2. O nosso quarto
é um “barato”,
parece desenho
do gato e o rato.
Sobre a mesinha
tem quebrada uma TV
e foto do Elvis
olhando para você.
3. Tem palhaço
com expressão de solidão
e, na parede,
palavrão em alemão.
A janela, sem vidraça,
é duto da ventilação,
e teu corpo sobre a cama
labirintos da emoção.
São armadilhas pelo quarto,
tuas roupas, sobre a porta, penduradas
e meus sapatos jogados pelo chão.
Da parede, como no passado,
um Cristo em Cruz irradia seu perdão.
4. Na anarquia meus desejos
se perdem nos labirintos da emoção
e dedos, bocas, pelos, o todo inteiro
sai a galopar pela paixão.
O nosso quarto
é um “barato”.
Tu és a gata
e eu o rato.
5. A seguir a crônica “intimidade Matrimonial” amplia e conta um pouquinho da história da canção “Quarto de Casal”.
Caso seja de interesse é só utilizar o ratinho
IMAGENS DO ARQUIVO PESSOAL E DOS SITES:
biubi.com.br;
quintacumieira.com.br;e
depressaoepoesia.com.br
6. Sem a existência dos casais não existiria o espaço que contém os registros
de suas intimidades. No quarto os registros da convivência mais íntima
entre um homem e uma mulher.
Nossos avôs diziam que, quando um não quer, dois não brigam...
Convivência íntima entre homem e mulher é desse jeito. Para ter
continuidade precisa de muita compreensão, pelo menos de um dos
parceiros.
É o quarto que revela algumas características do casal e do seu
relacionamento, era o que costumava afirmar Luís Fernando, psicólogo e
pesquisador sobre o tema.
Certa vez, para testar se os conhecimentos do psicólogo funcionavam na
prática, convidei-o para diagnosticar sobre um casal amigo, cujas
características eram muito bem conhecidas por mim, pelo fato de gozar
da amizade do casal há muitos anos.
Após visita restrita ao quarto do casal, sem a presença dos dois, Luís
Fernando, antes de elaborar e entregar-me seu diagnóstico, pediu para que
confirmasse se a mulher dormia do lado direito e se os filhos já tinham
mais de doze anos.
7. Com a leitura do documento percebi que o pesquisador acertara em
cheio. Seu diagnóstico era, aproximadamente, o seguinte:
“o marido é inábil para pequenos consertos domésticos e muito relaxado
com as coisas de casa, pois o interruptor do abajur e a porta do guarda-
roupa funcionam muito mal; alguns módulos da janela encontram-se com
as vidraças quebradas e sobre a mesinha existe uma TV quebrada.
É muito difícil para a mulher compreender a inabilidade do marido para
pequenos consertos domésticos e o relaxamento para com as coisas de
casa.
No casal observado, em que a mulher tem origem em terra de idioma
alemão e deve ter nascido nos princípios da década de 40, a insatisfação
feminina está demonstrada claramente por um pequeno quadrinho de
parede com palavrão em alemão e um único retrato em todo o quarto, o
do ídolo Elvis.
As vidraças do quarto devem ter sido quebradas pelos garotos, quando
brigavam ou faziam travessuras dentro do apartamento. Provavelmente,
o marido, ainda hoje, apesar de um dos filhos já ser adolescente, deve
continuar justificando-se, usando os filhos como desculpa: “não adianta
fazer nada para casa, porque as crianças vão sujar e destruir tudo”.
8. Finalizava seu diagnóstico afirmando: o casal não é religioso. Apesar de
cristãos, pelo crucifixo no alto da parede frontal à cama e, também por
outra imagem de Cristo na cabeceira do leito, não são religiosos. Se
fossem evangélicos, certamente, existiria uma bíblia e, se católicos, a
imagem do santo protetor.
A mulher questiona sobre os mistérios da vida, pois tem como livro de
cabeceira o “Livro dos Espíritos” de Alan Kardec, enquanto o marido
acalma suas dúvidas no “sedativo”, encontrado junto a um de seus livros
técnicos.
Compreendi que o analista de quartos de casal compreendera muito mais
a dinâmica do casal do que eu com convívio de tantos anos.
Senti-me na obrigação de fazer alguma coisa para ajudar meus amigos.
Tinha certeza sobre o amor de um pelo outro.
Achei por bem atingir o marido, entendera que era o elo mais vulnerável
da relação.
Tinha pleno conhecimento de que livros técnicos ou científicos e fazer
rimas eram dois de seus maiores interesses. Convidei-o, então, para um
papo de botequim, sugeri que fizesse rimas sobre o seu quarto e
emprestei-lhe o livro “O Tao da Física”, aconselhando-o que lesse com
muito carinho.
9. O livro ainda não foi devolvido, entretanto recebi uma cópia das rimas,
“Quarto de Casal”.
“Quarto de Casal” é uma fotografia, tirada com a lente das rimas, do
espaço mais íntimo do lar, o quarto, onde se registram o “barato” da
convivência de um homem e de uma mulher.
10. O livro ainda não foi devolvido, entretanto recebi uma cópia das rimas,
“Quarto de Casal”.
“Quarto de Casal” é uma fotografia, tirada com a lente das rimas, do
espaço mais íntimo do lar, o quarto, onde se registram o “barato” da
convivência de um homem e de uma mulher.