4. O Problema do Agir
e da Passagem ao Ato
• Na adolescência, o agir é considerado um dos
modos de expressão mais importantes nos
conflitos e nas angústias.
• Se manifesta na vida cotidiana do adolescente
e também no nível psicopatológico em
transtornos do comportamento, que
representam um dos motivos de consulta mais
freqüentes a psiquiatras da adolescência.
5. O modelo de compreensão
clínica e fenomenológica
Ato: é uma conduta espontânea com uma
elevada dimensão positiva; geralmente rápida
e sem reflexão, mas nem por isso totalmente
irrefletido.
Passagem ao ato: é quase sempre violenta e
agressiva, com um caráter freqüentemente
impulsivo e delituoso.
6. O modelo de compreensão
clínica e fenomenológica
Impulso: designa, por sua vez, a ocorrência súbita,
vista como uma urgência, a cumprir este ou
aquele ato. Se realiza fora de qualquer controle e
geralmente sobre o domínio da emoção.
Compulsão: é um tipo de conduta que o sujeito é
impelido a cumprir por uma imposição interna
(implica sempre uma luta interior). Diferente do
impulso, a compulsão pode se manifestar em
uma ação, mas também em um pensamento,
uma operação defensiva.
7. Fatores que favorecem o Agir
O agir não é próprio apenas dos adolescentes que
apresentam transtornos psíquicos, é antes uma
característica de todo o adolescente.
- Fatores Ambientais
- Fatores Internos
8. Fatores Ambientais
- A mudança de status social (criança adulto)
- O conteúdo desse status social (liberdade,
independência, etc.)
- Os estereótipos sociais (o adolescente, de uma certa
forma, afirma a visão que os adultos têm sobre ele)
- A interação social (formação de grupos)
- Restrições excessivas da realidade
9. Fatores Internos
- Excitação pubertária
- A angústia (o agir se torna uma ação de escape)
- O remanejamento do equilíbrio pulsão-defesa
- A antítese atividade-passividade (o medo da passividade ao
remeter a submissão infantil e às tendências homossexuais,
também conduzem o adolescente a recorrer a ação – e a
auto-afirmação para negar esta passividade).
- As modificações instrumentais: a linguagem e o corpo (o ato
da palavra, como por exemplo, o grito)
10. Lugar da passagem ao ato nos
principais quadros patológicos
A passagem ao ato assinala uma patologia de
condutas externas agidas. É uma das respostas
privilegiadas da adolescência às suas situações de
conflito.
Os diferentes modos de passagem ao ato:
Cólera, furto, agressão, fuga, suicídio,
automutilação, conduta sexual, conduta de
“adição” química, etc.
11. Lugar da passagem ao ato nos
principais quadros patológicos
Seu aspecto isolado ou repetido:
Se o aspecto isolado não assinala uma patologia, a
repetição das passagens ao ato e, sobretudo, da
mesma passagem ao ato, leva a descrever
transtornos que se assemelham a patologia do
suicida, de toxicômano, de delinqüente ou mesmo
de ladrão ou fugitivo.
12. Lugar da passagem ao ato nos
principais quadros patológicos
Sua ligação com outras manifestações ou com
uma estrutura psicopatológica determinada;
pode ocasionar um estado delirante, de uma
melancolia ou um surto maníaco, assim como as
clássicas passagens ao ato dos epiléticos.
13. Na adolescência 3 eventualidades
diagnósticas são evocadas
1) As crises na adolescência cujas manifestações são
variadas, mas onde a passagem ao ato ocupam um
lugar de escolha, quer se trate de diferentes formas de
crises juvenis ou da crise de identidade.
2) As condutas graves na adolescência, grupos nos quais
se situam as tentativas de suicídio, as toxicomanias e
os atos de delinqüência. Essas condutas inserem-se no
quadro de condutas anti-sociais já organizadas como
tais desde a adolescência.
14. Na adolescência 3 eventualidades
diagnósticas são evocadas
3) A depressão na adolescência, merece atenção
especial. Pois o adolescente introduz uma
dimensão particular, se manifesta na forma de
passagem ao ato. A desaceleração psicomotora
presente na depressão dos adultos é substituída
pela busca de estimulação pela hiperatividade,
alternadas por períodos de fadiga e passagem
ao ato.
15. As significações Psicológicas e
Psicopatológicas do Agir
O agir como estratégia interativa:
O agir é considerado aqui como um meio indireto de
adquirir, de dissimilar ou de revelar uma informação por
meio de um encontro interpessoal com um outro
adolescente ou com um outro adulto. O adolescente
procurará essa interação por intermédio do agir para
deixá-lo embaraçado, para atrair sua atenção, para fazer o
que o adulto faz mas que ainda é proibido ao adolescente,
como por exemplo, fumar, beber ou “matar aula”.
16. As significações Psicológicas e
Psicopatológicas do Agir
O agir como mecanismo de defesa:
O agir pode acompanhar ou representar uma
mentalização. É o caso do ato de masturbação e da
fantasia associada a ele. Além disso, o agir e a
passagem ao ato podem ser considerados como a
expressão de um mecanismo de defesa. Nisso, eles
têm uma função de restituição com relação ao Ego.
17. As significações Psicológicas e
Psicopatológicas do Agir
O agir como entrave da conduta mentalizada:
Na concepção psicanalítica, o paciente age para
evitar sentir, evitar o sofrimento. O acting out é
avaliado então como uma conduta de fuga em face
do afeto ou da representação desagradável à
consciência do sujeito.
18. As significações Psicológicas e
Psicopatológicas do Agir
A recusa do agir:
Essa “inércia ativa” representa uma tentativa de
expulsar o objeto de desejo a fim de melhor
controlar, secundariamente, a resistência interna.
“ é preferível não desejar nada a desejar sem
realização imediata”
19. Fatores de Resiliência em face da
Passagem ao Ato
1. A tolerância à frustração: adquirida durante a infância, a
tolerância à frustração traduz a capacidade do sujeito
de aceitar em si mesmo um estado de insatisfação
interna freqüentemente acompanhado pela angústia.
2. A capacidade de adiar: o adolescente investe no futuro
da história familiar e na sua própria história, visando
que nessas condições, a expectativa se tornará possível.
Essas cenas fantasmáticas permitem ao adolescente
adiar a sua necessidade de satisfação imediata.
20. Fatores de Resiliência em face da
Passagem ao Ato
3. A capacidade de deslocamento: o adolescente investe
em hobbies, assim como no período de latência, que a
sua sexualidade era deslocada para o desejo de
aprender coisas novas, curiosidade e etc.
4. O lugar do jogo: por intermédio da atividade lúdica,
podemos observar a maneira com que o adolescente
maneja o agir.
21. Fugas e Errâncias:
Uma das representações mais concretas da
ruptura do adolescente com o seu contexto
familiar ou institucional é a partida do meio
onde vivia.
Os diferentes modos de partida dos
adolescentes: Descrição Clínica
22. - A viagem: uma partida preparada, normalmente feita em grupo e
com previsão de retorno.
Os objetivos são os mais variados: viagem escolar, universitária,
remetem também o desejo de descoberta, o gosto pela aventura,
ou fuga da vida rotineira.
- A estrada: trata-se de partir e de romper com o meio anterior do
que se interessar por um aspecto particular ao longo do seu
trajeto. Uma característica do “mochileiro” é manifestar um certo
conformismo em seu anticonformismo a partir da maneira como se
veste, fala, aonde vai, etc.
- A fuga: é uma partida impulsiva, brutal, na maioria das vezes
solitária e limitada no tempo (cerca de uma noite). Geralmente
sem uma meta precisa, normalmente em uma atmosfera de
conflito (pode ser na família, na escola, na justiça, vítima de algum
tipo de violência e até tentativa de suicídio).
23. O furto
O furto representa a conduta delinqüente mais
freqüente na adolescência (95 a 96%)
Condutas de furto mais freqüentes:
furto de veículos motorizados (35% dos casos)
furto nos hipermercados (15% dos casos)
furtos de locais habitados (14% dos casos)
24. A violência na adolescência
Como o adolescente experimenta muitas vezes uma grande violência
nele e em torno dele, esse sentimento que quase sempre aparece
como uma resposta potencial à ameaça narcísica e à depressão.
A heteroagressividade
- Violência contra os bens
- Atos de vandalismo
- Condutas destrutivas solitárias: são raras, mas com um maior
desvio psicopatológico; como por exemplo a conduta piromaníaca e
a crise da violência do adolescente no apartamento da família.
- Condutas heteroagressivas em formas excrementícias: encontrado
na maioria dos casos em instituições de acolhimento e clínicas de
desintoxicação, os adolescentes urinam e defecam em locais
diversos.
25. “O conselho à sociedade poderia ser:
por amor aos adolescentes e à sua
imaturidade, não lhes permitam crescer e
atingir uma falsa maturidade,
transmitindo-lhes uma responsabilidade
que ainda não é deles, mesmo que possam
lutar por elas. “
(Winnicott, 1969)