O conto descreve a conversa entre um pai e seu filho sobre como se tornar um "Medalhão", alguém que se faz notar na sociedade sem realmente ter ideias ou influenciar mudanças. O pai ensina o filho a repetir frases de filósofos e evitar pensar por conta própria para se tornar conhecido de forma vazia. A crítica é à falsa intelectualidade da época.
Análise da ironia e crítica social no conto Teoria do Medalhão de Machado de Assis
1. Gabriella Moreira
Flávia Campos
Larissa Daher
Ana Resende
Debora Oliveira
2. • Resumo do texto
• Análise do conto
• Variação histórica
• Figuras de linguagem
• Funções de linguagem
• Recursos de coesão textual
3. O conto Teoria do Medalhão narra a história
de um pai e seu filho que conversam
quando o último atinge a maior idade, ou
seja, 21 anos. O diálogo se inicia na sala,
onde o pai instrui o filho como ser um
Medalhão. Ele diz que agora é a hora de
escolher uma profissão, mas que o filho
deve também exercer o ofício de Medalhão.
A partir daí o pai explica ao filho como ser e
o que é um Medalhão. A pessoa dedicada a
este oficio deve, quando chegar à velhice
(entorno dos 45 aos 50 anos), ter adquirido
o respeito da sociedade carioca do século
XIX.
4. Para ser um Medalhão é necessário
transformar-se em um robô. Sem expressar
ideias, gostos, ou atitudes que possam
realmente mudar alguma coisa na
sociedade. Um Medalhão deve usar sempre
frases prontas, feitas por grandes filósofos,
quando a eles uma pergunta for feita. A
pessoa deve viver para ser conhecida na
sociedade, e desta chamar atenção. Um
Medalhão deve ser lembrado durante e
após a vida, mas sem fazer nenhum esforço.
As pessoas devem achá-lo sábio, engraçado
e presença indispensável em festas, mesmo
que de fato não o seja.
5. Para ser tudo isso, o principal é não ter ideias. E
o pai ensina ao filho como fazê-lo. Ele nunca
deve estar sozinho, deve estar sempre por
dentro do que dizem os filósofos, mas não
deve influenciar-se por suas ideias, o pai diz
que a profissão não é impossível: ‘‘[...] há um
meio; é lançar mão de um regime debilitante,
ler compêndios de retórica, ouvir certos
discursos, etc. O voltarete, o dominó e o whist
são remédios aprovados. O whist tem até a
rara vantagem de acostumar ao silêncio, que
é a forma mais acentuada da circunspecção.
6. Não digo o mesmo da natação, da equitação e
da ginástica, embora elas façam repousar o
cérebro; mas por isso mesmo que o fazem
repousar, restituem-lhe as forças e a
atividade perdidas. O bilhar é excelente”.
No fim do texto, à meia-noite, após uma hora
de conversa, o pai pede para que o filho vá
dormir e pense no que ele falou. E assim
Machado de Assis faz um convite ao leitor
para pensar no que é ser um Medalhão.
7. O conto Teoria do Medalhão, de Machado de
Assis, retrata de forma extremamente
irônica alguns membros sociedade. Mesmo
com um núcleo de personagens pequeno, o
autor consegue criticar ferrenhamente as
pessoas mascaradas da alta sociedade. São
pessoas que se dizem intelectuais, cultas,
sábias, simpáticas e elegantes, mesmo
sabendo que são o oposto disto.
8. Os Medalhões de Machade de Assis, assim
como os medalhões objetos, tem sua parte
não encantadora voltada para um lugar
longe das vistas das pessoas, mostrando a
elas somente seu requinte e vaidade.
O texto é todo escrito em forma de diálogo,
com ausência de narrador. Além disso, os
dois únicos personagens não apresentam
nomes, referindo-se assim à sociedade
como um todo.
9. Durante todo o texto o autor aplica uma
ironia singular, os personagens não são
irônicos em suas falas, mas Machado de
Assis, através da voz do personagem,
aplica a ironia. Assim, mesmo que o
personagem diga e repita que é bom ser
um Medalhão o autor quer dizer
justamente o contrário.
10. Para criar este efeito, ele afirma que o
Medalhão não pensa, e o terror do ser
humano, desde o Renascentismo, é
admitir que não pensa.
Enfim, é de forma brilhante que Machado de
Assis deixa claro nas entrelinhas uma
crítica clássica: afinal, quem nunca
conheceu um Medalhão?
11. ‘‘Mas qualquer que seja a profissão da tua
escolha, o meu desejo é que te faças grande e
ilustre, ou pelo menos notável, que te
levantes acima da obscuridade comum. A
vida, Janjão, é uma enorme loteria; os
prêmios são poucos, os malogrados
inúmeros, e com os suspiros de uma geração
é que se amassam as esperanças de outra.
Isto é a vida; não há planger, nem imprecar,
mas aceitar as coisas integralmente, com seus
bônus e percalços, glórias e desdouros, e ir
por diante.’’
12. Variação histórica: variação do sentido das
palavras e da ortografia com o tempo.
Léxico: novas palavras e outras que não são
mais usadas:
Malogrados: fracassados, frustrados.
Planger: chorar, lamentar, lastimar-se.
Imprecar: jogar praga, soltar praga. Pedir
contra ou a favor de alguém.
Percalço: aborrecimento, transtorno,
incomodo.
Desdouro: sem brilho.
13. Organização das palavras na frase:
‘‘Mas qualquer que seja a profissão da tua
escolha, o meu desejo é que te faças grande
e ilustre, ou pelo menos notável, que te
levantes acima da obscuridade comum.’’
14. Gradação: Apresentação de ideias em
progressão ascendente ou descendente, ou
simplesmente em progressão .
“...algumas apólices, um diploma,
podes entrar no parlamento,
magistratura, imprensa, indústria,
letras, artes, comercio, lavoura... “
15. Assíndeto: Ausência de conectivos de
ligação, assim atribui maior rapidez ao
texto.
“...algumas apólices, um diploma,
podes entrar no parlamento,
magistratura, imprensa, indústria,
letras, artes, comercio, lavoura... “
16. Hipérbato : Alteração ou inversão da ordem
direta dos termos na oração, ou das orações
no período. São determinadas por ênfase e
podem até gerar anacolutos.
“...outra coisa nem eu te digo!”
Quando o certo seria dizer : “ nem eu te digo
outra coisa”
17. Zeugma : Omissão (elipse) de um termo que já
apareceu antes. Se for verbo, pode necessitar
adaptações de número e pessoa verbais.
Utilizada, sobretudo, nas orações
comparativas.
“...Alguns estudam, outros não” quando o
certo seria dizer : “ alguns
estudam,outros não estudam”
18. Polissíndeto : Repetição de conectivos na
ligação entre elementos da frase ou do
período.
“...Quanto à matéria dos discursos, tens
à escolha: - ou os negócios miúdos, ou
a metafísica política, ou a filosofia,mas
prefere a metafísica.”
19. Hipérbole : Exagero
“... Nenhum me parece mais útil e cabido
que o de medalhão. Ser medalhão foi o
sonho da minha mocidade; faltaram-
me, porém, as instruções de um pai, e
acabo como vês, sem outra consolação
e relevo moral, na sarjeta , sem nada!”
20. Antítese : Emprego de termos com sentidos
opostos.
“...aceitar as coisas integralmente, com
seus ônus e percalços, glórias e
desdouros, e ir por diante.”
“ ...podes pertencer a qualquer partido,
liberal ou conservador, republicano ou
ultramontano...”
21. Metonímia: Substituição de um nome por
outro em virtude de haver entre eles
associação de significado.
“ ...vai ali falar do boato do dia, da
anedota da semana, de um
contrabando, de uma calúnia, de um
cometa, de qualquer coisa, quando não
prefiras interrogar diretamente os
leitores habituais de Mazade;”
22. Metáfora: É um tipo de comparação
implícita, sem termo comparativo.
“...A vida, Janjão, é uma enorme loteria;
os prêmios são poucos, os malogrados
inúmeros, e com os suspiros de uma
geração é que se amassam as
esperanças de outra.”
“...O substantivo é a realidade nua e
crua...”
23. Silepse: É a concordância com a ideia, e não
com a palavra escrita.
“ ... Janjão,não te ponhas com
denguices, e falemos sério.”
Silepse de pessoa,pois quem fala ou escreve
também participa do processo verbal
24. Anáfora: Repetição de uma mesma palavra
no início de versos ou frases.
“...Tu poupas aos teus semelhantes todo
esse imenso aranzel, tu dizes
simplesmente: Tu,antes de reformar as
leis reformes os costumes...”
25. O conto traz uma análise do comportamento de
algumas pessoas da sociedade. Ironiza muitos
e descreve – os de forma clara e precisa tendo
com pano de fundo uma conversa entre pai e
filho. Tendo como papel principal transmitir
opiniões, mensagens e ideias, em cima de um
único tema “ A escolha da carreira “
enfatizando a publicidade.
26. Por isso tem como função predominante a
função fática que é a que tenta
estabelecer uma relação a mais com o
leitor, é o que o conto faz, além da
mensagem que o pai transmite ao filho
ele também mesmo que indiretamente
passa ao leitor para que este possa tirar o
proveito do seu modo.
27. Dando um exemplo da aplicação da função
fática cito a seguinte parte do texto:
(...) ‘‘Explico – me. Se caíres de um carro, sem
outro dano, além do susto, é útil mandá – ló
dizer aos quatro ventos, nãoi pelo fato em
si, que é insignificante, mas pelo efeito de
recordar um nome caro às afeições gerais.
Percebeste? ‘’
- ‘‘ Percebi..... ’’
28. - [...] Mas se eu não tiver à mão um amigo apto e
disposto a ir comigo?
- Não faz mal; tens o valente recurso de mesclar-te
aos pasmos tórios, em que toda a poeira da
solidão se dissipa. As livrarias, ou por causa da
atmosfera do lugar, ou por qualquer outra, razão
que me escapa, não são propícias ao nosso fim; e,
não obstante, há grande conveniência em entrar
por elas, de quando em quando, não digo às
ocultas, mas às escâncaras.
29. [...] Podes resolver a dificuldade de um modo simples:
vai ali falar do boato do dia, da anedota da semana,
de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa,
de qualquer coisa, quando não prefiras interrogar
diretamente os leitores habituais das belas crônicas
de Mazade ; 75 por cento desses estimáveis
cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões, e uma
tal monotonia é grandemente saudável. Com este
regime, durante oito, dez, dezoito meses -
suponhamos dois anos, - reduzes o intelecto, por mais
pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina, ao
equilíbrio comum. Não trato do vocabulário, porque
ele está subentendido no uso das ideias; há de ser
naturalmente simples, tíbio, apoucado, sem notas
vermelhas, sem cores de clarim...