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J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151
No presente relato, apresentamos o caso
de um afiador de ferramentas com quadro de
doença pulmonar difusa que evoluiu para pneu-
motórax espontâneo secundário bilateral.
Relato de caso
Paciente do sexo masculino, 27 anos,
procurou o Serviço de Pneumologia do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
em Goiânia, GO, referindo tosse seca e dispneia
progressivahá1ano,quepiorounasduassemanas
precedentes, apresentando-se aos pequenos
esforços. O paciente relatava emagrecimento
de 10 kg em seis meses. Negava pneumopa-
tias prévias. Tinha antecedente de tabagismo
Introdução
A pneumoconiose por metal duro é uma
doença difusa causada por inalação de partí-
culas de cobalto.(1)
O metal duro é uma liga de
cobalto e carbonato de tungstênio, ocasional-
mente adicionada a pequenas quantidades de
outros metais, como titânio, tântalo, níquel e
cromo. Os demais metais que não o cobalto são
considerados inertes, não ocasionando lesão
pulmonar.(2)
A exposição ao metal duro pode gerar
quadros de asma ocupacional e de pneumopatia
difusa.(2)
Ocupações relacionadas à fabricação e
ao refino desse metal, assim como a utilização
de discos revestidos de cobalto para o polimento
de diamantes e a afiação de ferramentas estão
relacionadas a essas doenças.(3)
Pneumoconiose por exposição a metal duro
com pneumotórax bilateral espontâneo*
Hard metal pneumoconiosis with spontaneous bilateral pneumothorax
Maria Auxiliadora Carmo Moreira, Amanda da Rocha Oliveira Cardoso,
Daniela Graner Schuwartz Tannus Silva,
Maria Conceição de Castro Antonelli Monteiro de Queiroz,
Albino Alegro Oliveira, Tiago Marinho Almeida Noleto
Resumo
A pneumoconiose por metal duro, descrita pela primeira vez em 1964, é uma doença difusa causada por inalação
de partículas de cobalto. A doença pode se manifestar de três formas diferentes: asma ocupacional, doença inters-
ticial e alveolite alérgica. Relata-se um caso de um jovem do sexo masculino, afiador de ferramentas, com quadro
de tosse seca e dispnéia progressiva há um ano, apresentando-se à admissão com pneumotórax espontâneo bila-
teral. O diagnóstico foi confirmado através de biópsia pulmonar a céu aberto.
Descritores: Doenças pulmonares intersticiais; Pneumoconiose; Pneumotórax.
Abstract
Hard metal pneumoconiosis, first described in 1964, is a diffuse disease caused by the inhalation of cobalt particles.
The disease can manifest as occupational asthma, interstitial disease or allergic alveolitis. We report the case of
a young male, working as a tool sharpener, who presented with dry cough and progressive dyspnea for one year,
as well as with spontaneous bilateral pneumothorax at admission. The diagnosis was confirmed by open lung
biopsy.
Keywords: Lung diseases, interstitial; Pneumoconiosis; Pneumothorax.
* Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.
Endereço para correspondência: Maria Auxiliadora Carmo Moreira. Primeira Avenida s/n, Setor Universitário, CEP 74605-020, Goiânia,
GO, Brasil.
Tel 55 62 269-8385. E-mail: helpuol@uol.com.br
Apoio financeiro: Nenhum.
Recebido para publicação em 31/8/2009. Aprovado, após revisão, em 18/12/2009.
Relato de Caso
Pneumoconiose por exposição a metal duro com pneumotórax bilateral espontâneo
J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151
149
A prova de função pulmonar realizada seis
meses após a alta hospitalar evidenciou distúrbio
restritivo acentuado (CV = 34% do predito),
com prova broncodilatadora negativa, e redução
moderada da DLCO (60% do predito).
Atualmente, após 1 ano do diagnóstico, o
pacientemantémousodeprednisona(10 mg/dia),
apresentando tosse seca ocasional e ­dispneia aos
médios esforços, com SpO2
= 93% em repouso.
Discussão
A pneumoconiose por exposição a metal
duro foi primeiramente descrita por Liebow e
Carrington em 1969, sendo incluída entre as
pneumonias intersticiais idiopáticas. Em 2001,
a American Thoracic Society e a European
Respiratory Society reconheceram essa entidade
ocasional por 2 anos, tendo cessado o hábito
há 5 anos. Há 8 anos trabalhava oito horas por
dia, sem uso de equipamento de proteção indi-
vidual, como afiador de ferramentas compostas
por metal duro (serras, serrotes e facas), utili-
zando um rebolo de diamantado sintético, em
ambiente fechado, de aproximadamente 5,5 m2
,
sendo o único trabalhador naquele ambiente.
Ao exame físico, apresentava-se emagrecido,
dispneico, com frêmito toracovocal diminuído
difusamente em ambos os hemitórax, prin-
cipalmente nos ápices, onde se observava
timpanismo; SpO2
= 86% em ar ambiente; e sem
outras alterações.
A radiografia de tórax realizada um mês antes
da admissão evidenciou pneumotórax bilateral
(Figura 1). A TCAR demonstrou pneumotórax
bilateral, enfisema parasseptal em ápices, com
algumas bolhas de permeio, opacidade em vidro
fosco difusa com micronódulos perilinfáticos e
linfonodos mediastinais com halo calcificado
(Figura 2).
O paciente foi submetido à drenagem torá-
cica fechada bilateral com re-expansão total
do pulmão esquerdo e parcial à direita, onde
persistia uma fístula broncopleural de médio
débito. Na mesma internação, foi realizada a
sutura da fístula e pleurectomia parietal à direita,
pleurodese química com tetraciclina à esquerda
e biópsia pulmonar a céu aberto (lobo médio).
Osachadosanatomopatológicosevidenciaram
fibroseintersticialpulmonar,predominantemente
peribrônquica e perisseptal contendo numerosas
células gigantes, histiócitos alveolares e áreas
de faveolamento (Figura 3). Tecido pleural com
proliferação de tecido de granulação, fibrose,
infiltrado linfo-histioplasmocitário, contendo
alguns neutrófilos de permeio e deposição de
fibrina na superfície.
Baseado na história profissional, nos exame
de imagem e no exame anatomopatológico, foi
feito o diagnóstico de pneumoconiose por metal
duro.
Foi instituída corticoterapia sistêmica, a
princípio com metilprednisolona, sendo poste-
riormente introduzida prednisona.
Na evolução, o paciente ainda apresentou
episódios repetidos de pneumotórax bila-
teral, com necessidade de novas drenagens
e pleurodeses. Obteve alta hospitalar em uso
de prednisona (10 mg/dia) e oxigenoterapia
domiciliar.
Figura 1 - Radiografia de tórax revelando opacidades
heterogêneas difusas e pneumotórax bilateral.
Figura 2 - Corte de TCAR de tórax sem injeção de
contraste, mostrando pneumotórax bilateral, presença
de dreno torácico bilateral, bolhas, opacidades em
vidro fosco e micronódulos perilinfáticos.
150	 Moreira MAC, Cardoso ARO, Silva DGST, Queiroz MCCAM, Oliveira AA, Noleto TMA
J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151
mas que pode evoluir para fibrose com a expo-
sição prolongada.(2,4,5,7,8)
O quadro clínico da pneumonia de células
gigantes inclui dispneia aos esforços, hipoxemia,
tosse, perda de peso, fadiga, sibilância e ester-
tores no final da inspiração.(8)
Com a progressão
da fibrose, podem ser encontrados baquetea-
mento digital, cianose, sinais de falência cardíaca
direita, hipertensão pulmonar e cor pulmonale.
(6,8)
Pneumotórax foi reportado em um caso.(9)
A função pulmonar pode mostrar um padrão
restritivo, com redução dos volumes pulmo-
nares. Ocasionalmente, pode ser encontrado
um padrão obstrutivo.(4,6)
A DLCO tende a ser
reduzida na mesma proporção da diminuição da
CPT.(7,8)
A radiografia de tórax pode ser normal ou
com discretos infiltrados nodulares ou reticulo-
nodulares. A TCAR é mais sensível na detecção
de alterações, evidenciando opacidades em vidro
fosco e opacidades lineares irregulares, além de
distorção do parênquima, bronquiectasias de
tração, bronquiolectasias e reticulação.(4,5)
Outros
achados isolados incluem cistos largos, peri-
féricos, que podem representar faveolamento,
além de nódulos centrolobulares e enfisema.(8)
Se não houver contraindicação, devem ser
realizados lavado brônquico e biópsia trans-
brônquica para confirmar o diagnóstico. Se a
amostra da biópsia transbrônquica for insu-
ficiente ou o exame for inconclusivo, deve ser
realizada biópsia pulmonar a céu aberto. Caso
haja presença de células gigantes multinucle-
adas no lavado broncoalveolar associada a um
quadro clínico e radiológico compatíveis, não há
indicação para a biópsia.(7)
O padrão histopatológico consiste em
infiltrado de células mononucleares, predo-
minantemente em regiões do interstício
peribronquiolar, e acúmulo de macrófagos e
células gigantes multinucleadas no interior
dos alvéolos,(7,8)
com espessamento das paredes
alveolares.(7)
Com a progressão da doença, o
faveolamento pode estar presente. O cobalto,
pela sua alta solubilidade nos tecidos, é dificil-
mente encontrado em espécimes de biópsia.(1)
O tratamento da pneumopatia por exposição
a metal duro envolve o afastamento completo
da exposição e corticoterapia em doses altas.
Quando já existe fibrose pulmonar extensa, não
há significativa resposta ao tratamento.
como uma pneumoconiose devido à inalação
de cobalto ou de uma liga do cobalto e outros
metais pesados, sendo, então, excluída da clas-
sificação original.(4)
Outras denominações dessa
entidade são pneumoconiose do metal pesado,
pulmão do metal pesado, pneumonite de células
gigantes e pulmão do cobalto.
O metal duro é uma liga de carboneto de
tungstênio, cobalto e pequenas quantidades de
outros metais, como titânio e tântalo.(3,4)
Devido
à sua dureza e à resistência a altas temperaturas,
ele é usado no polimento de diamantes, na
galvanização de armamentos, na perfuração de
poços de petróleo e no corte de ferramentas.(5,6)
Apesar de haver outros componentes na
liga de metal duro, o cobalto é o responsável
por induzir doença pulmonar.(5)
Alguns autores
afirmam que a doença intersticial se desenvolve
apenas quando a exposição ao cobalto ocorre
em associação com a exposição ao carbonato de
tungstênio ou ao pó de diamante.(1)
Um pequeno
número dos trabalhadores expostos desenvolve
a doença, geralmente após 10-12 anos de expo-
sição, mas pode ocorrer precocemente.(4)
São reconhecidas, atualmente, três enti-
dades patológicas relacionadas à inalação de
poeiras de metais duros: asma ocupacional;
doença pulmonar intersticial, que ocorre em
duas variedades — forma não específica e pneu-
monite intra-alveolar de células gigantes — e
uma alveolite do tipo alérgica ou pneumonite
de hipersensibilidade. Essa última ocorre na fase
aguda da exposição, sendo considerada uma
fase inflamatória precoce e reversível da fibrose,
Figura 3 - Exame histopatológico revelando células
gigantes multinucleadas e fibrose peribrônquica e
perisseptal.
Pneumoconiose por exposição a metal duro com pneumotórax bilateral espontâneo
J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151
151
ultrastructural, and analytical findings and results of
bronchial provocation tests. Thorax 1983;38(2):19-28.
4.		 Dunlop P, Müller NL, Wilson J, Flint J, Churg A. Hard
metal lung disease: high resolution CT and histologic
correlation of the initial findings and demonstration
of interval improvement.. J Thorac Imaging.
2005;20(4):301-4.
5.		 Gotway MB, Golden JA, Warnock M, Koth LL, Webb
R, Reddy GP, et al. Hard metal interstitial lung disease:
high-resolution computed tomography appearance. J
Thorac Imaging. 2002;17(4):314-8.
6.		 Maier LA. Clinical approach to chronic beryllium disease
and other nonpneumoconiotic interstitial lung diseases.
J Thorac Imaging. 2002;17(4):273-84.
7.		 Cugell DW. Cobalt-Related Lung Diseases. Clin Pulm
Med. 1998; 5(3): 158-64.
8.		 Enriquez LS, Mohammed TL, Johnson GL, Lefor MJ,
Beasley MB. Hard metal pneumoconiosis: a case of
giant-cell interstitial pneumonitis in a machinist. Respir
Care. 2007;52(2):196-9.
9.		 Wahbi ZK, Arnold AG, Taylor AJ. Hard metal lung disease
and pneumothorax. Respir Med. 1997;91(2):103-5.
O caso relatado apresentou a particulari-
dade da presença de pneumotórax bilateral e
recorrente, com a necessidade de intervenções
repetidas. Essa é uma apresentação rara(9)
e que
dificultou o manejo do caso, tendo sido prova-
velmente agravado pelo uso de corticoides,
que pode ter comprometido o resultado da
pleurodese.
Referências
1.		 Davis GS. Mineral-Induced Lung Disease in Modern
Industry. Part 2: Sensitizing Metals. Clin Pulm Med.
2006;13(2):103-10.
2.		 Capitani EM, Algranti E. Outras Pneumoconioses. J Bras
Pneumol. 2006;32(Suppl 2): S72-S77.
3.		 Davison AG, Haslam PL, Corrin B, Coutts II, Dewar A,
Riding WD, et al. Interstitial lung disease and asthma
in hard-metal workers: bronchoalveolar lavage,
Sobre os autores
Maria Auxiliadora Carmo Moreira
Chefe do Serviço de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.
Amanda da Rocha Oliveira Cardoso
Médica Residente de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.
Daniela Graner Schuwartz Tannus Silva
Médica do Serviço de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.
Maria Conceição de Castro Antonelli Monteiro de Queiroz
Médica do Serviço de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.
Albino Alegro Oliveira
Médico. Departamento de Cirurgia Cardiotorácica, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.
Tiago Marinho Almeida Noleto
Estudante de Medicina. Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.

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Pneumoconiose por exposição a metal duro

  • 1. J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151 No presente relato, apresentamos o caso de um afiador de ferramentas com quadro de doença pulmonar difusa que evoluiu para pneu- motórax espontâneo secundário bilateral. Relato de caso Paciente do sexo masculino, 27 anos, procurou o Serviço de Pneumologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás em Goiânia, GO, referindo tosse seca e dispneia progressivahá1ano,quepiorounasduassemanas precedentes, apresentando-se aos pequenos esforços. O paciente relatava emagrecimento de 10 kg em seis meses. Negava pneumopa- tias prévias. Tinha antecedente de tabagismo Introdução A pneumoconiose por metal duro é uma doença difusa causada por inalação de partí- culas de cobalto.(1) O metal duro é uma liga de cobalto e carbonato de tungstênio, ocasional- mente adicionada a pequenas quantidades de outros metais, como titânio, tântalo, níquel e cromo. Os demais metais que não o cobalto são considerados inertes, não ocasionando lesão pulmonar.(2) A exposição ao metal duro pode gerar quadros de asma ocupacional e de pneumopatia difusa.(2) Ocupações relacionadas à fabricação e ao refino desse metal, assim como a utilização de discos revestidos de cobalto para o polimento de diamantes e a afiação de ferramentas estão relacionadas a essas doenças.(3) Pneumoconiose por exposição a metal duro com pneumotórax bilateral espontâneo* Hard metal pneumoconiosis with spontaneous bilateral pneumothorax Maria Auxiliadora Carmo Moreira, Amanda da Rocha Oliveira Cardoso, Daniela Graner Schuwartz Tannus Silva, Maria Conceição de Castro Antonelli Monteiro de Queiroz, Albino Alegro Oliveira, Tiago Marinho Almeida Noleto Resumo A pneumoconiose por metal duro, descrita pela primeira vez em 1964, é uma doença difusa causada por inalação de partículas de cobalto. A doença pode se manifestar de três formas diferentes: asma ocupacional, doença inters- ticial e alveolite alérgica. Relata-se um caso de um jovem do sexo masculino, afiador de ferramentas, com quadro de tosse seca e dispnéia progressiva há um ano, apresentando-se à admissão com pneumotórax espontâneo bila- teral. O diagnóstico foi confirmado através de biópsia pulmonar a céu aberto. Descritores: Doenças pulmonares intersticiais; Pneumoconiose; Pneumotórax. Abstract Hard metal pneumoconiosis, first described in 1964, is a diffuse disease caused by the inhalation of cobalt particles. The disease can manifest as occupational asthma, interstitial disease or allergic alveolitis. We report the case of a young male, working as a tool sharpener, who presented with dry cough and progressive dyspnea for one year, as well as with spontaneous bilateral pneumothorax at admission. The diagnosis was confirmed by open lung biopsy. Keywords: Lung diseases, interstitial; Pneumoconiosis; Pneumothorax. * Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil. Endereço para correspondência: Maria Auxiliadora Carmo Moreira. Primeira Avenida s/n, Setor Universitário, CEP 74605-020, Goiânia, GO, Brasil. Tel 55 62 269-8385. E-mail: helpuol@uol.com.br Apoio financeiro: Nenhum. Recebido para publicação em 31/8/2009. Aprovado, após revisão, em 18/12/2009. Relato de Caso
  • 2. Pneumoconiose por exposição a metal duro com pneumotórax bilateral espontâneo J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151 149 A prova de função pulmonar realizada seis meses após a alta hospitalar evidenciou distúrbio restritivo acentuado (CV = 34% do predito), com prova broncodilatadora negativa, e redução moderada da DLCO (60% do predito). Atualmente, após 1 ano do diagnóstico, o pacientemantémousodeprednisona(10 mg/dia), apresentando tosse seca ocasional e ­dispneia aos médios esforços, com SpO2 = 93% em repouso. Discussão A pneumoconiose por exposição a metal duro foi primeiramente descrita por Liebow e Carrington em 1969, sendo incluída entre as pneumonias intersticiais idiopáticas. Em 2001, a American Thoracic Society e a European Respiratory Society reconheceram essa entidade ocasional por 2 anos, tendo cessado o hábito há 5 anos. Há 8 anos trabalhava oito horas por dia, sem uso de equipamento de proteção indi- vidual, como afiador de ferramentas compostas por metal duro (serras, serrotes e facas), utili- zando um rebolo de diamantado sintético, em ambiente fechado, de aproximadamente 5,5 m2 , sendo o único trabalhador naquele ambiente. Ao exame físico, apresentava-se emagrecido, dispneico, com frêmito toracovocal diminuído difusamente em ambos os hemitórax, prin- cipalmente nos ápices, onde se observava timpanismo; SpO2 = 86% em ar ambiente; e sem outras alterações. A radiografia de tórax realizada um mês antes da admissão evidenciou pneumotórax bilateral (Figura 1). A TCAR demonstrou pneumotórax bilateral, enfisema parasseptal em ápices, com algumas bolhas de permeio, opacidade em vidro fosco difusa com micronódulos perilinfáticos e linfonodos mediastinais com halo calcificado (Figura 2). O paciente foi submetido à drenagem torá- cica fechada bilateral com re-expansão total do pulmão esquerdo e parcial à direita, onde persistia uma fístula broncopleural de médio débito. Na mesma internação, foi realizada a sutura da fístula e pleurectomia parietal à direita, pleurodese química com tetraciclina à esquerda e biópsia pulmonar a céu aberto (lobo médio). Osachadosanatomopatológicosevidenciaram fibroseintersticialpulmonar,predominantemente peribrônquica e perisseptal contendo numerosas células gigantes, histiócitos alveolares e áreas de faveolamento (Figura 3). Tecido pleural com proliferação de tecido de granulação, fibrose, infiltrado linfo-histioplasmocitário, contendo alguns neutrófilos de permeio e deposição de fibrina na superfície. Baseado na história profissional, nos exame de imagem e no exame anatomopatológico, foi feito o diagnóstico de pneumoconiose por metal duro. Foi instituída corticoterapia sistêmica, a princípio com metilprednisolona, sendo poste- riormente introduzida prednisona. Na evolução, o paciente ainda apresentou episódios repetidos de pneumotórax bila- teral, com necessidade de novas drenagens e pleurodeses. Obteve alta hospitalar em uso de prednisona (10 mg/dia) e oxigenoterapia domiciliar. Figura 1 - Radiografia de tórax revelando opacidades heterogêneas difusas e pneumotórax bilateral. Figura 2 - Corte de TCAR de tórax sem injeção de contraste, mostrando pneumotórax bilateral, presença de dreno torácico bilateral, bolhas, opacidades em vidro fosco e micronódulos perilinfáticos.
  • 3. 150 Moreira MAC, Cardoso ARO, Silva DGST, Queiroz MCCAM, Oliveira AA, Noleto TMA J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151 mas que pode evoluir para fibrose com a expo- sição prolongada.(2,4,5,7,8) O quadro clínico da pneumonia de células gigantes inclui dispneia aos esforços, hipoxemia, tosse, perda de peso, fadiga, sibilância e ester- tores no final da inspiração.(8) Com a progressão da fibrose, podem ser encontrados baquetea- mento digital, cianose, sinais de falência cardíaca direita, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. (6,8) Pneumotórax foi reportado em um caso.(9) A função pulmonar pode mostrar um padrão restritivo, com redução dos volumes pulmo- nares. Ocasionalmente, pode ser encontrado um padrão obstrutivo.(4,6) A DLCO tende a ser reduzida na mesma proporção da diminuição da CPT.(7,8) A radiografia de tórax pode ser normal ou com discretos infiltrados nodulares ou reticulo- nodulares. A TCAR é mais sensível na detecção de alterações, evidenciando opacidades em vidro fosco e opacidades lineares irregulares, além de distorção do parênquima, bronquiectasias de tração, bronquiolectasias e reticulação.(4,5) Outros achados isolados incluem cistos largos, peri- féricos, que podem representar faveolamento, além de nódulos centrolobulares e enfisema.(8) Se não houver contraindicação, devem ser realizados lavado brônquico e biópsia trans- brônquica para confirmar o diagnóstico. Se a amostra da biópsia transbrônquica for insu- ficiente ou o exame for inconclusivo, deve ser realizada biópsia pulmonar a céu aberto. Caso haja presença de células gigantes multinucle- adas no lavado broncoalveolar associada a um quadro clínico e radiológico compatíveis, não há indicação para a biópsia.(7) O padrão histopatológico consiste em infiltrado de células mononucleares, predo- minantemente em regiões do interstício peribronquiolar, e acúmulo de macrófagos e células gigantes multinucleadas no interior dos alvéolos,(7,8) com espessamento das paredes alveolares.(7) Com a progressão da doença, o faveolamento pode estar presente. O cobalto, pela sua alta solubilidade nos tecidos, é dificil- mente encontrado em espécimes de biópsia.(1) O tratamento da pneumopatia por exposição a metal duro envolve o afastamento completo da exposição e corticoterapia em doses altas. Quando já existe fibrose pulmonar extensa, não há significativa resposta ao tratamento. como uma pneumoconiose devido à inalação de cobalto ou de uma liga do cobalto e outros metais pesados, sendo, então, excluída da clas- sificação original.(4) Outras denominações dessa entidade são pneumoconiose do metal pesado, pulmão do metal pesado, pneumonite de células gigantes e pulmão do cobalto. O metal duro é uma liga de carboneto de tungstênio, cobalto e pequenas quantidades de outros metais, como titânio e tântalo.(3,4) Devido à sua dureza e à resistência a altas temperaturas, ele é usado no polimento de diamantes, na galvanização de armamentos, na perfuração de poços de petróleo e no corte de ferramentas.(5,6) Apesar de haver outros componentes na liga de metal duro, o cobalto é o responsável por induzir doença pulmonar.(5) Alguns autores afirmam que a doença intersticial se desenvolve apenas quando a exposição ao cobalto ocorre em associação com a exposição ao carbonato de tungstênio ou ao pó de diamante.(1) Um pequeno número dos trabalhadores expostos desenvolve a doença, geralmente após 10-12 anos de expo- sição, mas pode ocorrer precocemente.(4) São reconhecidas, atualmente, três enti- dades patológicas relacionadas à inalação de poeiras de metais duros: asma ocupacional; doença pulmonar intersticial, que ocorre em duas variedades — forma não específica e pneu- monite intra-alveolar de células gigantes — e uma alveolite do tipo alérgica ou pneumonite de hipersensibilidade. Essa última ocorre na fase aguda da exposição, sendo considerada uma fase inflamatória precoce e reversível da fibrose, Figura 3 - Exame histopatológico revelando células gigantes multinucleadas e fibrose peribrônquica e perisseptal.
  • 4. Pneumoconiose por exposição a metal duro com pneumotórax bilateral espontâneo J Bras Pneumol. 2010;36(1):148-151 151 ultrastructural, and analytical findings and results of bronchial provocation tests. Thorax 1983;38(2):19-28. 4. Dunlop P, Müller NL, Wilson J, Flint J, Churg A. Hard metal lung disease: high resolution CT and histologic correlation of the initial findings and demonstration of interval improvement.. J Thorac Imaging. 2005;20(4):301-4. 5. Gotway MB, Golden JA, Warnock M, Koth LL, Webb R, Reddy GP, et al. Hard metal interstitial lung disease: high-resolution computed tomography appearance. J Thorac Imaging. 2002;17(4):314-8. 6. Maier LA. Clinical approach to chronic beryllium disease and other nonpneumoconiotic interstitial lung diseases. J Thorac Imaging. 2002;17(4):273-84. 7. Cugell DW. Cobalt-Related Lung Diseases. Clin Pulm Med. 1998; 5(3): 158-64. 8. Enriquez LS, Mohammed TL, Johnson GL, Lefor MJ, Beasley MB. Hard metal pneumoconiosis: a case of giant-cell interstitial pneumonitis in a machinist. Respir Care. 2007;52(2):196-9. 9. Wahbi ZK, Arnold AG, Taylor AJ. Hard metal lung disease and pneumothorax. Respir Med. 1997;91(2):103-5. O caso relatado apresentou a particulari- dade da presença de pneumotórax bilateral e recorrente, com a necessidade de intervenções repetidas. Essa é uma apresentação rara(9) e que dificultou o manejo do caso, tendo sido prova- velmente agravado pelo uso de corticoides, que pode ter comprometido o resultado da pleurodese. Referências 1. Davis GS. Mineral-Induced Lung Disease in Modern Industry. Part 2: Sensitizing Metals. Clin Pulm Med. 2006;13(2):103-10. 2. Capitani EM, Algranti E. Outras Pneumoconioses. J Bras Pneumol. 2006;32(Suppl 2): S72-S77. 3. Davison AG, Haslam PL, Corrin B, Coutts II, Dewar A, Riding WD, et al. Interstitial lung disease and asthma in hard-metal workers: bronchoalveolar lavage, Sobre os autores Maria Auxiliadora Carmo Moreira Chefe do Serviço de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil. Amanda da Rocha Oliveira Cardoso Médica Residente de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil. Daniela Graner Schuwartz Tannus Silva Médica do Serviço de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil. Maria Conceição de Castro Antonelli Monteiro de Queiroz Médica do Serviço de Pneumologia. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil. Albino Alegro Oliveira Médico. Departamento de Cirurgia Cardiotorácica, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil. Tiago Marinho Almeida Noleto Estudante de Medicina. Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO) Brasil.