1. Parte 2
-Charlie – Sussurrava Mary pertinho do ouvido dele, tentando acordá-lo delicadamente.
-Hum? – Murmurou Charlie, virando-se para o outro lado.
-Telefone pra você...
-Diz que estou dormindo.
-Quer que eu minta?
-Era o que eu estava fazendo antes de você aparecer – disse ele, num tom estupidamente
grosseiro.
-Já vai começar? – perguntou Mary saindo do quarto sem esperar pela resposta.
-Ei, espere! Quem é?
-É do banco, Charlie.
- Banco?
- Ah, não se faça de desentendido. Há três meses não pagamos as faturas dos cartões de
crédito. Fora o empréstimo que pegamos para quitar a prestação da casa. Lembra? – Sem
perceber, ela estava gritando.
- Ele ainda está na linha?
-Não. Ficou de ligar em dez minutos.
- O que me deixa com cinco minutos de soneca. – Charlie cobriu a cabeça com o edredom e
fechou os olhos. Não antes de ver Mary amarrar a cara e sair bufando do quarto
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- Sr Charlie Durckan? – Dizia uma foz irritante que Charlie já estava cansado de ouvir.
- Sim, Sr Dom, sou eu.
- O Dom está de folga, aqui é o...
- George! – Completou Charlie.
- Não, senhor. Sou Aurélio, do setor de cobranças.
“Lógico que é do setor de cobranças” – Pensou Charlie
- O motivo do meu contato é que consta no nosso...
- Ah, Aurélio... – Se fez de pensativo – Já ouvi esse nome em algum lugar... Já me ligou antes?
- Não, senhor. Como eu estava dizendo...
2. - Então, prazer.
- Prazer, senhor. Peço que não me interrompa novamente – e disse com a voz baixa, mas não o
suficiente para que Charlie deixasse de ouvir – Se não for pedir demais.
- É PEDIR DEMAIS SIM! – Gritou Charlie – NÃO É VOCÊ QUE ESTÁ DESEMPREGADO, CHEIO DE
DÍVIDAS, COM UM CASAMENTO FUDIDO E AINDA TEM QUE SUPORTAR UM MARIQUINHA TE
LIGANDO AS OITO DA MANHÃ NO SÁBADO COBRANDO A PORRA DE UM DINHEIRO QUE NÃO
TEM.
- Peço que se acalme senhor.
- HÃ? VOCÊ ESTÁ ME TIRANDO? SÓ PODE! FAZ UM FAVOR? LIGA OUTRO DIA. – E desligou.
Sentou no sofá e mal podia acreditar no que tinha acabado de acontecer. O Aurélio estava
apenas fazendo o trabalho dele, não tinha culpa do que estava acontecendo. E o que ele tinha
na cabeça para desabafar todos os seus maiores problemas com um cobrador de faturas?
- Você não precisava ter feito isso. – Falou Mary, que estava em algum lugar perto dele – O
homem não tem culpa...
Charlie se levantou.
- Mary, não precisa falar o que já sei.
- Só estava...
- Sendo chata! – Completou Charlie, que pegou as chaves do carro e saiu.