A necessidade de repensar os modelos tradicionais explica o crescente número de respostas enunciadas em várias frentes, como a economia circular. Ela propõe, entre outros caminhos, um ciclo de produção planejado para a máxima reutilização das matérias-primas, sem desperdícios; ampliação do uso de fontes renováveis de energia; e a busca de soluções inovadoras com base no conhecimento já existente na natureza, o que ficou conhecido como biomimética....
1. Economia circular: a indústria em sintonia com o Planeta
André Coutinho
Não é fácil avaliar a dimensão de um movimento social ou econômico em formação. No
entanto, ao olhamos para o que hoje está sendo chamado de economia circular vemos um
conjunto expressivo de sinais apontando para sua expansão.
São muitos os motivos para que as sociedades do século XXI repensem suas formas de
produção industrial, as relações com o meio ambiente e a exploração dos recursos naturais
finitos.
A necessidade de repensar os modelos tradicionais explica o crescente número de respostas
enunciadas em várias frentes, como a economia circular. Ela propõe, entre outros caminhos,
um ciclo de produção planejado para a máxima reutilização das matérias-primas, sem
desperdícios; ampliação do uso de fontes renováveis de energia; e a busca de soluções
inovadoras com base no conhecimento já existente na natureza, o que ficou conhecido
como biomimética.
Evento recente realizado como parte da série Business Insights Group teve como tema a
economia circular e mostrou iniciativas, algumas já consolidadas, outras em implantação,
que estão ocorrendo no cenário mundial.
Em uma de suas vertentes, a economia circular vem criando metodologias que permitem
acompanhar e medir os ciclos de fabricação, sob a ótica de reutilização das matérias-primas.
Empresas como a consultoria italiana Matrec especializam-se nesses estudos. Ela
desenvolveu indicadores que quantificam os recursos utilizados em um produto industrial,
da entrada dos insumos na fábrica até o descarte final. Alguns, como a máquina de lavar, por
exemplo, são mais propícios para o processo de recuperação. O levantamento mostra que
para chegar a esse produto final são empregados 81,1 quilos de matérias-primas e, desse
total, 74,5 quilos (91%) podem ser reaproveitados com a abordagem da economia circular. O
passo inicial para as empresas ingressarem nesse aprendizado, salienta, é conhecer a
circularidade de seus produtos e saber quais recursos podem ser recuperados. Vale dizer
que pertencer a esse grupo dá aos fabricantes o valioso olhar de aprovação dos
2. consumidores.
A economia circular, assinala a Matrec, está no foco de atenção dos governos, como pode
ser visto pelo documento publicado pela Comissão Europeia em dezembro de 2015. O
relatório Closing the loop – An EU action plan for the circular economy ressalta que formas
de consumo inovadoras também podem apoiar o desenvolvimento dessa tendência. Por
exemplo, através do compartilhamento de bens e infraestrutura ou da transformação de
produtos em serviços.
Uma das pesquisas realizadas pela consultoria avalia o comportamento do consumidor
quanto à compra e uso de calçados, item de destaque mundial para a indústria italiana que,
em geral, após chegar ao fim do ciclo de vida não é reciclado. Isso significa que matérias-
primas nobres, como o couro, têm os “lixões” como destino final. Em determinadas
situações, identificou a pesquisa, o consumidor estaria propenso a alugar o calçado – para
uma festa, por exemplo – e não comprá-lo, ampliando assim o tempo de vida útil do produto,
enquanto gera novos tipos de negócios. A transformação de produtos em serviços já vem se
expandindo nos anos recentes em várias atividades como o uso de veículos ou de
equipamentos elétricos e eletrônicos.
Biomimética
Outra vertente da economia circular que promete ampliar o leque de inovações industriais e
tecnológicas é a biomimética. Trata-se de uma área de conhecimento que reúne biologia,
engenharia, design e planejamento de negócios. Com esses elementos ela reproduz as
soluções já existentes na natureza para criar respostas às necessidades dos mercados. A
adaptação depende da pesquisa científica, do emprego de uma metodologia adequada e de
estudos que traduzam o problema a ser resolvido, para o qual são identificadas as melhores
práticas existentes na natureza.
Hoje um número expressivo de universidades dos EUA, entre elas Harvard e MIT, têm áreas
dedicadas à biomimética, assim como empresas criam linhas de pesquisa de laboratório
voltadas para essa atividade.
3. Entre os exemplos já consagrados de desenvolvimentos feitos a partir do conhecimento da
natureza está o grande centro comercial de Harare, no Zimbabwe. Ele foi construído com os
princípios arquitetônicos dos cupinzeiros, adotando a refrigeração passiva, que armazena
calor durante o dia e o distribui durante a noite, dispensando o uso de ar condicionado. A
resposta se traduz em imóveis mais baratos e menores custos de manutenção.
Organismos marinhos, como os corais, foram fonte de inspiração para a Calera, da Califórnia,
produzir materiais de construção “verdes”. Com base na pesquisa, a empresa imitou o
processo como os organismos marinhos sequestram CO2 da natureza e o reproduziu, tendo
como resultado o carbonato de cálcio. O material, em forma de pó, tem várias aplicações,
como ser adicionado ao concreto usado pela indústria da construção civil. Algumas soluções
chegam a resultados que seriam vistos, algumas décadas atrás, como elementos de ficção
científica. Como o colante feito a partir da imitação das patas da lagartixa, “tecnologia” que
emprega milhões de fios microscópicos para aderir a uma superfície. Ou a tinta
autolimpante, cuja formulação química inspirou-se nas propriedades da flor de lótus, capaz
de permanecer seca e limpa mesmo em meio à lama. O mundo da biomimética expande
suas fronteiras e requer de pesquisadores e gestores um olhar diferenciado quando se trata
de inovação.
Outros tipos de abordagens vão se somando a esse grande guarda-chuva que tem o nome
de economia circular, e não há dúvida de que o movimento vai impactar nos próximos anos
a forma como fazemos negócios.
A Symnetics, através de sua área de inovação, tem trabalhado com esses novos insights
visando a melhoria de processos e ajudando os clientes a adequarem seus modelos de
negócio para o futuro.