Qual a relação que deve haver entre a igreja e a sociedade? Quando a igreja é libertadora e transformadora? e quando ela se torna um obstáculo a transformação da sociedade e do mundo
2. Introdução
Qual a importância de refletir sobre a Igreja dentro das questões sobre o
social?
Qual a relação fundamental entre Igreja e sociedade?
Como a Igreja pode contribuir para o melhoramento social?
De que modo a Igreja pode ser um obstáculo para a vida em sociedade?
3. Igreja – e interesses políticos
“Tudo está no seu lugar. Graças a Deus!”
A fé e a religião deveria contribuir a tornar o ser humano melhor, porque
- o libera do orgulho da própria autossuficiência
- leva a ver em todos os homens/mulheres pessoas que têm iguais direitos
- contribui à realização pessoal dando um sentido à existência.
- ajuda a articular melhor a utopia com a luta de cada dia, afirmando a
transcendência da vida humana.
4. A igreja pode ser um obstáculo às mudanças
sociais?
Com efeito, numa sociedade na qual existem privilegiados e excluídos, os primeiros
detêm o poder e são interessados na manutenção das coisas como estão. Para a
consecução desta finalidade a religião pode ter um papel fundamental, mesmo se de
forma subliminar. Para ser concreto, indicarei algumas destas formas.
- Pôr em relação a situação de cada um dentro da sociedade com a vontade de Deus, a
providência, o destino.
- Atribuir os males e os problemas que afligem as pessoas, ao pecado, ao demônio ou à
negligência de cada um.
- Pedir a Deus o que deveria ser o fruto do empenho e da responsabilidade do homem.
- Privilegiar na linguagem o uso de certas palavras mais do que outras; como, por
exemplo, solidariedade em lugar de justiça.
- Fazer com que a mesma palavra venha a ter um sentido diferente, deixando em
segundo plano o sentido original: por exemplo, a palavra amor pode vir a significar, em
determinado contexto, renuncia a qualquer forma de questionamento ou denuncia.
5. - Substituir as justas esperanças humanas com as esperanças escatológicas.
- Demonizar os inimigos da religião como inimigos de Deus, mesmo quando
as críticas deles se referem apenas ao uso político da religião.
- Suscitar divisões nas igrejas, para que as posições dos que estão engajados
na mudança social apareçam como posições radicais e subversivas.
- Favorecer formas de religiosidade alienantes em nome de valores culturais
autóctonos.
- Deslocar para o plano das relações homem-mulher, ou para outros planos,
os conflitos de natureza social.
Todas estas formas podem ser promovidas de forma mais ou menos
consciente por parte dos representantes da ideologia dominante. Elas são
favorecidas pelo contexto social e pela atitude natural das pessoas sofridas a
procurar uma justificação e um conforto para os próprios sofrimentos.
6. Fé e vida
A fé cristã contém uma mensagem e uma experiência de libertação. Na
sua essência, esta mensagem é a boa nova que Deus nos ama: Ele nos
demonstrou seu amor dando-nos o seu Filho, que para nós se tornou
nosso irmão, assumindo toda a nossa realidade de seres pecadores,
morreu e ressuscitou, para nos tornar, também a nós, filhos do mesmo
Pai.
Esta mensagem é acolhida pelo cristão através da fé. A fé é, ao mesmo
tempo, um dom e uma virtude: por ela o cristão acolhe como verdade a
mensagem de Jesus Cristo, deixa que se torne vida que transforma sua
existência, e faz da esperança que Jesus Cristo acendeu nele o sentido de
toda a sua existência.
7. A dimensão social da fé
A experiência de sentir-se amado transforma o cristão, o torna capaz de
amar e o leva a pôr a própria vida a serviço dos irmãos.
Neste ponto se insere a dimensão social da fé. No atual contexto, amar
concretamente significa ajudar os homens a se libertarem dos males que
os oprimem. Isso implica:
- identificar os males sociais e suas causas verdadeiras,
- descobrir os meios adequados para eliminá-los,
- pôr em ato as iniciativas que tornam a própria ação eficaz.
8. Eficácia da ação social – fé e ciência social
Para o cristão, a eficácia da ação é uma exigência que emana da sua fé;
porém, a eficácia em si mesma depende do uso adequado de meios
adequados.
A escolha dos meios adequados está subordinada também a um
discernimento que pode ser iluminado pelo Evangelho, mas é subordinada,
sobretudo, à mediação das ciências humanas e sociais.
Por sua vez, o uso adequado dos meios depende, não só de uma vida de fé
coerente, mas sobretudo da mediação da prática social e política.
A ciência social e a prática política pertencem a um nível da realidade no
qual cristãos e não cristãos se encontram em pé de igualdade.