociologia? (1970) e A sociedade dos
indivíduos (1987).
* Tendo vivido a maior parte de sua vida no século XX, Elias
escreveu sobre temas importantes e variados como cultura,
civilização ocidental, sociedade de corte e formação dos
Estados nacionais. Também escreveu um livro inteiro para
falar sobre seus conterrâneos, os alemães. Com o mesmo
interesse debruçou-se sobre Wolfgang Amadeus Mozart,
músico famoso e genial do século XVIII. Os temas do esporte e
da morte mereceram igualmente sua atenção.
6. * Em todos os estudos e escritos de Norbert Elias predomina
uma convicção: a de que as manifestações culturais,
artísticas, culinárias, as maneiras de lidar com o sofrimento e
com a alegria, tudo isso revela muito sobre as
sociedades. Diante de uma manifestação como o esporte, por
exemplo, ele se fez a seguinte pergunta.
* Que espécie de sociedade é esta onde as pessoas, em número
cada vez maior, e em quase todo o mundo, sentem prazer,
quer como atores ou espectadores, em provas físicas e
*
confrontos de tensões entre indivíduos ou equipes, e na
excitação criada por estas competições realizadas sob
condições onde não se verifica derrame de sangue, nem são
provocados ferimentos sérios nos jogadores?
7. Jogo entre as seleções da Suécia e da Hungria durante a Copa do Mundo de
1958, Suécia.
8. A seu ver, uma atividade como o esporte, que emociona
multidões, também acaba sendo reveladora do tipo de
cultura e de sociedade que a incentiva e a incorpora em
seu cotidiano. Trata-se de uma sociedade em que os
intensos sentimentos coletivos que o esporte provoca são
contidos por regras, normas e freios, sem os quais o
próprio esporte e a própria sociedade sucumbiriam.
Também a morte, na visão de Elias, é reveladora. As
sociedades não lidaram sempre da mesma maneira com a
morte, nos diz ele, porque ela não se reduz a um
acontecimento biológico e natural. Acompanhar as
mudanças no trato da morte nos revela muito, portanto,
sobre as mudanças que as sociedades sofreram em seus
costumes.
9. As sociedades urbano-industriais, por exemplo, criaram um
ritual de morte particular: separaram a morte do ambiente
doméstico. Os doentes terminais vão para o hospital, e o
velório, assim como o enterro, não é mais feito em casa. Mas
nem sempre foi assim.
Na Idade Média, a morte era mais presente e familiar - cabia
aos parentes cuidar no próprio lar de seus velhos enfermos -, e
ao mesmo tempo mais coletiva e violenta - basta lembrar os
enforcamentos e torturas em praça pública de que
fala Foucault. O livro em que Elias trata desse tema chama-se A
solidão dos moribundos - em referência ao isolamento daqueles
que estão no final da vida, são apartados de suas famílias e de
suas casas, e entregues à tecnologia hospitalar e médica.
10. Norbert Elias nos ensina a perceber que há aspectos da
sociedade que julgamos ter sempre existido, mas que
passaram por um longo processo de desenvolvimento até
tomar a forma que conhecemos. Isso vale para as formas
de governo, para os modelos de família e também para as
boas maneiras e os costumes. Aprendemos com ele que as
normas são criadas e recriadas para conter os impulsos ou
ações instintivas das pessoas e permitir que a
sociabilidade ocorra dentro de uma linguagem comum a
todos (os códigos de civilidade).Essas normas estão
presentes em diversos aspectos da vida social, como nos
esportes, na arte, nas relações entre os Estados
nacionais etc.Por meio da civilidade, o indivíduo aprende
a lidar com os integrantes de seu grupo e com os de
grupos diferentes do seu.