1. Bullying versus racismo
Matéria veiculada hoje na mídia na Região Metropolitana de Belo Horizonte deixa uma
dúvida no ar: racismo e bullying é a mesma coisa?
Uma criança de quatro anos foi tirada da escola pelos pais em Contagem (MG) por ter
sido atacada verbalmente pela avó de seu coleguinha. A avó ficou furiosa com a
professora depois que a menina, escolhida para ser a noiva na festa junina, foi par de seu
neto. Segundo a professora, a senhora usou uma expressão racista para se referir à
criança na frente de outros alunos. Indignada, a educadora cobrou uma postura da
escola, que se omitiu. Os pais da menina, que chegou a vomitar de nervosismo por causa
da agressão e agora não aceita mais sua cor de pele, conversaram com a filha
esclarecendo que ela não era diferente por ser negra. Eles também entraram com uma
ação na justiça contra a senhora (Professora acusa escola de omissão em crime de
racismo – O Tempo, 20/07/2012).
Esse episódio levanta várias questões: qual a diferença entre racismo e bullying? Há
alguma relação entre essas atitudes? O racismo pode ser considerado bullying?
De acordo com Cecilia Regueira, diretora executiva do Instituto HartmannRegueira,
especialista em terapia de família e sistêmica, tanto racismo quanto bullying são formas
de violência que, na maioria das vezes, resultam em prejuízos irreversíveis. A diferença é
que racismo é uma forma de discriminação e preconceito racial. Já, o bullying trata-se de
violência gratuita, persistente e cruel, em que o alvo é exposto a opressão de forma
gratuita, repetitiva e intencional. O racismo se torna bullying na medida em que passa a
ser uma ação recorrente do agressor para com a vítima.
O fato apresentado no início demonstra claramente um episódio de discriminação racial a
uma criança no ambiente escolar. Uma situação em que uma professora foi desrespeitada
ao ter seu espaço invadido por uma senhora que, mesmo diante de testemunhas, não
mediu palavras para expressar seus sentimentos negativos em relação a uma criança de
4 anos.
Apesar da omissão da escola diante deste fato, espera-se que o resultado dessa história
seja diferente. Considerando a postura da professora que se posicionou em defesa da
2. criança a custo da perda de seu emprego, e dos pais que perceberam de imediato o
impacto físico e psicológico na filha, a busca de apoio de profissionais qualificados nas
áreas jurídica e psicológica para lidar com a situação, foi positivo.
E para outras crianças e jovens em que fatos pontuais semelhantes a esse se tornam
ações agressivas de bullying? Esses casos são mais graves ainda quando há omissão da
direção da escola, de professores ou de pais diante de comportamentos físicos e
psicológicos cada vez mais degradantes. As consequências podem ser trágicas, como por
exemplo, depressão, homicídio ousuicídio, chamado também de “bullycídio”. Desde que
atitudes sejam tomadas oquanto antes, é possível reverter o processo de depreciação
gerado pelo bullying, finaliza Cecilia Regueira.