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                                             ACÓRDÃO



                        Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0010102-

          10.2007.8.26.0302, da Comarca de Jaú, em que é apelante ROMILDO SEGUNDO

          GIACHINI FILHO sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO

          PAULO.



                        ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de

          Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao apelo.

          V.U. ", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.



                        O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores

          MARCO NAHUM (Presidente) e MÁRCIO BARTOLI.



                        São Paulo, 4 de abril de 2011.



                                          PÉRICLES PIZA

                                             RELATOR

                                  ASSINATURA ELETRÔNICA
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                                   PODER JUDICIÁRIO
                                       São Paulo


APELAÇÃO nº 0010102-10.2007.8.26.0302

APELANTE: ROMILDO SEGUNDO GIACHINI FILHO

APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA: JAÚ

VOTO Nº 22.660


                              Apelação criminal. Condenação por crime de
                              inutilização de documento público. Defecou sobre os
                              autos do processo, protestando contra a decisão dele
                              constante. Objetiva a absolvição diante da ausência de
                              dolo. Razão não lhe assiste. Consoante as provas
                              coligidas, perícia e depoimentos testemunhais, bem
                              sabia o réu das consequências de seu inusitado protesto.
                              Dolo evidente. Sentença escorreita, proferida com
                              sobriedade e equilíbrio na aplicação da sanção
                              adequada – medida de segurança. Nada mais pode
                              almejar. Provimento negado.



                     I    Ao relatório da r. sentença, que se acolhe, acresce-se

que ROMILDO SEGUNDO GIACHINI restou condenado pelo Magistrado

da 2º Vara Criminal da Comarca de Jaú (Processo nº 512/2007) à medida de

segurança, tratamento médico ambulatorial por tempo indeterminado, com

reavaliação no prazo de 03 (três) anos, com fundamento no artigo 98, do

Código Penal, por incurso no artigo 337, do Código Penal, e, irresignado,

apela objetivando a absolvição pela atipicidade, diante da ausência de dolo, já

que tudo não teria passado de um ato de protesto contra a decisão constante

dos autos.

                     A Douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se

pelo desprovimento do apelo.


               APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660   2/6
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                        II     Infere-se dos autos que o ora apelante estava a

responder a outro Processo-crime nº 208/2004, perante a 5ª Vara Criminal da

mesma Comarca de Jaú, por suposta prática de guarda de arma de fogo sem

autorização legal, no interior de sua residência.

                        Foi-lhe proposta a suspensão condicional do processo

mediante condições, dentre elas o comparecimento mensal em cartório.

                        Assim agiu o réu, cumprindo ao ajustado por reiteradas

vezes.

                        No entanto, quando do último comparecimento, solicitou

ao funcionário os autos do controle de frequência, para assiná-los, como

sempre o fazia.

                        Ocorre que, intempestivamente, pediu para que todos se

afastassem, abaixou-se defronte ao balcão de atendimento, arriou as suas

calças e defecou sobre referidos autos, inutilizando-os parcialmente.

                        Não bastasse isso, acintosamente, teria passado a exibir o

feito a todos os presentes. Teria dito, ainda, que pretendia arremessar sua obra

contra o Juiz e o Promotor de Justiça que atuaram no respectivo processo-

crime, mas foi impedido por funcionários do fórum.

                        Foi então, autuado em flagrante delito.

                        A denúncia foi recebida e, diante de seu comportamento

inusitado e desequilibrado, foi determinada pelo Magistrado a quo a

realização de incidente de sanidade mental.


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                       Foram realizadas duas perícias técnicas, a primeira

concluiu por sua semi-imputabilidade e outra pela inimputabilidade total, já

que portador de “esquisofrenia paranóide”, ou “transtorno esquizotipico

CID X F 21”, respectivamente (cf. fls. 39/40 e 49/51 do apenso próprio).

                       Ao término da instrução, ouvidas diversas testemunhas

presenciais do ocorrido, acabou condenado a cumprir medida de segurança,

diante de sua parcial imputabilidade.

                       Consoante seu interrogatório em Juízo, e depoimento

prestado para elaboração do laudo pericial (em apenso), assim agiu o réu

porque decidiu praticar um ato de protesto, indignado com o tratamento que

estava recebendo do Poder Judiciário, por acreditar que só assim seria “ouvido

e respeitado'.

                       No entanto, como bem destacou o Magistrado a quo, tal

alegação não convence.

                       A destruição dos autos, defecando sobre os mesmos, não

é meio jurídico, lícito ou razoável de protesto.

                       Ao contrário.

                       O réu estava devidamente assistido por defensor, o qual

bem poderia formular suas reivindicações.

                       Indignou-se contra a suspensão condicional do processo,

ato que de livre e espontânea vontade celebrou e anuiu.

                       Por derradeiro, segundo se infere do feito, cumpriu


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diversas vezes o compromisso assumido, comparecendo em Juízo por

diversas vezes e somente quando do último comparecimento resolveu

protestar.

                     Portanto, sua conduta não pode ser classificada como

justificada, razoável, tolerável ou de mero “protesto”.

                     Agiu, sim, com a clara intenção de demonstrar seu

inconformismo com a situação suportada, mas se manifestou de forma errada,

antijurídica, e sabedor das consequências que poderiam advir de seu ilícito

proceder.

                     A alegação do combativo defensor, de que não agiu o réu

com dolo, não convence.

                     Ao contrário.

                     É certo que, se totalmente incapaz de entender o caráter

ilícito de sua conduta, como entendeu a perícia de fls. 49/51, não possuiria o

réu “culpabilidade”. Portanto, não se haveria de falar em “dolo” ou “culpa”,

mas apenas em periculosidade do réu para o convívio social.

                     No entanto, sendo ele semi-imputável, como reconheceu

o Magistrado a quo, tem o réu parcial entendimento do caráter ilícito de sua

conduta.

                     Consoante seu próprio depoimento, bem como das

diversas testemunhas ouvidas em Juízo, a maioria presencial dos fatos, tinha o

réu a deliberada intenção de protestar contra a decisão constante dos autos.


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                     Agia, assim, com dolo.

                     Mas, é evidente, seu agir estava comprometido pela

patologia psíquica constatada pelo incidente de sanidade mental.

                     Daí porque, não lhe deve ser aplicada pena, mas sim

medida de segurança.

                     É o que aqui ocorre.

                     Por isso mesmo, a r. sentença de primeiro grau,

escorreita, é de prevalecer incólume por seus próprios, sóbrios e jurídicos

fundamentos, aqui incorporados como razão de decidir.

                     A medida de segurança foi fixada de forma equilibrada e

se mostra adequada ao caso em apreço.

                     Nada mais pode almejar.

                     Ante ao exposto, nego provimento ao apelo.




                                       PÉRICLES PIZA

                                              Relator




               APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660   6/6

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Apelação criminal sobre condenação por inutilização de documento público

  • 1. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Número de Ordem Pauta Não informado Registro: 2011.0000029051 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0010102- 10.2007.8.26.0302, da Comarca de Jaú, em que é apelante ROMILDO SEGUNDO GIACHINI FILHO sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao apelo. V.U. ", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MARCO NAHUM (Presidente) e MÁRCIO BARTOLI. São Paulo, 4 de abril de 2011. PÉRICLES PIZA RELATOR ASSINATURA ELETRÔNICA
  • 2. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo APELAÇÃO nº 0010102-10.2007.8.26.0302 APELANTE: ROMILDO SEGUNDO GIACHINI FILHO APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA: JAÚ VOTO Nº 22.660 Apelação criminal. Condenação por crime de inutilização de documento público. Defecou sobre os autos do processo, protestando contra a decisão dele constante. Objetiva a absolvição diante da ausência de dolo. Razão não lhe assiste. Consoante as provas coligidas, perícia e depoimentos testemunhais, bem sabia o réu das consequências de seu inusitado protesto. Dolo evidente. Sentença escorreita, proferida com sobriedade e equilíbrio na aplicação da sanção adequada – medida de segurança. Nada mais pode almejar. Provimento negado. I Ao relatório da r. sentença, que se acolhe, acresce-se que ROMILDO SEGUNDO GIACHINI restou condenado pelo Magistrado da 2º Vara Criminal da Comarca de Jaú (Processo nº 512/2007) à medida de segurança, tratamento médico ambulatorial por tempo indeterminado, com reavaliação no prazo de 03 (três) anos, com fundamento no artigo 98, do Código Penal, por incurso no artigo 337, do Código Penal, e, irresignado, apela objetivando a absolvição pela atipicidade, diante da ausência de dolo, já que tudo não teria passado de um ato de protesto contra a decisão constante dos autos. A Douta Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo desprovimento do apelo. APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660 2/6
  • 3. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo II Infere-se dos autos que o ora apelante estava a responder a outro Processo-crime nº 208/2004, perante a 5ª Vara Criminal da mesma Comarca de Jaú, por suposta prática de guarda de arma de fogo sem autorização legal, no interior de sua residência. Foi-lhe proposta a suspensão condicional do processo mediante condições, dentre elas o comparecimento mensal em cartório. Assim agiu o réu, cumprindo ao ajustado por reiteradas vezes. No entanto, quando do último comparecimento, solicitou ao funcionário os autos do controle de frequência, para assiná-los, como sempre o fazia. Ocorre que, intempestivamente, pediu para que todos se afastassem, abaixou-se defronte ao balcão de atendimento, arriou as suas calças e defecou sobre referidos autos, inutilizando-os parcialmente. Não bastasse isso, acintosamente, teria passado a exibir o feito a todos os presentes. Teria dito, ainda, que pretendia arremessar sua obra contra o Juiz e o Promotor de Justiça que atuaram no respectivo processo- crime, mas foi impedido por funcionários do fórum. Foi então, autuado em flagrante delito. A denúncia foi recebida e, diante de seu comportamento inusitado e desequilibrado, foi determinada pelo Magistrado a quo a realização de incidente de sanidade mental. APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660 3/6
  • 4. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Foram realizadas duas perícias técnicas, a primeira concluiu por sua semi-imputabilidade e outra pela inimputabilidade total, já que portador de “esquisofrenia paranóide”, ou “transtorno esquizotipico CID X F 21”, respectivamente (cf. fls. 39/40 e 49/51 do apenso próprio). Ao término da instrução, ouvidas diversas testemunhas presenciais do ocorrido, acabou condenado a cumprir medida de segurança, diante de sua parcial imputabilidade. Consoante seu interrogatório em Juízo, e depoimento prestado para elaboração do laudo pericial (em apenso), assim agiu o réu porque decidiu praticar um ato de protesto, indignado com o tratamento que estava recebendo do Poder Judiciário, por acreditar que só assim seria “ouvido e respeitado'. No entanto, como bem destacou o Magistrado a quo, tal alegação não convence. A destruição dos autos, defecando sobre os mesmos, não é meio jurídico, lícito ou razoável de protesto. Ao contrário. O réu estava devidamente assistido por defensor, o qual bem poderia formular suas reivindicações. Indignou-se contra a suspensão condicional do processo, ato que de livre e espontânea vontade celebrou e anuiu. Por derradeiro, segundo se infere do feito, cumpriu APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660 4/6
  • 5. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo diversas vezes o compromisso assumido, comparecendo em Juízo por diversas vezes e somente quando do último comparecimento resolveu protestar. Portanto, sua conduta não pode ser classificada como justificada, razoável, tolerável ou de mero “protesto”. Agiu, sim, com a clara intenção de demonstrar seu inconformismo com a situação suportada, mas se manifestou de forma errada, antijurídica, e sabedor das consequências que poderiam advir de seu ilícito proceder. A alegação do combativo defensor, de que não agiu o réu com dolo, não convence. Ao contrário. É certo que, se totalmente incapaz de entender o caráter ilícito de sua conduta, como entendeu a perícia de fls. 49/51, não possuiria o réu “culpabilidade”. Portanto, não se haveria de falar em “dolo” ou “culpa”, mas apenas em periculosidade do réu para o convívio social. No entanto, sendo ele semi-imputável, como reconheceu o Magistrado a quo, tem o réu parcial entendimento do caráter ilícito de sua conduta. Consoante seu próprio depoimento, bem como das diversas testemunhas ouvidas em Juízo, a maioria presencial dos fatos, tinha o réu a deliberada intenção de protestar contra a decisão constante dos autos. APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660 5/6
  • 6. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Agia, assim, com dolo. Mas, é evidente, seu agir estava comprometido pela patologia psíquica constatada pelo incidente de sanidade mental. Daí porque, não lhe deve ser aplicada pena, mas sim medida de segurança. É o que aqui ocorre. Por isso mesmo, a r. sentença de primeiro grau, escorreita, é de prevalecer incólume por seus próprios, sóbrios e jurídicos fundamentos, aqui incorporados como razão de decidir. A medida de segurança foi fixada de forma equilibrada e se mostra adequada ao caso em apreço. Nada mais pode almejar. Ante ao exposto, nego provimento ao apelo. PÉRICLES PIZA Relator APELAÇÃO Nº 0010102-10.2007.8.26.0302 JAÚ VOTO Nº 22.660 6/6