1. Quando estuda-se o Candomblé,indo além do “modus operandi” no cotidiano das roças, tem-se
a grata surpresa de descobrir nas leis ancestrais,despidas de tecnologias e ciências exatas,reais
ensinamentos passados de pais para filhos,com consciência ausente a outras civilizações.
Sexo e Candomblé.Porque abstinência sexual durante e depois das obrigações ?
Aqui aproveito para dissolver a confusão gerada pela fusão de conceitos de moral católicas com
a raiz afro.Erradamente, dizem alguns ser esta procedência necessária para “manter o corpo
limpo”, pois os prazeres carnais nos tornam impuros aos olhos de Deus.
Fato : O sexo não é visto como “pecado original” no Candomblé.Aliás em vários itans, Orixás o
praticam, seduzem e encantam sensualmente.Então,tal explicação, não procede.O conceito
descrito abaixo(meu prisma sobre o assunto)é o que assimilo deste preceito, após pensar sobre
o tema com dedução lógica.
1- O dna : A ancestralidade vive no sangue.Esse conceito é básico na nossa fé e mesmo nos
rituais, se faz presente.Primeiro,porém,antes de examinar a conclusão, preciso para referência
mais adiante ,estabelecer um ponto:sangue contém o dna, código a tornar o indivíduo singular
no universo.É o CPF,CEP e RG recebidos da natureza quando somos concebidos.Além
dele,outros materiais orgânicos também o contêm : sêmen,saliva,tecidos do corpo,fluidos
vaginais, leite materno ,suor e substâncias pré-ejaculatórios.
2- Quando se entra para roncó,estamos em retiro espiritual,num momento único,pessoal e
intransferível entre o ser humano e os Deuses.Deixamos o cotidiano para nos dedicar ao Divino.
Atos mundanos (próprios do mundo) como fumar,ver tv,ir a rua ,comer o que nos
apetece,bebidas alcoólicas ou estimulantes e sexo,já não cabem no momento. fazemos um
juramento entregando vida e sina a direção dos Encantos) e a relação Pai/Mãe e filho/a, é
chamar kijila e eewó.
3- Estamos ali amealhando forças (nguzo-axé) para avanço espiritual,potência para ori-
mutuê,tornando robusta a conexão com nosso Orixá-nkisi.Através do sistema de oferendas,
elevadas com preces(somadas a purificação de mente e corpo de cada pessoa), pedimos
emanações de vigoroso poder sobre alma e vida.É o retorno ao estado natural do espírito como
2. parte e parcela do Divino;portanto privativo.
4-Sabemos que Exu confere as oblações,leva aos Deuses as súplicas e retorna a Ayê com a
graça.Se nosso CEP é exclusivo no sangue e através dele cantam os ancestrais num ritual
único,no momento da oferta,no corpo do postulante, deve haver apenas o seu dna.Se houvesse
relações sexuais durante os procedimentos mágicos e místicos do Candomblé,Exu ao conferir a
encomenda,pelos materiais orgânicos trocados na cópula,encontraria dois remetentes quando
tudo foi feito para um determinado ori,odus,vida espiritual e material.Ou seja,o pacote não
confere...e nós sabemos bem: encomenda mal postada...se extravia ou volta para o correio sem
cumprir sua rota,destino e função.
5-O mesmo se aplica ao Kelê (Migui).Essa joia do Orixá, posta no pescoço do iniciado. Significa a
aliança,a conexão perfeita entre elegun e o Orixá.Não é assim que operamos magicamente?
Fazemos a oferenda e aguardamos pois o Santo vai providenciar meios para efetivar as dádivas
que rogamos nos dias a seguir?No período do Kelê ainda estamos sobre o ritual e nesta
temporada de ligação estreita entre humanos e Deuses,mais uma vez, não devemos inserir
terceiros em tão raro momento.Este paramento é tão sagrado que depois do período prescrito
deve ser colocada no Igba Orixá e de lá só retirado no Axexê, onde é desfeito.
Então, como penso, sexo não “encarde” ninguém.É a celebração da vida, porém apenas
inadequado durante os ritos pessoais.Para tudo na vida tem hora e local.