SlideShare a Scribd company logo
1 of 3
A Redação Técnica se define por um estilo e por uma estrutura própria

Talvez para você, caro (a) usuário (a), o adjetivo “técnica” possa soar um tanto quanto
complexo, levando-o (a) a acreditar que se trata de algo complicado e diferente. Caso
sim, saiba que estamos fazendo referência a uma modalidade de texto com a qual
rotineiramente nos deparamos.

Ela, semelhantemente a todas as outras que integram a modalidade escrita da
linguagem, encontra-se calcada nos princípios básicos que compõem a estrutura de
qualquer texto, ou seja, precisão vocabular, clareza, objetividade, obediência aos
postulados gramaticais, entre outros fatores. Além disso, ela se define por estrutura e
estilo próprios.

Em termos estruturais, afirma-se que o texto em referência obedece a um conjunto de
metodologias em prol de um resultado, fazendo cumprir uma formatação padrão.
Quanto ao estilo, cumpre ressaltar que esse tipo de comunicação é norteado pelos
seguintes princípios:

* Precisão vocabular, atendo-se à exatidão dos pormenores;

* Objetividade na linguagem, abnegando-se de quaisquer traços que permitam
dúbias interpretações;

* Finalidade discursiva pautada no intento de esclarecer e informar;

* Uniformidade na estrutura, estilo e terminologia;

* Imparcialidade no discurso, o qual se apresenta regido pela eficácia e exatidão
das informações.

Mediante tais pressupostos, é bastante comum precisarmos emitir uma procuração, fazer
um recibo, um requerimento, elaborar uma ata, enfim, várias são as circunstâncias as
quais requerem uma comunicação específica. Modalidades estas que integram o tipo
textual em questão e que se fazem presentes no contexto administrativo, comercial e
jurídico.

Sendo assim, nesta seção você poderá estabelecer uma familiaridade maior com os
aspectos peculiares que perfazem essa diversidade de textos, podendo servir-se deles
sempre                     que                   nenecessário                   for.
Bons estudos é o que lhe desejamos sempre!

Tipos de redação técnica ou científica

Há diversos tipos de redação técnica: as descrições e narrações técnicas propriamente ditas,
os manuais de instrução, os pareceres, os relatórios, as teses e dissertações científicas
(monografias em geral) e outros. Alguns não chegam a ter individualidade própria, já que são
sempre parte de outros, como as duas primeiras citadas e mais o sumário científico. O mais
importante de todos, entretanto, é o relatório, não só porque há dele várias espécies mas
também porque, dada a sua estrutura, nele se pode incluir um grande número de trabalhos de
pesquisas usualmente publicados em revistas científicas sob a denominação genérica de
"artigos".
O estudo da estrutura e das características formais dos diferentes tipos de redação técnica
exigiria um desenvolvimento que esta obra já não pode comportar, pois além das prescrições
de ordem geral, seria indispensável apresentar certo número de modelos comentados. Em
virtude disso, vamos limitar-nos à descrição técnica, que está presente em todos os tipos de
redação                 científica,               e                ao              relatório.

Descrição de objeto ou ser

A descrição técnica apresenta, é claro, muitas das características gerais da literária, porém,
nela se sublinha mais a precisão do vocabulário, a exatidão dos pormenores e a sobriedade de
linguagem do que a elegância e os requisitos de expressividade lingüística. A descrição técnica
deve esclarecer, convencendo; a literária deve impressionar, agradando. Uma traduz-se em
objetividade; a outra sobrecarrega-se de tons afetivos. Uma é predominantemente denotativa;
a outra, predominantemente conotativa.

A descrição técnica pode aplicar-se a objetos (sua cor, forma, aparência, dimensões, peso,
etc.), a aparelhos ou mecanismos, a processos (funcionamento de mecanismos,
procedimentos, fases de pesquisas), a fenômenos, fatos, lugares, eventos. Mas nenhum
desses temas lhe é exclusivo; eles podem sê-lo também da literária. O que, então, distingue
essas duas formas de composição é o objetivo e o ponto de vista: a descrição que Eça de
Queirós faz da sala de Jacinto - segundo o exemplo que oferecemos em Par. 3.3.1.6 - é bem
diversa, quanto ao objetivo, da que faria um policial encarregado de descrevê-la num relatório,
se nela tivesse ocorrido um crime de morte. Muito diversas hão de ser, pelo mesmo motivo, as
descrições de uma borboleta feitas por um romancista em cena bucólica e por um
entomologista debruçado sobre o microscópio.

O ponto de vista é tão importante quanto o objetivo; dele dependem a forma verbal e a
estrutura lógica da descrição: qual é o objeto a ser descrito (definição denotativa)? que parte
dele deve ser ressaltada? de que ângulo deve ser encarado? que pormenores devem ser
examinados de preferência a outros? que ordem descritiva deve ser adotada? (lógica?
psicológica? cronológica?) a quem, a que espécie de leitor se destina? a um leigo ou a um
técnico?

Assim, uma vitrola ou uma máquina de lavar roupa podem ser descritas do ponto de vista: a)
do possível comprador (legenda de propaganda); h) do usuário (o jovem ou dona-de-casa que
de uma ou de outra se vão servir); c) do técnico encarregado da sua montagem ou instalação;
d) do técnico que terá eventualmente de consertá-la. São fatores que precisam ser levados em
conta, pois deles dependem a extensão, a estrutura e o estilo da descrição técnica.

O seguinte exemplo pode dar-nos uma idéia do que deve ser esse tipo de composição:


       O motor está montado na traseira do carro, fixado por quatro parafusos à
       caixa de câmbio, a qual, por sua vez, está fixada por coxins de borracha
       na extremidade bifurcada do chassi. Os cilindros estão dispostos
       horizontalmente e opostos dois a dois. Cada par de cilindros tem um
       cabeçote comum de metal leve. As válvulas, situadas nos cabeçotes, são
       comandadas por meio de tuchos e balancins. O virabrequim, livre de
       vibrações, de comprimento reduzido, com têmpera especial nos colos,
       gira em quatro pontos de apoio e aciona o eixo excêntrico por meio de
       engrenagens oblíquas. As bielas contam com maneais de chumbo-bronze
       e os pistões são fundidos de uma liga de metal leve.

       Manual de instruções(Volkswagen)


Trata-se de parágrafo de descrição que tem em vista o usuário em geral, leigo - pois o
emprego de termos técnicos está reduzido ao mínimo indispensável ao seu esclarecimento.
A descrição tipicamente científica, descrição de campo ou de laboratório, consiste muitas vezes
numa enumeração detalhada das características do objeto ou ser vivo. Neste caso, ela se
caracteriza por uma estrutura de frases curtas, em grande parte nominais, como no seguinte
exemplo, em que o Autor faz a descrição de um holótipo de Hyla rizibilis. A ordem da descrição
é a lógica: o Autor começa pela cabeça (suas dimensões em relação ao corpo), e vai
detalhando: os olhos, o tímpano, as narinas, os dentes, a língua, os membros superiores e
inferiores, etc. O último parágrafo da descrição é destinado a indicar a aparência do conjunto,
destacando o colorido dorsal. O seguinte fragmento é ilustrativo:


       Membros anteriores curtos e robustos; o antebraço mais desenvolvido do
       que o braço. Dedos longos e robustos, os externos unidos por uma
       membrana vestigiária. Discos do tamanho do tímpano, o do polegar um
       pouco menor. Polegar com prepólex rudimentar; calos subarticulares e
       carpais bem desenvolvidos.


Note-se: vocabulário de sentido exclusivamente denotativo ou extensional, frases curtas,
muitas delas nominais, ausência de afetividade lingüística.

More Related Content

What's hot

Como elaborar artigo alves e arruda
Como elaborar artigo alves e arrudaComo elaborar artigo alves e arruda
Como elaborar artigo alves e arrudaUnir-Metodologia
 
Trabalhos apresentação unesp_abnt
Trabalhos apresentação unesp_abntTrabalhos apresentação unesp_abnt
Trabalhos apresentação unesp_abntAndré de Oliveira
 
1° ano - Modelo de relatório
1° ano - Modelo de relatório1° ano - Modelo de relatório
1° ano - Modelo de relatórioProfFernandaBraga
 
Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.
Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.
Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.Ícaro Augusto
 
Nbr 6034 informação e documentação - índice - apresentação
Nbr 6034   informação e documentação - índice - apresentaçãoNbr 6034   informação e documentação - índice - apresentação
Nbr 6034 informação e documentação - índice - apresentaçãoNatan Aleixo
 
Apostila de redação oficial.PDF
Apostila de redação oficial.PDFApostila de redação oficial.PDF
Apostila de redação oficial.PDFJeferson S. J.
 

What's hot (11)

Artigo científico modelo de elaboração
Artigo científico   modelo de elaboraçãoArtigo científico   modelo de elaboração
Artigo científico modelo de elaboração
 
Como elaborar artigo alves e arruda
Como elaborar artigo alves e arrudaComo elaborar artigo alves e arruda
Como elaborar artigo alves e arruda
 
Trabalhos apresentação unesp_abnt
Trabalhos apresentação unesp_abntTrabalhos apresentação unesp_abnt
Trabalhos apresentação unesp_abnt
 
Norma ABNT 6034
Norma ABNT 6034Norma ABNT 6034
Norma ABNT 6034
 
1° ano - Modelo de relatório
1° ano - Modelo de relatório1° ano - Modelo de relatório
1° ano - Modelo de relatório
 
Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.
Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.
Biblioteca FEAUSP - APA 6ª Ed.
 
Elaboração de um projeto
Elaboração de um projetoElaboração de um projeto
Elaboração de um projeto
 
Nbr 6034 informação e documentação - índice - apresentação
Nbr 6034   informação e documentação - índice - apresentaçãoNbr 6034   informação e documentação - índice - apresentação
Nbr 6034 informação e documentação - índice - apresentação
 
Apostila de redação oficial.PDF
Apostila de redação oficial.PDFApostila de redação oficial.PDF
Apostila de redação oficial.PDF
 
Normas abnt
Normas abntNormas abnt
Normas abnt
 
Modelo de artigo científico com formatação
Modelo de artigo científico com formataçãoModelo de artigo científico com formatação
Modelo de artigo científico com formatação
 

Viewers also liked (9)

Internet. jn
Internet. jnInternet. jn
Internet. jn
 
Uabc lce-mcs-txt ocho
Uabc lce-mcs-txt ochoUabc lce-mcs-txt ocho
Uabc lce-mcs-txt ocho
 
Second life
Second lifeSecond life
Second life
 
Herrera marcelo 6_b_T12
Herrera marcelo 6_b_T12Herrera marcelo 6_b_T12
Herrera marcelo 6_b_T12
 
Mateo arcila montoya
Mateo arcila montoyaMateo arcila montoya
Mateo arcila montoya
 
Ln12 2009
Ln12 2009Ln12 2009
Ln12 2009
 
Ln19 2011
Ln19 2011Ln19 2011
Ln19 2011
 
Tratado Qatar doble tributación
Tratado Qatar doble tributación Tratado Qatar doble tributación
Tratado Qatar doble tributación
 
Presentation19b2
Presentation19b2Presentation19b2
Presentation19b2
 

Similar to A redação técnica se define por um estilo e por uma estrutura própria

Minicurso Redação de RT's
Minicurso Redação de RT'sMinicurso Redação de RT's
Minicurso Redação de RT'srespostatecnica
 
Escrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio Figueiredo
Escrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio FigueiredoEscrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio Figueiredo
Escrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio FigueiredoFran Maciel
 
Módulo I - Introdução à Redação
Módulo I - Introdução à RedaçãoMódulo I - Introdução à Redação
Módulo I - Introdução à RedaçãoDenise Menezes
 
Modelo artigos 2009
Modelo artigos 2009Modelo artigos 2009
Modelo artigos 2009Igor Melo
 
Disciplina de metodologia do trabalho científico
Disciplina de metodologia do trabalho científicoDisciplina de metodologia do trabalho científico
Disciplina de metodologia do trabalho científicoMarcelo Gomes
 
Como nao escrever um artigo engenharia
Como nao escrever um artigo engenhariaComo nao escrever um artigo engenharia
Como nao escrever um artigo engenhariaDionísio Carmo-Neto
 
Prática de leitura ivanilde
Prática de leitura ivanildePrática de leitura ivanilde
Prática de leitura ivanildeleidianekanall
 
Como fazer uma monografia
Como fazer uma monografiaComo fazer uma monografia
Como fazer uma monografiaGuto Braga
 
Guião:Como elaborar um relatório
Guião:Como elaborar um  relatório Guião:Como elaborar um  relatório
Guião:Como elaborar um relatório bedjoaoii
 
Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...
Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...
Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...Keimelion - revisão de textos
 
Elaboracao de artigo cientifico2006
Elaboracao de artigo cientifico2006Elaboracao de artigo cientifico2006
Elaboracao de artigo cientifico2006Jose Rudy
 
Contruindo monografia
Contruindo monografiaContruindo monografia
Contruindo monografiaHEIDYJEAN
 
822 elaborando um_artigo_cientifico
822 elaborando um_artigo_cientifico822 elaborando um_artigo_cientifico
822 elaborando um_artigo_cientificoMaura Rodrigues
 
óTimo elaborando um_artigo_cientifico
óTimo elaborando um_artigo_cientificoóTimo elaborando um_artigo_cientifico
óTimo elaborando um_artigo_cientificoGerdian Teixeira
 

Similar to A redação técnica se define por um estilo e por uma estrutura própria (20)

Como elaborar-um-artigo-modelo-2015
Como elaborar-um-artigo-modelo-2015Como elaborar-um-artigo-modelo-2015
Como elaborar-um-artigo-modelo-2015
 
Minicurso Redação de RT's
Minicurso Redação de RT'sMinicurso Redação de RT's
Minicurso Redação de RT's
 
RESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
 
Escrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio Figueiredo
Escrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio FigueiredoEscrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio Figueiredo
Escrever um artigo científico, das partes para o todo - Antônio Figueiredo
 
Tcc f9 modelo_monografia
Tcc f9 modelo_monografiaTcc f9 modelo_monografia
Tcc f9 modelo_monografia
 
Resumo 01/10/2009
Resumo 01/10/2009Resumo 01/10/2009
Resumo 01/10/2009
 
Módulo I - Introdução à Redação
Módulo I - Introdução à RedaçãoMódulo I - Introdução à Redação
Módulo I - Introdução à Redação
 
Modelo artigos 2009
Modelo artigos 2009Modelo artigos 2009
Modelo artigos 2009
 
Disciplina de metodologia do trabalho científico
Disciplina de metodologia do trabalho científicoDisciplina de metodologia do trabalho científico
Disciplina de metodologia do trabalho científico
 
Como nao escrever um artigo engenharia
Como nao escrever um artigo engenhariaComo nao escrever um artigo engenharia
Como nao escrever um artigo engenharia
 
Prática de leitura ivanilde
Prática de leitura ivanildePrática de leitura ivanilde
Prática de leitura ivanilde
 
Como fazer uma monografia
Como fazer uma monografiaComo fazer uma monografia
Como fazer uma monografia
 
Guião:Como elaborar um relatório
Guião:Como elaborar um  relatório Guião:Como elaborar um  relatório
Guião:Como elaborar um relatório
 
Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...
Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...
Dificuldades no trabalho do revisor de textos: possíveis contribuições da lin...
 
Elaboracao de artigo cientifico2006
Elaboracao de artigo cientifico2006Elaboracao de artigo cientifico2006
Elaboracao de artigo cientifico2006
 
Resenha e Resumo.pdf
Resenha e Resumo.pdfResenha e Resumo.pdf
Resenha e Resumo.pdf
 
Contruindo monografia
Contruindo monografiaContruindo monografia
Contruindo monografia
 
Elaborando um artigo cientifico
Elaborando um artigo cientificoElaborando um artigo cientifico
Elaborando um artigo cientifico
 
822 elaborando um_artigo_cientifico
822 elaborando um_artigo_cientifico822 elaborando um_artigo_cientifico
822 elaborando um_artigo_cientifico
 
óTimo elaborando um_artigo_cientifico
óTimo elaborando um_artigo_cientificoóTimo elaborando um_artigo_cientifico
óTimo elaborando um_artigo_cientifico
 

A redação técnica se define por um estilo e por uma estrutura própria

  • 1. A Redação Técnica se define por um estilo e por uma estrutura própria Talvez para você, caro (a) usuário (a), o adjetivo “técnica” possa soar um tanto quanto complexo, levando-o (a) a acreditar que se trata de algo complicado e diferente. Caso sim, saiba que estamos fazendo referência a uma modalidade de texto com a qual rotineiramente nos deparamos. Ela, semelhantemente a todas as outras que integram a modalidade escrita da linguagem, encontra-se calcada nos princípios básicos que compõem a estrutura de qualquer texto, ou seja, precisão vocabular, clareza, objetividade, obediência aos postulados gramaticais, entre outros fatores. Além disso, ela se define por estrutura e estilo próprios. Em termos estruturais, afirma-se que o texto em referência obedece a um conjunto de metodologias em prol de um resultado, fazendo cumprir uma formatação padrão. Quanto ao estilo, cumpre ressaltar que esse tipo de comunicação é norteado pelos seguintes princípios: * Precisão vocabular, atendo-se à exatidão dos pormenores; * Objetividade na linguagem, abnegando-se de quaisquer traços que permitam dúbias interpretações; * Finalidade discursiva pautada no intento de esclarecer e informar; * Uniformidade na estrutura, estilo e terminologia; * Imparcialidade no discurso, o qual se apresenta regido pela eficácia e exatidão das informações. Mediante tais pressupostos, é bastante comum precisarmos emitir uma procuração, fazer um recibo, um requerimento, elaborar uma ata, enfim, várias são as circunstâncias as quais requerem uma comunicação específica. Modalidades estas que integram o tipo textual em questão e que se fazem presentes no contexto administrativo, comercial e jurídico. Sendo assim, nesta seção você poderá estabelecer uma familiaridade maior com os aspectos peculiares que perfazem essa diversidade de textos, podendo servir-se deles sempre que nenecessário for. Bons estudos é o que lhe desejamos sempre! Tipos de redação técnica ou científica Há diversos tipos de redação técnica: as descrições e narrações técnicas propriamente ditas, os manuais de instrução, os pareceres, os relatórios, as teses e dissertações científicas (monografias em geral) e outros. Alguns não chegam a ter individualidade própria, já que são sempre parte de outros, como as duas primeiras citadas e mais o sumário científico. O mais importante de todos, entretanto, é o relatório, não só porque há dele várias espécies mas também porque, dada a sua estrutura, nele se pode incluir um grande número de trabalhos de pesquisas usualmente publicados em revistas científicas sob a denominação genérica de "artigos".
  • 2. O estudo da estrutura e das características formais dos diferentes tipos de redação técnica exigiria um desenvolvimento que esta obra já não pode comportar, pois além das prescrições de ordem geral, seria indispensável apresentar certo número de modelos comentados. Em virtude disso, vamos limitar-nos à descrição técnica, que está presente em todos os tipos de redação científica, e ao relatório. Descrição de objeto ou ser A descrição técnica apresenta, é claro, muitas das características gerais da literária, porém, nela se sublinha mais a precisão do vocabulário, a exatidão dos pormenores e a sobriedade de linguagem do que a elegância e os requisitos de expressividade lingüística. A descrição técnica deve esclarecer, convencendo; a literária deve impressionar, agradando. Uma traduz-se em objetividade; a outra sobrecarrega-se de tons afetivos. Uma é predominantemente denotativa; a outra, predominantemente conotativa. A descrição técnica pode aplicar-se a objetos (sua cor, forma, aparência, dimensões, peso, etc.), a aparelhos ou mecanismos, a processos (funcionamento de mecanismos, procedimentos, fases de pesquisas), a fenômenos, fatos, lugares, eventos. Mas nenhum desses temas lhe é exclusivo; eles podem sê-lo também da literária. O que, então, distingue essas duas formas de composição é o objetivo e o ponto de vista: a descrição que Eça de Queirós faz da sala de Jacinto - segundo o exemplo que oferecemos em Par. 3.3.1.6 - é bem diversa, quanto ao objetivo, da que faria um policial encarregado de descrevê-la num relatório, se nela tivesse ocorrido um crime de morte. Muito diversas hão de ser, pelo mesmo motivo, as descrições de uma borboleta feitas por um romancista em cena bucólica e por um entomologista debruçado sobre o microscópio. O ponto de vista é tão importante quanto o objetivo; dele dependem a forma verbal e a estrutura lógica da descrição: qual é o objeto a ser descrito (definição denotativa)? que parte dele deve ser ressaltada? de que ângulo deve ser encarado? que pormenores devem ser examinados de preferência a outros? que ordem descritiva deve ser adotada? (lógica? psicológica? cronológica?) a quem, a que espécie de leitor se destina? a um leigo ou a um técnico? Assim, uma vitrola ou uma máquina de lavar roupa podem ser descritas do ponto de vista: a) do possível comprador (legenda de propaganda); h) do usuário (o jovem ou dona-de-casa que de uma ou de outra se vão servir); c) do técnico encarregado da sua montagem ou instalação; d) do técnico que terá eventualmente de consertá-la. São fatores que precisam ser levados em conta, pois deles dependem a extensão, a estrutura e o estilo da descrição técnica. O seguinte exemplo pode dar-nos uma idéia do que deve ser esse tipo de composição: O motor está montado na traseira do carro, fixado por quatro parafusos à caixa de câmbio, a qual, por sua vez, está fixada por coxins de borracha na extremidade bifurcada do chassi. Os cilindros estão dispostos horizontalmente e opostos dois a dois. Cada par de cilindros tem um cabeçote comum de metal leve. As válvulas, situadas nos cabeçotes, são comandadas por meio de tuchos e balancins. O virabrequim, livre de vibrações, de comprimento reduzido, com têmpera especial nos colos, gira em quatro pontos de apoio e aciona o eixo excêntrico por meio de engrenagens oblíquas. As bielas contam com maneais de chumbo-bronze e os pistões são fundidos de uma liga de metal leve. Manual de instruções(Volkswagen) Trata-se de parágrafo de descrição que tem em vista o usuário em geral, leigo - pois o emprego de termos técnicos está reduzido ao mínimo indispensável ao seu esclarecimento.
  • 3. A descrição tipicamente científica, descrição de campo ou de laboratório, consiste muitas vezes numa enumeração detalhada das características do objeto ou ser vivo. Neste caso, ela se caracteriza por uma estrutura de frases curtas, em grande parte nominais, como no seguinte exemplo, em que o Autor faz a descrição de um holótipo de Hyla rizibilis. A ordem da descrição é a lógica: o Autor começa pela cabeça (suas dimensões em relação ao corpo), e vai detalhando: os olhos, o tímpano, as narinas, os dentes, a língua, os membros superiores e inferiores, etc. O último parágrafo da descrição é destinado a indicar a aparência do conjunto, destacando o colorido dorsal. O seguinte fragmento é ilustrativo: Membros anteriores curtos e robustos; o antebraço mais desenvolvido do que o braço. Dedos longos e robustos, os externos unidos por uma membrana vestigiária. Discos do tamanho do tímpano, o do polegar um pouco menor. Polegar com prepólex rudimentar; calos subarticulares e carpais bem desenvolvidos. Note-se: vocabulário de sentido exclusivamente denotativo ou extensional, frases curtas, muitas delas nominais, ausência de afetividade lingüística.