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Jerson Kelman: O fator água
Professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do
conselho curador da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Jerson
Kelman avalia a gestão da água no Brasil dez anos após a criação da Agência Nacional das
Águas - órgão que dirigiu entre 2001 e 2004 - e afirma que o país pode se tornar uma nova
potência mundial

NATIONAL GEOGRAPHIC - Edição Especial “Água, o mundo tem sede”


O Brasil tem recursos naturais que, se bem utilizados, promoverão desenvolvimento econômico e social com baixa emissão de
gases de efeito estufa. O principal deles é a água, abundante no país. Esse parece ser um cenário otimista para as próximas
gerações. Todavia, a gestão da água no Brasil ainda precisa melhorar, e muito – e isso depende não apenas do governo mas
também da sociedade. Para Jerson Kelman, professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Coppe/UFRJ) e membro do conselho curador da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), a água
pode ser o diferencial para tornar o Brasil uma nova potência mundial, “não da mesma forma que o petróleo”, diz ele, cuja
exportação pode ser feita em sua forma bruta, mas como facilitadora do desenvolvimento econômico.


O carioca Kelman, de 62 anos, foi o criador da Agência Nacional de Águas, a ANA, órgão que dirigiu entre 2001 e 2004. Ele
descreve sua experiência no setor no livro Desafios do Regulador, em que discorre sobre questões como a transposição do rio
São Francisco, usinas hidrelétricas na Amazônia, fornecimento de água e saneamento nos centros urbanos. “Usar a água de
forma mais sustentável é uma necessidade, não um luxo”, diz.


Nosso país possui a maior reserva de água doce entre as nações emergentes. Que diferença isso pode fazer no século
21?

As pessoas costumam imaginar a água como uma commodity parecida com o petróleo. Ou seja, devido ao fato de o Brasil ter
reservas significativas de água doce, poderíamos nos tornar exportadores desse recurso no futuro. Mas eu não acredito que
seja essa a vantagem competitiva do Brasil, pois o valor da água versus o seu custo de transporte é muito desfavorável. Não é
concebível a exportação de água em larga escala. Todavia, países como o Brasil, em que há abundância no binômio “terra e
água”, dispõem de uma vantagem bem maior em relação a outros países, seja na produção e industrialização de produtos
agrícolas, seja na própria indústria. Ter água é hoje um diferencial para uma nação ser uma potência econômica e social.


A África do Sul, por exemplo, tem grande dificuldade em se desenvolver, pois padece de escassez desse recurso Esse
quadro irá se tornar mais claro dentro de quanto tempo?


O Brasil já sofreu uma transformação brutal. Basta observar a conquista do Centro-Oeste. Nós já somos grande produtor
agrícola e relevante produtor industrial. Nada disso teria acontecido se não tivéssemos água. A tendência é aumentar.


Na esfera política, o senhor acredita que a água é um tema prioritário?

Penso que sim. Principalmente nas discussões sobre osemiárido, esse sempre foi um assunto relevante. No resto do Brasil, a
água nunca foi um problema, com exceção de casos de outra natureza, como as enchentes. Em São Paulo e no Rio de
Janeiro, por exemplo, o entendimento da continuidade de políticas públicas relacionadas ao controle de enchentes demanda a
compreensão da sociedade como um todo e a perpetuação, ao longo de várias administrações, do uso mais apropriado do
solo. O Brasil vivenciou 20 anos de ditadura e temos uma tradição política muito paternalista. Nossa sociedade ainda vive na
infância da democracia, em que se atribui aos dirigentes a responsabilidade de resolver todos os problemas. É preciso
perceber que o poder dos políticos é limitado e só o engajamento de todos é que vai fazer com que as condições de vida
melhorem. Os países desenvolvidos já discutiram políticas públicas sobre a água de forma bastante intensa. A preocupação de
usar esse recurso de maneira sustentável nas grandes cidades brasileiras é uma necessidade, pois está cada vez mais difícil e
oneroso obtê-lo.

Como o senhor avalia o uso da água no Brasil?

Primeiro temos de diferenciar a água bruta da água tratada.A bruta é aquela retirada dos rios ou aquíferos subterrâneos para
insumo de algo. Dessa água cerca de 70% é utilizada na irrigação, na produção de alimentos, 20% como insumo industrial e
apenas 10% para abastecimento das cidades. As pessoas acham que vai faltar água em suas torneiras, mas não é isso o que
vai acontecer. No entanto, a ineficiência de seu uso na área agrícola ainda é grande. Com um pouco mais de eficácia, sobraria
muito mais água para o consumo doméstico.

Isso explica eventuais problemas de abastecimento?

Tais problemas estão relacionados à concentração urbana. A disponibilidade per capita na região metropolitana de São Paulo
é bem menor que no semiárido nordestino, pois há uma população gigantesca concentrada em uma area pequena. E ainda há
a captação e o tratamento de esgoto não apropriados. O problema de abastecimento nas grandes cidades é enorme,
obrigando a busca em fontes distantes. É o caso de São Paulo, que se beneficia de uma transposição: o município capta parte
de sua água na bacia do rio Piracicaba, por meio do Sistema Cantareira. Pouca gente sabe disso.


Qual a sua opinião a respeito da transposição do São Francisco?

O baixo São Francisco pode ser prejudicado? Eu não concordo que o baixo São Francisco foi prejudicado com as usinas da
Companhia Elétrica do São Francisco, a Chesf. Pois, com as barragens e, sobretudo, com o reservatório de Sobradinho, o
fluxo do rio ficou regularizado. Se houve um efeito deletério foi que a vazão média despejada no mar diminuiu um pouco.
Sobradinho é como um grande espelho evaporante, em que 10% da água do São Francisco é perdida pela evaporação. O mar
ficou mais salgado, mas não há problema nenhum nisso. Em média, agora, o que será retirado do rio com a transposição é
menos de 3% e, para quem está nas margens do baixo São Francisco, essa porcentagem é imperceptível. Sob esse ponto de
vista, é uma transposição pequena. Achar que o rio ficará “anêmico” é uma teoria falsa.

Do ponto de vista econômico, vale a pena esse investimento?

Alguns especialistas dizem que há água suficiente para uso local no semiárido e que a transposição é desnecessária. Essa
tese pode ou não ser verdadeira. Para as pessoas beber, tomar banho ou cozinhar, sim, há água. Não é necessário importar
nem uma gota sequer: basta instalar cisternas ou reservatórios profundos para armazenar o líquido. Agora, se o objetivo for
criar atividades econômicas sustentáveis para que as pessoas não vivam apenas do Bolsa Família e sim de outro modelo em
que serão produtivas, com indústrias e agricultura, é preciso ter garantia de água. A falta dessa garantia é um fator inibidor ao
desenvolvimento econômico de uma região. É nesse sentido que a transposição pode ser um projeto diferenciador.

Mas quais os aspectos desfavoráveis à transposição?

Ao contrário do que ocorreu no rio Colorado, nos Estados Unidos, o dimensionamento da obra não foi fruto de demanda
quantificada. Faltou o que os americanos chamam de ownership, o direito à água irrigada. Lá, montou-se um esquema para
que a operação e a manutenção daquela infraestrutura fossem independentes do governo. E, como dependia dos
interessados, funcionou. E isso não foi feito aqui. Outro tema polêmico é a Amazônia.

O governo está certo em investir na fonte hidrelétrica de energia, a despeito das críticas de conservacionistas aos
novos projetos de barragens?

O que falta nesse debate é a comparação com as alternativas. A pergunta muitas vezes é: o que acontecerá se as usinas
forem construídas na Amazônia? Isso nós sabemos. Florestas serão inundadas e populações ribeirinhas, e até indígenas,
poderão ter seus estilos de vida modificados.
Essas coisas parecem boas?

Em geral, não. Mas a pergunta raras vezes formulada é: o que acontecerá se as usinas não forem construídas na Amazônia?
O consumo per capita de energia no Brasil é seis vezes menor que nos Estados Unidos. Isso não quer dizer que devemos
atingir o mesmo consumo que os americanos, mas temos de dobrar o nosso para termos um nível de vida no padrão, por
exemplo, da Itália. Esse aumento no consumo não é em casa, mas na atividade econômica. Não construir as usinas na
Amazônia significa economia menos competitiva, energia mais cara – pois as fontes eólica e solar não são suficientes para
atender à demanda –, maior poluição pela queima de combustíveis fósseis e maior risco pelo uso de energia nuclear. O setor
energético precisa ponderar os prós e os contras da construção de reservatórios. O certo seria colocá-los em uma balança. De
um lado o dano local – corte de vegetação e deslocamento de moradores – e do outro o benefício global – menor emissão de
gases que contribuem para o efeito estufa.


A Agência Nacional de Águas (ANA) tem pouco mais de dez anos. O que mudou na gestão dos recursos hídricos do
Brasil?

Pela ação da ANA, nossos problemas de recursos hídricos estão sendo mitigados, como a seca no Nordeste e a poluição dos
centros urbanos. A experiência mais bem-sucedida é o programa piloto de despoluição de bacias hidrográficas, o Prodes, em
que o governo federal paga pelos resultados alcançados, isto é, o esgoto efetivamente tratado, não o financiamento da obra ou
dos equipamentos. Por outro lado, eu tinha a expectativa de que, após dez anos, nós teríamos um sistema de gestão de
recursos hídricos mais capilar, presente em todo o país. E que o sistema de outorga pelo uso da água e o princípio poluidor-
pagador – que estabelece a cada empresa um valor de cobrança proporcional à poluição por ela causada – estariam
implantados no país todo. Mas esbarramos em várias dificuldades, e a principal é a fragmentação da autoridade nas bacias
hidrográficas. A França e os Estados Unidos, cujos rios eram sujos nas décadas de 1960 e 70, tiveram sucesso na
implementação efetiva do conceito poluidor-pagador.


O que, em termos de gestão, de mais efetivo falta ainda ser feito para a conservação dos ecossistemas aquáticos do
Brasil?

Temos de decidir qual caminho filosófico seguiremos. O da lógica ambiental, ou seja, estabelecer padrões de emissão e
fiscalizar seu cumprimento, ou o da cobrança pela poluição, que é uma lógica econômica. São duas filosofias: ou você multa a
empresa que polui, ou você cobra dela a poluição, o que pesa no bolso da população. Aqui, nós cometemos um erro grave.
Hoje, o cidadão que tem esgoto tratado paga mais para a companhia de saneamento. Aplica-se ao esgoto a mesma lógica
aplicada à água, e não é assim. Abastecimento de água é um serviço cujo beneficiário é o indivíduo. E coleta e tratamento de
esgoto são um serviço cujo beneficiário é a coletividade. O tratamento tarifário de um não pode ser o mesmo do outro. Nós
induzimos as pessoas a não pensar no coletivo. E temos de corrigir isso.


Tietê, o renascido
De rio mais poluído do Brasil, o Tietê torna-se, perto de sua foz, em Pereira Barreto, uma
paisagem de lazer, trabalho e contemplação
Thiago Medaglia


NATIONAL GEOGRAPHIC - Edição Especial “Água, o mundo tem sede”


Quem passa pela cidade de Pereira Barreto pode perceber dois rios Tietê. Um deles, o rio da memória, resiste na narrativa dos
moradores mais velhos. Ele corre num leito pouco largo, rodeado por mata fechada e com pegadas de animais selvagens nas
praias de areia branca. A água, limpa e fresca, tem um tom de chá e escorrenum corpo sinuoso, sob o qual repousa umfundo
irregular. Os enclaves submersos escondem peixes maiores que homens. Nos declives abruptos, formam-se cachoeiras, nas
quais, em dias de sol forte, o vapor levantado faz surgir pequenos arco-íris. Esse Tietê não existe mais: habita apenas o
passado, perdido entre as recordações e o desejo dos viajantes que não chegaram a tempo.


O outro Tietê é um pouco menos romântico, porém nada ausente. Salta tanto aos olhos quanto o rio imundo que se vê na
capital paulista, símbolo da poluição no Brasil, só que vivo e limpo. Em Pereira Barreto, espalha-se por margens quilométricas
e, mesmo sendo rio, tem cara de mar – na verdade, a represa da usina Três Irmãos, que no começo da década de 1990
transformou para sempre a paisagem local. Uma leve brisa sopra, empurrando as pequenas ondas na beira. Na água azulada,
não se apreciam mais cachoeiras nem rochas. Tudo está embaixo d’água. Ladeada por gramados, campos de futebol, rampas
de skate, quiosques com churrasqueira e pistas de cooper,
                                                                              a praia da cidade – apesar de ser um aterro artificial – é o
                                                                              ponto de encontro de jovens despreocupados e adultos com
                                                                              disposição para o esporte. “É a nossa melhor opção de
                                                                              lazer”, conta o pereira-barretense Sérgio Esperança Júnior
                                                                              de 16 anos. “Na verdade, é a única opção”, corrige o garoto,
                                                                              que fuma um narguilé (cachimbo de água) ao lado de três
                                                                              amigos.

                                                                                 Sim, o velho Tietê, a mesma torrente a escancarar em seu
                                                                                 leito sem vida o esgoto da cidade de São Paulo, é a praia
                                                                                 dos paulistas em sua porção sertaneja. Questão, também,
                                                                                 de comodidade. De Pereira Barreto, uma viagem ao litoral
                                                                                 norte do estado tomaria nove horas de estrada. Melhor
                                                                                 curtir o rio. Até a festa de Carnaval deste ano foi à beira
                                                                                 dele. Batizado de Carnapraia, o evento atraiu, de acordo
                                                                                 com a prefeitura local, 35 mil pessoas (10 mil a mais que o
 Pereira Barreto fica a 635 quilômetros de São Paulo, bem perto da foz do Tietê, número de habitantes do município). A música alta (forró,
  no rio Paraná. As águas do maior rio paulista são usadas por pivôs centrais,   rock anos 80 e axé) parece não incomodar ninguém além de
           que irrigam vastas areas circulares de pastagem e cultivo.            mim. Na areia quente, moças esticam suas cangas, casais
                                                                                 caminham na orla, moleques brincam dentro d’água e, vez
ou outra, uma lancha ou um jet-ski rabiscam o horizonte. No interior, descobre-se logo, a relação das pessoas com o Tietê é de
mais carinho. O milagre de seu renascimento começa a tomar forma desde a cidade de Barra Bonita, a 287 quilômetros da
capital, onde já há pescaria, passeios turísticos e esportes náuticos. Em Pereira Barreto, no fim do dia, é comum ver moradores
saindo de casa com cadeira de praia numa das mãos e vara de pescar na outra. A beira-rio é um antídoto para o estresse do
cotidiano, um cenário de contemplação. Tudo o que se espera, talvez, de um curso d’água com essa dimensão. Antes de
atravessar, castigado, a maior cidade do hemisfério Sul, o Tietê, principal rio do estado, brota potável do solo em uma pequena
poça d’água nas encostas da serra do Mar, a 22 quilômetros “Numa insistência turrona paulista”, notada pelo poeta Mário de
Andrade, ignora a morte rápida no destino final de todos os rios e, de costas para o mar, corre teimoso no sentido oeste.


“Por que me impedes a fama das tempestades do Atlântico?”, esbravejou, outra vez, o escritor. Até a foz, no rio Paraná, na
divisa com o Mato Grosso, vai percorrer 1 136 quilômetros. As gotas milagrosas da nascente irão, enfim, encontrar o oceano,
                                                               mais de 5 mil quilômetros depois, no estuário do rio da Prata,
                                                                             na divisa entre Uruguai e Argentina. E pensar que o Tietê é
                                                                             conhecido em todo o mundo pela imundície na megalópole e
                                                                             pelo trânsito caótico nas avenidas que o margeiam. É uma
                                                                             fama injusta: esse trecho corresponde a menos de 2% de
                                                                             seu percurso total.

                                                                             Três Irmãos, em Pereira Barreto, é a última e a maior entre
                                                                             todas as seis usinas ao longo do rio – as outras são Barra
                                                                             Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão e Nova Avanhandava.
                                                                             Juntas, elas promovem a produção de energia, favorecem a
                                                                             irrigação de cana-de-açúcar (um monótono mas profícuo
                                                                             oceano verde no interior de São Paulo) e possibilitam a
  O salto de Itapura é um marco do Tietê do passado, vivo na memória e nas   navegação comercial na hidrovia Tietê–Paraná, a mais
                       fotos de Armindo Yoshio Kussuda.                      extensa do Brasil. Com a inundação nos anos 1990 durante a
                                                                             construção de Três Irmãos, o Tietê ganhou espaço e a água
demarcou novos limites urbanos em Pereira Barreto. Num sobrevoo, a onipresença da água fica evidente – é como se o
represamento tivesse transformado a cidade numa península. Há pontos em que o asfalto, construído antes das enchentes,
simplesmente termina no rio.

No Réveillon de 2009, aproveitando-se da queima de fogos na praia, três forasteiros assaltaram um posto de gasolina, mas
não calcularam bem a rota de fuga. Chamaram a atenção de policiais e foram perseguidos em alta velocidade. Azarados,
fugiram na direção errada e deram com o carro n’água. Dois deles morreram afogados. Outro traço marcante do município é a
grande quantidade de descendentes de japoneses, o que fica evidente na feição das pessoas, no nome das ruas e do
comércio: o pesqueiro chama-se Hagimi, a venda de ovos é Takano, a óptica é Massuda, a elétrica é Komatsu e o Mercado é
Sakura, todos sobrenomes de famílias vindas ao país na primeira metade do século 20, quando o crescimento das lavouras de
café no oeste paulista fez com que o governo brasileiro incentivasse a vinda de imigrantes da Europa e do Oriente.



Do Japão, estima-se que, entre os anos 1918 e 1940, tenham se espalhado por toda a região algo em torno de 160 mil a 190
mil pessoas. Muitas dessas levas desembarcaram em Pereira Barreto e arredores, onde formaram, por exemplo, a comunidade
Yuba, hoje um agrupamento de 70 pessoas em que cultivos agrícolas rudimentares convivem com expressões artísticas
(dança, música, teatro) e um modo tradicional de vida. “Tínhamos medo dos yubas quando éramos pequenos; achávamos que
eles eram comunistas e prendiam as crianças lá”, recorda-se, em tom de deboche, o morador Hiroko da Silva. Olhos puxados
também são notados em Itapura, município que, até 1992, era distrito de Pereira Barreto. Situado bem próximo à foz, é um
lugar em que a pesca artesanal convive com a esportiva – a captura do tucunaré atrai turistas durante o ano todo. Muitos deles
vêm da capital. “Quando chegam aqui e veem o Tietê, não acreditam que seja o mesmo rio”, conta o guia César da Silva
Prado, de 33 anos. Sua mãe, Valdivina Rosa Prado, de 78 anos, é uma das poucas a enxergar o rio oculto no passado. “Às
vezes, sonho com as cachoeiras”, diz a senhora, que veio da Bahia ainda moça para trabalhar nas lavouras da região. Naquele
tempo, o salto de Itapura era exuberante: um conjunto de quedas-d'águade uns 40 metros de altura, dispostas em forma
circular e com uma ilha rochosa no centro. “A gente ia até lá com o balde na cabeça para lavar a roupa e depois tomar banho”,
conta Valdivina.




As quedas foram submersas pela represa da barragem Três Irmãos (à direita), a maior entre todas as usinas hidrelétricas ao longo do rio.
As águas dos novos tempos escorrem pelas cinco comportas da usina Três Irmãos, num declive de 62 metros de altura. “Ao
abrirmos a torneira de casa, não pensamos no poder da água. Só mesmo trabalhando numa usina para dar conta da força
desse elemento”, diz o engenheiro Haruo Kuratami, de 51 anos, gerente do local. Controlar todo esse volume requereu grande
esforço de engenharia. “Na época da inundação, íamos todos até a orla ver. Alguns adoravam, mas, para quem havia nadado
naquele rio por toda a infância, a tristeza foi grande”, recordase Armindo Yoshio Kussuda, responsável pelo Museu de Pereira
Barreto, que guarda registros dos imigrantes japoneses e do rio original. Na praia da cidade, os mais velhos, sentados em
bancos, veem passar os jovens e a torrente com jeito de mar. Desejos e lembranças fundem-se nas águas diante deles,
mensageiras da mesma certeza: em Pereira Barreto, perto de sua foz, o Tietê recupera sua merecida autoridade.
O mundo não sabe usar a água!




A OMS – Organização Mundial da Saúde garante: cerca de 50 litros de água por dia é mais do que
suficiente para garantir a higiene e o bem-estar de uma pessoa, mas tem gente em todos os cantos do mundo
gastando mais – muito mais! – do que isso.

Os campeões na falta de consciência são os canadenses, que gastam até 600 litros de água, por dia. Ou seja,
doze vezes mais do que a OMS recomenda. O dado assusta e pior ainda é saber que o mesmo desperdício de
água se repete em diversos países: os EUA, por exemplo, ocupam a segunda posição do ranking, gastando 575
litros/dia e, em terceiro, está a Austrália, que gasta 495 litros/dia, por pessoa.

O Brasil está um pouco melhor “na fita” e aparece em 12º no ranking, por usar 187 litros/dia, por pessoa.
Ainda assim, o consumo de água no país é mais do que o triplo sugerido pela OMS. E, vale lembrar, o fato de
ser um país em desenvolvimento contribui para esse resultado: a população brasileira possui uma renda média
inferior a dos canadenses, o que quer dizer que há grandes chances das pessoas, aqui, gastarem menos água,
apenas, por falta de dinheiro e não por excesso de consciência ambiental.

A última posição do ranking é ocupada por Moçambique, que disputa a colocação com vários outros países da
África. Quem acha que isso acontece porque os africanos são mais conscientes do que o resto do mundo,
engana-se. A população desses países não usa o recurso, simplesmente, porque não tem mais água: os
moçambicanos gastam 5 litros, por dia (um décimo do que é recomendado pela OMS!), por falta de opção. E
eles ainda têm “sorte”, porque 45% da população da África Subsariana já não possui acesso a nenhuma fonte
da água limpa.

Será que nós seremos os próximos? Se continuarmos consumindo a água dessa forma irresponsável, é bem
possível...
Água virtual




Quando se fala em consumo de água, a maioria das pessoas pensa logo no recurso que usamos para beber,
fazer nossa higiene, cozinhar e limpar a casa. Mas existe, ainda, um outro tipo de consumo de água, invisível. É
o que os especialistas chamam de “Água Virtual” ou, em um português mais claro, a água que é usada
na produção de tudo aquilo que já compramos “pronto” – como roupas e alimentos.




Quando servimos um quilo de carne no jantar, por exemplo, também estamos colocando na mesa 15.497 litros
de água, segundo a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Isso
porque há muita “água virtual” inclusa no processo de produção da carne. Por exemplo, a água que os bois
bebem e, ainda, a que é utilizada para cultivar o alimento desses animais e para limpar seus dejetos.

O mesmo acontece com os bens de consumo, como uma calça jeans, um lençol ou uma camiseta de algodão.
Pouca gente sabe, mas o cultivo dessa planta utiliza água de modo intensivo, o que faz com que, ao vestir uma
calça jeans, nos “encharquemos” com 11 mil litros de água.

Veja, abaixo, mais alguns exemplos do consumo de “água virtual”.
– Um carro de passeio gasta 14.800 litros de água até chegar na concessionária;
– um litro de etanol precisa de 7.700 litros de água para ser produzido;
– cada jornal que lemos de manhã necessita de 550 litros até chegar na nossa mão;
– um litro de suco de laranja gasta 3.700 litros de água para ser produzido;
– uma ameixa consome 1.612 litros de água e uma cereja, 1.543 litros, até chegar no supermercado;
– um quilo de salsicha gasta 11.535 litros durante sua produção e um quilo de carne de porco, 6.309 litros;
– um lençol de algodão “bebe” 10.600 litros até ser estendido na sua cama e uma camiseta de algodão, 2.900
litros;
– um hambúrguer precisa de 2.400 litros de água até chegar na sua mesa e um copo de cerveja, 75 litros.

*Unesco


LIXO ELETRÔNICO

A rota do lixo
Iniciativas de reciclagem e uma nova lei podem reduzir o impacto nocivo do descarte de
eletrônicos
Priscila Jordão
Revista Info Exame – 04/2010

Um celular novo, um televisor cheio de recursos, um notebook mais leve - depois de certo tempo, todos têm necessidade ou
                                                            vontade de comprar novos produtos para substituir os que
                                                            ficaram obsoletos. Surge, então, um problema: o que fazer com
                                                            os eletrônicos antigos? É possível doá-los ou vendê-los. Mas na
                                                            maioria das vezes o destino é o lixo. Com isso, a montanha de
                                                            resíduos eletrônicos cresce em alta velocidade. De acordo com
                                                            um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), o
                                                            volume anual de eletrônicos descartados no planeta aumenta 40
                                                            000 toneladas todos os anos.

                                                              No Brasil, a luz amarela já se acendeu há algum tempo. O
                                                              relatório da ONU critica a falta de estratégias do país para lidar
                                                              com o problema. Depois de 19 longos anos de discussão, a
                                                              Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em março na
Cedir, da USP: o centro pode evitar o despejo de 1 000 PCs   Câmara dos Deputados. Pela primeira vez, uma lei distribui a
                    por mês em lixões                        responsabilidade sobre os resíduos entre fabricantes, governo e
                                                             sociedade.

As empresas serão obrigadas a recolher e dar destino adequado a seus produtos, enquanto o governo e os consumidores não
podem fazer descaso do assunto. A lei proíbe a eliminação de resíduos onde possa haver contaminação da água ou do solo.
Ainda precisa passar pelo Senado e ser sancionada pela Presidência da República. Mas o ministro do Meio Ambiente, Carlos
Minc, acredita em sua aprovação.

CHUMBO NA ÁGUA
O principal problema do lixo eletrônico no país é que ainda não há a prática de dar a ele um destino específico. Poucos
fabricantes têm um esquema para recolher produtos descartados. "O material vai parar em aterros sanitários junto com o lixo
comum", diz Tereza Carvalho, diretora do Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (USP). Como os
aparelhos contêm metais pesados, como chumbo, níquel e cádmio, as consequências são terríveis para o ambiente.
Um exemplo está nos monitores e televisores de tubo. Com a popularização das telas de cristal líquido, eles são descartados
aos milhares. Cada um contém, em média, 1,4 quilo de chumbo. Uma camada do metal fica logo atrás da tela, para proteger o
ser humano dos raios catódicos emitidos pelo tubo de imagem. Se ingerido, o chumbo causa danos ao sistema nervoso e
reprodutivo. Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente limita a quantidade de metais perigosos nos novos
monitores, mas não pune o lançamento do lixo tóxico no solo. Em março, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
multou a prefeitura de Bauru por irregularidades em seu aterro sanitário. A falha pode estar ligada à suspeita de contaminação
por chumbo do Aquífero Bauru, que abastece mais de 200 cidades em São Paulo e Minas Gerais. Um relatório da Empresa
Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural da cidade apontou um nível de chumbo acima do permitido para os 14 poços
monitorados.

RECICLAR É PRECISO


Algumas ONGs, fabricantes e operadoras de telefonia tomaram iniciativas para dar um fim apropriado ao lixo eletrônico. Um
dos exemplos é o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP, inaugurado em dezembro. Mauro
Bernardes, um dos responsáveis, conta que o lixo era enviado a uma empresa especializada. "Cada recicladora trabalha com
um material específico. Se enviávamos computadores para uma que processa plásticos, ela tirava o que interessava e
mandava o resto para o lixão", afirma.

O projeto do Cedir é separar o lixo e firmar parcerias com recicladoras, para reaproveitar 98% dos componentes de
computadores, impressoras e celulares. Os PCs com condições de uso vão para projetos sociais. Os demais são
desmontados. O centro tem capacidade para desmontar 1 000 micros por mês. A ideia é que os recicladores paguem o
trabalho com a venda do material. "Uma tonelada de placas de circuito impresso pode conter até 200 gramas de ouro", diz
Bernardes. Desde março, o Cedir recebe equipamentos também de pessoas de fora da universidade.

Outras instituições adotam práticas parecidas com as do Cedir. Uma delas é o Centro de Recondicionamento de
Computadores, no Centro Social do Colégio Marista, em Porto Alegre (CRC-Cesmar). O centro recebe equipamentos de
órgãos públicos e empresas. De cada quatro máquinas, uma é reparada por jovens carentes treinados no local e depois doada
a telecentros. As que não servem mais vão para uma recicladora em São Paulo. "Nenhuma empresa faz esse serviço em Porto
Alegre", diz Carlos Hoffman, diretor do centro.

O CRC-Cesmar quer desenvolver tecnologia em reciclagem de placas de circuito impresso com a Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. No momento, apenas a empresa Umicore processa o material no Brasil, sendo que ele é
enviado para a Bélgica para ser tratado. A Umicore também recicla baterias para a Claro. Os resíduos são transformados em
agregado para concreto, usado até na construção de diques na Holanda.

ELETRODOMÉSTICOS
Quando se pensa em lixo eletrônico, o problema vai além de peças de informática. A ONG E-lixo, de Londrina, no Paraná, é
uma das poucas a receber TVs. Como os monitores de tubo, eles exigem um caro processo de descontaminação para que
possam ser devolvidos ao ambiente em segurança. O peso das TVs e suas dimensões atrapalham o armazenamento e o
transporte.

Algumas empresas já recolhem seus produtos ao término da vida útil. Philips, Dell, HP, Itautec, TIM e Claro são alguns
exemplos. A Philips é a primeira a fazer isso com eletrodomésticos. Na Itautec, 56% do custo com a reciclagem foram cobertos
pela venda de materiais usados e de matéria-prima em 2009. Quase sempre, cabe ao próprio consumidor levar o aparelho até
um posto de recebimento. Assim, um dos desafios é convencê-lo a fazer isso. Dos 500 000 equipamentos vendidos pela
Itautec, só oito pessoas devolveram eletrônicos no ano passado. "Apenas 10% do que comercializamos é devolvido para ser
reciclado", diz Kami Saidi, diretor do Programa de Sustentabilidade da HP Brasil. "Não podemos obrigar o cliente a devolver o
equipamento. O compromisso precisa ser de todos", afirma.



Israel, a violência é um beco sem saída
Envolverde 30 de julho de 2010 às 11:59h

(CARTA CAPITAL)

Ataques a comboios humanitários estão longe de terem fim

Por Maired Maguire*

Belfast, Irlanda do Norte – Passaram-se dois meses desde que Israel atacou um comboio humanitário dirigido a Gaza com
trágicos resultados, que incluíram a morte de nove pessoas e 40 feridos. Entretanto, como revelam os últimos fatos, tudo
parece indicar que Israel sairá impune de sua flagrante violação da lei internacional.
No dia 12 de junho, foi informado que uma comissão militar israelense não encontrou falhas na ação dos comandos que
participaram do ataque. E, embora o Conselho de Segurança das Nações Unidas e grupos de defesa dos direitos humanos
reclamassem uma investigação independente, não há plano algum a respeito em execução. Israel considera que tais esforços
a favor de uma investigação independente são uma ameaça para a existência do Estado de Israel. Qual é o resultado de tudo
isto? Que os Estados Unidos e o resto da comunidade internacional se fazem de desentendidos a respeito do grave problema.

No dia 5 de junho, eu estava a bordo do Rachel Corrie, um barco que leva o nome de uma jovem ativista norte-americana
morta em Gaza por um “bulldozer” (retroescavadeira) do exército israelense. Precisamente, três dias antes havíamos ouvido
por um telefone via satélite que comandos israelenses haviam abordado seis barcos, incluindo a nave turca Mavi Marmara, em
águas internacionais e que haviam matado e ferido muitas pessoas.

Nós, 19 tripulantes e ativistas a bordo do Rachel Corrie ouvimos que 35 comandos israelenses fortemente armados estavam se
preparando para a abordagem de nossa embarcação. Alguns de nós nos perguntamos se teríamos a mesma sorte de nossos
colegas do Mavi Marmara.

O assassinato de civis desarmados foi uma notícia devastadora para todos nós. Eles não eram terroristas. Como eu também
penso, eles acreditavam que Gaza não deve ser um lugar de sofrimento para seus habitantes.

Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre
Israel e Palestina. Perdi minha sobrinha, dois sobrinhos e minha irmã para a violência na Irlanda e isso destroçou meu coração,
tal como o sinto destroçado agora, ao ver que o mesmo destino sofrem tantas famílias israelenses e palestinas.

No entanto, tal como levou a paz à Irlanda do Norte, a resistência não violenta poderá trazer a paz a esta região atormentada
pela guerra.

Nesta viagem da Flotilha da Liberdade, o mundo estava ciente do que ocorria. Muitos, eu inclusive, acreditávamos que os fatos
trágicos de 31 de maio finalmente abririam os olhos das pessoas para uma tragédia ainda maior, a do castigo coletivo que
Israel aplica a 1,5 milhão de palestinos. A violação da lei internacional por Israel está bem documentada pelas Nações Unidas
e por muitos organismos independentes de defesa dos direitos humanos.

Apesar disso, as violações continuam com o pretexto da defesa da “segurança nacional” e de que a política de isolar Gaza tem
por objetivo debilitar o Hamas.

Porém, essa política claramente não está funcionando. No lugar disso, transformou Gaza no que corretamente foi descrito
como a maior prisão a céu aberto do mundo. O bloqueio que Israel impõe a Gaza nos últimos três anos só castiga os
palestinos inocentes. A falta de acesso a suprimentos médicos e tratamentos hospitalares causa uma grande perda de vidas.
As famílias não podem reconstruir suas casas destruídas durante o brutal ataque a Gaza que matou mais de 1.400 pessoas no
inverno 2008-2009.

E o Hamas, objetivo que Israel diz ter e que foi escolhido como o representante do povo palestino em Gaza, é cada vez mais
forte.

Entretanto, o recente informe divulgado pelas autoridades militares mostra que Israel pretende continuar com suas ineficazes
políticas e sua violência em lugar de optar por medidas a favor da paz. O informe chega inclusive a exaltar os comandos
israelenses que mataram nove civis e diz que agiram “adequadamente, com profissionalismo, valentia e iniciativa”.

Outra investigação à parte está em marcha em Israel, conduzida por um juiz aposentado da Suprema Corte de Justiça. Devido
aos antecedentes, não há razões para crer que este painel de investigadores faça algo que não seja reforçar a cultura da
impunidade de Israel. Nada menos do que uma investigação verdadeiramente independente é o indispensável para as famílias
das vítimas do ataque israelense e, o que é até mais importante, para o povo palestino que vive em Gaza.

A comunidade internacional deve finalmente deixar de permitir que Israel siga agindo com descarada falta de respeito em
relação à lei internacional e aos direitos humanos. O recente levantamento parcial do cerco a Gaza mostra que a pressão
internacional serve, mas o obtido não é suficiente.

É hora de Israel escolher a paz. É hora de os líderes mundiais e a comunidade internacional se unirem para exigir de Israel que
levante por completo o cerco a Gaza e ponha fim à ocupação da Palestina, bem como permita que o povo palestino exerça seu
direito à autodeterminação. IPS/Envolverde

* Mairead Maguire recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1976 por suas ações para acabar com a violência na Irlanda do Norte. É
membro-fundadora da Iniciativa de Mulheres Prêmio Nobel
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Gestão da água no Brasil pode tornar o país uma nova potência mundial

  • 1. Nº 02 06/08/2010 Jerson Kelman: O fator água Professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do conselho curador da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Jerson Kelman avalia a gestão da água no Brasil dez anos após a criação da Agência Nacional das Águas - órgão que dirigiu entre 2001 e 2004 - e afirma que o país pode se tornar uma nova potência mundial NATIONAL GEOGRAPHIC - Edição Especial “Água, o mundo tem sede” O Brasil tem recursos naturais que, se bem utilizados, promoverão desenvolvimento econômico e social com baixa emissão de gases de efeito estufa. O principal deles é a água, abundante no país. Esse parece ser um cenário otimista para as próximas gerações. Todavia, a gestão da água no Brasil ainda precisa melhorar, e muito – e isso depende não apenas do governo mas também da sociedade. Para Jerson Kelman, professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e membro do conselho curador da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), a água pode ser o diferencial para tornar o Brasil uma nova potência mundial, “não da mesma forma que o petróleo”, diz ele, cuja exportação pode ser feita em sua forma bruta, mas como facilitadora do desenvolvimento econômico. O carioca Kelman, de 62 anos, foi o criador da Agência Nacional de Águas, a ANA, órgão que dirigiu entre 2001 e 2004. Ele descreve sua experiência no setor no livro Desafios do Regulador, em que discorre sobre questões como a transposição do rio São Francisco, usinas hidrelétricas na Amazônia, fornecimento de água e saneamento nos centros urbanos. “Usar a água de forma mais sustentável é uma necessidade, não um luxo”, diz. Nosso país possui a maior reserva de água doce entre as nações emergentes. Que diferença isso pode fazer no século 21? As pessoas costumam imaginar a água como uma commodity parecida com o petróleo. Ou seja, devido ao fato de o Brasil ter reservas significativas de água doce, poderíamos nos tornar exportadores desse recurso no futuro. Mas eu não acredito que seja essa a vantagem competitiva do Brasil, pois o valor da água versus o seu custo de transporte é muito desfavorável. Não é concebível a exportação de água em larga escala. Todavia, países como o Brasil, em que há abundância no binômio “terra e água”, dispõem de uma vantagem bem maior em relação a outros países, seja na produção e industrialização de produtos agrícolas, seja na própria indústria. Ter água é hoje um diferencial para uma nação ser uma potência econômica e social. A África do Sul, por exemplo, tem grande dificuldade em se desenvolver, pois padece de escassez desse recurso Esse quadro irá se tornar mais claro dentro de quanto tempo? O Brasil já sofreu uma transformação brutal. Basta observar a conquista do Centro-Oeste. Nós já somos grande produtor agrícola e relevante produtor industrial. Nada disso teria acontecido se não tivéssemos água. A tendência é aumentar. Na esfera política, o senhor acredita que a água é um tema prioritário? Penso que sim. Principalmente nas discussões sobre osemiárido, esse sempre foi um assunto relevante. No resto do Brasil, a água nunca foi um problema, com exceção de casos de outra natureza, como as enchentes. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, o entendimento da continuidade de políticas públicas relacionadas ao controle de enchentes demanda a compreensão da sociedade como um todo e a perpetuação, ao longo de várias administrações, do uso mais apropriado do
  • 2. solo. O Brasil vivenciou 20 anos de ditadura e temos uma tradição política muito paternalista. Nossa sociedade ainda vive na infância da democracia, em que se atribui aos dirigentes a responsabilidade de resolver todos os problemas. É preciso perceber que o poder dos políticos é limitado e só o engajamento de todos é que vai fazer com que as condições de vida melhorem. Os países desenvolvidos já discutiram políticas públicas sobre a água de forma bastante intensa. A preocupação de usar esse recurso de maneira sustentável nas grandes cidades brasileiras é uma necessidade, pois está cada vez mais difícil e oneroso obtê-lo. Como o senhor avalia o uso da água no Brasil? Primeiro temos de diferenciar a água bruta da água tratada.A bruta é aquela retirada dos rios ou aquíferos subterrâneos para insumo de algo. Dessa água cerca de 70% é utilizada na irrigação, na produção de alimentos, 20% como insumo industrial e apenas 10% para abastecimento das cidades. As pessoas acham que vai faltar água em suas torneiras, mas não é isso o que vai acontecer. No entanto, a ineficiência de seu uso na área agrícola ainda é grande. Com um pouco mais de eficácia, sobraria muito mais água para o consumo doméstico. Isso explica eventuais problemas de abastecimento? Tais problemas estão relacionados à concentração urbana. A disponibilidade per capita na região metropolitana de São Paulo é bem menor que no semiárido nordestino, pois há uma população gigantesca concentrada em uma area pequena. E ainda há a captação e o tratamento de esgoto não apropriados. O problema de abastecimento nas grandes cidades é enorme, obrigando a busca em fontes distantes. É o caso de São Paulo, que se beneficia de uma transposição: o município capta parte de sua água na bacia do rio Piracicaba, por meio do Sistema Cantareira. Pouca gente sabe disso. Qual a sua opinião a respeito da transposição do São Francisco? O baixo São Francisco pode ser prejudicado? Eu não concordo que o baixo São Francisco foi prejudicado com as usinas da Companhia Elétrica do São Francisco, a Chesf. Pois, com as barragens e, sobretudo, com o reservatório de Sobradinho, o fluxo do rio ficou regularizado. Se houve um efeito deletério foi que a vazão média despejada no mar diminuiu um pouco. Sobradinho é como um grande espelho evaporante, em que 10% da água do São Francisco é perdida pela evaporação. O mar ficou mais salgado, mas não há problema nenhum nisso. Em média, agora, o que será retirado do rio com a transposição é menos de 3% e, para quem está nas margens do baixo São Francisco, essa porcentagem é imperceptível. Sob esse ponto de vista, é uma transposição pequena. Achar que o rio ficará “anêmico” é uma teoria falsa. Do ponto de vista econômico, vale a pena esse investimento? Alguns especialistas dizem que há água suficiente para uso local no semiárido e que a transposição é desnecessária. Essa tese pode ou não ser verdadeira. Para as pessoas beber, tomar banho ou cozinhar, sim, há água. Não é necessário importar nem uma gota sequer: basta instalar cisternas ou reservatórios profundos para armazenar o líquido. Agora, se o objetivo for criar atividades econômicas sustentáveis para que as pessoas não vivam apenas do Bolsa Família e sim de outro modelo em que serão produtivas, com indústrias e agricultura, é preciso ter garantia de água. A falta dessa garantia é um fator inibidor ao desenvolvimento econômico de uma região. É nesse sentido que a transposição pode ser um projeto diferenciador. Mas quais os aspectos desfavoráveis à transposição? Ao contrário do que ocorreu no rio Colorado, nos Estados Unidos, o dimensionamento da obra não foi fruto de demanda quantificada. Faltou o que os americanos chamam de ownership, o direito à água irrigada. Lá, montou-se um esquema para que a operação e a manutenção daquela infraestrutura fossem independentes do governo. E, como dependia dos interessados, funcionou. E isso não foi feito aqui. Outro tema polêmico é a Amazônia. O governo está certo em investir na fonte hidrelétrica de energia, a despeito das críticas de conservacionistas aos novos projetos de barragens? O que falta nesse debate é a comparação com as alternativas. A pergunta muitas vezes é: o que acontecerá se as usinas forem construídas na Amazônia? Isso nós sabemos. Florestas serão inundadas e populações ribeirinhas, e até indígenas, poderão ter seus estilos de vida modificados.
  • 3. Essas coisas parecem boas? Em geral, não. Mas a pergunta raras vezes formulada é: o que acontecerá se as usinas não forem construídas na Amazônia? O consumo per capita de energia no Brasil é seis vezes menor que nos Estados Unidos. Isso não quer dizer que devemos atingir o mesmo consumo que os americanos, mas temos de dobrar o nosso para termos um nível de vida no padrão, por exemplo, da Itália. Esse aumento no consumo não é em casa, mas na atividade econômica. Não construir as usinas na Amazônia significa economia menos competitiva, energia mais cara – pois as fontes eólica e solar não são suficientes para atender à demanda –, maior poluição pela queima de combustíveis fósseis e maior risco pelo uso de energia nuclear. O setor energético precisa ponderar os prós e os contras da construção de reservatórios. O certo seria colocá-los em uma balança. De um lado o dano local – corte de vegetação e deslocamento de moradores – e do outro o benefício global – menor emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. A Agência Nacional de Águas (ANA) tem pouco mais de dez anos. O que mudou na gestão dos recursos hídricos do Brasil? Pela ação da ANA, nossos problemas de recursos hídricos estão sendo mitigados, como a seca no Nordeste e a poluição dos centros urbanos. A experiência mais bem-sucedida é o programa piloto de despoluição de bacias hidrográficas, o Prodes, em que o governo federal paga pelos resultados alcançados, isto é, o esgoto efetivamente tratado, não o financiamento da obra ou dos equipamentos. Por outro lado, eu tinha a expectativa de que, após dez anos, nós teríamos um sistema de gestão de recursos hídricos mais capilar, presente em todo o país. E que o sistema de outorga pelo uso da água e o princípio poluidor- pagador – que estabelece a cada empresa um valor de cobrança proporcional à poluição por ela causada – estariam implantados no país todo. Mas esbarramos em várias dificuldades, e a principal é a fragmentação da autoridade nas bacias hidrográficas. A França e os Estados Unidos, cujos rios eram sujos nas décadas de 1960 e 70, tiveram sucesso na implementação efetiva do conceito poluidor-pagador. O que, em termos de gestão, de mais efetivo falta ainda ser feito para a conservação dos ecossistemas aquáticos do Brasil? Temos de decidir qual caminho filosófico seguiremos. O da lógica ambiental, ou seja, estabelecer padrões de emissão e fiscalizar seu cumprimento, ou o da cobrança pela poluição, que é uma lógica econômica. São duas filosofias: ou você multa a empresa que polui, ou você cobra dela a poluição, o que pesa no bolso da população. Aqui, nós cometemos um erro grave. Hoje, o cidadão que tem esgoto tratado paga mais para a companhia de saneamento. Aplica-se ao esgoto a mesma lógica aplicada à água, e não é assim. Abastecimento de água é um serviço cujo beneficiário é o indivíduo. E coleta e tratamento de esgoto são um serviço cujo beneficiário é a coletividade. O tratamento tarifário de um não pode ser o mesmo do outro. Nós induzimos as pessoas a não pensar no coletivo. E temos de corrigir isso. Tietê, o renascido De rio mais poluído do Brasil, o Tietê torna-se, perto de sua foz, em Pereira Barreto, uma paisagem de lazer, trabalho e contemplação Thiago Medaglia NATIONAL GEOGRAPHIC - Edição Especial “Água, o mundo tem sede” Quem passa pela cidade de Pereira Barreto pode perceber dois rios Tietê. Um deles, o rio da memória, resiste na narrativa dos moradores mais velhos. Ele corre num leito pouco largo, rodeado por mata fechada e com pegadas de animais selvagens nas praias de areia branca. A água, limpa e fresca, tem um tom de chá e escorrenum corpo sinuoso, sob o qual repousa umfundo irregular. Os enclaves submersos escondem peixes maiores que homens. Nos declives abruptos, formam-se cachoeiras, nas quais, em dias de sol forte, o vapor levantado faz surgir pequenos arco-íris. Esse Tietê não existe mais: habita apenas o passado, perdido entre as recordações e o desejo dos viajantes que não chegaram a tempo. O outro Tietê é um pouco menos romântico, porém nada ausente. Salta tanto aos olhos quanto o rio imundo que se vê na capital paulista, símbolo da poluição no Brasil, só que vivo e limpo. Em Pereira Barreto, espalha-se por margens quilométricas e, mesmo sendo rio, tem cara de mar – na verdade, a represa da usina Três Irmãos, que no começo da década de 1990 transformou para sempre a paisagem local. Uma leve brisa sopra, empurrando as pequenas ondas na beira. Na água azulada, não se apreciam mais cachoeiras nem rochas. Tudo está embaixo d’água. Ladeada por gramados, campos de futebol, rampas
  • 4. de skate, quiosques com churrasqueira e pistas de cooper, a praia da cidade – apesar de ser um aterro artificial – é o ponto de encontro de jovens despreocupados e adultos com disposição para o esporte. “É a nossa melhor opção de lazer”, conta o pereira-barretense Sérgio Esperança Júnior de 16 anos. “Na verdade, é a única opção”, corrige o garoto, que fuma um narguilé (cachimbo de água) ao lado de três amigos. Sim, o velho Tietê, a mesma torrente a escancarar em seu leito sem vida o esgoto da cidade de São Paulo, é a praia dos paulistas em sua porção sertaneja. Questão, também, de comodidade. De Pereira Barreto, uma viagem ao litoral norte do estado tomaria nove horas de estrada. Melhor curtir o rio. Até a festa de Carnaval deste ano foi à beira dele. Batizado de Carnapraia, o evento atraiu, de acordo com a prefeitura local, 35 mil pessoas (10 mil a mais que o Pereira Barreto fica a 635 quilômetros de São Paulo, bem perto da foz do Tietê, número de habitantes do município). A música alta (forró, no rio Paraná. As águas do maior rio paulista são usadas por pivôs centrais, rock anos 80 e axé) parece não incomodar ninguém além de que irrigam vastas areas circulares de pastagem e cultivo. mim. Na areia quente, moças esticam suas cangas, casais caminham na orla, moleques brincam dentro d’água e, vez ou outra, uma lancha ou um jet-ski rabiscam o horizonte. No interior, descobre-se logo, a relação das pessoas com o Tietê é de mais carinho. O milagre de seu renascimento começa a tomar forma desde a cidade de Barra Bonita, a 287 quilômetros da capital, onde já há pescaria, passeios turísticos e esportes náuticos. Em Pereira Barreto, no fim do dia, é comum ver moradores saindo de casa com cadeira de praia numa das mãos e vara de pescar na outra. A beira-rio é um antídoto para o estresse do cotidiano, um cenário de contemplação. Tudo o que se espera, talvez, de um curso d’água com essa dimensão. Antes de atravessar, castigado, a maior cidade do hemisfério Sul, o Tietê, principal rio do estado, brota potável do solo em uma pequena poça d’água nas encostas da serra do Mar, a 22 quilômetros “Numa insistência turrona paulista”, notada pelo poeta Mário de Andrade, ignora a morte rápida no destino final de todos os rios e, de costas para o mar, corre teimoso no sentido oeste. “Por que me impedes a fama das tempestades do Atlântico?”, esbravejou, outra vez, o escritor. Até a foz, no rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso, vai percorrer 1 136 quilômetros. As gotas milagrosas da nascente irão, enfim, encontrar o oceano, mais de 5 mil quilômetros depois, no estuário do rio da Prata, na divisa entre Uruguai e Argentina. E pensar que o Tietê é conhecido em todo o mundo pela imundície na megalópole e pelo trânsito caótico nas avenidas que o margeiam. É uma fama injusta: esse trecho corresponde a menos de 2% de seu percurso total. Três Irmãos, em Pereira Barreto, é a última e a maior entre todas as seis usinas ao longo do rio – as outras são Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão e Nova Avanhandava. Juntas, elas promovem a produção de energia, favorecem a irrigação de cana-de-açúcar (um monótono mas profícuo oceano verde no interior de São Paulo) e possibilitam a O salto de Itapura é um marco do Tietê do passado, vivo na memória e nas navegação comercial na hidrovia Tietê–Paraná, a mais fotos de Armindo Yoshio Kussuda. extensa do Brasil. Com a inundação nos anos 1990 durante a construção de Três Irmãos, o Tietê ganhou espaço e a água demarcou novos limites urbanos em Pereira Barreto. Num sobrevoo, a onipresença da água fica evidente – é como se o represamento tivesse transformado a cidade numa península. Há pontos em que o asfalto, construído antes das enchentes, simplesmente termina no rio. No Réveillon de 2009, aproveitando-se da queima de fogos na praia, três forasteiros assaltaram um posto de gasolina, mas não calcularam bem a rota de fuga. Chamaram a atenção de policiais e foram perseguidos em alta velocidade. Azarados, fugiram na direção errada e deram com o carro n’água. Dois deles morreram afogados. Outro traço marcante do município é a grande quantidade de descendentes de japoneses, o que fica evidente na feição das pessoas, no nome das ruas e do comércio: o pesqueiro chama-se Hagimi, a venda de ovos é Takano, a óptica é Massuda, a elétrica é Komatsu e o Mercado é
  • 5. Sakura, todos sobrenomes de famílias vindas ao país na primeira metade do século 20, quando o crescimento das lavouras de café no oeste paulista fez com que o governo brasileiro incentivasse a vinda de imigrantes da Europa e do Oriente. Do Japão, estima-se que, entre os anos 1918 e 1940, tenham se espalhado por toda a região algo em torno de 160 mil a 190 mil pessoas. Muitas dessas levas desembarcaram em Pereira Barreto e arredores, onde formaram, por exemplo, a comunidade Yuba, hoje um agrupamento de 70 pessoas em que cultivos agrícolas rudimentares convivem com expressões artísticas (dança, música, teatro) e um modo tradicional de vida. “Tínhamos medo dos yubas quando éramos pequenos; achávamos que eles eram comunistas e prendiam as crianças lá”, recorda-se, em tom de deboche, o morador Hiroko da Silva. Olhos puxados também são notados em Itapura, município que, até 1992, era distrito de Pereira Barreto. Situado bem próximo à foz, é um lugar em que a pesca artesanal convive com a esportiva – a captura do tucunaré atrai turistas durante o ano todo. Muitos deles vêm da capital. “Quando chegam aqui e veem o Tietê, não acreditam que seja o mesmo rio”, conta o guia César da Silva Prado, de 33 anos. Sua mãe, Valdivina Rosa Prado, de 78 anos, é uma das poucas a enxergar o rio oculto no passado. “Às vezes, sonho com as cachoeiras”, diz a senhora, que veio da Bahia ainda moça para trabalhar nas lavouras da região. Naquele tempo, o salto de Itapura era exuberante: um conjunto de quedas-d'águade uns 40 metros de altura, dispostas em forma circular e com uma ilha rochosa no centro. “A gente ia até lá com o balde na cabeça para lavar a roupa e depois tomar banho”, conta Valdivina. As quedas foram submersas pela represa da barragem Três Irmãos (à direita), a maior entre todas as usinas hidrelétricas ao longo do rio. As águas dos novos tempos escorrem pelas cinco comportas da usina Três Irmãos, num declive de 62 metros de altura. “Ao abrirmos a torneira de casa, não pensamos no poder da água. Só mesmo trabalhando numa usina para dar conta da força desse elemento”, diz o engenheiro Haruo Kuratami, de 51 anos, gerente do local. Controlar todo esse volume requereu grande esforço de engenharia. “Na época da inundação, íamos todos até a orla ver. Alguns adoravam, mas, para quem havia nadado naquele rio por toda a infância, a tristeza foi grande”, recordase Armindo Yoshio Kussuda, responsável pelo Museu de Pereira Barreto, que guarda registros dos imigrantes japoneses e do rio original. Na praia da cidade, os mais velhos, sentados em bancos, veem passar os jovens e a torrente com jeito de mar. Desejos e lembranças fundem-se nas águas diante deles, mensageiras da mesma certeza: em Pereira Barreto, perto de sua foz, o Tietê recupera sua merecida autoridade.
  • 6. O mundo não sabe usar a água! A OMS – Organização Mundial da Saúde garante: cerca de 50 litros de água por dia é mais do que suficiente para garantir a higiene e o bem-estar de uma pessoa, mas tem gente em todos os cantos do mundo gastando mais – muito mais! – do que isso. Os campeões na falta de consciência são os canadenses, que gastam até 600 litros de água, por dia. Ou seja, doze vezes mais do que a OMS recomenda. O dado assusta e pior ainda é saber que o mesmo desperdício de água se repete em diversos países: os EUA, por exemplo, ocupam a segunda posição do ranking, gastando 575 litros/dia e, em terceiro, está a Austrália, que gasta 495 litros/dia, por pessoa. O Brasil está um pouco melhor “na fita” e aparece em 12º no ranking, por usar 187 litros/dia, por pessoa. Ainda assim, o consumo de água no país é mais do que o triplo sugerido pela OMS. E, vale lembrar, o fato de ser um país em desenvolvimento contribui para esse resultado: a população brasileira possui uma renda média inferior a dos canadenses, o que quer dizer que há grandes chances das pessoas, aqui, gastarem menos água, apenas, por falta de dinheiro e não por excesso de consciência ambiental. A última posição do ranking é ocupada por Moçambique, que disputa a colocação com vários outros países da África. Quem acha que isso acontece porque os africanos são mais conscientes do que o resto do mundo, engana-se. A população desses países não usa o recurso, simplesmente, porque não tem mais água: os moçambicanos gastam 5 litros, por dia (um décimo do que é recomendado pela OMS!), por falta de opção. E eles ainda têm “sorte”, porque 45% da população da África Subsariana já não possui acesso a nenhuma fonte da água limpa. Será que nós seremos os próximos? Se continuarmos consumindo a água dessa forma irresponsável, é bem possível...
  • 7. Água virtual Quando se fala em consumo de água, a maioria das pessoas pensa logo no recurso que usamos para beber, fazer nossa higiene, cozinhar e limpar a casa. Mas existe, ainda, um outro tipo de consumo de água, invisível. É o que os especialistas chamam de “Água Virtual” ou, em um português mais claro, a água que é usada na produção de tudo aquilo que já compramos “pronto” – como roupas e alimentos. Quando servimos um quilo de carne no jantar, por exemplo, também estamos colocando na mesa 15.497 litros de água, segundo a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Isso porque há muita “água virtual” inclusa no processo de produção da carne. Por exemplo, a água que os bois bebem e, ainda, a que é utilizada para cultivar o alimento desses animais e para limpar seus dejetos. O mesmo acontece com os bens de consumo, como uma calça jeans, um lençol ou uma camiseta de algodão. Pouca gente sabe, mas o cultivo dessa planta utiliza água de modo intensivo, o que faz com que, ao vestir uma calça jeans, nos “encharquemos” com 11 mil litros de água. Veja, abaixo, mais alguns exemplos do consumo de “água virtual”.
  • 8. – Um carro de passeio gasta 14.800 litros de água até chegar na concessionária; – um litro de etanol precisa de 7.700 litros de água para ser produzido; – cada jornal que lemos de manhã necessita de 550 litros até chegar na nossa mão; – um litro de suco de laranja gasta 3.700 litros de água para ser produzido; – uma ameixa consome 1.612 litros de água e uma cereja, 1.543 litros, até chegar no supermercado; – um quilo de salsicha gasta 11.535 litros durante sua produção e um quilo de carne de porco, 6.309 litros; – um lençol de algodão “bebe” 10.600 litros até ser estendido na sua cama e uma camiseta de algodão, 2.900 litros; – um hambúrguer precisa de 2.400 litros de água até chegar na sua mesa e um copo de cerveja, 75 litros. *Unesco LIXO ELETRÔNICO A rota do lixo Iniciativas de reciclagem e uma nova lei podem reduzir o impacto nocivo do descarte de eletrônicos Priscila Jordão Revista Info Exame – 04/2010 Um celular novo, um televisor cheio de recursos, um notebook mais leve - depois de certo tempo, todos têm necessidade ou vontade de comprar novos produtos para substituir os que ficaram obsoletos. Surge, então, um problema: o que fazer com os eletrônicos antigos? É possível doá-los ou vendê-los. Mas na maioria das vezes o destino é o lixo. Com isso, a montanha de resíduos eletrônicos cresce em alta velocidade. De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), o volume anual de eletrônicos descartados no planeta aumenta 40 000 toneladas todos os anos. No Brasil, a luz amarela já se acendeu há algum tempo. O relatório da ONU critica a falta de estratégias do país para lidar com o problema. Depois de 19 longos anos de discussão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em março na Cedir, da USP: o centro pode evitar o despejo de 1 000 PCs Câmara dos Deputados. Pela primeira vez, uma lei distribui a por mês em lixões responsabilidade sobre os resíduos entre fabricantes, governo e sociedade. As empresas serão obrigadas a recolher e dar destino adequado a seus produtos, enquanto o governo e os consumidores não podem fazer descaso do assunto. A lei proíbe a eliminação de resíduos onde possa haver contaminação da água ou do solo. Ainda precisa passar pelo Senado e ser sancionada pela Presidência da República. Mas o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, acredita em sua aprovação. CHUMBO NA ÁGUA O principal problema do lixo eletrônico no país é que ainda não há a prática de dar a ele um destino específico. Poucos fabricantes têm um esquema para recolher produtos descartados. "O material vai parar em aterros sanitários junto com o lixo comum", diz Tereza Carvalho, diretora do Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (USP). Como os aparelhos contêm metais pesados, como chumbo, níquel e cádmio, as consequências são terríveis para o ambiente.
  • 9. Um exemplo está nos monitores e televisores de tubo. Com a popularização das telas de cristal líquido, eles são descartados aos milhares. Cada um contém, em média, 1,4 quilo de chumbo. Uma camada do metal fica logo atrás da tela, para proteger o ser humano dos raios catódicos emitidos pelo tubo de imagem. Se ingerido, o chumbo causa danos ao sistema nervoso e reprodutivo. Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente limita a quantidade de metais perigosos nos novos monitores, mas não pune o lançamento do lixo tóxico no solo. Em março, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo multou a prefeitura de Bauru por irregularidades em seu aterro sanitário. A falha pode estar ligada à suspeita de contaminação por chumbo do Aquífero Bauru, que abastece mais de 200 cidades em São Paulo e Minas Gerais. Um relatório da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural da cidade apontou um nível de chumbo acima do permitido para os 14 poços monitorados. RECICLAR É PRECISO Algumas ONGs, fabricantes e operadoras de telefonia tomaram iniciativas para dar um fim apropriado ao lixo eletrônico. Um dos exemplos é o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP, inaugurado em dezembro. Mauro Bernardes, um dos responsáveis, conta que o lixo era enviado a uma empresa especializada. "Cada recicladora trabalha com um material específico. Se enviávamos computadores para uma que processa plásticos, ela tirava o que interessava e mandava o resto para o lixão", afirma. O projeto do Cedir é separar o lixo e firmar parcerias com recicladoras, para reaproveitar 98% dos componentes de computadores, impressoras e celulares. Os PCs com condições de uso vão para projetos sociais. Os demais são desmontados. O centro tem capacidade para desmontar 1 000 micros por mês. A ideia é que os recicladores paguem o trabalho com a venda do material. "Uma tonelada de placas de circuito impresso pode conter até 200 gramas de ouro", diz Bernardes. Desde março, o Cedir recebe equipamentos também de pessoas de fora da universidade. Outras instituições adotam práticas parecidas com as do Cedir. Uma delas é o Centro de Recondicionamento de Computadores, no Centro Social do Colégio Marista, em Porto Alegre (CRC-Cesmar). O centro recebe equipamentos de órgãos públicos e empresas. De cada quatro máquinas, uma é reparada por jovens carentes treinados no local e depois doada a telecentros. As que não servem mais vão para uma recicladora em São Paulo. "Nenhuma empresa faz esse serviço em Porto Alegre", diz Carlos Hoffman, diretor do centro. O CRC-Cesmar quer desenvolver tecnologia em reciclagem de placas de circuito impresso com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. No momento, apenas a empresa Umicore processa o material no Brasil, sendo que ele é enviado para a Bélgica para ser tratado. A Umicore também recicla baterias para a Claro. Os resíduos são transformados em agregado para concreto, usado até na construção de diques na Holanda. ELETRODOMÉSTICOS Quando se pensa em lixo eletrônico, o problema vai além de peças de informática. A ONG E-lixo, de Londrina, no Paraná, é uma das poucas a receber TVs. Como os monitores de tubo, eles exigem um caro processo de descontaminação para que possam ser devolvidos ao ambiente em segurança. O peso das TVs e suas dimensões atrapalham o armazenamento e o transporte. Algumas empresas já recolhem seus produtos ao término da vida útil. Philips, Dell, HP, Itautec, TIM e Claro são alguns exemplos. A Philips é a primeira a fazer isso com eletrodomésticos. Na Itautec, 56% do custo com a reciclagem foram cobertos pela venda de materiais usados e de matéria-prima em 2009. Quase sempre, cabe ao próprio consumidor levar o aparelho até um posto de recebimento. Assim, um dos desafios é convencê-lo a fazer isso. Dos 500 000 equipamentos vendidos pela Itautec, só oito pessoas devolveram eletrônicos no ano passado. "Apenas 10% do que comercializamos é devolvido para ser reciclado", diz Kami Saidi, diretor do Programa de Sustentabilidade da HP Brasil. "Não podemos obrigar o cliente a devolver o equipamento. O compromisso precisa ser de todos", afirma. Israel, a violência é um beco sem saída Envolverde 30 de julho de 2010 às 11:59h (CARTA CAPITAL) Ataques a comboios humanitários estão longe de terem fim Por Maired Maguire* Belfast, Irlanda do Norte – Passaram-se dois meses desde que Israel atacou um comboio humanitário dirigido a Gaza com trágicos resultados, que incluíram a morte de nove pessoas e 40 feridos. Entretanto, como revelam os últimos fatos, tudo parece indicar que Israel sairá impune de sua flagrante violação da lei internacional.
  • 10. No dia 12 de junho, foi informado que uma comissão militar israelense não encontrou falhas na ação dos comandos que participaram do ataque. E, embora o Conselho de Segurança das Nações Unidas e grupos de defesa dos direitos humanos reclamassem uma investigação independente, não há plano algum a respeito em execução. Israel considera que tais esforços a favor de uma investigação independente são uma ameaça para a existência do Estado de Israel. Qual é o resultado de tudo isto? Que os Estados Unidos e o resto da comunidade internacional se fazem de desentendidos a respeito do grave problema. No dia 5 de junho, eu estava a bordo do Rachel Corrie, um barco que leva o nome de uma jovem ativista norte-americana morta em Gaza por um “bulldozer” (retroescavadeira) do exército israelense. Precisamente, três dias antes havíamos ouvido por um telefone via satélite que comandos israelenses haviam abordado seis barcos, incluindo a nave turca Mavi Marmara, em águas internacionais e que haviam matado e ferido muitas pessoas. Nós, 19 tripulantes e ativistas a bordo do Rachel Corrie ouvimos que 35 comandos israelenses fortemente armados estavam se preparando para a abordagem de nossa embarcação. Alguns de nós nos perguntamos se teríamos a mesma sorte de nossos colegas do Mavi Marmara. O assassinato de civis desarmados foi uma notícia devastadora para todos nós. Eles não eram terroristas. Como eu também penso, eles acreditavam que Gaza não deve ser um lugar de sofrimento para seus habitantes. Na década de 70, me diziam que a paz não chegaria à Irlanda do Norte, tal como agora dizem que a paz não é possível entre Israel e Palestina. Perdi minha sobrinha, dois sobrinhos e minha irmã para a violência na Irlanda e isso destroçou meu coração, tal como o sinto destroçado agora, ao ver que o mesmo destino sofrem tantas famílias israelenses e palestinas. No entanto, tal como levou a paz à Irlanda do Norte, a resistência não violenta poderá trazer a paz a esta região atormentada pela guerra. Nesta viagem da Flotilha da Liberdade, o mundo estava ciente do que ocorria. Muitos, eu inclusive, acreditávamos que os fatos trágicos de 31 de maio finalmente abririam os olhos das pessoas para uma tragédia ainda maior, a do castigo coletivo que Israel aplica a 1,5 milhão de palestinos. A violação da lei internacional por Israel está bem documentada pelas Nações Unidas e por muitos organismos independentes de defesa dos direitos humanos. Apesar disso, as violações continuam com o pretexto da defesa da “segurança nacional” e de que a política de isolar Gaza tem por objetivo debilitar o Hamas. Porém, essa política claramente não está funcionando. No lugar disso, transformou Gaza no que corretamente foi descrito como a maior prisão a céu aberto do mundo. O bloqueio que Israel impõe a Gaza nos últimos três anos só castiga os palestinos inocentes. A falta de acesso a suprimentos médicos e tratamentos hospitalares causa uma grande perda de vidas. As famílias não podem reconstruir suas casas destruídas durante o brutal ataque a Gaza que matou mais de 1.400 pessoas no inverno 2008-2009. E o Hamas, objetivo que Israel diz ter e que foi escolhido como o representante do povo palestino em Gaza, é cada vez mais forte. Entretanto, o recente informe divulgado pelas autoridades militares mostra que Israel pretende continuar com suas ineficazes políticas e sua violência em lugar de optar por medidas a favor da paz. O informe chega inclusive a exaltar os comandos israelenses que mataram nove civis e diz que agiram “adequadamente, com profissionalismo, valentia e iniciativa”. Outra investigação à parte está em marcha em Israel, conduzida por um juiz aposentado da Suprema Corte de Justiça. Devido aos antecedentes, não há razões para crer que este painel de investigadores faça algo que não seja reforçar a cultura da impunidade de Israel. Nada menos do que uma investigação verdadeiramente independente é o indispensável para as famílias das vítimas do ataque israelense e, o que é até mais importante, para o povo palestino que vive em Gaza. A comunidade internacional deve finalmente deixar de permitir que Israel siga agindo com descarada falta de respeito em relação à lei internacional e aos direitos humanos. O recente levantamento parcial do cerco a Gaza mostra que a pressão internacional serve, mas o obtido não é suficiente. É hora de Israel escolher a paz. É hora de os líderes mundiais e a comunidade internacional se unirem para exigir de Israel que levante por completo o cerco a Gaza e ponha fim à ocupação da Palestina, bem como permita que o povo palestino exerça seu direito à autodeterminação. IPS/Envolverde * Mairead Maguire recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1976 por suas ações para acabar com a violência na Irlanda do Norte. É membro-fundadora da Iniciativa de Mulheres Prêmio Nobel