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Dezembro.2008
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc
Primeira.Pauta73Distribuição Gratuita
Joinville.SCDezembro de 2008
Os diferentes modos de
viver na terceira idade
A proporção da população idosa cresce
a cada ano em Joinville. Só nos últi-
mos 20 anos o aumento de pessoas
acima de 60 anos foi de 151%. Entre
experiências de vida e histórias para
contar, a última etapa da vida é en-
caradadediferentesformas.Enquanto
alguns sofrem com o abandono, ou-
tros buscam na convivência o conforto
para enfrentar os obstáculos impostos
pela chamada terceira idade.
Páginas 6 e 7
Um olhar sobre
a Primeirona
Na final do campeonato amador
de futebol de Joinville, que ocorreu
no domingo (17), na Arena, nos-
sos repórteres observaram as pecu-
liaridades da partida entre Serrana e
Grêmio Krona. Página 11
Apesardalotação,asdetentasfazem
de tudo para tornar o ambiente hu-
manizado no presídio. Algumas
criam os filhos no local, que abriga
95 presas, mas tem capacidade de
apenas 35. Página 9
Ala feminina
está superlotada
ComportamentoFoto:CharlesFrançaFoto:PatríciaDebortoli
Foto:FabianeBorges
Dezembro.2008
Acordei assustado no meio da
noite. Desciam pelo corpo cala-
frios transportados por gotas de
suor. Foi uma espécie de ânsia
protagonizada por eu mesmo.
Desorientado e sem nenhuma
excitação nervosa exterioriza-
da, descansei um pouco mais.
Levantei e fui ver o que estava
passando na TV — mais um da-
queles programas religiosos em
que o pastor afirma ter feito mi-
lagres e depois passa o número
da conta e agência bancária.
Desliguei-a. Confesso, estava
quase emocionado.
Regressei à cama e me envol-
vi entre travesseiros deformados
e lençóis perfumados de maro-
fa. Mirei para o teto descobri de
onde viria uma lendária goteira
que escorria entre o vão da pa-
rede e o guarda-roupa, que sem-
pre fica com as portas abertas
para sair um pouco do cheiro de
mofo. Num momento desenha-
va todo o teto, confundia-o com
as nuvens de algodão — o tom
escuro decorrente do teto embo-
lorado me dizia que a previsão
era para tempo ruim. A janela,
na qual eu fixava olhares sobre
os pregos enferrujados pela ma-
resia, estava estranhamente no-
doada. Zangou-se com a limpe-
za. A umidade salobra a deixava
embaçada.
Levantei vagamente da cama,
caminhei até a sala, e sentei no
antigo sofá, abrigo caseiro dos
cupins, formigas e pequenos co-
leópteros. A estante: escudo de
minhas idéias. Abriga livros per-
furados por traças, edições ama-
reladas do Primeira Pauta, CDs
riscados e fotografias foscas de
uma era sapiens. Há um gran-
de amigo escondido naquela es-
tante, dentro de alguma página
perdida. O conselho certo para
a hora certa. Olhos cansados:
fechei-os. Imaginei o teto: dife-
rente, tom mais fosco, como se
agora estivesse limpo, com algo
esculpido a qual não decifrei
(poderiam ser as cavidades con-
seqüentes do mau reboco). Na
estante: somente um livro. Não
me contive, fui crê-lo. Sem co-
dinome e progenitor, teor nulo.
Progredi o processo de osmose
cerebral misturado à ressaca da
noite passada. Ganharam for-
mas as letras, aos poucos.
Minha lupa direcionada trin-
cava-se. Li-as. Retornei à cama.
Aspirei e transpirei em meu so-
nho. Despertei suado. Acendi
um cigarro barato e digeri um
café adormecido. Tranqüilizei-me
pouco mais. De volta ao velho
sofá liguei novamente a TV, que
insistia em apresentar chuvisco
e ruídos. Olhei para a geladeira
Cônsul modelo 1984, cor azul
desbotado: estavam lá um ca-
lendário e a conta de água e luz,
empenhadas. Pautaqueoparéu!
Novembro! Preciso trabalhar!
Associação Educacional
Luterana Bom Jesus/Ielusc
Coordenação do Curso de
Comunicação Social -
Jornalismo
Prof. Dr. Samuel Pantoja Lima
Professor responsável
Juciano Lacerda - MTB 1177 JP/PB
Luis Fernando Assunção - MTB 7856/RS
Disciplina
Produção e Difusão em
Meios Impressos II
Edição 73
Dezembro de 2008
Diagramação
Ariane Olsen, Cláudio Costa, Pedro H. Leal
e Tiago dos Santos
Coordenação de Produção
Alexandre Perger e Eva Croll
Edição de Textos
Carolina Wanzuita, Guilherme Cardoso,
José Eduardo Calcinoni, Jouber Castro e
Rayana Borba
Fotografia e Edição de Imagens
Charles França, Fabiane Borges, Felipe
Silveira e Patrícia Debortolli
Impressão
Jornal A Notícia
Tiragem
2 mil exemplares
Contato com a redação
Curso de Comunicação Social -
Jornalismo.
Rua Princesa Isabel, 438, Centro. Caixa
Postal: 24 - 89201-270
Joinville/SC
Telefone
(47) 3026-8000
E-mail
primeirapauta.ielusc@gmail.com
Os artigos publicados não
refletem necessariamente a opinião do
Primeira Pauta.
Primeira.Pauta
Jornal Laboratório do Curso de
Comunicação Social
Jornalismo
Dezembro.2008
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc
Primeira.Pauta73Distribuição Gratuita
Joinville.SCDezembro de 2008
Os diferentes modos de
viver na terceira idade
A proporção da população idosa cresce
a cada ano em Joinville. Só nos últi-
mos 20 anos o aumento de pessoas
acima de 60 anos foi de 151%. Entre
experiências de vida e histórias para
contar, a última etapa da vida é en-
caradadediferentesformas.Enquanto
alguns sofrem com o abandono, ou-
tros buscam na convivência o conforto
para enfrentar os obstáculos impostos
pela chamada terceira idade.
Páginas 6 e 7
Um olhar sobre
a Primeirona
Na final do campeonato amador
de futebol de Joinville, que ocorreu
no domingo (17), na Arena, nos-
sos repórteres observaram as pecu-
liaridades da partida entre Serrana e
Grêmio Krona. Página 11
Apesardalotação,asdetentasfazem
de tudo para tornar o ambiente hu-
manizado no presídio. Algumas
criam os filhos no local, que abriga
95 presas, mas tem capacidade de
apenas 35. Página 9
Ala feminina
está superlotada
Comportamento
Foto:CharlesFrançaFoto:PatríciaDebortoli
Foto:FabianeBorges
Editorial
Afinal, quem lê o Primeira
Pauta? Nossos pais, irmãos, pa-
rentes e amigos, nós sabemos:
lêem pelo menos os títulos e co-
mentam as fotos. Contudo, o que
fazem com o PP as pessoas que o
recebem em suas caixas de cor-
reio e no pára-brisa de seus car-
ros? Recebemos, ao longo desse
semestre, apenas um e-mail: um
leitor reclamava da ausência da
foto de Darci de Matos na maté-
ria sobre os gastos de campanha.
No mais, apenas nossa caixa de
spam esteve lotada. Nenhuma
reclamação. Nenhuma sugestão.
Nenhum processo judicial. Esta-
mos cumprindo nosso papel? Es-
tamos fazendo valer nosso com-
promisso com o jornalismo de
conflito, que mostra o que nin-
guém quer mostrar e diz o que
ninguém fala?
Fazemos um jornal, mas não
somos jornalistas em tempo in-
tegral. Nossas atividades conso-
mem, em média, oito horas por
dia. Pensamos no PP assim que
acordamos, na hora do almoço e
depois da hora da aula.
Com as férias, podemos pen-
sar mais sobre o PP. Podemos
pensar em fazer um jornal me-
lhor, mais crítico. Podemos pen-
sar em sair de nosso marasmo na
escolha de pautas e na maneira
de executá-las. Podemos tentar
fugir da preguiça ou do cansaço.
Podemos mudar. Até 2009.
Futilidade do mês de novembro
José Eduardo Calcinoni
Charge - Lorena
02 P.P
Cultura
Dezembro.2008
A duras penas
Pesquisa revela que 14% dos jovens lêem
Uma das heranças mais co-
nhecidas no sul do Brasil é as-
sociada aos açorianos: a cultu-
ra do boi-de-mamão. O boi de
brinquedo, de tamanho idênti-
co ao animal original, é con-
feccionado em madeira e pano
e adornado com tecidos colo-
ridos. A encenação representa
a morte do animal, ressuscita-
do depois por um curandeiro.
É composta por um bailado
contagiante regido ao som de
triângulos, caixa clara, surdo,
pandeiro e violão.
Em 1748, cerca de seis mil
moradores do arquipélago
dos Açores desembarcaram
no litoral sul do Brasil. Com
influência de índios, negros e
europeus, sobretudo os aço-
rianos, o boi-de-mamão traz
em seu contexto uma série de
elementos que remetem à his-
tória da colonização, as lendas
dos antepassados e a religiosi-
dade da região. Foram incor-
porados, também, outros ele-
mentos derivados da cultura
açoriana e de outros costumes
do litoral, como o Bernúncia,
um boneco de pano que lem-
bra um dragão ou uma cobra,
e a Maricota, boneca alta e ro-
busta que lembra as coloniza-
doras alemãs.
Segundo o historiador e
museólogo Gelci Coelho, a
explicação mais conhecida
para o nome boi-de-mamão é
a de que, na falta do material
para confeccionar a cabeça do
boi, os adeptos utilizavam um
mamão.
O livro mais lido pelos brasileiros é a Bíblia, seguido de O Sítio do Pica-Pau Amarelo e Chapeuzinho Vermelho
Juliano Reinert
Tolkien, pioneiro da literatura
fantástica dizia: “[Criei] um mun-
do secundário no qual sua mente
pode entrar. Dentro dele, tudo o
que se relatar é ‘verdade’”. A fra-
se do autor britânico faz referên-
cia à sua obra fantasiosa – “O se-
nhor dos anéis” –, mas pode ser
usada para ilustrar o que é a lite-
ratura. Educadores acreditam que
a máxima “ler é entrar no mundo
da imaginação” é verdadeira. A
afirmação condiz com a recente
pesquisa sobre o comportamen-
to literário no país, “Retratos da
Leitura no Brasil”. Na pesquisa,
63% dos brasileiros se afirmam
leitores por achar a atividade
prazerosa. Parece animador, mas
a leitura ocupa somente o 4º lu-
gar no ranking dos passatempos.
Na frente está a televisão, se-
guida da música e do descanso.
Em Joinville, as escolas mu-
nicipais participam de atividades
do Instituto Ayrton Senna desde
2000. Na escola Pedro Ivo Cam-
pos, exercícios de incentivo à
leitura são freqüentemente ado-
tados pelos professore. Às sex-
tas-feiras, por volta das 16h30, a
escola pára as aulas para se de-
dicar exclusivamente à leitura. O
projeto “Mala do Saber” é um ro-
dízio entre as turmas da Educação
Infantil. Tanto professores quanto
alunos usufruem do acervo da
mala para um contato lúdico com
os livros. A supervisora Silvana
Terezinha Gomes atribui o su-
cesso das atividades à mudança
na forma de pensar. “Se alguém
estivesse lendo em sala, diziam
que estava matando aula. Hoje,
a prática é incentivada”, conta.
A pesquisa ainda apresen-
ta os livros mais importantes na
vida dos brasileiros: “Bíblia”,
“O Sítio do Pica-Pau Amarelo”,
“Chapeuzinho Vermelho”, “Harry
Potter” e “O Pequeno Príncipe”.
Público-alvo
Na Midas, a contação de histó-
ria atrai as crianças. “É ali que co-
meçam a se formar leitores”, diz
Rosimeri. E enquanto as crianças
ouvem histórias, os pais andam
pela loja. “É estratégico”, confes-
sa. Já na Livrarias Curitiba, a ven-
dedora Neuza Moraes, diz que o
alvo são adultos com mais de 30
anos, os maiores compradores.
No Sebo, Silvana brinca: “a gen-
te atira para todos os lados. Não
temos um público específico, até
porque não há preconceito com
livros. Tem tudo aqui”. Nas três
situações há unanimidade: os
jovens lêem pouco. “Muitos dos
que procuram a loja é por obri-
gação”, analisa Silvana. A pes-
quisa do Instituto Pró-Livro revela
que na faixa etária de 18 a 24
anos, apenas 14% são leitores.
Apresentação do boi-de-mamão diverte público
Foto:Divulgação
Foto:FelipeSilveira
No bairro Rocio Grande, em
São Francisco do Sul, o grupo
folclórico 25 de Dezembro se
dedica a divulgar a cultura
açoriana e o boi-de-mamão
há mais de 30 anos. Jackson
Alves, de 22 anos, participa
do grupo desde os 12. Seu
pai é um dos coordenadores
e, juntamente com a família,
organiza as apresentações. O
grupo é formado por quarenta
pessoas. Entre suas apresenta-
ções, se destacam a dança do
pau-de-fitas e a encenação do
boi-de-mamão.
Jackson conta que a dança
do pau-de-fitas teve origem na
Ilha dos Açores e é uma come-
moração à fertilidade da natu-
reza. Como o inverno é muito
rigoroso na Europa, as árvores
perdem todas as folhas. Com
a chegada da primavera, era
escolhida a árvore mais bonita
do local e penduradas tranças,
laços e fitas, depois dançavam
em sua volta. A dança do pau-
de-fitas também é conhecida
em todo o estado.
Na encenação do boi-de-
mamão, o grupo de São Fran-
cisco do Sul tenta recontar a
história da morte e ressurrei-
ção do boi, além de mostrar
outros personagens como o
Cavalo-Marinho, a Onça e o
Barão. A preservação da cul-
tura do boi-de-mamão é im-
portante para resgatar valores
e manter a história de uma
comunidade. No final de no-
vembro o grupo se apresenta
na XVa Açor - Festa da Cultura
Açoriana em Santa Catarina,
que acontece do dia 28 ao dia
30 no Centro de Eventos Itajaí
Tur, em Itajaí.
Apresentação já é tradição de família
Daniela de Tofol
Boi-de-mamão
resgata cultura
P.P 03
Cultura
Dezembro.2008
Para sair do terminal urbano há ponto certo: catracas determinam o único lugar para escapar do caos
No motor da grande cidade
É raro alguém ser percebido em meio a correria nos ônibus e terminais de Joinville
Camila Prochnow
Os pedintes: muitos, de todas
as idades, sexos e necessida-
des. Desde os bilhetes entregues
mão à mão até os produtos que
vendem em troca de caridade.
Usam de diversas técnicas para
atrair aqueles que já
não estão atentos ao
turbilhão de coisas à
sua volta. Num gesto
automático retiram
da carteira a primei-
ra moeda que en-
contram e dão àque-
le ser que ele mal
viu o rosto, achando
que assim fez a boa ação do dia.
O pedinte também nem sempre
sabe agradecer: pega a moeda,
o vale transporte, o vale refeição
e desaparece, buscando mais
alvos para ouvirem, de ouvidos
fechados, seus pedidos.
Quando Talese descreve os
motoristas de ônibus, ele fala da-
queles que também contribuem
para a grande cidade enriquecer.
“Apesar de todo esse tormento e
labuta, o motorista de
ônibus de Nova Ior-
que continua a ser, em
grande medida, uma
pessoa anônima que
passa a vida mostran-
do apenas a metade
do rosto no retrovisor”.
O retrovisor reflete um
rosto cansado de um
trabalhador igualmente explora-
do, tanto quanto aqueles que ele
transporta diariamente.
Os motoristas exaustos e mal
pagos, em clima de descontra-
ção, reúnem-se nos intervalos
entre a saída de um veículo e
outro e falam sobre suas vidas.
São poucos minutos de sossego,
logo sentarão novamente no as-
sento que já é deles por direito.
De vez em quando embarca uma
senhora que lhes conta sua vida
inteira, ou uma moça o faz lar-
gar o volante para lhe dar o tro-
co da passagem. Às vezes, esta
emperra na máquina e ele pre-
cisa levantar-se para resolver o
problema. Caras feias são o que
não faltam na vida dele. Caras
feias é o que mais se vê nas ruas
de uma grande cidade.
Uma cidade repleta
de vozes anônimas
O caos urbano. Uma cidade
tomada pelo barulho, pela fu-
maça, pelo stress, pelos apitos
e máquinas das indústrias, pe-
las pessoas transformadas em
máquinas. O ir e vir dos ope-
rários nas grandes metrópo-
les é tão automatizado quanto
sua função no chão de fábrica.
A multidão sem rosto, sem
identidade. Com uma só iden-
tidade – a identidade do traba-
lhador. A vida dos
trabalhadores que
fazem a grande ci-
dade produzir não
é tão brilhante e
harmoniosa quanto
a produção das pu-
jantes indústrias que
eles mesmos ajudam
a enriquecer cada
dia mais. Pelo con-
trário, a trajetória do funcionário
padrão é preenchida por frustra-
ções, desânimo e conformismo.
O dia ainda nem amanheceu.
O operário padrão já está de pé.
O dia começa a clarear, os olhos
do trabalhador ainda não. Vista
nebulosa, ele entra na máquina
que ainda não pilota, mas com
a qual já acostumou-se devido
ao seu sacolejar diário. Senta-
se e dorme. O corpo-máquina
já habituou-se com o trajeto e já
sabe a hora de descer. A men-
te não precisa mais pensar: o
corpo obedece sozinho aos im-
pulsos do cérebro trabalhador.
Fragmentos de frases, peque-
nas falas, pala-
vras soltar no ar.
É o velho clichê
“estar sozinho no
meio da multidão”
que se manifes-
ta da forma mais
abrupta quando
se passeia pelo
terminal de ôni-
bus central da
cidade. É como se você estivesse
em uma jaula, cheia de leões fu-
riosos prontos para fugir ou para
te atacar. Se você quer atravessar
de um lado para o outro do lugar,
deve ter imensa cautela — não
com os veículos motorizados que
podem te atropelar, mas sim com
os veículos humanos. Corre-se o
grande risco de trombar com um
desses seres que fará cair no chão
todos os papéis, pastas e sacolas
que você carrega, isto quando não
é você mesmo que ele derruba.
Mas se quiser escapar de tudo
isso não pense que pode mirar
em qualquer um dos lados e sair
da “jaula”, indo em direção à rua.
Não. Há cancelas que determi-
nam o lugar de saída e, como
se você fosse um gado marcado,
terá que sair apenas por aquele
local. Diariamente grandes mas-
sas humanas passam por ali.
Se você tiver a audácia de sair
pela entrada dos veículos será
prontamente barrado por espé-
cies de guardiões da entrada.
“Balinha,. Balinha..” é o
que a velha senhorinha grita
para tentar arrancar do povo,
que passa apressado e de cara
feia, alguns poucos trocados.
“‘Peraí’ pai, fala mais um pou-
co comigo”. A garota com pelo
menos 18 anos não mora mais
com os pais. Faz faculdade longe
da cidade da família, o que justifi-
ca o afastamento precoce. Magra,
alta, cabelos castanhos e pele cla-
ra. Ela esperava o ônibus chegar
enquanto conversava com o pai
pelo telefone. Domingo, 17h30,
ela contava para o pai que pas-
sara o fim de semana na casa de
uma amiga, para não precisar fi-
car sozinha em casa. “‘Peraí’ pai,
fala mais um pouco comigo”. O
pai queria desligar o telefone, ela
ainda não. Antes do ônibus chegar
ela já tinha desligado o telefone.
Mas a cabeça parecia estar longe.
Não é só a Nova
York de Gay Talese
que é recheada de
histórias desconheci-
das. Como a grande
metrópole, Joinville
também não pára
Rostos sisu-
dos é o que não
falta na vida de
quem caminha
pelo terminal
central
Foto:RayanaBorba
Comportamento
04 P.P
Dezembro.2008
Os joinvilenses que ninguém vê
No Centro, eles moram em esquinas, sofrem preconceito e contam suas histórias
Alexandre Perger
Vinte horas. Joinville se prepara
para dormir. No Centro, ainda há
muita gente, muitos carros. Alguns
bares ainda estão abertos e cheios,
pessoas bebem, fumam e falam.
Mas Joinville quer dormir. Talvez
não consiga, porque quer ser ci-
dade grande e ficar acordada até
mais tarde. Meia hora depois, me-
nos carros na rua. No outro lado
da rua das Palmeiras, a escuridão
é maior. Não há tanta gente, não
há tanto carro. Prostitutas, travestis
e garotos de pro-
grama disputam
espaço. Em outros
lugares,mendigos
escolhem abri-
go. Nem todos
os seres invisíveis
chegaram para
ocupar seus luga-
res. Mas a noite
e a lua, como se
esperassem seus
companheiros,
já trataram de se
acomodar. Joinvil-
le se prepara para dormir.
Valentine, travesti de 30 anos,
também não é visto pelos cidadãos
apressados. Começou a se prosti-
tuir com 13 anos, época do início
do tratamento com hormônios,
que o deixaria com corpo de mu-
lher. Um ano depois, já enganava
muita gente, até um amigo de seu
pai. Este amigo o contratou para
cuidar da filha, acreditando que
Valentine era uma moça. Quan-
do descobriu a farsa, encerrou o
contrato e o expulsou de sua casa.
“Parecia que um alien estava cui-
dando da filha dele”, lembra o tra-
vesti. Quando completou 16 anos,
depois de alguns programas, de-
cidiu procurar emprego. Quando
as empresas recebiam sua carteira
de identidade e viam o nome de
um homem, diziam
que não havia vaga.
Foi aí que resolveu
entrar de vez para a
prostituição.
Desde criança
sabia que era gay.
“Gostava de brincar
de boneca, e acha-
va alguns meninos
bonitos”. Os pais
sempre aceitaram
sua condição. A fa-
mília, hoje, resume-
se a uma irmã e um
sobrinho. Valentine mora, atual-
mente, na Alemanha. Voltou para
Joinville para resolver problemas
de documentação. Como precisa-
va de renda, estava trabalhando
por aqui. Até o retorno, no último
dia 21 de novembro, morou com
a irmã. Ele gosta da Europa – acha
que lá a mente das pessoas está
“mais evoluída” -, mas quer fa-
zer a vida em Joinville. Sonho em
comprar um apartamento e ado-
tar uma criança. Chama a vida, da
qual ainda pretende sair, de estú-
pida. “As pessoas tratam a gente
como se fossemos nada”, reclama,
“como se fosse um lixo se prosti-
tuindo”. Enquanto isso, os carros
de família passavam, e os ocu-
pantes olhavam com espanto. Pa-
reciam não conhecer personagens
como Valentine, que não apare-
cem nos catálogos de turismo da
cidade, nem nos vídeos institucio-
nais da Prefeitura.
Valentine, travesti,
começou a prestar
seus serviços com
13 anos, mas deseja
mudar de profissão:
“As pessoas tratam a
gente como se fosse
nada, como se fosse
um lixo se
prostituindo”
Nei vive aqui e ali, e
cata lixo em todo lugar
Foto:FabianeBorges
Sem morada fixa e com vida iti-
nerante,ohomemconhecidocomo
Nei “Coco Roxo” vasculha o lixo
atrás de papelão e lata. Mora na
rua há dois anos. Possui estatura,
cabelos e olhos baixos. É de Join-
ville. Já trabalhou em algumas em-
presas, mas, hoje, vive do lixo. Reli-
gioso, fala em Deus o tempo todo.
Seu espírito pode estar des-
tinado ao Reino dos Céus, mas
enquanto vive aqui, sofre os pre-
conceitos. As pessoas que prova-
velmente vão com ele para o céu
são as mesmas que o desprezam
na rua. Foi casado, mas se sepa-
rou. Teve um filho, mas não gosta
de falar dele, por medo de lembrar
o passado. Não sente vergonha do
que faz. Está com 36 anos. Saiu
de casa aos 19. Ele diz que ven-
de o que consegue para qualquer
pessoa que pagar o preço que ele
faz. “Meu sonho é que as pessoas
ricas olhem pra gente com outros
olhos, que não nos vejam como
um nada”, idealiza o catador. Nei
afirma que o seu jeito humilde faz
com que as pessoas gostem dele.
As noites de sono não são cons-
tantes. Chega a ficar dois dias
acordado. Mas quando pode, fica
um dia inteiro dormindo. No fim
das contas, reflete: “Cai uma fo-
lha seca, o vento leva para onde
quiser. A gente, na mão de Deus,
é menos que uma folha seca”. As-
sim que terminou de falar, virou
a esquina da Princesa Isabel e foi
embora, rindo da própria vida.
Lutandoparasobreviver,
eles vagam pelas ruas
escuras de Joinville
Comportamento
P.P 05
Dezembro.2008
As pálpebras gastas revelam
um olhar cansado de quem já pre-
senciou de quase tudo um pouco
e de quem viveu o que os jovens
de hoje saberão apenas através
dos livros. Os cabelos cada vez
mais ralos e esbranquiçados, a
pele franzida e o caminhar zelo-
so denunciam a chegada à última
etapa da vida. Com tantas histó-
rias para contar, a vida se reduz
a lapsos de memória. Um recor-
dar custoso diário num presente
que espera apenas um amanhã.
A saúde frágil impossibilita muita
das atividades que antes eram ro-
tineiras. E a expressão de que “no
meu tempo era bom” torna-se co-
mum, embalada por conversas.
“O envelhecimento é a dimi-
nuição das nossas reservas e a
morte é o fim delas”, explica o
geriatra João Roberto Maia. Espe-
cializado há 15 anos na área que
trata de idosos, o médico afirma
que é no período de maturação
do organismo quando as reservas
de saúde são perdidas. Esta per-
da de saúde está diretamente li-
gada aos fatores extrínsecos e in-
trínsecos. O fator extrínseco está
relacionado com o modo de vida
de uma pessoa, principalmente
quando o assunto é trabalho e
alimentação. Já o intrínseco é de-
terminado geneticamente. “Sem
dúvida o envelhecimento é muito
mais influenciado pelo fator ex-
trínseco. É ele que vai acelerar ou
retardar o processo”, garante.
Hadwiga Bandoch, 65 anos,
sofre as conseqüências de um
acidente na juventude. Moradora
do Lar do Idoso Betânia há qua-
tro anos, a simpática senhora de
grandes olhos azuis e de origem
polonesa passa os dias em seu
quarto confeccionando chinelos
de crochê e lendo livros proféticos
religiosos. Aos 26 anos, ela foi
atropelada e ficou em estado de
coma durante 10 dias. “Fazia 10
novenas por dia para me recupe-
rar”, relata.
As seis fraturas nas pernas,
ocasionadas pela batida que a
deixou um ano e nove meses en-
volta em gesso, hoje é o motivo
pelo qual Hadwiga se exclui dos
demais idosos que passam as tar-
des em conversas na sala de estar
do prédio que atualmente abriga
36 moradores. As dores não a
deixam ficar muito tempo com as
pernas baixas, por isso, ela pre-
fere permanecer na cama e só se
levanta para fazer as refeições ou,
com muita dificuldade, limpar o
pequeno cômodo repleto de ima-
gens de santos católicos. “Mesmo
com os meus problemas de saúde
eu não gosto de ficar parada”, re-
conhece. Hadwiga conta que sua
vida sempre foi marcada pelo tra-
balho duro na roça. “Fazia traba-
lho de homem”, lembra.
A mulher que até os sete anos
de idade não sabia se comuni-
car em português, vê consolo nas
palavras dos livros católicos. Ha-
dwiga não tem filhos e, como a
maioria dos que alcançam a sua
idade, convive com a ausência
de parentes já falecidos. Assim
como Hadwiga, muitos idosos
que moram no Lar do Idoso Betâ-
nia possuem pouco contato com
os familiares. Muitas das visitas
só acontecem no início do mês.
É cobrado R$ 850,00 de cada in-
quilino, porém os que só recebem
o salário de aposentadoria pre-
cisam deixar 70% do valor total.
O administrador Acelino Setti, ar-
gumenta que os valores cobrados
não conseguem cobrir os gastos.
Cada hospedagem custa em mé-
dia R$ 1.265,00 mensais para o
Lar, que é mantido também com
a ajuda da Igreja Católica.
Diferentes modos de e
Rafaela Mazzaro
A busca da felicidade pela convivência
Para as dores, Cecíria Carva-
lho do Nascimento, 64 anos, diz
ter a solução. “Nessa idade todos
nós sentimos dor, mas se ficar
pensando nela dói mais ainda. A
solução é tentar se distrair com
outra coisa”, revela. E é neste
tom de otimismo que a presiden-
te do Centro de Convivência da
Melhor Idade apresenta o local
onde 130 idosos se reúnem para
fazer atividades em conjunto.
Entre uma e outra jogada de
canastra, num piscar de olhos,
a conversa nas seis mesas espa-
lhadas pelo salão passa da des-
contração às reclamações sobre
a escassa saúde. Eles se conhe-
cem muito bem. Sabem da real
condição que vivem e que no dia
seguinte poderão não ter a com-
panhia do amigo na cadeira ao
lado. Naquele espaço, eles se
sentem iguais, mesmo com dife-
renças de idade de até 30 anos.
“Os jovens se cansam fácil da
gente porque as conversas são
outras”, conta a mulher de cabe-
los pintados de bronze e maquia-
gem definitiva nas sobrancelhas,
fazendo com que os seus 64 anos
se reduzam para uma aparência
de no máximo 50. Mãe de três
filhos e avó de nove netos, Ma-
ria Emília Miranda explica que ali
eles se sentem iguais porque re-
cebem carinho uns dos outros.
Quando o assunto é o desca-
so dos filhos com os pais velhos,
Maria Emília já tem a resposta na
ponta da língua. “Se os pais não
dão carinho e atenção para os fi-
lhos quando eles são novos, por
que eles iriam retribuir?”, ques-
tiona. Tereza de Jesus Soares, 74
anos, concorda com a amiga. Ela
mora sozinha, mas o filho casa-
do vem todos os dias para dormir
em sua casa. Para ela, ficar em
casa sozinha é muito depressi-
vo. Por isso, passa todas as tar-
des no Centro para fazer o que
mais gosta, o bordado, e só volta
quando o sol está se despedindo.
“Aqui até errar o ponto do borda-
do é motivo para risadas e não
de irritação”, comenta.
O Centro de Convivência da
Melhor Idade funciona há oito
anos. Cada participante contri-
bui com R$ 8,00 mensais para as
despesas com o aluguel e conta
de luz. Além de baralho e domi-
nó, os idosos aprendem a fazer
trabalhos manuais. Mas o que
lota os bancos de madeira são os
bingos mensais, promovidos pelo
Centro. Os prêmios são o que
menos importa. Tereza de Jesus Soares, 74 anos, passa todas as tardes no cen
foto: Fabiane Borges
06 P.P
Saúde
Dezembro.2008
envelhecer
Uma vez por mês, chegam
os visitantes para o baile
Uma vez ao mês, quatro ôni-
bus vindos de Itajaí, São Bento
e outras cidades vizinhas, tra-
zem visitantes para o baile que
acontece na Sociedade Alvora-
da de Joinville. O baile inicia às
14 horas e termina às 17, todas
as quartas-feiras. O horário de
funcionamento já evidencia
qual é o público alvo.
O casal Carmem, 63 anos, e
Irineu de Tofol, 66 anos, conta
que o baile para idosos é muito
melhor do que as “dominguei-
ras” de dança do tempo em
que eles eram jovens. “Os bai-
les do nosso tempo eram feitos
em casa mesmo”, afirma Irineu.
Como naquela época não havia
luz elétrica no sítio onde viviam,
a música vinha de uma simples
gaita e a luz de um pequeno
suporte que armazenava que-
rosene, o qual Seu Irineu ainda
guarda como recordação.
Dos tempos de juventude do
casal para os dias de hoje muita
coisa mudou. Porém, para eles,
as mudanças foram para me-
lhor. “Agora o baile é bem mais
animado porque as bandas são
muito boas”, lembra Carmem.
O que muda nos bailes que
eles freqüentam atualmente é
que as pessoas dançam mais
devagar e com mais cuidado.
“Não dá para ficar muito tem-
po sem dançar porque se não
a gente fica encarangado e
perde o pique”, brinca Irineu.
Normalmente os freqüentado-
res vão acompanhados, mas
os que são solteiros ou viúvos
ficam em mesas separadas do
sexo oposto a espera de um
convite para dançar.
Pelo IBGE, cresce número
de idosos com mais de 80
De acordo com progressões
realizadas pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Esta-
tística), em 2050 a população
feminina com mais de 80 anos
poderá chegar a oito vezes mais
do que a registrada em 2005,
que é de um milhão. Já a po-
pulação masculina desta faixa
etária, que é classificada como
a quarta idade, deverá atingir a
média de seis vezes o total ve-
rificado atualmente, um cresci-
mento de cerca de 5,2 milhões
de pessoas.
A proporção de idosos vem
crescendo mais rapidamente do
que a proporção de crianças.
Em 1980, existiam cerca de 16
idosos para cada 100 crianças.
Em 2000, essa relação dobrou,
passando para quase 30 idosos.
Percebe-se que a pirâmide etá-
ria absoluta do Brasil nos anos
80 possuía a base mais larga do
que o topo, que era extremamen-
te afunilado, o que demonstrava
a existência de uma maioria de
jovens do que de idosos. Já as
pirâmides das décadas seguintes
revelam um número de mortali-
dade muito baixo. Desta forma,
a progressão aproxima-se de um
formato mais semelhante a de
um quadrado do que de uma pi-
râmide propriamente dita, devi-
do ao alto índice de longevidade
e ao baixo índice de fecundidade
dos brasileiros. Para chegar a es-
tas estimativas, o IBGE utiliza o
método das componentes, o qual
incorpora as informações sobre
as tendências observadas de
mortalidade, de fecundidade e
de migração em nível nacional.
Rio de Janeiro e Porto Alegre
se destacam como as capitais
com os maiores números de ha-
bitantes idosos, representando,
respectivamente, 12,8% e 11,8%
da população total desses luga-
res. Em contrapartida, algumas
capitais do Norte do país, como
Boa Vista e Palmas, apresenta-
ram uma proporção de idosos de
apenas 3,8% e 2,7%, respectiva-
mente. Já em Joinville, nos últi-
mos 20 anos, houve um aumen-
to de 151% de população idosa,
passando de 11.263 idosos em
1980, para 28.236 idosos no
ano 2000.
ntro de convivência, fazendo o que mais gosta: bordado, e só pára quando o sol está se despedindo
P.P 07
Saúde
Dezembro.2008
O projeto social Casa Brasil,
uma iniciativa inter-ministerial do
governo federal, oferece ativida-
des voltadas para a comunidade,
visando a inclusão social, digital
e cultural. No total, há 73 casas
espalhadas, estrategicamente,
pelo território nacional em áreas
de baixo Índice de Desenvolvi-
mento Humano (IDH). Em Join-
ville, duas delas estão com as
portas abertas em dois extremos
da cidade: uma na zona Norte, a
outra na zona Sul.
Cada unidade é estruturada
em módulos que propiciam a
conexão de múltiplos saberes e
obedece a um padrão que vai
desde a identidade visual dos
laboratórios até o valor da bol-
sa daqueles que trabalham no
projeto. A unidade Jarivatuba,
cujo proponente é o Bom Jesus/
Ielusc, possui seis laboratórios
em funcionamento: o telecentro,
o auditório, a sala de leitura, o
laboratório de segurança ali-
mentar e nutricional e, por fim,
o módulo de comunicação – es-
túdio de rádio e multimídia.
Desde a abertura da Casa
Brasil Jarivatuba, em dezembro
de 2006, até julho deste ano, já
foram realizados 17.749 aten-
dimentos. Nos espaços da uni-
dade, os cidadãos podem par-
ticipar de oficinas de culinária,
informática básica, teatro, ca-
poeira, aulas de alfabetização
e reforço escolar, produção e
edição de conteúdo fílmico, ra-
diofônico e foto-
gráfico, além de
eventos temáti-
cos, que são or-
ganizados em
parceria com ou-
tras entidades e
voluntários.
Evandro Cle-
mente Cordeiro,
14 anos, é um
dos beneficiados. O garoto fre-
qüenta a unidade desde a aber-
tura e já participou de várias
atividades. Hoje, ele já é volun-
tário no reforço escolar e conta
o quanto a Casa faz diferença.
“Minha vida mudou muito de-
pois que eu conheci a CB (Casa
Brasil). Parei de ficar na rua, in-
comodar os outros, fazer ‘bobi-
ças’. Aqui me ensinaram a ser
feliz. É minha segunda casa”,
conta o garoto.
Cássia Nunes, coordenadora
da unidade Sul atuante desde se-
tembro de 2006 – antes mesmo
da abertura – , acredita que as
atividades devem acontecer com
o que a unidade tem disponível e
os bolsistas têm em mãos. “Nós
trabalhamos com limitações e
as coisas acontecem da mesma
maneira. É claro que seria muito
melhor ter um caixa aqui”, con-
fessa ela e com-
pleta: “Não tenho
do que reclamar
quanto ao Bom
Jesus. O que nos
falta é uma logís-
tica mais ágil e
dinâmica entre a
unidade e a insti-
tuição.”
Uma das
maiores dificuldades da Casa
é a falta de sustentabilidade fi-
nanceira, já que o Bom Jesus é
a única fonte reguladora destes
recursos, responsável por cus-
tear despesas mensais como
taxas de água, luz, telefone, e
material de expediente, limpe-
za e higiene. Além dele, a Casa
tem dois co-parceiros: o instituto
Consulado da Mulher e o Comitê
Fome Zero de Joinville. Porém,
as contribuições advindas destes
são mais pontuais e, na maioria
das vezes, estão ligadas à exe-
cução de projetos em conjunto.
A Casa também recebe doações
esporádicas de comerciantes,
do pessoal engajado no projeto,
dos próprios freqüentadores ou
apoiadores da unidade.
Assim, uma das alternativas
vislumbradas, após a constata-
ção dos vários resultados posi-
tivos obtidos, foi a captação de
recursos junto à prefeitura de
Joinville. Em abril de 2008, o
proponente encaminhou à Se-
cretaria de Assistência Social
um plano de trabalho com os
respectivos custos da unidade
requerendo verba para a conti-
nuidade e a intensificação dos
serviços prestados. Após tramitar
na Comissão de Ética e Justiça
da Câmara, o projeto, no valor
de 50 mil reais, foi aprovado no
último dia 13 de novembro em
audiência pública na Câmara de
Vereadores.
A expectativa, segundo a co-
ordenadora, é de que a verba
permita ampliar a oferta de ati-
vidades e o desenvolvimento de
projetos em parceria, inclusive,
com acadêmicos das universida-
des da região. Além disso, o di-
nheiro deve suprir necessidades
emergenciais como, por exem-
plo, a compra de insumos para
as aulas de culinária.
Projeto estimula inclusão social
Aberta desde dezembro de 2006, a Casa Brasil já fez mais de 17.700 atendimentos
“Minha vida mu-
dou muito depois que
entrei na Casa Brasil.
Aqui me ensinaram
a ser feliz. É minha
segunda casa”
Ariadna Straliotto
A unidade sul de Joinville, situada no bairro Jarivatuba, tem seis laboratórios em funcionamento. Entre eles a sala de leitura. Com acervo estimado em 1.500 exemplares, os cidadãos podem fazer empréstimo de livros
Foto:PatriciaDebortoli
Cidadania
08 PP
Dezembro.2008
Jonas Alberto Cavanhol, 34
anos, está na direção do Presídio
de Joinville há nove meses. Neste
período, 30 mulheres foram deti-
das. Cavanhol não nega a super-
lotação, mas diz que, infelizmente,
a ampliação da ala feminina não
está ao alcance de sua autoridade.
Ele disse que o governo de Santa
Catarina pretende construir uma
penitenciária industrial feminina
em Criciúma, mas ainda não há
previsão para o início das obras.
Existem no Estado 1500 presas, o
número de presidiárias triplicou
em seis anos (tempo em que tra-
balha no presídio) por mudanças
na justiça. “Antes só se prendia o
marido. Agora, todos os maiores
de uma casa denunciada por tráfi-
co, vão presos”, afirma. 	
A maioria das mulheres foram
detidas por tráfico de drogas. As
penas neste tipo de crime são de,
no máximo, cinco anos. A maior
pena do presídio é de 51 anos,
por crime de extorsão (quando se
ameaça para conseguir dinheiro).
Cavanhol há dois meses não se
incomoda com confusões na ala
feminina. “Elas estão tão tranqüi-
las que até me preocupo”, brinca.
Além da escassez dos materiais de
higiene pessoal, obtidos por meio
das visitas familiares, elas conse-
guem arrecadar de R$ 200 a R$
300 com recicláveis, quantia que
ajuda na compra dos produtos de
limpeza externa. Segundo ele,
há cinco detentas prestes a sair.
Carla Alves, 18 anos, presa há
seis meses e condenada ao regime
semi-aberto, foi cúmplice em um
assalto a mão-armada a uma loté-
rica. No princípio, ficava no “conví-
vio”, no regime fechado, mas após
a sentença pode ir para a “regalia”.
Segundo Carla, as colegas do “con-
vívio” tem sofrido com o excesso de
detentas, principalmente porque as
celas são quentes e abafadas. “Tem
muitagentealicompenavencida.A
justiça tinha que ver isso”, lamenta.
Há quase 18 anos, a Pastoral
Carcerária visita os presídios fe-
minino e masculino e a Penitenci-
ária Industrial (só para homens),
semanalmente, e de acordo com
membros da Pastoral a situação
já foi bem melhor. Irecê Donadel,
48 anos, está há 12 como agen-
te e critica a forma como a so-
ciedade trata os presidiários. “As
pessoas não vêem que ali existe
uma história e não compreen-
dem nosso trabalho”, finaliza.
As detentas das duas galerias
do Presídio Feminino de Joinvil-
le vivem um momento delicado.
A superlotação do espaço vem
trazendo dificuldades de acomo-
dação. Projetado para alojar 35
mulheres, atualmente abriga 95.
São poucos centímetros entre
os beliches de madeira – o chão
também tem servido como cama.
Além das instalações precárias,
uma das conseqüências do ex-
cesso de presidiárias é a falta de
materiais de higiene e limpeza.
O berçário, local onde ficam
as gestantes e mães com be-
bês, é mais confortável e areja-
do. Lá, quatro detentas perma-
necerão com seus filhos até que
completem seis meses de idade.
No quarto onde estão as deten-
tas com regime semi-aberto,
chamado por elas de “regalia”,
dormem oito mulheres. Elas são
responsáveis pelo almoço e jan-
tar das colegas e podem circular
pela área de convivência da ala.
De acordo com Cynthia Maria
Pinto da Luz, 49 anos, advogada
do Centro de Direitos Humanos de
Joinville, na última visita realizada
pelo CDH e Conselho Carcerário e
Pastoral Carcerária, em 12 de no-
vembro, as presidiárias se queixa-
ram, principalmente, da escassez
de absorventes. O grupo também
constatou que as visitas íntimas
foram interrompidas e houve ocu-
pação de uma pequena bibliote-
ca para a instalação de colchões.
Os atendimentos médicos ocor-
rem muito raramente e, quando é
preciso levá-las até um posto mé-
dico ou a um hospital, elas sofrem
com o preconceito dos atenden-
tes. Há carência de medicamentos
de primeira necessidade. “O que
mais me preocupa é que a falta
dos produtos de limpeza pode
resultar no acúmulo de sujeira”,
comenta. Para a advogada, a ine-
ficiência e o descaso do governo
do estado em relação ao sistema
prisional fica claro nesta situação.
A vagarosidade em julgar os pro-
cessos deixa estas pessoas presas
por mais tempo. Até agora, não há
nenhuma medida em andamen-
to para reverter a superlotação.
Ala feminina está superlotada
Lorena Trindade
Detentas dormem em colchões no chão e há escassez de material de higiene pessoal
Diretoria não nega superlotação
Detenta brinca com sua filha de nove meses no berçário, que é o espaço mais confortável da ala feminina do Presídio Regional; as outras estão superlotadas
foto: Patrícia Debortoli
P.P 09
Direito
Dezembro.2008
Renovação em São Bento do Sul
A Câmara Municipal de São
Bento do Sul foi totalmente re-
novada no último pleito. Dos dez
parlamentares que formarão a
legislatura 2009-2012, sete são
estreantes. Dos vereadores que
encerram o mandato em 2008,
nove apresentaram seu nome
para a disputa e nenhum foi re-
eleito.
O mais votado foi Antonio Jo-
aquim Tomazini Filho (DEM), com
1.810 votos. O médico lançou-
se pela primeira vez a um cargo
político e afirma que priorizará
a saúde pública. Com 1.003 vo-
tos, o ortopedista Eduardo Anto-
nio Rodrigues de Moraes (PP) foi
eleito vereador. Eduardo lançou-
se candidato pela primeira vez
em 2004, quando ficou como
primeiro suplente, assumindo
duas vezes.
Atual secretário municipal de
saúde, Luiz Sieves (PMDB), foi o
terceiro vereador mais votado,
com 1.290 votos. Seguido de Lí-
rio Volpi (PMDB), atual presiden-
te da empresa municipal de ha-
bitação, eleito com 1.215 votos.
É a segunda vez que irá atuar no
parlamento são-bentense.
Entre os eleitos estreantes na
política são-bentense, Márcio
Dreveck (PP), administrador de
empresas, conquistou 940 votos.
Josias Terres (DEM), professor, foi
eleito com 842 votos e o repre-
sentante comercial Marco Auré-
lio Viliczinski (PSB) elegeu-se com
911 votos. Já o presidente do PT,
Tadeu do Nascimento, concorreu
a vereador pela terceira vez, sen-
do eleito com 1.367.
Na atual gestão não há repre-
sentantes femininas. Para a pró-
xima duas foram eleitas: Nilva
Marli Larsen Holz (PP), com 1.053
votos e Adriane Elisa Ruzanowsky
(PMDB), com 1.006 votos. Ambas
são professoras.
“Crescei e multiplicai-vos”
Pregações fervorosas, com bí-
blias nas mãos. Vozes que eco-
am améns e aleluias. Na busca
pela cura e libertação, milhares
de católicos têm migrado para o
pentecostalismo. De acordo com
o Censo de 2000, 74% da po-
pulação brasileira era católica e
15% evangélicos. Na pesquisa
Datafolha de 2007, o número
de católicos caiu para 64% e o
de evangélicos subiu para 22%.
No início, a explosão evangé-
lica se deu em silêncio. A primei-
ra igreja evangélica no Brasil foi
a Batista, criada em 1889. Na
década de 1910 veio a Congre-
gação Cristã no Brasil e a As-
sembléia de Deus. Cinqüenta
anos depois surgiu a do Evange-
lho Quadrangular, e na década
de 70, a Universal do Reino de
Deus.
Quase como resposta à revo-
lução evangélica, a Renovação
Carismática Católica, criada em
1967, divide as celebrações com
louvores e pregações. Os pre-
gadores são pessoas comuns,
que dão testemunho de vida e
contam os milagres recebidos.
A professora Cheila Pelin, 25
anos, freqüentou igrejas evan-
gélicas por quase um ano, e ga-
rante que não é preciso mudar
de religião para encontrar paz.
Hoje, faz parte do grupo caris-
mático. Para ela, os migrantes
buscam outras religiões porque
não encontraram Deus. “Muitos
de fato nunca o conheceram”. O
pastor da igreja Quadrangular
Ari José Vavassori acredita que
os crentes que mudaram de re-
ligião buscam atenção. “As pes-
soas precisam ser alimentadas
com carinho para se sentirem
importantes”, garante.
Geral
Pela primeira vez, nenhum dos nove candidatos que concorreram à reeleição se elegeu
Linda Tomelin
Pesquisa aponta que número de evangélicos no País cresceu 22% nos últimos 25 anos
Tatiane Martins
Fato inédito: dos dez parlamentares eleitos que formarão a próxima legislatura, sete serão estreantes na Câmara de Vereadores de São Bento do Sul
Número de católicos caiu para 64% e o de evangélicos cresceu para 22% da população brasileira, em 2007
Foto:divulgação
Foto:FelipeSilveira
10 P.P
Dezembro.2008
Esporte
Final difícil no futebol amador
Para dois estudantes de jor-
nalismo que estreariam como
repórteres esportivos, a final do
campeonato amador de futebol
da cidade, a Primeirona, já esta-
va de bom tamanho. Associação
Atlética Serrana, do Jardim Iririú
e Grêmio Krona, do Vila Nova,
disputariam o caneco às 16 ho-
ras do dia 17 de novembro, na
Arena Joinville, num típico do-
mingo chuvoso. O resultado de 1
a 0 foi suficiente para dar o título
inédito à Serrana, num jogo que
nem precisava de lances emo-
cionantes, já que personagens
anônimos roubavam a cena dos
gramados.
Diferente das grandes finais,
em que torcedores lotam os es-
tádios, pouca gente foi à Arena.
A maior parte dos cerca de 1,2
mil espectadores estava concen-
trada na arquibancada coberta,
dando a impressão de estádio
vazio a quem olhasse o homem
solitário do outro lado do campo
que, devido à cor de sua roupa,
confundia-se facilmente com a
arquibancada.
A partida começou às 16h21
com a troca de passes do Krona,
que em seguida perdeu a bola, e
só conseguiu partir para o campo
de ataque seis minutos depois. O
primeiro tempo foi sem grandes
emoções, tanto que o gandu-
la atrás do goleiro Bambam, do
Serrana, preferiu bater embai-
xadinhas enquanto os repórteres
dos jornais A Notícia e Notícias
do Dia debatiam sobre o futuro
do JEC e o comunicador da rádio
Globo fumava um cigarro. Quan-
do a chuva engrossou, às 16h47,
os jornalistas mais experientes
foram se abrigar e convidaram
os mais jovens a sair do campo.
“Não esquenta, a gente já é anfí-
bio”, brincou um dos novatos.
O Krona marcava forte, dei-
xando o jogo truncado. Na pri-
meira partida da final, há três
semanas, havia sido goleado por
4 a 0 e, desta vez, não estava
disposto a repetir a dose. A Ser-
rana tocava melhor a bola, mas
o adversário marcava em cima.
A cada falta do Krona, os adver-
sários rolavam no chão, e todo
mundo do banco da Serrana pe-
dia cartão. “Já é a quarta falta
do cara e ninguém faz nada”,
gritou um dos atletas, após mais
uma falta no camisa 10 do seu
time. O técnico Toninho Gam-
beta se exaltava e reclamava
na orelha do bandeirinha, que
nada respondia. Ele apenas ges-
ticulava com a cabeça, em sinal
negativo.
Numa das subidas do Krona,
um dos torcedores mais anima-
dos gritou da arquibancada:
“Volta pra Camboriú, seu cabe-
çudo, terra da minha ex-mulher”.
As frases ditas por ele, aliás, não
pararam por aí. Comentários
como “ô seu carne moída” foram
repetidos algumas vezes pelo se-
nhor de pele morena e bigode
branco. “Ah, ele é sempre assim”,
comentou um fotógrafo à beira
do gramado.
Pouco antes de acabar o pri-
meiro tempo, alguns torcedores
pareciam incomodados com a
partida. “Jogo duro de assistir”,
disse um deles. “Deve ser o ven-
to sul”, falou outro, bem-humo-
rado. Enquanto isso, o árbitro in-
dicava um minuto de acréscimo.
O auxiliar, no entanto, não sabia
usar a placa eletrônica que indi-
ca o tempo. Como demorou 50
segundos para erguê-la, o árbi-
tro apitou o fim da primeira eta-
pa logo que ela foi exibida.
Na volta do intervalo, que
teve direito a apresentação de
hip hop, o atacante Lú, da Ser-
rana, balançou a rede logo aos
dois minutos. A partir daí, o time
do Jardim Iririú dominou o jogo,
mesmo que sob forte marcação
do Krona. Às 18h15, uma falta
dura em cima de um atacante
alviverde foi a responsável pelo
único cartão vermelho da parti-
da, que gerou bate-boca entre a
torcida e o banco de reservas do
time do Vila Nova.
O final do jogo se aproxima-
va. Quando o árbitro sinalizou
cinco minutos de acréscimo, os
reservas já começaram a come-
morar. Num dos últimos lances, o
Serrana quase ampliou com uma
“bimba” de fora da área. Mais
bonito que o chute, só a defesa
do goleiro Foca. Ao apito final,
todos correram para o centro
do campo, inclusive a torcida. O
atacante Lú jogou a camisa para
um amigo da torcida. Rocha, ex-
jogador do JEC, negou o mesmo
pedido, feito por um torcedor. “Já
prometi para o meu filho”, expli-
cou. No caminho para o centro
do gramado, o técnico Gambeta
resumiu o sentimento da equipe:
“Um título tão difícil quanto esse
a gente tem mais é que comemo-
rar mesmo”.
Com time mais experiente, Serrana comemora título inédito da Primeirona de Joinville
Ana Carolina Luz e Felipe Silveira
Time do bairro Jardim Iririú comemora pela primeira vez título do principal campeonato de futebol amador da cidade. Na final contra o Grêmio Krona, do Vila Nova, lances disputados marcaram a partida na Arena
P.P 11
Foto:CharlesFrança
Dezembro.2008
Mãe, dona-de-casa e professora
Professora Marilza Elisabete Grando Lazzari, 51 anos, encara tripla jornada de trabalho
“Uma mulher que se desdo-
bra”, assegura a professora Ma-
rilza Elisabete Grando Lazzari, 51
anos. De fato, segundo pesquisa
do Instituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística (IBGE) divulgada
em 17 de agosto de 2007, 90,6%
das brasileiras despendem tempo,
além da profissão ou estudo, para
afazeres domésticos.
Em 33 anos de magistério,
Marilza chegou a lecionar diaria-
mente em três períodos – 61 au-
las semanais –, por cerca de 15
anos. Acordava às 6 horas e só
parava às 22h20. Há três anos,
por excesso de trabalho, precisou
tomar remédio para depressão.
Quando entrava em sala, esque-
cia do problema. “Tinha pique
até a última aula”. Agora, apo-
sentada pela rede estadual, só
leciona para turmas matutinas,
de 5ª a 8ª série, na Escola Mu-
nicipal Pastor Hans Müller. “Virei
madame”, comemora a senhora
que passava os finais de semana
corrigindo provas. “Tô mais light.
Leio e tiro uma sonequinha de-
pois do almoço”.
Mesmo com a tripla jornada,
a professora deixava o almoço
preparado, lavava e passava as
roupas, ia ao supermercado e
jogava “uma canastrinha” nos fi-
nais de semana. “Parece até que
sobrava mais tempo”, diz. Marilza
também fiscalizava as tarefas dos
filhos, com quem sempre teve di-
álogo aberto. “Tinha contato com
eles, até cheguei a dar aula para
os dois”, acrescenta, lembrando
do dia em que enviou um bilhete
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dução na Universidade do Estado
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não me arrependo”.
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escola particular; nem demons-
trou interesse em seguir esse ca-
minho. “Me sinto desvalorizada
como professora”. Ela lamenta
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tes. “Eles não têm mais limites,
não respeitam”. Mas também
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cação, é gratificante reencontrar
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ensinou várias gerações. Certo
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eu acho que a senhora deu aula
para a minha avó”. “Abaixa esse
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Natural de Veranópolis (RS),
adoraria voltar para a cidade
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não querem. Marilza casou vir-
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nós temos foi com muito sacrifí-
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teoria evolucionista: “Vou contra
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pobre. “Eu não tinha nem borra-
cha. Apagava com a borrachinha
do conta-gotas”. Morava com os
pais, já falecidos, que eram agri-
cultores, um irmão e três irmãs. O
ferro de passar era elétrico, “mas
se esquentava em cima do fogão
à lenha”. Com o dever de lavar ou
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nhava em ser secretária, ia para
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lendo. Apanhava muito por cau-
sa disso, principalmente da mãe.
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so aos livros da escola e à Bíblia,
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sa, fazer as coisas com perfeição”.
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versasse com a professora e ouvis-
se alguma queixa. Hoje, pós-gra-
duada em zoologia, confessa que
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5ª a 8ª série, estudou essa disci-
plina em um livro grosso, de capa
amarela. Nas provas, a professo-
ra de Marilza mandava os alunos
escreverem as causas e as con-
seqüências do assunto. “Mas ela
nunca me explicou o que era uma
causa e uma conseqüência”.
Rosimeri Back
Perfil
Abnegação: com 33 anos de
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Foto:PatríciaDebortoli
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Terceira idade e leitura em destaque no Primeira Pauta

  • 1. Dezembro.2008 Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc Primeira.Pauta73Distribuição Gratuita Joinville.SCDezembro de 2008 Os diferentes modos de viver na terceira idade A proporção da população idosa cresce a cada ano em Joinville. Só nos últi- mos 20 anos o aumento de pessoas acima de 60 anos foi de 151%. Entre experiências de vida e histórias para contar, a última etapa da vida é en- caradadediferentesformas.Enquanto alguns sofrem com o abandono, ou- tros buscam na convivência o conforto para enfrentar os obstáculos impostos pela chamada terceira idade. Páginas 6 e 7 Um olhar sobre a Primeirona Na final do campeonato amador de futebol de Joinville, que ocorreu no domingo (17), na Arena, nos- sos repórteres observaram as pecu- liaridades da partida entre Serrana e Grêmio Krona. Página 11 Apesardalotação,asdetentasfazem de tudo para tornar o ambiente hu- manizado no presídio. Algumas criam os filhos no local, que abriga 95 presas, mas tem capacidade de apenas 35. Página 9 Ala feminina está superlotada ComportamentoFoto:CharlesFrançaFoto:PatríciaDebortoli Foto:FabianeBorges
  • 2. Dezembro.2008 Acordei assustado no meio da noite. Desciam pelo corpo cala- frios transportados por gotas de suor. Foi uma espécie de ânsia protagonizada por eu mesmo. Desorientado e sem nenhuma excitação nervosa exterioriza- da, descansei um pouco mais. Levantei e fui ver o que estava passando na TV — mais um da- queles programas religiosos em que o pastor afirma ter feito mi- lagres e depois passa o número da conta e agência bancária. Desliguei-a. Confesso, estava quase emocionado. Regressei à cama e me envol- vi entre travesseiros deformados e lençóis perfumados de maro- fa. Mirei para o teto descobri de onde viria uma lendária goteira que escorria entre o vão da pa- rede e o guarda-roupa, que sem- pre fica com as portas abertas para sair um pouco do cheiro de mofo. Num momento desenha- va todo o teto, confundia-o com as nuvens de algodão — o tom escuro decorrente do teto embo- lorado me dizia que a previsão era para tempo ruim. A janela, na qual eu fixava olhares sobre os pregos enferrujados pela ma- resia, estava estranhamente no- doada. Zangou-se com a limpe- za. A umidade salobra a deixava embaçada. Levantei vagamente da cama, caminhei até a sala, e sentei no antigo sofá, abrigo caseiro dos cupins, formigas e pequenos co- leópteros. A estante: escudo de minhas idéias. Abriga livros per- furados por traças, edições ama- reladas do Primeira Pauta, CDs riscados e fotografias foscas de uma era sapiens. Há um gran- de amigo escondido naquela es- tante, dentro de alguma página perdida. O conselho certo para a hora certa. Olhos cansados: fechei-os. Imaginei o teto: dife- rente, tom mais fosco, como se agora estivesse limpo, com algo esculpido a qual não decifrei (poderiam ser as cavidades con- seqüentes do mau reboco). Na estante: somente um livro. Não me contive, fui crê-lo. Sem co- dinome e progenitor, teor nulo. Progredi o processo de osmose cerebral misturado à ressaca da noite passada. Ganharam for- mas as letras, aos poucos. Minha lupa direcionada trin- cava-se. Li-as. Retornei à cama. Aspirei e transpirei em meu so- nho. Despertei suado. Acendi um cigarro barato e digeri um café adormecido. Tranqüilizei-me pouco mais. De volta ao velho sofá liguei novamente a TV, que insistia em apresentar chuvisco e ruídos. Olhei para a geladeira Cônsul modelo 1984, cor azul desbotado: estavam lá um ca- lendário e a conta de água e luz, empenhadas. Pautaqueoparéu! Novembro! Preciso trabalhar! Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc Coordenação do Curso de Comunicação Social - Jornalismo Prof. Dr. Samuel Pantoja Lima Professor responsável Juciano Lacerda - MTB 1177 JP/PB Luis Fernando Assunção - MTB 7856/RS Disciplina Produção e Difusão em Meios Impressos II Edição 73 Dezembro de 2008 Diagramação Ariane Olsen, Cláudio Costa, Pedro H. Leal e Tiago dos Santos Coordenação de Produção Alexandre Perger e Eva Croll Edição de Textos Carolina Wanzuita, Guilherme Cardoso, José Eduardo Calcinoni, Jouber Castro e Rayana Borba Fotografia e Edição de Imagens Charles França, Fabiane Borges, Felipe Silveira e Patrícia Debortolli Impressão Jornal A Notícia Tiragem 2 mil exemplares Contato com a redação Curso de Comunicação Social - Jornalismo. Rua Princesa Isabel, 438, Centro. Caixa Postal: 24 - 89201-270 Joinville/SC Telefone (47) 3026-8000 E-mail primeirapauta.ielusc@gmail.com Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do Primeira Pauta. Primeira.Pauta Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Jornalismo Dezembro.2008 Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc Primeira.Pauta73Distribuição Gratuita Joinville.SCDezembro de 2008 Os diferentes modos de viver na terceira idade A proporção da população idosa cresce a cada ano em Joinville. Só nos últi- mos 20 anos o aumento de pessoas acima de 60 anos foi de 151%. Entre experiências de vida e histórias para contar, a última etapa da vida é en- caradadediferentesformas.Enquanto alguns sofrem com o abandono, ou- tros buscam na convivência o conforto para enfrentar os obstáculos impostos pela chamada terceira idade. Páginas 6 e 7 Um olhar sobre a Primeirona Na final do campeonato amador de futebol de Joinville, que ocorreu no domingo (17), na Arena, nos- sos repórteres observaram as pecu- liaridades da partida entre Serrana e Grêmio Krona. Página 11 Apesardalotação,asdetentasfazem de tudo para tornar o ambiente hu- manizado no presídio. Algumas criam os filhos no local, que abriga 95 presas, mas tem capacidade de apenas 35. Página 9 Ala feminina está superlotada Comportamento Foto:CharlesFrançaFoto:PatríciaDebortoli Foto:FabianeBorges Editorial Afinal, quem lê o Primeira Pauta? Nossos pais, irmãos, pa- rentes e amigos, nós sabemos: lêem pelo menos os títulos e co- mentam as fotos. Contudo, o que fazem com o PP as pessoas que o recebem em suas caixas de cor- reio e no pára-brisa de seus car- ros? Recebemos, ao longo desse semestre, apenas um e-mail: um leitor reclamava da ausência da foto de Darci de Matos na maté- ria sobre os gastos de campanha. No mais, apenas nossa caixa de spam esteve lotada. Nenhuma reclamação. Nenhuma sugestão. Nenhum processo judicial. Esta- mos cumprindo nosso papel? Es- tamos fazendo valer nosso com- promisso com o jornalismo de conflito, que mostra o que nin- guém quer mostrar e diz o que ninguém fala? Fazemos um jornal, mas não somos jornalistas em tempo in- tegral. Nossas atividades conso- mem, em média, oito horas por dia. Pensamos no PP assim que acordamos, na hora do almoço e depois da hora da aula. Com as férias, podemos pen- sar mais sobre o PP. Podemos pensar em fazer um jornal me- lhor, mais crítico. Podemos pen- sar em sair de nosso marasmo na escolha de pautas e na maneira de executá-las. Podemos tentar fugir da preguiça ou do cansaço. Podemos mudar. Até 2009. Futilidade do mês de novembro José Eduardo Calcinoni Charge - Lorena 02 P.P Cultura
  • 3. Dezembro.2008 A duras penas Pesquisa revela que 14% dos jovens lêem Uma das heranças mais co- nhecidas no sul do Brasil é as- sociada aos açorianos: a cultu- ra do boi-de-mamão. O boi de brinquedo, de tamanho idênti- co ao animal original, é con- feccionado em madeira e pano e adornado com tecidos colo- ridos. A encenação representa a morte do animal, ressuscita- do depois por um curandeiro. É composta por um bailado contagiante regido ao som de triângulos, caixa clara, surdo, pandeiro e violão. Em 1748, cerca de seis mil moradores do arquipélago dos Açores desembarcaram no litoral sul do Brasil. Com influência de índios, negros e europeus, sobretudo os aço- rianos, o boi-de-mamão traz em seu contexto uma série de elementos que remetem à his- tória da colonização, as lendas dos antepassados e a religiosi- dade da região. Foram incor- porados, também, outros ele- mentos derivados da cultura açoriana e de outros costumes do litoral, como o Bernúncia, um boneco de pano que lem- bra um dragão ou uma cobra, e a Maricota, boneca alta e ro- busta que lembra as coloniza- doras alemãs. Segundo o historiador e museólogo Gelci Coelho, a explicação mais conhecida para o nome boi-de-mamão é a de que, na falta do material para confeccionar a cabeça do boi, os adeptos utilizavam um mamão. O livro mais lido pelos brasileiros é a Bíblia, seguido de O Sítio do Pica-Pau Amarelo e Chapeuzinho Vermelho Juliano Reinert Tolkien, pioneiro da literatura fantástica dizia: “[Criei] um mun- do secundário no qual sua mente pode entrar. Dentro dele, tudo o que se relatar é ‘verdade’”. A fra- se do autor britânico faz referên- cia à sua obra fantasiosa – “O se- nhor dos anéis” –, mas pode ser usada para ilustrar o que é a lite- ratura. Educadores acreditam que a máxima “ler é entrar no mundo da imaginação” é verdadeira. A afirmação condiz com a recente pesquisa sobre o comportamen- to literário no país, “Retratos da Leitura no Brasil”. Na pesquisa, 63% dos brasileiros se afirmam leitores por achar a atividade prazerosa. Parece animador, mas a leitura ocupa somente o 4º lu- gar no ranking dos passatempos. Na frente está a televisão, se- guida da música e do descanso. Em Joinville, as escolas mu- nicipais participam de atividades do Instituto Ayrton Senna desde 2000. Na escola Pedro Ivo Cam- pos, exercícios de incentivo à leitura são freqüentemente ado- tados pelos professore. Às sex- tas-feiras, por volta das 16h30, a escola pára as aulas para se de- dicar exclusivamente à leitura. O projeto “Mala do Saber” é um ro- dízio entre as turmas da Educação Infantil. Tanto professores quanto alunos usufruem do acervo da mala para um contato lúdico com os livros. A supervisora Silvana Terezinha Gomes atribui o su- cesso das atividades à mudança na forma de pensar. “Se alguém estivesse lendo em sala, diziam que estava matando aula. Hoje, a prática é incentivada”, conta. A pesquisa ainda apresen- ta os livros mais importantes na vida dos brasileiros: “Bíblia”, “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Harry Potter” e “O Pequeno Príncipe”. Público-alvo Na Midas, a contação de histó- ria atrai as crianças. “É ali que co- meçam a se formar leitores”, diz Rosimeri. E enquanto as crianças ouvem histórias, os pais andam pela loja. “É estratégico”, confes- sa. Já na Livrarias Curitiba, a ven- dedora Neuza Moraes, diz que o alvo são adultos com mais de 30 anos, os maiores compradores. No Sebo, Silvana brinca: “a gen- te atira para todos os lados. Não temos um público específico, até porque não há preconceito com livros. Tem tudo aqui”. Nas três situações há unanimidade: os jovens lêem pouco. “Muitos dos que procuram a loja é por obri- gação”, analisa Silvana. A pes- quisa do Instituto Pró-Livro revela que na faixa etária de 18 a 24 anos, apenas 14% são leitores. Apresentação do boi-de-mamão diverte público Foto:Divulgação Foto:FelipeSilveira No bairro Rocio Grande, em São Francisco do Sul, o grupo folclórico 25 de Dezembro se dedica a divulgar a cultura açoriana e o boi-de-mamão há mais de 30 anos. Jackson Alves, de 22 anos, participa do grupo desde os 12. Seu pai é um dos coordenadores e, juntamente com a família, organiza as apresentações. O grupo é formado por quarenta pessoas. Entre suas apresenta- ções, se destacam a dança do pau-de-fitas e a encenação do boi-de-mamão. Jackson conta que a dança do pau-de-fitas teve origem na Ilha dos Açores e é uma come- moração à fertilidade da natu- reza. Como o inverno é muito rigoroso na Europa, as árvores perdem todas as folhas. Com a chegada da primavera, era escolhida a árvore mais bonita do local e penduradas tranças, laços e fitas, depois dançavam em sua volta. A dança do pau- de-fitas também é conhecida em todo o estado. Na encenação do boi-de- mamão, o grupo de São Fran- cisco do Sul tenta recontar a história da morte e ressurrei- ção do boi, além de mostrar outros personagens como o Cavalo-Marinho, a Onça e o Barão. A preservação da cul- tura do boi-de-mamão é im- portante para resgatar valores e manter a história de uma comunidade. No final de no- vembro o grupo se apresenta na XVa Açor - Festa da Cultura Açoriana em Santa Catarina, que acontece do dia 28 ao dia 30 no Centro de Eventos Itajaí Tur, em Itajaí. Apresentação já é tradição de família Daniela de Tofol Boi-de-mamão resgata cultura P.P 03 Cultura
  • 4. Dezembro.2008 Para sair do terminal urbano há ponto certo: catracas determinam o único lugar para escapar do caos No motor da grande cidade É raro alguém ser percebido em meio a correria nos ônibus e terminais de Joinville Camila Prochnow Os pedintes: muitos, de todas as idades, sexos e necessida- des. Desde os bilhetes entregues mão à mão até os produtos que vendem em troca de caridade. Usam de diversas técnicas para atrair aqueles que já não estão atentos ao turbilhão de coisas à sua volta. Num gesto automático retiram da carteira a primei- ra moeda que en- contram e dão àque- le ser que ele mal viu o rosto, achando que assim fez a boa ação do dia. O pedinte também nem sempre sabe agradecer: pega a moeda, o vale transporte, o vale refeição e desaparece, buscando mais alvos para ouvirem, de ouvidos fechados, seus pedidos. Quando Talese descreve os motoristas de ônibus, ele fala da- queles que também contribuem para a grande cidade enriquecer. “Apesar de todo esse tormento e labuta, o motorista de ônibus de Nova Ior- que continua a ser, em grande medida, uma pessoa anônima que passa a vida mostran- do apenas a metade do rosto no retrovisor”. O retrovisor reflete um rosto cansado de um trabalhador igualmente explora- do, tanto quanto aqueles que ele transporta diariamente. Os motoristas exaustos e mal pagos, em clima de descontra- ção, reúnem-se nos intervalos entre a saída de um veículo e outro e falam sobre suas vidas. São poucos minutos de sossego, logo sentarão novamente no as- sento que já é deles por direito. De vez em quando embarca uma senhora que lhes conta sua vida inteira, ou uma moça o faz lar- gar o volante para lhe dar o tro- co da passagem. Às vezes, esta emperra na máquina e ele pre- cisa levantar-se para resolver o problema. Caras feias são o que não faltam na vida dele. Caras feias é o que mais se vê nas ruas de uma grande cidade. Uma cidade repleta de vozes anônimas O caos urbano. Uma cidade tomada pelo barulho, pela fu- maça, pelo stress, pelos apitos e máquinas das indústrias, pe- las pessoas transformadas em máquinas. O ir e vir dos ope- rários nas grandes metrópo- les é tão automatizado quanto sua função no chão de fábrica. A multidão sem rosto, sem identidade. Com uma só iden- tidade – a identidade do traba- lhador. A vida dos trabalhadores que fazem a grande ci- dade produzir não é tão brilhante e harmoniosa quanto a produção das pu- jantes indústrias que eles mesmos ajudam a enriquecer cada dia mais. Pelo con- trário, a trajetória do funcionário padrão é preenchida por frustra- ções, desânimo e conformismo. O dia ainda nem amanheceu. O operário padrão já está de pé. O dia começa a clarear, os olhos do trabalhador ainda não. Vista nebulosa, ele entra na máquina que ainda não pilota, mas com a qual já acostumou-se devido ao seu sacolejar diário. Senta- se e dorme. O corpo-máquina já habituou-se com o trajeto e já sabe a hora de descer. A men- te não precisa mais pensar: o corpo obedece sozinho aos im- pulsos do cérebro trabalhador. Fragmentos de frases, peque- nas falas, pala- vras soltar no ar. É o velho clichê “estar sozinho no meio da multidão” que se manifes- ta da forma mais abrupta quando se passeia pelo terminal de ôni- bus central da cidade. É como se você estivesse em uma jaula, cheia de leões fu- riosos prontos para fugir ou para te atacar. Se você quer atravessar de um lado para o outro do lugar, deve ter imensa cautela — não com os veículos motorizados que podem te atropelar, mas sim com os veículos humanos. Corre-se o grande risco de trombar com um desses seres que fará cair no chão todos os papéis, pastas e sacolas que você carrega, isto quando não é você mesmo que ele derruba. Mas se quiser escapar de tudo isso não pense que pode mirar em qualquer um dos lados e sair da “jaula”, indo em direção à rua. Não. Há cancelas que determi- nam o lugar de saída e, como se você fosse um gado marcado, terá que sair apenas por aquele local. Diariamente grandes mas- sas humanas passam por ali. Se você tiver a audácia de sair pela entrada dos veículos será prontamente barrado por espé- cies de guardiões da entrada. “Balinha,. Balinha..” é o que a velha senhorinha grita para tentar arrancar do povo, que passa apressado e de cara feia, alguns poucos trocados. “‘Peraí’ pai, fala mais um pou- co comigo”. A garota com pelo menos 18 anos não mora mais com os pais. Faz faculdade longe da cidade da família, o que justifi- ca o afastamento precoce. Magra, alta, cabelos castanhos e pele cla- ra. Ela esperava o ônibus chegar enquanto conversava com o pai pelo telefone. Domingo, 17h30, ela contava para o pai que pas- sara o fim de semana na casa de uma amiga, para não precisar fi- car sozinha em casa. “‘Peraí’ pai, fala mais um pouco comigo”. O pai queria desligar o telefone, ela ainda não. Antes do ônibus chegar ela já tinha desligado o telefone. Mas a cabeça parecia estar longe. Não é só a Nova York de Gay Talese que é recheada de histórias desconheci- das. Como a grande metrópole, Joinville também não pára Rostos sisu- dos é o que não falta na vida de quem caminha pelo terminal central Foto:RayanaBorba Comportamento 04 P.P
  • 5. Dezembro.2008 Os joinvilenses que ninguém vê No Centro, eles moram em esquinas, sofrem preconceito e contam suas histórias Alexandre Perger Vinte horas. Joinville se prepara para dormir. No Centro, ainda há muita gente, muitos carros. Alguns bares ainda estão abertos e cheios, pessoas bebem, fumam e falam. Mas Joinville quer dormir. Talvez não consiga, porque quer ser ci- dade grande e ficar acordada até mais tarde. Meia hora depois, me- nos carros na rua. No outro lado da rua das Palmeiras, a escuridão é maior. Não há tanta gente, não há tanto carro. Prostitutas, travestis e garotos de pro- grama disputam espaço. Em outros lugares,mendigos escolhem abri- go. Nem todos os seres invisíveis chegaram para ocupar seus luga- res. Mas a noite e a lua, como se esperassem seus companheiros, já trataram de se acomodar. Joinvil- le se prepara para dormir. Valentine, travesti de 30 anos, também não é visto pelos cidadãos apressados. Começou a se prosti- tuir com 13 anos, época do início do tratamento com hormônios, que o deixaria com corpo de mu- lher. Um ano depois, já enganava muita gente, até um amigo de seu pai. Este amigo o contratou para cuidar da filha, acreditando que Valentine era uma moça. Quan- do descobriu a farsa, encerrou o contrato e o expulsou de sua casa. “Parecia que um alien estava cui- dando da filha dele”, lembra o tra- vesti. Quando completou 16 anos, depois de alguns programas, de- cidiu procurar emprego. Quando as empresas recebiam sua carteira de identidade e viam o nome de um homem, diziam que não havia vaga. Foi aí que resolveu entrar de vez para a prostituição. Desde criança sabia que era gay. “Gostava de brincar de boneca, e acha- va alguns meninos bonitos”. Os pais sempre aceitaram sua condição. A fa- mília, hoje, resume- se a uma irmã e um sobrinho. Valentine mora, atual- mente, na Alemanha. Voltou para Joinville para resolver problemas de documentação. Como precisa- va de renda, estava trabalhando por aqui. Até o retorno, no último dia 21 de novembro, morou com a irmã. Ele gosta da Europa – acha que lá a mente das pessoas está “mais evoluída” -, mas quer fa- zer a vida em Joinville. Sonho em comprar um apartamento e ado- tar uma criança. Chama a vida, da qual ainda pretende sair, de estú- pida. “As pessoas tratam a gente como se fossemos nada”, reclama, “como se fosse um lixo se prosti- tuindo”. Enquanto isso, os carros de família passavam, e os ocu- pantes olhavam com espanto. Pa- reciam não conhecer personagens como Valentine, que não apare- cem nos catálogos de turismo da cidade, nem nos vídeos institucio- nais da Prefeitura. Valentine, travesti, começou a prestar seus serviços com 13 anos, mas deseja mudar de profissão: “As pessoas tratam a gente como se fosse nada, como se fosse um lixo se prostituindo” Nei vive aqui e ali, e cata lixo em todo lugar Foto:FabianeBorges Sem morada fixa e com vida iti- nerante,ohomemconhecidocomo Nei “Coco Roxo” vasculha o lixo atrás de papelão e lata. Mora na rua há dois anos. Possui estatura, cabelos e olhos baixos. É de Join- ville. Já trabalhou em algumas em- presas, mas, hoje, vive do lixo. Reli- gioso, fala em Deus o tempo todo. Seu espírito pode estar des- tinado ao Reino dos Céus, mas enquanto vive aqui, sofre os pre- conceitos. As pessoas que prova- velmente vão com ele para o céu são as mesmas que o desprezam na rua. Foi casado, mas se sepa- rou. Teve um filho, mas não gosta de falar dele, por medo de lembrar o passado. Não sente vergonha do que faz. Está com 36 anos. Saiu de casa aos 19. Ele diz que ven- de o que consegue para qualquer pessoa que pagar o preço que ele faz. “Meu sonho é que as pessoas ricas olhem pra gente com outros olhos, que não nos vejam como um nada”, idealiza o catador. Nei afirma que o seu jeito humilde faz com que as pessoas gostem dele. As noites de sono não são cons- tantes. Chega a ficar dois dias acordado. Mas quando pode, fica um dia inteiro dormindo. No fim das contas, reflete: “Cai uma fo- lha seca, o vento leva para onde quiser. A gente, na mão de Deus, é menos que uma folha seca”. As- sim que terminou de falar, virou a esquina da Princesa Isabel e foi embora, rindo da própria vida. Lutandoparasobreviver, eles vagam pelas ruas escuras de Joinville Comportamento P.P 05
  • 6. Dezembro.2008 As pálpebras gastas revelam um olhar cansado de quem já pre- senciou de quase tudo um pouco e de quem viveu o que os jovens de hoje saberão apenas através dos livros. Os cabelos cada vez mais ralos e esbranquiçados, a pele franzida e o caminhar zelo- so denunciam a chegada à última etapa da vida. Com tantas histó- rias para contar, a vida se reduz a lapsos de memória. Um recor- dar custoso diário num presente que espera apenas um amanhã. A saúde frágil impossibilita muita das atividades que antes eram ro- tineiras. E a expressão de que “no meu tempo era bom” torna-se co- mum, embalada por conversas. “O envelhecimento é a dimi- nuição das nossas reservas e a morte é o fim delas”, explica o geriatra João Roberto Maia. Espe- cializado há 15 anos na área que trata de idosos, o médico afirma que é no período de maturação do organismo quando as reservas de saúde são perdidas. Esta per- da de saúde está diretamente li- gada aos fatores extrínsecos e in- trínsecos. O fator extrínseco está relacionado com o modo de vida de uma pessoa, principalmente quando o assunto é trabalho e alimentação. Já o intrínseco é de- terminado geneticamente. “Sem dúvida o envelhecimento é muito mais influenciado pelo fator ex- trínseco. É ele que vai acelerar ou retardar o processo”, garante. Hadwiga Bandoch, 65 anos, sofre as conseqüências de um acidente na juventude. Moradora do Lar do Idoso Betânia há qua- tro anos, a simpática senhora de grandes olhos azuis e de origem polonesa passa os dias em seu quarto confeccionando chinelos de crochê e lendo livros proféticos religiosos. Aos 26 anos, ela foi atropelada e ficou em estado de coma durante 10 dias. “Fazia 10 novenas por dia para me recupe- rar”, relata. As seis fraturas nas pernas, ocasionadas pela batida que a deixou um ano e nove meses en- volta em gesso, hoje é o motivo pelo qual Hadwiga se exclui dos demais idosos que passam as tar- des em conversas na sala de estar do prédio que atualmente abriga 36 moradores. As dores não a deixam ficar muito tempo com as pernas baixas, por isso, ela pre- fere permanecer na cama e só se levanta para fazer as refeições ou, com muita dificuldade, limpar o pequeno cômodo repleto de ima- gens de santos católicos. “Mesmo com os meus problemas de saúde eu não gosto de ficar parada”, re- conhece. Hadwiga conta que sua vida sempre foi marcada pelo tra- balho duro na roça. “Fazia traba- lho de homem”, lembra. A mulher que até os sete anos de idade não sabia se comuni- car em português, vê consolo nas palavras dos livros católicos. Ha- dwiga não tem filhos e, como a maioria dos que alcançam a sua idade, convive com a ausência de parentes já falecidos. Assim como Hadwiga, muitos idosos que moram no Lar do Idoso Betâ- nia possuem pouco contato com os familiares. Muitas das visitas só acontecem no início do mês. É cobrado R$ 850,00 de cada in- quilino, porém os que só recebem o salário de aposentadoria pre- cisam deixar 70% do valor total. O administrador Acelino Setti, ar- gumenta que os valores cobrados não conseguem cobrir os gastos. Cada hospedagem custa em mé- dia R$ 1.265,00 mensais para o Lar, que é mantido também com a ajuda da Igreja Católica. Diferentes modos de e Rafaela Mazzaro A busca da felicidade pela convivência Para as dores, Cecíria Carva- lho do Nascimento, 64 anos, diz ter a solução. “Nessa idade todos nós sentimos dor, mas se ficar pensando nela dói mais ainda. A solução é tentar se distrair com outra coisa”, revela. E é neste tom de otimismo que a presiden- te do Centro de Convivência da Melhor Idade apresenta o local onde 130 idosos se reúnem para fazer atividades em conjunto. Entre uma e outra jogada de canastra, num piscar de olhos, a conversa nas seis mesas espa- lhadas pelo salão passa da des- contração às reclamações sobre a escassa saúde. Eles se conhe- cem muito bem. Sabem da real condição que vivem e que no dia seguinte poderão não ter a com- panhia do amigo na cadeira ao lado. Naquele espaço, eles se sentem iguais, mesmo com dife- renças de idade de até 30 anos. “Os jovens se cansam fácil da gente porque as conversas são outras”, conta a mulher de cabe- los pintados de bronze e maquia- gem definitiva nas sobrancelhas, fazendo com que os seus 64 anos se reduzam para uma aparência de no máximo 50. Mãe de três filhos e avó de nove netos, Ma- ria Emília Miranda explica que ali eles se sentem iguais porque re- cebem carinho uns dos outros. Quando o assunto é o desca- so dos filhos com os pais velhos, Maria Emília já tem a resposta na ponta da língua. “Se os pais não dão carinho e atenção para os fi- lhos quando eles são novos, por que eles iriam retribuir?”, ques- tiona. Tereza de Jesus Soares, 74 anos, concorda com a amiga. Ela mora sozinha, mas o filho casa- do vem todos os dias para dormir em sua casa. Para ela, ficar em casa sozinha é muito depressi- vo. Por isso, passa todas as tar- des no Centro para fazer o que mais gosta, o bordado, e só volta quando o sol está se despedindo. “Aqui até errar o ponto do borda- do é motivo para risadas e não de irritação”, comenta. O Centro de Convivência da Melhor Idade funciona há oito anos. Cada participante contri- bui com R$ 8,00 mensais para as despesas com o aluguel e conta de luz. Além de baralho e domi- nó, os idosos aprendem a fazer trabalhos manuais. Mas o que lota os bancos de madeira são os bingos mensais, promovidos pelo Centro. Os prêmios são o que menos importa. Tereza de Jesus Soares, 74 anos, passa todas as tardes no cen foto: Fabiane Borges 06 P.P Saúde
  • 7. Dezembro.2008 envelhecer Uma vez por mês, chegam os visitantes para o baile Uma vez ao mês, quatro ôni- bus vindos de Itajaí, São Bento e outras cidades vizinhas, tra- zem visitantes para o baile que acontece na Sociedade Alvora- da de Joinville. O baile inicia às 14 horas e termina às 17, todas as quartas-feiras. O horário de funcionamento já evidencia qual é o público alvo. O casal Carmem, 63 anos, e Irineu de Tofol, 66 anos, conta que o baile para idosos é muito melhor do que as “dominguei- ras” de dança do tempo em que eles eram jovens. “Os bai- les do nosso tempo eram feitos em casa mesmo”, afirma Irineu. Como naquela época não havia luz elétrica no sítio onde viviam, a música vinha de uma simples gaita e a luz de um pequeno suporte que armazenava que- rosene, o qual Seu Irineu ainda guarda como recordação. Dos tempos de juventude do casal para os dias de hoje muita coisa mudou. Porém, para eles, as mudanças foram para me- lhor. “Agora o baile é bem mais animado porque as bandas são muito boas”, lembra Carmem. O que muda nos bailes que eles freqüentam atualmente é que as pessoas dançam mais devagar e com mais cuidado. “Não dá para ficar muito tem- po sem dançar porque se não a gente fica encarangado e perde o pique”, brinca Irineu. Normalmente os freqüentado- res vão acompanhados, mas os que são solteiros ou viúvos ficam em mesas separadas do sexo oposto a espera de um convite para dançar. Pelo IBGE, cresce número de idosos com mais de 80 De acordo com progressões realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- tística), em 2050 a população feminina com mais de 80 anos poderá chegar a oito vezes mais do que a registrada em 2005, que é de um milhão. Já a po- pulação masculina desta faixa etária, que é classificada como a quarta idade, deverá atingir a média de seis vezes o total ve- rificado atualmente, um cresci- mento de cerca de 5,2 milhões de pessoas. A proporção de idosos vem crescendo mais rapidamente do que a proporção de crianças. Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças. Em 2000, essa relação dobrou, passando para quase 30 idosos. Percebe-se que a pirâmide etá- ria absoluta do Brasil nos anos 80 possuía a base mais larga do que o topo, que era extremamen- te afunilado, o que demonstrava a existência de uma maioria de jovens do que de idosos. Já as pirâmides das décadas seguintes revelam um número de mortali- dade muito baixo. Desta forma, a progressão aproxima-se de um formato mais semelhante a de um quadrado do que de uma pi- râmide propriamente dita, devi- do ao alto índice de longevidade e ao baixo índice de fecundidade dos brasileiros. Para chegar a es- tas estimativas, o IBGE utiliza o método das componentes, o qual incorpora as informações sobre as tendências observadas de mortalidade, de fecundidade e de migração em nível nacional. Rio de Janeiro e Porto Alegre se destacam como as capitais com os maiores números de ha- bitantes idosos, representando, respectivamente, 12,8% e 11,8% da população total desses luga- res. Em contrapartida, algumas capitais do Norte do país, como Boa Vista e Palmas, apresenta- ram uma proporção de idosos de apenas 3,8% e 2,7%, respectiva- mente. Já em Joinville, nos últi- mos 20 anos, houve um aumen- to de 151% de população idosa, passando de 11.263 idosos em 1980, para 28.236 idosos no ano 2000. ntro de convivência, fazendo o que mais gosta: bordado, e só pára quando o sol está se despedindo P.P 07 Saúde
  • 8. Dezembro.2008 O projeto social Casa Brasil, uma iniciativa inter-ministerial do governo federal, oferece ativida- des voltadas para a comunidade, visando a inclusão social, digital e cultural. No total, há 73 casas espalhadas, estrategicamente, pelo território nacional em áreas de baixo Índice de Desenvolvi- mento Humano (IDH). Em Join- ville, duas delas estão com as portas abertas em dois extremos da cidade: uma na zona Norte, a outra na zona Sul. Cada unidade é estruturada em módulos que propiciam a conexão de múltiplos saberes e obedece a um padrão que vai desde a identidade visual dos laboratórios até o valor da bol- sa daqueles que trabalham no projeto. A unidade Jarivatuba, cujo proponente é o Bom Jesus/ Ielusc, possui seis laboratórios em funcionamento: o telecentro, o auditório, a sala de leitura, o laboratório de segurança ali- mentar e nutricional e, por fim, o módulo de comunicação – es- túdio de rádio e multimídia. Desde a abertura da Casa Brasil Jarivatuba, em dezembro de 2006, até julho deste ano, já foram realizados 17.749 aten- dimentos. Nos espaços da uni- dade, os cidadãos podem par- ticipar de oficinas de culinária, informática básica, teatro, ca- poeira, aulas de alfabetização e reforço escolar, produção e edição de conteúdo fílmico, ra- diofônico e foto- gráfico, além de eventos temáti- cos, que são or- ganizados em parceria com ou- tras entidades e voluntários. Evandro Cle- mente Cordeiro, 14 anos, é um dos beneficiados. O garoto fre- qüenta a unidade desde a aber- tura e já participou de várias atividades. Hoje, ele já é volun- tário no reforço escolar e conta o quanto a Casa faz diferença. “Minha vida mudou muito de- pois que eu conheci a CB (Casa Brasil). Parei de ficar na rua, in- comodar os outros, fazer ‘bobi- ças’. Aqui me ensinaram a ser feliz. É minha segunda casa”, conta o garoto. Cássia Nunes, coordenadora da unidade Sul atuante desde se- tembro de 2006 – antes mesmo da abertura – , acredita que as atividades devem acontecer com o que a unidade tem disponível e os bolsistas têm em mãos. “Nós trabalhamos com limitações e as coisas acontecem da mesma maneira. É claro que seria muito melhor ter um caixa aqui”, con- fessa ela e com- pleta: “Não tenho do que reclamar quanto ao Bom Jesus. O que nos falta é uma logís- tica mais ágil e dinâmica entre a unidade e a insti- tuição.” Uma das maiores dificuldades da Casa é a falta de sustentabilidade fi- nanceira, já que o Bom Jesus é a única fonte reguladora destes recursos, responsável por cus- tear despesas mensais como taxas de água, luz, telefone, e material de expediente, limpe- za e higiene. Além dele, a Casa tem dois co-parceiros: o instituto Consulado da Mulher e o Comitê Fome Zero de Joinville. Porém, as contribuições advindas destes são mais pontuais e, na maioria das vezes, estão ligadas à exe- cução de projetos em conjunto. A Casa também recebe doações esporádicas de comerciantes, do pessoal engajado no projeto, dos próprios freqüentadores ou apoiadores da unidade. Assim, uma das alternativas vislumbradas, após a constata- ção dos vários resultados posi- tivos obtidos, foi a captação de recursos junto à prefeitura de Joinville. Em abril de 2008, o proponente encaminhou à Se- cretaria de Assistência Social um plano de trabalho com os respectivos custos da unidade requerendo verba para a conti- nuidade e a intensificação dos serviços prestados. Após tramitar na Comissão de Ética e Justiça da Câmara, o projeto, no valor de 50 mil reais, foi aprovado no último dia 13 de novembro em audiência pública na Câmara de Vereadores. A expectativa, segundo a co- ordenadora, é de que a verba permita ampliar a oferta de ati- vidades e o desenvolvimento de projetos em parceria, inclusive, com acadêmicos das universida- des da região. Além disso, o di- nheiro deve suprir necessidades emergenciais como, por exem- plo, a compra de insumos para as aulas de culinária. Projeto estimula inclusão social Aberta desde dezembro de 2006, a Casa Brasil já fez mais de 17.700 atendimentos “Minha vida mu- dou muito depois que entrei na Casa Brasil. Aqui me ensinaram a ser feliz. É minha segunda casa” Ariadna Straliotto A unidade sul de Joinville, situada no bairro Jarivatuba, tem seis laboratórios em funcionamento. Entre eles a sala de leitura. Com acervo estimado em 1.500 exemplares, os cidadãos podem fazer empréstimo de livros Foto:PatriciaDebortoli Cidadania 08 PP
  • 9. Dezembro.2008 Jonas Alberto Cavanhol, 34 anos, está na direção do Presídio de Joinville há nove meses. Neste período, 30 mulheres foram deti- das. Cavanhol não nega a super- lotação, mas diz que, infelizmente, a ampliação da ala feminina não está ao alcance de sua autoridade. Ele disse que o governo de Santa Catarina pretende construir uma penitenciária industrial feminina em Criciúma, mas ainda não há previsão para o início das obras. Existem no Estado 1500 presas, o número de presidiárias triplicou em seis anos (tempo em que tra- balha no presídio) por mudanças na justiça. “Antes só se prendia o marido. Agora, todos os maiores de uma casa denunciada por tráfi- co, vão presos”, afirma. A maioria das mulheres foram detidas por tráfico de drogas. As penas neste tipo de crime são de, no máximo, cinco anos. A maior pena do presídio é de 51 anos, por crime de extorsão (quando se ameaça para conseguir dinheiro). Cavanhol há dois meses não se incomoda com confusões na ala feminina. “Elas estão tão tranqüi- las que até me preocupo”, brinca. Além da escassez dos materiais de higiene pessoal, obtidos por meio das visitas familiares, elas conse- guem arrecadar de R$ 200 a R$ 300 com recicláveis, quantia que ajuda na compra dos produtos de limpeza externa. Segundo ele, há cinco detentas prestes a sair. Carla Alves, 18 anos, presa há seis meses e condenada ao regime semi-aberto, foi cúmplice em um assalto a mão-armada a uma loté- rica. No princípio, ficava no “conví- vio”, no regime fechado, mas após a sentença pode ir para a “regalia”. Segundo Carla, as colegas do “con- vívio” tem sofrido com o excesso de detentas, principalmente porque as celas são quentes e abafadas. “Tem muitagentealicompenavencida.A justiça tinha que ver isso”, lamenta. Há quase 18 anos, a Pastoral Carcerária visita os presídios fe- minino e masculino e a Penitenci- ária Industrial (só para homens), semanalmente, e de acordo com membros da Pastoral a situação já foi bem melhor. Irecê Donadel, 48 anos, está há 12 como agen- te e critica a forma como a so- ciedade trata os presidiários. “As pessoas não vêem que ali existe uma história e não compreen- dem nosso trabalho”, finaliza. As detentas das duas galerias do Presídio Feminino de Joinvil- le vivem um momento delicado. A superlotação do espaço vem trazendo dificuldades de acomo- dação. Projetado para alojar 35 mulheres, atualmente abriga 95. São poucos centímetros entre os beliches de madeira – o chão também tem servido como cama. Além das instalações precárias, uma das conseqüências do ex- cesso de presidiárias é a falta de materiais de higiene e limpeza. O berçário, local onde ficam as gestantes e mães com be- bês, é mais confortável e areja- do. Lá, quatro detentas perma- necerão com seus filhos até que completem seis meses de idade. No quarto onde estão as deten- tas com regime semi-aberto, chamado por elas de “regalia”, dormem oito mulheres. Elas são responsáveis pelo almoço e jan- tar das colegas e podem circular pela área de convivência da ala. De acordo com Cynthia Maria Pinto da Luz, 49 anos, advogada do Centro de Direitos Humanos de Joinville, na última visita realizada pelo CDH e Conselho Carcerário e Pastoral Carcerária, em 12 de no- vembro, as presidiárias se queixa- ram, principalmente, da escassez de absorventes. O grupo também constatou que as visitas íntimas foram interrompidas e houve ocu- pação de uma pequena bibliote- ca para a instalação de colchões. Os atendimentos médicos ocor- rem muito raramente e, quando é preciso levá-las até um posto mé- dico ou a um hospital, elas sofrem com o preconceito dos atenden- tes. Há carência de medicamentos de primeira necessidade. “O que mais me preocupa é que a falta dos produtos de limpeza pode resultar no acúmulo de sujeira”, comenta. Para a advogada, a ine- ficiência e o descaso do governo do estado em relação ao sistema prisional fica claro nesta situação. A vagarosidade em julgar os pro- cessos deixa estas pessoas presas por mais tempo. Até agora, não há nenhuma medida em andamen- to para reverter a superlotação. Ala feminina está superlotada Lorena Trindade Detentas dormem em colchões no chão e há escassez de material de higiene pessoal Diretoria não nega superlotação Detenta brinca com sua filha de nove meses no berçário, que é o espaço mais confortável da ala feminina do Presídio Regional; as outras estão superlotadas foto: Patrícia Debortoli P.P 09 Direito
  • 10. Dezembro.2008 Renovação em São Bento do Sul A Câmara Municipal de São Bento do Sul foi totalmente re- novada no último pleito. Dos dez parlamentares que formarão a legislatura 2009-2012, sete são estreantes. Dos vereadores que encerram o mandato em 2008, nove apresentaram seu nome para a disputa e nenhum foi re- eleito. O mais votado foi Antonio Jo- aquim Tomazini Filho (DEM), com 1.810 votos. O médico lançou- se pela primeira vez a um cargo político e afirma que priorizará a saúde pública. Com 1.003 vo- tos, o ortopedista Eduardo Anto- nio Rodrigues de Moraes (PP) foi eleito vereador. Eduardo lançou- se candidato pela primeira vez em 2004, quando ficou como primeiro suplente, assumindo duas vezes. Atual secretário municipal de saúde, Luiz Sieves (PMDB), foi o terceiro vereador mais votado, com 1.290 votos. Seguido de Lí- rio Volpi (PMDB), atual presiden- te da empresa municipal de ha- bitação, eleito com 1.215 votos. É a segunda vez que irá atuar no parlamento são-bentense. Entre os eleitos estreantes na política são-bentense, Márcio Dreveck (PP), administrador de empresas, conquistou 940 votos. Josias Terres (DEM), professor, foi eleito com 842 votos e o repre- sentante comercial Marco Auré- lio Viliczinski (PSB) elegeu-se com 911 votos. Já o presidente do PT, Tadeu do Nascimento, concorreu a vereador pela terceira vez, sen- do eleito com 1.367. Na atual gestão não há repre- sentantes femininas. Para a pró- xima duas foram eleitas: Nilva Marli Larsen Holz (PP), com 1.053 votos e Adriane Elisa Ruzanowsky (PMDB), com 1.006 votos. Ambas são professoras. “Crescei e multiplicai-vos” Pregações fervorosas, com bí- blias nas mãos. Vozes que eco- am améns e aleluias. Na busca pela cura e libertação, milhares de católicos têm migrado para o pentecostalismo. De acordo com o Censo de 2000, 74% da po- pulação brasileira era católica e 15% evangélicos. Na pesquisa Datafolha de 2007, o número de católicos caiu para 64% e o de evangélicos subiu para 22%. No início, a explosão evangé- lica se deu em silêncio. A primei- ra igreja evangélica no Brasil foi a Batista, criada em 1889. Na década de 1910 veio a Congre- gação Cristã no Brasil e a As- sembléia de Deus. Cinqüenta anos depois surgiu a do Evange- lho Quadrangular, e na década de 70, a Universal do Reino de Deus. Quase como resposta à revo- lução evangélica, a Renovação Carismática Católica, criada em 1967, divide as celebrações com louvores e pregações. Os pre- gadores são pessoas comuns, que dão testemunho de vida e contam os milagres recebidos. A professora Cheila Pelin, 25 anos, freqüentou igrejas evan- gélicas por quase um ano, e ga- rante que não é preciso mudar de religião para encontrar paz. Hoje, faz parte do grupo caris- mático. Para ela, os migrantes buscam outras religiões porque não encontraram Deus. “Muitos de fato nunca o conheceram”. O pastor da igreja Quadrangular Ari José Vavassori acredita que os crentes que mudaram de re- ligião buscam atenção. “As pes- soas precisam ser alimentadas com carinho para se sentirem importantes”, garante. Geral Pela primeira vez, nenhum dos nove candidatos que concorreram à reeleição se elegeu Linda Tomelin Pesquisa aponta que número de evangélicos no País cresceu 22% nos últimos 25 anos Tatiane Martins Fato inédito: dos dez parlamentares eleitos que formarão a próxima legislatura, sete serão estreantes na Câmara de Vereadores de São Bento do Sul Número de católicos caiu para 64% e o de evangélicos cresceu para 22% da população brasileira, em 2007 Foto:divulgação Foto:FelipeSilveira 10 P.P
  • 11. Dezembro.2008 Esporte Final difícil no futebol amador Para dois estudantes de jor- nalismo que estreariam como repórteres esportivos, a final do campeonato amador de futebol da cidade, a Primeirona, já esta- va de bom tamanho. Associação Atlética Serrana, do Jardim Iririú e Grêmio Krona, do Vila Nova, disputariam o caneco às 16 ho- ras do dia 17 de novembro, na Arena Joinville, num típico do- mingo chuvoso. O resultado de 1 a 0 foi suficiente para dar o título inédito à Serrana, num jogo que nem precisava de lances emo- cionantes, já que personagens anônimos roubavam a cena dos gramados. Diferente das grandes finais, em que torcedores lotam os es- tádios, pouca gente foi à Arena. A maior parte dos cerca de 1,2 mil espectadores estava concen- trada na arquibancada coberta, dando a impressão de estádio vazio a quem olhasse o homem solitário do outro lado do campo que, devido à cor de sua roupa, confundia-se facilmente com a arquibancada. A partida começou às 16h21 com a troca de passes do Krona, que em seguida perdeu a bola, e só conseguiu partir para o campo de ataque seis minutos depois. O primeiro tempo foi sem grandes emoções, tanto que o gandu- la atrás do goleiro Bambam, do Serrana, preferiu bater embai- xadinhas enquanto os repórteres dos jornais A Notícia e Notícias do Dia debatiam sobre o futuro do JEC e o comunicador da rádio Globo fumava um cigarro. Quan- do a chuva engrossou, às 16h47, os jornalistas mais experientes foram se abrigar e convidaram os mais jovens a sair do campo. “Não esquenta, a gente já é anfí- bio”, brincou um dos novatos. O Krona marcava forte, dei- xando o jogo truncado. Na pri- meira partida da final, há três semanas, havia sido goleado por 4 a 0 e, desta vez, não estava disposto a repetir a dose. A Ser- rana tocava melhor a bola, mas o adversário marcava em cima. A cada falta do Krona, os adver- sários rolavam no chão, e todo mundo do banco da Serrana pe- dia cartão. “Já é a quarta falta do cara e ninguém faz nada”, gritou um dos atletas, após mais uma falta no camisa 10 do seu time. O técnico Toninho Gam- beta se exaltava e reclamava na orelha do bandeirinha, que nada respondia. Ele apenas ges- ticulava com a cabeça, em sinal negativo. Numa das subidas do Krona, um dos torcedores mais anima- dos gritou da arquibancada: “Volta pra Camboriú, seu cabe- çudo, terra da minha ex-mulher”. As frases ditas por ele, aliás, não pararam por aí. Comentários como “ô seu carne moída” foram repetidos algumas vezes pelo se- nhor de pele morena e bigode branco. “Ah, ele é sempre assim”, comentou um fotógrafo à beira do gramado. Pouco antes de acabar o pri- meiro tempo, alguns torcedores pareciam incomodados com a partida. “Jogo duro de assistir”, disse um deles. “Deve ser o ven- to sul”, falou outro, bem-humo- rado. Enquanto isso, o árbitro in- dicava um minuto de acréscimo. O auxiliar, no entanto, não sabia usar a placa eletrônica que indi- ca o tempo. Como demorou 50 segundos para erguê-la, o árbi- tro apitou o fim da primeira eta- pa logo que ela foi exibida. Na volta do intervalo, que teve direito a apresentação de hip hop, o atacante Lú, da Ser- rana, balançou a rede logo aos dois minutos. A partir daí, o time do Jardim Iririú dominou o jogo, mesmo que sob forte marcação do Krona. Às 18h15, uma falta dura em cima de um atacante alviverde foi a responsável pelo único cartão vermelho da parti- da, que gerou bate-boca entre a torcida e o banco de reservas do time do Vila Nova. O final do jogo se aproxima- va. Quando o árbitro sinalizou cinco minutos de acréscimo, os reservas já começaram a come- morar. Num dos últimos lances, o Serrana quase ampliou com uma “bimba” de fora da área. Mais bonito que o chute, só a defesa do goleiro Foca. Ao apito final, todos correram para o centro do campo, inclusive a torcida. O atacante Lú jogou a camisa para um amigo da torcida. Rocha, ex- jogador do JEC, negou o mesmo pedido, feito por um torcedor. “Já prometi para o meu filho”, expli- cou. No caminho para o centro do gramado, o técnico Gambeta resumiu o sentimento da equipe: “Um título tão difícil quanto esse a gente tem mais é que comemo- rar mesmo”. Com time mais experiente, Serrana comemora título inédito da Primeirona de Joinville Ana Carolina Luz e Felipe Silveira Time do bairro Jardim Iririú comemora pela primeira vez título do principal campeonato de futebol amador da cidade. Na final contra o Grêmio Krona, do Vila Nova, lances disputados marcaram a partida na Arena P.P 11 Foto:CharlesFrança
  • 12. Dezembro.2008 Mãe, dona-de-casa e professora Professora Marilza Elisabete Grando Lazzari, 51 anos, encara tripla jornada de trabalho “Uma mulher que se desdo- bra”, assegura a professora Ma- rilza Elisabete Grando Lazzari, 51 anos. De fato, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geogra- fia e Estatística (IBGE) divulgada em 17 de agosto de 2007, 90,6% das brasileiras despendem tempo, além da profissão ou estudo, para afazeres domésticos. Em 33 anos de magistério, Marilza chegou a lecionar diaria- mente em três períodos – 61 au- las semanais –, por cerca de 15 anos. Acordava às 6 horas e só parava às 22h20. Há três anos, por excesso de trabalho, precisou tomar remédio para depressão. Quando entrava em sala, esque- cia do problema. “Tinha pique até a última aula”. Agora, apo- sentada pela rede estadual, só leciona para turmas matutinas, de 5ª a 8ª série, na Escola Mu- nicipal Pastor Hans Müller. “Virei madame”, comemora a senhora que passava os finais de semana corrigindo provas. “Tô mais light. Leio e tiro uma sonequinha de- pois do almoço”. Mesmo com a tripla jornada, a professora deixava o almoço preparado, lavava e passava as roupas, ia ao supermercado e jogava “uma canastrinha” nos fi- nais de semana. “Parece até que sobrava mais tempo”, diz. Marilza também fiscalizava as tarefas dos filhos, com quem sempre teve di- álogo aberto. “Tinha contato com eles, até cheguei a dar aula para os dois”, acrescenta, lembrando do dia em que enviou um bilhete para o próprio marido, requeren- do uma assinatura pelo filho não ter feito a tarefa. O caçula, Stéfa- no, 15 anos, está no primeiro ano do Ensino Médio. Fabrizio, de 22 anos, cursa engenharia de pro- dução na Universidade do Estado de Santa Catarina. Eles passaram parte da infância em escolas ma- ternais e com a empregada. “E não me arrependo”. Marilza nunca trabalhou em escola particular; nem demons- trou interesse em seguir esse ca- minho. “Me sinto desvalorizada como professora”. Ela lamenta que, nos últimos quatro anos, é mais difícil lidar com os estudan- tes. “Eles não têm mais limites, não respeitam”. Mas também avalia que, após anos de dedi- cação, é gratificante reencontrar ex-alunos, o que comprova que ensinou várias gerações. Certo dia, uma aluna levantou a mão e disse, baixinho: “Professora, eu acho que a senhora deu aula para a minha avó”. “Abaixa esse dedo”, reagiu brincando, como se quisesse abafar o assunto. Natural de Veranópolis (RS), adoraria voltar para a cidade natal. Até já comprou um apar- tamento. Os filhos e o marido não querem. Marilza casou vir- gem aos 24 anos com o jornalista Ari Lazzari, dez anos mais velho. Com 25 anos, já lecionava há seis, e então começou a escre- ver uma nova página: mudou-se para Joinville acompanhando o marido, que trabalhava no jornal A Notícia. Após 13 anos pagan- do aluguel, o casal comprou uma casa própria. “Tudo aquilo que nós temos foi com muito sacrifí- cio”. É católica, mas acredita na teoria evolucionista: “Vou contra a minha religião”. Nas recordações, a infância pobre. “Eu não tinha nem borra- cha. Apagava com a borrachinha do conta-gotas”. Morava com os pais, já falecidos, que eram agri- cultores, um irmão e três irmãs. O ferro de passar era elétrico, “mas se esquentava em cima do fogão à lenha”. Com o dever de lavar ou secar a louça, a menina, que so- nhava em ser secretária, ia para a “casinha” (a latrina) e ficava lendo. Apanhava muito por cau- sa disso, principalmente da mãe. E como! Na época, só tinha aces- so aos livros da escola e à Bíblia, além dos livrinhos de histórias, presentes da vizinha que os trazia de Porto Alegre. “Sempre procurei ser capricho- sa, fazer as coisas com perfeição”. Morria de medo que a mãe con- versasse com a professora e ouvis- se alguma queixa. Hoje, pós-gra- duada em zoologia, confessa que odeia História. Nunca gostou. De 5ª a 8ª série, estudou essa disci- plina em um livro grosso, de capa amarela. Nas provas, a professo- ra de Marilza mandava os alunos escreverem as causas e as con- seqüências do assunto. “Mas ela nunca me explicou o que era uma causa e uma conseqüência”. Rosimeri Back Perfil Abnegação: com 33 anos de magistério, professora Marilza chegou a lecionar diariamente em três períodos Foto:PatríciaDebortoli 12 P.P