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Boletim Técnico Nº 06



Uma Análise da Cadeia Produtiva de Cana-de-
Açúcar na Região Norte Fluminense


                                                 Referência: Abril/2002


                        Observatório Socioeconômico – um projeto do


                    Consórcio Universitário de
                    Pesquisa da Região Norte
                          Fluminense
                                     Um Convênio:

                   CEFET – UENF – UFF – UFRRJ – UNIVERSO
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Autor deste Boletim:
Hamilton Jorge de Azevedo
Engenheiro Agrônomo – UFRRJ


Equipe Técnica:
Romeu e Silva Neto
Coordenador dos Núcleos de Pesquisa – CEFET Campos
Ailton Mota de Carvalho
Professor do CCH – UENF
José Luis Vianna
Professor do Inst. de Ciências da Sociedade e Des. Regional – UFF
Hamilton Jorge de Azevedo
Engenheiro Agrônomo – UFRRJ
André Fernando Uébe Mansur
Coordenador do Curso de Administração - UNIVERSO


Estagiários:
Bruno Manhães Siqueira
Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos
Luciano Vasconcelos Fiúza
Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos
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Apresentação
        O Observatório Socioeconômico da Região Norte Fluminense foi criado em 02
de janeiro de 2001, através de uma parceria estabelecida entre o NEED – Núcleo de
Estudos em Estratégia e Desenvolvimento do CEFET – Centro Federal de Educação
Tecnológica de Campos e a UNIVERSO – Universidade Salgado Oliveira (Sede
Campos) representada pela Coordenação do Curso de Administração de Empresas.
        A partir de 02 de janeiro de 2002, também passaram a integrar e gerenciar o projeto
do Observatório a UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense representada
pelo CCH – Centro de Ciências do Homem, a UFF – Universidade Federal Fluminense
representada pelo Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional e a
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro representada pelo Setor de
Operações Agrícolas. Essas cinco instituições formam o Consórcio Universitário de
Pesquisa da Região Norte Fluminense. Esse consórcio, atualmente, desenvolve dois
trabalhos de pesquisa: O Projeto de Pesquisa intitulado Configuração do Mercado de
Trabalho da Região Norte Fluminense: Mapeamento das Cadeias Produtivas e Alternativas
de Geração de Empregos apoiado pela FAPERJ e o já mencionado Observatório
Socioeconômico da Região Norte Fluminense.
        O Observatório tem a finalidade principal de coletar, analisar e disponibilizar dados e
informações que possam dar suporte à tomada de decisões de agentes públicos e privados
e que auxiliem a concepção de políticas e estratégias municipais que venham a melhorar a
qualidade de vida da população. Seus estudos estão direcionados para as áreas de
emprego, renda, saúde, educação, habitação e saneamento dos municípios da Região
Norte Fluminense: Campos dos Goytacazes, Macaé, São João da Barra, Quissamã,
Conceição de Macabu, Carapebus, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e Cardoso
Moreira.
        De forma complementar, o Observatório também monitora indicadores sócio-
econômicos das principais cidades de cada uma das mesorregiões do Estado do Rio de
Janeiro: Noroeste – Itaperuna, Serrana – Petrópolis, Lagos – Cabo Frio, Sul – Volta
Redonda, e Metropolitana – Niterói, com a finalidade principal de verificar se uma eventual
tendência regional também se apresenta nas demais regiões do Estado.
        As fontes dos dados coletados são sempre oficiais para evitar problemas de
credibilidade. Dentre essas fontes, destacam-se: RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e
Emprego, DataSUS do Ministério da Saúde, INEP do Ministério da Educação, e CIDE do
Governo do Estado do Rio de Janeiro. Eventualmente, poderão ser utilizadas informações
provenientes das prefeituras locais, ou de suas secretarias, desde que devidamente
emitidas em documentos oficiais.
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Nossas Publicações:
     O Observatório tem as seguintes publicações à disposição da comunidade no site do
NEED/CEFET (www.cefetcampos.br/observatorio):


                          A Evolução do Emprego Formal na Região Norte Fluminense: Um
Boletim Técnico No. 1:
                          enfoque sobre Campos e Macaé.
Nota Técnica No. 1:       A Razão entre o Emprego Formal e a População Total das
                          Cidades de Porte Médio – uma referência para Campos e Macaé
                          em relação ao Rio de Janeiro e ao Brasil.
Boletim Técnico No. 2:    A avaliação da Qualidade do Emprego Formal na Região Norte e
                          Fluminense: Um enfoque sobre Campos e Macaé.
Boletim Técnico No. 3:    Investigação sobre o Perfil do Trabalho Informal em Campos: Um
                          enfoque sobre os Trabalhadores de Rua (camelôs).
Nota Técnica No. 2:       Um Estudo Comparativo entre a Qualidade do Emprego Formal e
                          o Trabalho Informal na Cidade de Campos – Um enfoque sobre o
                          Grau de Escolaridade e a Renda Mensal.
Boletim Técnico No. 4:    O Perfil da Educação na Região Norte Fluminense: Ensino
                          Infantil, Fundamental e Médio.
Boletim Técnico No. 5:    Favelas/Comunidades de Baixa Renda no Município de Campos
                          dos Goytacazes.


Endereço:             CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos
                      NEED – Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento
                      Observatório Sócio-Econômico da Região Norte Fluminense
                      Rua Dr. Siqueira, Nº 273
                      Parque Dom Bosco – Campos dos Goytacazes – RJ
                      CEP: 28.030-130

Telefone: (22) 2733-3255 Ramal 4229 / Site: www.cefetcampos.br/observatorio
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   Sumário                                                                     Pág.
1. Introdução                                                                  6
2. Panorama do setor sucroalcooleiro Nacional                                  9
3. O setor sucroalcooleiro no Brasil e sua relação com o Estado                16
4. Resumo histórico do setor canavieiro Brasileiro e a intervenção do Estado   17
   4.1 – Período compreendido entre o descobrimento do Brasil a 1930           17
   4.2 – Período compreendido entre 1930 a 1990                                21
5. Resumo Histórico da Agroindústria no Estado do Rio de Janeiro               24
6. Panorama do Setor sucroalcooleiro no Estado do Rio de Janeiro               30
7. Competitividade do complexo sucroalcooleiro                                 39
   7.1 – Diferenciação de produtos                                             40
   7.2 – Diversificação da produção                                            41
   7.3 – Especificação na produção de Açúcar e Álcool                          42
8. Competitividade do Setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro        44
9. Conclusões                                                                  48
10. Bibliografia Consultada                                                    49
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1 – Introdução

        A região Norte Fluminense tem como uma de suas principais atividades
econômica a indústria sucroalcooleira, tendo gerado no ano de 2000 cerca de 175
milhões de reais e cerca de 15.000 empregos diretos e indiretos. Essa atividade,
entretanto, nas últimas três décadas vem passando por um processo de declínio em
função de sucessivos planos econômicos, desvalorização da moeda nacional em
relação ao dólar, dívidas em dólar assumidas pelas unidades produtivas na
modernização das indústrias, fortes pressões competitivas impostas pelo mercado
que exige produtividade e qualidade a custos cada vez menores e falta de matéria
prima (cana) devido ao déficit hídrico característico da região. Em conseqüência
desses acontecimentos, muitas unidades produtoras fecharam e muitas estão
descapitalizadas sem condições de se auto-alavancarem.
        Pelo exposto não se pode esperar que estas empresas, trabalhando
individualmente num mercado altamente competitivo e globalizado, possam se tornar
competitivas com pequeno esforço. Assim um esforço conjunto torna-se necessário,
participando empresas, governo, universidades, sindicatos e todas as entidades
representativas, de forma a conseguirem as condições necessárias ao aumento de
competitividade das empresas do setor na região. Além disso, estas empresas
necessitam se articular entre si a fim de conquistarem as condições de
competitividade como economias de escala, poder de barganha na compra e na
venda, representatividade política, além de outros. Dessa forma este trabalho se
propõe a avaliar os modelos de articulação entre os diferentes agentes acima
citados de maneira a viabilizar a transferência de tecnologia para as empresas a fim
de aumentar a sua competitividade.
        A escolha do estudo da cadeia produtiva sucroalcooleira se deu em função da
sua grande capacidade de gerar empregos e renda na região, conforme citado
anteriormente. O setor agroindustrial é um dos que possui melhor relação
investimentos por empregos gerados. Estimativas do BNDES (1998) citado por Orioli
et al. (1999), apontam que para cada R$ 1 milhão de investimentos neste setor são
gerados 182 empregos. Para efeito comparativo observa-se que no caso da
construção civil para cada R$ 1 milhão de investimentos são gerados 48 empregos.
O estudo ainda revela que os custos por empregos gerados na agricultura irrigada
são de aproximadamente R$ 26.500,00, muito menor do que em vários outros
setores conforme podemos observar na tabela a seguir.

Setores                                                         Custo (R$)
Agricultura irrigada                                              26.500
Agricultura de sequeiro                                           37.000
Bens de consumo                                                   44.000
Turismo                                                           66.000
Telecomunicações                                                  78.000
Indústria em geral                                                83.000
Indústria automobilística                                         91.000
Bens de capital                                                   98.000
Pecuária                                                         100.000
Metalurgia                                                       145.000
Química                                                          220.000
Tabela I.1 – Custo de emprego em diversos setores
Fonte: MICT citado por Orioli et al.- 1999
7


         A agroindústria açucareira é a mais antiga atividade econômica do Brasil, está
relacionada aos principais eventos históricos do país. O Brasil é atualmente o maior
produtor mundial de cana-de-açúcar do mundo, empatando com a Índia. É
isoladamente o maior produtor de açúcar de álcool e o maior exportador mundial de
açúcar.
         O produtor de açúcar mais competitivo do mundo atualmente é o Brasil.
Segundo Waak e Neves (1998), as usinas mais eficientes no Brasil, tem um custo de
produção de US$ 170,00 por tonelada de açúcar, contra uma média de US$ 190,00
no Estado de São Paulo. Os países concorrentes mais próximos do Brasil são a
Austrália com um custo de produção de US$ 270/tonelada e a Tailândia com custo
de US$ 310/tonelada. Os custos de produção do açúcar na Europa e nos EUA são
superiores a US$ 500/tonelada, com a produção de açúcar fortemente subsidiada.
Dos países cujo índice de auto-suficiência supera 100% e são concorrentes do Brasil
no mercado exportador, destacam-se Austrália, Tailândia e Cuba.
         Em termos de desempenho recente no agrobusiness brasileiro o açúcar é um
dos produtos de maior sucesso. Houve um salto na produção de açúcar nacional
que passou de 7,8 milhões de toneladas na safra de 1985/86 para mais de 19,4
milhões de toneladas em 1999/00. Segundo Pinazza e Alimandro (2001) as
exportações de açúcar do brasileiro a partir da safra 1995/96 saltou de 8% para 30%
do total comercializado no mercado internacional.
         A cadeia de produção sucroalcooleira tem como principais produtos e
subprodutos da cana-de-açúcar a água de lavagem, o bagaço, folhas e pontas e o
caldo. Desses a água de lavagem pode ser usada para produção de biogáz e
fertirrigação. O bagaço é utilizado para produção de energia (vapor/eletricidade),
combustível (natural, briquetado, peletizado, enfardado), hidrólise (rações, furfural,
lignina), polpa de papel, celulose e aglomerados. As folhas e pontas podem ser
usadas como forragem e as mesmas aplicações do bagaço. O caldo tem como uso
mais nobre em ordem de importância a produção de açúcar, álcool melaço e outras
fermentações.
         Os principais produtos e subprodutos do álcool são o etanol, a vinhaça o gás
carbônico, o óleo de fúsel, recuperação de leveduras. O principal uso do etanol por
ordem de importância no Brasil é o de combustível veicular, indutor de octanagem,
solvente etc. Dentro da alcoolquímica o etanol pode ser usado na forma desidratada
para produção de etileno, PEVC, polietileno, poliestireno, óxido de etileno
(sulfactantes, poliésteres e glicóis) e na forma desidrogenada para produção de
acetaldeído que por sua vez entra na produção de crotonaldeído (butanol, octanol),
ácido acético (anidro acético, acetatos), vários outros (ácido panacético, pentaeritritol
etc.). Como gás carbônico é usado na produção de gelo seco, bicarbonato de
amônio. Como óleo de fúsel é usado na produção de álcoois amílico, isoamílico,
propílico, etc. Na recuperação de leveduras pode ser usado na fermentação alcólica
e na nutrição animal.
         Já os principais usos produtos e subprodutos do açúcar são o consumo do
açúcar direto, a indústria sucroquímica produzindo glicose, frutose, ácido oxálico,
polióis (solventes e polióis), glicerina, ácido levulínico, ácido arabiônico, sorbitol,
manitol, sacarose e derivados (octobenzoato, acetato, isobutirato, ésteres graxos,
octacetato, et,), sucralose. Além dos produtos anteriormente citados existe
fermentações diversas produzindo acetona butanol, álcool dacetona, difenol
propano, metil metacrilato, além de fermentações finas como antibióticos, ácidos
orgânicos, vitaminas, ênzimas industriais, aminoácidos, e insumos biológicos.
8


       A descrição anterior dos produtos e subprodutos da cadeia sucroalcooleira
tem a finalidade de mostrar a ampla potencialidade do complexo, pois poderão vir a
ser uma importante alternativa estratégica para o setor.
       A abordagem econômica mais tradicional centra o seu foco na concorrência
entre empresas de um setor econômico. No estudo das cadeias produtivas,
conforme proposto neste estudo, a análise possibilita uma visão integrada de
setores que trabalham e forma inter-relacionada. Ao se trabalhar em um nível
intersetorial, análise de agrupamentos dá especial relevância às diferentes formas
de interdependência entre os setores, Hauguenauer e Prochinik (1998). Os mesmos
autores definem uma cadeia produtiva de forma simplificada, como uma seqüência
de setores econômicos, unida entre si por relações significativas de compra e venda,
havendo uma divisão do trabalho entre estes setores, cada um realizando uma
etapa do processo.
       A cadeia produtiva sucroalcooleira já foi bem definida por diversos autores,
dentre os quais podemos destacar Hauguenauer e Prochnik (2000) e Waack e
Neves (1998). Dessa forma não foi dada muita ênfase, neste estudo, a delimitação
da cadeia produtiva propriamente dita e sim na interação regional do setor
sucroalcooleiro na cadeia produtiva canavieira global, visando estabelecer pontos
fracos e potencialidades a serem desenvolvidas.
       A seguir é apresentado um fluxograma da cadeia produtiva sucroalcooleira
segundo Waack e Neves (1998).
SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA CANA-DE-AÇÚCAR                                                               8

                                                             EXPORTAÇÃO                                                    CONSUMIDOR
                                                                                     REFINARIA       DISTRIBUIÇÃO
                                          VHP                 TRADINGS                                                        FINAL

                                                          IND. ALIMENTOS (MENOR
                                                                                                     DISTRIBUIÇÃO          CONSUMIDOR
                                                                QUALIDADE)
                                        SUPERIOR                                                                              FINAL
                        AÇÚCAR
                                                           REFINARIA

                                                               INDÚSTRIA
                                                                                                       IND. ALIMENTOS
                                                             SUCROQUÍMICA

                                                          IND. ALIMENTOS (MAIOR
                                                                QUALIDADE)
                                       ESPECIAL                                                                            CONSUMIDOR
                                                                                                      DISTRIBUIÇÃO
                                        EXTRA                  REFINARIA                                                      FINAL
            PRODUÇÃO                                        EMPACOTAMENTO
             PRÓPRIA
                                                             EXPORTAÇÃO
                                                              TRADINGS
INSUMOS



                                       ANIDRO       INDÚSTRIA COMBUSTÍVEIS              INDÚSTRIA                          CONSUMIDOR
                                                                                                           DISTRIBUIÇÃO
                                                        ALCOOLQUÍMICA                TRANSFORMAÇÃO                            FINAL
          PRODUÇÃO DE
            TERCEIROS                                       INDÚSTRIA
                        ÁLCOOL                             COMBUSTÍVEIS
                                       HIDRATADO
                                                           INDÚSTRIA                    INDÚSTRIA                           CONSUMIDOR
                                                                                                            DISTRIBUIÇÃO
                                                            QUÍMICA                  TRANSFORMAÇÃO                             FINAL

                                                       INDÚSTRIA ALIMENTOS              INDÚSTRIA
           USINA                       NEUTRO                                                               DISTRIBUIÇÃO   CONSUMIDOR
                                                        COSMÉTICOS QUÍMICA           TRANSFORMAÇÃO                            FINAL
                                                          FARMACÊUTICA




                                                          GÁS NATURAL
                                        VINHAÇA                                                                            CONSUMIDOR
                                                                                                      DISTRIBUIÇÃO
                                                           FERTILIZANTES                                                      FINAL

                                                              IND. ALIMENTOS
                        SUBPRODUTOS      LEVEDURA                                                                          CONSUMIDOR
                                                                                                      DISTRIBUIÇÃO
                                                              IND. RAÇÃO ANIMAL                                               FINAL
                                                            COMBUSTÍVEL (CALDEIRAS
                                                                   VAPOR)

                                                              COGERAÇÃO ENERGIA                                            CONSUMIDOR
                                         BAGAÇO                                                      DISTRIBUIÇÃO             FINAL
                                                           INDÚSTRIA PAPEL E CELULOSE
                                                                  COMPENSADO
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2 – Panorama do Setor Sucroalcooleiro Nacional

     O Brasil é o maior e mais eficiente produtor de açúcar e álcool do mundo. Num
mercado efetivamente livre e com economia globalizada estaríamos livres para
crescer e proporcionar ao país um número cada vez mais significativos de empregos
e divisas, bens fundamentais para o fortalecimento da economia de qualquer nação,
Carvalho (2001, a).
     Entretanto o chamado livre comércio globalizado, é extremamente distorcido e
antiético, onde os países mais ricos do mundo pregam livre comércio, explorando os
mercados alheios, e em contraposição protegem os seus mercado interno de todas
as formas.
        O setor sucroalcooleiro tem grande importância econômica e social no Brasil
desde o seu período colonial. A cadeia produtiva brasileira da cana de açúcar tem,
segundo Carvalho (1997), uma grande dimensão, quando analisado segundo o
conceito dos recursos financeiros que movimenta a cada safra. Na safra 96/97 a
cadeia produtiva movimentou em insumos modernos (agrícola e industrial),
produção agrícola, industrial, comercialização e impostos cerca de R$ 10 bilhões,
sendo que R$ 0,82 bilhões em insumos modernos, R$ 2,86 bilhões na produção
agrícola, R$ 1,19 bilhão na produção industrial, R$ 2,12 bilhões na comercialização
e R$ 2,80 bilhões em impostos.
        O setor sucroalcooleiro nacional gerou em 2000, cerca de 1,5 milhão de
empregos diretos e indiretos, sendo 613 mil empregos diretos e 966 mil empregos
indiretos, distribuídos por quase todos os estados brasileiros. Na tabela 1 é
apresentado o número de empregos gerado pelo setor (PNAD/IBGE/DPE/DEREN,
1996). Na Tabela 2 é apresentado o nível de escolaridade do trabalhador no setor
sucroalcooleiro para as diferentes categorias, ou seja na produção da cana, do
álcool e do açúcar, segundo dados do PNAD/IBGE (1996). É surpreendente
observar as diferenças de nível de escolaridade das distintas categorias do setor. Na
categoria produções de cana, 39 % dos trabalhadores têm menos de um ano de
instrução; no setor industrial esse percentual fica entre 11 e 13 %. Todavia o nível
de escolaridade de modo geral é baixo.

Subsetor    Emprego Regiões                                             Total


                          N        NE       CO         SE        S
Cana                    2.043   249.600   12.072    194.781    52.270    510.766
Álcool       Direto      205     25.007    1.219     19.349    5.247      51.027
Açúcar                   204     24.950    1.207     19.381    5.240      50.982
Subtotais               2.452   299.557   14.498    233.511    62.757    612.775
Cana                     290     36.809    6.162     58.289    14.180    115.730
Álcool       Indireto   1.831   155.497   20.865    189.828    43.663    411.684
Açúcar                   236    213.432   13.896    182.999    27.684    438.274
Subtotais               2.357   405.738   40.923    431.116    85.527    965.688
Total                   4.809   705.295   55.421    664.627 148.284 1.578.436
Tabela II.1 – Número de empregos gerados pela cadeia produtiva da cana de açúcar
            no Brasil e regiões
Fonte: IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001
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          Sem           1 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 anos Total
          instrução e anos        anos      anos    anos        ou mais
           menos de
          1 ano
Cana           39         31         25         4        1          0       100
Álcool         13         11         31        14       23          8       100
Açúcar         11         17         35        17       16          3       100
Tabela II.2 – Nível de escolaridade dos empregos diretos no setor sucroalcooleiro
            em anos de estudo, valor percentual.
Fonte: PNAD, IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001

        São processados anualmente, cerca de 270 milhões de toneladas de cana no
Brasil para produção de açúcar e álcool (anidro e hidratado). Para isso são
cultivados 5 milhões de hectare nas regiões Nordeste e Centro-Sul. A título de
exemplo, a produção cana álcool e açúcar do Estado de São Paulo, que representa
hoje em torno de 60 % da produção de nacional, tem uma eficiência de produção
entre 20 e 30 % maior que o mais eficiente produtor mundial de álcool e açúcar de
cana, que é a Austrália. Os demais países produtores de açúcar de cana, beterraba
ou frutose de milho estão ainda mais distantes e em condições normais, não tem
condições de competir com o Brasil.
        A alta eficiência de produção alcançada pelo produtor brasileiro vem de uma
longa tradição na produção de cana e açúcar (cinco séculos), esforço conjunto em
pesquisa (setor privado e governo), criando novas variedades resistentes a pragas e
doenças, maior teor de sacarose e aclimatadas a diferentes tipos de solo e
condições climáticas, numa evolução que tende a se acelerar com o advento do
projeto genoma da cana-de-açúcar. Outro fator importante neste contexto é o fato do
país produzir açúcar e álcool, o que permite flexibilidade associada a uma grande
capacidade de produção, o que torna a qualidade do nosso açúcar insuperável.
Através do desenvolvimento de um terceiro produto, que é a co-geração de energia
elétrica por meio do bagaço de cana, a nossa competitividade terá um crescimento
ampliado.
        A capacidade nacional de expansão da cultura da cana-de-açúcar é muito
grande, e após o grande crescimento da produção de álcool e da pesquisa, nas
últimas três décadas, a cana entrou no cerrado brasileiro, o que permite vislumbrar
uma área teoricamente potencial de cultivo de mais de 70 milhões de hectares,
segundo Carvalho (2001, a).
        Hoje o Brasil não possui nenhuma restrição para a produção de álcool e
açúcar, a intervenção do Estado foi eliminada ao longo da década de 90, não mais
existindo obstáculos para produzir álcool e açúcar. Com a desregulamentação do
setor, qualquer empresário está livre para produzir, em condições onde nenhuma
outra cultura é mais rentável, mesmo nas condições mais adversas de mercado.
        Com todas essas condições favoráveis, quando ocorre uma alta internacional
do preço do açúcar, há uma rápida expansão da produção de açúcar, o que
ocasiona excesso do produto quando a demanda diminui, não dando para evitar a
superprodução e seus efeitos danosos para o setor. Esses movimentos de
alternados de produção e de preço do produto são estruturais, e não é a toa que o
Estado sempre controlou rigidamente esse setor.
        Como não é possível eliminar facilmente esse fenômeno, há que se trabalhar
para estabelecer um equilíbrio entre produção e demanda. Segundo Carvalho
11


(2001) isso pode ser possível via auto-regulação do setor e, principalmente, pela
abertura de novos mercados.
       No mercado internacional nenhum produto é tão protegido quanto o açúcar,
tanto no número de países que o praticam como as diferentes formas em que é
praticado, tais como subsídios a produção e exportação, cotas, barreiras
fitossanitárias etc.
       Os maiores mercados consumidores, tais como EUA, Japão, União Européia,
é impossível entrar com o produto livremente. Os valores do custo de produção nos
EUA, União Européia e Japão chegam a mais de três, quatro e seis vezes,
respectivamente, ao do preço internacional, sendo os custos desses países
altamente subsidiados.
       Esses mercados devem ser conquistados a todo custo. É inadmissível que a
abertura do comércio internacional não se dê com a inclusão do açúcar, onde o país
é competitivo e tem condições de globalizar, em vez de ser globalizado, como é em
tantas outras áreas. A derrubada dessas barreiras comerciais só se dará no âmbito
da Organização Mundial de Comércio e não serão obtidas em curto prazo, exigindo
negociações bastante complexas.
       Enquanto isso não é factível em curto prazo, a ampliação do mercado do
álcool é a opção que se têm, tanto na forma de combustível carburante (álcool
hidratado), como aditivo para oxigenação de gasolina (álcool anidro). Além do Brasil
e dos EUA (maiores produtores mundiais de álcool etanol), há indicativos que
mostram a posição dos diferentes países e seus mecanismos para a viabilização do
etanol como aditivo da gasolina. Existe hoje uma crescente adesão do Canadá e
Suécia para carros a álcool ou carros flexíveis, movidos a álcool e gasolina em
diferentes proporções. Recentemente o Japão decidiu substituir o MTBE (Metil Tercil
Butil Éter, aditivo da gasolina) pelo etanol. Hoje exista um otimismo em relação aos
rumos que estão tomando o mercado do álcool, imaginando-se que num curto
espaço de tempo o etanol possa a vir transformar-se numa commodity internacional.
Os efeitos danosos de aditivos usados comumente na gasolina, como o MTBE,
derivado do petróleo considerado cancerígeno e poluidor dos lençóis freáticos pela
Agencia de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, além de questões ambientais
ligadas à necessidade da redução do efeito estufa dão relevância ao etanol pelos
seguintes motivos: o etanol é um produto biodegradável, ajuda a diminuir a poluição
local pelo resultado de redução das emissões da gasolina e do poder de reduzir a
poluição global uma vez que, o produto (álcool etanol) e o processo de produção
(álcool de cana), contribui para a diminuição do efeito estufa, ao substituir
combustível proveniente do petróleo e seqüestrar carbono da atmosfera.
       A produção de cana, álcool e açúcar no Brasil passaram por grandes
mudanças nas últimas três décadas. Com a criação do Proálcool nos anos 70 houve
uma grande expansão na sua capacidade produtiva. De 1975 a 1987 houve um
veloz crescimento na produção de cana, o que pode ser observado na Figura 1,
onde é apresentada a evolução da produção de cana, em mil toneladas, entre as
safras 70/71 e 00/01. Observa-se também que em meados dos anos 90 houve um
novo salto na produção de cana, com o setor já se reacomodando a
desregulamentação do setor.
12




                                         PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01


                               400.000




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         315.641
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        302.169

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        310.049
                                                                                                                                                                                                                                                                                                         285.664
                               350.000
    Cana-de-açúcar (1000 TM)




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      258.500
                                                                                                                                                                                                                                                                                                     251.346
                                                                                                                                                                                                                                                                                          240.869
                               300.000




                                                                                                                                                                                                                                                              228.791
                                                                                                                                                                                                 227.873



                                                                                                                                                                                                                                        223.410
                                                                                                                                                                                                224.364




                                                                                                                                                                                                                                                             216.963
                                                                                                                                                                                                224.496




                                                                                                                                                                                                                                                             223.991
                                                                                                                                                                                                                                        222.163
                                                                                                                                                                                                221.339
                                                                                                                                                                                     202.765
                                                                                                                                                   197.995
                               250.000




                                                                                                                                               166.753
                                                                                                                                              153.858
                                                                                                                                             148.651
                                                                                                                          138.899
                               200.000


                                                                                                                         129.145
                                                                                                               120.082
                                                                                 103.173
                                                              95.074



                                                                                 91.525
                                                                                 95.624


                               150.000
                                                             91.994
                                         79.753
                                         79.595




                               100.000
                                50.000
                                    0
                                         1970/71
                                                   1971/72
                                                             1972/73
                                                                       1973/74
                                                                                 1974/75
                                                                                           1975/76
                                                                                                     1976/77
                                                                                                               1977/78
                                                                                                                         1978/79
                                                                                                                                   1979/80
                                                                                                                                             1980/81
                                                                                                                                                       1981/82
                                                                                                                                                                 1982/83
                                                                                                                                                                           1983/84
                                                                                                                                                                                      1984/85
                                                                                                                                                                                                1985/86
                                                                                                                                                                                                          1986/87
                                                                                                                                                                                                                    1987/88
                                                                                                                                                                                                                              1988/89
                                                                                                                                                                                                                                        1989/90
                                                                                                                                                                                                                                                  1990/91
                                                                                                                                                                                                                                                            1991/92
                                                                                                                                                                                                                                                                      1992/93
                                                                                                                                                                                                                                                                                1993/94
                                                                                                                                                                                                                                                                                          1994/95
                                                                                                                                                                                                                                                                                                    1995/96
                                                                                                                                                                                                                                                                                                              1996/97
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        1997/98
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  1998/99
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            1999/00
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      2000/01
                                                                                                                                                                                     Safras

Gráfico II.1 - Evolução da produção de cana-de-açúcar no Brasil entre as safras 71/72 à 00/01
Fonte: Datagro 2000, número 24, citado por http://www.udop.com.br

     No Gráfico II.1 é apresentada a evolução de produção de álcool (hidratado e
anidro em m3). Observa-se que a partir da década de 80 a produção de álcool
hidratado teve um crescimento vertiginoso estabilizando-se entre 1990 e 1998, a
partir da qual a produção começou a diminuir. Segundo Pinasa e Alimandro (2001),
o carro movido a álcool representava em 1988, 90% das vendas no mercado
interno. Desde os meados dos anos 80, a não correção dos preços de energia no
país, inclusive do álcool, gerou desequilíbrio entre a oferta e a demanda, pela
estagnação da oferta. No caso do setor sucroalcooleiro, mesmo sem exportar,
houve o problema das faltas localizadas de álcool, pela limitação de matéria prima e
pelo crescimento da demanda. Surgiu uma crise de abastecimento doméstico de
álcool. O episódio deixou seqüelas. A indústria automobilística reduziu seus projetos
de pesquisa e desenvolvimento do carro a álcool e consumidor caiu na
desconfiança. A participação das vendas de veículos a álcool no total teve queda
súbita. No período Collor houve uma retomada das vendas dos carros a álcool,
chegando a 20% do total comercializado ao mês. Após 1994 as vendas despencam
para 1% ao mês. Nos anos 90 a produção de álcool era elevada e com a queda de
venda de veículos a álcool, o governo decretou uma lei em 1993, que fixou em 22%
a mistura do álcool anidro à gasolina, o que compensou em parte a queda do
consumo de álcool hidratado.
13



                                                           PRODUÇÃO DE ÁLCOOL ANIDRO E HIDRATADO 70/71 a 00/01


                     14000




                                                                                                                                                                                                                                                                  10.768
                                                                                                                                                                                                                                                      10.474
                                                                                                                                                                                                                                            10.557
                     12000




                                                                                                                                                                                                                                9.978




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   9.720
                                                                                                                                                                                                                                                                                                  9.825

                                                                                                                                                                                                                                                                                                             9.631
                                                                                                                                                                                                                                                                             9.470




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        9.634
                                                                                                                                                                                                                     9.474




                                                                                                                                                                                                                                                                                       8.774
                                                                                                                                                                                              8.612
                                                                                                                                                                                                         8.338




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              8.236
                     10000
  Álcool (1000 m3)




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         6.934
                                                                                                                                                                                  7.150
                      8000




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     5.990
                                                                                                                                                                     5.392




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               5.692
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    5.689
                                                                                                                                                          3.550




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         4.600
                      6000




                                                                                                                                              1.413
                                                                                                                                   2.104




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            6.134
                                                                                                                                                           2.274




                                                                                                                                                                                               3.208




                                                                                                                                                                                                                                                                                                             3.040
                                                                                                                                                                                                                                                                                                   2.867
                                                                                                                        2.712




                                                                                                                                                                                                                                                                                        2.523
                                                                                                                                               2.750
                      4000




                                                                                                                                                                        2.469




                                                                                                                                                                                                          2.168
                                                                                                                                    1.602




                                                                                                                                                                                   2.102
                                                                                                              2.096




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    4.941
                                                                                                                                                                                                                                                                             2.216
                                                                                                                                                                                                                                                                   1.984
                                                                                                                                                                                                                       1.983

                                                                                                                                                                                                                                    1.726
                                                                                                    1.777




                                                                                                                                                                                                                                             1.341
                                                                                                                                                                                                                                                       1.309
                             252



                                                    389




                                                                                233

                                                                                           300
                                                           306
                                        390




                                                                     217




                      2000
                                                                                                                        671
                                                                                 323




                                                                                                              395
                              385




                                                                                           364
                                                                      409




                                                                                                    293
                                                           260
                                                    292
                                       223




                         0
                             1970/71

                                       1971/72

                                                 1972/73

                                                           1973/74

                                                                      1974/75

                                                                                1975/76

                                                                                          1976/77

                                                                                                    1977/78

                                                                                                              1978/79

                                                                                                                         1979/80

                                                                                                                                    1980/81

                                                                                                                                                1981/82

                                                                                                                                                           1982/83

                                                                                                                                                                        1983/84

                                                                                                                                                                                    1984/85

                                                                                                                                                                                               1985/86

                                                                                                                                                                                                          1986/87

                                                                                                                                                                                                                      1987/88

                                                                                                                                                                                                                                  1988/89

                                                                                                                                                                                                                                            1989/90

                                                                                                                                                                                                                                                        1990/91

                                                                                                                                                                                                                                                                   1991/92

                                                                                                                                                                                                                                                                             1992/93

                                                                                                                                                                                                                                                                                        1993/94

                                                                                                                                                                                                                                                                                                   1994/95

                                                                                                                                                                                                                                                                                                              1995/96

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         1996/97

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    1997/98

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               1998/99

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         1999/00

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     2000/01
                                                                                                                                                                                   Safras
                                                                                                                                    Álcool Anidro                                                                   Álcool Hidratado

Gráfico II.2 - Evolução da produção de álcool anidro e hidratado no Brasil entre as
safras de 70/71 à 00/01.
Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.

     A produção de álcool hidratado nacional representa ainda cerca de 25% do total
de cana esmagada, que se convertida em açúcar, fariam o preço internacional do
açúcar ter uma brusca queda. O preço internacional do açúcar sofreu muita pressão
nos últimos 5 anos, em virtude da maior exportação brasileira de açúcar.
Recentemente (1999), o excesso de produção de álcool trouxe uma brusca queda
nos preços, pois com a desregulamentação do setor, o Estado não mais entrevêem
na determinação de preços e quantidades a ser produzida. No Gráfico II.2 são
apresentadas a evolução da produção brasileira de automóveis a álcool, entre os
anos 1979 e 1999, bem como a relação percentual entre a produção de automóveis
a álcool e a produção de automóveis a álcool mais a gasolina. Observa-se pela
figura, que a produção de veículos a álcool atingiu em 1986 o seu maior valor com
619,9 mil veículos, o que representou 76,4% da produção nacional de automóveis.
Atualmente a produção de veículos a álcool alcançou em 1999 a marca de 10,2 mil
veículos, em função do estímulo dos baixos preços do álcool, o que representou
cerca de 0,9% da produção.
14




                                                                                 PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS À ÁLCOOL
                                      900                                                                                                                                                                                                                              100%




                                                                                                           76,4%
                                                                                                  75,9%
                                                                                                                                                                                                                                                                       90%




                                                                                 75,1%
                                      800




                                                                                          74,0%
 Automóveis à álcool (mil veículos)




                                                                                                                                                                                                                                                                              % (Álcool/Álcool+Gasolina)
                                                                                                                                                                                                                                                                       80%




                                                                                                                           493,0 63,1%
                                                                                                           619,9
                                      700




                                                                                                                   58,9%
                                                                                                   573,4
                                                                                  549,6
                                                                                                                                                                                                                                                                       70%
                                      600


                                                                                          496,7
                                                                         34,5%




                                                                                                                                          47,4%
                                                                                                                                                                                                                                                                       60%
                                      500
                                                   25,6%




                                                                                                                   388,3




                                                                                                                                                                                            227,7 20,9%
                                                           120,9 20,6%




                                                                                                                                                                                                                                                                       50%




                                                                                                                                          345,6




                                                                                                                                                                              163,1 20,1%
                                                                                                                                                                128,9 18,3%
                                                                         214,4



                                      400




                                                                                                                                                                                                          9,7%
                                                                                                                                                                                                                                                                       40%




                                                                                                                                                   71,5 10,8%
                                                   239,3




                                      300
                                                                                                                                                                                                                                                                       30%




                                                                                                                                                                                                                  32,6 2,5%
                                            0,4%




                                                                                                                                                                                                          120,2




                                                                                                                                                                                                                                                           10,2 0,9%
                                      200




                                                                                                                                                                                                                              6,4 0,4%

                                                                                                                                                                                                                                         1,1 0,1%

                                                                                                                                                                                                                                                    0,1%
                                                                                                                                                                                                                                                                       20%
                                      100
                                            3,3




                                                                                                                                                                                                                                                                       10%




                                                                                                                                                                                                                                                    1,2
                                       0                                                                                                                                                                                                                               0%
                                            1979

                                                   1980

                                                            1981

                                                                          1982

                                                                                 1983

                                                                                          1984

                                                                                                  1985

                                                                                                           1986

                                                                                                                   1987

                                                                                                                           1988

                                                                                                                                          1989

                                                                                                                                                  1990

                                                                                                                                                                1991

                                                                                                                                                                                1992

                                                                                                                                                                                            1993

                                                                                                                                                                                                           1994

                                                                                                                                                                                                                  1995

                                                                                                                                                                                                                              1996

                                                                                                                                                                                                                                         1997

                                                                                                                                                                                                                                                    1998

                                                                                                                                                                                                                                                            1999
                                                                                                                                         Anos
                                                                                  Veículos a álcool                                       % Álcool/Gasolina+Álcool

Gráfico II.3 – Evolução da produção de automóveis à álcool e a relação percentual
             entre veículos à álcool e veículos à gasolina mais à álcool.
Fonte: ANFAVEA – Anuário Estatístico da Indústria Brasileira 2000 e Anuário da
             Agencia Nacional de Petróleo 2001.

     Segundo a análise de Pinazza e Alimandro (2001), uma combinação de alta de
preços nos derivados de petróleo com excesso de produção interna de álcool pode
fazer com que a estrutura de preços relativos favoreça o consumo de álcool
carburante. Sendo o que aconteceu de julho a dezembro de 1999, quando houve um
pequeno aumento de 400 para 1700 unidades nas vendas de carro a álcool, um
indício de que, se o preço da gasolina no mercado interno se mantiver em ascensão,
a retomada das vendas de carros movidos a álcool hidratado será uma hipótese
plausível. A elevação do consumo interno criaria condições para a implantação do
livre mercado. Segundo os mesmos autores, quando o preço do álcool representar
cerca de 75% do valor da gasolina, cria uma indiferença no consumidor em relação
ao seu consumo.
     Entre os anos 1975 1990, enquanto a produção cana e de álcool tiveram um
crescimento significativo, a produção de açúcar teve incrementos de produção bem
menores (Gráfico II.3). A partir de 1995/96 houve um surpreendente aumento de
produção de açúcar, cuja comercialização foi voltada principalmente ao mercado
externo. Segundo Pinazza e Alimandro (2001), nesse período a participação do
açúcar brasileiro no mercado internacional saltou de 8% para 30% do total
comercializado. Esse brusco crescimento da exportação de açúcar se deu num
período de queda de preços no mercado internacional. A crescente oferta brasileira
afetou a cotação externa da commodity.
15




                                                   PRODUÇÃO DE AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01

                      25.000




                                                                                                                                                                                                                                        19.380
                                                                                                                                                                                                                             17.961
                      20.000




                                                                                                                                                                                                                                                  15.700
   Açúcar (1000 TM)




                                                                                                                                                                                                                    14.845
                                                                                                                                                                                                                  13.467
                                                                                                                                                                                                         13.235
                                                                                                                                                                                              11.696
                      15.000




                                                                                                                                                                                    9.326
                                                                                                                             8.849




                                                                                                                                                                                   9.249
                                                                                                                     9.086
                                                                                                   8.843




                                                                                                                                        8.157




                                                                                                                                                                                  8.665
                                                                               8.306




                                                                                                                                                            8.070
                                                                                                                                                    7.983
                                                                                                 7.912




                                                                                                                                       7.819
                                                                                                 7.844




                                                                                                                                                                      7.301
                                                                                                                                                                      7.365
                                                                                         7.476
                                                                                        6.980
                                                             6.851
                                                            6.673

                      10.000
                                                   6.680

                                                            6.017
                                         5.926
                                5.081
                                5.070




                       5.000

                          0
                               1970/71


                                         1972/73


                                                           1974/75


                                                                     1976/77


                                                                                       1978/79


                                                                                                 1980/81


                                                                                                           1982/83


                                                                                                                             1984/85


                                                                                                                                          1986/87


                                                                                                                                                            1988/89


                                                                                                                                                                        1990/91


                                                                                                                                                                                    1992/93


                                                                                                                                                                                               1994/95


                                                                                                                                                                                                                  1996/97


                                                                                                                                                                                                                              1998/99


                                                                                                                                                                                                                                                 2000/01
                                                                                                                             Safras

Gráfico II.4 - Evolução da produção de açúcar no Brasil entre as safras 70/71 à
00/01
Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.

    No Gráfico II.4 é apresentado o percentual de conversão em açúcar do total de
cana colhida no Brasil entre as safras 70/71 a 00/01. Observa-se pela figura, que na
década de 70 o percentual de cana usada para produzir açúcar era maior que 80%,
passando de 30 a 35% entre os anos de 85 e 95 e subindo a mais de 43% a partir
de 1998, sinalizando a opção do produtor pelo açúcar que estava com seus preços
mais favoráveis a comercialização que o álcool.
16



                                                % DE CANA CONVERTIDA EM AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01


                               100%




                                                            86%
                                                 87%
                                                           86%

                                                           86%
                                                83%
                                       83%
                                       82%
                               90%




                                                                              76%
       Porcentagem de açúcar



                               80%




                                                                                        63%
                               70%




                                                                                     54%
                                                                                                   55%
                                                                                                  53%
                               60%




                                                                                                                                                                                                              46%
                                                                                                                                                                                                                     45%
                                                                                                47%




                                                                                                                                                                                                   43%
                                                                                              40%




                                                                                                                                                                                      38%

                                                                                                                                                                                                 36%
                                                                                                                                                                                      36%
                               50%




                                                                                                                  36%




                                                                                                                                                                            35%
                                                                                                                                                                   33%
                                                                                                                                    31%




                                                                                                                                                                  32%
                                                                                                                                                                 29%
                                                                                                                                   29%
                                                                                                                                   29%
                                                                                                                            28%




                                                                                                                                                      27%
                               40%




                                                                                                                                                      27%
                               30%
                               20%
                               10%
                                0%
                                      1970/71

                                                1972/73

                                                          1974/75

                                                                    1976/77

                                                                                    1978/79

                                                                                              1980/81

                                                                                                        1982/83

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Gráfico II.5 - Percentagem de cana convertida em açúcar das safras 70/71 à 00/01.
       Fonte: Datagro 2000 número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.



 3 – O Setor Sucroalcooleiro no Brasil e sua Relação com o Estado
         O Sistema Agroindustrial da cana-de-açúcar teve seu desenvolvimento
 histórico, atrelado à participação do Estado na definição de políticas agrícolas e
 industriais e de grupos econômicos atuando junto ao Estado, buscando acumular
 privilégios ou melhorar sua posição em relação aos concorrentes. Dessa forma, o
 Estado participou do setor como parceiro na regulação ou na atuação em diferentes
 graus.
         Existe uma relação direta entre a evolução histórica e os condicionantes
 culturais de uma sociedade. Esta formação enseja uma determinada relação entre o
 Estado e o desenvolvimento econômico de uma nação. Na realidade, o conceito de
 Estado é uma convenção acordada pela população, organizada segundo suas
 formas de representação, que elege procedimentos e rotinas que visam atingir um
 determinado nível de bem-estar (BELIK et al. 1998).
         Durante os últimos 70 anos o Sistema Agroindustrial sucroalcooleiro brasileiro
 é marcado pela intervenção do Estado e em virtude dessa mediação, o setor sofreu
 transformações no padrão tecnológico e na distribuição espacial desta cadeia
 agroindustrial. A estrutura produtiva influenciada pela ação do Estado permanece
 muito diferenciada entre as regiões Nordeste e Centro-Sul do país. Entretanto a
 partir dos anos 90, houve uma inversão nessa tendência, diminuindo rapidamente
 essa interferência do Estado no setor, com a desregulamentação e com a saída do
 governo na atividade de financiamentos, subsídios, estímulo e controle da produção
 e comercialização.
         O setor sucroalcooleiro historicamente apresentou problemas de auto-
 regulação. Assim o Estado e seu papel mediador foram fundamentais para
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  • 1. Boletim Técnico Nº 06 Uma Análise da Cadeia Produtiva de Cana-de- Açúcar na Região Norte Fluminense Referência: Abril/2002 Observatório Socioeconômico – um projeto do Consórcio Universitário de Pesquisa da Região Norte Fluminense Um Convênio: CEFET – UENF – UFF – UFRRJ – UNIVERSO
  • 2. 2 Autor deste Boletim: Hamilton Jorge de Azevedo Engenheiro Agrônomo – UFRRJ Equipe Técnica: Romeu e Silva Neto Coordenador dos Núcleos de Pesquisa – CEFET Campos Ailton Mota de Carvalho Professor do CCH – UENF José Luis Vianna Professor do Inst. de Ciências da Sociedade e Des. Regional – UFF Hamilton Jorge de Azevedo Engenheiro Agrônomo – UFRRJ André Fernando Uébe Mansur Coordenador do Curso de Administração - UNIVERSO Estagiários: Bruno Manhães Siqueira Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos Luciano Vasconcelos Fiúza Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos
  • 3. 3 Apresentação O Observatório Socioeconômico da Região Norte Fluminense foi criado em 02 de janeiro de 2001, através de uma parceria estabelecida entre o NEED – Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento do CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos e a UNIVERSO – Universidade Salgado Oliveira (Sede Campos) representada pela Coordenação do Curso de Administração de Empresas. A partir de 02 de janeiro de 2002, também passaram a integrar e gerenciar o projeto do Observatório a UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense representada pelo CCH – Centro de Ciências do Homem, a UFF – Universidade Federal Fluminense representada pelo Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional e a UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro representada pelo Setor de Operações Agrícolas. Essas cinco instituições formam o Consórcio Universitário de Pesquisa da Região Norte Fluminense. Esse consórcio, atualmente, desenvolve dois trabalhos de pesquisa: O Projeto de Pesquisa intitulado Configuração do Mercado de Trabalho da Região Norte Fluminense: Mapeamento das Cadeias Produtivas e Alternativas de Geração de Empregos apoiado pela FAPERJ e o já mencionado Observatório Socioeconômico da Região Norte Fluminense. O Observatório tem a finalidade principal de coletar, analisar e disponibilizar dados e informações que possam dar suporte à tomada de decisões de agentes públicos e privados e que auxiliem a concepção de políticas e estratégias municipais que venham a melhorar a qualidade de vida da população. Seus estudos estão direcionados para as áreas de emprego, renda, saúde, educação, habitação e saneamento dos municípios da Região Norte Fluminense: Campos dos Goytacazes, Macaé, São João da Barra, Quissamã, Conceição de Macabu, Carapebus, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e Cardoso Moreira. De forma complementar, o Observatório também monitora indicadores sócio- econômicos das principais cidades de cada uma das mesorregiões do Estado do Rio de Janeiro: Noroeste – Itaperuna, Serrana – Petrópolis, Lagos – Cabo Frio, Sul – Volta Redonda, e Metropolitana – Niterói, com a finalidade principal de verificar se uma eventual tendência regional também se apresenta nas demais regiões do Estado. As fontes dos dados coletados são sempre oficiais para evitar problemas de credibilidade. Dentre essas fontes, destacam-se: RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego, DataSUS do Ministério da Saúde, INEP do Ministério da Educação, e CIDE do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Eventualmente, poderão ser utilizadas informações provenientes das prefeituras locais, ou de suas secretarias, desde que devidamente emitidas em documentos oficiais.
  • 4. 4 Nossas Publicações: O Observatório tem as seguintes publicações à disposição da comunidade no site do NEED/CEFET (www.cefetcampos.br/observatorio): A Evolução do Emprego Formal na Região Norte Fluminense: Um Boletim Técnico No. 1: enfoque sobre Campos e Macaé. Nota Técnica No. 1: A Razão entre o Emprego Formal e a População Total das Cidades de Porte Médio – uma referência para Campos e Macaé em relação ao Rio de Janeiro e ao Brasil. Boletim Técnico No. 2: A avaliação da Qualidade do Emprego Formal na Região Norte e Fluminense: Um enfoque sobre Campos e Macaé. Boletim Técnico No. 3: Investigação sobre o Perfil do Trabalho Informal em Campos: Um enfoque sobre os Trabalhadores de Rua (camelôs). Nota Técnica No. 2: Um Estudo Comparativo entre a Qualidade do Emprego Formal e o Trabalho Informal na Cidade de Campos – Um enfoque sobre o Grau de Escolaridade e a Renda Mensal. Boletim Técnico No. 4: O Perfil da Educação na Região Norte Fluminense: Ensino Infantil, Fundamental e Médio. Boletim Técnico No. 5: Favelas/Comunidades de Baixa Renda no Município de Campos dos Goytacazes. Endereço: CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos NEED – Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento Observatório Sócio-Econômico da Região Norte Fluminense Rua Dr. Siqueira, Nº 273 Parque Dom Bosco – Campos dos Goytacazes – RJ CEP: 28.030-130 Telefone: (22) 2733-3255 Ramal 4229 / Site: www.cefetcampos.br/observatorio
  • 5. 5 Sumário Pág. 1. Introdução 6 2. Panorama do setor sucroalcooleiro Nacional 9 3. O setor sucroalcooleiro no Brasil e sua relação com o Estado 16 4. Resumo histórico do setor canavieiro Brasileiro e a intervenção do Estado 17 4.1 – Período compreendido entre o descobrimento do Brasil a 1930 17 4.2 – Período compreendido entre 1930 a 1990 21 5. Resumo Histórico da Agroindústria no Estado do Rio de Janeiro 24 6. Panorama do Setor sucroalcooleiro no Estado do Rio de Janeiro 30 7. Competitividade do complexo sucroalcooleiro 39 7.1 – Diferenciação de produtos 40 7.2 – Diversificação da produção 41 7.3 – Especificação na produção de Açúcar e Álcool 42 8. Competitividade do Setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro 44 9. Conclusões 48 10. Bibliografia Consultada 49
  • 6. 6 1 – Introdução A região Norte Fluminense tem como uma de suas principais atividades econômica a indústria sucroalcooleira, tendo gerado no ano de 2000 cerca de 175 milhões de reais e cerca de 15.000 empregos diretos e indiretos. Essa atividade, entretanto, nas últimas três décadas vem passando por um processo de declínio em função de sucessivos planos econômicos, desvalorização da moeda nacional em relação ao dólar, dívidas em dólar assumidas pelas unidades produtivas na modernização das indústrias, fortes pressões competitivas impostas pelo mercado que exige produtividade e qualidade a custos cada vez menores e falta de matéria prima (cana) devido ao déficit hídrico característico da região. Em conseqüência desses acontecimentos, muitas unidades produtoras fecharam e muitas estão descapitalizadas sem condições de se auto-alavancarem. Pelo exposto não se pode esperar que estas empresas, trabalhando individualmente num mercado altamente competitivo e globalizado, possam se tornar competitivas com pequeno esforço. Assim um esforço conjunto torna-se necessário, participando empresas, governo, universidades, sindicatos e todas as entidades representativas, de forma a conseguirem as condições necessárias ao aumento de competitividade das empresas do setor na região. Além disso, estas empresas necessitam se articular entre si a fim de conquistarem as condições de competitividade como economias de escala, poder de barganha na compra e na venda, representatividade política, além de outros. Dessa forma este trabalho se propõe a avaliar os modelos de articulação entre os diferentes agentes acima citados de maneira a viabilizar a transferência de tecnologia para as empresas a fim de aumentar a sua competitividade. A escolha do estudo da cadeia produtiva sucroalcooleira se deu em função da sua grande capacidade de gerar empregos e renda na região, conforme citado anteriormente. O setor agroindustrial é um dos que possui melhor relação investimentos por empregos gerados. Estimativas do BNDES (1998) citado por Orioli et al. (1999), apontam que para cada R$ 1 milhão de investimentos neste setor são gerados 182 empregos. Para efeito comparativo observa-se que no caso da construção civil para cada R$ 1 milhão de investimentos são gerados 48 empregos. O estudo ainda revela que os custos por empregos gerados na agricultura irrigada são de aproximadamente R$ 26.500,00, muito menor do que em vários outros setores conforme podemos observar na tabela a seguir. Setores Custo (R$) Agricultura irrigada 26.500 Agricultura de sequeiro 37.000 Bens de consumo 44.000 Turismo 66.000 Telecomunicações 78.000 Indústria em geral 83.000 Indústria automobilística 91.000 Bens de capital 98.000 Pecuária 100.000 Metalurgia 145.000 Química 220.000 Tabela I.1 – Custo de emprego em diversos setores Fonte: MICT citado por Orioli et al.- 1999
  • 7. 7 A agroindústria açucareira é a mais antiga atividade econômica do Brasil, está relacionada aos principais eventos históricos do país. O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de cana-de-açúcar do mundo, empatando com a Índia. É isoladamente o maior produtor de açúcar de álcool e o maior exportador mundial de açúcar. O produtor de açúcar mais competitivo do mundo atualmente é o Brasil. Segundo Waak e Neves (1998), as usinas mais eficientes no Brasil, tem um custo de produção de US$ 170,00 por tonelada de açúcar, contra uma média de US$ 190,00 no Estado de São Paulo. Os países concorrentes mais próximos do Brasil são a Austrália com um custo de produção de US$ 270/tonelada e a Tailândia com custo de US$ 310/tonelada. Os custos de produção do açúcar na Europa e nos EUA são superiores a US$ 500/tonelada, com a produção de açúcar fortemente subsidiada. Dos países cujo índice de auto-suficiência supera 100% e são concorrentes do Brasil no mercado exportador, destacam-se Austrália, Tailândia e Cuba. Em termos de desempenho recente no agrobusiness brasileiro o açúcar é um dos produtos de maior sucesso. Houve um salto na produção de açúcar nacional que passou de 7,8 milhões de toneladas na safra de 1985/86 para mais de 19,4 milhões de toneladas em 1999/00. Segundo Pinazza e Alimandro (2001) as exportações de açúcar do brasileiro a partir da safra 1995/96 saltou de 8% para 30% do total comercializado no mercado internacional. A cadeia de produção sucroalcooleira tem como principais produtos e subprodutos da cana-de-açúcar a água de lavagem, o bagaço, folhas e pontas e o caldo. Desses a água de lavagem pode ser usada para produção de biogáz e fertirrigação. O bagaço é utilizado para produção de energia (vapor/eletricidade), combustível (natural, briquetado, peletizado, enfardado), hidrólise (rações, furfural, lignina), polpa de papel, celulose e aglomerados. As folhas e pontas podem ser usadas como forragem e as mesmas aplicações do bagaço. O caldo tem como uso mais nobre em ordem de importância a produção de açúcar, álcool melaço e outras fermentações. Os principais produtos e subprodutos do álcool são o etanol, a vinhaça o gás carbônico, o óleo de fúsel, recuperação de leveduras. O principal uso do etanol por ordem de importância no Brasil é o de combustível veicular, indutor de octanagem, solvente etc. Dentro da alcoolquímica o etanol pode ser usado na forma desidratada para produção de etileno, PEVC, polietileno, poliestireno, óxido de etileno (sulfactantes, poliésteres e glicóis) e na forma desidrogenada para produção de acetaldeído que por sua vez entra na produção de crotonaldeído (butanol, octanol), ácido acético (anidro acético, acetatos), vários outros (ácido panacético, pentaeritritol etc.). Como gás carbônico é usado na produção de gelo seco, bicarbonato de amônio. Como óleo de fúsel é usado na produção de álcoois amílico, isoamílico, propílico, etc. Na recuperação de leveduras pode ser usado na fermentação alcólica e na nutrição animal. Já os principais usos produtos e subprodutos do açúcar são o consumo do açúcar direto, a indústria sucroquímica produzindo glicose, frutose, ácido oxálico, polióis (solventes e polióis), glicerina, ácido levulínico, ácido arabiônico, sorbitol, manitol, sacarose e derivados (octobenzoato, acetato, isobutirato, ésteres graxos, octacetato, et,), sucralose. Além dos produtos anteriormente citados existe fermentações diversas produzindo acetona butanol, álcool dacetona, difenol propano, metil metacrilato, além de fermentações finas como antibióticos, ácidos orgânicos, vitaminas, ênzimas industriais, aminoácidos, e insumos biológicos.
  • 8. 8 A descrição anterior dos produtos e subprodutos da cadeia sucroalcooleira tem a finalidade de mostrar a ampla potencialidade do complexo, pois poderão vir a ser uma importante alternativa estratégica para o setor. A abordagem econômica mais tradicional centra o seu foco na concorrência entre empresas de um setor econômico. No estudo das cadeias produtivas, conforme proposto neste estudo, a análise possibilita uma visão integrada de setores que trabalham e forma inter-relacionada. Ao se trabalhar em um nível intersetorial, análise de agrupamentos dá especial relevância às diferentes formas de interdependência entre os setores, Hauguenauer e Prochinik (1998). Os mesmos autores definem uma cadeia produtiva de forma simplificada, como uma seqüência de setores econômicos, unida entre si por relações significativas de compra e venda, havendo uma divisão do trabalho entre estes setores, cada um realizando uma etapa do processo. A cadeia produtiva sucroalcooleira já foi bem definida por diversos autores, dentre os quais podemos destacar Hauguenauer e Prochnik (2000) e Waack e Neves (1998). Dessa forma não foi dada muita ênfase, neste estudo, a delimitação da cadeia produtiva propriamente dita e sim na interação regional do setor sucroalcooleiro na cadeia produtiva canavieira global, visando estabelecer pontos fracos e potencialidades a serem desenvolvidas. A seguir é apresentado um fluxograma da cadeia produtiva sucroalcooleira segundo Waack e Neves (1998).
  • 9. SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA CANA-DE-AÇÚCAR 8 EXPORTAÇÃO CONSUMIDOR REFINARIA DISTRIBUIÇÃO VHP TRADINGS FINAL IND. ALIMENTOS (MENOR DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR QUALIDADE) SUPERIOR FINAL AÇÚCAR REFINARIA INDÚSTRIA IND. ALIMENTOS SUCROQUÍMICA IND. ALIMENTOS (MAIOR QUALIDADE) ESPECIAL CONSUMIDOR DISTRIBUIÇÃO EXTRA REFINARIA FINAL PRODUÇÃO EMPACOTAMENTO PRÓPRIA EXPORTAÇÃO TRADINGS INSUMOS ANIDRO INDÚSTRIA COMBUSTÍVEIS INDÚSTRIA CONSUMIDOR DISTRIBUIÇÃO ALCOOLQUÍMICA TRANSFORMAÇÃO FINAL PRODUÇÃO DE TERCEIROS INDÚSTRIA ÁLCOOL COMBUSTÍVEIS HIDRATADO INDÚSTRIA INDÚSTRIA CONSUMIDOR DISTRIBUIÇÃO QUÍMICA TRANSFORMAÇÃO FINAL INDÚSTRIA ALIMENTOS INDÚSTRIA USINA NEUTRO DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR COSMÉTICOS QUÍMICA TRANSFORMAÇÃO FINAL FARMACÊUTICA GÁS NATURAL VINHAÇA CONSUMIDOR DISTRIBUIÇÃO FERTILIZANTES FINAL IND. ALIMENTOS SUBPRODUTOS LEVEDURA CONSUMIDOR DISTRIBUIÇÃO IND. RAÇÃO ANIMAL FINAL COMBUSTÍVEL (CALDEIRAS VAPOR) COGERAÇÃO ENERGIA CONSUMIDOR BAGAÇO DISTRIBUIÇÃO FINAL INDÚSTRIA PAPEL E CELULOSE COMPENSADO
  • 10. 9 2 – Panorama do Setor Sucroalcooleiro Nacional O Brasil é o maior e mais eficiente produtor de açúcar e álcool do mundo. Num mercado efetivamente livre e com economia globalizada estaríamos livres para crescer e proporcionar ao país um número cada vez mais significativos de empregos e divisas, bens fundamentais para o fortalecimento da economia de qualquer nação, Carvalho (2001, a). Entretanto o chamado livre comércio globalizado, é extremamente distorcido e antiético, onde os países mais ricos do mundo pregam livre comércio, explorando os mercados alheios, e em contraposição protegem os seus mercado interno de todas as formas. O setor sucroalcooleiro tem grande importância econômica e social no Brasil desde o seu período colonial. A cadeia produtiva brasileira da cana de açúcar tem, segundo Carvalho (1997), uma grande dimensão, quando analisado segundo o conceito dos recursos financeiros que movimenta a cada safra. Na safra 96/97 a cadeia produtiva movimentou em insumos modernos (agrícola e industrial), produção agrícola, industrial, comercialização e impostos cerca de R$ 10 bilhões, sendo que R$ 0,82 bilhões em insumos modernos, R$ 2,86 bilhões na produção agrícola, R$ 1,19 bilhão na produção industrial, R$ 2,12 bilhões na comercialização e R$ 2,80 bilhões em impostos. O setor sucroalcooleiro nacional gerou em 2000, cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos, sendo 613 mil empregos diretos e 966 mil empregos indiretos, distribuídos por quase todos os estados brasileiros. Na tabela 1 é apresentado o número de empregos gerado pelo setor (PNAD/IBGE/DPE/DEREN, 1996). Na Tabela 2 é apresentado o nível de escolaridade do trabalhador no setor sucroalcooleiro para as diferentes categorias, ou seja na produção da cana, do álcool e do açúcar, segundo dados do PNAD/IBGE (1996). É surpreendente observar as diferenças de nível de escolaridade das distintas categorias do setor. Na categoria produções de cana, 39 % dos trabalhadores têm menos de um ano de instrução; no setor industrial esse percentual fica entre 11 e 13 %. Todavia o nível de escolaridade de modo geral é baixo. Subsetor Emprego Regiões Total N NE CO SE S Cana 2.043 249.600 12.072 194.781 52.270 510.766 Álcool Direto 205 25.007 1.219 19.349 5.247 51.027 Açúcar 204 24.950 1.207 19.381 5.240 50.982 Subtotais 2.452 299.557 14.498 233.511 62.757 612.775 Cana 290 36.809 6.162 58.289 14.180 115.730 Álcool Indireto 1.831 155.497 20.865 189.828 43.663 411.684 Açúcar 236 213.432 13.896 182.999 27.684 438.274 Subtotais 2.357 405.738 40.923 431.116 85.527 965.688 Total 4.809 705.295 55.421 664.627 148.284 1.578.436 Tabela II.1 – Número de empregos gerados pela cadeia produtiva da cana de açúcar no Brasil e regiões Fonte: IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001
  • 11. 10 Sem 1 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 anos Total instrução e anos anos anos anos ou mais menos de 1 ano Cana 39 31 25 4 1 0 100 Álcool 13 11 31 14 23 8 100 Açúcar 11 17 35 17 16 3 100 Tabela II.2 – Nível de escolaridade dos empregos diretos no setor sucroalcooleiro em anos de estudo, valor percentual. Fonte: PNAD, IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001 São processados anualmente, cerca de 270 milhões de toneladas de cana no Brasil para produção de açúcar e álcool (anidro e hidratado). Para isso são cultivados 5 milhões de hectare nas regiões Nordeste e Centro-Sul. A título de exemplo, a produção cana álcool e açúcar do Estado de São Paulo, que representa hoje em torno de 60 % da produção de nacional, tem uma eficiência de produção entre 20 e 30 % maior que o mais eficiente produtor mundial de álcool e açúcar de cana, que é a Austrália. Os demais países produtores de açúcar de cana, beterraba ou frutose de milho estão ainda mais distantes e em condições normais, não tem condições de competir com o Brasil. A alta eficiência de produção alcançada pelo produtor brasileiro vem de uma longa tradição na produção de cana e açúcar (cinco séculos), esforço conjunto em pesquisa (setor privado e governo), criando novas variedades resistentes a pragas e doenças, maior teor de sacarose e aclimatadas a diferentes tipos de solo e condições climáticas, numa evolução que tende a se acelerar com o advento do projeto genoma da cana-de-açúcar. Outro fator importante neste contexto é o fato do país produzir açúcar e álcool, o que permite flexibilidade associada a uma grande capacidade de produção, o que torna a qualidade do nosso açúcar insuperável. Através do desenvolvimento de um terceiro produto, que é a co-geração de energia elétrica por meio do bagaço de cana, a nossa competitividade terá um crescimento ampliado. A capacidade nacional de expansão da cultura da cana-de-açúcar é muito grande, e após o grande crescimento da produção de álcool e da pesquisa, nas últimas três décadas, a cana entrou no cerrado brasileiro, o que permite vislumbrar uma área teoricamente potencial de cultivo de mais de 70 milhões de hectares, segundo Carvalho (2001, a). Hoje o Brasil não possui nenhuma restrição para a produção de álcool e açúcar, a intervenção do Estado foi eliminada ao longo da década de 90, não mais existindo obstáculos para produzir álcool e açúcar. Com a desregulamentação do setor, qualquer empresário está livre para produzir, em condições onde nenhuma outra cultura é mais rentável, mesmo nas condições mais adversas de mercado. Com todas essas condições favoráveis, quando ocorre uma alta internacional do preço do açúcar, há uma rápida expansão da produção de açúcar, o que ocasiona excesso do produto quando a demanda diminui, não dando para evitar a superprodução e seus efeitos danosos para o setor. Esses movimentos de alternados de produção e de preço do produto são estruturais, e não é a toa que o Estado sempre controlou rigidamente esse setor. Como não é possível eliminar facilmente esse fenômeno, há que se trabalhar para estabelecer um equilíbrio entre produção e demanda. Segundo Carvalho
  • 12. 11 (2001) isso pode ser possível via auto-regulação do setor e, principalmente, pela abertura de novos mercados. No mercado internacional nenhum produto é tão protegido quanto o açúcar, tanto no número de países que o praticam como as diferentes formas em que é praticado, tais como subsídios a produção e exportação, cotas, barreiras fitossanitárias etc. Os maiores mercados consumidores, tais como EUA, Japão, União Européia, é impossível entrar com o produto livremente. Os valores do custo de produção nos EUA, União Européia e Japão chegam a mais de três, quatro e seis vezes, respectivamente, ao do preço internacional, sendo os custos desses países altamente subsidiados. Esses mercados devem ser conquistados a todo custo. É inadmissível que a abertura do comércio internacional não se dê com a inclusão do açúcar, onde o país é competitivo e tem condições de globalizar, em vez de ser globalizado, como é em tantas outras áreas. A derrubada dessas barreiras comerciais só se dará no âmbito da Organização Mundial de Comércio e não serão obtidas em curto prazo, exigindo negociações bastante complexas. Enquanto isso não é factível em curto prazo, a ampliação do mercado do álcool é a opção que se têm, tanto na forma de combustível carburante (álcool hidratado), como aditivo para oxigenação de gasolina (álcool anidro). Além do Brasil e dos EUA (maiores produtores mundiais de álcool etanol), há indicativos que mostram a posição dos diferentes países e seus mecanismos para a viabilização do etanol como aditivo da gasolina. Existe hoje uma crescente adesão do Canadá e Suécia para carros a álcool ou carros flexíveis, movidos a álcool e gasolina em diferentes proporções. Recentemente o Japão decidiu substituir o MTBE (Metil Tercil Butil Éter, aditivo da gasolina) pelo etanol. Hoje exista um otimismo em relação aos rumos que estão tomando o mercado do álcool, imaginando-se que num curto espaço de tempo o etanol possa a vir transformar-se numa commodity internacional. Os efeitos danosos de aditivos usados comumente na gasolina, como o MTBE, derivado do petróleo considerado cancerígeno e poluidor dos lençóis freáticos pela Agencia de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, além de questões ambientais ligadas à necessidade da redução do efeito estufa dão relevância ao etanol pelos seguintes motivos: o etanol é um produto biodegradável, ajuda a diminuir a poluição local pelo resultado de redução das emissões da gasolina e do poder de reduzir a poluição global uma vez que, o produto (álcool etanol) e o processo de produção (álcool de cana), contribui para a diminuição do efeito estufa, ao substituir combustível proveniente do petróleo e seqüestrar carbono da atmosfera. A produção de cana, álcool e açúcar no Brasil passaram por grandes mudanças nas últimas três décadas. Com a criação do Proálcool nos anos 70 houve uma grande expansão na sua capacidade produtiva. De 1975 a 1987 houve um veloz crescimento na produção de cana, o que pode ser observado na Figura 1, onde é apresentada a evolução da produção de cana, em mil toneladas, entre as safras 70/71 e 00/01. Observa-se também que em meados dos anos 90 houve um novo salto na produção de cana, com o setor já se reacomodando a desregulamentação do setor.
  • 13. 12 PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01 400.000 315.641 302.169 310.049 285.664 350.000 Cana-de-açúcar (1000 TM) 258.500 251.346 240.869 300.000 228.791 227.873 223.410 224.364 216.963 224.496 223.991 222.163 221.339 202.765 197.995 250.000 166.753 153.858 148.651 138.899 200.000 129.145 120.082 103.173 95.074 91.525 95.624 150.000 91.994 79.753 79.595 100.000 50.000 0 1970/71 1971/72 1972/73 1973/74 1974/75 1975/76 1976/77 1977/78 1978/79 1979/80 1980/81 1981/82 1982/83 1983/84 1984/85 1985/86 1986/87 1987/88 1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 Safras Gráfico II.1 - Evolução da produção de cana-de-açúcar no Brasil entre as safras 71/72 à 00/01 Fonte: Datagro 2000, número 24, citado por http://www.udop.com.br No Gráfico II.1 é apresentada a evolução de produção de álcool (hidratado e anidro em m3). Observa-se que a partir da década de 80 a produção de álcool hidratado teve um crescimento vertiginoso estabilizando-se entre 1990 e 1998, a partir da qual a produção começou a diminuir. Segundo Pinasa e Alimandro (2001), o carro movido a álcool representava em 1988, 90% das vendas no mercado interno. Desde os meados dos anos 80, a não correção dos preços de energia no país, inclusive do álcool, gerou desequilíbrio entre a oferta e a demanda, pela estagnação da oferta. No caso do setor sucroalcooleiro, mesmo sem exportar, houve o problema das faltas localizadas de álcool, pela limitação de matéria prima e pelo crescimento da demanda. Surgiu uma crise de abastecimento doméstico de álcool. O episódio deixou seqüelas. A indústria automobilística reduziu seus projetos de pesquisa e desenvolvimento do carro a álcool e consumidor caiu na desconfiança. A participação das vendas de veículos a álcool no total teve queda súbita. No período Collor houve uma retomada das vendas dos carros a álcool, chegando a 20% do total comercializado ao mês. Após 1994 as vendas despencam para 1% ao mês. Nos anos 90 a produção de álcool era elevada e com a queda de venda de veículos a álcool, o governo decretou uma lei em 1993, que fixou em 22% a mistura do álcool anidro à gasolina, o que compensou em parte a queda do consumo de álcool hidratado.
  • 14. 13 PRODUÇÃO DE ÁLCOOL ANIDRO E HIDRATADO 70/71 a 00/01 14000 10.768 10.474 10.557 12000 9.978 9.720 9.825 9.631 9.470 9.634 9.474 8.774 8.612 8.338 8.236 10000 Álcool (1000 m3) 6.934 7.150 8000 5.990 5.392 5.692 5.689 3.550 4.600 6000 1.413 2.104 6.134 2.274 3.208 3.040 2.867 2.712 2.523 2.750 4000 2.469 2.168 1.602 2.102 2.096 4.941 2.216 1.984 1.983 1.726 1.777 1.341 1.309 252 389 233 300 306 390 217 2000 671 323 395 385 364 409 293 260 292 223 0 1970/71 1971/72 1972/73 1973/74 1974/75 1975/76 1976/77 1977/78 1978/79 1979/80 1980/81 1981/82 1982/83 1983/84 1984/85 1985/86 1986/87 1987/88 1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 Safras Álcool Anidro Álcool Hidratado Gráfico II.2 - Evolução da produção de álcool anidro e hidratado no Brasil entre as safras de 70/71 à 00/01. Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística. A produção de álcool hidratado nacional representa ainda cerca de 25% do total de cana esmagada, que se convertida em açúcar, fariam o preço internacional do açúcar ter uma brusca queda. O preço internacional do açúcar sofreu muita pressão nos últimos 5 anos, em virtude da maior exportação brasileira de açúcar. Recentemente (1999), o excesso de produção de álcool trouxe uma brusca queda nos preços, pois com a desregulamentação do setor, o Estado não mais entrevêem na determinação de preços e quantidades a ser produzida. No Gráfico II.2 são apresentadas a evolução da produção brasileira de automóveis a álcool, entre os anos 1979 e 1999, bem como a relação percentual entre a produção de automóveis a álcool e a produção de automóveis a álcool mais a gasolina. Observa-se pela figura, que a produção de veículos a álcool atingiu em 1986 o seu maior valor com 619,9 mil veículos, o que representou 76,4% da produção nacional de automóveis. Atualmente a produção de veículos a álcool alcançou em 1999 a marca de 10,2 mil veículos, em função do estímulo dos baixos preços do álcool, o que representou cerca de 0,9% da produção.
  • 15. 14 PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS À ÁLCOOL 900 100% 76,4% 75,9% 90% 75,1% 800 74,0% Automóveis à álcool (mil veículos) % (Álcool/Álcool+Gasolina) 80% 493,0 63,1% 619,9 700 58,9% 573,4 549,6 70% 600 496,7 34,5% 47,4% 60% 500 25,6% 388,3 227,7 20,9% 120,9 20,6% 50% 345,6 163,1 20,1% 128,9 18,3% 214,4 400 9,7% 40% 71,5 10,8% 239,3 300 30% 32,6 2,5% 0,4% 120,2 10,2 0,9% 200 6,4 0,4% 1,1 0,1% 0,1% 20% 100 3,3 10% 1,2 0 0% 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Anos Veículos a álcool % Álcool/Gasolina+Álcool Gráfico II.3 – Evolução da produção de automóveis à álcool e a relação percentual entre veículos à álcool e veículos à gasolina mais à álcool. Fonte: ANFAVEA – Anuário Estatístico da Indústria Brasileira 2000 e Anuário da Agencia Nacional de Petróleo 2001. Segundo a análise de Pinazza e Alimandro (2001), uma combinação de alta de preços nos derivados de petróleo com excesso de produção interna de álcool pode fazer com que a estrutura de preços relativos favoreça o consumo de álcool carburante. Sendo o que aconteceu de julho a dezembro de 1999, quando houve um pequeno aumento de 400 para 1700 unidades nas vendas de carro a álcool, um indício de que, se o preço da gasolina no mercado interno se mantiver em ascensão, a retomada das vendas de carros movidos a álcool hidratado será uma hipótese plausível. A elevação do consumo interno criaria condições para a implantação do livre mercado. Segundo os mesmos autores, quando o preço do álcool representar cerca de 75% do valor da gasolina, cria uma indiferença no consumidor em relação ao seu consumo. Entre os anos 1975 1990, enquanto a produção cana e de álcool tiveram um crescimento significativo, a produção de açúcar teve incrementos de produção bem menores (Gráfico II.3). A partir de 1995/96 houve um surpreendente aumento de produção de açúcar, cuja comercialização foi voltada principalmente ao mercado externo. Segundo Pinazza e Alimandro (2001), nesse período a participação do açúcar brasileiro no mercado internacional saltou de 8% para 30% do total comercializado. Esse brusco crescimento da exportação de açúcar se deu num período de queda de preços no mercado internacional. A crescente oferta brasileira afetou a cotação externa da commodity.
  • 16. 15 PRODUÇÃO DE AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01 25.000 19.380 17.961 20.000 15.700 Açúcar (1000 TM) 14.845 13.467 13.235 11.696 15.000 9.326 8.849 9.249 9.086 8.843 8.157 8.665 8.306 8.070 7.983 7.912 7.819 7.844 7.301 7.365 7.476 6.980 6.851 6.673 10.000 6.680 6.017 5.926 5.081 5.070 5.000 0 1970/71 1972/73 1974/75 1976/77 1978/79 1980/81 1982/83 1984/85 1986/87 1988/89 1990/91 1992/93 1994/95 1996/97 1998/99 2000/01 Safras Gráfico II.4 - Evolução da produção de açúcar no Brasil entre as safras 70/71 à 00/01 Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística. No Gráfico II.4 é apresentado o percentual de conversão em açúcar do total de cana colhida no Brasil entre as safras 70/71 a 00/01. Observa-se pela figura, que na década de 70 o percentual de cana usada para produzir açúcar era maior que 80%, passando de 30 a 35% entre os anos de 85 e 95 e subindo a mais de 43% a partir de 1998, sinalizando a opção do produtor pelo açúcar que estava com seus preços mais favoráveis a comercialização que o álcool.
  • 17. 16 % DE CANA CONVERTIDA EM AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01 100% 86% 87% 86% 86% 83% 83% 82% 90% 76% Porcentagem de açúcar 80% 63% 70% 54% 55% 53% 60% 46% 45% 47% 43% 40% 38% 36% 36% 50% 36% 35% 33% 31% 32% 29% 29% 29% 28% 27% 40% 27% 30% 20% 10% 0% 1970/71 1972/73 1974/75 1976/77 1978/79 1980/81 1982/83 1984/85 1986/87 1988/89 1990/91 1992/93 1994/95 1996/97 1998/99 2000/01 Safras Gráfico II.5 - Percentagem de cana convertida em açúcar das safras 70/71 à 00/01. Fonte: Datagro 2000 número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística. 3 – O Setor Sucroalcooleiro no Brasil e sua Relação com o Estado O Sistema Agroindustrial da cana-de-açúcar teve seu desenvolvimento histórico, atrelado à participação do Estado na definição de políticas agrícolas e industriais e de grupos econômicos atuando junto ao Estado, buscando acumular privilégios ou melhorar sua posição em relação aos concorrentes. Dessa forma, o Estado participou do setor como parceiro na regulação ou na atuação em diferentes graus. Existe uma relação direta entre a evolução histórica e os condicionantes culturais de uma sociedade. Esta formação enseja uma determinada relação entre o Estado e o desenvolvimento econômico de uma nação. Na realidade, o conceito de Estado é uma convenção acordada pela população, organizada segundo suas formas de representação, que elege procedimentos e rotinas que visam atingir um determinado nível de bem-estar (BELIK et al. 1998). Durante os últimos 70 anos o Sistema Agroindustrial sucroalcooleiro brasileiro é marcado pela intervenção do Estado e em virtude dessa mediação, o setor sofreu transformações no padrão tecnológico e na distribuição espacial desta cadeia agroindustrial. A estrutura produtiva influenciada pela ação do Estado permanece muito diferenciada entre as regiões Nordeste e Centro-Sul do país. Entretanto a partir dos anos 90, houve uma inversão nessa tendência, diminuindo rapidamente essa interferência do Estado no setor, com a desregulamentação e com a saída do governo na atividade de financiamentos, subsídios, estímulo e controle da produção e comercialização. O setor sucroalcooleiro historicamente apresentou problemas de auto- regulação. Assim o Estado e seu papel mediador foram fundamentais para