O documento apresenta poemas do autor Ferreira Gullar que abordam temas como indiferença, mortalidade, beleza efêmera da natureza e desigualdades sociais no Brasil. Os poemas exploram esses temas de forma concisa por meio de imagens e reflexões sobre a vida e a poesia.
Prova da PPL Enem reapliaçõ de 2023 com todas as questões
Ppt ferreira gullar
1. FERREIRA GULLAR: POEMAS
Fotos de Ferreira Gullar: por Lúcia Nemer, Suplemento Literário do Minas Gerais
PROFa. INESSACARRASCOPEREYRA
2.
3. NemAí
Indiferente
ao suposto prestígioliterário
e ao trabalho
do poeta
à difícil faina
a que se entrega para
inventar o dizível,
sobre à mesa
o gatinho
se espreguiça
e deita-se e
adormece
em cima do poema
4.
5. Na Vertigemdo Dia
Enquanto te enterravamno cemitériojudeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindoainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravamalegremente
que não dependemde nós
6.
7. Uma Corola
Em algumlugar
Esplende uma corola
De cor vermelho-queimado
metálica
não está em nenhumjardim
em nenhumjarro
da sala
ou na janela
não cheira
não atraia abelhas
não murchará
apenas fulge
em alguma partealguma
8.
9. Anoitecer em Outubro
A noite cai, chove manso lá fora
meu gato dorme
enrodilhado
na cadeira
Numdia qualquer
não existirá mais
nenhumde nós dois
para ouvir
nesta sala
a chuvaque eventualmente caia
sobre as calçadas da rua Duvivier
12. Não há vagas
O preçodo feijão não
cabeno poema.O preço
do arroz
não cabeno poema.
não cabemno poemao gás
a luzo telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionáriopúblico
comseu salário de fome
suavidafechada
emarquivos.
Comonãocabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia de
Nas oficinasde aço e carvão
porque o poema,senhores,
estáfechado:
"não há vagas"
Só cabeno poema
o homemsemestômago
a mulherde nuvens
a frutasem preço
O poema,senhores,
Não fede
nemcheira.
13.
14. No Corpo
De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Juntocomo jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apeloda noite
Agora são apenasesta
contração (esteclarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.
15.
16. PoemaBrasileiro
No Piauí de cada 100crianças que nascem
78 morremantes de completar8 anosde idade
No Piauí
de cada 100crianças que nascem
78 morremantes de completar 8 anosde idade
No Piauí
de cada 100crianças que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
17.
18. Madrugada
Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noite
a noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido emclasses
19.
20. Meupai
meupaifoi
ao Riose tratarde
umcâncer(que
o mataria)mas
perdeuos óculos
na viagem
quandolhelevei
os óculosnovos
compradosna Ótica
Fluminenseele
examinouo estojocom
o nomeda lojadobrou
a nota decompraguardou-a
no bolsoe falou:
querover
agoraqualé o
sacanaquevaidizer
queeununcaestive
no Riode Janeiro
21.
22. Cantigaparanãomorrer
Quandovocêforse embora,
moçabrancacomoa neve,
meleve.
Seacasovocênão possa
mecarregarpelamão,
meninabrancade neve,
meleveno coração.
Seno coraçãonão possa
poracasomelevar,
moçade sonhoe de neve,
meleveno seulembrar.
E seaí tambémnãopossa
portantacoisaqueleve
já vivaemseupensamento, http://www.youtube.com/watch?v=ZP-vDcVVDyI
meninabrancade neve, (com Fagner)
meleveno esquecimento.
23.
24. TRADUZIR-SE
Umapartede mim
é todomundo:
outraparteé ninguém:
fundosemfundo.
umapartede mim
é multidão:
outraparteestranheza
e solidão.
Umapartede mim
pesa,pondera:
outraparte
delira.
Umapartede mim
é permanente:
outraparte
sesabede repente.
Umapartede mim
é só vertigem:
outraparte,
linguagem.
Traduzir-seuma parte
na outraparte
queé umaquestão
de vidaou morte
seráarte?