Este documento resume um texto sobre epistemologia e ciência da informação. Trata-se de um trabalho acadêmico de alunas do curso de biblioteconomia sobre o conceito de epistemologia e sua relação com a ciência da informação. Aborda definições de epistemologia ao longo da história e como diferentes pensadores contribuíram para seu desenvolvimento.
Estudo dirigido linguagens da indexação prof. kátia
Trabalho de epistemologia marta kerr 2º período
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS-ECI
DISCIPLINA: Fundamentos da Ciência da Informação
PROFESSORA: Marta M. Kerr Pinheiro
CURSO : Biblioteconomia – 2º Período -Noturno
ALUNAS: Elisete Sousa, Jaíro Rodrigues ,Regina Lúcia e
Rita de Cássia Gonçalves
EPISTEMOLOGIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
BELO HORIZONTE
2010
2. EPISTEMOLOGIA E EPISTEMOLOGIA DAS CIÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
O objetivo da pesquisa foi compreender o conceito de Epistemologia
disciplina autônoma
integrante da
como
Ciência da Informação. A história da filosofia
deu a conhecer algumas definições de Epistemologia e o entendimento das mudanças
paradigmáticas1 ,
assumindo acepções e análises diferenciadas pelos filósofos ,
cientistas e estudiosos .
Sendo a Ciência da Informação uma ciência contemporânea , bem jovem, se
comparada com outras ciências
busca ainda a sua identidade junto às várias ciências
que lhes são interdisciplinares . Em outras palavras, falta à Ciência da Informação um
estatuto epistemológico “reconhecido” .
Este trabalho é composto de dois momentos específicos, o primeiro momento
ocupou-se com algumas
explorou-se
definições de Epistemologia
. Num segundo momento
leituras de textos indicados que tratam da Epistemologia da Ciência da
Informação. Desde já , percebemos os limites nas abordagens por se tratar de um tema
complexo da „Epistemologia das Ciências Sociais‟.
2 EPISTEMOLOGIA
O termo Epistemologia , em inglês „ Epistemology‟ foi introduzido por J.F.
Ferrier (Institutes od Metaphysis, 1854 ) conforme
nos coloca ( ABBAGNANO,
ANTISERI, 1982) em seu dicionário de filosofia , “tratamento de um problema que
nasce de um pressuposto filosófico específico, isto é, no âmbito de uma determinada
diretriz filosófica” 2. Na Contemporaneidade, a teoria do conhecimento foi substituída
por outra disciplina, “Metodologia”, que analisa as condições e limites existentes “dos
processos de investigação e dos instrumentos lingüísticos do saber científico”. Neste
sentido entende-se que a metodologia é o “conjunto dos procedimentos metódicos de
uma ou mais ciências”, ou seja , este conjunto é produzido no interior de uma
1
DOMINGUES, Ivan. Epistemologia das ciências humanas. p. 51. “ O „termo paradigma‟ vem do grego
paradeigma e significa, em sentido próprio, modelo, ou exemplo”. Conforme sua descrição, sua proposta é
distinguir o termo “ paradigma” da palavra “modelo” e integrá-lo “método” . 671 p.
2
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia . p.169-170. Para o autor, o termo Epistemologia ou Teoria do
Conhecimento, no idioma francês , Gnosiologia , possui o mesmo significado, ou seja, não se trata de uma
“disciplina filosófica geral, como a lógica ou a ética ou a estética”.
1
3. disciplina científica ( comunidade científica ) e tem como objetivo garantir a eficácia
da técnicas de averiguação ou de controle que dispõem.
A Epistemologia, segundo uma definição básica , ( AURÉLIO, 1986):
“é o
estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas”3,
enquanto teoria objetiva “determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance
delas”. Notamos que o conceito ao evidenciar o alcance de cada ciência significa que
cada ciência possui o seu objeto de estudo bem como um método para nortear as
análises , pesquisas e toda fundamentação teórica. As ciências
se respaldam em
teorias e métodos pertinentes que possam ratificá-las enquanto ciência.
O paradigma é uma característica importante para a cientificidade, nos informa
( PORTOCARRERO,1994) referindo-se ao
salienta que o cientista não “se
termo de acordo com Thomas Khun ,
empenha em veicular uma definição unívoca”, porém
trata-se de uma definição elucidativa aquela em que “Paradigmas são realizações
científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem
problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes”4; um paradigma
é um conjunto teórico referencial que serve como norteador para uma comunidade de
pesquisa (científica) certificar-se quanto à veracidade daquilo que está sendo colocado
em questão, ou prova. Os membros de uma comunidade científica
trabalham
compartilhando suas pesquisas e tendo como orientador o modelo que é aceito pela
mesma comunidade, ou seja “ Ao aprender um paradigma o cientista adquire teoria,
métodos e padrões conjuntamente, formando uma mistura inextricável” , um consenso
entre as pessoas envolvidas que não se dissocia.
Os modelos teóricos aceitos como “ciências” foram se transformando a partir
de questionamentos , críticas , rupturas ou até mesmo agregando novos valores
surgidos no interior das “comunidades científicas”. Vimos que em grande parte, os
pensadores ou cientistas que proporam mudanças epistemológicas estavam ligados de
uma maneira ou outra aos conceitos que os antecediam.
A história da filosofia mostrou que foram muitos os caminhos percorridos por
pensadores no sentido de conhecer os fenômenos,
“como apreender o real”
(ARRUDA, 1993)5 . Os filósofos da Antiguidade e Idade Média já se perguntavam
3
AURÉLIO. Dicionário. P.673
PORTOCARRERO, Vera. Filosofia, história e sociologia das ciências : abordagens contemporâneas. p. 76.
272p.
5
ARRUDA , Maria Helena Aranha. In Filosofando. p.22
4
2
4. acerca do conhecimento, no entanto, a forma de conhecer achava-se “vinculada aos
textos de metafísica”. A Idade Moderna revoluciona e inaugura um método capaz de
conceder a
autonomia
da
epistemologia ,
momento em que
filósofos
como
Descartes, Bacon, Locke, Hume, lançam as bases da ciência moderna e finalmente
Immanuel Kant
, realizam suas indagações ,adotam procedimentos organizados,
sistematizados e obedecendo critérios: qualquer conhecimento lida com o problema da
verdade , a possibilidade do conhecimento e sua
abrangência , bem como a sua fonte .
Em seu texto, (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2001 ) se refere à epistemologia
como “estudo das possibilidades, origem, natureza e extensão do conhecimento
humano” 6, considera as condições e o que é possível conhecer. O conhecimento
científico pretende ser autônomo e legítimo – independente . Há entre as ciências ,
seja da natureza ou humanas uma “concorrência sobre a qual, entre todas elas, há de
ser reconhecida como porta voz de uma interpretação pública ”, ( Merton, citado por
SERRES,1990 ), na realidade quanto mais fragmentada, mais especializada e confiável
se torna uma ciência .
No contexto de Modernidade, a epistemologia estaria em condições de “definir
a verdade”.Os
procedimentos científicos geraram a crença em sua universalidade
ampliando-se como “modelo” a ser seguido por “todas as ciências particulares”7.As
Ciências Humanas (psicologia, sociologia, economia, história, lingüística,entre outras),
desenvolvidas ao longo do século XIX buscaram o seu “estatuto epistemológico”,
uma vez que
foram
impedidas de se consolidarem como “científicas” por não
atenderem às exigências do método científico.
A filosofia “positivista”8 tratou as ciências humanas de maneira semelhante às
ciências da natureza ( física, química, biologia, geologia, entre outras ) . Da mesma
forma, a Sociologia de Durkheim “partia do pressuposto metodológico de que os fatos
sociais deviam ser observados como coisas”9. A psicologia sofreu a influência do
positivismo e adquiriu o estatuto de ciência. Os positivistas lidavam com os fenômenos
humanos assim como se lida com fenômenos naturais – certamente desencadeariam
6
GONZÁLEZ DE GÓMEZ , M. N. In Revista - Perspectiva ciência da Informação: Para uma reflexão
epistemológica acerca da ciência da informação , Belo Horizonte. P.6
7
ARRUDA, Maria Lúcia Aranha, op.cit. p. 159.
8
Idem, p. 168: “O positivismo estabeleceu critérios rígidos para a ciência, exigindo que ela se fundasse na
observação dos fatos” .
9
Ibdem.
3
5. uma discussão e conseqüentemente uma “crise” se abateu sobre a ciência moderna,
afinal, a complexidade de que tratam as ciências humanas devem ser estudadas através
de métodos diferenciados.
Ao longo do século XIX e nos primeiros anos do século XX, o modelo científico
até então aceito e “reconhecido” passou a ser questionado , criticado e reavaliado por
novos pensadores: Carnap, Schlick, entre outros autores chamados de neopositivistas
do Círculo de Viena
10
, (REALE,
ANTISERI , 1991) nos coloca que Viena,
“constituía-se como terreno adequado para o desenvolvimento
das
idéias
neopositivistas”, uma vez que o liberalismo resultante da filosofia iluminista norteava
a política. Contudo, os chamados lógicos do Círculo de Viena privilegiavam “O
princípio de verificabilidade”, “excluíam a filosofia do domínio do conhecimento do
real” 11, consideravam como ciências “reconhecidas” , apenas a lógica , a matemática
e ciências empíricas. Assim como os cientistas modernos e os positivistas ,os lógicos do
Círculo de Viena
buscaram conhecer os fatos
apoiando-se num modelo que
consideravam ser o mais eficiente e científico , abriram espaços para críticas, rupturas
e abordagens diferenciadas.
Os cientistas sucessores dos lógicos ou neopositivistas , Popper, Kuhn, Lakatos,
entre outros são denominados pós-empiricistas . Para Popper, “ o cientista deve estar
mais preocupado não com a explicação e justificação da sua teoria, mas com o
levantamento de possíveis teorias que a refutem.”12
Em sua crítica , Popper que
chegara a ser “associado ao Círculo de Viena”13 nega a indução , o princípio de
verificabilidade, propondo que “a verdade do discurso científico é a condição de
refutabilidade” 14 , vale dizer que quando uma teoria é colocada em dúvida e resiste ,
ela é confirmada e aceita como detentora conhecimento real.
Para (CAPURRO, 2003) , Thomas Kuhn
utiliza o conceito de “paradigma:
como a palavra mesmo indica – do grego paradeigma = exemplar, mostrar (déiknumi)
uma coisa como referência (pára) a outra – o paradigma é um modelo que nos permite
ver uma coisa em analogia a outra. Como toda analogia, chega o momento que os
10
Círculo de Viena, 1924 : Reunião de filósofos que tratavam de assuntos pertinentes à filosofia. Ali se
discutia física, matemática e ciências sociais) .
11
ARRUDA. Op. Cit. p. 163.
12
Idem.
13
REALE, G. ANTISERI, D. História da filosofia. V. III. p. 1020.
14
ARRUDA, ibdem.
4
6. limites são evidentes, produzindo-se então uma crise ou, uma revolução científica, na
qual se passa de ciência normal a um período revolucionário e em seguida novo
paradigma.” Um paradigma é visto como modelo a ser seguido e respeitado por uma
comunidade científica , porém num dado momento ele enfrenta
mostrar a sua condição de permanência ou não , daí
situações que vão
cedendo para uma nova teoria. A
história registra os casos em que sistemas vistos e aceitos como únicos e verdadeiros
pelas instituições detentoras do saber legitimado são derrubados e substituídos por
outros, um exemplo é a teoria geocêntrica substituída pelo heliocentrismo.
A Escola de Frankfurt, fundada nos anos 20 do século XX elabora uma crítica
ao modelo paradigmático iluminista (razão instrumental ) . Filósofos como Adorno,
Horkheimer, Marcuse, e Benjamin representam uma nova postura frente à ciência ,
(ARRUDA, op. Cit. ) “trata-se do exercício da racionalidade científica, típica do
positivismo, que visa a dominação da natureza para fins lucrativos, colocando a
ciência e a técnica a serviço do capital” , em outras palavras, uma ciência dominadora
que promove a indústria cultural15. Horkheimer elabora
sociedade”, de forma
a “Teoria crítica da
que elementos como a opressão e a exploração pudessem ser
percebidas neste modelo vigente. O filósofo apontava para a necessidade de promover
o “teórico crítico cuja única preocupação consiste no desenvolvimento que conduza à
sociedade sem exploração”16 . (REALE, op. cit.) ressalta para o aspecto histórico da
criação da Escola de Frankfurt que assistiu “ ao desenvolvimento maciço, onipresente
e irrefreável da sociedade tecnológica” instaurada na Segunda Guerra Mundial. Nessa
perspectiva
é possível compreender o enfoque predominante ,seu caráter crítico e a
necessidade de uma filosofia e de uma ciência comprometida com o bem estar da
sociedade como um todo, . A Escola de Frankfurt despertou em alguns pensadores
uma reflexão, um repensar sobre as conseqüências de um sistema político, econômico
e social que de certa forma parecia se perpetuar.
Entretanto, como já foi salientado as
investidas científicas se perpetuam ,
renovam ou se rompem à medida em que o modelo científico
predominante já não
consegue satisfazer à comunidade científica e responder adequadamente às questões
15
O conceito em questão merece um estudo aprofundado que não temos como fazê-lo aqui. A pesquisa se
limita em mostrar alguns momentos históricos da Epistemologia e o seu desenvolvimento. Como tal, pode-se
perceber que os filósofos de Frankfurt tecem uma crítica ao “modelo” de ciência instituído e legitimado até o
momento.
16
REALE, op. cit.p. 839.
5
7. propostas. No entanto, comunidades científicas chegam a inibir qualquer situação que
possa desviar-se de suas orientações pré-estabelecidas.
Pois bem, (CAPURRO, op. cit, p. 5) esboça que
o século XX também é
responsável pela emergência de um modelo interpretativo de ciência : a hermenêutica de
Hans-Georg Gadamer “indica uma distinção e uma conexão entre verdade das ciências
do espírito , e o método das ciências naturais” , ou seja, “permitem manter aberto o
sentido da verdade histórica própria da ação e pensamentos humanos , enquanto que o
método das explicações causais somente poderia aplicar-se a fenômenos naturais
submetidos exclusivamente a leis universais e invariáveis”. Vejamos: “Ciências do
espírito” são aquelas que se voltam para “gênero humano” como a história, a
economia política, as ciências do direito e do Estado, a ciência da religião, o estudo da
literatura e da poesia, da arte, música, das instituições do mundo e dos sistemas
filosóficos, psicologia”17. O que entendemos nessa abordagem interpretativa é que os
pensadores citados separam o objeto próprio das ciências naturais do objeto das
ciências humanas, uma vez que eles são diferentes e não podem ser vistos, analisados
e compreendidos pelo mesmo método.
Buscar um paradigma único que compreenda objetos díspares é uma investida
que se mostra incompatível na visão de Capurro, embora tais discussões tenham
permeado a ciência da informação bem como a tecnologia da informação .
3 EPISTEMOLOGIA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
3.1 O PARADIGMA FÍSICO
Em se tratando da Ciência da Informação, ( GONZÁLEZ DE GÓMEZ.op. Cit )
em seu texto nos coloca a dificuldade de demarcar as fronteiras , o campo de atuação
da mesma, afinal a informação é “componente principal”
em todas as ciências . A
autora nos diz em sua introdução “a informação designa um componente principal da
construção epistêmica das sociedades contemporâneas, sua definição é disputada em
múltiplas arenas metadiscursivas”, um verdadeiro campo de batalhas travado entre as
disciplinas para apoderarem-se de um arcabouço tão precioso.
A informação é o
elemento importante para as ciências fazendo valer o fato de que é pela informação que
seres humanos aprendem e conhecem os diferentes fenômenos existentes e são capazes
17
REALE. Op. cit. p. 457, referindo-se a Dilthey e a Fundamentação das ciências do espírito.
6
8. de identificar, conceituar e até mesmo
questioná-los.
Pois bem,
qual seria a
cientificidade da ciência da informação?
A história da ciência da Informação reconhece três “modelos” distintos, ou
seja, os paradigmas que a estruturaram desde o primeiro momento. Para González de
Gómez, a ciência da informação atende a variantes, ora se respalda como “ciência
empírico-analítica”, em outras palavras algo muito técnico , às vezes como “metaciência” e num terceiro momento abraça o pluralismo , assim como a contextualização
presente nas ciências sociais; entendemos que trata-se primeiramente do “modelo
físico”, baseado numa “epistemologia fisicista” exposto por (CAPURRO, op.cit) , que
significa em outras palavras, há um emissor e um receptor da informação e
as
condições onde se dá a transmissão da mensagem não sofrem influências que possam
perturbá-la, uma vez que “inicialmente a informação foi pensada como sendo da
ordem do previsível, do programável, do domínio da aplicação do cálculo”
(LEVY,1995). A discussão ao nosso entender é o fato de que as raízes embrionárias
da ciência da informação tangem“ ao desenvolvimento científico e tecnológico
proveniente dos esforços da Guerra dos anos 30” (PINHEIRO,1995) . A ideia de
progresso estava centrada
no acúmulo entre ciência e tecnologia.O momento assiste
uma verdadeira explosão informacional técnica e dar conta desse fluxo exigia um
conhecimento dotado de postulados e procedimentos válidos.
Quanto ao usuário, o modelo fisicista não lhe dá representatividade, ele era
passivo diante da informação.
O
postulado
de
ciência moderna privilegiava a
quantificação da informação excluindo o usuário enquanto sujeito pensante, ativo e o
colocava simplesmente como “receptor” da informação , os “aspectos semânticos e
pragmáticos são descartados por Shannon”,
(CAPURRO, op.cit.). O contexto era
ignorado uma vez que a mensagem deveria ser transmitida a um receptor. Haveria
contudo uma “fórmula” sugerindo uma “codificação”,
sinais são transmitidos e
captados por um receptor totalmente desprovido de um contexto.
3.2 O PARADIGMA COGNITIVO
O segundo paradigma da Ciência da Informação é o paradigma denominado
Cognitivo. Trata-se também de um modelo que sustenta pontos “reducionistas”, por
neglicenciar em suas premissas os “condicionamentos sociais e materiais do existir
7
9. humano” 18, valorizando somente os aspectos cognitivos e práticos da informação que
tem como objetivo solucionar problemas do sujeito cognoscente . A este González
de Gomes denomina “Meta-ciência”, algo que vai além do aparato científico, técnico e
se utiliza de uma interpretação, que é feita por um sujeito: aquele que precisa conhecer
. Este modelo critica o modelo anterior ao excluir o usuário , contudo , os paradigmas
não se desgastam totalmente, pelo contrário até se complementam .
No paradigma cognitivo nota-se
que a percepção, ou seja, a aquisição do
conhecimento pelo sujeito cognoscente é o elemento primordial , pragmático, capaz de
alterar o comportamento daquele que busca a informação .
Em seu trabalho,
(ALMEIDA, 2007) esclarece que o modelo cognitivo “considera os modelos mentais
dos usuários, utilizando abordagens cognitivas – centradas no processo interpretativo
do sujeito cognoscente” 19, e para isso há um resgate, o do usuário ainda que de uma
forma pouco significativa , uma vez que o contexto de vida do indivíduo não é
relevante .
3.3 O PARADIGMA SOCIAL
O terceiro paradigma da Ciência da Informação vai traçar pressupostos que
valorizam o ser humano em sua integridade. O contexto do usuário e a linguagem são
elementos considerados importantes assim como a sua subjetividade, elementos que
até então não eram reconhecidos pelos modelos paradigmáticos anteriores.
O paradigma social é fruto da hermenêutica, uma vez que há todo um
procedimento interpretativo objetivando alcançar
uma determinada comunidade e
seus integrantes.
Citado por (MARCIAL, Elaine, 2007) “Shera, em 1972, foi o primeiro autor a
utilizar o o termo epistemologia social, ao defender que não se podem conhecer os
processos intelectuais da sociedade somente com o estudo do indivíduo, isolado da
cultura e da sociedade em que está inserido”20 , percebe-se uma preocupação cultural
e sociológica do indivíduo, antes visto apenas como sujeito cognoscente destituído de
18
CAPURRO, V Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, Belo Horizonte, 2003. p.11
ALMEIDA, Daniela. Professora Assistente do Departamento de Ciência da Informação da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade estadual Paulista - UNESP – Campus de Marília. Doutoranda do
Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP –
Marília. In Revista Eletrônica Informação e Cognição.
20
MARCIAL, Elaine e outros. VIII ENANCIB, Salvador. GT 1 – Estudos Históricos e Epistemológicos da
Informação Comunicação oral.
19
8
10. valores, analisado individualmente. Capurro nos informa que foi o dinamarquês Birger
Hjoland em conjunto com Hanne Albrechtsen quem desenvolveu pioneiramente um
“paradigma social-epistemológico , no qual o estudo de campos cognitivos está em
relação direta com comunidades discursivas, com distintos grupos sociais e de trabalho
que constituem uma sociedade moderna”21; existe uma informação que é feita e
comunicada entre grupos de pessoas que determinam o que é importante ou não. As
comunidades agem de acordo com o que selecionaram, seu modo de vida, préconhecimento
. A informação sob este paradigma ultrapassa o caráter físico de um
“algoritmo ideal” com bases tecnológicas , o que vale dizer que todo o conjunto
informacional não é um fim em si mesmo, tende para os objetivos e necessidades de um
grupo em uma determinada comunidade num dado momento .
A argumentação de Capurro
“em um sistema de informação os dados
registrados são concebidos por um usuário que desempenha papel ativo em um
contexto cultural, que lhe permite armazená-lo, recuperá-lo e interpretá-lo. Não se
pode separar o indivíduo da sua cultura, sendo assim, não se pode estudar os
fenômenos de interesse da Ciência da informação sem considerá-los inseridos em uma
sociedade”22 , informação e conhecimento tendem para a ação e isso só é possível em
ambientes compartilhados, caso contrário a comunicação não será concretizada.
4 CONSIDERAÇÕES
Ao finalizar
percebe-se
que a ciência está em constante movimento e por
vezes é alterada em suas bases. Causa incômodo? Certamente. Para aqueles que
defendem as teorias e acreditam
que poderão resistir às provas e manter-se
inquebrantáveis. Porém, algo deixa bastante claro a noção de paradigma ( modelo).
Trata-se de um norte a ser seguido pela ciência enquanto tal e dura por anos em alguns
casos , o modelo „Aristotélico‟ é um exemplo mantido, pela Igreja Católica durante
a Idade Média.
A desconstrução de um paradigma é conflitiva e pode causar uma verdadeira
revolução, muita coisa precisa ser feita e talvez em vão; existem mecanismos muito
particulares que reagem para proteger o modelo em vigor , ratificando (corroboram) e
21
22
CAPURRO. Op.cit. p. 13
MARCIAL, op.cit.p.3
9
11. não permitem mudanças. A história nos lega alguns nomes de pensadores que se
viram em situações complicadas por questionarem dogmas , modelos vistos como
únicos aceitáveis.
A Modernidade é o período histórico que inaugura a epistemologia como
disciplina autônoma formalizando o método científico pautado na racionalidade e
experimentação, com a adoção de
procedimentos organizados, sistematizados e
obedecendo critérios. O Iluminismo deu
continuidade ao processo iniciado pelo
Renascimento, porém, assistirá a críticas promovidas por pensadores “pós modernos”
que rebuscam os significados e o alcance do racionalismo iluminista.
O objetivo dos paradigmas é manter-se inalterados , inabaláveis, legítimos;
porém o caminhar científico aponta que existem
alcances pré-determinados pelas
ciências, afinal uma ciência sozinha não dá conta de todo o conhecimento e de todos os
fenômenos. No caso da ciência da informação, vimos que três paradigmas norteiam o
trabalho do cientista da informação.
Surgida nos anos 30 do século XX , a ciência da informação não escaparia ao
modelo fisicista . Este paradigma é inerente às ciências naturais , foi amplamente
divulgado pela ciência como legítimo portador da cientificidade – no caso, da ciência da
informação
destituiu o usuário como sujeito ativo e pensante
valorizando
a
informação como “coisa”, um emissor, uma mensagem e um receptor.
O segundo modelo da ciência da informação é o cognitivo que fez críticas ao
modelo fisicista, mas que também não levou em consideração certas particularidades
do sujeito, como por exemplo, o contexto na qual o sujeito está inserido. O paradigma
cognitivo realiza novidades quando percebe o indivíduo como “sujeito cognoscente”,
trata-se de um indivíduo que precisa e deseja conhecer .
O terceiro paradigma da ciência da informação é denominado “Social”, uma vez
que este modelo resgata o sujeito e o seu mundo vivido, suas particularidades e lhe dá
um alcance interpretativo, hermenêutico. Os textos lidos , entre eles , GONZÁLEZ DE
GÓMEZ, mostraram-se esclarecedores para a compreensão dos instrumentos próprios
da tecnologia em consonância com os interesses de informação dos usuários. Capurro
diz que a ciência da informação figura “entre a utopia” de uma linguagem universal e
a “loucura” de uma linguagem privada. Tais considerações fazem do paradigma social
10
12. um modelo relevante para a sociedade contemporânea que prioriza a informação como
algo que tende para uma finalidade , em outras palavras ,
o interesse e as
necessidades dos usuários.
O paradigma social da ciência da informação é ao nosso ver significativo à
medida em que se ocupa de uma realidade informacional
construída por grupos,
comunidades de pessoas que fazem da informação recebida um instrumento
transformador das atividades humanas
presentes nas mais diversas áreas
do
desenvolvimento humano .
5 REFERÊNCIAS
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Revista Eletrônica Informação e Cognição. In: Paradigmas
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DOMINGUES, Ivan.
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GONZÁLEZ DE GÓMEZ , Maria N. Perspectiva ciência da Informação. In : Para uma
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PORTOCARRERO, Vera (org.). Filosofia, História e Sociologia das ciências: Abordagens
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REALE, Giovanni . ANTISERI, Dario. História da filosofia: Do Romantismo até nossos dias.
V.3. São Paulo: Paulinas, 1991 (Coleção Filosofia). p. 457, 839, 1020. 1113p.
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