SlideShare a Scribd company logo
1 of 3
Download to read offline
EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO E DA SAÚDE OCUPACIONAL
                                                 G. Arra



Quando falamos em segurança do trabalho e saúde ocupacional, falamos da exposição de pessoas a
probabilidade de acidentarem-se, portanto o acidente do trabalho é inerente a atividade laboral. Isso
não quer dizer que devemos aceitar o acidente do trabalho como uma ocorrência normal no dia-a-dia das
empresas; pelo contrário, devemos, sim, considerá-lo anormal, pois todas as possibilidades de um
trabalhador acidentar-se devem ser estudadas/analisadas para que medidas efetivas que evitem esse
tipo de ocorrência sejam adotadas.

Ao longo da história a Segurança do Trabalho e a Saúde ocupacional foram objeto de estudos buscando
sempre encontrar as causas das ocorrências e buscar medidas efetivas de prevenção.

Registros sobre estudos direcionados a Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional remontam ao ano de
1556, quando o estudioso Geof Bauer publicou o livro “De Re Metalica”, que discute os aspectos de
Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional relacionados com a extração de minerais na Alemanha. Ele
destaca que devido ao índice de acidentes fatais e de doenças ocupacionais que levavam a morte os
trabalhadores em algumas regiões, as mulheres chegavam a casar-se 7 vezes, dada a precocidade da
morte dos maridos 11 anos mais tarde.

Em 1700 o médico Bernardino Ramazzini (considerado o pai da Medicina Ocupacional) publicou o livro
“De Morbis Artificum Diatriba”, onde ele descreve cerca de 100 profissões diferentes e os riscos
específicos de cada uma delas. Essa relação é a precursora da lista atual de doenças ocupacionais
reconhecidas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e adotada por muitos Países, inclusive o
Brasil.

Durante o período da revolução industrial na Europa, que ocorreu de 1763 a 1815, inicialmente na
Inglaterra e posteriormente na Alemanha, França e demais países; houve a intensificação do estudo dos
acidentes do trabalho, pois esses países produziam legiões de incapacitados ao trabalho. Isto levou os
empresários da época a se questionar sobre os benefícios da revolução de mercado que eles estavam
produzindo. Como conseqüência, em 1833 a Inglaterra publicou a 1ª legislação realmente eficiente na
proteção do trabalhador sob o título de “Factory Act” (Lei da Fábrica), que tinha como principais itens as
seguintes regras estatutárias:

   •   Proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos;

   •   Restringia as horas trabalhadas por menores a 12 horas por dia e 69 horas por semana;

   •   As fábricas precisavam ter escolas para trabalhadores menores que 13 anos;

   •   A idade mínima para o trabalhador era “9 anos”;

   •   O cuidado com o desenvolvimento físico correspondente à idade cronológica.

Em 1877, na Suíça, e em 1898, na Alemanha, surgem Leis responsabilizando o empregador por acidentes
e doenças ocupacionais.

Obs.: Hoje todas as nações do mundo civilizado tem uma legislação específica de proteção do
trabalhador.

Em 1906 surge o 1º Congresso Internacional de Doenças do Trabalho, ocorrido em Milão, quando então
intensificam-se as trocas de experiências na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais,
estabelecendo-se estudos para a melhoria da normatização das atividades laborais na Europa.

Em 1931, nos Estados Unidos da América, Henri Heinrich, um estudioso da área de seguros, introduziu
pela 1ª vez a filosofia de acidentes com danos à propriedade. Sua investigação inicial apresentou como
resultado a seguinte proporção:
1      Acidentes com lesão incapacitante

                               29          Acidentes com lesão não incapacitante

                               300             Acidentes sem lesão



A partir de 1954, também nos Estados Unidos da América, Frank Bird Jr., outro estudioso da área de
seguros, realizou um estudo sobre probabilidade de ocorrência de acidentes e incidentes a partir de uma
análise envolvendo 297 empresas, 3 x 109 horas trabalhadas, 1.750.000 trabalhadores e 1.753.498
eventos; chegando a seguinte conclusão:




                           1          Acidentes com lesões graves

                          10              Acidentes com lesões leves

                          30                  Acidentes com danos à propriedade

                         600                      Incidentes sem danos à propriedade


Com a experiência de Frank Bird surge um novo conceito de acidente: “Acidente é um evento não
desejado, do qual resulta em dano físico a uma pessoa, danos à propriedade ou atrasos nas operações.

Desse novo conceito surge o Controle de Perdas com os seguintes princípios básicos:

   •   A gerência reconhecerá que a investigação da maioria dos acidentes da classe “Sem Lesões”
       ajudará a eliminar muitas práticas e condições inseguras, que por sua vez constituem as causas
       dos acidentes com lesões;

   •   A gerência está interessada neste programa tanto como está em qualquer programa que reduza as
       perdas, que diminua os atrasos na produção e que aumente a qualidade com reflexos na
       diminuição do custo final do produto;

   •   Ao aumentar o esforço para diminuir os acidentes com a possibilidade de reduzir seus custos
       constitui-se um veículo para justificar economicamente o quadro do pessoal de Segurança e Saúde
       Ocupacional;

   •   O gerente é o elemento chave do programa de controle de perdas.

Em 1970, no Canadá, John A. Flechter, prosseguindo a obra iniciada por Frank Bird, propôs o
estabelecimento de programas de Controle Total de Perdas, objetivando reduzir ou eliminar todos os
acidentes que possam interferir ou paralisar um sistema.
Esses programas incluíam ações de prevenção de lesões, danos a equipamentos, instalações e materiais,
incêndios, contaminação do ar entre outras.

No entanto, analisando-se os programas de “Controle de Danos” de Frank Bird e “Controle Total de
Perdas” de John A. Flechter, conclui-se que foram estabelecidos como sendo unicamente práticas
administrativas, quando na realidade, os problemas inerentes à Prevenção de Perdas exigiam, e exigem,
soluções técnicas.

A partir de 1972, diante das exigências do aprofundamento do domínio dos riscos envolvidos nos
processos industriais, criou-se uma nova mentalidade fundamentada nas análises de riscos de processos,
este trabalho foi desenvolvido pelo engenheiro Willie Hammer, especialista em Segurança de Sistemas,
cuja experiência na Força Aérea dos Estados Unidos da América e nos programas espaciais utilizando se
de técnicas de análise de risco permitiu que após adaptação puderam ser aplicadas na industria.

Na década de 80 grandes organizações implementaram as Análises de Risco, com programas de segurança
do trabalho associados às técnicas de confiabilidade. A motivação para essa mudança veio de acidentes
catastróficos, tais como: Flixborough, Seveso, Cidade do México, Bhopal, etc.

Na década de 90 foi publicada a norma internacional elaborada pela ISO (International Standard
Organization), a ISO 14.000, para o estabelecimento de padrões de controle do Meio Ambiente.

Para a área de Segurança e Saúde Ocupacional grandes organizações adotaram a norma Inglesa BS 8800,
que é um guia para o gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional e que foi publicada pelo HSE-UK.

Em 1996 a ISO se reuniu com seus membros para ratificação da ISO 18.000 como sendo a norma padrão
para as áreas de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, utilizando-se dos requisitos da norma BS 8800. No
entanto, houve veto dos Estados Unidos da América sob a alegação de que regulamentações referentes as
áreas de Segurança e Saúde Ocupacional deveriam ser tratadas pela OIT (Organização Internacional do
Trabalho), pois elas tratam dos problemas referentes às relações capital e trabalho.

No entanto, diante da demanda de organizações que buscavam um modelo de gestão em Segurança e
Saúde Ocupacional, as empresas certificadoras criaram as normas série OHSAS 18.000 (Occupational
Health and Safety Analysis)

Em 2007 as empresas certificadoras se reuniram para revisar a OHSAS 18.000 devido a necessidade de
normatizar-se as análises de risco como obrigatoriedade para a certificação, mostrando que o controle
dos riscos é um fator primordial na gestão de Segurança e Saúde Ocupacional.

No próximo artigo estaremos abordando a evolução da Segurança e Saúde Ocupacional no Brasil.




Autor :
G. Arra, Eng. Químico e de Segurança, faz parte da equipe profissional da Processos - Soluções de
Engenharia, empresa especializada nas disciplinas de segurança de processos, prevenção de perdas e
proteção ambiental (www.processos.eng.br / processos@processos.eng.br)

More Related Content

What's hot

Higiene e segurança no trabalho 1-4h
Higiene e segurança no trabalho 1-4hHigiene e segurança no trabalho 1-4h
Higiene e segurança no trabalho 1-4hHumberto Dias
 
História da segurança do trabalho no mundo
História da segurança do trabalho no mundoHistória da segurança do trabalho no mundo
História da segurança do trabalho no mundoEdison Augusto
 
Lista exercicios.1
Lista exercicios.1Lista exercicios.1
Lista exercicios.1Betania
 
7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho
7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho
7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalhodehpimenta20
 
Pcmat aula 2
Pcmat aula 2Pcmat aula 2
Pcmat aula 2angeladp
 
Revolução Industrial
Revolução IndustrialRevolução Industrial
Revolução IndustrialRapha_Carvalho
 
Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1
Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1
Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1roaugustus2010
 
Apostila doencas ocupacionais
Apostila doencas ocupacionaisApostila doencas ocupacionais
Apostila doencas ocupacionaisCosmo Palasio
 
Doença do trabalho e profissional
Doença do trabalho e profissionalDoença do trabalho e profissional
Doença do trabalho e profissionalMárcia Cristina
 
Higiene do trabalho
Higiene do trabalhoHigiene do trabalho
Higiene do trabalhoVictor Costa
 

What's hot (17)

A evolução da segurança do trabalho
A evolução da segurança do trabalhoA evolução da segurança do trabalho
A evolução da segurança do trabalho
 
Segurança do trabalho
Segurança do trabalhoSegurança do trabalho
Segurança do trabalho
 
Segurança do Trabalho e sua história
Segurança do Trabalho e sua históriaSegurança do Trabalho e sua história
Segurança do Trabalho e sua história
 
Higiene e segurança no trabalho 1-4h
Higiene e segurança no trabalho 1-4hHigiene e segurança no trabalho 1-4h
Higiene e segurança no trabalho 1-4h
 
Enegep1998 art369
Enegep1998 art369Enegep1998 art369
Enegep1998 art369
 
História da segurança do trabalho no mundo
História da segurança do trabalho no mundoHistória da segurança do trabalho no mundo
História da segurança do trabalho no mundo
 
Lista exercicios.1
Lista exercicios.1Lista exercicios.1
Lista exercicios.1
 
7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho
7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho
7036068 apostila-de-seguranca-do-trabalho
 
Ohsas18001 mod1
Ohsas18001 mod1Ohsas18001 mod1
Ohsas18001 mod1
 
Segurança do trabalho
Segurança do trabalhoSegurança do trabalho
Segurança do trabalho
 
Pcmat aula 2
Pcmat aula 2Pcmat aula 2
Pcmat aula 2
 
Revolução Industrial
Revolução IndustrialRevolução Industrial
Revolução Industrial
 
Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1
Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1
Mecanica higiene e_seguranca_do_trabalho_parte1
 
Apostila doencas ocupacionais
Apostila doencas ocupacionaisApostila doencas ocupacionais
Apostila doencas ocupacionais
 
Doença do trabalho e profissional
Doença do trabalho e profissionalDoença do trabalho e profissional
Doença do trabalho e profissional
 
Riscos no ambiente de trabalho
Riscos no ambiente de trabalhoRiscos no ambiente de trabalho
Riscos no ambiente de trabalho
 
Higiene do trabalho
Higiene do trabalhoHigiene do trabalho
Higiene do trabalho
 

Similar to Evolução da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHO
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHOHISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHO
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHOMarcellusPinheiro1
 
Treinamento OHSAS.ppt
Treinamento OHSAS.pptTreinamento OHSAS.ppt
Treinamento OHSAS.pptSheilaAlves44
 
A (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentesA (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentesUniversidade Federal Fluminense
 
A im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentesA im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentesUniversidade Federal Fluminense
 
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoApostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhokeniafanti
 
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoApostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhomichelefrancodefreit
 
Nocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Nocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoNocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Nocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoPaulo H Bueno
 
Fundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.ppt
Fundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.pptFundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.ppt
Fundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.pptElizeuRocha6
 
Trabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMS
Trabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMSTrabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMS
Trabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMSMaryluce Coelho
 
Apostila de controle de perdas
Apostila de controle de perdasApostila de controle de perdas
Apostila de controle de perdasMontacon
 
Manual prático legislação segurança e medicina no trabalho
Manual prático legislação segurança e medicina no trabalhoManual prático legislação segurança e medicina no trabalho
Manual prático legislação segurança e medicina no trabalhoMacknei Satelles
 
Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02
Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02
Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02Luiz Armando P. Lima
 

Similar to Evolução da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional (20)

Introdução ao prevencionismo
Introdução ao prevencionismo Introdução ao prevencionismo
Introdução ao prevencionismo
 
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHO
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHOHISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHO
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA SEGURANAÇA DO TRABALHO
 
Enegep1998 art369
Enegep1998 art369Enegep1998 art369
Enegep1998 art369
 
historico-dos-conceitos-de-seguranca-do-trabalho
historico-dos-conceitos-de-seguranca-do-trabalhohistorico-dos-conceitos-de-seguranca-do-trabalho
historico-dos-conceitos-de-seguranca-do-trabalho
 
rh
rhrh
rh
 
Treinamento OHSAS.ppt
Treinamento OHSAS.pptTreinamento OHSAS.ppt
Treinamento OHSAS.ppt
 
A (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentesA (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A (im)previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
 
A im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentesA im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
A im previsibilidade da ocorrência de desvios, quase acidentes e acidentes
 
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoApostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
 
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoApostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Apostila nocoes de_higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
 
Nocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Nocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalhoNocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
Nocoes de higiene_ocupacional_e_seguranca_do_trabalho
 
Fundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.ppt
Fundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.pptFundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.ppt
Fundamentos_da_Seguranca_do_Trabalho_2.ppt
 
Trabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMS
Trabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMSTrabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMS
Trabalho de conclusão do Curso Gestão integrada em QSMS
 
livro.pdf
livro.pdflivro.pdf
livro.pdf
 
Segurança do trabalho aula.pptx
Segurança do trabalho aula.pptxSegurança do trabalho aula.pptx
Segurança do trabalho aula.pptx
 
Apostila de controle de perdas
Apostila de controle de perdasApostila de controle de perdas
Apostila de controle de perdas
 
Saúde Ocupacional
Saúde OcupacionalSaúde Ocupacional
Saúde Ocupacional
 
Edição 11
Edição 11Edição 11
Edição 11
 
Manual prático legislação segurança e medicina no trabalho
Manual prático legislação segurança e medicina no trabalhoManual prático legislação segurança e medicina no trabalho
Manual prático legislação segurança e medicina no trabalho
 
Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02
Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02
Apostilamedicinatrabalho 091018151458-phpapp02
 

Evolução da Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional

  • 1. EVOLUÇÃO DA SEGURANÇA DO TRABALHO E DA SAÚDE OCUPACIONAL G. Arra Quando falamos em segurança do trabalho e saúde ocupacional, falamos da exposição de pessoas a probabilidade de acidentarem-se, portanto o acidente do trabalho é inerente a atividade laboral. Isso não quer dizer que devemos aceitar o acidente do trabalho como uma ocorrência normal no dia-a-dia das empresas; pelo contrário, devemos, sim, considerá-lo anormal, pois todas as possibilidades de um trabalhador acidentar-se devem ser estudadas/analisadas para que medidas efetivas que evitem esse tipo de ocorrência sejam adotadas. Ao longo da história a Segurança do Trabalho e a Saúde ocupacional foram objeto de estudos buscando sempre encontrar as causas das ocorrências e buscar medidas efetivas de prevenção. Registros sobre estudos direcionados a Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional remontam ao ano de 1556, quando o estudioso Geof Bauer publicou o livro “De Re Metalica”, que discute os aspectos de Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional relacionados com a extração de minerais na Alemanha. Ele destaca que devido ao índice de acidentes fatais e de doenças ocupacionais que levavam a morte os trabalhadores em algumas regiões, as mulheres chegavam a casar-se 7 vezes, dada a precocidade da morte dos maridos 11 anos mais tarde. Em 1700 o médico Bernardino Ramazzini (considerado o pai da Medicina Ocupacional) publicou o livro “De Morbis Artificum Diatriba”, onde ele descreve cerca de 100 profissões diferentes e os riscos específicos de cada uma delas. Essa relação é a precursora da lista atual de doenças ocupacionais reconhecidas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e adotada por muitos Países, inclusive o Brasil. Durante o período da revolução industrial na Europa, que ocorreu de 1763 a 1815, inicialmente na Inglaterra e posteriormente na Alemanha, França e demais países; houve a intensificação do estudo dos acidentes do trabalho, pois esses países produziam legiões de incapacitados ao trabalho. Isto levou os empresários da época a se questionar sobre os benefícios da revolução de mercado que eles estavam produzindo. Como conseqüência, em 1833 a Inglaterra publicou a 1ª legislação realmente eficiente na proteção do trabalhador sob o título de “Factory Act” (Lei da Fábrica), que tinha como principais itens as seguintes regras estatutárias: • Proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos; • Restringia as horas trabalhadas por menores a 12 horas por dia e 69 horas por semana; • As fábricas precisavam ter escolas para trabalhadores menores que 13 anos; • A idade mínima para o trabalhador era “9 anos”; • O cuidado com o desenvolvimento físico correspondente à idade cronológica. Em 1877, na Suíça, e em 1898, na Alemanha, surgem Leis responsabilizando o empregador por acidentes e doenças ocupacionais. Obs.: Hoje todas as nações do mundo civilizado tem uma legislação específica de proteção do trabalhador. Em 1906 surge o 1º Congresso Internacional de Doenças do Trabalho, ocorrido em Milão, quando então intensificam-se as trocas de experiências na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, estabelecendo-se estudos para a melhoria da normatização das atividades laborais na Europa. Em 1931, nos Estados Unidos da América, Henri Heinrich, um estudioso da área de seguros, introduziu pela 1ª vez a filosofia de acidentes com danos à propriedade. Sua investigação inicial apresentou como resultado a seguinte proporção:
  • 2. 1 Acidentes com lesão incapacitante 29 Acidentes com lesão não incapacitante 300 Acidentes sem lesão A partir de 1954, também nos Estados Unidos da América, Frank Bird Jr., outro estudioso da área de seguros, realizou um estudo sobre probabilidade de ocorrência de acidentes e incidentes a partir de uma análise envolvendo 297 empresas, 3 x 109 horas trabalhadas, 1.750.000 trabalhadores e 1.753.498 eventos; chegando a seguinte conclusão: 1 Acidentes com lesões graves 10 Acidentes com lesões leves 30 Acidentes com danos à propriedade 600 Incidentes sem danos à propriedade Com a experiência de Frank Bird surge um novo conceito de acidente: “Acidente é um evento não desejado, do qual resulta em dano físico a uma pessoa, danos à propriedade ou atrasos nas operações. Desse novo conceito surge o Controle de Perdas com os seguintes princípios básicos: • A gerência reconhecerá que a investigação da maioria dos acidentes da classe “Sem Lesões” ajudará a eliminar muitas práticas e condições inseguras, que por sua vez constituem as causas dos acidentes com lesões; • A gerência está interessada neste programa tanto como está em qualquer programa que reduza as perdas, que diminua os atrasos na produção e que aumente a qualidade com reflexos na diminuição do custo final do produto; • Ao aumentar o esforço para diminuir os acidentes com a possibilidade de reduzir seus custos constitui-se um veículo para justificar economicamente o quadro do pessoal de Segurança e Saúde Ocupacional; • O gerente é o elemento chave do programa de controle de perdas. Em 1970, no Canadá, John A. Flechter, prosseguindo a obra iniciada por Frank Bird, propôs o estabelecimento de programas de Controle Total de Perdas, objetivando reduzir ou eliminar todos os acidentes que possam interferir ou paralisar um sistema.
  • 3. Esses programas incluíam ações de prevenção de lesões, danos a equipamentos, instalações e materiais, incêndios, contaminação do ar entre outras. No entanto, analisando-se os programas de “Controle de Danos” de Frank Bird e “Controle Total de Perdas” de John A. Flechter, conclui-se que foram estabelecidos como sendo unicamente práticas administrativas, quando na realidade, os problemas inerentes à Prevenção de Perdas exigiam, e exigem, soluções técnicas. A partir de 1972, diante das exigências do aprofundamento do domínio dos riscos envolvidos nos processos industriais, criou-se uma nova mentalidade fundamentada nas análises de riscos de processos, este trabalho foi desenvolvido pelo engenheiro Willie Hammer, especialista em Segurança de Sistemas, cuja experiência na Força Aérea dos Estados Unidos da América e nos programas espaciais utilizando se de técnicas de análise de risco permitiu que após adaptação puderam ser aplicadas na industria. Na década de 80 grandes organizações implementaram as Análises de Risco, com programas de segurança do trabalho associados às técnicas de confiabilidade. A motivação para essa mudança veio de acidentes catastróficos, tais como: Flixborough, Seveso, Cidade do México, Bhopal, etc. Na década de 90 foi publicada a norma internacional elaborada pela ISO (International Standard Organization), a ISO 14.000, para o estabelecimento de padrões de controle do Meio Ambiente. Para a área de Segurança e Saúde Ocupacional grandes organizações adotaram a norma Inglesa BS 8800, que é um guia para o gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional e que foi publicada pelo HSE-UK. Em 1996 a ISO se reuniu com seus membros para ratificação da ISO 18.000 como sendo a norma padrão para as áreas de Segurança, Saúde e Meio Ambiente, utilizando-se dos requisitos da norma BS 8800. No entanto, houve veto dos Estados Unidos da América sob a alegação de que regulamentações referentes as áreas de Segurança e Saúde Ocupacional deveriam ser tratadas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), pois elas tratam dos problemas referentes às relações capital e trabalho. No entanto, diante da demanda de organizações que buscavam um modelo de gestão em Segurança e Saúde Ocupacional, as empresas certificadoras criaram as normas série OHSAS 18.000 (Occupational Health and Safety Analysis) Em 2007 as empresas certificadoras se reuniram para revisar a OHSAS 18.000 devido a necessidade de normatizar-se as análises de risco como obrigatoriedade para a certificação, mostrando que o controle dos riscos é um fator primordial na gestão de Segurança e Saúde Ocupacional. No próximo artigo estaremos abordando a evolução da Segurança e Saúde Ocupacional no Brasil. Autor : G. Arra, Eng. Químico e de Segurança, faz parte da equipe profissional da Processos - Soluções de Engenharia, empresa especializada nas disciplinas de segurança de processos, prevenção de perdas e proteção ambiental (www.processos.eng.br / processos@processos.eng.br)