O documento apresenta uma entrevista com o bioeticista Peter Singer, que defende que: (1) o chimpanzé tem mais direito à vida do que um feto humano, pois é um ser autoconsciente ao contrário do feto; (2) as mulheres devem ter o direito de escolher fazer aborto até 20 semanas de gestação, período em que o feto não sente dor nem é consciente; (3) embora reconheça que o feto seja um ser humano, Singer não acredita que isso garanta automaticamente o direito à vida, que depende
1. Tema: Aborto
Texto Favorável ao aborto
“Quem tem mais direito à vida: um chimpanzé na floresta ou um feto humano no útero
da mãe?” Defensor do aborto, da eutanásia e dos direitos dos animais, Singer é um dos
bioeticistas mais polêmicos do planeta Herton Escobar escreve para “O Estado de SP”: "O
chimpanzé", responde, sem medo, o professor de bioético Peter Singer, da Universidade
de Princeton, nos EUA. "Só o fato de ser membro da espécie Homo sapiens não é
garantia de direito à vida", diz ele. Defensor do aborto, da eutanásia e dos direitos dos
animais, Singer é um dos bioeticistas mais renomados e polêmicos do planeta. Fala o que
muitos se atreveriam a pensar, mas jamais teriam a coragem de dizer. "Não acho que o
feto tem direito à vida porque ele não é um ser autoconsciente." Os chimpanzés, gorilas
e outros primatas superiores, por outro lado, são animais plenamente conscientes de sua
existência, diz o professor. Singer, inclusive, é um dos fundadores do Great Ape Project,
iniciativa internacional que busca garantir aos primatas os mesmos direitos básicos dos
seres humanos: vida, liberdade e proibição da tortura. Australiano, vegetariano e com
quase 60 anos, Singer é fundador da Associação Internacional de Bioética e autor de
Libertação Animal, de 1975, um dos livros mais influentes sobre o movimento de defesa
dos direitos dos animais. Na semana passada, esteve em SP para participar do Congresso
Pitágoras 2006 e falou a “O Estado de SP” sobre algumas de suas posições mais
polêmicas. Eis a entrevista com Peter Singer: - Há um projeto de lei no Congresso
brasileiro que visa a descriminalizar o aborto, hoje permitido apenas em casos de estupro
e risco de vida para a mãe. Qual a posição do senhor sobre isso? - Eu sou a favor de que
as mulheres possam fazer abortos quando desejarem. Especialmente se o aborto for feito
quando o feto ainda é incapaz de sentir dor. Minha preocupação maior é com a dor e o
sofrimento. Até 20 semanas de gestação, quando ocorre a maioria dos abortos, o feto
não está nem mesmo consciente por isso não acredito que tenha direito à vida. Por essa
razão, eu permitiria às mulheres escolher se querem fazer um aborto até esse período.
Após 20 semanas, eu ainda não seria completamente contrário, mas seria mais flexível à
adoção de restrições. - O que o senhor está dizendo certamente vai deixar muita gente
indignada. Imagino que deva receber muitas críticas por isso. - O conceito geral é o de
que se você é um ser humano, você automaticamente tem direito à vida. Esse é um dos
problemas com o debate do aborto: as pessoas que são contra dizem que o feto é um ser
humano e, portanto, tem direito à vida. Eu acho que a primeira parte está correta: o feto
é um ser humano. Mas não necessariamente a segunda. Não acho que o simples fato de
pertencer a uma espécie seja garantia de direitos morais; acho que você adquire direitos
morais pelo indivíduo que você é. Se você não é um ser autoconsciente, não acho que
tenha direito à vida. A idéia geral é, muitas vezes, religiosa: as pessoas acreditam que o
ser humano possui uma alma e que o homem é feito à imagem de Deus ou coisa desse
tipo. Acho que muitas das pessoas que criticam minhas opiniões são contra o aborto por
questões religiosas, mesmo que não usem esse argumento explicitamente. -
Considerando sua posição com relação aos primatas, então, seria correto dizer que o
senhor dá mais valor à vida de um chimpanzé do que à de um feto humano? - É verdade;
não nego isso. O chimpanzé é um ser autoconsciente. Os chimpanzés são capazes de se
reconhecer no espelho, eles demonstram pensamento e planejam o que fazem. Eu diria
até que têm um certo senso de moralidade na maneira como lidam uns com os outros.
Eles sofrem quando alguém próximo a eles morre. Portanto, é preciso reconhecer que os
chimpanzés têm um estado de vida mental e emocional que um feto não tem, porque seu
cérebro não está suficientemente desenvolvido. Então é verdade: eu diria que os
chimpanzés têm direitos que superam os de um feto humano. É claro que, normalmente,
o feto é algo que a mulher ama e deseja, e por isso ele merece nossa proteção. Mas se a
mulher não quer a gravidez, e você considera apenas os direitos do feto isoladamente,
acho que ele não tem direito à vida, enquanto o chimpanzé tem.
Fonte: http://www.medio.com.br/index.php?optiond=39 (Adaptação)