“TRANSFORMAÇÃO E RESSIGINIFICAÇÃO DE OBJETOS COMUNS INCORPORADOS A ARTE.”
A CULTURA VISUAL SERTANEJA DA CIDADE DE BARRETOS NAS AULAS DE ARTES VISUAIS
1. UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CINTHIA RODRIGUES DE OLIVEIRA
A CULTURA VISUAL SERTANEJA DA CIDADE DE BARRETOS
NAS AULAS DE ARTES VISUAIS
BARRETOS
2011
2. 2
CINTHIA RODRIGUES DE OLIVEIRA
A CULTURA VISUAL SERTANEJA DA CIDADE DE BARRETOS
NAS AULAS DE ARTES VISUAIS
Trabalho de conclusão do curso de Artes
Visuais, habilitação em Licenciatura em
Artes Visuais, do Departamento de Artes
Visuais do Instituto de Artes da
Universidade de Brasília.
Orientadora: Profª Maria Goretti Vulcão
Co orientadora: Profª Lucia de Aguilar
BARRETOS
2011
3. 3
CINTHIA RODRIGUES DE OLIVEIRA
A CULTURA VISUAL SERTANEJA DA CIDADE DE BARRETOS
NAS AULAS DE ARTES VISUAIS
COMISSÃO JULGADORA
Trabalho de conclusão de curso apresentada para obtenção do grau de Licenciatura em
Artes Visuais, habilitação Artes Visuais.
O presente trabalho foi examinado, nesta data pela banca examinadora, composta dos
seguintes membros:
Presidente e Orientador: _____________________________________________________
1º Examinador: ____________________________________________________________
2º Examinador: ____________________________________________________________
3º Examinador: ____________________________________________________________
Aprovado: ___________ Média: ___________
Barretos, ________ de _________________ de 2011.
4. 4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho especialmente a Deus, que me estendeu a mão durante este percurso de
quatro anos de muito estudo e dedicação;
Dedico a meus pais, irmãos e sobrinhas pelos finais de semana de calorosas reuniões em
família;
Dedico por fim as tutoras presenciais Ana Claudia Neif e Angela Possato pelas constantes
orientações, as tutoras a distância Elisandra Gewehr Cardoso e Ludmila de Araújo Correia
por me ensinar a perseverar no quero e por fim a orientadora Lucia de Aguilar e a
supervisora Maria Goretti Vulcão pelas leituras e apontamentos do meu trabalho de
conclusão de curso.
5. 5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a meu noivo Luiz Thiago, que teve muita paciência e carinho
comigo nestes meses finais de faculdade;
Agradeço as minhas colegas de faculdade Fabiana Vigo e Kelle Grilanda, que por muitos
trabalhos desenvolvidos juntos, um deles deu origem a este trabalho de conclusão de curso.
“As coisas que tomamos por suposições, sem questioná-las ou refletir sobre elas, são
justamente as que determinam o nosso pensamento consciente e decidem as nossas
conclusões”.
John Dewey apud HERNÁNDEZ (2000).
6. 6
A MELHOR ESCOLA
Desconfia daqueles que te ensinam
Lista de nomes, fórmulas e datas e que
Sempre repetem modelos de cultura
Que é a triste herança que aborrece.
Não aprende apenas coisas
Pense nelas
E constrói sob teu desejo
E imagens que rompam a barreira que asseguram
Existir entre a realidade e a utopia.
Vive num mundo côncavo e oco,
Imagine como seria uma selva queimada,
Detém o movimento das ondas nas arrebentações,
Tinge o mar de vermelho,
Segue algumas paralelas até que te devolvam
Ao ponto de partida,
Coloque o horizonte na vertical,
Faz uivar um deserto,
Familiariza-te com a loucura.
José Agustín Goytisolo apud HERNÁNDEZ (2000).
7. 7
RESUMO
A cultura visual é uma área das artes visuais que vem sendo muito estudada nos últimos
anos, pois aborda os processos culturais da sociedade. É uma fonte de transmissão da
cultura histórico-social de um povo, uma maneira de entender a realidade e a visualizar o
mundo, principalmente por se apoiar em imagens e pelas muitas formas que são
apresentadas em nosso cotidiano. Com base nestes conhecimentos BARBOSA (2002, 2007)
e HERNÁNDEZ (2009, 2007) são os estudiosos que mais contribuíram para a expansão do
estudo da cultura visual no Brasil. Este trabalho de conclusão de curso é o estudo da cultura
visual sertaneja da cidade de Barretos, propõe-se um projeto na área de artes visuais para
ser aplicado nas escolas municipais de Barretos de ensino fundamental de tempo integral e
na mudança do currículo para que esse conteúdo se torne parte do ensino desses alunos.
Está incluso nesta pesquisa bibliográfica o estudo das imagens que fazem parte das
tradições históricas e culturais da cidade, também os cartazes da Festa do Peão de
Boiadeiro. Observar nas imagens a cultura sertaneja que a cidade abriga desde sua fundação
e mostrar aos alunos o valor que tem esses conhecimentos, pois serão passados de uma
maneira significativa onde eles serão os construtores ativos de seu processo de
aprendizagem.
Palavras chave: cultura visual, tradições, imagens e artes visuais.
8. 8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................ 10
CAPÍTULO I
DISCUTINDO SOBRE O ENSINO DA CULTURA VISUAL NAS
AULAS DE ARTES VISUAIS................................................................... 15
1.1. Definindo o estudo da cultura visual em várias visões................. 17
CAPÍTULO II
A RELEVÂNCIA DO ESTUDO DA IMAGEM PARA A
SOCIEDADE................................................................................................ 21
2.1. O uso das imagens e as produções dos alunos nas aulas de artes
visuais....................................................................................................... 25
CAPÍTULO III
A SOCIEDADE BARRETENSE E A CULTURA VISUAL
SERTANEJA................................................................................................ 30
3.1. Observando a cidade: elementos da cultura visual....................... 32
3.2. A cultura visual sertaneja e o ensino das artes visuais na cidade
de Barretos............................................................................................... 33
CAPÍTULO IV
CULTURA SERTANEJA BARRETENSE: UMA HISTÓRIA DE
TRADIÇÃO E CRIATIVIDADE............................................................... 35
4.1. A tradição mantida nas aulas de artes visuais............................... 37
CAPÍTULO V
A CULTURA VISUAL SERTANEJA DA CIDADE DE
BARRETOS.................................................................................................. 40
5.1. A cultura visual sertaneja da cidade de Barretos nas aulas de
artes visuais, um projeto significativo................................................... 41
5.2. Como trabalhar os cartazes da Festa do Peão de Boiadeiro de
Barretos nas aulas de artes visuais?...................................................... 56
5.2.1. A cultura visual sertaneja nos cartazes da Festa do Peão de 58
Boiadeiro de Barretos........................................................................
9. 9
CAPÍTULO VI
A CULTURA VISUAL SERTANEJA PARA PERPETUAR A
HISTÓRIA DA CIDADE E SUAS TRADIÇÕES.................................... 62
6.1. A cultura visual sertaneja para perpetuar a história da cidade
de Barretos nas aulas de artes visuais................................................... 66
CONCLUSÃO............................................................................................... 71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 74
ANEXOS 1: CARTAZES DA FESTA DO PEÃO DE BOIADEIRO 77
DE BARRETOS...........................................................................................
ANEXO 2: PLANO DE CURSO................................................................ 80
10. 10
INTRODUÇÃO
Como trabalhar a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos nas aulas de artes
visuais?
Este tema é uma pesquisa sobre a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos que
é muito rica por causa de seus costumes sertanejos e pela festa do peão. O que nos permite
analisar a utilização da cultura sertaneja inserida nas aulas de artes visuais, para que essa
inserção enriqueça ainda mais a aprendizagem dos alunos, tanto sobre a cultura e história da
cidade, quanto na aprendizagem dos conteúdos de artes visuais.
Em nossa pesquisa, foram utilizadas fotos da cidade e do universo sertanejo,
monumentos da cidade, esculturas e imagens que traduzem a cultura sertaneja, além dos
cartazes da festa do peão, que trazem em seus esboços toda a história sertaneja da cidade
que gira em torno da pecuária.
Essa pesquisa busca manter a cultura sertaneja da cidade, mostrando que por meio
da arte também é possível manter a cultura de uma cidade viva, para isso, foi utilizada bases
bibliográficas nos textos de Ana Mae Barbosa, arte/educadora que desenvolve projetos na
área educativa e também nos livros de Fernando Hernández, teórico, estudioso da imagem,
que discute a cultura visual como projeto educativo.
Verificamos que em um mundo complexo, devemos utilizar toda subjetividade para
nos comunicar, não apenas pela escrita, mas também pelas imagens que invadem nossa
sociedade. Devemos ensinar os estudantes a utilizando a linguagem do som, das imagens,
gráficos, músicas e cinemas, pois, elas são tão importantes quanto à comunicação pelas
palavras. As imagens muitas vezes falam mais do que palavras.
A pesquisa consiste em mostrar a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos,
utilizando imagens e sua história, inserindo este conteúdo no universo das artes, para que as
aulas sejam mais significativas e que os alunos possam, pela história e pela cultura,
vivenciar e aprender sobre a cultura da cidade, sobre as artes e suas representações.
Fotografando as imagens da cidade que demonstrem suas características sertanejas
em monumentos e imagens, formando nossa identidade e nossas referências culturais, que
esse tema passe a fazer parte da grade curricular dos alunos do ensino fundamental, na
escola de tempo integral da cidade de Barretos, pois a cultura sertaneja é à base da história
da cidade.
11. 11
A cidade de Barretos foi fundada por desbravadores que fizeram aqui, um pólo
agropecuário de gado leiteiro e gado de corte, por isso, acreditamos que esse conhecimento
da história da cidade, aliada a cultura e a arte será muito importante para enriquecer os
conteúdos das artes visuais no currículo dos alunos da Rede Municipal de Educação de
Barretos.
Reunindo um vasto conteúdo teórico, buscamos reafirmar a importância da cultura
visual para o conteúdo das aulas de artes visuais e a relevância de aprender a ver a história
da cidade por múltiplos olhares.
Fizemos uma pesquisa de campo, fotografando elementos da trajetória histórica da
cidade, até os dias de hoje. Fotografamos monumentos, esculturas e imagens da cidade que
abrigam a cultura visual sertaneja para iniciar o projeto.
Esperamos que esse trabalho contribua com a valorização da cultura da região,
revitalizando o convite de HERNÁNDEZ (2007), para:
“Catar” imagens, experiências e pensamentos, a descobrir e criar outros sentidos
às narrativas, a usufruir do prazer que elas proporcionam, sem perder a
capacidade de reflexão e de crítica, a desconfiar do primeiro (des)encantamento e
a acompanhar, com rigor e sensibilidade, a delicadeza dos processos de
apropriação e de invenção das imagens.
A cultura visual se entende por um campo de estudo que geralmente inclui alguma
combinação de estudos culturais, história da arte e antropologia, enfocando aspectos da
cultura que se apóiem em imagens visuais. A pesquisa é um estudo sobre a história cultural
da cidade e visa um enriquecimento e uma interiorização desta história pelos alunos que
estarão em constante contato com as artes visuais através deste estudo sobre a cultura visual
sertaneja da cidade de Barretos.
Barretos era o caminho utilizado pelos tropeiros e devido a sua localização
geográfica, à qualidade de suas terras propícias às pastagens, do favorecimento do clima,
entre outros fatores, foi à grande propulsora da evolução da pecuária de corte da vasta
região, que compreendia os Estados de Mato Grosso e algumas regiões do Triângulo
Mineiro, Oeste e Noroeste de Minas Geais. Até os anos cinquenta era conhecida como a
“Capital da Pecuária Brasileira”, um título reconhecido como justo do ponto de vista
econômico e histórico, em decorrência da presença do Frigorífico Anglo, que atraia grandes
boiadas vindas das regiões citadas.
Com base em Ana Mae Barbosa, que defende a necessidade da identidade cultural
para que haja capacidade de reconhecer-se a si mesmo ou de construir a própria realidade, o
12. 12
projeto de pesquisa foi desenvolvido com a proposta de que os alunos ao estudar a história
da cidade compreendam sua riqueza cultural e aprendam conteúdos de artes visuais através
de obras da cultura sertaneja local.
De acordo com Ana Mae Barbosa, é função do arte-educador promover a cultura do
contexto no qual os alunos estão inseridos para que haja identificação cultural e
desenvolvimento; para que possam desenvolver sua percepção, imaginação, capacidade
crítica e criatividade e, dessa forma, sejam capazes de analisar e modificar a realidade em
que vivem.
Constaram na pesquisa diferentes imagens que fazem parte da cultura visual
sertaneja da cidade e também os cartazes da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos para
elaborar um trabalho direcionado, aonde através dessas imagens iremos inserindo,
relembrando e estudando a cultura sertaneja, através de imagens que contemple a arte, que
será a base.
A pesquisa teórica é sobre a Cultura Visual Sertaneja da cidade de Barretos nas
aulas de artes visuais, para desenvolver esse estudo buscamos um referencial teórico bem
vasto, com estudiosos e pesquisadores capacitados neste tema.
Sobre a cultura visual procuramos embasar a pesquisa nos estudo de Ana Mae
(2007), onde ela dá destaque às metodologias de ensino que partem da concepção de Arte
não apenas como expressão, mas também como cultura, isto é, que valorizam tanto o fazer
artístico na sala de aula, quanto à compreensão da obra de arte através do ensino da história
da arte, da crítica de arte e da estética.
Procuramos demonstrar nesta pesquisa que aliar as artes ao conhecimento da história
de nossa sociedade, aqui em questão, a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos,
através das imagens os alunos também poderão aprender sobre a história da cidade aliados
aos conceitos de artes.
BARBOSA, Ana Mae (2002), também coloca sobre o ensino da arte no Brasil1. Que
a Arte “é a extensão do poder dos ritos e cerimônias, que une os seres humanos aos
incidentes e cenas da vida, através de uma celebração conjunta: assim torna-os conscientes
de sua ligação uns com os outros, em origem e destino”.
É o desenvolvimento dessa visão que propomos um estudo das raízes culturais da
história da cidade para uma valorização e engrandecimento das tradições atuais e futuras,
tanto culturais como artísticas. Fernando Hernández (2000), no livro Cultura Visual,
1
Baseado nas visões de Dewey sobre a importância da Arte no desenvolvimento humana.
13. 13
Mudança Educativa e Projeto de Trabalho, nos propõe uma nova visão sobre o ensino da
arte, ele tenta romper barreiras e mitos sobre o que pode ser esse campo de estudos que
deverá expandir os conhecimentos dos alunos de ensino fundamental e médio sobre a
cultura visual de nossa época e que também ajude a compreender os significados da cultura
visual de outras épocas.
Assim, as artes passam a ter um papel fundamental, pois podemos estudar hoje o
que foi história e guardar a história da cultura em suas imagens, utilizando deste
pressuposto, podem-se utilizar as imagens para o estudo da história da cultura visual da
cidade e em artes utilizar técnicas, materiais e suportes para aprendizagem dos conteúdos
em artes.
Em seu livro, Catadores da Cultura Visual, Fernando Hernández (2007), propõe uma
nova narrativa educacional. Ele destaca o pensamento e as relações com a cultura visual que
produzem olhares sobre o mundo, sobre nós próprios e sobre os outros, e como, no contexto
educacional, que abarca o ensino e a pesquisa, essas questões podem ser problematizadas e
contempladas em projetos de trabalhos e de investigação. Nesse sentido, chama a atenção
para a importância de se enfatizar a fluidez das imagens no cotidiano e pensar sobre os
sentidos produzidos nas mediações com crianças, jovens e adultos.
Seguindo os estudos de HERNÁNDEZ (2007) a imagem tem um papel fundamental
em nossa sociedade nos dias atuais, pois através delas podemos “catar” imagens,
experiências e pensamentos, descobrir e criar outros sentidos as narrativas. Esse seria o
objetivo principal da pesquisa proporcionar aos alunos um projeto que eles teriam a riqueza
cultural de sua cidade como fonte para o estudo de sua história e também fundamentando o
conteúdo em artes, através do estudo da cultura visual sertaneja que está espalhada pela
cidade em imagens, monumentos e também nos cartazes da Festa do Peão e de Boiadeiro de
Barretos.
ARNHEIM, Rudolf (2004), nos mostra a arte e sua percepção visual, colocando por
que as crianças desenham assim? Ele afirma também que as crianças desenham o que
veem, dentro de uma psicologia da visão criadora, é isso que faz com que o aluno pense e
reflita para poder produzir seus trabalhos e interiorizar os conhecimentos que estarão
adquirindo.
CORRÊA, Ayrton. NUNES, Ana Luiza (2006), afirmam que,
A arte nos permite sentir a dinâmica da própria vida, pois o que percebemos
através das artes visuais não é uma simples e única qualidade emocional. A
liberdade e a emoção que as artes visuais proporcionam aos indivíduos tocam o
14. 14
mundo interior dos seres sensíveis por meio das imagens. É necessários que se
reflita, estética e artisticamente, sobre as imagens visuais, o que implica um
envolvimento cognitivo, perceptível e sensível, com as formas dessas imagens.
As imagens levam o espectador, neste caso o aluno, a perceber algo mais do que a
pura imagem: Qual a história desta imagem? Quem a fez? Qual o material utilizado? O que
nos remete essa imagem nos dias de hoje? São questões que podem e devem ser
proporcionadas para os alunos no modelo de educação simbólico-cultural.
Esta pesquisa constituirá em uma proposta para ser desenvolvida nas escolas de
período integral do ensino fundamental da cidade de Barretos e para isso o aluno deverá se
utilizar de suas produções baseados nas obras de outros artistas, sobre o desenho infantil
SILVA, Silvia (2002), coloca que o ato de desenhar promove desenvolvimento e
aprendizagem afetiva, social, cognitiva e motora. Ou seja, desenhar faz com que a criança
participe do seu jeito da vida em sociedade.
Segundo o que está nos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS,
A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que
caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por
meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.
Aprender arte envolve conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e
sobre as produções artísticas individuais e coletivas de distintas culturas e épocas.
Essa orientação proporciona ao aluno uma riqueza de conhecimento de outras
épocas, outras técnicas, outros materiais e principalmente de outras visões de mundo.
Sobre a história de Barretos e a Festa do Peão, utilizamos como embasamento o
livro sobre os 50 anos de festa de GOMES, Júnior (2005), que conta a história da tradição
sertaneja desde a chegada as primeiras comitivas, a fundação do clube Os Independentes
que criou a festa do peão até os dias atuais. Também o livro sobre Barretos de TEDESCO,
JOSÉ e MENEZES, RUY (1954), que é um Álbum Comemorativo do 1º Centenário da
Fundação de Barretos.
Na pesquisa sobre a história da cidade e da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos,
utilizei o site da Prefeitura da cidade que consta a história dos fundadores e também o site
do clube Os Independentes idealizadores e fundadores da festa.
Mostrar a riqueza da cultura visual sertaneja da cidade de Barretos é uma forma de
aliar o resgate da história e da valorização cultural de nossas raízes e também uma forma de
proporcionar aos alunos um novo conceito sobre o estudo das imagens dentro das aulas de
artes visuais.
15. 15
CAPÍTULO I
DISCUTINDO SOBRE O ENSINO DA CULTURA VISUAL NAS AULAS DE
ARTES VISUAIS
A cultura visual está ganhando nos últimos anos um espaço maior de discussão dentro
do ensino das artes visuais, pois vivemos em um mundo cercado por imagens e elas fazem
parte de nosso cotidiano, com isso, é de fundamental importância trabalhar com estes signos
de maneira pedagógica. Utilizar as imagens em projetos educacionais propicia uma maior
participação dos alunos, pois essas imagens fazem parte do seu mundo. Segundo os escritos
dos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (2001, p.61), sobre a cultura visual
se coloca assim:
O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da visualidade em qualidades
inigualáveis na história, criando um universo de exposição múltipla para os seres
humanos, o que gera a necessidade de uma educação para saber perceber e
distinguir sentimentos, sensações, idéias e qualidades. Por isso o estudo das
visualidades pode ser integrado nos projetos educacionais. Tal aprendizagem
pode favorecer compreensões mais amplas para que o aluno desenvolva sua
sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente.
A cultura visual é uma fonte importante para o trabalho do professor em sala, pois
segundo HERNÁNDEZ (2007, p. 23), “O fato de que tal estudo parece ampliar as fontes,
reorganizar o conteúdo da formação de professores, dá uma forte ênfase à
interdisciplinariedade/transdisciplinariedade e à integração curricular”. Estudar as imagens
que estão nos cercando a todo o momento, também é uma forma de perceber o que nos
rodeia e se tornar um cidadão participante e crítico frente ao que lhe é colocado. Não apenas
receber a informação através das imagens, mas interagir com elas. Neste pensamento
HERNÁNDEZ (2007, p. 31), esclarece a contribuição das representações visuais assim:
É neste sentido que considero que as representações visuais contribuem, assim
como os espelhos, para a constituição de maneiras e modos de ser. As
representações visuais derivam-se e ao mesmo tempo interagem de e com as
formas de relação que cada ser humano estabelece, também com as formas de
16. 16
socialização e aculturação nas quais cada um se encontra imerso desde o
nascimento e no decorrer da vida. Estas formas de relação contribuem para dar
sentido à sua maneira de sentir e de pensar, de olhar-se e de olhar, não a partir de
uma posição determinista, mas em constante interação com os outros e com sua
capacidade de agenciamento.
Queremos que nossos alunos possam participar da sociedade de maneira a não se
sentirem excluídos, mas que participem dela de forma ativa e efetiva. Buckingham, 1993,
p.146 apud HERNÁNDEZ (2007, p. 67), escreve sobre como os estudantes devem se portar
frente aos estudos da cultura visual:
Sua intenção é a de que os estudantes aprendam a analisar criticamente os objetos,
as imagens e as produções da cultura visual de modo que se convertam no
“espectador ideal (...) alguém que nunca é persuadido ou enganado, alguém que
vê para além das “ilusões” que as mídias apresentam um espectador impermeável
à influência.
Segundo o texto “Educação da cultura visual & cotidiano” de autoria de
GUNTHER, o estudo da cultura visual é um norteador teórico metodológico, que aproxima
os conteúdos curriculares das manifestações culturais do cotidiano, e aumenta as
possibilidades do ensino das artes em contextos escolares, de uma forma que o aluno
realmente aprenda. HERNÁNDEZ (2000) destaca a importância da cultura visual como
mediadora sobre os nossos olhares e o mundo e assim servir de experiências como meios
artísticos.
De acordo com o texto “A cultura visual no ensino de arte contemporâneo:
singularidades no trabalho com as imagens”, de autoria de NASCIMENTO (2006), “O foco
da cultura visual é a interpretação das interpretações. A cultura visual não procura extrair
interpretações desconectadas de um sentido, mas problematizar como tais interpretações
tornaram-se e são capazes de serem depreendidas”.
No texto “Cultura visual e escola” de autoria de TOURINHO (2011), a autora
afirma que a educação da cultura visual, está ligada as ciências sociais e com isso, nos
proporcionam um olhar crítico e investigativo em relação às imagens e aos modos de ver
essas imagens, valorizando a imaginação, o prazer e a crítica como constituintes das
práticas de produção e interpretação de visualidades.
Segundo (FREEDMAN, 2006, p. 25) apud MARTINS (2006) no texto
“Visualidades” consta que, “Fica evidente que a cultura visual não tem o objetivo de
17. 17
subestimar ou alijar da sua discussão as práticas artísticas das artes visuais porque elas
“compõem a maior parte da cultura visual, que e tudo o que os humanos formam e sentem
através da visão ou da visualização, e que da forma ao modo como vivemos nossas vidas”.
A cultura visual veio, portanto, para enriquecer a nossa experiência e a dos alunos,
compreendendo que não são os artefatos que definem arte, imagem e cultura visual, mas o
modo como aproximamos relacionamos, vemos e olhamos tais artefatos. O objeto de estudo
da cultura visual não é especificamente a arte ou a cultura popular, mas a interpretação
crítica da arte, da imagem e do visual, segundo o que consta no texto “Visualidades”, de
autoria de MARTINS (2006).
Entendemos que o ensino da cultura visual seja uma nova forma de olhar o mundo e
perceber nas imagens produzidas, os meios para se tornar um cidadão ativo, não apenas
receber informações, mas, sobretudo, aprender a lidar com essas informações através das
imagens e fazer delas uma forma de melhorar o seu meio.
1.1. Definindo o estudo da cultura visual em várias visões
A cultura visual vem sendo estudada por muitos estudiosos que acreditam que as
imagens podem ser fontes de informações visuais e funções sociais, segundo
HERNÁNDEZ (2007, p. 41), a cultura visual é “uma compreensão crítica do papel das
práticas sociais do olhar e da representação visual, de suas funções sociais e das relações de
poder às quais se vinculam”. Ela contribui muito para o significado e a interpretação das
imagens, propondo abranger um estudo histórico da visualidade e a perspectiva crítica,
segundo HERNÁNDEZ (2007).
CORRÊA E NUNES (2006, p.7), coloca que:
As artes, especialmente a visual, acompanham o homem desde seus albores. Da
magia ao utilitarismo, ela evolui passando por todos os momentos da história.
Assim, o homem como ser criativo, busca incessantemente seu crescimento
interior, produzindo ciência e arte em prol da humanidade. Essa busca
proporciona o desenvolvimento cognitivo, fazendo com que o individuo organize
as mais variadas situações criativas, que desencadeiam uma multiplicidade de
situações na organização e produção do conhecimento.
18. 18
HERNÁNDEZ (2007, p. 27), chama atenção para a consideração de quatro focos
importantes sobre o estudo da cultura visual:
A relevância que as representações visuais e as práticas culturais têm dado ao
“olhar” em termos das construções e sentido e das subjetividades no mundo
contemporâneo.
O papel das manifestações da cultura popular na construção das subjetividades da
infância e da juventude.
As novas necessidades da educação em tempo de incertezas e para sujeitos em
desenvolvimento, para os quais aprender resulta, com maior freqüência em
obrigação e poucas vezes como uma experiência apaixonante.
As propostas dos produtores visuais (dentro e fora do campo das artes) que
questionam os limites nas artes visuais e, acima de tudo, a importância do
“visual” e das formas de ver nas sociedades contemporâneas.
Os estudos da cultura visual são importantes, pois segundo Larnier nos anos 70 e 80
apud HERNÁNDEZ (2007, p.47), para “Estudar a cultura popular para o desenvolvimento
da consciência crítica”. Também McFee, 1968 apud HERNÁNDEZ (2007, p. 47), “Ampliar
os objetivos da cultura popular e de massas que os estudantes deveriam avaliar de maneira
crítica” e o mais importante sobre a cultura visual é o que escreve Chapman, 1967 apud
HERNÁNDEZ (2007, p. 47), “Que a aprendizagem vá mais além da escola e da sala de
aula e eduque um cidadão letrado em uma sociedade democrática”.
HERNÁNDEZ (2007, p. 54), argumenta que “Estudar a cultura visual pode facilitar
aos estudantes uma série de ferramentas críticas para a investigação da visualidade humana
e não para transmitir um corpo específico de informações e valores”. Pois com a tecnologia
o aluno está acostumado a receber tudo pronto, mas com os estudos sobre a cultura visual o
aluno precisa pensar sobre a influência das imagens e formar as suas próprias conclusões.
Sobre esse ponto Buckingham, 1998, p.8 apud HERNÁNDEZ (2007, p. 67), afirma
que:
Dessa maneira, a cultura visual passa a ser objeto do currículo, possibilitando que
o tema ensinado pelo professor sirva para o estudante analisar criticamente as
manifestações da cultura visual, sem levar em conta o prazer que os estudantes
possam sentir ao trabalhar com tais temas, uma vez que “ensinar sobre as mídias
se converte em um processo de desmistificação, de revelar as verdades
subjacentes que estão normalmente ocultas à visão.
Alvermann, Moon e Hagodd, 1999, p.28 apud HERNÁNDEZ (2007, p. 68),
“Baseando numa perspectiva de integração, os educadores reconhecem a cultura visual
como uma parcela real e influente na vida dos estudantes, especialmente a relacionada com
a cultura popular”. Completando HERNÁNDEZ (2007, p. 68), coloca que a cultura visual é
19. 19
importante “Não para pedagogizá-la nem para trivializá-la, mas como para propiciar
experiências de subjetividade e, especialmente, para aprender formas complexas de
compreensão e de intervenção social”. Completando com a idéia de BARBOSA (2007) que
é ensinar imagem através da imagem.
Nesta pesquisa teórica propomos um projeto para ser aplicado nas escolas de ensino
fundamental do período integral da cidade de Barretos HERNÁNDEZ (2000, p. 140),
escreve o seguinte: Para selecionar as representações que merecem atenção a partir da
perspectiva do estudo da cultura visual, poderiam ser levadas em conta as seguintes
características, ou seja, o que deve ser relevante para que o trabalho com as imagens seja
uma atividade eficiente para os alunos:
Ser inquietantes;
Estar relacionadas com valores compartilhados em diferentes culturas;
Refletir as vozes da comunidade;
Estar abertas a múltiplas interpretações;
Referir-se às vidas das pessoas;
Expressar valores estéticos;
Fazer com que o espectador pense;
Não ser herméticas;
Não ser apenas a expressão do narcisismo do artista;
Olhar para o futuro;
Não estar obcecadas pela idéia de novidade.
Segundo o texto “Cultura visual e escola” de autoria de TOURINHO (2011, p. 4):
“A cultura visual é um campo de estudo emergente e transdisciplinar que se fundamenta no
princípio de que as práticas do ver são construídas social e culturalmente”. A cultura visual
discute impactos e implicações das experiências de ver e ser visto na contemporaneidade, é
uma nova forma de trabalhar com nossos alunos em sala somando muitos saberes. Segundo
os estudos de Krug (2002) apud DIAS (2011, p. 24) no texto “Cotidiano, prática escolar e
visualidades” afirma que:
A cultura visual pode ser entendida em relação aos significados e valores das
diferentes maneiras da vida diária dos sujeitos e suas comunidades e que não
existe nada de novidade para as práticas de arte/educação em associar arte à vida,
mas existem mudanças quando as questões pedagógicas estão centradas no
cotidiano dos sujeitos. Para ele, a cultura é interdependente da natureza e as artes
representam alguns dos exemplos mais significativos e extraordinários da vida
cotidiana.
Reforçando a citação acima (Mirzoeff, 2003, p. 20) apud SARDELICH (2006, p.
211), no texto “Leitura de imagens e cultura visual: desenredando conceitos para a prática
20. 20
educativa”, consta que “a cultura visual é uma estratégia para compreender a vida
contemporânea e não uma disciplina acadêmica”. É uma forma de trabalhar as imagens
pedagogicamente dentro das artes visuais de uma maneira significativa para os alunos.
De acordo com o texto “A cultura visual no ensino de arte contemporâneo:
singularidades no trabalho com as imagens”, de autoria de NASCIMENTO (2006), “As
imagens são construídas a partir de um repertório cultural, forjado no passado, e que, no
presente, fixam e disseminam modos de compreender historicamente construídos”. Assim o
aluno estudando as imagens do passado pode entender melhor o mundo de hoje e propor
mudanças para que se viva melhor no futuro.
Todos os autores aqui citados nos colocam a sua visão sobre o trabalho com o
estudo da cultura visual e esclarecem que é uma forma de se trabalhar as imagens nas aulas
de artes visuais, propondo que o aluno não apenas absorva o que lhe é passado, mas reflita
criticamente sobre seu meio, aprendendo a reconhecer as visualidades do mundo e
interagindo frente a elas.
21. 21
CAPÍTULO II
A RELEVÂNCIA DO ESTUDO DA IMAGEM PARA A SOCIEDADE
O trabalho com imagens vem sendo estudado há muitos anos e representa um estudo
relevante muito importante, principalmente para os arte/educadores que veem nas imagens
uma importante ferramenta para estudar e analisar nossa sociedade.
HERNÁNDEZ (2007) afirma que vivemos em um mundo visualmente complexo,
então devemos utilizar todas as formas de comunicação que temos disponíveis, por isso
precisamos ensinar os alunos à linguagem das imagens, pois é tão importante quanto se
comunicar com palavras.
Segundo o texto “Arte, Educação e Cultura” de autoria de BARBOSA, em nossa
vida diária, estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos, idéias,
conceitos, comportamentos, slogans políticos etc. Como resultado de nossa incapacidade de
ler essas imagens, nós aprendemos por meio delas inconscientemente.
Sendo assim a educação deveria prestar atenção ao discurso visual. Ensinar a
gramática visual e sua sintaxe através da arte, tornar as crianças conscientes da produção
humana de alta qualidade, é uma forma de prepará-las para compreender e avaliar todo o
tipo de imagem, conscientizando-as de que estão aprendendo com estas imagens. O
aprendizado com as imagens é coerente e pode ser mais focado dentro das escolas. Nesta
pesquisa, ele se caracteriza como uma importante ferramenta, pois, temos a história da
cidade ligadas às imagens, que favorecem o engrandecimento cultural da sociedade de
Barretos, onde os alunos poderão visualizar, estudar as imagens e aprender com elas sobre a
história da cidade. É uma forma de inserir a cultura da cidade nas aulas de artes visuais e
assim poder inserir a sociedade a cultura visual sertaneja.
HERNÁNDEZ (2007, p. 25), nos lembra que “Em um mundo dominado por
dispositivos visuais e tecnologias da representação, nossa finalidade educativa deveria ser a
de facilitar experiências reflexivas críticas.”
Segundo o texto “Arte, educação e cultura” de autoria de BARBOSA, destaca que a
preocupação com o estímulo cultural através da educação, desfrutado de diferentes
abordagens nos mundos industrializados e em vias de desenvolvimento, revelando diversos
22. 22
significados através de diferenças semânticas. Enquanto no Terceiro Mundo se manifesta a
necessidade de identidade cultural, os países industrializados falam sobre a leitura cultural e
ecologia cultural. No Terceiro Mundo, a identidade cultural é o interesse central e significa
necessidade de ser capaz de reconhecer a si próprio e uma necessidade básica de
sobrevivência e de construção de sua própria realidade. Sobre essa visão HERNÁNDEZ
(2000, p. 52), escreve assim: “A cultura visual contribuiu para que os indivíduos fixem as
representações sobre si mesmas e sobre o mundo e sobre seus modos de pensar”.
A expressão da cultura visual é um novo regime da visualidade, professores e alunos
devem ir mais além à tradicional obsessão por ensinar a ver e a promover experiências
artísticas. Em um mundo que é dominado pelo visual e pelas tecnologias, a cultura visual
vem facilitar as experiências reflexivas e críticas, para compreender como as imagens fluem
no pensamento, nas ações e sentimentos. Também proporcionam uma reflexão sobre as
identidades e contextos sócio-históricos de uma comunidade, então é nesse ponto que a
pesquisa se fixa no contexto sócio-histórico onde podemos aprender sobre a nossa própria
história que é uma maneira mais contemporânea.
SARDELICH (2006, p. 214), no texto “Leitura de imagens e cultura visual:
desenredando conceitos para a prática educativa”, escreve que:
Uma primeira meta a ser perseguida nessa abordagem seria explorar as
representações que as pessoas, a partir das suas características sociais, culturais e
históricas, constroem da realidade, ou seja, compreender o que se representa para
compreender as próprias representações.
Assim, a história de Barretos pode ser contada relacionando a sua cultura visual,
destacando o universo sertanejo que é o ponto principal de toda a história. A tradição da
criação de gado e dos rodeios faz com que essa cultura visual sertaneja se destaque em
vários pontos da cidade. Completando esse pensamento HERNÁNDEZ (2007), explica que
a expressão cultura visual refere-se a uma diversidade de práticas e interpretações críticas
em torno das relações entre as posições subjetivas e as práticas culturais e sociais do olhar.
Onde o movimento cultural que orienta a reflexão e as práticas relacionadas as maneiras de
ver e de visualizar as representações culturais e as maneiras de ver o mundo e a si mesmo.
A imagem é muito importante em nossa sociedade para evitar o “analfabetismo
visual crítico”, que de acordo com HERNÁNDEZ (2007), o estudo da cultura visual pode
permitir aos aprendizes analisar, interpretar, avaliar e criar a partir da relação entre os
saberes que circulam pelos textos orais, auditivos, visuais, escritos, corporais e,
23. 23
especialmente, pelos vinculados as imagens que saturam as representações tecnologizadas
nas sociedades contemporâneas. E assim, o aluno poderá se colocar de forma crítica frente à
visualidade da sociedade, sabendo escolher as melhores formas para participar dela,
deixando de lado a alienação frente às imagens.
Segundo HERNÁNDEZ (2007), para desenvolver uma perspectiva de compreensão
crítica e performativa da cultura visual, algumas questões cruciais devem ser consideradas
no momento de praticá-las: As experiências de vida que os estudantes trazem para o
ambiente de aprendizagens, referentes às manifestações da cultura visual, não para serem
pedagogizadas, mas, para se fazer relacionar com questões de investigação; a satisfação que
os estudantes sentem com a cultura visual ou que esta lhes propicia em suas vidas, não é
aspectos a ser discriminado ou reprimido, mas a ser transformado em questões sobre o
papel que desempenha na construção de suas subjetividades; de cuidar para que os
estudantes aprendam a fundamentar suas interpretações, que tenham suporte para uma
análise crítica da cultura visual, de modo que possam conviver com diferentes
manifestações visuais e partir de posições que lhes possibilitem assumir novos desafios,
fazer contestações e diferentes relações. Refletir e se enriquecer com a cultura visual do seu
meio é uma maneira de se colocar frente às novas demandas da sociedade.
É essencial o estudo das imagens para a sociedade e para as futuras gerações, pois
através da cultura visual, podemos estudar a cultura popular para o desenvolvimento da
consciência crítica de uma sociedade mais abrangente. A cultura visual sertaneja a qual esta
pesquisa está sendo proposta é à base de toda valorização cultural que vem desde o
conhecimento da história de nosso povo, à valorização da história, buscando manter viva
essa cultura visual para as próximas gerações, através das aulas de artes visuais.
Para que esse projeto seja aplicado e chegue ao objetivo proposto Nancy Pauly
(2003) apud HERNÁNDEZ (2007, p. 25) coloca que os estudantes precisam ter “a
compreensão de como as imagens influem em seus pensamentos, em suas ações e
sentimentos, bem como refletir sobre suas identidades e contextos sócio-históricos”. Por
isso que é fundamental o estudo da cultura visual sertaneja, para se firmar a compreensão
das imagens em nossa sociedade.
De acordo com o texto “A cultura visual no ensino de arte contemporâneo:
singularidades no trabalho com as imagens”, de autoria de NASCIMENTO (2006):
O interesse de quem trabalha com cultura visual está em como as imagens,
independente de ser artística ou não, produzem e fixam modos historicamente
construídos de ver, pensar, fazer e dizer. Em decorrência, o trabalho com as
24. 24
imagens na cultura visual é essencialmente comparativo, pois imagens, de
diferentes épocas e contextos culturais, ajudam a demonstrar como determinadas
representações persistem no presente.
Para se trabalhar com a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos, além da parte
visual, os alunos poderão utilizar suas produções artísticas, ou seja, seus desenhos para
expor suas aprendizagens, pois a utilização do desenho também é uma ferramenta
importante, comenta SILVA (2002, p.34), que “Parte-se do pressuposto de que o desenho é
constituído socialmente, que é estabelecido por condições histórico-culturais”. E o desenho
ajuda o aluno a colocar o seu pensamento no papel. De acordo com PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS (2001, p.41), “No caso do conhecimento artístico, o
domínio do imaginário é o lugar privilegiado de sua atuação: é o terreno das imagens que a
arte realiza sua força comunicativa”, ou seja, é através das várias representações visuais que
o aluno pode se comunicar.
Nos PCNs, onde se referem especificamente às Artes Visuais, consta que existem
várias formas de representar as artes visuais como pintura, escultura, desenho, gravura,
arquitetura, artefato, desenho industrial que são mais tradicionais e outras formas mais
tecnológicas e modernas como fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo,
computação e performance. Nos dias de hoje todas essas representações servem para serem
trabalhadas nas salas de aula de forma pedagógica.
Segundo Bigas Luna, diretor de cinema apud HERNÁNDEZ (2007, p. 29), escreve
que “As pessoas analfabetas do século XXI serão aquelas que não saibam construir
narrativas com imagens”, pois nos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
(2001, p.44), constam que “Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de
aprendizagens que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo” e
a escola pode fazer que essa aprendizagem se torne realidade e significativa, utilizando as
imagens como fontes para um estudo mais abrangente em nossa sociedade.
Para que essa leitura de mundo seja efetiva BARBOSA (2007) propôs um currículo
que interligasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte, que é a
metodologia triangular. Esse também é um dos objetivos deste estudo, incentivar o aluno a
produzir um estudo histórico e uma análise das obras, monumentos e imagens da cidade de
Barretos. HERNÁNDEZ (2000, p. 52), ainda escreve que “A arte, como parte da cultura
visual, atua, sobretudo, como um mediador cultural”, fazendo com que o aluno construa seu
conhecimento visual. Ainda SILVA (2005, p. 26), no texto “O que vamos aprender hoje?”
lembra que como nos sinaliza Paulo Freire, são “leituras de mundos que precedem as
25. 25
leituras da escrita”. Os alunos precisam participar do mundo ao seu redor, para assim se
situar nele, poder entendê-lo e explorá-lo.
Para SILVA (2007, p. 608), no texto “Cultura visual e afirmações identitárias: novos
processos e reconhecimento social” nos esclarecem que “A questão relevante dessas
afirmações é que, por meio do uso das imagens, grupos e comunidades têm conseguido
propagar um sentimento de identidade social, cultural e política para o público em geral”. E
ainda observa que “A imagem quando divulgada publicamente é uma janela aberta através
da qual podemos ver lugares e pessoas que não conheceríamos de outra forma”.
Sendo assim, este estudo teórico sobre a cultura visual da cidade de Barretos, vem
propor que se apresente ao aluno uma “janela” para poder conhecer e estudar as
representações visuais da cultura sertaneja da cidade, além de fazer um levantamento
histórico, cultural e visual da história da cidade e utilizá-las nas aulas de artes visuais,
fundamentando uma nova forma de se aprender sobre a história da cidade e o ensino das
artes.
2.1. O uso das imagens e as produções dos alunos nas aulas de artes visuais
O uso das imagens é de fundamental relevância para as aulas de artes visuais, pois
vem delas o estudo da contemporaneidade e principalmente, são através das imagens, que a
história/memória de um lugar é guardada e pode ser estudada no transcorrer do tempo.
As crianças ao entrarem na escola, podem mudar seus modelos gráficos, pois, a
interação com outras crianças as faz ver o mundo de outra maneira, e as manifestações
peculiares de cada criança, podem interferir neste processo de aquisição do desenho e de
entender as imagens. Para as crianças a relação imagem/desenho é uma forma de se
relacionar com o mundo, segundo SILVA (2002, p. 33):
Em relação ao desenho, a escolarização potencial propicia situações em que a
criança possa desenvolver-se, de modo efetivo, elaborando, modificando e
ampliando seu repertório gráfico. O contato com colegas e professores,
dependendo do trabalho pedagógico, pode ser extremamente enriquecedor, pois o
tempo todo a criança é convidada a ver e pensar sobre as produções alheias e as
suas próprias ações gráficas.
26. 26
Com isso o aluno na escola desenvolve um senso crítico e perceptivo para poder
observar e aprender sobre as produções artísticas que está ao seu redor e podendo assim
aprender e modificar suas próprias produções. O estudo da cultura visual quer despertar no
aluno exatamente isso, o senso crítico através da percepção das imagens.
Escreve ARNHEIM (2004, p. 158) que:
As crianças e os primitivos desenham generalidades e forma não projetiva
precisamente porque desenham o que vêem, mas isto não é uma resposta
completa. Sem dúvida as crianças veem mais do que desenham. Numa idade em
que distinguem facilmente uma pessoa de outra e percebe a menor mudança em
um objeto familiar, seus desenhos são ainda sumamente indiferenciados. As
razões devem estar na natureza e função da representação pictórica.
Acredito que a criança precisa estar atenta a todas as formas de representações
visuais e cabe a escola propor esse aprendizado seguindo os estudos sobre a cultura visual.
BARBOSA (2002) também nos coloca que a melhoria da educação está na qualidade que
tornam qualquer experiência comum atrativa e apropriada capaz de assimilação total e
agradável, usando os conhecimentos prévios dos alunos eles se sentem participantes do
processo de aprendizagem e a assimilação é mais prazerosa.
A arte é uma forma de expressão, por isso as imagens, os desenhos, são atividades
produzidas e estudadas pelos alunos e devem ser valorizados, pois elas são capazes de
mostrar que o aluno interiorizou um conteúdo através de sua obra ou do estudo dela, ou
seja, seu desenho.
Sobre a cultura visual e o desenvolvimento humano através do desenho CORRÊA e
NUNES (2006, P.61), escreve que:
Nesse sentido, entendemos que é próprio da criança e do adolescente buscar na
arte o seu meio mais significativo de expressão entre o “eu” e o “mundo exterior”,
pois a arte permite possibilidades de visibilidade, de comunicação e expressão,
inclusive não-verbal, desenvolvendo o pensar, a percepção, a imaginação, o
sentimento e a criação, que são aspectos indispensáveis para compreender outras
competências no desenvolvimento humano. A arte possibilita ainda compreender
e saber identificar a arte como fato histórico, contextualizando-a nas diversas
culturas.
Segundo SILVA (2002, p.34), “Tanto a criança quanto seu desenho são produtos
históricos, no sentido de que pertencem a certa cultura e por meio dela se desenvolvem”.
SILVA (2002, p.125), comenta em seu livro um trecho importante sobre a produção gráfica
da criança:
27. 27
Quando se observa um desenho pronto, não se vê a riqueza do processo gráfico.
Algumas de suas marcas permanecem na superfície grafada, mas grande parte dos
movimentos implicados na manipulação/exploração de materiais e nas interações
do sujeito com seus pares e professoras acontece somente durante a atividade de
desenho. Também não se vê esse processo quando, diante de uma criança
desenhando, olham-se apenas as marcas que ela faz no papel. É importante olhar
o momento da produção gráfica e não unicamente o produto final.
Nos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (2001), encontra-se que a
educação visual deve considerar a complexidade de uma proposta educacional que leve em
conta as possibilidades e os modos de os alunos transformarem seus conhecimentos em
arte, ou seja, o modo como aprendem, criam e se desenvolvem na área.
Segundo o texto “Educação da cultura visual & cotidiano” de autoria de
GUNTHER:
Nestes termos, uma perspectiva de arte/educação por intermédio da Educação da
Cultura Visual, além de propor um enfoque mais próximo ao nosso cotidiano,
poderia também estabelecer uma análise mais contextual, que inclui tanto a
dimensão social, quanto individual das experiências vividas. Assim, ao perceber o
contexto social e individual de um produtor cultural (artista ou não) e estabelecer
uma relação sobre a importância deste tipo de análise para os demais conteúdos
curriculares em artes, o educando é levado a considerar de forma mais reflexiva o
seu próprio contexto social e individual. Com isto, além de serem abertas
possibilidades de entendimento sobre relações sociais mais amplas, também é
incentivada uma análise dos processos de construção de identidade e de
reconhecimento da diversidade e da diferença, da alteridade e da outridade.
Os estudiosos aqui descritos colocam a imagem nas aulas de artes de forma
enriquecedora, pois no texto “Cultura visual e escola” de autoria de TOURINHO (2011, p.
6): “O papel que as imagens têm na vida cultural e, especialmente, deveriam ter na vida
escolar, é colocar em cena e fazer circular a diversidade de sentidos e valores que elas
geram na interação com os indivíduos”. No outro texto “Cotidiano, prática escolar e
visualidades” de autoria de DIAS (2011, p. 25), “É importante acrescentar que a Educação
da Cultura Visual ressalta a imagética do cotidiano como o elemento central que estimula
práticas de produção, apreciação e crítica de artes”.
Segundo o texto “Cultura visual e transversalidade disciplinar: definindo as bases de
uma forma de pedagogia crítica”, de autoria de CHARRÉU, consta que educar a partir da
Cultura Visual e da sua interpretação crítica, e exige do educador contemporâneo, em
particular, do educador de artes visuais, o conhecimento de um campo cada vez mais
expandido das visualidades, escrutinando no meio social envolvente as imagens que
28. 28
considera serem mais capazes de veicularem os conteúdos que julga serem essenciais para
uma educação mais autêntica e alternativa dos alunos.
No texto “Educação para uma compreensão crítica da arte no ensino fundamental:
finalidade e tendências”, das autoras FRANZ e KUGLER (2003, p.3) consta que na a
LDBEN nº 9.394, promulgada em 20/12/1996, no seu art. 26, § 2º, afirma: “o ensino de arte
constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de
forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.”
De acordo com o texto “Educação para uma compreensão crítica da arte no ensino
fundamental: finalidade e tendências”, das autoras FRANZ e KUGLER (2003, p.10):
A principal meta do ensino de Arte hoje é ajudar os estudantes que passam pela
escola a entender criticamente a sociedade e a cultura. Arte/educadores
contemporâneos defendem também a idéia de que o ensino da Arte é um
poderoso instrumento para resgatar a auto-estima, fortalece a identidade, ao
mesmo tempo em que pode contribuir e propiciar a inclusão social e a educação
para a cidadania e a democracia.
Nos escritos de GABRIEL (2005, p. 8) no texto “Linguagens artísticas da cultura
popular” consta o seguinte: “Cabe a nós, professores, apresentarmos outras opções a nossos
alunos e a nós mesmos, para vivermos uma escola mais alegre, mais artística, mais
brasileira” e neste contexto mais barretense. Então MARTINS (2005, p. 55) no texto “A
escola abre a porta da frente para cultura popular urbana”, explica que:
Ao mesmo tempo em que aprende com os alunos as múltiplas expressões da
cultura popular urbana e que os identifica como sujeitos, o professor pode
contribuir para dinamizar e tornar mais agradável o processo educativo, ao utilizar
os elementos constitutivos dessas várias práticas culturais para orientar a
aprendizagem.
SILVEIRA (2005), no texto “A imagem: interpretação e comunicação” afirma que
“A presença da imagem é cada vez mais forte e, não se pode ignorá-la, uma alternativa é
explorar o seu estudo”, pois as imagens compõem um texto universal, que vence a barreira
da linguagem, porque pode ser compreendido por diversas pessoas, de diversas culturas, em
bem menos tempo que o texto escrito.
O uso das imagens nas aulas de artes é uma forma de trabalhar a cultura visual que o
aluno está inserido e poder propor a eles, meios de interpretar essas imagens, mostrando
que através delas podemos estudar a sua história, o que ela representa e quais os materiais
que foram utilizados em sua confecção. Lendo imagens os alunos aprendem a observar os
detalhes e perceber o real significado de cada imagem.
29. 29
As imagens são fontes inesgotáveis de estudos e reflexões, é importante para a
sociedade se conhecer e mais importante ainda no estudo em sala de aula, para que o aluno
contemporâneo saiba ler as imagens de uma forma crítica e enriquecedora para a sua vida
social.
30. 30
CAPÍTULO III
A SOCIEDADE BARRETENSE E A CULTURA VISUAL SERTANEJA
A sociedade de forma geral precisa se movimentar para a era de avanço visual, pois
só assim, todos poderão usufruir de todas as possibilidades que a cultura visual tem para
transmitir e está transmitindo.
Em relação a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos, a sociedade também
precisa estar "antenada" e comprometida, para que a história da cidade não se perca no
tempo e não seja deixada de lado. A sociedade tem grande responsabilidade sobre a cultura
visual, pois segundo BARBOSA (2007, p. 34):
Temos que alfabetizar para a leitura da imagem através da leitura das obras de
artes plásticas estará preparando a criança para a decodificação da gramática
visual, da imagem fixa e, através da leitura do cinema e da televisão, a
prepararemos para aprender a gramática da imagem em movimento.
Devemos enfrentar o desafio e ampliar novos horizontes de cidadania. Precisamos
ter uma nova narrativa para a sociedade, que leve em conta as necessidades das pessoas no
mundo contemporâneo. Aprender deve ser a apropriação do saber de uma forma prática
com os outros indivíduos e consigo mesmo, o que nos tornará sujeitos portadores de
experiências.
O que foi dito até agora devemos destacar que, na atualidade, a cultura visual é
importante, não apenas como objeto de estudo ou como um tema fundamental a ser
abordado na escola, mas, sobretudo, por ocupar uma parte significativa da experiência
cotidiana das pessoas. O processo de aprendizagem é importante, tanto para a economia,
quanto para o desenvolvimento das novas tecnologias, de forma que, produtores e
receptores podem beneficiar-se desse estudo. Tal perspectiva vai além de experiências de
apreciação, de prazer estético ou de consumo que a cultura visual pode proporcionar,
suscita “uma compreensão crítica do papel das práticas sociais do olhar e da representação
visual, de suas funções sociais e das relações e de poder às quais se vincula”, assim coloca
HERNÁNDEZ (2007. p. 41).
Já BARBOSA (2007) coloca que:
31. 31
Nós aprendemos com Paulo Freire a rejeitar a segregação cultural na educação.
As décadas de luta para salvar os oprimidos da ignorância sobre eles próprios nos
ensinaram que uma educação libertária terá sucesso só quando os participantes no
processo educacional forem capazes de identificar seu ego cultural e se
orgulharem dele. A sociedade pode fazer a sua parte para enriquecer cada vez
mais a cultura visual do seu meio.
E é isso que propomos com o estudo da cultura visual sertaneja da cidade de
Barretos, buscamos o enriquecimento do estudo do meio em que vivemos, por meio do
estudo das imagens da cultura visual sertaneja.
HERNÁNDEZ (2007, p. 65) adota uma postura com base na perspectiva educativa
de “projetos de trabalho” na educação de artes visuais, buscando a compreensão crítica da
cultura visual. Assim, ele acredita na “importância conferida ao papel dos meios e da
cultura popular como portadores e mediadores de discursos, a partir de um enfoque
socioconstrutivista”, reafirmando que a sociedade tem seu papel de construir e refletir sobre
a cultura visual onde está inserida.
De acordo com esse pensamento de HERNÁNDEZ (2007), concluímos que a
cultura visual sertaneja deve ser construída e pensada por todos integrantes da sociedade
onde estão inseridos. No nosso caso, aqui, nesta proposta, construída dentro da escola por
professores e alunos.
Para que essa valorização e estudo da cultura visual sertaneja sejam efetivados com
sucesso, a escola deverá ser a grande colaboradora, pois um currículo voltado para as raízes
culturais da cidade tende a desencadear muitos outros estudos sobre a história e a memória
cultural, trazendo para as aulas de artes visuais, os conhecimentos prévios que os alunos já
possuem. Sobre esse tema Ana Mae Barbosa nos esclarece no texto “Arte, Educação e
Cultura”, “A Educação poderia ser o mais eficiente caminho para estimular a consciência
cultural do indivíduo, começando pelo reconhecimento e apreciação da cultura local” e é
essa cultura local que estamos priorizando nos estudos da cultura visual sertaneja.
O estudo sobre a cultura visual, que nessa pesquisa se desdobra em estudo da cultura
visual sertaneja, traz para o âmbito da escola interpretações e a compreensão da imagem
inserida na vida dos alunos, pois segundo HERNÁNDEZ (2000, p. 30), “Buscar exemplos
na cultura que nos cerca tem a função de aprender a interpretá-los a partir e diferentes
pontos de vista e favorecer a tomada de consciência dos alunos sobre si mesmos e sobre o
mundo de quem fazem parte” e (MARTINS, 2007, p. 26) apud MARTINS (2006) no texto
32. 32
“Visualidades”, coloca que deve se tratar a imagem “não apenas pelo seu valor estético,
mas, principalmente, buscando compreender o papel da imagem na vida da cultura”. Assim
colocando os alunos frente a contextos históricos que serão estudados, eles passarão a
compreender o papel das imagens em suas vidas e na sociedade.
3.1. Observando a cidade: elementos da cultura visual
Os elementos da cultura visual podem ser percebidos, observando de uma maneira
mais detalhada a sociedade em que vivemos, em cartazes, nos estabelecimentos comerciais,
nas praças, nas decorações e nos monumentos. Na cidade de Barretos podemos identificar
muitas imagens que representam a cultura visual sertaneja, pois, a origem da cidade e sua
história estão baseadas na criação e na lida com o gado.
Para trabalhar esses conceitos sobre a cidade e a cultura visual nos escritos dos
PCNs, observamos que é a imaginação que faz o ser humano criar imagens, e com isso, é
possível a evolução e desenvolvimento dos alunos, possibilitando que ele visualize
situações e crie experiências inéditas e ao estudar as imagens que já fazem parte do
contexto histórico na qual ele está inserido.
Os critérios para a seleção de conteúdos segundo os PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS (2001) são conteúdos compatíveis com as possibilidades
de aprendizagem do aluno; valorização do ensino de conteúdos básicos de arte necessários à
formação do cidadão, considerando, ao longo dos ciclos de escolaridade, manifestações
artísticas de povos e culturas de diferentes épocas, incluindo a contemporaneidade e
especificidades do conhecimento e da ação artística.
BARBOSA (2007, p. 23), escreve que “Primeiro é o reconhecimento da importância
do estudo da imagem no ensino da arte, em particular, e na educação, em geral” e também
“Outro objetivo que estará presente na arte-educação no Brasil do futuro é a idéia de
reforçar a herança artística e estética dos alunos com base em seu meio ambiente”, aqui
neste estudo destacando a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos.
33. 33
É importante estudar as imagens para entender a memória visual e social vividas
pela sociedade, pois segundo o texto “Imagem, identidade e escola” de autoria de
MARTINS (2011, p. 18):
A interpretação de objetos e imagens é uma prática que mobiliza a memória
visual e reúne sentidos da memória social construída pelos indivíduos –
professores e alunos – que interpretam. Nesse processo de interpretação, ao tentar
compreender o sentido simbólico das imagens, os indivíduos são influenciados
pelo imaginário dos lugares sociais por onde passam, vivem ou habitam. O
território visual onde as pessoas estão situadas – moram, frequentam, etc. –, ou
seja, o contexto das esferas das suas relações com o mundo as coloca num
processo de construção de sentidos e significados, de práticas de interpretação.
Na visão de HERNÁNDEZ (2000, p. 38), “Apresentar e argumentar um enfoque do
conhecimento artístico que possa servir de fundamento para uma perspectiva de arte na
educação que tenha como objetivo a compreensão da cultura visual”, é de fato, a forma
mais eficaz para se trabalhar as imagens inseridas em nossa sociedade. Utilizando essas
imagens nas aulas de artes visuais, de forma significativa para o aluno, ele se insere na
sociedade e participa dela refletindo suas formas de representações visuais.
3.2. A cultura visual sertaneja e o ensino das artes visuais na cidade de Barretos
A cultura visual sertaneja da cidade de Barretos oferece um grande leque de
oportunidades de aprendizagem nas aulas de artes visuais, segundo os PCNs nos esclarece
que, a arte tem uma função muito importante em relação às manifestações sociais e
artísticas, pois, a arte de cada cultura, revela muito sobre os valores dos indivíduos daquela
sociedade. É na arte que as portas se abrem para uma visão mais significativa sobre as
questões sociais.
Aliando cultura visual sertaneja ao ensino das artes visuais na cidade de Barretos,
estamos colocando em evidencia o que os PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS (2001, p.19), propõem:
A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da
percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à
experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e
34. 34
imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e
conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas
diferentes culturas.
O ensino deve partir dos conhecimentos dos alunos, de sua realidade, de seu mundo,
para depois se dedicar ao ensino de conteúdos mais abrangentes, de acordo com
BARBOSA (2002) nos coloca uma afirmação está de acordo com os estudos aqui
discutidos, pois ela afirma não ser contra o ensino de arte grega, mas que, o arte educador
deveria partir do universo de apreciação estética do grupo, para que assim, a aprendizagem
se torne real e não um suporte sem contexto.
Em nossa pesquisa propomos que a aprendizagem em artes seja desenvolvida por
meio de um currículo baseado na história da cidade de Barretos e da cultura visual
sertaneja, pois assim, o aluno aprenderá artes em seu contexto regional, o que acreditamos
ser mais significativo para sua aprendizagem.
Tavin (2005, p.17) apud HERNÁNDEZ (2007, p. 49), esclarece o porquê de se
ensinar por meio da cultura visual, pois essa proposta “favorece a aprendizagem a partir da
cultura visual na atualidade, permitindo a utilização de algumas metodologias de análise
diferentes das do passado” e o aluno aprende hoje sobre o passado e projeta o futuro,
analisando as imagens.
Segundo BARBOSA (2007) a criança tem necessidade da iniciação da leitura de
imagens e da necessidade de absorver a informação histórica. O projeto que se propõe aqui
se apóia basicamente nessas colocações, pois o aluno utilizará o seu conhecimento e as
orientações dos professores para aprender a ler imagens e em cada imagem estudada, terá
toda a informação histórica que cada imagem carrega.
A riqueza da cultura visual da cidade de Barretos é uma forma de utilizar os
conhecimentos que os alunos trazem e ampliá-los de forma reflexiva e crítica, estudando as
imagens que contam a história da cidade os alunos passam a conhecer suas origens e a
valorizar a cultura local.
No texto “Cotidiano, prática escolar e visualidades” de autoria de DIAS (2011, p.
25), ele afirma que “É importante destacar que a educação da cultura visual, como projeto
pedagógico, situa questões, institui problemas e visualiza possibilidades para a educação em
geral”. É neste sentido que o estudo da cultura visual sertaneja será empregado nas escolas
municipais de ensino fundamental, de tempo integral da cidade de Barretos, possibilitando a
ampliação do conceito cultural e histórico da cidade nas aulas de artes visuais.
35. 35
CAPÍTULO IV
CULTURA SERTANEJA BARRETENSE: UMA HISTÓRIA DE TRADIÇÃO E
CRIATIVIDADE
A cultura visual sertaneja da cidade de Barretos se inicia nos primórdios da história
da cidade, quando ela surge como caminho utilizado pelos tropeiros que cavalgavam nas
barrancas dos rios da região, tangendo boiadas pelos sertões adentro, arriscando a própria
vida nas perigosas travessias do caudaloso Rio Grande, arrebanhando o gado, das regiões
do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.
A cidade de Barretos não ocupava somente o lugar de destaque na tradição pecuária
do Brasil, mas devido a sua localização geográfica, à qualidade de suas terras propícias às
pastagens, do favorecimento do clima, e do incentivo de seus moradores, foi à grande
propulsora da evolução da pecuária de corte da vasta região, que compreendia os Estados de
Mato Grosso e algumas regiões do Triângulo Mineiro, Oeste e Noroeste de Minas Gerais.
As invernadas de Barretos mundialmente conhecidas pela qualidade de suas
pastagens, dotadas de favorecida topografia e clima favorável, formadas pelos capins
gorduras, Jaraguá e colonião, aliados ao clima seco e quente, propiciaram o repasto dos bois
magros e famintos aqui chegados de outros estados. A construção de um grande matadouro
frigorífico fez prosperar a criação de zebu em nossa região. A evolução da pecuária de corte
trouxe para a cidade a era da industrialização.
A fama de Barretos como grande centro pecuarista atraia cada vez mais para a
região, centenas de viajantes de todos os lugares deste imenso Brasil. De acordo com os
estudos de TEDESCO e MENEZES (1954), no Álbum comemorativo do 1º Centenário da
Fundação de Barretos, a posição de Barretos, como importante entreposto de gado, foi
ampliada graças a sua excelente localização geográfica e ao importante parque industrial de
comercialização de carnes e derivados.
As exposições de gado realizadas em Barretos, no Recinto Paulo de Lima Correa,
sempre mereceram carinho especial da parte dos prefeitos, governadores, deputados
estaduais e federais, senadores e Presidentes da República, demonstrando a importância de
36. 36
Barretos para a região e para todo o país, ao gerar divisas, lançar modismos e marcar
Barretos como a “Capital Nacional do Gado”.
A celebração do “peão de boiadeiro” como herói anônimo do sertão, responsável
pelo surgimento de cidades ao longo dos corredores, começou em Barretos de forma
despretensiosa e acabou se tornando uma grande festa do peão de reconhecimento
internacional.
Segundo GOMES JUNIOR (2005), em seu livro “50 anos de festa: O berço nobre
do rodeio brasileiro”, consta a seguinte história: no dia 15 de julho de 1955, um grupo de 20
jovens, sentados numa mesa de bar, funda "Os Independentes", na cidade de Barretos, no
estado de São Paulo. Para fazer parte, os pretendentes deveriam ser maiores, solteiros e
independentes financeiramente, pois a intenção do grupo era arrecadar recursos para
entidades assistenciais durante os festejos do aniversário da cidade. Fica também
estabelecido, que o mandato do presidente seria de um ano, podendo prorrogar por mais
um. Antonio Renato Prata, por ser o autor da idéia, foi o primeiro presidente do clube “Os
Independentes” e da primeira Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.
Em 90, a TV Manchete utilizou o parque do peão como cenário de gravações para a
novela Pantanal, o que redimensionou o poderio do evento. A mídia eletrônica passou a
procurar a festa para firmar contratos que, por sua vez, passaram a gerar garantia de
cobertura de televisão para as empresas patrocinadoras. Hoje a festa transformou Barretos
na Capital Country2 do Brasil.
2
Country: (palavra inglesa) campo ou região rural.
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3
Figura 1:Vista aérea da cidade de Barretos
Barretos está situada na região norte do Estado de São Paulo, a 425 km da capital,
com uma extensão territorial de 1.527 km2. Possui dois distritos oficialmente: Alberto
Moreira e Ibitú. O 7º maior município do estado de São Paulo, mundialmente conhecido
pela Festa do Peão de Boiadeiro.
Para manter viva a história da cidade, o estudo das imagens torna-se muito
importante para Barretos, pois segundo (Peixoto, 2001) apud SILVA (2007, p. 610), no
texto “Cultura visual e afirmações identitárias: novos processos e reconhecimento social”,
esse estudo transforma-se em uma forma de representação histórica, usado como
instrumento de investigação e análise da memória visual, portanto, através das imagens o
aluno aprende e interioriza a história e a cultura da sua região.
Entendendo o valor histórico e cultural que a história de Barretos carrega, pensar em
utilizar esse acervo visual nas aulas de artes visuais, é mais uma forma de colocar as
tradições em evidência e manter viva a história da cidade. SILVA (2005, p. 25), no texto “O
que vamos aprender hoje?” nos lembra que “é através da cultura que nos conhecemos,
conhecemos o outro e formamos nossa identidade, pessoal e coletiva, criando raízes”, ou
seja, estudando a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos, passamos a conhecer a
origem de nossa cidade, nos conhecer e a conhecer nossa sociedade.
4.1. A tradição mantida nas aulas de artes visuais
De acordo com os PCNs ensinar arte com arte é o caminho mais eficaz para que o
aluno aprenda de uma maneira mais efetiva. Já nas palavras de Góes (1991, p.21), apud
SILVA (2002, p. 25), “O sujeito não é passivo nem apenas ativo: é interativo”, isto, nos
remete que a interação faz parte da vida das pessoas e na escola esta interação servirá para
aprender conteúdos ligados à cultura visual sertaneja aliada as artes visuais.
Nos PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (2001, p.50), com relação
aos conteúdos consta que:
3
Imagem fonte: http://www.barretos.sp.gov.br
38. 38
Orienta-se o ensino da área de modo a acolher a diversidade do repertório cultural
que a criança traz para a escola, a trabalhar com os produtos da comunidade na
qual a escola está inserida e também que se introduzam informações da produção
social a partir de critérios de seleção adequados à participação do estudante na
sociedade como cidadão informado.
Segundo BARBOSA (2002), é importante respeitar a criança e tirar vantagem de
seus interesses, porém sem se esquecer de guiar seu desenvolvimento, que é o mais
importante. Também Luke, 1994 apud HERNÁNDEZ (2007, p. 83), esclarece que
“Partindo-se do prazer sobre o que é relevante na vida dos estudantes, em termos da cultura
visual, pode-se aprofundar questionamentos referentes a seus interesses sociais, econômicos
e políticos, estabelecendo-se conexões no sentido de ampliar e revisar tais significados”. E
BARBOSA (2007, p. 32), afirma que “O conhecimento em artes se dá na interseção da
experimentação, da decodificação e da informação”.
Segundo o texto “Educação da cultura visual & cotidiano” de autoria de
GUNTHER: “Este tipo de postura contribui para uma percepção crítica da realidade
mediante o (re) conhecimento de estruturas de identidade social, sentimentos e valores”,
também “O ensino das artes visuais envolve a apresentação de diferentes possibilidades
simultâneas de visão de mundo”. E é isso que o projeto visa, lançar um olhar sob em várias
direções: passado, presente e futuro sobre a cultura visual sertaneja.
SILVA (2007, p. 613), no texto “Cultura visual e afirmações identitárias: novos
processos e reconhecimento social” nos esclarecem que:
Vê-se que tais grupos, a partir de seus festejos e atividades culturais, religiosas
etc., têm registrado esses momentos como um modo de criação de suas memórias
visuais. As comunidades têm se pronunciado visualmente e todo material
produzido serve como documentação visual dos valores culturais, costumes,
retratos, enfim, registros que funcionam como material etnográfico e sociocultural
para análise das identidades das comunidades e grupos culturais. Essas pequenas
populações realizam uma representação de si através das imagens e isso se
transforma numa prática mantenedora de auto-reconhecimento e afirmação de
valores simbólicos.
A tradição da cidade será mantida nas aulas de artes visuais, construindo
visualizando um currículo que aborde a cultura visual dentro de uma proposta, que motive o
aluno a aprender sobre a história da cidade e os conteúdos em artes visuais, e perceba a
importância para a sua vida, e principalmente utilize esses conhecimentos para mudar e
melhorar a sua vida futura.
39. 39
Nas aulas de artes visuais o estudo da cultura visual sertaneja é a forma para se
manter a tradição e estudá-la, revelando novas visões frente à história cultural e social da
cidade de Barretos.
40. 40
CAPÍTULO V
A CULTURA VISUAL SERTANEJA DA CIDADE DE BARRETOS
A cultura visual está em expansão da mesma maneira que o campo das artes
visuais. A cultura visual sertaneja da cidade de Barretos é uma marca visual da sua história,
aparecem em suas ruas, praças e monumentos. Este campo inclui as belas artes, a televisão,
o cinema e o vídeo, a esfera virtual, a fotografia de moda e a publicidade.
A crescente penetração dessas formas de cultura visual e da liberdade com que estas
formas cruzam os limites tradicionais pode ser apreciada na utilização das belas artes nos
anúncios publicitários, na imagem gerada por computador nos filmes e na exposição de
vídeos nos museus (FREEDMAN, 2000, PP. 315-316), apud HÉRNANDEZ (2007). Esse
movimento demonstra toda a evolução da história revelada pelas imagens e nos coloca
frente a todas essas mídias e novas mídias e nos faz observar, entender e participar de tudo
isso.
A cultura visual está inserida em nossa sociedade e cabe a nós começarmos a refletir
sobre expansão e começar a nos adequar para fazer parte dela também. A cultura visual
sertaneja da cidade de Barretos se deu a partir das comitivas de gado e da pecuária e
permanece até os dias de hoje com o incentivo da Festa do Peão de Boiadeiro que nos
coloca frente a essa cultura visual sertaneja constantemente. A festa do peão a cada ano
vem para fixar ainda mais as raízes culturais que fez com que Barretos se tornasse a capital
country do Brasil.
Para trabalhar a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos “É essencial que
sejam analisados os momentos do encontro da criança com seus pares e com o adulto, pois
os modos de participação desses outros só podem ser delineados em função das ações que
se dão nas dinâmicas interativas”, escreve SILVA (2002, p. 34). Assim, o aluno não
aprende sozinho, mas com a interação entre professor e colegas, o professor precisa mediar
essa aprendizagem para que ela seja significativa.
Segundo HERNÁNDEZ (2007), os projetos de trabalho precisam ser parte de uma
nova narrativa para a educação, pois não se separam quem aprende e quem ensina do
41. 41
processo de ensinar e aprender a compreender o mundo, para isso o aluno deve apaixonar-
se e aprender de forma crítica para poder se transformar e transformar seu mundo.
Segundo o texto “Imagem, identidade e escola” de autoria de MARTINS (2011, p.
21), ele escreve sobre o trabalho pedagógico com as imagens:
Trabalhar pedagogicamente com essas imagens, temas e questões ajuda a
entender como e porque certas influências são construídas, a desenvolver uma
compreensão crítica em relação às representações da cultura visual e, sobretudo, a
vivenciar e aprender um sentido de discernimento e autocrítica. Como perspectiva
educativa, a cultura visual pode propiciar aos alunos e professores oportunidade
para discutir e se posicionar sobre os dilemas morais, sociais e éticos que afligem
e demandam a atenção das sociedades contemporâneas.
Segundo o texto “Cotidiano, prática escolar e visualidades” de autoria de DIAS
(2011), portanto, uma prática de educação da cultura visual que destaque as representações
visuais do cotidiano é uma experiência pedagógica significativa porque fornece uma vasta
oportunidade para adotar uma visão diversa da cultura, que não somente resiste
acriticamente às representações visuais, mas incentiva a visão crítica como uma prática que
desenvolva a imaginação, a consciência social e um sentido de justiça.
Nesta proposta de se trabalhar a cultura visual sertaneja da cidade de Barretos nas
aulas de artes visuais o que se quer fomentar é uma nova visão sobre a cultura histórica e
visual da cidade, do qual o aluno seja o participante ativo.
5.1. A cultura visual sertaneja da cidade de Barretos nas aulas de artes visuais, um
projeto significativo
Segundo os PCNs o trabalho estruturado por meio de projetos é uma das
modalidades de orientação didática em arte, é uma forma inovadora de trabalho e pode ser
desenvolvido em caráter interdisciplinar, ou seja, o projeto envolve o trabalho com muitos
conteúdos e organiza-se em torno de uma produção determinada.
A aprendizagem significativa é uma das características do projeto, pois a estrutura
de funcionamento dos projetos cria muita motivação entre os alunos e cria oportunidades de
se trabalhar com autonomia. Os professores e alunos são parceiros no ensino-aprendizagem,
pois relacionam os conteúdos e objetivos às situações de aprendizagens para o grupo.
42. 42
Os projetos também são muito adequados para que se abordem as formas artísticas
que não foram eleitas no currículo daquele ciclo, mas cabe a escola e aos professores darem
a oportunidade de liberdade e de autonomia cognitiva aos alunos. Para BARBOSA (2007)
a arte pretende formar o conhecedor, fruidor e decodificador da obra de arte e não apenas
um mero espectador seguindo esse pressuposto de um projeto significativo.
O trabalho em sala nas aulas de artes visuais sobre a cultura visual sertaneja será
desenvolvida da seguinte maneira: utilizando fotos, imagens e obras que estão localizadas
ao longo da cidade.
Essas imagens serão utilizadas nas aulas de artes visuais para despertar no aluno um
olhar crítico e reflexivo sobre a obra e a sua própria história, ou seja, o que essa obra
artística tem haver com a sua vida? O que ela tem de importante para a história da cidade?
O que podemos aprender com ela? Quais técnicas? Quais materiais? Quais suportes? Quem
é o artista criador da obra?
Estas são algumas questões que podemos elencar no trabalho com a cultura visual
sertaneja da cidade de Barretos.
Seguem as imagens:
Figura 2: Antigo frigorífico Anglo, agora JBS Friboi, fotografia Cinthia Rodrigues.
Fotografia do antigo frigorífico Anglo, agora JBS Friboi, sede do primeiro
frigorífico da cidade que deu origem as comitivas e toda a história agropecuária da cidade.
Para se trabalhar em sala com esta imagem, os alunos podem desenhar casas, formas e
aprender sobre o ponto de fuga, além de toda a história sobre a fotografia estudada.
Aprender sobre a arquitetura das construções antigas e atuais da cidade. O professor será o
mediador para aplicar a dificuldade de acordo com a série trabalhada.
43. 43
Em umas das passagens lidas sobre as manifestações artísticas HERNÁNDEZ
(2000, p. 53), ele escreve que:
As obras artísticas, os elementos da cultura visual, são, portanto, objetos que
levam a refletir sobre as formas de pensamento da cultura na qual se produzem.
Por essa razão, olhar uma manifestação artística de outro tempo ou de outra
cultura implica uma penetração mais profunda do que a que aparece no
meramente visual: é um olhar na vida da sociedade, e, na vida da sociedade,
representada nesses objetos. Essa perspectiva de olhar a produção artística é um
olhar cultural. O que chamamos cultura seria, de acordo com Geertz, a construção
e participação dos indivíduos num sistema geral de formas simbólicas, e o que
denominamos arte seria uma parte dessa cultura.
Figura 3: Recinto Paulo de Lima Correa, vista da fachada, fotografia Cinthia Rodrigues.
Figura 4: Recinto Paulo de Lima Correa, vista interna, fotografia Cinthia Rodrigues.
Fotografia da fachada do Recinto Paulo de Lima Correa, e da parte interna onde
ficam os cavalos pastando, é um local histórico na cidade e marca o início da primeira festa
do Peão de Boiadeiro da cidade. Obra arquitetônica de beleza singular e considerada uma
raridade no gênero, até hoje é um local de grandes recordações para os barretenses. Em sala
poderá estudar o esboço de uma fachada, criar outras versões como uma releitura da
fachada ou monumentos antigos, mostrar aos alunos como se desenha uma paisagem, os
planos, sombra, luz e formas adequadas para se desenhar.
44. 44
Segundo os escrito de HERNÁNDEZ (2000, p. 54), para aproximar-nos da noção de
compreensão do passado e do presente, podemos fazê-lo assim:
Supõe nos saberes em torno da cultura visual o trajeto entre o “passado” e o
“presente”, entre os significados que diferentes culturas outorgam às
manifestações visuais com valor estético e conteúdo simbólico; também
“relaciona-se com a capacidade de investigar um tema mediante estratégias como
explicar, encontrar evidências e exemplos, generalizar, aplicar, estabelecer
analogias e representar um tema mediante uma forma nova (Perkins & Blythe,
1994) apud HERNÁNDEZ (2000, p. 54).
Figura 5: Parque do Peão de Boiadeiro de Barretos, fotografia Cinthia Rodrigues.
Figura 6: Vista aérea do Parque do Peão, fotografia Cinthia Rodrigues.
O Parque do Peão é uma referência de um projeto que deu certo. Na foto o estádio
polivalente de rodeio, projetado por Oscar Niemeyer, com capacidade para trinta e cinco
mil pessoas sentadas. Utilizar proporções para trabalhar a montagem de uma maquete. Qual
é a proporção adequada para se reduzir uma figura. Explorar as obras do arquiteto Oscar
Niemeyer, que além de fazer projetar o estádio de rodeio, também criou um cartaz para a
festa dos 50 anos de rodeio em Barretos.
A festa do peão movimenta a cidade e mexe com toda a população, sabendo disso é
um ingrediente a mais para se utilizar essa cultura em sala, então PESSOA (2007, p. 4), no
45. 45
texto “Aprender e ensinar nas festas populares” escreve assim sobre a festa popular: “Os
ingredientes que compõem a festa popular são também textos por meio dos quais a gente
simples manifesta tudo aquilo que lhe toca mais profunda e intensamente”.
Figura 7: Obra produzida por uma aluna, baseada no cartaz da Festa do Peão de Boiadeiro de
2009.
Figura 8: Cartaz da Festa do Peão de 2009, produzido por Elifas Andreato.
Imagem de uma obra feita por uma aluna na aplicação deste projeto no estágio em
2010, ele teve como base a imagem do cartaz de 2009 e utilizou a técnica de giz de lousa
com cola branca e suporte papel sulfite preto.
Nesta obra o aluno recebeu orientações para a produção da obra, mas também
puderam conhecer sobre a vida do artista que produziu este cartaz e puderam ver vídeos que
mostravam o estádio em dia de rodeio.
46. 46
Figura 9: Escultura em homenagem ao peão de boiadeiro, situada dentro do Parque do Peão de
Boiadeiro de Barretos, fotografia Cinthia Rodrigues.
Esta escultura foi feita em homenagem ao peão de boiadeiro (nenhum peão em
especial, mas uma homenagem a todos, que fazem da festa um sucesso nacional e
internacional), idealizada por Valter Corcino (um artista barretense de coração). Em sala
podemos trabalhar a produção de uma escultura e explorar diversos materiais e as técnicas
de como moldá-la. Outro recurso é a visita ao parque para fotografar e visualizar o
monumento e depois expor as fotografias. Podem ser reveladas e expostas na escola, cada
aluno tem sua visão e sua percepção sobre o monumento, assim seria interessante colocar
isso a mostra.
Realizar uma entrevista com o artista plástico que idealizou a obra, ele é barretense e
poderia participar de uma aula na escola, para os alunos menores uma roda de conversa
seria interessante.
Sobre a arte escultórica que discutimos aqui CORRÊA e NUNES (2006, p.104),
escreve que “a proposta de conhecer um pouco mais sobre uma linguagem artística, como a
escultura, leva-nos a crer que todas as suas formas possam traduzir sentimentos e despertar
o interesse à medida que tivermos uma visão mais abrangente do seu processo criador”.
O que observamos aqui é que a obra depois de pronta, pode nos remeter a sua
própria história e o processo criador, isso faz com que a linguagem artística seja mais
abrangente e para os alunos é uma forma de aprendizagem significativa.