O documento discute os subdomínios da morfologia e as diferenças entre a tradição gramatical e a descrição da morfologia na gramática didática (DT).
1) Na tradição gramatical, a morfologia abrangia a flexão, categorias gramaticais e classes de palavras. No DT, a morfologia é definida como a disciplina que descreve a estrutura interna das palavras e os processos morfológicos.
2) Há diferenças nos subdomínios considerados e na terminologia entre a tradição gramatical e o DT
1. Os subdomínios :
da (B.2.), das Classe de Palavras (B.3.) e da Sintaxe
(B.4.).
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2. Na Nomenclatura de 1967, a morfologia compreendia:
1 - Flexão das palavras;
2 - Categorias gramaticais;
3 - Classes de Palavras.
Este último domínio surge como independente da
Morfologia, no DT.
No DT, a morfologia é definida como:
A disciplina da linguística que descreve e analisa a
estrutura interna das palavras e os processos
morfológicos de variação e de formação de palavras.
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4. palavra formada por um único
radical, sem afixos derivacionais, mas podendo conter afixos
flexionais.
•Ex.: alunos
alun-[radical] + o[índice temático] + s[sufixo de flexão do
plural]
mar [apenas radical]
palavra formada por derivação ou
por composição.
Ex.: destapar, guarda-redes
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5. : constituinte morfológico que contém o significado
lexical e exclui os afixos flexionais.
Ex.: velh- é o radical da palavra velho.
: ocorre obrigatoriamente associado a uma forma de
base.
Afixo
Prefixo Sufixo Interfixo
Prever Papelada Raticida
(s. derivacional) Agricultor
Desnível
Cantamos
(s. flexional) 5
15. é o sufixo que permite
identificar a classe morfológica a que determinado radical
pertence.
O constituinte temático dos nomes e adjetivos denomina-
se .*
O constituinte temático dos verbos designa-se
.
*Nota: há palavras que não têm índice temático: geralmente as
que terminam em vogal ou ditongo tónicos
(pá, irmã, chapéu, mão) e as que terminam em –r, -s, -z e –l e
que, na formação do plural, requerem uma vogal antes do sufixo
flexional de número (par/pares; pardal/pardais; cortês/corteses;
raiz/raízes).
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21. Sufixo de flexão verbal que acumula valores
de tempo, modo, pessoa e número ou uma combinação
destas categorias.
Ex.: O sufixo -ste em "cantaste"
é, simultaneamente, marcador de pretérito perfeito do
indicativo e de segunda pessoa do singular.
: Forma flexionada a partir de outros
radicais.
Alguns verbos defetivos recorrem a estas formas para
preencher as lacunas existentes no seu paradigma.
Ex.: O verbo “ser” recorre a diferentes radicais para a sua
flexão, como nas formas “sou”, “és” ou “fui”.
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24. Termo que designa os verbos cuja conjugação é
incompleta, uma vez que não flexionam em todas as
formas possíveis num paradigma flexional regular.
São exemplos de verbos defetivos: reaver (que só se
usa nas formas em que o verbo haver tem –v-:
reavemos, reaveis, reavia, reouve, etc.), colorir, abolir,
falir, extorquir, retorquir, etc.
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25. E quando o leitor pensava que já tinha ouvido tudo acerca da
crise, de repente fica a saber que, gramaticalmente, é muito difícil
que Portugal vá à falência. E, enquanto for gramaticalmente
impossível, eu acredito. Justifico esta ideia com a seguinte teoria
fascinante: normalmente, considera-se que o verbo falir é
defectivo. Significa isto que lhe faltam algumas pessoas,
designadamente a primeira, a segunda e a terceira do singular, e a
terceira do plural do presente do indicativo, e todas as do presente
do conjuntivo. Não se diz "eu falo", "tu fales", nem "ele fale". Não
se diz "eles falem". Todos os modos e tempos verbais do verbo
falir se admitem, com excepção de quatro pessoas do presente do
indicativo e todo o presente do conjuntivo. Em que medida é que
isto são boas notícias? O facto de o verbo falir ser defectivo faz
com que, no presente, nenhum português possa falir. Não é
possível falir, presentemente, em Portugal. "Eu falo" é uma
declaração ilegítima. Podemos aventar a hipótese de vir a falir,
porque "eu falirei" é uma forma aceitável do verbo falir. E quem já
tiver falido não tem salvação, porque também é perfeitamente
legítimo afirmar: "eu fali". Mas ninguém pode dizer que, neste
momento, "fale“.(…) 25
Excerto da crónica «Esperança gramatical», de Ricardo Araújo Pereira. Revista Visão, 6 de junho de
2012.
26. Verbos que exigem um sujeito específico e que portanto
são utilizados apenas na 3.ª pessoa do singular e do
plural, salvo quando usados em sentido figurado.
Regra geral, estes verbos exprimem vozes de animais.
•o cão ladra.
•o cavalo relincha
•as rãs coaxam.
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27. Verbos que apresentam um sujeito nulo, pelo que apenas se
conjugam na 3. ª pessoa do singular, salvo quando usados em
sentido figurado.
Regra geral, este verbos exprimem fenómenos atmosféricos:
amanhecer (ex: amanheceu às 6h), chover (ex: choveu muito esta
noite), nevar (ex: neva no inverno), trovejar (ex: trovejou
ontem?), relampejar, etc.
Também são verbos impessoais:
O verbo haver quando significa existir (ex: havia muitos problemas
no país).
O verbo fazer quando indica tempo decorrido (ex: faz cinco anos
que ele emigrou).
O verbo tratar, conjugado pronominalmente (ex: trata-se de um
projeto interessante. 27
31. palavra formada por um único
radical, sem afixos derivacionais, mas podendo conter afixos
flexionais.
Ex.: alunos
alun-[radical] + o[índice temático] + s[sufixo de flexão do
plural] palavra formada por derivação ou
por composição.
Ex.: destapar, guarda-redes
1.Felizmente é uma palavra complexa formada pela palavra feliz e pelo
sufixo -mente (um sufixo derivacional): é uma palavra derivada por
sufixação.
2. Ensonado é uma palavra complexa formada a partir da palavra sono e
com a utilização simultânea do prefixo en- e do sufixo -ado: é uma
palavra derivada por parassíntese.
3. Guarda-chuva é uma palavra complexa formada a partir de duas palavras
(guarda+ chuva): é uma palavra composta.
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32. ou : é o constituinte morfológico
que inclui obrigatoriamente um radical, a partir do qual se
formam novas palavras.
Ex.: “doc-” é a base para “adoçar”;
“adoça- ” é a base para “adoçante”
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33. Atenção:
não há
correspondência
!
Subdomínios Tradição gramatical DT
Morfologia Derivação (radical + um ou Derivação
-processos mais afixos): Afixação:
morfológicos de -prefixação; -prefixação;
formação de palavras -sufixação; -sufixação;
-parassíntese; -parassíntese.
Sem afixos:
-derivação imprópria; -conversão;
-derivação regressiva. -derivação não-afixal.
Composição (mais de um Composição
radical ou palavra):
-justaposição; -morfológica;
-aglutinação. -morfossintática.
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34. Processos morfológicos
de formação de palavras
Derivaçã Composição
o
Processos que envolvem adição de Processos que não envolvem
constituintes morfológicos adição de constituintes morfológicos
morfossintátic
morfológica
a
Derivação
Prefixação Sufixação Parassíntese Conversão
Não-afixal
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35. Derivação
Processos que não
Processos que envolvem
envolvem adição de
adição de afixos
afixos
Derivação
Prefixação Sufixação Parassíntese Conversão
Não-afixal
Rever Mentiroso amanhecer Comer > o comer
Cortar > corte
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36. Tradição gramatical DT
DERIVAÇÃO -Processo de formação DERIVAÇÃO - Processo morfológico
de novas palavras a partir de uma de formação de palavras que
palavra primitiva. consiste, tipicamente, na associação
de um afixo derivacional a uma forma
de base.
• prefixação (associação de um prefixo a • prefixação (sem alteração)
uma forma de base) refazer,
impossível; invisível,
descrente;
• sufixação (associação de um sufixo a • sufixação (sem alteração)
uma forma de base) simplesmente,
possibilidade; ventoso;
• prefixação e sufixação (associação de • prefixação e sufixação (sem alteração)
um prefixo e de um sufixo) imparcialmente;
impossibilidade;
• parassíntese (associação simultânea de • parassíntese (sem alteração)
um prefixo e de um sufixo a uma forma de renovar, 36
base) aprofundar,
amanhecer; enlouquecer;
37. Tradição gramatical DT
Derivação imprópria - Integração Conversão - Processo de formação de
da palavra numa nova classe ou palavras, também chamado derivação
subclasse de palavras, sem que imprópria, que procede à integração de
se verifique qualquer alteração na uma dada unidade lexical numa nova
forma. classe de palavras, sem que se verifique
qualquer alteração formal.
olhar –Verbo /(o) olhar - Nome
Saber – Verbo /(o) saber - Nome
Derivação regressiva - Criação Derivação não-afixal – Processo de
de nomes a partir de verbos. formação de palavras que gera nomes
deverbais, acrescentando marcas de
flexão nominal a um radical verbal.
troc- ->troca; troco (do verbo trocar)
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abraç- -> abraço (do verbo abraçar).
38. Composição
morfossintática morfológica
(radical + radical
(palavra + palavra)
ou
lava-louça; radical + palavra)
casa de banho;
geologia;
maldizer
agricultura;
sociocultural
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39. - Formação de uma palavra a partir de
duas ou mais palavras, que mantêm a acentuação.
obra-prima,
vice-diretor.
- Formação de uma palavra a partir da
união de palavras primitivas ou de radicais, em que apenas
um elemento mantém a acentuação.
girassol,
multinacional.
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40. -Processo de composição que associa um
radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais palavras. De
um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra
associada ocorre uma vogal de ligação.
[agr]+i+[cultura] = [agricultura],
[luso]+[descendente]= [luso-descendente],
[psic]+o+[pata]
- Processo de composição que associa
duas ou mais palavras. A estrutura destes compostos depende
da relação sintática e semântica entre os seus membros, o
que tem consequências para a forma como são flexionados
em número.
[surdo-mudo],
[guarda-chuva] 40
[via láctea]
41. Para que é que se ensinam os processos de
formação de palavras?
Para que os alunos compreendam que existem padrões,
regras que permitem:
▪construir palavras novas;
▪inferir o significado de palavras desconhecidas;
▪analisar a sua estrutura interna e compreender melhor os
conceitos a elas associados.
Regras a seguir:
▪trabalhar com estruturas transparentes;
▪consultar o dicionário para verificar a etimologia das
palavras
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