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Eixo temático: O ensino de História nos anos iniciais


    O BELO E O FEIO: INTERPRETAÇÕES INFANTIS SOBRE A RUA SERGIPE


                                                          Angélica Maria de Matos,UEL
                                                           Érica Mieko Motomura, UEL
                                                 Heloisa Helena Apª Chaves Duarte, UEL
                                                               erica_mieko@hotmail.com1


RESUMO: Este artigo tem como finalidade socializar a experiência desenvolvida por três
pedagogas, bolsistas do PIBID/UEL (o Programa conta com o apoio financeiro da CAPES)
imersas na tentativa de compreender as peculiaridades de ensinar História para crianças. O/A
docente dos Anos Iniciais é responsável por articular as diversas áreas do conhecimento
escolar tornando a aprendizagem mais significativa para o aluno. Assim sendo, buscamos
desenvolver uma proposta interdisciplinar com alunos da 4ª série de uma escola municipal da
cidade de Londrina tendo por centro o estudo da Rua Sergipe, rua importante na constituição
e na memória da cidade. Trata-se de uma rua de comércio popular com prédios das décadas de
1950 – 60 datação esta significativa para uma cidade com 78 anos. Utilizamos o material
produzido por pesquisadores envolvidos no Projeto Educação Patrimonial IV – Memórias de
Rua, financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura – PROMIC. Dividimos este
texto em duas partes: abordagem teórica sobre a formação do pedagogo e sua relação com a
disciplina de História e apresentação das experiências desenvolvidas junto aos alunos,
situação na qual buscamos entender as lacunas evidenciadas em nosso processo de formação.


PALAVRAS CHAVE: Ensino de História Cultura, Memória, Patrimônio Histórico.




       Desde a mais tenra idade o ser humano anseia em significar sua vida. O aprendizado
de sua própria história pode trazer-lhes possibilidades e transformações impensadas quanto
aos os padrões de comportamento que vão se construindo em meio às manifestações culturais
(FREIRE, 2000, p.150). A humanização do ser enquanto sujeito e a democratização da cultura


1
 Angélica Maria de Matos; Érica Mieko Motomura; Heloisa Helena Aparecida Chaves Duarte;
Discentes do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina.
2


parte da conscientização do que somos e do que fazemos com o que somos e possibilita a
compreender e agir no mundo. Ao conhecer que existem outras possibilidades o sujeito
assume a construção de sua história e, em decorrência, a busca pela transformação da mesma.
       Partindo deste princípio abordaremos nesse texto nossa experiência com a inserção do
curso de Pedagogia no PIBID, cujo trabalho realiza-se na área de História com o tema
Patrimônio Cultural. O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de 2Iniciação à Docência), de
acordo com o CAPES oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais
que se dediquem ao desenvolvimento de atividades como docentes nas escolas públicas. O
objetivo é antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula, articulando as
relações entre as instituições de ensino superior e as escolas.

       A inserção do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina ocorreu no
ano de 2011 com um grupo de onze discentes (alunas de diferentes séries do curso), duas
supervisoras (professoras da rede municipal da cidade de Londrina) e a coordenadora
Professora Doutora Sandra Regina Ferreira de Oliveira. O proposto para o primeiro ano de
trabalho (2011/2012) almejava desenvolver um trabalho sobre a história de Londrina em duas
escolas (...) com diferentes resultados no IDEB, utilizando-se de uma metodologia
diferenciada para o conteúdo “historia de Londrina”, baseada, principalmente, na análise de
fontes que instiguem aos alunos a elaborarem inferências sobre o passado articulando
diferentes temporalidades: passado, presente e futuro. Pretendeu-se também desencadear nos
licenciados e professores a compreensão da importância do trabalho interdisciplinar, criativo,
alimentador e incentivador da curiosidade e do espírito investigativo inerente às crianças,
alunos e alunas dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

       A partir do tema Patrimônio Histórico, organizou-se o subprojeto “As Lentes Captam
o que o Coração Sente – Permanências e transformações no patrimônio arquitetônico da
cidade de Londrina. Nosso trabalho, a partir do elencado no subprojeto, é estudar com os
alunos as transformações ocorridas em uma determinada rua da cidade de Londrina, a Rua
Sergipe, rua importante na constituição e na memória da cidade. Trata-se de uma rua de
comércio popular com prédios das décadas de 1950 – 1960 datação significativa para uma
cidade com 78 anos.

       A escolha da Rua Sergipe como fonte para o estudo da história de Londrina deu-se em
decorrência das transformações ocorridas na mesma desde a aprovação em julho de 2010, da
3


Lei Cidade Limpa (10.966/2010) cujo objetivo é reduzir a poluição visual no quadrilátero
central da cidade com a retirada de placas, banners e faixas com divulgações de empresas e
produtos assim como a redução do número de outdoors. O prazo para cumprimento da Lei foi
02 de fevereiro de 2011. Com isso, as fachadas dos prédios da Rua Sergipe, escondidas há
décadas atrás de estruturas metálicas, puderam ser por alguns, novamente visualizadas, por
outros, pela primeira vez conhecidas. Nesse texto apresentamos os resultados obtidos até
então com esse trabalho.

       O título do artigo “O Belo e o feio: Interpretações infantis da Rua Sergipe” retrata a
atual situação da rua na qual se misturam fachadas reformadas que se destacam pelo colorido
com outras das quais somente se retirou as placas e nas quais o tempo se faz presente no
aspecto deteriorado da arquitetura.




Ensinar História para crianças na escola: aproximações com a Educação Patrimonial

       O Ensino de História para crianças deve ser compreendido pelos pedagogos e
historiadores como de extrema importância para a formação de um sujeito consciente. Não se
trata somente de transmitir determinados conhecimentos, mas também de torná-los
significativos, dinâmicos e atraentes e que, principalmente, possibilitem ao sujeito entender-se
e comunicar-se com o mundo a partir de diferentes linguagens. Portanto, nos Anos Iniciais,
entendemos que a abordagem interdisciplinar é importante porque possibilita transitar pelos
diferentes, mas agregados, processos de alfabetizações como o histórico, linguístico,
matemático, geográfico, dentre outros.

       Segundo Benetti,

                        A História, vista como um ‘passado vivido’, não se altera nas diferentes
                        séries e ciclos do ensino básico. O passado é o mesmo, porém a forma de
                        compreender, organizar e interpretar os processos históricos é que mudam.
                        (2010, p.2)



       A participação do pedagogo na busca por essa compreensão na forma de ensinar
História nos Anos Iniciais contribui para abertura de outras trilhas interpretativas, pois tal
profissional é responsável por trabalhar em sala de aula com várias áreas do conhecimento. A
principal ênfase do projeto aqui apresentado é no ensino da História, tendo como tema o
4


Patrimônio Histórico. Porém, tratando-se dos Anos Iniciais, abarca-se também a necessidade
de agregar outros objetivos como, por exemplo, capacitar o aluno (a) a se expressar, falar e
escrever de forma culta, ao mesmo tempo em que se valoriza a forma de expressão que
carrega de seu meio social.
       Outro “conteúdo” que se soma ao ensinar História para crianças é a formação para a
autonomia. Desta forma, o espaço para o diálogo precisa ser amplo no trabalho com crianças
(assim como deveria ser com as demais faixas etárias). Os alunos trazem consigo o que já
sabem e conhecem da vida e o desafio do professor é auxiliá-los a estabelecer uma relação
entre esses diferentes saberes. Tal situação só ocorre por meio do diálogo no ambiente escolar
buscando sempre a transformação para algo melhor do que somos hoje. Desenvolver a
autonomia no aluno significa potencializar o que ele mesmo já traz em si e ampliar seus
conhecimentos para ele possa fazer mais de si.
       Considerar a formação para a autonomia como um “conteúdo” importante nos Anos
Iniciais reverbera na aproximação com as crianças por meio do diálogo, da valorização do
conhecimento que as mesmas já possuem, bem como a troca de afetividade, entendida como
energia que leva a ação. Conforme Freire, no ato educativo não se “pode temer ao debate [...]
não se pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa” (2000, p.96,97). Em nosso
projeto, seguir tais pressupostos tem-se demonstrado eficaz para o processo de ensino e
aprendizagem. É real a mudança nos alunos com os quais trabalhamos: os mesmos passaram a
falar mais, trocar ideias com o outro, valorizar sua opinião e respeitar (ainda que discordando)
a do outro.
       Ao trabalharmos no ensino de História com a temática Patrimônio Histórico,
aproximamo-nos do que se denomina por Educação Patrimonial. Ao adentrarmos em estudos
sobre como poderíamos trabalhar em sala de aula a partir dos pressupostos da Educação
Patrimonial, compreendemos a importância do processo educativo em torno de tais espaços
que podem ser de diversas tipologias, inclusive de ordem imaterial.
       No Brasil, as ações voltadas para a Educação Patrimonial não são recentes e conhecer
um pouco mais acerca de seu histórico auxiliou-nos a definir como trabalharíamos no projeto
com a Rua Sergipe.
       Barroso afirma que


                        A metodologia da Educação Patrimonial comparece no Brasil, a partir da
                        década de 1980, mais precisamente em 1983, com a ação percussora do
                        Museu Imperial de Petrópolis. A partir de trabalho realizado na Inglaterra, a
                        então diretora do Museu, a museóloga Maria de Lourdes Parreira Horta,
5


                       articulou a realização do 1º seminário de Educação Patrimonial no Brasil.
                       (2010, p.16)



       A autora também faz referência importante em relação ao lançamento, em 2004, da
cartilha “Educação Patrimonial: Orientações para professores do ensino fundamental e médio
organizado a partir das aulas realizadas no museu” (BARROSO, 2010, p.17).

       Considerando a importância do agir docente na formação dos alunos, o que se traduz
na responsabilidade da escola em formar para a cidadania, concordamos com Barroso (2010.
p.25) quando afirma que o conhecimento advindo da Educação Patrimonial propicia a
valorização dos saberes culturais que cada um carrega dentro de si e que, aliado a novos
saberes, resultam na formação de sujeitos autônomos capazes de pensar e intervir de modo
consciente em seus lugares, contextualizando cada informação.

       Uma das fontes de pesquisa utilizada junto aos alunos no desenvolvimento desse
trabalho foi o folheto produzido por um grupo de pesquisadores sobre a Rua Sergipe (figura
1). Tais pesquisadores, dentre os quais citamos o Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães
(2009), desenvolvem projetos sobre Educação Patrimonial colocando em evidencia a
importância de se trabalhar os patrimônios da cidade com os indivíduos inseridos nas escolas.
Os trabalhos de Magalhães e demais autores (2009) utilizado nesse trabalho contaram com
incentivo cultural do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo a Cultura) que, conforme
Magalhães (2009, p.45) oferece condições para o desenvolvimento de ações educativas que
dizem respeito aos “Patrimônios Históricos” de Londrina.

       Compreendemos que a Educação Patrimonial é um importante elemento para a
formação do aluno e potencializador recurso para uma aprendizagem significativa. Por meio
do estudo de lugares constroem-se conceitos históricos capazes de levar os alunos a
compreenderem que fazem parte dessa historia, conferindo assim a noção de pertencimento e
isso, como afirma BARROSO (2010, p.21), promove sentidos e significados capazes de
mover a ação educativa.

       Nesse sentido, trabalhamos compreendendo o patrimônio histórico como elemento
fundamental para a constituição da identidade. Portanto, no ensino de História torna-se
importante utilizar tais suportes de memória como as paisagens, comemorações, monumentos,
objetos, construções, pois serão base para a construção de saberes sobre cada um de nós,
sobre o presente, passado e futuro.
6


       O trabalho aqui apresentado desenvolve-se em uma turma de 4ª série que, devido a
ajustes e reajustes administrativos, reúne alunos com idade entre 09 e 13 anos que apresentam
“dificuldade de aprendizagem”. Charlot (2000. p.22) comprova em suas pesquisas que o
sucesso, ou fracasso, na escola relaciona-as diretamente com as relações que se estabelecem
com o saber. Logo, segundo o mesmo, não há alunos que não aprendem, mas ações que não
propiciam a determinados sujeitos aprenderem. Sua prerrogativa é que se alterarmos a relação
com o saber, com outras possibilidades de atividades e práticas, pode-se chegar a resultados
positivos.    É possível concluir que o autor acredita que o fracasso escolar não está ligado
somente e diretamente ao aluno e a sua situação no contexto social, mas também se relaciona
com as atividades que lhe são oferecidas e que, muitas vezes, não atingem um nível eficaz no
que diz respeito ao que conhecimento que se quer construir.

        Ao iniciarmos esse trabalho partimos da compreensão que o conhecimento histórico
poderia auxiliar tais alunos tanto quanto aos conteúdos da História em si, como para a
construção de uma aprendizagem mais significativa nas demais áreas de conhecimento.
Trabalhamos com o conceito de identidade, entendida como a noção que cada um tem de si
mesmo. A Rua Sergipe é um cenário pelo qual tais alunos transitam em seu dia a dia e, em
suas construções estão guardadas memórias que auxiliam o aluno a elaborar conhecimentos
significativos a partir de deslocamentos temporais. Com essa proposta, afastam-nos um pouco
dos conteúdos corporificados no currículo e que nem sempre assumem significados sociais
para quem o estuda. O ocorrido foi que o estudo da Rua Sergipe revestiu-se de significados.

       De uma forma ou outra, ao realizarmos o levantamento dos conhecimentos prévios dos
alunos sobre esse lugar, identificamos que todos tinham “saberes” a relatar. Durante dois
meses estudamos sobre o conceito de Patrimônio Histórico, sobre a Lei Cidade Limpa,
assistimos vídeos, investigamos documentos, percorremos a Rua Sergipe fotografando os
prédios e entrevistando pessoas que por lá transitavam, comemos pastel e bebemos a vitamina
do Jorge, elaboramos textos, fizemos poesias e problemas matemáticos. Identificamos que
cada aluno apropriou-se do conhecimento de determinada forma, mas inegavelmente a
progressão do conhecimento em todas as áreas de conhecimento foi explícita.

       Direcionando nossas reflexões para a área de História, objetivo desse artigo, tal estudo
proporcionou aos alunos situações e vivências nas quais os mesmos são sujeitos ativos na
construção do conhecimento.
7


A Rua Sergipe como objeto de investigação


                 Ao planejarmos o desenvolvimento desse projeto para trabalhar com o
conhecimento histórico consideramos os seguintes princípios teóricos que se concretizam
como objetivos a serem atingidos: incitar a curiosidade infantil sobre temáticas no presente de
modo a desencadear o desejo de volver-se ao passado em busca de respostas; possibilitar a
exploração de diferentes fontes e incitar os alunos a formularem inferências sobre o passado a
partir das mesmas; compreender uma narrativa construída sobre a Rua Sergipe e reconstruí-la
a partir de sua leitura de mundo; partir de narrativas calcadas na observação e descrição dos
lugares e chegar a narrativas explicativas e interpretativas do passado e, por fim, mas não
menos importante, desencadear um processo de aprendizagem que auxiliassem os alunos nas
demais áreas do conhecimento.
                 Intentamos atingir tais objetivos a partir das seguintes atividades: estudos de
textos; análise de reportagens de jornais; construção de painéis; debates em sala; produção de
narrativas; trabalho de campo; produção de acervo fotográfico e elaboração de um folder
sobre a Rua Sergipe.
       Duas fontes destacavam-se como principais no desenvolvimento do trabalho: o livreto
(figura 1)produzido por Magalhães (2011) e demais pesquisadores sobre a Rua Sergipe no
qual são apresentados alguns lugares da Rua Sergipe seguidos de trechos explicativos sobre
os mesmos, e o trabalho de campo no qual percorremos a Rua Sergipe e entrevistamos
pessoas. A proposta final era que os alunos, após estudos em outras fontes, elaborassem um
novo folheto destacando os aspectos mais importantes da Rua Sergipe.
       Desde início percebemos o interesse pela proposta, mesmo dos alunos maiores que,
por vezes, demonstram certo constrangimento em participar das atividades. A Rua Sergipe
fazia parte do cotidiano deles e cada um tinha uma informação valiosa sobre o lugar.

       Após o levantamento prévio do que cada um sabia sobre a Rua Sergipe passamos a
pesquisar sobre o conceito de Patrimônio Histórico. Os próprios alunos foram relacionando os
seus saberes com as informações advindas dos livros e documentos. Dedicamos especial
atenção ao estudo da Lei Cidade Limpa, sobre a opinião de diferentes pessoas sobre a
necessidade ou não de retirada das fachadas com publicidade. Nesse movimento, adentravam
no diálogo opiniões dos pais e o que os alunos assistiam na televisão. Com o passar das
semanas, identificamos que ao passarem pela Rua Sergipe aguçavam o olhar em torno de
detalhes que se traduziam em contribuições para as aulas.
8


       Ao conceito de Patrimônio aliaram-se estudos sobre preservação, tombamento, fonte
histórica, memória, dados políticos e econômicos do município, dentre outros. Em uma aula
com tal tipologia, o maior problema do professor é não perder o foco, ao mesmo tempo em
que possibilita a todos expressarem seus saberes. De certa forma, percebemos que os alunos
abrem diversas “janelas” simultaneamente, mas não perdem o foco no conteúdo trabalhado.

       Nos dias em que não estávamos na escola, à professora iniciou o trabalho com outras
áreas do conhecimento. Trabalhou com o tempo de existência de alguns estabelecimentos
como, por exemplos, o Bazar da Ajimura, aliando cálculos e noções de duração e
simultaneidade; estudos sobre a população de Londrina e seu crescimento por décadas;
trabalho com formas geométricas a partir do coletado em imagens; levantamento de
substantivos, adjetivos sobre o que discutiam sobre o tema; produção de textos sobre o que
aprendiam a cada dia sobre a Rua Sergipe.

       Ao estudo de algo significativo aliou-se o “descobrimento” de como é “se sentir capaz
de aprender”. Tal compreensão, construída coletivamente em sala de aula, expressava-se nas
falas em aula e nas entrevistas realizadas com os alunos sobre o trabalho:

Sobre o que vocês estão estudando?

                       A gente está estudando sobre a Rua Sergipe (...) que não tinha fiscalização,
                       não tinha placa e que depois tinha; (...) que não tinha como ver os prédios
                       porque as placas tampavam tudo; (...) que era conhecida como Rua Tóquio
                       por causa dos japoneses; (...) que tinha que usar bota por causa do barro.
                       Estudar assim é melhor ou pior para aprender?
                       É melhor.
                       Por quê?
                       Porque a gente aprende coisas novas. Então a gente vai descobrindo mais
                       coisas. Porque, às vezes, a gente fala eu sei isso eu sei aquilo, mas no fundo
                       a gente não sabe nada.
                       Quando você escreve sobre isso que está aprendendo é mais fácil?
                       É bem (com ênfase no bem) mais fácil.
                       Por quê?
                       Porque a gente já sabe. Aprendeu. É muito mais fácil. Por exemplo. A gente
                       vai em um lugar e depois lembra. É da nossa vida e a gente lembra mais do
                       que só o que a gente estuda.



       Quando saímos para o trabalho de campo na Rua Sergipe utilizamos máquinas
fotográficas para que cada aluno coletasse imagens que considerasse significativa para a
montagem do folder. Durante o percurso fomos explicando sobre os quais edifícios e os
alunos começaram a fazer relações com os registros realizados em sala. Comentavam: olha
9


professora, aqui não possui mais o primeiro revestimento das ruas que era de
paralelepípedo; em alguns lugares não tem o segundo revestimento das calçadas que foi o
Petit Pavê; a Rua Sergipe agora é um espaço que tem muito movimento, antes não era assim.
Fomos respondendo, dentro do possível, a todas as perguntas que nos faziam.

       Cooper descreve que,

                        O processo de investigação histórica envolve a compreensão de conceitos do
                        tempo: a mensuração do tempo, continuidade e mudança, as causas e efeitos
                        de eventos e de mudanças ao longo do tempo, semelhanças e diferenças
                        entre períodos. (2006.p. 175)



       Entendemos que a atividade possibilitou a apropriação de conhecimentos históricos. A
partir de seus registros e do observado em campo, os alunos perceberam as mudanças e
permanências e foram elaborando explicações para tais processos. Na semana seguinte,
projetamos todas as fotografias que fizeram na Rua Sergipe (foram muitas) e os alunos tinham
que selecionar àquelas que farão parte do folder. O conjunto de imagens fornece alguns
indicadores sobre o olhar das crianças sobre a Rua Sergipe.

       Neste texto limitar-nos-emos comentar sucintamente tais agrupamentos de imagens,
pois ainda estamos em fase de discussão com os alunos sobre a importância das mesmas e
quanto aos textos a serem redigidos para cada uma delas. De um total de vinte e três imagens,
cinco apresentam os edifícios mais antigos da rua, informação que os alunos já possuíam a
partir dos estudos realizados em sala (Figura 2); quatro compilam prédios recém-reformados,
com pinturas novas e que se destacam dentre os demais que somente retiraram as placas
(Figura 3); três estão relacionadas ao 10º Distrito Policial de Londrina (Figura 4); outras três
trazem os detalhes do revestimento em pastilhas, assunto que chamou a atenção dos alunos
principalmente depois que um mestre de obras que estava trabalhando em uma construção
explicou as diferenças no processo de assentamento de tais pastilhas hoje (Figura 5 e 6) e na
década de 1960 (Figura 11 e 12); duas retratam o Museu de Artes de Londrina, antiga estação
rodoviária (Figura 11 e 12); duas são de tipos de piso, paralelepípedos e Petit pavê (Figura 7 e
8); outras duas são de detalhes de fachadas (Figura 9) e uma é Camelódromo (Figura 10).

       Durante a realização do projeto, a professora supervisora foi avaliando os
conhecimentos adquiridos pelas crianças em todas as áreas de conhecimento e os resultados
estão melhorando a cada semana.
10




Considerações finais

       Ainda não concluímos o projeto, mas já podemos considerar ocorreu uma
aprendizagem significativa quanto ao conhecimento sobre Patrimônio Histórico assim como
quanto ao domínio da leitura, da escrita e do raciocínio lógico matemático.

       Conforme Barca, (2004. PG 132) e o professor estiver empenhado em participar numa
educação para o desenvolvimento terá de assumir-se como investidor social: aprender a
interpretar o mundo conceitual dos seus alunos, não para de imediato o classificar em
certo/errado, completo/incompleto, mas que para sua compreensão o ajude a modificar
positivamente a conceitualização dos alunos.

       Para que compreendamos melhor o que a autora diz, é necessário ter um olhar atento
no que diz respeito ao que vamos ensinar. Acreditamos que o projeto tem incitando a
curiosidade e o entusiasmo contribuindo assim com o processo de aprendizagem. Nós,
enquanto estagiárias do PIBID, estamos conhecendo outras possibilidades de se ensinar
História na escola e desvelando um universo cultural antes desconhecido acerca do espaço ao
qual pertencemos. Podemos afirmar que, até então, desconhecíamos a importância do
conhecimento histórico na formação do sujeito. Somos frutos de um ensino de Historia
baseado em decorar nomes, datas e feitos de alguns homens. Trata-se de um grande desafio a
ser enfrentado conhecer e desenvolver metodologias de ensino que possibilitem a construção
de um conhecimento histórico significativo para o sujeito.




Referencias Bibliográficas:



ALTRAN, Gilmar Aparecido. Paulo Freire; Filósofo da educação. 2004. Dissertação
(Mestrado em Educação)-Universidade Estadual Paulista. São Paulo

BARROSO, Vera Lúcia Maciel. {et al.}. Ensino de História: desafios contemporâneos/org.
Porto Alegre: EST: EXCLAMAÇÃO: ANPUH/RS2010. Pg.16.
BENETTI, Viviana. O Ensino de História nas Séries Iniciais: conceitos e Discussões. Ano.
11


2010           Disponíveis           em:                  http://www.google.com.br/#hl=pt-
BR&gs_nf=1&cp=29&gs_id=38&xhr=t&q=benetti+o+ensino+de+historia&pf=p1&sclient=p
sy-&oq=benetti+o+ensino+de+historia+&aq=f&aqi=&aql=&gs_l=&pbx=1&bav=on.
2,or.r_gc.r_pw.r_qf.,cf.osb&fp=f510656ba5358ec6&biw=1517&bih=74: acesso em: 01 de
Junho de 2012 ás 13: 30 min.
CHARLOT, Bernard, Da relação com o saber: elementos para uma teoria/Bernard
Charlot; trad. Bruno Magne. Porto Alegre: Artmed, 2000.
COOPER, Hilary, Aprendendo e ensinando sobre o passado a criança de três a oito anos.
“Texto traduzido do original” Learning end Teaching About the Past: three to eight year”
por SCHMIDT, Elizabeth Moreira dos Santos, GARCIA, Luciana Braga, AXILIADORA
Maria Auxiliadora, GARCIA, Tania Braga. Educar, Curitiba, Especial, p. 171-190, 2006.
Editora UFPR.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 24ª ed. Rio de janeiro, Paz e Terra.
2000.
LAHIRE, Bernard, Sucesso Escolar Nos meios populares, as razões do improvável.
Editora Ática, São Paulo-SP. 1997.
MAGALHÃES, Leandro Henrique. Educação Patrimonial: da teoria á pratica/ Leandro
Henrique Magalhães, Elisa Zanon, Patrícia Martins Castelo Branco. – Londrina: Ed. Unifil,
2009. 108 p.



Figuras:

       Figura 1: Alunos visualizando o Roteiro Histórico da Rua Sergipe.




                     Fonte: Alunas participantes do projeto (Ano 2012)
12


                  Figura 2: Edifício Tókio.




     Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012).




          Figura 3: Fachada restaurada do prédio.
                     Lei Cidade Limpa.




                                                     .

Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012).




 Figura 3: Fachada não restaurada do prédio.
        Lei Cidade Limpa.
13




                          Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012).




                            Figura 4: Décimo Distrito Policial de Londrina.




                        Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012).



               Figura 5 e 6: Nova forma de revestimento com pastilhas.




Fonte:Alunos participante do projeto (Ano 2012).
14




     Figuras 7 e 8: Petit Pavê e Paralelepípedo,reconhecidos pelos alunos durante ao passeio realizado
na Rua Sergipe.




Fonte:Alunos participante do projeto (Ano 2012).



                               Figura 9 e 10:Camelódromo de Londrina




Fonte:Alunos participante do projeto (Ano 2012).

                  Figura 11 e 12:Antiga Rodoviária de Londrina atual Museu de Artes.




Fonte :Alunos participante do projeto ( Ano 2012).

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O BELO E O FEIO: INTERPRETAÇÕES INFANTIS SOBRE A RUA SERGIPE

  • 1. Eixo temático: O ensino de História nos anos iniciais O BELO E O FEIO: INTERPRETAÇÕES INFANTIS SOBRE A RUA SERGIPE Angélica Maria de Matos,UEL Érica Mieko Motomura, UEL Heloisa Helena Apª Chaves Duarte, UEL erica_mieko@hotmail.com1 RESUMO: Este artigo tem como finalidade socializar a experiência desenvolvida por três pedagogas, bolsistas do PIBID/UEL (o Programa conta com o apoio financeiro da CAPES) imersas na tentativa de compreender as peculiaridades de ensinar História para crianças. O/A docente dos Anos Iniciais é responsável por articular as diversas áreas do conhecimento escolar tornando a aprendizagem mais significativa para o aluno. Assim sendo, buscamos desenvolver uma proposta interdisciplinar com alunos da 4ª série de uma escola municipal da cidade de Londrina tendo por centro o estudo da Rua Sergipe, rua importante na constituição e na memória da cidade. Trata-se de uma rua de comércio popular com prédios das décadas de 1950 – 60 datação esta significativa para uma cidade com 78 anos. Utilizamos o material produzido por pesquisadores envolvidos no Projeto Educação Patrimonial IV – Memórias de Rua, financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura – PROMIC. Dividimos este texto em duas partes: abordagem teórica sobre a formação do pedagogo e sua relação com a disciplina de História e apresentação das experiências desenvolvidas junto aos alunos, situação na qual buscamos entender as lacunas evidenciadas em nosso processo de formação. PALAVRAS CHAVE: Ensino de História Cultura, Memória, Patrimônio Histórico. Desde a mais tenra idade o ser humano anseia em significar sua vida. O aprendizado de sua própria história pode trazer-lhes possibilidades e transformações impensadas quanto aos os padrões de comportamento que vão se construindo em meio às manifestações culturais (FREIRE, 2000, p.150). A humanização do ser enquanto sujeito e a democratização da cultura 1 Angélica Maria de Matos; Érica Mieko Motomura; Heloisa Helena Aparecida Chaves Duarte; Discentes do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina.
  • 2. 2 parte da conscientização do que somos e do que fazemos com o que somos e possibilita a compreender e agir no mundo. Ao conhecer que existem outras possibilidades o sujeito assume a construção de sua história e, em decorrência, a busca pela transformação da mesma. Partindo deste princípio abordaremos nesse texto nossa experiência com a inserção do curso de Pedagogia no PIBID, cujo trabalho realiza-se na área de História com o tema Patrimônio Cultural. O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de 2Iniciação à Docência), de acordo com o CAPES oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de cursos presenciais que se dediquem ao desenvolvimento de atividades como docentes nas escolas públicas. O objetivo é antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula, articulando as relações entre as instituições de ensino superior e as escolas. A inserção do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina ocorreu no ano de 2011 com um grupo de onze discentes (alunas de diferentes séries do curso), duas supervisoras (professoras da rede municipal da cidade de Londrina) e a coordenadora Professora Doutora Sandra Regina Ferreira de Oliveira. O proposto para o primeiro ano de trabalho (2011/2012) almejava desenvolver um trabalho sobre a história de Londrina em duas escolas (...) com diferentes resultados no IDEB, utilizando-se de uma metodologia diferenciada para o conteúdo “historia de Londrina”, baseada, principalmente, na análise de fontes que instiguem aos alunos a elaborarem inferências sobre o passado articulando diferentes temporalidades: passado, presente e futuro. Pretendeu-se também desencadear nos licenciados e professores a compreensão da importância do trabalho interdisciplinar, criativo, alimentador e incentivador da curiosidade e do espírito investigativo inerente às crianças, alunos e alunas dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A partir do tema Patrimônio Histórico, organizou-se o subprojeto “As Lentes Captam o que o Coração Sente – Permanências e transformações no patrimônio arquitetônico da cidade de Londrina. Nosso trabalho, a partir do elencado no subprojeto, é estudar com os alunos as transformações ocorridas em uma determinada rua da cidade de Londrina, a Rua Sergipe, rua importante na constituição e na memória da cidade. Trata-se de uma rua de comércio popular com prédios das décadas de 1950 – 1960 datação significativa para uma cidade com 78 anos. A escolha da Rua Sergipe como fonte para o estudo da história de Londrina deu-se em decorrência das transformações ocorridas na mesma desde a aprovação em julho de 2010, da
  • 3. 3 Lei Cidade Limpa (10.966/2010) cujo objetivo é reduzir a poluição visual no quadrilátero central da cidade com a retirada de placas, banners e faixas com divulgações de empresas e produtos assim como a redução do número de outdoors. O prazo para cumprimento da Lei foi 02 de fevereiro de 2011. Com isso, as fachadas dos prédios da Rua Sergipe, escondidas há décadas atrás de estruturas metálicas, puderam ser por alguns, novamente visualizadas, por outros, pela primeira vez conhecidas. Nesse texto apresentamos os resultados obtidos até então com esse trabalho. O título do artigo “O Belo e o feio: Interpretações infantis da Rua Sergipe” retrata a atual situação da rua na qual se misturam fachadas reformadas que se destacam pelo colorido com outras das quais somente se retirou as placas e nas quais o tempo se faz presente no aspecto deteriorado da arquitetura. Ensinar História para crianças na escola: aproximações com a Educação Patrimonial O Ensino de História para crianças deve ser compreendido pelos pedagogos e historiadores como de extrema importância para a formação de um sujeito consciente. Não se trata somente de transmitir determinados conhecimentos, mas também de torná-los significativos, dinâmicos e atraentes e que, principalmente, possibilitem ao sujeito entender-se e comunicar-se com o mundo a partir de diferentes linguagens. Portanto, nos Anos Iniciais, entendemos que a abordagem interdisciplinar é importante porque possibilita transitar pelos diferentes, mas agregados, processos de alfabetizações como o histórico, linguístico, matemático, geográfico, dentre outros. Segundo Benetti, A História, vista como um ‘passado vivido’, não se altera nas diferentes séries e ciclos do ensino básico. O passado é o mesmo, porém a forma de compreender, organizar e interpretar os processos históricos é que mudam. (2010, p.2) A participação do pedagogo na busca por essa compreensão na forma de ensinar História nos Anos Iniciais contribui para abertura de outras trilhas interpretativas, pois tal profissional é responsável por trabalhar em sala de aula com várias áreas do conhecimento. A principal ênfase do projeto aqui apresentado é no ensino da História, tendo como tema o
  • 4. 4 Patrimônio Histórico. Porém, tratando-se dos Anos Iniciais, abarca-se também a necessidade de agregar outros objetivos como, por exemplo, capacitar o aluno (a) a se expressar, falar e escrever de forma culta, ao mesmo tempo em que se valoriza a forma de expressão que carrega de seu meio social. Outro “conteúdo” que se soma ao ensinar História para crianças é a formação para a autonomia. Desta forma, o espaço para o diálogo precisa ser amplo no trabalho com crianças (assim como deveria ser com as demais faixas etárias). Os alunos trazem consigo o que já sabem e conhecem da vida e o desafio do professor é auxiliá-los a estabelecer uma relação entre esses diferentes saberes. Tal situação só ocorre por meio do diálogo no ambiente escolar buscando sempre a transformação para algo melhor do que somos hoje. Desenvolver a autonomia no aluno significa potencializar o que ele mesmo já traz em si e ampliar seus conhecimentos para ele possa fazer mais de si. Considerar a formação para a autonomia como um “conteúdo” importante nos Anos Iniciais reverbera na aproximação com as crianças por meio do diálogo, da valorização do conhecimento que as mesmas já possuem, bem como a troca de afetividade, entendida como energia que leva a ação. Conforme Freire, no ato educativo não se “pode temer ao debate [...] não se pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa” (2000, p.96,97). Em nosso projeto, seguir tais pressupostos tem-se demonstrado eficaz para o processo de ensino e aprendizagem. É real a mudança nos alunos com os quais trabalhamos: os mesmos passaram a falar mais, trocar ideias com o outro, valorizar sua opinião e respeitar (ainda que discordando) a do outro. Ao trabalharmos no ensino de História com a temática Patrimônio Histórico, aproximamo-nos do que se denomina por Educação Patrimonial. Ao adentrarmos em estudos sobre como poderíamos trabalhar em sala de aula a partir dos pressupostos da Educação Patrimonial, compreendemos a importância do processo educativo em torno de tais espaços que podem ser de diversas tipologias, inclusive de ordem imaterial. No Brasil, as ações voltadas para a Educação Patrimonial não são recentes e conhecer um pouco mais acerca de seu histórico auxiliou-nos a definir como trabalharíamos no projeto com a Rua Sergipe. Barroso afirma que A metodologia da Educação Patrimonial comparece no Brasil, a partir da década de 1980, mais precisamente em 1983, com a ação percussora do Museu Imperial de Petrópolis. A partir de trabalho realizado na Inglaterra, a então diretora do Museu, a museóloga Maria de Lourdes Parreira Horta,
  • 5. 5 articulou a realização do 1º seminário de Educação Patrimonial no Brasil. (2010, p.16) A autora também faz referência importante em relação ao lançamento, em 2004, da cartilha “Educação Patrimonial: Orientações para professores do ensino fundamental e médio organizado a partir das aulas realizadas no museu” (BARROSO, 2010, p.17). Considerando a importância do agir docente na formação dos alunos, o que se traduz na responsabilidade da escola em formar para a cidadania, concordamos com Barroso (2010. p.25) quando afirma que o conhecimento advindo da Educação Patrimonial propicia a valorização dos saberes culturais que cada um carrega dentro de si e que, aliado a novos saberes, resultam na formação de sujeitos autônomos capazes de pensar e intervir de modo consciente em seus lugares, contextualizando cada informação. Uma das fontes de pesquisa utilizada junto aos alunos no desenvolvimento desse trabalho foi o folheto produzido por um grupo de pesquisadores sobre a Rua Sergipe (figura 1). Tais pesquisadores, dentre os quais citamos o Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães (2009), desenvolvem projetos sobre Educação Patrimonial colocando em evidencia a importância de se trabalhar os patrimônios da cidade com os indivíduos inseridos nas escolas. Os trabalhos de Magalhães e demais autores (2009) utilizado nesse trabalho contaram com incentivo cultural do PROMIC (Programa Municipal de Incentivo a Cultura) que, conforme Magalhães (2009, p.45) oferece condições para o desenvolvimento de ações educativas que dizem respeito aos “Patrimônios Históricos” de Londrina. Compreendemos que a Educação Patrimonial é um importante elemento para a formação do aluno e potencializador recurso para uma aprendizagem significativa. Por meio do estudo de lugares constroem-se conceitos históricos capazes de levar os alunos a compreenderem que fazem parte dessa historia, conferindo assim a noção de pertencimento e isso, como afirma BARROSO (2010, p.21), promove sentidos e significados capazes de mover a ação educativa. Nesse sentido, trabalhamos compreendendo o patrimônio histórico como elemento fundamental para a constituição da identidade. Portanto, no ensino de História torna-se importante utilizar tais suportes de memória como as paisagens, comemorações, monumentos, objetos, construções, pois serão base para a construção de saberes sobre cada um de nós, sobre o presente, passado e futuro.
  • 6. 6 O trabalho aqui apresentado desenvolve-se em uma turma de 4ª série que, devido a ajustes e reajustes administrativos, reúne alunos com idade entre 09 e 13 anos que apresentam “dificuldade de aprendizagem”. Charlot (2000. p.22) comprova em suas pesquisas que o sucesso, ou fracasso, na escola relaciona-as diretamente com as relações que se estabelecem com o saber. Logo, segundo o mesmo, não há alunos que não aprendem, mas ações que não propiciam a determinados sujeitos aprenderem. Sua prerrogativa é que se alterarmos a relação com o saber, com outras possibilidades de atividades e práticas, pode-se chegar a resultados positivos. É possível concluir que o autor acredita que o fracasso escolar não está ligado somente e diretamente ao aluno e a sua situação no contexto social, mas também se relaciona com as atividades que lhe são oferecidas e que, muitas vezes, não atingem um nível eficaz no que diz respeito ao que conhecimento que se quer construir. Ao iniciarmos esse trabalho partimos da compreensão que o conhecimento histórico poderia auxiliar tais alunos tanto quanto aos conteúdos da História em si, como para a construção de uma aprendizagem mais significativa nas demais áreas de conhecimento. Trabalhamos com o conceito de identidade, entendida como a noção que cada um tem de si mesmo. A Rua Sergipe é um cenário pelo qual tais alunos transitam em seu dia a dia e, em suas construções estão guardadas memórias que auxiliam o aluno a elaborar conhecimentos significativos a partir de deslocamentos temporais. Com essa proposta, afastam-nos um pouco dos conteúdos corporificados no currículo e que nem sempre assumem significados sociais para quem o estuda. O ocorrido foi que o estudo da Rua Sergipe revestiu-se de significados. De uma forma ou outra, ao realizarmos o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre esse lugar, identificamos que todos tinham “saberes” a relatar. Durante dois meses estudamos sobre o conceito de Patrimônio Histórico, sobre a Lei Cidade Limpa, assistimos vídeos, investigamos documentos, percorremos a Rua Sergipe fotografando os prédios e entrevistando pessoas que por lá transitavam, comemos pastel e bebemos a vitamina do Jorge, elaboramos textos, fizemos poesias e problemas matemáticos. Identificamos que cada aluno apropriou-se do conhecimento de determinada forma, mas inegavelmente a progressão do conhecimento em todas as áreas de conhecimento foi explícita. Direcionando nossas reflexões para a área de História, objetivo desse artigo, tal estudo proporcionou aos alunos situações e vivências nas quais os mesmos são sujeitos ativos na construção do conhecimento.
  • 7. 7 A Rua Sergipe como objeto de investigação Ao planejarmos o desenvolvimento desse projeto para trabalhar com o conhecimento histórico consideramos os seguintes princípios teóricos que se concretizam como objetivos a serem atingidos: incitar a curiosidade infantil sobre temáticas no presente de modo a desencadear o desejo de volver-se ao passado em busca de respostas; possibilitar a exploração de diferentes fontes e incitar os alunos a formularem inferências sobre o passado a partir das mesmas; compreender uma narrativa construída sobre a Rua Sergipe e reconstruí-la a partir de sua leitura de mundo; partir de narrativas calcadas na observação e descrição dos lugares e chegar a narrativas explicativas e interpretativas do passado e, por fim, mas não menos importante, desencadear um processo de aprendizagem que auxiliassem os alunos nas demais áreas do conhecimento. Intentamos atingir tais objetivos a partir das seguintes atividades: estudos de textos; análise de reportagens de jornais; construção de painéis; debates em sala; produção de narrativas; trabalho de campo; produção de acervo fotográfico e elaboração de um folder sobre a Rua Sergipe. Duas fontes destacavam-se como principais no desenvolvimento do trabalho: o livreto (figura 1)produzido por Magalhães (2011) e demais pesquisadores sobre a Rua Sergipe no qual são apresentados alguns lugares da Rua Sergipe seguidos de trechos explicativos sobre os mesmos, e o trabalho de campo no qual percorremos a Rua Sergipe e entrevistamos pessoas. A proposta final era que os alunos, após estudos em outras fontes, elaborassem um novo folheto destacando os aspectos mais importantes da Rua Sergipe. Desde início percebemos o interesse pela proposta, mesmo dos alunos maiores que, por vezes, demonstram certo constrangimento em participar das atividades. A Rua Sergipe fazia parte do cotidiano deles e cada um tinha uma informação valiosa sobre o lugar. Após o levantamento prévio do que cada um sabia sobre a Rua Sergipe passamos a pesquisar sobre o conceito de Patrimônio Histórico. Os próprios alunos foram relacionando os seus saberes com as informações advindas dos livros e documentos. Dedicamos especial atenção ao estudo da Lei Cidade Limpa, sobre a opinião de diferentes pessoas sobre a necessidade ou não de retirada das fachadas com publicidade. Nesse movimento, adentravam no diálogo opiniões dos pais e o que os alunos assistiam na televisão. Com o passar das semanas, identificamos que ao passarem pela Rua Sergipe aguçavam o olhar em torno de detalhes que se traduziam em contribuições para as aulas.
  • 8. 8 Ao conceito de Patrimônio aliaram-se estudos sobre preservação, tombamento, fonte histórica, memória, dados políticos e econômicos do município, dentre outros. Em uma aula com tal tipologia, o maior problema do professor é não perder o foco, ao mesmo tempo em que possibilita a todos expressarem seus saberes. De certa forma, percebemos que os alunos abrem diversas “janelas” simultaneamente, mas não perdem o foco no conteúdo trabalhado. Nos dias em que não estávamos na escola, à professora iniciou o trabalho com outras áreas do conhecimento. Trabalhou com o tempo de existência de alguns estabelecimentos como, por exemplos, o Bazar da Ajimura, aliando cálculos e noções de duração e simultaneidade; estudos sobre a população de Londrina e seu crescimento por décadas; trabalho com formas geométricas a partir do coletado em imagens; levantamento de substantivos, adjetivos sobre o que discutiam sobre o tema; produção de textos sobre o que aprendiam a cada dia sobre a Rua Sergipe. Ao estudo de algo significativo aliou-se o “descobrimento” de como é “se sentir capaz de aprender”. Tal compreensão, construída coletivamente em sala de aula, expressava-se nas falas em aula e nas entrevistas realizadas com os alunos sobre o trabalho: Sobre o que vocês estão estudando? A gente está estudando sobre a Rua Sergipe (...) que não tinha fiscalização, não tinha placa e que depois tinha; (...) que não tinha como ver os prédios porque as placas tampavam tudo; (...) que era conhecida como Rua Tóquio por causa dos japoneses; (...) que tinha que usar bota por causa do barro. Estudar assim é melhor ou pior para aprender? É melhor. Por quê? Porque a gente aprende coisas novas. Então a gente vai descobrindo mais coisas. Porque, às vezes, a gente fala eu sei isso eu sei aquilo, mas no fundo a gente não sabe nada. Quando você escreve sobre isso que está aprendendo é mais fácil? É bem (com ênfase no bem) mais fácil. Por quê? Porque a gente já sabe. Aprendeu. É muito mais fácil. Por exemplo. A gente vai em um lugar e depois lembra. É da nossa vida e a gente lembra mais do que só o que a gente estuda. Quando saímos para o trabalho de campo na Rua Sergipe utilizamos máquinas fotográficas para que cada aluno coletasse imagens que considerasse significativa para a montagem do folder. Durante o percurso fomos explicando sobre os quais edifícios e os alunos começaram a fazer relações com os registros realizados em sala. Comentavam: olha
  • 9. 9 professora, aqui não possui mais o primeiro revestimento das ruas que era de paralelepípedo; em alguns lugares não tem o segundo revestimento das calçadas que foi o Petit Pavê; a Rua Sergipe agora é um espaço que tem muito movimento, antes não era assim. Fomos respondendo, dentro do possível, a todas as perguntas que nos faziam. Cooper descreve que, O processo de investigação histórica envolve a compreensão de conceitos do tempo: a mensuração do tempo, continuidade e mudança, as causas e efeitos de eventos e de mudanças ao longo do tempo, semelhanças e diferenças entre períodos. (2006.p. 175) Entendemos que a atividade possibilitou a apropriação de conhecimentos históricos. A partir de seus registros e do observado em campo, os alunos perceberam as mudanças e permanências e foram elaborando explicações para tais processos. Na semana seguinte, projetamos todas as fotografias que fizeram na Rua Sergipe (foram muitas) e os alunos tinham que selecionar àquelas que farão parte do folder. O conjunto de imagens fornece alguns indicadores sobre o olhar das crianças sobre a Rua Sergipe. Neste texto limitar-nos-emos comentar sucintamente tais agrupamentos de imagens, pois ainda estamos em fase de discussão com os alunos sobre a importância das mesmas e quanto aos textos a serem redigidos para cada uma delas. De um total de vinte e três imagens, cinco apresentam os edifícios mais antigos da rua, informação que os alunos já possuíam a partir dos estudos realizados em sala (Figura 2); quatro compilam prédios recém-reformados, com pinturas novas e que se destacam dentre os demais que somente retiraram as placas (Figura 3); três estão relacionadas ao 10º Distrito Policial de Londrina (Figura 4); outras três trazem os detalhes do revestimento em pastilhas, assunto que chamou a atenção dos alunos principalmente depois que um mestre de obras que estava trabalhando em uma construção explicou as diferenças no processo de assentamento de tais pastilhas hoje (Figura 5 e 6) e na década de 1960 (Figura 11 e 12); duas retratam o Museu de Artes de Londrina, antiga estação rodoviária (Figura 11 e 12); duas são de tipos de piso, paralelepípedos e Petit pavê (Figura 7 e 8); outras duas são de detalhes de fachadas (Figura 9) e uma é Camelódromo (Figura 10). Durante a realização do projeto, a professora supervisora foi avaliando os conhecimentos adquiridos pelas crianças em todas as áreas de conhecimento e os resultados estão melhorando a cada semana.
  • 10. 10 Considerações finais Ainda não concluímos o projeto, mas já podemos considerar ocorreu uma aprendizagem significativa quanto ao conhecimento sobre Patrimônio Histórico assim como quanto ao domínio da leitura, da escrita e do raciocínio lógico matemático. Conforme Barca, (2004. PG 132) e o professor estiver empenhado em participar numa educação para o desenvolvimento terá de assumir-se como investidor social: aprender a interpretar o mundo conceitual dos seus alunos, não para de imediato o classificar em certo/errado, completo/incompleto, mas que para sua compreensão o ajude a modificar positivamente a conceitualização dos alunos. Para que compreendamos melhor o que a autora diz, é necessário ter um olhar atento no que diz respeito ao que vamos ensinar. Acreditamos que o projeto tem incitando a curiosidade e o entusiasmo contribuindo assim com o processo de aprendizagem. Nós, enquanto estagiárias do PIBID, estamos conhecendo outras possibilidades de se ensinar História na escola e desvelando um universo cultural antes desconhecido acerca do espaço ao qual pertencemos. Podemos afirmar que, até então, desconhecíamos a importância do conhecimento histórico na formação do sujeito. Somos frutos de um ensino de Historia baseado em decorar nomes, datas e feitos de alguns homens. Trata-se de um grande desafio a ser enfrentado conhecer e desenvolver metodologias de ensino que possibilitem a construção de um conhecimento histórico significativo para o sujeito. Referencias Bibliográficas: ALTRAN, Gilmar Aparecido. Paulo Freire; Filósofo da educação. 2004. Dissertação (Mestrado em Educação)-Universidade Estadual Paulista. São Paulo BARROSO, Vera Lúcia Maciel. {et al.}. Ensino de História: desafios contemporâneos/org. Porto Alegre: EST: EXCLAMAÇÃO: ANPUH/RS2010. Pg.16. BENETTI, Viviana. O Ensino de História nas Séries Iniciais: conceitos e Discussões. Ano.
  • 11. 11 2010 Disponíveis em: http://www.google.com.br/#hl=pt- BR&gs_nf=1&cp=29&gs_id=38&xhr=t&q=benetti+o+ensino+de+historia&pf=p1&sclient=p sy-&oq=benetti+o+ensino+de+historia+&aq=f&aqi=&aql=&gs_l=&pbx=1&bav=on. 2,or.r_gc.r_pw.r_qf.,cf.osb&fp=f510656ba5358ec6&biw=1517&bih=74: acesso em: 01 de Junho de 2012 ás 13: 30 min. CHARLOT, Bernard, Da relação com o saber: elementos para uma teoria/Bernard Charlot; trad. Bruno Magne. Porto Alegre: Artmed, 2000. COOPER, Hilary, Aprendendo e ensinando sobre o passado a criança de três a oito anos. “Texto traduzido do original” Learning end Teaching About the Past: three to eight year” por SCHMIDT, Elizabeth Moreira dos Santos, GARCIA, Luciana Braga, AXILIADORA Maria Auxiliadora, GARCIA, Tania Braga. Educar, Curitiba, Especial, p. 171-190, 2006. Editora UFPR. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 24ª ed. Rio de janeiro, Paz e Terra. 2000. LAHIRE, Bernard, Sucesso Escolar Nos meios populares, as razões do improvável. Editora Ática, São Paulo-SP. 1997. MAGALHÃES, Leandro Henrique. Educação Patrimonial: da teoria á pratica/ Leandro Henrique Magalhães, Elisa Zanon, Patrícia Martins Castelo Branco. – Londrina: Ed. Unifil, 2009. 108 p. Figuras: Figura 1: Alunos visualizando o Roteiro Histórico da Rua Sergipe. Fonte: Alunas participantes do projeto (Ano 2012)
  • 12. 12 Figura 2: Edifício Tókio. Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012). Figura 3: Fachada restaurada do prédio. Lei Cidade Limpa. . Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012). Figura 3: Fachada não restaurada do prédio. Lei Cidade Limpa.
  • 13. 13 Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012). Figura 4: Décimo Distrito Policial de Londrina. Fonte: Alunos participantes do projeto (Ano 2012). Figura 5 e 6: Nova forma de revestimento com pastilhas. Fonte:Alunos participante do projeto (Ano 2012).
  • 14. 14 Figuras 7 e 8: Petit Pavê e Paralelepípedo,reconhecidos pelos alunos durante ao passeio realizado na Rua Sergipe. Fonte:Alunos participante do projeto (Ano 2012). Figura 9 e 10:Camelódromo de Londrina Fonte:Alunos participante do projeto (Ano 2012). Figura 11 e 12:Antiga Rodoviária de Londrina atual Museu de Artes. Fonte :Alunos participante do projeto ( Ano 2012).