O documento discute os conceitos de delírio e vivências delirantes primárias de acordo com a abordagem fenomenológica. Apresenta as categorias de humor delirante, percepção delirante e cognição delirante como modificações das experiências básicas que resultam em ideias delirantes. Também discute os conceitos de delírio primário versus secundário de acordo com Jaspers.
Power point do Seminário "Vida e Obra de Carl G. Jung"
Análise fenomenológica das vivências delirantes primárias
1.
2. Introdução
Sumário
Conceito de Delírio
Etimologia
História
Abordagem Fenomenológica
O Delírio através da Fenomenologia
Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário
Delírio e Deliróide
Vivências Delirantes Primárias
Humor Delirante
Percepção Delirante
Representação Delirante
Cognição Delirante
Modalidades de Delírio segundo Kurt Schneider
Ocorrência Delirante
Reação Deliróide
Nosologia
Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã
Processo, Desenvolvimento e Reação
Delírios Processuais
Delírios Não Processuais
Os Delírio na Escola Psiquiátrica Francesa
Delírios Agudos
Delírios Crónicos
Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana
Perturbação Delirante
Diagnóstico Diferencial
Curso e Evolução
Tratamento
3. Introdução
O tema delírio, out of fashion, démodé ?
O delírio “constitui o tema central da
Psicopatologia”
(Ey, H.,1950)
O delírio é o ponto máximo de concretização do
pensamento psicótico
4. Conceito de Delírio
Etimologia
Delusion (inglês) – deriva de delude, este do latim
deludere = enganar ou iludir
Whan (alemão) – capricho, opinião falsa, imaginação
Delírar (português) e Délire (francês)
Do latim delirare - sair da norma, “lavrar fora do sulco” (de +
lira [sulco]=fora do sulco)
Aplicado ao pensamento humano seria… pensar fora do sulco
da realidade
O delirante é o homem que delira…que sofre de doença mental
Bastos, O. ,1986
5. Conceito de Delírio
História
Guiraud
Delírio (sintomas produtivos) vs Demência (sintomas
negativos)
Oswald Bunke
Delírio como “erro originado morbidamente e
incorrigível”.
Kraepelin
“ideias morbidamente falseadas que não são acessíveis à
correção através da argumentação”
Bastos, O. ,1986
6. Conceito de Delírio
História
Bleuler
“Ideias delirantes são representações falsas, que não derivam
de uma insuficiência casual da lógica, mas de uma necessidade
ou tendência interior (tendência delirante de Kraepelin)…as
necessidades são sempre afetivas”.
H. Delgado Espinosa
“alterações primárias do juízo, isto é, que não podem ser
deduzidas de outras experiências, nem racionais, nem
emocionais. São juízos infundados que ocorrem ao indivíduo, o
qual os vivencía como verdades incontestáveis e retira delas
consequências, como um juízo fundamentado. Por isso, os
doentes delirantes são capazes de discorrer com uma lógica
intocável, porém em consonância com a falsidade que lhe serve
de ponto de partida”
Bastos, O. ,1986
7. Conceito de Delírio
História
Karl Jaspers
“Delírio de Ciúme, Contribuição à Questão - Desenvolvimento de uma
Personalidade ou Processo?” (1910)
“Psicopatologia Geral” (1913)
Bases definitivas da fenomenologia do delírio
Questão da compreensibilidade vs incompreensibilidade
Delírio enquanto “Vivência Delirante”
Delírio: perturbação da consciência de realidade e dos juízos
Kurt Schneider Querela de Heidelberg
“Psicopatologia Clínica” (1948)
Delírio: perturbação do conteúdo do pensamento
8. Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
“Uma transformação na vasta consciência de realidade”
“...que se manifesta secundariamente em juízos de realidade“
Vivências delirantes como “juízos patologicamente falseados”
Delírio vs erros e crenças
“...onde a corporeidade alucinatória somente tem papel
transitório, não-suficiente...”
Delírio vs Delirium
“...comparativamente à modificação de experiências básicas“
É da alteração da consciência de realidade que resulta o delírio
Jaspers, K. ,1987
9. Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
Para Karl Jaspers, as ideias delirantes são “todos os juízos
patologicamente falsos” que possuem as seguintes
características externas:
a) Certeza: “convicção extraordinária” e “certeza subjetiva
incomparável”com a qual são mantidos
b) Incorrigibilidade: “não influenciáveis pela experiência ou
refutações lógicas”
c) «Impossibilidade do conteúdo»
Jaspers, K. ,1913
10. Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
Críticas à definição de Jaspers:
Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos,
superstições..)
Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva
Podem ser receptivas à contra-argumentação
Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade»
(e.g.: Delírio de Cíume)
Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre
coeu, pour n’étre point malade!
De Clerambault
Bastos, O. ,1986
11. Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
Críticas à definição de Jaspers:
Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos,
superstições..)
“…sei que sou traído, porque sempre que eu entro em casa, o
cuco está nãodar 5 convicção extraordinária e certeza subjetiva do
Poderá a haver horas...Era a hora a que ele voltava
trabalho, e sendo o cuco um ladrão de ninhos, ele julgava ser
atraiçoadoser receptivas àecontra-argumentação a prova delirante
Podem pela mulher, o canto do cuco era
apresentada…”
Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» Henry Ey
(e.g.: Delírio de Cíume)
Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre
coeu, pour n’étre point malade!
De Clerambault
Bastos, O. ,1986
12. Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
Goas
Caballero
Fenómeno primário
Imcompreensibilidade genética
“surge sem motivo ou causa” (Lopez Ibor)
Perda de juízo da realidade
Conteúdo quase sempre impossível e irreal
Núcleo de toda a existência
Ruptura com a realidade
Expressão de uma profunda alteração da personalidade
“uma inversão das relações da realidade do Eu com o
Mundo…alienação da pessoa” (H. Ey)
Goas, C., 1966
14. Da Compreensibilidade aos
Conceitos de Primário e Secundário
Incompreensibilidade
Estática e Genética Primário
Compreensibilidade
Genética
Estática
Secundário
15. Delírio e Deliróide
distinguir-se duas grandes
“Quanto à origem do delírio devem
classes:”
“Autênticas Ideias Delirantes” (Wahnideen)
Fenómeno primário e incompreensível
“…não são susceptíveis de serem seguidos psicologicamente, e do
ponto de vista fenomenológico são algo de último e derradeiro…”
“Ideias deliróides” (Wahnhafteideen)
“são as que surgem compreensivelmente de outros processos
psíquicos, que podem ser seguidas psicologicamente a partir
das emoções, dos instintos, dos desejos e medos; não implicam
nenhuma transformação da personalidade, antes são
compreensíveis pela disposição permanente da personalidade
ou estado de ânimo transitório.”
Jaspers, K.,1987
16. Vivências Delirantes
Primárias
“As tentativas de compreender as vivências delirantes
primárias serão sempre infrutíferas (…) sobra sempre um resto
enorme de algo incompreensível, inapreensível e
imperceptível”
Consciência de realidade como uma consciência de significação
O significado surge da consciência que está em relação com o objeto
Na "experiência básica modificada" da vivência delirante, a consciência
de significação experimenta uma transformação radical
Jaspers, K.,1987
17. Vivências Delirantes
Primárias
“os doentes sentem algo de estranho, há alguma coisa que
pressentem. Tudo tem nova significação. O ambiente está
diferente…é uma modificação subtil, que tudo tinge e envolve
numa luminosidade estranha e incerta. Uma atmosfera
indefinível domina…Há algo no ar…uma tensão suspeita,
desagradável, estranha(…)”
Humor Delirante
Jaspers, K.,1987
18. Vivências Delirantes
Primárias – Humor Delirante
Os doentes referem-se a um segundo sentido das mensagens
ou atitudes dos outros – vivências de “posto”.1
“…são assaltados por pressentimentos e obscuras
suspeitas…Nada mais é como dantes, é algo de dramático, mas não
ainda conhecido, que está por acontecer…” 2
“Algo está diferente”
“algo de novo está surgindo”
1Pio de Abreu, J.L., 1994
2Jaspers, K.,1987
19. Vivências Delirantes
Primárias – Humor Delirante
Grau máximo da angústia psicótica
“…há sempre algo de presente, embora totalmente impreciso...Esta
disposição delirante geral, sem conteúdo determinado é
insuportável. Os doentes sofrem horrivelmente; e encontrar uma
ideia determinada já é um alívio. Nasce no doente uma sensação de
falta de apoio e insegurança que o impele instintivamente a
procurar um ponto firme…”
“…uma ideia clara…ação tranquilizadora…embora a partir dela
nasçam as convicções de perseguição ou juízos de exaltação e
grandeza”
Jaspers, K.,1987
20. Vivências Delirantes
Primárias – Humor Delirante
Trema (Conrad)
aumento de tensão que precede a irrupção do surto
esquizofrénico…é algo de “atormentador e incontrolável”. 1
“O doente fica aprisionado no seu mundo que se torna
caótico, estranho e incompreensível para ele mesmo.”2
(Pio de Abreu)
Desvio da Seta Intencional (Lopez-Ibor)
“em vez de se dirigir do indivíduo para o mundo (conferindo-lhe
significados), dirige-se do mundo para o indivíduo”. 2
1Conrad, K., 1963
2Pio Abreu, J.L., 1994
21. Vivências Delirantes
Primárias - Percepção Delirante
“quando uma significação delirante é experimentada sem que haja
qualquer perturbação sensorial estamos perante percepções
delirantes…vão desde vivências de significação imprecisa, até claros delírios
de observação e autoreferência” (Jaspers)
Na vivência de significação imprecisa, os objetos e as pessoas significam
algo de diferente mas não definido: “…chamam a atenção do doente as
fisionomias transfiguradas, a beleza dominadora do sol…deve estar a
acontecer alguma coisa…”
Na vivência de observação determinados fenómenos do mundo passam
a chamar a atenção: uma flor caída, um cordão de sapato, uma palavra
pronunciada por alguém, uma parede amarela rachada, etc.
Na vivência de auto-referência, as significações são delimitadas e
referidas ao doente: um olhar, uma palavra, o miado de um gato.
Jaspers, K. ,1987
22. Vivências Delirantes
Primárias - Percepção Delirante
Kurt Schneider:
“é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”
“...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;
Inexistência de um motivo compreensível que a origine;
Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;
Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz
Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;
A “estranheza” é “sempre dupla”;
Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto
percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.
Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia
Schneider, K.,1968
23. Vivências Delirantes
Primárias - Percepção Delirante
Kurt Schneider:
“é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”
“...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;
Inexistência de um motivo compreensível que a origine;
Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;
Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz
Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;
“Quando percebi que chamavam três vezes às 12 horas em ponto no
A “estranheza” é “sempre dupla”;
andar inferior e que um Volkswagen vermelho passava rápido pela
Estrutura de dois terrível e compreendi que se havia decidido o
rua, senti um medo membros: o que vai do indivíduo ao objeto
destino da Europa”que vai do objeto percebido à significação anormal.
percebido; e outro 2
Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia
Schneider, K.,1968
24. Vivências Delirantes
Primárias - Representação Delirante
“surgem sob a forma de novas significações das recordações
da vida ou na forma de ocorrência repentinas”.
Exemplo 1: “O doente afirma «Eu sou filho do Rei Luís o que é
confirmado pela recordação de como o imperador, ao passar a cavalo
na parada, há alguns anos, olhou calorosamente para ele.”
Exemplo 2: “Numa das noites tornou-se evidente para mim, de repente
e de modo muito natural que a Sra. L. é a causa provável destas coisas
simplesmente terríveis que nos últimos anos tive que sofrer (influência
telepática entre outras)…tudo se me impôs de modo repentino e de todo
inesperado.”
Jaspers, K. ,1987
25. Vivências Delirantes
Primárias – Cognição Delirante
Vivência que surge intuitivamente, de modo imediato,
sem qualquer vinculação com dados perceptivos do
mundo.
Exemplo:“Uma jovem ao abrir casualmente a Bíblia, lê o
episódio da ressureição de Lázaro. De imediato sente-se como
Maria. Marta é a sua irmã e Lázaro o primo doente. Ela
experiencía o acontecimento que lê, como uma vivência
própria.”
Paim, I. ,1993b
26. Modalidades de Delírio de K.
Schneider - Ocorrência Delirante
Engloba a representação delirante e cognição delirante
descritas por Jaspers. 1
Fenomenologicamente indistinguível do aparecimento súbito
de uma ideia normal.
Estado único: “trata-se de um fenómeno que une diretamente o
indivíduo à ocorrência, não havendo o segundo membro da
percepção delirante que vai do objeto percebido à significação
anormal.”2
Auto-referencial“significação especial.”1,2
“…menor importância para o diagnóstico de Esquizofrenia.” 1,2
1Paim,I, 1993b
2 Schneider K.,1968
27. Modalidades de Delírio de
K. Schneider– Reação Deliróide
“…constituem-se sempre sobre a base afetiva, a partir de uma
distimia, da angústia expectante, da desconfiança.”1
Ideias/Reações Deliróides vs Ideias Delirantes Secundárias 2
Ideias/Reações Ideias Delirantes
Deliróides Secundárias
- Estado de Humor
Origem - Personalidade anormal Vivência patológica
- Situação de stress
- Influenciáveis ≈ Delírios Primários
Características - Corrigíveis (Ininfluenciabilidade,
- Fraca convicção Incorrigibilidade, Convicção
subjetiva Subjetiva)
1 Schneider, K.,1968
2 Goas C.,1960
28. Nosologia
Os Delírios na Escola Psiquiátrica
Alemã
29. Processo,
Desenvolvimento, Reação
Processo
Tipicamente esquizofrénico
“algo inteiramente novo” (Jaspers)
Alteração da estrutura do Eu
Ruptura da unidade histórico-significativa
Incompreensível genéticamente
Vivências primárias, inderiváveis e irredutíveis
Deterioração da personalidade
Paim, I. ,1993a
30. Processo,
Desenvolvimento, Reação
Desenvolvimento
3 premissas:
Personalidade Prévia característica
“possibilidades implícitas” de base biológica (Lopez Ibor)
Circunstância ou acontecimento vital mobilizador
Distinto do Processo:
Compreensível geneticamente
Sem deterioração da personalidade
Reação
Vivência anormal (Intensidade e duração desproporcionadas)
Determinantes:
Predisposição pessoal
Factores externos desencadeantes Paim, I. ,1993a
31. Delírios Processuais
Delírio Esquizofrénico Paranóide
Primário e processual geneticamente incompreensível
Início em idades jovens
Elaboração a partir de uma vivência delirante primária
Mal sistematizado
Mecanismo variado (interpretativo, alucinatório, intuitivo, etc.)
Conteúdos polimórficos, bizarros e ilógicos
Evolução com grave deterioração da personalidade
Marcada avolição e indiferença afetiva
Contraste entre a intensidade das alucinações auditivo-verbais
e conteúdos delirantes e a escassa ressonância afectiva do
doente
32. Delírios Processuais
Delírios Parafrénicos
Kraepelin, 1913
Forma intermédia entre a Paranóia e a Demência Precoce
Início tardio (>30 anos)
Primário, crónico e mal sistematizado
Conteúdo polimórfico
3 temas: perseguição, erostismo, megalomania
Menos incoerente que o delírio esquizofrénico
Síndrome alucinatório de base imaginativa
“Diplopía da existência“(H. Ey).
Deterioração sui generis (<Delírio Esquizofrénico)
afeta mais a consistência das ideais delirantes que as capacidades
afetivas e volitivas do indivíduo
Kraepelin, E. ,2005
33. Delírios Processuais
Delírios Parafrénicos
Quatro formas clínicas (cf. Kraepelin):
Sistemática
Delírio persecutório progressivo e megalómano mais tarde.
Alucinações auditivo-verbais (++), cenestésicas e
pseudoalucinações
Comportamento congruente com o conteúdo delirante
hostil e ameaçador (perseguido); irónico e altivo (megalómano)
< suspeição e desconfiança que o paranóico perseguido
Expansiva
Sexo Feminino (75%)
Ideias megalómanas de tonalidade erótica (++) e místicas
Alucinações táteis, visuais e cenestésicas (ativam o delírio erótico)
Humor expansivo ou irritável
Altivos, com tendência à insolência e as explosões coléricas
Kraepelin, E. ,2005
34. Delírios Processuais
Delírios Parafrénicos
Confabulatória
Rara
Temática delirante semelhante
Ausência de alucinações e pseudoalucinações
Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos
reconhecimentos)
Fantástica
Conteúdo delirante extravagante
delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)
Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes
Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.
Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da
personalidade
Kraepelin, E. ,2005
35. Delírios Processuais
Delírios Parafrénicos
Confabulatória
"são oRara
prolongamento de um movimento psicótico
Temática delirante semelhante
interrompido" de alucinações e pseudoalucinações
Ausência
Henry
Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos Ey
reconhecimentos)
“O tempo dirá se são formas atenuadas de Esquizofrenia ou
Fantástica
algo diferente dela”
Conteúdo delirante extravagante
E.Bleuler
delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)
Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes
Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.
Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da
personalidade
Kraepelin, E. ,2005
36. Delírios Não-Processuais
Desenvolvimento Paranóide
Segundo Kraepelin, a Paranóia (DesenvolvimentoParanóide) é:
Delírio crónico, de início insidioso, bem sistematizado
Endógeno (≠ psicoses psicogénicas reativas)
Sem deterioração da personalidade (≠ delírio esquizofrénico e
parafrénico)
Kraepelin, E. ,2007
37. Delírios Não-Processuais
Desenvolvimento Paranóide
Personalidade Prévia
Personalidade paranóide (enfoque paranóide da vida)
Desconfiança e suspeita permanente
Rigidez psíquica
Egocentrismo
Autoreferência
Hostilidade
Escassa autocrítica
“inseguras de si mesmas”na sua forma sensitiva "com capacidade de
impressão aumentada para todas as vivências.” ( Schneider)
“necessitadas de estima” (Schneider) ou de “carácter histérico” (Kock)
Circunstância ou acontecimento vital transcendente
capaz de mobilizar as características anómalas da personalidade
que sobrevalorize uma ideia para constitui o ponto de partida do delírio
Goas, C., 1966
38. Delírios Não-Processuais
Desenvolvimento Paranóide
Características fundamentais:
Delírio crónico
Início insidioso e progressivo (40 anos)
Mecanismo interpretativo
Temática persecutória (++)
Sem alucinações ou pseudoalucinações
Bem sistematizado
Ideias sobrevalorizadas como base
Atividade delirante de intensidade variável
Preservação das capacidades afetivo-volitivas “ao serviço do
delírio”
Acentua a convicção subjetiva, ininfluenciabilidade e incorrigibilidade
Caráter racional e verosímil
Extensão em continuidade a múltiplos domínios
Grande influência do fator afetivo: “muito mais uma sinfonia que um
verdadeiro teorema” (H. Ey)
Goas, C., 1966
39. Delírios Não-Processuais
Reação Paranóide
Resposta do tipo delirante determinada por:
Predisposição da personalidade prévia (paranóide)
Circunstâncias vitais desencadeantes
Descrição semiológica:
Delírio sistematizado e estável
Mecanismo interpretativo (outros mecanismos secundários)
Temática uniforme, lógica, verossímil
Em relação com a personalidade prévia e fatores desencadeantes
Sem desagregação ou destruturação do Eu
Transitória (determinada pela presença do fator desencadeante)
Evolução com remissão total e sem deterioração
Goas, C., 1966
40. Delírios Não-Processuais
Reação Paranóide
Prognóstico
Reversível e transitória através de:
Terapêutica;
Extinção da situação
Mudanças favoráveis nos fatores externos
Evolução para Desenvolvimento Delirante Paranóide
Bom prognóstico se:
Início agudo
Individualização dos factores desencadeantes
< 30 anos
Sexo feminino
Duração < 6 meses antes de início da hospitalização
Goas, C., 1966
41. Delírios Não-Processuais
Reação Paranóide
Reação Paranóide Autênticas Psicoses de Situação
Vivência única e aguda Vivência contínua, prolongada
Paranóia Abortiva (Gaupp) Por Ação do Meio : Delírios
Paranóia Psicogénica (Kraepelin, induzidos ou partilhados - Folie à
Lange, Lacan) Deux da Escola Francesa
Paranóia Atenuada (Friedmann) Psicose Imposta
Delírio Sensitivo de Autoreferência Psicose Simultânea
(Kretschmer) Psicose Comunicada
Delírio Querelante Recidivante
Por Isolamento do Meio
(Racke)
Físico (e.g. Reclusos)
Sensorial (e.g. Cegos, Surdos)
Linguístico (e.g. Emigrantes)
Vidal, D.A.,1997
42. Delírios Não-Processuais
Delírio Sensitivo-Paranóide de Kretschmer
Reação delirante sobre uma personalidade sensitiva
(asténicos, tímidos,inseguros, hipersensíveis, escrupulosos)
São habituais as autorecriminações ético-morais a respeito do seu
comportamento, com sentimentos de culpa e vergonha - delírio
de " jovens masturbadores " e “velhas solteironas“;
3 formas de expressão:
Reação Paranóide
Casos “puros” com bom prognóstico
Desenvolvimento Paranóide
Organiza-se a partir da personalidade de traços sensitivo-paranóides;
Casos + graves
Desencadeante de Processo Esquizofrénico
Psicose reativa que “cristaliza” com deterioração
Vidal, D.A.,1997
43. Nosologia
Os Delírios na Escola Psiquiátrica
Francesa
44. Delírios Agudos
Alucinatórios
“Bouffée” delirante (≈Holodisfrenias de Barahona Fernandes)
Protótipo dos delírios agudos alucinatórios
Início súbito (em baforada) e evolução curta
Alucinações auditivo-verbais e visuais
Ideias delirantes persecutórias, megalómanas, eróticas ou
místicas, não estruturadas
Remissão completa (raramente evolução crónica)
Não Alucinatórios
Exclusivos da Escola Francesa
Delírio Imaginativo Agudo e Delírio Interpretativo Agudo
Goas, C.,1966
45. Delírios Crónicos
Lasègue (1852) – Delírio Sistemático de Perseguição
Tentativas de classificação clínica:
Tema do delírio
e.g. Delírio de grandeza de Foville e de perseguição de Falret)
Mecanismo
e.g. delírios de interpretação de Serieux e Capgras,
imaginativos de Dupré, de amor de Clerambault, etc.
Característica Formais e Evolutivas
Delírios Sistemáticos
Vidal, D.A.,1997
46. Delírios Crónicos
Alucinatórios
e.g. Delírio Crónico de Evolução Sistemática de Magnan
(≈Parafrenias Sistemática e Fantástica)
Não Alucinatórios
Delírio de interpretação (Serieux e Capgras)
Desenvolvimento em teia de aranha
Interpretações delirantes
Ausência de alucinações
Organização sistematizada com persistência do raciocínio
Incurável mas sem evolução demencial
Ey, H., 1950
47. Delírios Crónicos
Não Alucinatórios
Delírio de Reivindicação (Serieux e Capgras)
Coexistência de “ideia prevalente” (política, social, erótica,
cíume, etc.) com “estado passional”
Fanáticos, reciosos, rancorosos, vingativos
Desenvolvimento em cunha e intensidade máxima ad initium
Delírio do Reivindicador egocêntrico
e.g. Querelantes, Persecutórios, Hipocondríacos,
Erotomaníacos, etc.
Delírio do Reivindicador altruísta
e.g. Inventores, “Reformadores sociais”, Autodidatas, profetas
Delírio de Imaginação (Dupré e Logre)
Ey, H., 1950
48. Delírios Crónicos
Os Delírios Passionais (Gaetan de Clerambault)
Clerambault descreve magistralmente a Erotomania, o mais
importante dos seus “delírios passionais”
Delírio platónico e reivindicativo… “convicção de ser amado por
alguém que não o conhece ou o ignora (geralmente uma pessoa
importante).
Desenvolve-se em fases:
Esperança: qualquer ato acentua a convicção delirante
de ser amado
Despeito: resultado de rejeição repetida
Ódio e rancor: ameças e agressões
Ey, H., 1950
49. Nosologia
Os Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana
50. Delírios na Psiquiatria
Norte-Americana
Papel secundário da Psicopatologia Descritiva
Influência da Psicanálise e desvalorização da descrição
semiológica
As classificações DSM-II (1968) e DSM-III (1980)
Releva o tipo de personalidade e síndromes clínicas
Esquizofrenia e “Estados Paranóides” como "entidades", estimulando
a multiplicidade de diagnósticos de um mesmo caso.
A revisão do DSM-III (1987)
nova designação de "Perturbações Delirantes";
o termo "paranóide" abandonado por ser inerentemente ambíguo e
pressupor conteúdos persecutórios no delírio.
Vidal, D.A.,1997
51. Delírios na Psiquiatria
Norte-Americana
Na classificação norteamericana actual DSM-IV-TR (2000), os
quadros delirantes aparecem rígidamente codificados,
separados da Esquizofrenia e das Pertubações do Humor,
compreendendo:
Perturbação Delirante [F22.0],
Perturbação Psicótica Breve [F23],
Perturbação Psicótica Partilhada (folie à deux) [F24].
Transtorno Psicótico devido a Doença Médica, com ideias delirantes
(F06.2)
Transtorno Psicótico Induzido por Substâncias scom ideias Delirantes
Transtorno Psicótico não-especificado (F29)
52. Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
Na classificação americana, o conceito da Perturbação Delirante é
semelhante à definição de Paranóia de Emile Kraepelin
Os critérios da DSM-IV-TR para a Perturbação Delirante são:1
A. Ideias delirantes não bizarras
B. O critério A para Esquizofrenia nunca foi preenchido.
C. O funcionamento não está marcadamente alterado
D. Se ocorreram episódios do humor simultaneamente com as
ideias delirantes, a sua duração total foi relativamente breve
E. A perturbação não é devida aos efeitos fisiológicos directos de
uma substância ou a um estado físico geral.
Tipos: Persecutório, Ciúme, Erotomaníaco, Somático,
Grandiosidade, Misto, Não Especificado
1American Psychiatric Association,2002
53. Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
O Diagnóstico Diferencial deve ser feito com:
Esquizofrenia paranóide e Perturbação Esquizofreniforme.
Perturbações do Humor com Sintomas Psicóticos.
Perturbação Paranóide da Personalidade
Delirios Orgânicos
Perturbação Psicótica Breve [F23.8X]
American Psychiatric Association,2002
54. Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
Curso e Evolução:
Em concordância com os conceitos primitivos de Kraepelin, a
maioría dos estudos de seguimento sugerem que a Perturbação
Delirante tem estabilidade diagnóstica ao longo do tempo.
Outro autores afirmarm que cerca de um quarto dos doentes
com o diagnóstico de Perturbação Delirante tinham
desenvolvido uma esquizofrenia, confirmando as ideias
primitivas de Bleuler a respeito do tema da Paranóia.
Vidal, D.A.,1997
55. Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
Tratamento:
Áliança terapêutica é fundamental dada a ausência de consciência
mórbida, nunca desafiando o delírio do doente, mas evitando o seu
reforço.
A hospitalização, quando necessária, quase sempre é involuntária
Os antipsicóticos têm mostrado eficácia relativa
antipsicóticos convencionais e atípicos
A psicoterapia do orientação cognitiva mostrou-se eficaz a
reduzir a preocupação por falsas crenças,
diminuir o isolamento social provocado pelos delírios
reorientá-lo para a realidade.
56. Bibliografia
American Psychiatric Association (2002).DSM-IV-TR -Manual de Diagnóstico e Estatística das
Perturbações Mentais, (4ª ed.).Lisboa: Climepsi Editores.
Bastos, O. (1986). Curso Sobre Delírios. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 35(1)
Bhugra, D. & Munro, A., et al. (1997). Troublesome Disguises – Underdiagnosed Psychiatric
Syndromes. Oxford: Blackwell Science
Conrad, K. (1963). La Esquizofrenia Incipiente: Intento de un Análisis de la Forma del Delírio.
Madrid: Ed. Alhambra
Ey, H. (1950). Estudo Sobre os Delirios. Madrid: Editora Paz Montalvo
Goas, C. (1966). Temas Psiquiátricos. Madrid: Editora Paz Montalvo
Jaspers, K. (1987) Psicopatologia Geral, Vol.1. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu.
57. Bibliografia
Kraepelin, E. (2005). Obras de Kraepelin: A Demência Precoce (2º Parte) e Parafrenias.
Lisboa:Climepsi Editores.
Kraepelin, E. (2007). Obras de Kraepelin: Lições Clínicas sobre a Demência Precoce, a Loucura
Maníaco-Depressiva e a paranóia – IV Volume. Lisboa:Climepsi Editores.
Paim, I. (1993a). Curso de Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária
Paim, I. (1993b). História da Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária
Pio de Abreu, J.L. (1994). Introdução à Psicopatologia Compreensiva,(2ª ed.). Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian
Schneider, K. (1968). Psicopatologia Clínica. São Paulo: Editora Mestre Jou
Vidal, D.A. (1997). Delírios. Alcmeón - Revista Argentina de Clínica Neuropsiquiátrica.6(3)