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   Introdução
                                       Sumário
   Conceito de Delírio
      Etimologia
      História
      Abordagem Fenomenológica
   O Delírio através da Fenomenologia
      Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário
      Delírio e Deliróide
      Vivências Delirantes Primárias
            Humor Delirante
            Percepção Delirante
            Representação Delirante
            Cognição Delirante
        Modalidades de Delírio segundo Kurt Schneider
            Ocorrência Delirante
            Reação Deliróide
   Nosologia
   Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã
        Processo, Desenvolvimento e Reação
        Delírios Processuais
        Delírios Não Processuais
   Os Delírio na Escola Psiquiátrica Francesa
        Delírios Agudos
        Delírios Crónicos
   Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana
        Perturbação Delirante
        Diagnóstico Diferencial
        Curso e Evolução
        Tratamento
Introdução
                     
 O tema delírio, out of fashion, démodé ?

 O delírio “constitui          o   tema     central   da
  Psicopatologia”
                                             (Ey, H.,1950)

 O delírio é o ponto máximo de concretização do
  pensamento psicótico
Conceito de Delírio
                      Etimologia
                               
 Delusion (inglês) – deriva de delude, este do latim
  deludere = enganar ou iludir

 Whan (alemão) – capricho, opinião falsa, imaginação

 Delírar (português) e Délire (francês)
   Do latim delirare - sair da norma, “lavrar fora do sulco” (de +
     lira [sulco]=fora do sulco)
    Aplicado ao pensamento humano seria… pensar fora do sulco
     da realidade
    O delirante é o homem que delira…que sofre de doença mental

                                                          Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio
                     História
                          
 Guiraud
   Delírio (sintomas produtivos) vs Demência (sintomas
    negativos)


 Oswald Bunke
   Delírio como     “erro   originado   morbidamente        e
    incorrigível”.


 Kraepelin
   “ideias morbidamente falseadas que não são acessíveis à
    correção através da argumentação”
                                                   Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio
                      História
                            
 Bleuler
   “Ideias delirantes são representações falsas, que não derivam
    de uma insuficiência casual da lógica, mas de uma necessidade
    ou tendência interior (tendência delirante de Kraepelin)…as
    necessidades são sempre afetivas”.

 H. Delgado Espinosa
   “alterações primárias do juízo, isto é, que não podem ser
    deduzidas de outras experiências, nem racionais, nem
    emocionais. São juízos infundados que ocorrem ao indivíduo, o
    qual os vivencía como verdades incontestáveis e retira delas
    consequências, como um juízo fundamentado. Por isso, os
    doentes delirantes são capazes de discorrer com uma lógica
    intocável, porém em consonância com a falsidade que lhe serve
    de ponto de partida”

                                                        Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio
                           História
                                   
 Karl Jaspers
    “Delírio de Ciúme, Contribuição à Questão - Desenvolvimento de uma
     Personalidade ou Processo?” (1910)
    “Psicopatologia Geral” (1913)
         Bases definitivas da fenomenologia do delírio
         Questão da compreensibilidade vs incompreensibilidade
         Delírio enquanto “Vivência Delirante”
         Delírio: perturbação da consciência de realidade e dos juízos


 Kurt Schneider                                    Querela de Heidelberg
       “Psicopatologia Clínica” (1948)
           Delírio: perturbação do conteúdo do pensamento
Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
                                     
 “Uma transformação na vasta consciência de realidade”

 “...que se manifesta secundariamente em juízos de realidade“
    Vivências delirantes como “juízos patologicamente falseados”
       Delírio vs erros e crenças


 “...onde a corporeidade alucinatória somente tem papel
  transitório, não-suficiente...”
    Delírio vs Delirium


 “...comparativamente à modificação de experiências básicas“
    É da alteração da consciência de realidade que resulta o delírio

                                                                  Jaspers, K. ,1987
Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
                             
Para Karl Jaspers, as ideias delirantes são “todos os juízos
patologicamente falsos” que possuem as seguintes
características externas:

   a)   Certeza: “convicção extraordinária” e “certeza subjetiva
        incomparável”com a qual são mantidos

   b)   Incorrigibilidade: “não influenciáveis pela experiência ou
        refutações lógicas”

   c)   «Impossibilidade do conteúdo»

                                                         Jaspers, K. ,1913
Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
                          
Críticas à definição de Jaspers:
 Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos,
  superstições..)

 Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva

 Podem ser receptivas à contra-argumentação

 Conteúdo delirante nem sempre é             uma «impossibilidade»
  (e.g.: Delírio de Cíume)
                             Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre
                             coeu, pour n’étre point malade!
                                                            De Clerambault
                                                                  Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio
 Abordagem Fenomenológica
                          
Críticas à definição de Jaspers:
 Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos,
  superstições..)
“…sei que sou traído, porque sempre que eu entro em casa, o
cuco está nãodar 5 convicção extraordinária e certeza subjetiva do
 Poderá a haver horas...Era a hora a que ele voltava
trabalho, e sendo o cuco um ladrão de ninhos, ele julgava ser
atraiçoadoser receptivas àecontra-argumentação a prova delirante
 Podem pela mulher, o canto do cuco era
apresentada…”
 Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» Henry Ey
   (e.g.: Delírio de Cíume)
                              Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre
                              coeu, pour n’étre point malade!
                                                             De Clerambault
                                                                   Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio
Abordagem Fenomenológica
                            Goas
                        Caballero
 Fenómeno primário
    Imcompreensibilidade genética
    “surge sem motivo ou causa” (Lopez Ibor)

 Perda de juízo da realidade

 Conteúdo quase sempre impossível e irreal

 Núcleo de toda a existência

 Ruptura com a realidade
    Expressão de uma profunda alteração da personalidade
    “uma inversão das relações da realidade do Eu com o
     Mundo…alienação da pessoa” (H. Ey)
                                                 Goas, C., 1966
O Delírio através da
  Fenomenologia
         
Da Compreensibilidade aos
Conceitos de Primário e Secundário
                          
  Incompreensibilidade
   Estática e Genética   Primário
                                     Compreensibilidade
                                         Genética

                                           Estática

                              Secundário
Delírio e Deliróide
                             distinguir-se duas grandes
“Quanto à origem do delírio devem
classes:”
 “Autênticas Ideias Delirantes” (Wahnideen)
    Fenómeno primário e incompreensível
    “…não são susceptíveis de serem seguidos psicologicamente, e do
     ponto de vista fenomenológico são algo de último e derradeiro…”

 “Ideias deliróides” (Wahnhafteideen)
    “são as que surgem compreensivelmente de outros processos
     psíquicos, que podem ser seguidas psicologicamente a partir
     das emoções, dos instintos, dos desejos e medos; não implicam
     nenhuma transformação da personalidade, antes são
     compreensíveis pela disposição permanente da personalidade
     ou estado de ânimo transitório.”
                                                           Jaspers, K.,1987
Vivências Delirantes
           Primárias
              
 “As tentativas de compreender as vivências delirantes
  primárias serão sempre infrutíferas (…) sobra sempre um resto
  enorme de algo incompreensível, inapreensível e
  imperceptível”

 Consciência de realidade como uma consciência de significação
    O significado surge da consciência que está em relação com o objeto


 Na "experiência básica modificada" da vivência delirante, a consciência
  de significação experimenta uma transformação radical




                                                                       Jaspers, K.,1987
Vivências Delirantes
          Primárias
             
 “os doentes sentem algo de estranho, há alguma coisa que
  pressentem. Tudo tem nova significação. O ambiente está
  diferente…é uma modificação subtil, que tudo tinge e envolve
  numa luminosidade estranha e incerta. Uma atmosfera
  indefinível domina…Há algo no ar…uma tensão suspeita,
  desagradável, estranha(…)”



              Humor Delirante

                                                      Jaspers, K.,1987
Vivências Delirantes
Primárias – Humor Delirante
           
 Os doentes referem-se a um segundo sentido das mensagens
  ou atitudes dos outros – vivências de “posto”.1


 “…são     assaltados     por    pressentimentos  e    obscuras
  suspeitas…Nada mais é como dantes, é algo de dramático, mas não
  ainda conhecido, que está por acontecer…” 2
                      “Algo está diferente”




                     “algo de novo está surgindo”


                                                    1Pio   de Abreu, J.L., 1994
                                                              2Jaspers, K.,1987
Vivências Delirantes
Primárias – Humor Delirante
           
Grau máximo da angústia psicótica
 “…há sempre algo de presente, embora totalmente impreciso...Esta
  disposição delirante geral, sem conteúdo determinado é
  insuportável. Os doentes sofrem horrivelmente; e encontrar uma
  ideia determinada já é um alívio. Nasce no doente uma sensação de
  falta de apoio e insegurança que o impele instintivamente a
  procurar um ponto firme…”

 “…uma ideia clara…ação tranquilizadora…embora a partir dela
  nasçam as convicções de perseguição ou juízos de exaltação e
  grandeza”


                                                         Jaspers, K.,1987
Vivências Delirantes
Primárias – Humor Delirante
           
 Trema (Conrad)
   aumento de tensão que precede a irrupção do surto
    esquizofrénico…é algo de “atormentador e incontrolável”. 1

 “O doente fica aprisionado no seu mundo que se torna
  caótico, estranho e incompreensível para ele mesmo.”2
                                               (Pio de Abreu)

 Desvio da Seta Intencional (Lopez-Ibor)
   “em vez de se dirigir do indivíduo para o mundo (conferindo-lhe
    significados), dirige-se do mundo para o indivíduo”. 2

                                                          1Conrad,  K., 1963
                                                       2Pio Abreu, J.L., 1994
Vivências Delirantes
 Primárias - Percepção Delirante
                                    
 “quando uma significação delirante é experimentada sem que haja
   qualquer    perturbação       sensorial   estamos   perante     percepções
   delirantes…vão desde vivências de significação imprecisa, até claros delírios
   de observação e autoreferência” (Jaspers)

 Na vivência de significação imprecisa, os objetos e as pessoas significam
  algo de diferente mas não definido: “…chamam a atenção do doente as
   fisionomias transfiguradas,   a beleza dominadora do sol…deve estar a
   acontecer alguma coisa…”

 Na vivência de observação determinados fenómenos do mundo passam
  a chamar a atenção: uma flor caída, um cordão de sapato, uma palavra
   pronunciada por alguém, uma parede amarela rachada, etc.

 Na vivência de auto-referência, as significações são delimitadas e
  referidas ao doente: um olhar, uma palavra, o miado de um gato.
                                                                      Jaspers, K. ,1987
Vivências Delirantes
 Primárias - Percepção Delirante
                                
Kurt Schneider:
 “é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”
 “...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;
 Inexistência de um motivo compreensível que a origine;
 Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;
 Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz
  Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;
 A “estranheza” é “sempre dupla”;
 Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto
  percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.
 Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia


                                                             Schneider, K.,1968
Vivências Delirantes
 Primárias - Percepção Delirante
                               
Kurt Schneider:
 “é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”
  “...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;
  Inexistência de um motivo compreensível que a origine;
  Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;
  Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz
   Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;
 “Quando percebi que chamavam três vezes às 12 horas em ponto no
 A “estranheza” é “sempre dupla”;
 andar inferior e que um Volkswagen vermelho passava rápido pela
 Estrutura de dois terrível e compreendi que se havia decidido o
 rua, senti um medo membros: o que vai do indivíduo ao objeto
 destino da Europa”que vai do objeto percebido à significação anormal.
   percebido; e outro 2
 Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia


                                                          Schneider, K.,1968
Vivências Delirantes
Primárias - Representação Delirante
                                  
  “surgem sob a forma de novas significações das recordações
   da vida ou na forma de ocorrência repentinas”.

  Exemplo 1: “O doente afirma «Eu sou filho do Rei Luís o que é
   confirmado pela recordação de como o imperador, ao passar a cavalo
   na parada, há alguns anos, olhou calorosamente para ele.”

  Exemplo 2: “Numa das noites tornou-se evidente para mim, de repente
   e de modo muito natural que a Sra. L. é a causa provável destas coisas
   simplesmente terríveis que nos últimos anos tive que sofrer (influência
   telepática entre outras)…tudo se me impôs de modo repentino e de todo
   inesperado.”



                                                                   Jaspers, K. ,1987
Vivências Delirantes
 Primárias – Cognição Delirante
                            
 Vivência que surge intuitivamente, de modo imediato,
  sem qualquer vinculação com dados perceptivos do
  mundo.

 Exemplo:“Uma jovem ao abrir casualmente a Bíblia, lê o
  episódio da ressureição de Lázaro. De imediato sente-se como
  Maria. Marta é a sua irmã e Lázaro o primo doente. Ela
  experiencía o acontecimento que lê, como uma vivência
  própria.”




                                                     Paim, I. ,1993b
Modalidades de Delírio de K.
Schneider - Ocorrência Delirante
                                 
 Engloba a representação delirante e cognição delirante
  descritas por Jaspers. 1

 Fenomenologicamente indistinguível do aparecimento súbito
  de uma ideia normal.

 Estado único: “trata-se de um fenómeno que une diretamente o
   indivíduo à ocorrência, não havendo o segundo membro da
   percepção delirante que vai do objeto percebido à significação
   anormal.”2

 Auto-referencial“significação especial.”1,2

 “…menor importância para o diagnóstico de Esquizofrenia.” 1,2
                                                                           1Paim,I, 1993b
                                                                    2   Schneider K.,1968
Modalidades de Delírio de
K. Schneider– Reação Deliróide
                               
 “…constituem-se sempre sobre a base afetiva, a partir de uma
  distimia, da angústia expectante, da desconfiança.”1

 Ideias/Reações Deliróides vs Ideias Delirantes Secundárias 2
                      Ideias/Reações            Ideias Delirantes
                        Deliróides                Secundárias
                    - Estado de Humor
Origem            - Personalidade anormal      Vivência patológica
                    - Situação de stress
                     - Influenciáveis          ≈ Delírios Primários
Características       - Corrigíveis            (Ininfluenciabilidade,
                    - Fraca convicção       Incorrigibilidade, Convicção
                          subjetiva                  Subjetiva)
                                                               1   Schneider, K.,1968
                                                                       2 Goas C.,1960
Nosologia
               
Os Delírios na Escola Psiquiátrica
             Alemã
Processo,
 Desenvolvimento, Reação
                              
 Processo
     Tipicamente esquizofrénico
     “algo inteiramente novo” (Jaspers)
     Alteração da estrutura do Eu
     Ruptura da unidade histórico-significativa
     Incompreensível genéticamente
     Vivências primárias, inderiváveis e irredutíveis
     Deterioração da personalidade




                                                    Paim, I. ,1993a
Processo,
  Desenvolvimento, Reação
                                    
Desenvolvimento
 3 premissas:
    Personalidade Prévia característica
    “possibilidades implícitas” de base biológica (Lopez Ibor)
    Circunstância ou acontecimento vital mobilizador
 Distinto do Processo:
    Compreensível geneticamente
    Sem deterioração da personalidade

Reação
    Vivência anormal (Intensidade e duração desproporcionadas)
    Determinantes:
        Predisposição pessoal
        Factores externos desencadeantes                         Paim, I. ,1993a
Delírios Processuais
Delírio Esquizofrénico Paranóide
                                
   Primário e processual       geneticamente incompreensível
   Início em idades jovens
   Elaboração a partir de uma vivência delirante primária
   Mal sistematizado
   Mecanismo variado (interpretativo, alucinatório, intuitivo, etc.)
   Conteúdos polimórficos, bizarros e ilógicos
   Evolução com grave deterioração da personalidade
   Marcada avolição e indiferença afetiva
   Contraste entre a intensidade das alucinações auditivo-verbais
    e conteúdos delirantes e a escassa ressonância afectiva do
    doente
Delírios Processuais
             Delírios Parafrénicos
                                 
   Kraepelin, 1913
   Forma intermédia entre a Paranóia e a Demência Precoce
   Início tardio (>30 anos)
   Primário, crónico e mal sistematizado
   Conteúdo polimórfico
     3 temas: perseguição, erostismo, megalomania
   Menos incoerente que o delírio esquizofrénico
   Síndrome alucinatório de base imaginativa
   “Diplopía da existência“(H. Ey).
   Deterioração sui generis (<Delírio Esquizofrénico)
     afeta mais a consistência das ideais delirantes que as capacidades
      afetivas e volitivas do indivíduo
                                                          Kraepelin, E. ,2005
Delírios Processuais
             Delírios Parafrénicos
                                   
Quatro formas clínicas (cf. Kraepelin):
 Sistemática
    Delírio persecutório progressivo e megalómano mais tarde.
    Alucinações auditivo-verbais (++), cenestésicas e
     pseudoalucinações
    Comportamento congruente com o conteúdo delirante
        hostil e ameaçador (perseguido); irónico e altivo (megalómano)
        < suspeição e desconfiança que o paranóico perseguido

 Expansiva
      Sexo Feminino (75%)
      Ideias megalómanas de tonalidade erótica (++) e místicas
      Alucinações táteis, visuais e cenestésicas (ativam o delírio erótico)
      Humor expansivo ou irritável
      Altivos, com tendência à insolência e as explosões coléricas
                                                             Kraepelin, E. ,2005
Delírios Processuais
             Delírios Parafrénicos
                                    
 Confabulatória
      Rara
      Temática delirante semelhante
      Ausência de alucinações e pseudoalucinações
      Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos
       reconhecimentos)

 Fantástica
    Conteúdo delirante extravagante
        delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)
    Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes
    Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.
    Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da
     personalidade
                                                                  Kraepelin, E. ,2005
Delírios Processuais
                Delírios Parafrénicos
                                      
   Confabulatória
"são oRara
          prolongamento de um movimento                               psicótico
      Temática delirante semelhante
interrompido" de alucinações e pseudoalucinações
      Ausência
                                                               Henry
       Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos             Ey
        reconhecimentos)
“O tempo dirá se são formas atenuadas de Esquizofrenia ou
   Fantástica
algo diferente dela”
      Conteúdo delirante extravagante
                                                                     E.Bleuler
          delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)
       Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes
       Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.
       Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da
        personalidade
                                                                  Kraepelin, E. ,2005
Delírios Não-Processuais
     Desenvolvimento Paranóide
                              
 Segundo Kraepelin, a Paranóia (DesenvolvimentoParanóide) é:


    Delírio crónico, de início insidioso, bem sistematizado

    Endógeno (≠ psicoses psicogénicas reativas)

    Sem deterioração da personalidade (≠ delírio esquizofrénico e
      parafrénico)




                                                    Kraepelin, E. ,2007
Delírios Não-Processuais
     Desenvolvimento Paranóide
 Personalidade Prévia
                                   
    Personalidade paranóide (enfoque paranóide da vida)
         Desconfiança e suspeita permanente
         Rigidez psíquica
         Egocentrismo
         Autoreferência
         Hostilidade
         Escassa autocrítica
    “inseguras de si mesmas”na sua forma sensitiva "com capacidade de
     impressão aumentada para todas as vivências.” ( Schneider)
    “necessitadas de estima” (Schneider) ou de “carácter histérico” (Kock)
 Circunstância ou acontecimento vital transcendente
    capaz de mobilizar as características anómalas da personalidade
    que sobrevalorize uma ideia para constitui o ponto de partida do delírio
                                                                           Goas, C., 1966
Delírios Não-Processuais
    Desenvolvimento Paranóide
                                    
 Características fundamentais:
      Delírio crónico
      Início insidioso e progressivo (40 anos)
      Mecanismo interpretativo
      Temática persecutória (++)
      Sem alucinações ou pseudoalucinações
      Bem sistematizado
      Ideias sobrevalorizadas como base
      Atividade delirante de intensidade variável
      Preservação das capacidades afetivo-volitivas “ao serviço do
       delírio”
        Acentua a convicção subjetiva, ininfluenciabilidade e incorrigibilidade
    Caráter racional e verosímil
    Extensão em continuidade a múltiplos domínios
    Grande influência do fator afetivo: “muito mais uma sinfonia que um
     verdadeiro teorema” (H. Ey)
                                                                         Goas, C., 1966
Delírios Não-Processuais
              Reação Paranóide
                          
 Resposta do tipo delirante determinada por:
    Predisposição da personalidade prévia (paranóide)
    Circunstâncias vitais desencadeantes

 Descrição semiológica:
    Delírio sistematizado e estável
    Mecanismo interpretativo (outros mecanismos secundários)
    Temática uniforme, lógica, verossímil
       Em relação com a personalidade prévia e fatores desencadeantes
    Sem desagregação ou destruturação do Eu
    Transitória (determinada pela presença do fator desencadeante)
    Evolução com remissão total e sem deterioração
                                                                  Goas, C., 1966
Delírios Não-Processuais
             Reação Paranóide
                              
 Prognóstico
   Reversível e transitória através de:
      Terapêutica;
      Extinção da situação
      Mudanças favoráveis nos fatores externos
   Evolução para Desenvolvimento Delirante Paranóide
   Bom prognóstico se:
        Início agudo
        Individualização dos factores desencadeantes
        < 30 anos
        Sexo feminino
        Duração < 6 meses antes de início da hospitalização


                                                               Goas, C., 1966
Delírios Não-Processuais
              Reação Paranóide
                                 
     Reação Paranóide                 Autênticas Psicoses de Situação

  Vivência única e aguda             Vivência contínua, prolongada
  Paranóia Abortiva (Gaupp)          Por Ação do Meio : Delírios
  Paranóia Psicogénica (Kraepelin,    induzidos ou partilhados - Folie à
   Lange, Lacan)                       Deux da Escola Francesa
  Paranóia Atenuada (Friedmann)            Psicose Imposta
  Delírio Sensitivo de Autoreferência      Psicose Simultânea
   (Kretschmer)                             Psicose Comunicada
  Delírio Querelante Recidivante
                                          Por Isolamento do Meio
   (Racke)
                                            Físico (e.g. Reclusos)
                                            Sensorial (e.g. Cegos, Surdos)
                                            Linguístico (e.g. Emigrantes)

                                                                  Vidal, D.A.,1997
Delírios Não-Processuais
Delírio Sensitivo-Paranóide de Kretschmer
                                    
   Reação delirante sobre uma personalidade sensitiva
    (asténicos, tímidos,inseguros, hipersensíveis, escrupulosos)
      São habituais as autorecriminações ético-morais a respeito do seu
       comportamento, com sentimentos de culpa e vergonha - delírio
       de " jovens masturbadores " e “velhas solteironas“;
   3 formas de expressão:
      Reação Paranóide
         Casos “puros” com bom prognóstico
      Desenvolvimento Paranóide
         Organiza-se a partir da personalidade de traços sensitivo-paranóides;
         Casos + graves
      Desencadeante de Processo Esquizofrénico
         Psicose reativa que “cristaliza” com deterioração
                                                                   Vidal, D.A.,1997
Nosologia
               
Os Delírios na Escola Psiquiátrica
            Francesa
Delírios Agudos
                 
 Alucinatórios
   “Bouffée” delirante (≈Holodisfrenias de Barahona Fernandes)
      Protótipo dos delírios agudos alucinatórios
      Início súbito (em baforada) e evolução curta
      Alucinações auditivo-verbais e visuais
      Ideias delirantes persecutórias, megalómanas, eróticas ou
       místicas, não estruturadas
      Remissão completa (raramente evolução crónica)

 Não Alucinatórios
   Exclusivos da Escola Francesa
   Delírio Imaginativo Agudo e Delírio Interpretativo Agudo

                                                        Goas, C.,1966
Delírios Crónicos
                  
 Lasègue (1852) – Delírio Sistemático de Perseguição

 Tentativas de classificação clínica:
   Tema do delírio
        e.g. Delírio de grandeza de Foville e de perseguição de Falret)
    Mecanismo
        e.g. delírios de interpretação de Serieux e Capgras,
         imaginativos de Dupré, de amor de Clerambault, etc.
    Característica Formais e Evolutivas
        Delírios Sistemáticos


                                                            Vidal, D.A.,1997
Delírios Crónicos
                 
 Alucinatórios
   e.g. Delírio Crónico de Evolução Sistemática de Magnan
    (≈Parafrenias Sistemática e Fantástica)
 Não Alucinatórios
   Delírio de interpretação (Serieux e Capgras)
        Desenvolvimento em teia de aranha
        Interpretações delirantes
        Ausência de alucinações
        Organização sistematizada com persistência do raciocínio
        Incurável mas sem evolução demencial


                                                           Ey, H., 1950
Delírios Crónicos
                
 Não Alucinatórios
   Delírio de Reivindicação (Serieux e Capgras)
      Coexistência de “ideia prevalente” (política, social, erótica,
       cíume, etc.) com “estado passional”
      Fanáticos, reciosos, rancorosos, vingativos
      Desenvolvimento em cunha e intensidade máxima ad initium
        Delírio do Reivindicador egocêntrico
             e.g. Querelantes, Persecutórios, Hipocondríacos,
              Erotomaníacos, etc.
          Delírio do Reivindicador altruísta
             e.g. Inventores, “Reformadores sociais”, Autodidatas, profetas

   Delírio de Imaginação (Dupré e Logre)
                                                                  Ey, H., 1950
Delírios Crónicos
                
 Os Delírios Passionais (Gaetan de Clerambault)
   Clerambault descreve magistralmente a Erotomania, o mais
    importante dos seus “delírios passionais”

   Delírio platónico e reivindicativo… “convicção de ser amado por
    alguém que não o conhece ou o ignora (geralmente uma pessoa
    importante).

   Desenvolve-se em fases:
        Esperança: qualquer ato acentua a convicção delirante
          de ser amado
        Despeito: resultado de rejeição repetida
        Ódio e rancor: ameças e agressões
                                                          Ey, H., 1950
Nosologia
               
Os Delírios na Psiquiatria Norte-
           Americana
Delírios na Psiquiatria
     Norte-Americana
             
 Papel secundário da Psicopatologia Descritiva

 Influência da Psicanálise e desvalorização da descrição
  semiológica

 As classificações DSM-II (1968) e DSM-III (1980)
    Releva o tipo de personalidade e síndromes clínicas
    Esquizofrenia e “Estados Paranóides” como "entidades", estimulando
     a multiplicidade de diagnósticos de um mesmo caso.

 A revisão do DSM-III (1987)
    nova designação de "Perturbações Delirantes";
    o termo "paranóide" abandonado por ser inerentemente ambíguo e
     pressupor conteúdos persecutórios no delírio.
                                                          Vidal, D.A.,1997
Delírios na Psiquiatria
     Norte-Americana
             
 Na classificação norteamericana actual DSM-IV-TR (2000), os
  quadros delirantes aparecem rígidamente codificados,
  separados da Esquizofrenia e das Pertubações do Humor,
  compreendendo:

    Perturbação Delirante [F22.0],
    Perturbação Psicótica Breve [F23],
     Perturbação Psicótica Partilhada (folie à deux) [F24].
    Transtorno Psicótico devido a Doença Médica, com ideias delirantes
     (F06.2)
    Transtorno Psicótico Induzido por Substâncias scom ideias Delirantes
    Transtorno Psicótico não-especificado (F29)
Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
                                 
  Na classificação americana, o conceito da Perturbação Delirante é
   semelhante à definição de Paranóia de Emile Kraepelin

  Os critérios da DSM-IV-TR para a Perturbação Delirante são:1
     A. Ideias delirantes não bizarras
     B. O critério A para Esquizofrenia nunca foi preenchido.
     C. O funcionamento não está marcadamente alterado
     D. Se ocorreram episódios do humor simultaneamente com as
      ideias delirantes, a sua duração total foi relativamente breve
     E. A perturbação não é devida aos efeitos fisiológicos directos de
      uma substância ou a um estado físico geral.

     Tipos: Persecutório, Ciúme, Erotomaníaco, Somático,
      Grandiosidade, Misto, Não Especificado
                                               1American   Psychiatric Association,2002
Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
                             
 O Diagnóstico Diferencial deve ser feito com:
      Esquizofrenia paranóide e Perturbação Esquizofreniforme.
      Perturbações do Humor com Sintomas Psicóticos.
      Perturbação Paranóide da Personalidade
      Delirios Orgânicos
      Perturbação Psicótica Breve [F23.8X]




                                         American Psychiatric Association,2002
Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
                            
Curso e Evolução:
 Em concordância com os conceitos primitivos de Kraepelin, a
  maioría dos estudos de seguimento sugerem que a Perturbação
  Delirante tem estabilidade diagnóstica ao longo do tempo.

 Outro autores afirmarm que cerca de um quarto dos doentes
  com o diagnóstico de Perturbação Delirante tinham
  desenvolvido uma esquizofrenia, confirmando as ideias
  primitivas de Bleuler a respeito do tema da Paranóia.



                                                  Vidal, D.A.,1997
Delírios na Psiquiatria Norte-
Americana – Perturbação Delirante
                                   
Tratamento:
 Áliança terapêutica é fundamental dada a ausência de consciência
  mórbida, nunca desafiando o delírio do doente, mas evitando o seu
  reforço.

 A hospitalização, quando necessária, quase sempre é involuntária

 Os antipsicóticos têm mostrado eficácia relativa
    antipsicóticos convencionais e atípicos


 A psicoterapia do orientação cognitiva mostrou-se eficaz a
    reduzir a preocupação por falsas crenças,
    diminuir o isolamento social provocado pelos delírios
    reorientá-lo para a realidade.
Bibliografia
                               
   American Psychiatric Association (2002).DSM-IV-TR -Manual de Diagnóstico e Estatística das
    Perturbações Mentais, (4ª ed.).Lisboa: Climepsi Editores.

   Bastos, O. (1986). Curso Sobre Delírios. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 35(1)

   Bhugra, D. & Munro, A., et al. (1997). Troublesome Disguises – Underdiagnosed Psychiatric
    Syndromes. Oxford: Blackwell Science

   Conrad, K. (1963). La Esquizofrenia Incipiente: Intento de un Análisis de la Forma del Delírio.
    Madrid: Ed. Alhambra

   Ey, H. (1950). Estudo Sobre os Delirios. Madrid: Editora Paz Montalvo

   Goas, C. (1966). Temas Psiquiátricos. Madrid: Editora Paz Montalvo

   Jaspers, K. (1987) Psicopatologia Geral, Vol.1. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu.
Bibliografia
                               
   Kraepelin, E. (2005). Obras de Kraepelin: A Demência Precoce (2º Parte) e Parafrenias.
    Lisboa:Climepsi Editores.
   Kraepelin, E. (2007). Obras de Kraepelin: Lições Clínicas sobre a Demência Precoce, a Loucura
    Maníaco-Depressiva e a paranóia – IV Volume. Lisboa:Climepsi Editores.
   Paim, I. (1993a). Curso de Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária
   Paim, I. (1993b). História da Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária
   Pio de Abreu, J.L. (1994). Introdução à Psicopatologia Compreensiva,(2ª ed.). Lisboa: Fundação
    Calouste Gulbenkian
   Schneider, K. (1968). Psicopatologia Clínica. São Paulo: Editora Mestre Jou
   Vidal, D.A. (1997). Delírios. Alcmeón - Revista Argentina de Clínica Neuropsiquiátrica.6(3)

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Análise fenomenológica das vivências delirantes primárias

  • 1.
  • 2. Introdução Sumário  Conceito de Delírio  Etimologia  História  Abordagem Fenomenológica  O Delírio através da Fenomenologia  Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário  Delírio e Deliróide  Vivências Delirantes Primárias  Humor Delirante  Percepção Delirante  Representação Delirante  Cognição Delirante  Modalidades de Delírio segundo Kurt Schneider  Ocorrência Delirante  Reação Deliróide  Nosologia  Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã  Processo, Desenvolvimento e Reação  Delírios Processuais  Delírios Não Processuais  Os Delírio na Escola Psiquiátrica Francesa  Delírios Agudos  Delírios Crónicos  Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana  Perturbação Delirante  Diagnóstico Diferencial  Curso e Evolução  Tratamento
  • 3. Introdução   O tema delírio, out of fashion, démodé ?  O delírio “constitui o tema central da Psicopatologia” (Ey, H.,1950)  O delírio é o ponto máximo de concretização do pensamento psicótico
  • 4. Conceito de Delírio Etimologia   Delusion (inglês) – deriva de delude, este do latim deludere = enganar ou iludir  Whan (alemão) – capricho, opinião falsa, imaginação  Delírar (português) e Délire (francês)  Do latim delirare - sair da norma, “lavrar fora do sulco” (de + lira [sulco]=fora do sulco)  Aplicado ao pensamento humano seria… pensar fora do sulco da realidade  O delirante é o homem que delira…que sofre de doença mental Bastos, O. ,1986
  • 5. Conceito de Delírio História   Guiraud  Delírio (sintomas produtivos) vs Demência (sintomas negativos)  Oswald Bunke  Delírio como “erro originado morbidamente e incorrigível”.  Kraepelin  “ideias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção através da argumentação” Bastos, O. ,1986
  • 6. Conceito de Delírio História   Bleuler  “Ideias delirantes são representações falsas, que não derivam de uma insuficiência casual da lógica, mas de uma necessidade ou tendência interior (tendência delirante de Kraepelin)…as necessidades são sempre afetivas”.  H. Delgado Espinosa  “alterações primárias do juízo, isto é, que não podem ser deduzidas de outras experiências, nem racionais, nem emocionais. São juízos infundados que ocorrem ao indivíduo, o qual os vivencía como verdades incontestáveis e retira delas consequências, como um juízo fundamentado. Por isso, os doentes delirantes são capazes de discorrer com uma lógica intocável, porém em consonância com a falsidade que lhe serve de ponto de partida” Bastos, O. ,1986
  • 7. Conceito de Delírio História   Karl Jaspers  “Delírio de Ciúme, Contribuição à Questão - Desenvolvimento de uma Personalidade ou Processo?” (1910)  “Psicopatologia Geral” (1913)  Bases definitivas da fenomenologia do delírio  Questão da compreensibilidade vs incompreensibilidade  Delírio enquanto “Vivência Delirante”  Delírio: perturbação da consciência de realidade e dos juízos  Kurt Schneider Querela de Heidelberg  “Psicopatologia Clínica” (1948)  Delírio: perturbação do conteúdo do pensamento
  • 8. Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica   “Uma transformação na vasta consciência de realidade”  “...que se manifesta secundariamente em juízos de realidade“  Vivências delirantes como “juízos patologicamente falseados”  Delírio vs erros e crenças  “...onde a corporeidade alucinatória somente tem papel transitório, não-suficiente...”  Delírio vs Delirium  “...comparativamente à modificação de experiências básicas“  É da alteração da consciência de realidade que resulta o delírio Jaspers, K. ,1987
  • 9. Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica  Para Karl Jaspers, as ideias delirantes são “todos os juízos patologicamente falsos” que possuem as seguintes características externas: a) Certeza: “convicção extraordinária” e “certeza subjetiva incomparável”com a qual são mantidos b) Incorrigibilidade: “não influenciáveis pela experiência ou refutações lógicas” c) «Impossibilidade do conteúdo» Jaspers, K. ,1913
  • 10. Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica  Críticas à definição de Jaspers:  Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos, superstições..)  Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva  Podem ser receptivas à contra-argumentação  Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» (e.g.: Delírio de Cíume) Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre coeu, pour n’étre point malade! De Clerambault Bastos, O. ,1986
  • 11. Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica  Críticas à definição de Jaspers:  Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos, superstições..) “…sei que sou traído, porque sempre que eu entro em casa, o cuco está nãodar 5 convicção extraordinária e certeza subjetiva do  Poderá a haver horas...Era a hora a que ele voltava trabalho, e sendo o cuco um ladrão de ninhos, ele julgava ser atraiçoadoser receptivas àecontra-argumentação a prova delirante  Podem pela mulher, o canto do cuco era apresentada…”  Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» Henry Ey (e.g.: Delírio de Cíume) Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre coeu, pour n’étre point malade! De Clerambault Bastos, O. ,1986
  • 12. Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica Goas Caballero  Fenómeno primário  Imcompreensibilidade genética  “surge sem motivo ou causa” (Lopez Ibor)  Perda de juízo da realidade  Conteúdo quase sempre impossível e irreal  Núcleo de toda a existência  Ruptura com a realidade  Expressão de uma profunda alteração da personalidade  “uma inversão das relações da realidade do Eu com o Mundo…alienação da pessoa” (H. Ey) Goas, C., 1966
  • 13. O Delírio através da Fenomenologia 
  • 14. Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário  Incompreensibilidade Estática e Genética Primário Compreensibilidade Genética Estática Secundário
  • 15. Delírio e Deliróide  distinguir-se duas grandes “Quanto à origem do delírio devem classes:”  “Autênticas Ideias Delirantes” (Wahnideen)  Fenómeno primário e incompreensível  “…não são susceptíveis de serem seguidos psicologicamente, e do ponto de vista fenomenológico são algo de último e derradeiro…”  “Ideias deliróides” (Wahnhafteideen)  “são as que surgem compreensivelmente de outros processos psíquicos, que podem ser seguidas psicologicamente a partir das emoções, dos instintos, dos desejos e medos; não implicam nenhuma transformação da personalidade, antes são compreensíveis pela disposição permanente da personalidade ou estado de ânimo transitório.” Jaspers, K.,1987
  • 16. Vivências Delirantes Primárias   “As tentativas de compreender as vivências delirantes primárias serão sempre infrutíferas (…) sobra sempre um resto enorme de algo incompreensível, inapreensível e imperceptível”  Consciência de realidade como uma consciência de significação  O significado surge da consciência que está em relação com o objeto  Na "experiência básica modificada" da vivência delirante, a consciência de significação experimenta uma transformação radical Jaspers, K.,1987
  • 17. Vivências Delirantes Primárias   “os doentes sentem algo de estranho, há alguma coisa que pressentem. Tudo tem nova significação. O ambiente está diferente…é uma modificação subtil, que tudo tinge e envolve numa luminosidade estranha e incerta. Uma atmosfera indefinível domina…Há algo no ar…uma tensão suspeita, desagradável, estranha(…)” Humor Delirante Jaspers, K.,1987
  • 18. Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante   Os doentes referem-se a um segundo sentido das mensagens ou atitudes dos outros – vivências de “posto”.1  “…são assaltados por pressentimentos e obscuras suspeitas…Nada mais é como dantes, é algo de dramático, mas não ainda conhecido, que está por acontecer…” 2 “Algo está diferente” “algo de novo está surgindo” 1Pio de Abreu, J.L., 1994 2Jaspers, K.,1987
  • 19. Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante  Grau máximo da angústia psicótica  “…há sempre algo de presente, embora totalmente impreciso...Esta disposição delirante geral, sem conteúdo determinado é insuportável. Os doentes sofrem horrivelmente; e encontrar uma ideia determinada já é um alívio. Nasce no doente uma sensação de falta de apoio e insegurança que o impele instintivamente a procurar um ponto firme…”  “…uma ideia clara…ação tranquilizadora…embora a partir dela nasçam as convicções de perseguição ou juízos de exaltação e grandeza” Jaspers, K.,1987
  • 20. Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante   Trema (Conrad)  aumento de tensão que precede a irrupção do surto esquizofrénico…é algo de “atormentador e incontrolável”. 1  “O doente fica aprisionado no seu mundo que se torna caótico, estranho e incompreensível para ele mesmo.”2 (Pio de Abreu)  Desvio da Seta Intencional (Lopez-Ibor)  “em vez de se dirigir do indivíduo para o mundo (conferindo-lhe significados), dirige-se do mundo para o indivíduo”. 2 1Conrad, K., 1963 2Pio Abreu, J.L., 1994
  • 21. Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante   “quando uma significação delirante é experimentada sem que haja qualquer perturbação sensorial estamos perante percepções delirantes…vão desde vivências de significação imprecisa, até claros delírios de observação e autoreferência” (Jaspers)  Na vivência de significação imprecisa, os objetos e as pessoas significam algo de diferente mas não definido: “…chamam a atenção do doente as fisionomias transfiguradas, a beleza dominadora do sol…deve estar a acontecer alguma coisa…”  Na vivência de observação determinados fenómenos do mundo passam a chamar a atenção: uma flor caída, um cordão de sapato, uma palavra pronunciada por alguém, uma parede amarela rachada, etc.  Na vivência de auto-referência, as significações são delimitadas e referidas ao doente: um olhar, uma palavra, o miado de um gato. Jaspers, K. ,1987
  • 22. Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante  Kurt Schneider:  “é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”  “...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;  Inexistência de um motivo compreensível que a origine;  Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;  Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;  A “estranheza” é “sempre dupla”;  Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.  Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia Schneider, K.,1968
  • 23. Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante  Kurt Schneider:  “é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”  “...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;  Inexistência de um motivo compreensível que a origine;  Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;  Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”; “Quando percebi que chamavam três vezes às 12 horas em ponto no  A “estranheza” é “sempre dupla”; andar inferior e que um Volkswagen vermelho passava rápido pela  Estrutura de dois terrível e compreendi que se havia decidido o rua, senti um medo membros: o que vai do indivíduo ao objeto destino da Europa”que vai do objeto percebido à significação anormal. percebido; e outro 2  Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia Schneider, K.,1968
  • 24. Vivências Delirantes Primárias - Representação Delirante   “surgem sob a forma de novas significações das recordações da vida ou na forma de ocorrência repentinas”.  Exemplo 1: “O doente afirma «Eu sou filho do Rei Luís o que é confirmado pela recordação de como o imperador, ao passar a cavalo na parada, há alguns anos, olhou calorosamente para ele.”  Exemplo 2: “Numa das noites tornou-se evidente para mim, de repente e de modo muito natural que a Sra. L. é a causa provável destas coisas simplesmente terríveis que nos últimos anos tive que sofrer (influência telepática entre outras)…tudo se me impôs de modo repentino e de todo inesperado.” Jaspers, K. ,1987
  • 25. Vivências Delirantes Primárias – Cognição Delirante   Vivência que surge intuitivamente, de modo imediato, sem qualquer vinculação com dados perceptivos do mundo.  Exemplo:“Uma jovem ao abrir casualmente a Bíblia, lê o episódio da ressureição de Lázaro. De imediato sente-se como Maria. Marta é a sua irmã e Lázaro o primo doente. Ela experiencía o acontecimento que lê, como uma vivência própria.” Paim, I. ,1993b
  • 26. Modalidades de Delírio de K. Schneider - Ocorrência Delirante   Engloba a representação delirante e cognição delirante descritas por Jaspers. 1  Fenomenologicamente indistinguível do aparecimento súbito de uma ideia normal.  Estado único: “trata-se de um fenómeno que une diretamente o indivíduo à ocorrência, não havendo o segundo membro da percepção delirante que vai do objeto percebido à significação anormal.”2  Auto-referencial“significação especial.”1,2  “…menor importância para o diagnóstico de Esquizofrenia.” 1,2 1Paim,I, 1993b 2 Schneider K.,1968
  • 27. Modalidades de Delírio de K. Schneider– Reação Deliróide   “…constituem-se sempre sobre a base afetiva, a partir de uma distimia, da angústia expectante, da desconfiança.”1  Ideias/Reações Deliróides vs Ideias Delirantes Secundárias 2 Ideias/Reações Ideias Delirantes Deliróides Secundárias - Estado de Humor Origem - Personalidade anormal Vivência patológica - Situação de stress - Influenciáveis ≈ Delírios Primários Características - Corrigíveis (Ininfluenciabilidade, - Fraca convicção Incorrigibilidade, Convicção subjetiva Subjetiva) 1 Schneider, K.,1968 2 Goas C.,1960
  • 28. Nosologia  Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã
  • 29. Processo, Desenvolvimento, Reação   Processo  Tipicamente esquizofrénico  “algo inteiramente novo” (Jaspers)  Alteração da estrutura do Eu  Ruptura da unidade histórico-significativa  Incompreensível genéticamente  Vivências primárias, inderiváveis e irredutíveis  Deterioração da personalidade Paim, I. ,1993a
  • 30. Processo, Desenvolvimento, Reação  Desenvolvimento  3 premissas:  Personalidade Prévia característica  “possibilidades implícitas” de base biológica (Lopez Ibor)  Circunstância ou acontecimento vital mobilizador  Distinto do Processo:  Compreensível geneticamente  Sem deterioração da personalidade Reação  Vivência anormal (Intensidade e duração desproporcionadas)  Determinantes:  Predisposição pessoal  Factores externos desencadeantes Paim, I. ,1993a
  • 31. Delírios Processuais Delírio Esquizofrénico Paranóide   Primário e processual geneticamente incompreensível  Início em idades jovens  Elaboração a partir de uma vivência delirante primária  Mal sistematizado  Mecanismo variado (interpretativo, alucinatório, intuitivo, etc.)  Conteúdos polimórficos, bizarros e ilógicos  Evolução com grave deterioração da personalidade  Marcada avolição e indiferença afetiva  Contraste entre a intensidade das alucinações auditivo-verbais e conteúdos delirantes e a escassa ressonância afectiva do doente
  • 32. Delírios Processuais Delírios Parafrénicos   Kraepelin, 1913  Forma intermédia entre a Paranóia e a Demência Precoce  Início tardio (>30 anos)  Primário, crónico e mal sistematizado  Conteúdo polimórfico  3 temas: perseguição, erostismo, megalomania  Menos incoerente que o delírio esquizofrénico  Síndrome alucinatório de base imaginativa  “Diplopía da existência“(H. Ey).  Deterioração sui generis (<Delírio Esquizofrénico)  afeta mais a consistência das ideais delirantes que as capacidades afetivas e volitivas do indivíduo Kraepelin, E. ,2005
  • 33. Delírios Processuais Delírios Parafrénicos  Quatro formas clínicas (cf. Kraepelin):  Sistemática  Delírio persecutório progressivo e megalómano mais tarde.  Alucinações auditivo-verbais (++), cenestésicas e pseudoalucinações  Comportamento congruente com o conteúdo delirante  hostil e ameaçador (perseguido); irónico e altivo (megalómano)  < suspeição e desconfiança que o paranóico perseguido  Expansiva  Sexo Feminino (75%)  Ideias megalómanas de tonalidade erótica (++) e místicas  Alucinações táteis, visuais e cenestésicas (ativam o delírio erótico)  Humor expansivo ou irritável  Altivos, com tendência à insolência e as explosões coléricas Kraepelin, E. ,2005
  • 34. Delírios Processuais Delírios Parafrénicos   Confabulatória  Rara  Temática delirante semelhante  Ausência de alucinações e pseudoalucinações  Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos reconhecimentos)  Fantástica  Conteúdo delirante extravagante  delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)  Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes  Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.  Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da personalidade Kraepelin, E. ,2005
  • 35. Delírios Processuais Delírios Parafrénicos   Confabulatória "são oRara prolongamento de um movimento psicótico  Temática delirante semelhante interrompido" de alucinações e pseudoalucinações  Ausência Henry  Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos Ey reconhecimentos) “O tempo dirá se são formas atenuadas de Esquizofrenia ou  Fantástica algo diferente dela”  Conteúdo delirante extravagante E.Bleuler  delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)  Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes  Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.  Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da personalidade Kraepelin, E. ,2005
  • 36. Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide   Segundo Kraepelin, a Paranóia (DesenvolvimentoParanóide) é:  Delírio crónico, de início insidioso, bem sistematizado  Endógeno (≠ psicoses psicogénicas reativas)  Sem deterioração da personalidade (≠ delírio esquizofrénico e parafrénico) Kraepelin, E. ,2007
  • 37. Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide  Personalidade Prévia   Personalidade paranóide (enfoque paranóide da vida)  Desconfiança e suspeita permanente  Rigidez psíquica  Egocentrismo  Autoreferência  Hostilidade  Escassa autocrítica  “inseguras de si mesmas”na sua forma sensitiva "com capacidade de impressão aumentada para todas as vivências.” ( Schneider)  “necessitadas de estima” (Schneider) ou de “carácter histérico” (Kock)  Circunstância ou acontecimento vital transcendente  capaz de mobilizar as características anómalas da personalidade  que sobrevalorize uma ideia para constitui o ponto de partida do delírio Goas, C., 1966
  • 38. Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide   Características fundamentais:  Delírio crónico  Início insidioso e progressivo (40 anos)  Mecanismo interpretativo  Temática persecutória (++)  Sem alucinações ou pseudoalucinações  Bem sistematizado  Ideias sobrevalorizadas como base  Atividade delirante de intensidade variável  Preservação das capacidades afetivo-volitivas “ao serviço do delírio”  Acentua a convicção subjetiva, ininfluenciabilidade e incorrigibilidade  Caráter racional e verosímil  Extensão em continuidade a múltiplos domínios  Grande influência do fator afetivo: “muito mais uma sinfonia que um verdadeiro teorema” (H. Ey) Goas, C., 1966
  • 39. Delírios Não-Processuais Reação Paranóide   Resposta do tipo delirante determinada por:  Predisposição da personalidade prévia (paranóide)  Circunstâncias vitais desencadeantes  Descrição semiológica:  Delírio sistematizado e estável  Mecanismo interpretativo (outros mecanismos secundários)  Temática uniforme, lógica, verossímil  Em relação com a personalidade prévia e fatores desencadeantes  Sem desagregação ou destruturação do Eu  Transitória (determinada pela presença do fator desencadeante)  Evolução com remissão total e sem deterioração Goas, C., 1966
  • 40. Delírios Não-Processuais Reação Paranóide   Prognóstico  Reversível e transitória através de:  Terapêutica;  Extinção da situação  Mudanças favoráveis nos fatores externos  Evolução para Desenvolvimento Delirante Paranóide  Bom prognóstico se:  Início agudo  Individualização dos factores desencadeantes  < 30 anos  Sexo feminino  Duração < 6 meses antes de início da hospitalização Goas, C., 1966
  • 41. Delírios Não-Processuais Reação Paranóide  Reação Paranóide Autênticas Psicoses de Situação  Vivência única e aguda  Vivência contínua, prolongada  Paranóia Abortiva (Gaupp)  Por Ação do Meio : Delírios  Paranóia Psicogénica (Kraepelin, induzidos ou partilhados - Folie à Lange, Lacan) Deux da Escola Francesa  Paranóia Atenuada (Friedmann)  Psicose Imposta  Delírio Sensitivo de Autoreferência  Psicose Simultânea (Kretschmer)  Psicose Comunicada  Delírio Querelante Recidivante  Por Isolamento do Meio (Racke)  Físico (e.g. Reclusos)  Sensorial (e.g. Cegos, Surdos)  Linguístico (e.g. Emigrantes) Vidal, D.A.,1997
  • 42. Delírios Não-Processuais Delírio Sensitivo-Paranóide de Kretschmer   Reação delirante sobre uma personalidade sensitiva (asténicos, tímidos,inseguros, hipersensíveis, escrupulosos)  São habituais as autorecriminações ético-morais a respeito do seu comportamento, com sentimentos de culpa e vergonha - delírio de " jovens masturbadores " e “velhas solteironas“;  3 formas de expressão:  Reação Paranóide  Casos “puros” com bom prognóstico  Desenvolvimento Paranóide  Organiza-se a partir da personalidade de traços sensitivo-paranóides;  Casos + graves  Desencadeante de Processo Esquizofrénico  Psicose reativa que “cristaliza” com deterioração Vidal, D.A.,1997
  • 43. Nosologia  Os Delírios na Escola Psiquiátrica Francesa
  • 44. Delírios Agudos   Alucinatórios  “Bouffée” delirante (≈Holodisfrenias de Barahona Fernandes)  Protótipo dos delírios agudos alucinatórios  Início súbito (em baforada) e evolução curta  Alucinações auditivo-verbais e visuais  Ideias delirantes persecutórias, megalómanas, eróticas ou místicas, não estruturadas  Remissão completa (raramente evolução crónica)  Não Alucinatórios  Exclusivos da Escola Francesa  Delírio Imaginativo Agudo e Delírio Interpretativo Agudo Goas, C.,1966
  • 45. Delírios Crónicos   Lasègue (1852) – Delírio Sistemático de Perseguição  Tentativas de classificação clínica:  Tema do delírio  e.g. Delírio de grandeza de Foville e de perseguição de Falret)  Mecanismo  e.g. delírios de interpretação de Serieux e Capgras, imaginativos de Dupré, de amor de Clerambault, etc.  Característica Formais e Evolutivas  Delírios Sistemáticos Vidal, D.A.,1997
  • 46. Delírios Crónicos   Alucinatórios  e.g. Delírio Crónico de Evolução Sistemática de Magnan (≈Parafrenias Sistemática e Fantástica)  Não Alucinatórios  Delírio de interpretação (Serieux e Capgras)  Desenvolvimento em teia de aranha  Interpretações delirantes  Ausência de alucinações  Organização sistematizada com persistência do raciocínio  Incurável mas sem evolução demencial Ey, H., 1950
  • 47. Delírios Crónicos   Não Alucinatórios  Delírio de Reivindicação (Serieux e Capgras)  Coexistência de “ideia prevalente” (política, social, erótica, cíume, etc.) com “estado passional”  Fanáticos, reciosos, rancorosos, vingativos  Desenvolvimento em cunha e intensidade máxima ad initium  Delírio do Reivindicador egocêntrico  e.g. Querelantes, Persecutórios, Hipocondríacos, Erotomaníacos, etc.  Delírio do Reivindicador altruísta  e.g. Inventores, “Reformadores sociais”, Autodidatas, profetas  Delírio de Imaginação (Dupré e Logre) Ey, H., 1950
  • 48. Delírios Crónicos   Os Delírios Passionais (Gaetan de Clerambault)  Clerambault descreve magistralmente a Erotomania, o mais importante dos seus “delírios passionais”  Delírio platónico e reivindicativo… “convicção de ser amado por alguém que não o conhece ou o ignora (geralmente uma pessoa importante).  Desenvolve-se em fases:  Esperança: qualquer ato acentua a convicção delirante de ser amado  Despeito: resultado de rejeição repetida  Ódio e rancor: ameças e agressões Ey, H., 1950
  • 49. Nosologia  Os Delírios na Psiquiatria Norte- Americana
  • 50. Delírios na Psiquiatria Norte-Americana   Papel secundário da Psicopatologia Descritiva  Influência da Psicanálise e desvalorização da descrição semiológica  As classificações DSM-II (1968) e DSM-III (1980)  Releva o tipo de personalidade e síndromes clínicas  Esquizofrenia e “Estados Paranóides” como "entidades", estimulando a multiplicidade de diagnósticos de um mesmo caso.  A revisão do DSM-III (1987)  nova designação de "Perturbações Delirantes";  o termo "paranóide" abandonado por ser inerentemente ambíguo e pressupor conteúdos persecutórios no delírio. Vidal, D.A.,1997
  • 51. Delírios na Psiquiatria Norte-Americana   Na classificação norteamericana actual DSM-IV-TR (2000), os quadros delirantes aparecem rígidamente codificados, separados da Esquizofrenia e das Pertubações do Humor, compreendendo:  Perturbação Delirante [F22.0],  Perturbação Psicótica Breve [F23],  Perturbação Psicótica Partilhada (folie à deux) [F24].  Transtorno Psicótico devido a Doença Médica, com ideias delirantes (F06.2)  Transtorno Psicótico Induzido por Substâncias scom ideias Delirantes  Transtorno Psicótico não-especificado (F29)
  • 52. Delírios na Psiquiatria Norte- Americana – Perturbação Delirante   Na classificação americana, o conceito da Perturbação Delirante é semelhante à definição de Paranóia de Emile Kraepelin  Os critérios da DSM-IV-TR para a Perturbação Delirante são:1  A. Ideias delirantes não bizarras  B. O critério A para Esquizofrenia nunca foi preenchido.  C. O funcionamento não está marcadamente alterado  D. Se ocorreram episódios do humor simultaneamente com as ideias delirantes, a sua duração total foi relativamente breve  E. A perturbação não é devida aos efeitos fisiológicos directos de uma substância ou a um estado físico geral.  Tipos: Persecutório, Ciúme, Erotomaníaco, Somático, Grandiosidade, Misto, Não Especificado 1American Psychiatric Association,2002
  • 53. Delírios na Psiquiatria Norte- Americana – Perturbação Delirante  O Diagnóstico Diferencial deve ser feito com:  Esquizofrenia paranóide e Perturbação Esquizofreniforme.  Perturbações do Humor com Sintomas Psicóticos.  Perturbação Paranóide da Personalidade  Delirios Orgânicos  Perturbação Psicótica Breve [F23.8X] American Psychiatric Association,2002
  • 54. Delírios na Psiquiatria Norte- Americana – Perturbação Delirante  Curso e Evolução:  Em concordância com os conceitos primitivos de Kraepelin, a maioría dos estudos de seguimento sugerem que a Perturbação Delirante tem estabilidade diagnóstica ao longo do tempo.  Outro autores afirmarm que cerca de um quarto dos doentes com o diagnóstico de Perturbação Delirante tinham desenvolvido uma esquizofrenia, confirmando as ideias primitivas de Bleuler a respeito do tema da Paranóia. Vidal, D.A.,1997
  • 55. Delírios na Psiquiatria Norte- Americana – Perturbação Delirante  Tratamento:  Áliança terapêutica é fundamental dada a ausência de consciência mórbida, nunca desafiando o delírio do doente, mas evitando o seu reforço.  A hospitalização, quando necessária, quase sempre é involuntária  Os antipsicóticos têm mostrado eficácia relativa  antipsicóticos convencionais e atípicos  A psicoterapia do orientação cognitiva mostrou-se eficaz a  reduzir a preocupação por falsas crenças,  diminuir o isolamento social provocado pelos delírios  reorientá-lo para a realidade.
  • 56. Bibliografia   American Psychiatric Association (2002).DSM-IV-TR -Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, (4ª ed.).Lisboa: Climepsi Editores.  Bastos, O. (1986). Curso Sobre Delírios. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 35(1)  Bhugra, D. & Munro, A., et al. (1997). Troublesome Disguises – Underdiagnosed Psychiatric Syndromes. Oxford: Blackwell Science  Conrad, K. (1963). La Esquizofrenia Incipiente: Intento de un Análisis de la Forma del Delírio. Madrid: Ed. Alhambra  Ey, H. (1950). Estudo Sobre os Delirios. Madrid: Editora Paz Montalvo  Goas, C. (1966). Temas Psiquiátricos. Madrid: Editora Paz Montalvo  Jaspers, K. (1987) Psicopatologia Geral, Vol.1. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu.
  • 57. Bibliografia   Kraepelin, E. (2005). Obras de Kraepelin: A Demência Precoce (2º Parte) e Parafrenias. Lisboa:Climepsi Editores.  Kraepelin, E. (2007). Obras de Kraepelin: Lições Clínicas sobre a Demência Precoce, a Loucura Maníaco-Depressiva e a paranóia – IV Volume. Lisboa:Climepsi Editores.  Paim, I. (1993a). Curso de Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária  Paim, I. (1993b). História da Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária  Pio de Abreu, J.L. (1994). Introdução à Psicopatologia Compreensiva,(2ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian  Schneider, K. (1968). Psicopatologia Clínica. São Paulo: Editora Mestre Jou  Vidal, D.A. (1997). Delírios. Alcmeón - Revista Argentina de Clínica Neuropsiquiátrica.6(3)