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Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
Prof. Sergio Fialho 
METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO E 
GESTÃO DE REDES 
INTERORGANIZACIONAIS 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
Prof. Sergio Fialho 
Um segredo de Polichinelo da moderna dinâmica econômica exibe-se nas conexões nem 
sempre transparentes entre, de um lado, as operações de mercado amparadas pelo complexo 
política-negócios e, de outro, as operações geralmente eficazes do sistema midiático, mega-produtor 
da parafernália de factoides e mitologias que fluem pelas antenas de TV e preparam 
subjetivamente os cidadãos para desejar, festejar e demandar o portfólio de mercadorias que 
são um índice de banalidade da vida moderna. 
Necessário assinalar, para evitar simplificações castigadas pela história, que esta é uma 
dimensão sempre parcial da realidade política e social, na medida em que nem tudo que 
acontece na dinâmica dos negócios é determinado pelos “clusters” político-econômicos 
dominantes, e nem tudo que acontece no complexo midiático é instrumental para os 
“negócios” dos “clusters”. 
Mas é fato que a realização das mercadorias (submetidas a uma constante redução do ciclo de 
vida e a uma crescente diferenciação subjetiva) depende, cada vez mais, de um processo 
articulado com as operações simbólicas da grande mídia. 
Nesse contexto, a atual profusão de “metodologias” nas prateleiras das livrarias indica um 
caso particular desse fenômeno no campo do conhecimento gerencial, com o pregão de 
métodos baseados em infalíveis passo-a-passo para solucionar toda espécie de problemas 
organizacionais: o discurso subjacente, sofisticado em multimídia, afirma que é suficiente 
seguir a receita para garantir o sucesso do bolo, ainda que a experiência prática de muitos 
pacientes demonstre um alto percentual de distúrbios digestivos. 
108 
METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO E GESTÃO DE REDES 
INTERORGANIZACIONAIS 
1 APRESENTAÇÃO 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
Prof. Sergio Fialho 
Por outro lado, é necessário reconhecer, nesta profusão de metodologias, uma tendência 
positiva, na medida em que significa a disponibilização social de conhecimento explícito 
formatado em modo de aplicação à realidade, cumprindo, portanto, a função disseminatória de 
todo processo de explicitação de conhecimento. 
Nesse cenário contraditório, justifica-se, portanto, preceder a apresentação de uma 
metodologia de construção de redes interorganizacionais qualificando esse duplo aspecto 
presente no mercado de metodologias organizacionais. 
Justifica-se, também, invocar um mínimo de advertências que, apontando o caráter complexo 
e a dependência de contexto de toda prescrição de ação social, amplie as possibilidades de 
eficácia na sua utilização. 
Entre as várias dificuldades gerais e específicas que cercam a formulação e a aplicação de 
uma metodologia de construção de redes interorganizacionais, algumas certamente ainda por 
descobrir, destacaremos aqui uma, que são na verdade duas, ainda que relacionadas: a 
complexidade e a diferenciação dos contextos sociais e organizacionais onde as redes 
emergem. 
No que se refere à complexidade do contexto, é suficiente observar a multiplicidade de 
interesses sociais, econômicos, políticos, organizacionais, grupais e pessoais que interferem, 
muitas vezes de forma contraditória entre si, em um processo pelo qual duas ou mais 
organizações desenvolvem um relacionamento cooperativo em rede. 
Quando falamos de redes organizacionais, mais especificamente das redes horizontais de 
organizações, mais complexidade é adicionada ao contexto, pelo fato de que a dinâmica 
cooperativa da rede deve ser instituída sobre a dinâmica competitiva das empresas, e as duas 
devem conviver. 
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Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
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Ainda: se aceitarmos que uma medida da complexidade e da incerteza é a falta de 
conhecimento, o caráter recente das redes interorganizacionais - ao menos em sua forma 
deliberada contemporânea - implica pouca experiência acumulada, deficiência de 
conhecimento que se apresenta sob a forma de mais complexidade para os formuladores de 
metodologias e para os atores de processos construtivos das redes. 
No que se refere à diferenciação dos contextos, e nos mantendo apenas no campo designado 
como “organizacional”, podemos observar distinções em vários planos, que eventualmente 
podem se combinar gerando novos planos de diferenciação. As distinções mais significativas 
são determinadas pela natureza geral da rede: redes verticais de empresas (envolvendo a 
cadeia produtiva de fornecedores sucessivos), redes horizontais, (envolvendo empresas com 
elos produtivos concorrentes), redes institucionais (envolvendo instituições de diferentes e 
complementares funcionalidades, ou envolvendo instituições de funcionalidades similares), 
redes de arranjos produtivos ou de setores econômicos (envolvendo empresas - em redes 
verticais ou horizontais - e instituições relacionadas aos processos produtivos). Os contextos 
das redes são também diferenciados segundo a especificidade dos seus propósitos, o que 
envolve redes de escopo amplo (redes genéricas de cooperação), redes de aprendizagem, e 
redes de propósitos especiais de maior ou menor duração. Conforme a natureza da rede e o 
escopo dos seus objetivos, o seu contexto interno - o perfil organizacional dos seus atores - 
será mais ou menos heterogêneo. 
Para lidar com as dificuldades que apontamos acima, a arquitetura de uma metodologia eficaz 
de construção de redes terá de utilizar como blocos construtivos elementos conceituais 
básicos, focados nos requisitos essenciais à existência de uma rede, e deverá indicar o 
processo pelo qual esses requisitos devem ser articulados em um plano específico de 
construção de cada rede. 
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Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
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Demanda-se na verdade uma espécie de meta-metodologia, que renuncie às prescrições de 
detalhe e à linearidade de etapas, para preservar a especificidade dos contextos, acolher a 
diversidade de interesses, e encaminhar o difícil e promissor processo de localização e gestão 
dos pontos de convergência e de sinergia entre os atores envolvidos. 
Ultrapassadas essas advertências preliminares, esse artigo propõe um framework para a 
concepção e operacionalização de planos específicos de construção e gestão de redes 
interorganizacionais. 
Sintetizando nosso entendimento: as redes são um poderoso instrumento de ação coletiva, que 
é utilizado por diversos tipos de organizações, em variados contextos e com diferentes 
objetivos específicos. 
A força das redes reside exatamente nessa sua flexibilidade, nas suas diversas possibilidades 
construtivas e operacionais. 
A construção de uma rede específica, portanto, pode se realizar através de um entre vários 
caminhos alternativos, e sua estrutura e estilo de gestão e atuação podem assumir 
características bastante singulares. 
É por essa razão que uma metodologia de construção de redes, vocacionada para ser aplicável 
a diversas situações, não pode ser concebida como uma sequência linear de ações, como um 
encadeamento rígido de procedimentos: a metodologia é formada por um conjunto de 
requisitos básicos, que indicam as condições essenciais que devem ser atendidas, para que 
uma iniciativa específica de construção e gestão de rede seja bem sucedida. 
111 
2 ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE REDES 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
Prof. Sergio Fialho 
Baseado nesses requisitos metodológicos, em cada situação é então produzido um plano 
específico, que define os eventos e atividades mais indicadas para construir a rede naquele 
caso. 
É com base nessa concepção estratégica que a metodologia pode ser aplicada, de forma 
diferenciada, em uma grande variedade de situações, como expresso no gráfico a seguir. 
Os requisitos metodológicos, então, são uma base de referencia para a elaboração de um 
Plano de Construção da rede a partir de acuradas análises de contexto. 
112 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Metodologia para Construção e Gestão de 
Redes Interorganizacionais 
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Construção de 
Redes 
Gestão de Redes 
Aspectos Comportamentais 
Os blocos de Construção e Gestão relacionam-se por uma linearidade natural (ainda que os 
requisitos internos de cada bloco não impliquem causalidades necessárias), e o bloco de 
Aspectos Comportamentais contém requisitos que devem ser considerados tanto para as ações 
de Construção quanto para as ações de Gestão de Redes. 
O gráfico a seguir indica a articulação entre os requisitos metodológicos e o Plano de 
Construção da rede, e esclarece a forma como se integram ao processo operativo de formação 
da rede. 
113 
Os requisitos estabelecidos pela metodologia estão organizados em três grandes blocos: 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
MODO DE ARTICULAÇÃO DOS REQUISITOS METODOLÓGICOS, PLANO DE CONSTRUÇÃO E PROCESSO DE 
114 
FORMAÇÃO DA REDE 
Organizações 
inicialmente 
interessadas 
Construção Gestão 
Elaboração do Plano de 
Construção da rede 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014 
Ações de 
Construção 
da rede 
Ações de 
Gestão da 
rede 
Plano de Construção da rede 
Requisitos 
Metodológicos 
Plano 
de 
Construção 
Processo de 
Formação 
da 
Rede 
Aspectos Comportamentais
O bloco de Construção de Redes é composto por cinco requisitos, cujo atendimento cria as 
condições para um processo de construção bem sucedido: a definição do Objetivo; a 
qualificação dos Atores da rede; a Sensibilização das organizações; o estabelecimento da 
Visão de futuro e de uma Agenda inicial de ações da rede; e a estruturação dos desenhos 
Organizacional e Informacional da rede. 
Construção de Redes 
Objetivos e 
Atores 
Desenho 
Informacio-nal 
Sensibiliza 
ção 
Visão e 
Agenda 
Desenho 
Organiza-cional 
A aplicação dos requisitos escapa necessariamente - como temos reiterado - a uma linearidade 
rígida, na medida em que os processos reais de construção de redes se iniciam já com um 
acervo de compromissos, possibilidades, interesses e recursos presentes: o atendimento aos 
requisitos se dá na realidade em várias frentes e com múltiplos movimentos de aproximação e 
decisão, sucessivos e complementares. 
Objetivos e Atores 
A definição dos Objetivos da rede é um momento de vital importância para todo o processo 
de sua construção e gestão. 
Objetivos claramente definidos possibilitam a identificação de quais atores (pessoas e 
organizações) devem ser integrados à rede, e fornece uma referencia sólida para que se 
115 
3 REQUISITOS DE CONSTRUÇÃO DE REDES 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
estabeleçam atividades, metas e indicadores de avaliação de resultados das ações 
colaborativas. 
Na definição dos Objetivos deve ser levada em conta a natureza colaborativa das redes, ou 
seja, os Objetivos da rede devem estar focados nos pontos de soma, onde podem convergir e 
se harmonizar os interesses das organizações envolvidas. 
A definição preliminar dos Objetivos e dos Atores é realizada, pelas organizações 
inicialmente interessadas, a partir do exame do contexto econômico-político-organizacional 
da possível rede, através da consulta a estudos existentes, entrevistas com outras organizações 
participantes do contexto e, se necessário, levantamentos específicos de campo. 
O estudo do contexto possibilita uma melhor compreensão da realidade, e especialmente dos 
interesses e necessidades em jogo. 
Uma vez identificados os atores será necessário organizar e complementar o conhecimento 
existente sobre eles, para esclarecer as principais ações que realizam no contexto da rede, e, 
especialmente, qualificar e avaliar os relacionamentos que esses atores mantém entre si. 
Compreender os relacionamentos existentes e desejados entre os atores permitirá identificar 
parcerias-chave para a elaboração do Plano de Construção da Rede e para a execução da 
estratégia de sensibilização das organizações para a construção da rede. 
Ao longo do processo de construção da rede os objetivos e atores estarão submetidos a 
múltiplos ajustes, tornando cada vez mais precisos os alvos da rede e integrando novas 
organizações relevantes. 
116 
Podemos dizer que uma rede eficaz depende de Objetivos bem definidos. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Sensibilização 
A construção bem sucedida de redes organizacionais de colaboração depende 
fundamentalmente de duas condições. 
A primeira é o entendimento claro do contexto, dos objetivos, dos interesses, necessidades e 
relacionamentos dos atores, como vimos. 
A segunda - tão importante como a primeira - é a motivação efetiva dos atores para se 
envolverem no processo de construção. 
A motivação é uma consequência direta do grau de consciência que cada ator adquire quanto 
às vantagens reais em participar da rede. 
Portanto, para mobilizar, é preciso ter em mente que as organizações - e especialmente as 
empresas - tendem a agir com base em seus interesses, sendo necessário demonstrar 
sistematicamente como esses interesses serão beneficiados pela atuação em rede. 
No início do processo de construção da rede, o primeiro contato das organizações (atores) 
com a proposta de constituir uma rede, se dará através das organizações inicialmente 
interessadas, quando da realização dos levantamentos e entrevistas necessários à definição do 
Objetivo. 
Torna-se, portanto, muito importante que os agentes, desde esses contatos iniciais, estejam 
preparados para transmitir as informações e atitudes que desenvolvam a confiança das 
organizações no potencial do processo. 
Para tanto, é preciso que os agentes tenham, eles próprios, clareza sobre os benefícios 
concretos que a ação em rede poderá trazer, naquele contexto específico, para as 
117 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
organizações. As reuniões de definição dos Objetivos, portanto, devem incluir um ponto de 
pauta para debate e explicitação dos benefícios da ação em rede. 
Um dos participantes poderá ficar responsável por elaborar uma pequena apresentação que 
estabeleça uma base comum e fundamentada para a atuação de todos envolvidos nos contatos 
iniciais com as organizações. 
Será muito importante que se consiga incluir, nessa apresentação, casos que exemplifiquem 
experiências bem sucedidas de atuação em rede em contextos similares. 
Além de preparar-se com argumentos adequados e bem apresentados, outro aspecto 
fundamental da atitude da equipe de agentes é a postura dialogal e participativa: as 
organizações parceiras serão tanto mais facilmente sensibilizadas para a ação em rede quanto 
mais se sentirem ouvidas e consideradas nos seus interesses e percepções. 
Trata-se de entender a relação com os parceiros como uma relação ganha-ganha, típica de 
uma verdadeira rede de colaboração. Na verdade, a construção da rede já começa aí. 
Mas a ação de sensibilização não se esgota nesses movimentos iniciais, pois tem um caráter 
abrangente e permanente. 
Para todas as ações projetadas, devem ser analisadas e estabelecidas iniciativas 
especificamente voltadas para a sensibilização e motivação dos atores, baseadas na 
comunicação, interação e conscientização das vantagens em participar da rede. 
Visão e Agenda 
Este requisito está relacionado a um grau de amadurecimento do processo de constituição da 
rede, quando a iniciativa se desloca das organizações inicialmente interessadas para o 
conjunto de organizações-atores identificadas, qualificadas, sensibilizadas e unidas em torno 
do Objetivo consensual de atuação em rede. 
118 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
A construção da Visão (cenários atual e desejado) e o estabelecimento da Agenda de ações da 
rede são o fruto de um processo de interpretação da realidade e de negociação de decisões, 
vivenciado coletivamente pelos atores envolvidos. 
Trata-se de um processo chave para a solidez da rede, e toda atenção deve ser desenvolvida 
pelos agentes no sentido de perceber e criar as condições para equacionar possíveis conflitos 
de interesses e percepções que surjam no processo de definição da Visão. O princípio básico 
que deve presidir as ações das organizações inicialmente interessadas é a ênfase nos pontos de 
convergência, evitando eventuais desgastes derivados de confrontos em pontos onde o 
consenso não seja possível. 
O segredo de uma rede bem sucedida é a progressiva ampliação da confiança entre os atores, 
e para isso é indispensável uma cuidadosa seleção dos elementos de consenso. Está em jogo 
aqui um processo de aprendizagem coletiva, o desenvolvimento da capacidade de separar o 
plano dos consensos do plano das diferenças, ou seja, a capacidade de trabalhar em conjunto 
em ações específicas, preservando a autonomia de cada ator na condução das suas ações 
particulares. 
No primeiro movimento - construção da Visão - variadas técnicas facilitadoras do trabalho em 
grupo podem ser utilizadas. O essencial estará na postura e na compreensão do processo em 
andamento, e não na sofisticação do ferramental técnico aplicado. 
Estabelecida a Visão - os atributos do cenário atual e os atributos do cenário desejado pelos 
atores - trata-se de debater, analisar e estabelecer as ações que possam transformar o cenário 
atual em direção ao cenário desejado - a Agenda. 
Neste ponto é importante a compreensão de que, na maior parte dos casos, esse processo de 
transformação do cenário é um processo social de reposicionamentos e ajustes a médio e 
longo prazos entre múltiplas organizações: a passagem para o cenário desejado não se dará 
por uma lista exaustiva de ações sequenciais, mas pela adoção, a cada momento, de iniciativas 
119 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
capazes de gerar resultados práticos que acumulem confiança entre os atores e conhecimento 
do potencial das suas forças coletivas. 
Cada ciclo de iniciativas bem sucedidas criará condições mais avançadas para a ação coletiva. 
Ao lado da determinação das primeiras ações da Agenda, é conveniente examinar a 
pertinência de desenvolver uma ação paralela de benchmarking, que possibilite trazer ao 
exame do conjunto dos atores os indicadores de desempenho e as melhores práticas de redes 
similares em atividade em outros locais. 
Especialmente na construção da primeira Agenda de ações da rede, deve ser considerada a 
necessidade de estabelecer o consenso em torno de ações viáveis e com resultados concretos e 
de impacto, que possam repercutir no aumento da confiança e motivação dos atores 
envolvidos. 
Desenho Organizacional 
A forma organizacional mais adequada para o funcionamento de uma rede depende de uma 
série de fatores, como por exemplo: 
São fatores que só podem ser considerados com precisão no contexto de cada rede específica. 
Em consequência dessa especificidade de fatores, o desenho organizacional de uma rede pode 
variar muito, desde formas simples, baseadas, por exemplo, na mera realização periódica de 
reuniões entre representantes das organizações-atores, até formas complexas, que podem 
120 
a) a complexidade e abrangência do Objetivo da rede; 
b) o seu caráter mais ou menos permanente; 
c) o número e as características dos atores que a integram; 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
envolver múltiplos níveis de decisão, setores de apoio operacional, e diversos grupos de 
trabalho. 
A definição da forma organizacional própria de cada rede, portanto, depende da reflexão e do 
consenso das organizações envolvidas na sua construção e gestão. 
No entanto, existem alguns princípios e uma série de aspectos operacionais que são comuns a 
todas as redes, e que constituem os requisitos organizacionais da metodologia. 
Em primeiro lugar, é preciso considerar que as redes são uma forma de coordenação 
organizacional que depende fundamentalmente do consenso entre organizações 
independentes, o que é muito diferente das relações administrativas-hierárquicas (baseadas no 
exercício do poder de mando do controlador) e também das relações comerciais de mercado 
(baseadas na defesa do interesse individual contra todos os outros interesses). 
Por este motivo, o desenho organizacional da rede deve privilegiar, com a utilização das 
salvaguardas necessárias, o fortalecimento da confiança entre as organizações. 
Em segundo lugar, devemos observar que a rede é uma forma organizacional que surgiu 
exatamente pela necessidade das organizações lidarem com mudanças cada vez mais intensas. 
É, portanto, uma forma dinâmica por excelência, e seu desenho e estratégia organizacionais 
devem assegurar ampla flexibilidade, com a possibilidade permanente de adaptações em sua 
composição, em suas estruturas e em seus processos. A flexibilidade de uma rede inclui a 
capacidade de lidar com as saídas e entradas de novos membros, em função dos impactos 
sobre o desempenho e das modificações funcionais na ação coletiva. Inclui também a 
habilidade de conectar-se com outras instâncias, como entidades, associações e outras redes, 
com as quais a rede está frequentemente em interação. 
A configuração de uma rede pode evoluir com o tempo, e gerar novas formas de colaboração 
entre as organizações. Por isso, não se pode considerar que o desfazimento de uma rede após 
um certo período de colaboração, ou antes de atingir seus objetivos, é necessariamente 
121 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
negativo, se as organizações adquiriram a capacidade de estabelecer novas e diferentes 
relações. 
A experiência tem demonstrado que a formação bem sucedida de uma rede geralmente está 
associada à atuação de uma organização de suporte, que desempenha o papel de facilitadora 
do processo de construção e gestão da rede. O fato da organização de suporte ter como seu 
interesse central a ação coletiva da rede lhe exige e possibilita agir com isenção perante os 
interesses particulares de cada organização participante, e, com isso, lhe fornece legitimidade 
para atuar como mediadora e facilitadora da coordenação desses objetivos particulares em 
ações coletivas. 
A organização de suporte, por seu turno, não desenvolve sua atividade segundo um padrão 
pré-definido, pois seu papel é auxiliar as organizações parceiras a definir e implementar 
planos de ação dependendo de suas necessidades e oportunidades estratégicas. 
Na estrutura genérica de uma rede, portanto, podemos distinguir dois tipos básicos de 
organizações participantes, ou organizações-atores: a organização de suporte e as 
organizações parceiras. Entre as organizações parceiras, podemos ainda distinguir as 
organizações de apoio, que não atuam diretamente para os objetivos finalísticos da rede, mas 
prestam serviços e apoio às organizações diretamente envolvidas com esses objetivos. 
Eventualmente uma organização de suporte pode também desempenhar um papel de apoio, 
mas as duas funções devem ser consideradas diferenciadamente. 
Exemplificando, podemos considerar, numa rede típica que tivesse por objetivo desenvolver a 
competitividade de um Arranjo Produtivo Local de Micro e Pequenas Empresas na área de 
software: 
122 
a) o SOFTEX como uma organização de suporte; 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
b) as micro e pequenas empresas, representadas por suas associações e sindicatos, como as 
organizações finalísticas, diretamente vinculadas ao objetivo finalístico da rede 
(desenvolvimento da competitividade do APL); 
c) a Prefeitura, os órgãos de financiamento, os centros de pesquisa, como organizações de 
Esses diferentes papéis devem ser claramente especificados no desenho organizacional da 
rede, e estabelecidas as responsabilidades e o nível de participação de cada tipo de 
organização na instância de coordenação da rede. 
Os principais aspectos operacionais que devem ser equacionados pela forma organizacional 
da rede são: 
a) Mediação de conflitos: como temos visto, as redes são estratégias focadas na 
convergência e no consenso, portanto é fundamental que existam mecanismos claramente 
definidos de mediação de eventuais conflitos que surjam entre as organizações-atores. 
Esses mecanismos devem favorecer a intensa negociação dos conflitos em direção a 
consensos, mas podem também envolver a aceitação prévia, pelas organizações-atores, da 
atribuição ao grupo de coordenação da palavra final no caso de determinados conflitos de 
interesses; 
b) Critérios de ingresso: as redes são organismos dinâmicos, e em geral abertos ao ingresso 
de novos membros. É de grande importância que sejam estabelecidos previamente os 
critérios específicos que devem ser atendidos para o ingresso de uma nova organização, 
ou indicado o procedimento que será seguido para sua aceitação; 
c) Participação nos resultados: em função dos resultados (geralmente serviços) 
decorrentes da ação da rede, é necessário definir os critérios que serão adotados para sua 
distribuição entre as organizações participantes. Esses critérios podem ser de diversos 
tipos (tempo de adesão à rede, porte, entre outros) podendo haver redes onde essa 
distribuição é igualitária para todas as organizações participantes; 
123 
apoio. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
d) Tomada de decisão: compreende a definição de como se darão os processos decisórios e 
de quais as instâncias de decisão no âmbito da rede. Dependendo do caráter central ou 
periférico da organização de suporte e das organizações de apoio, essas terão maior ou 
menor participação nos processos decisórios; 
e) Mecanismos de sanções coletivas: as redes são instâncias de cooperação que se 
desenvolvem sobre uma cultura de competição (econômica e/ou política), e estão sujeitas 
a ações oportunistas de organizações integrantes. Para assegurar a confiança no ambiente 
da rede, é importante reconhecer este risco de oportunismo e definir previamente as 
sanções que serão aplicáveis às organizações que apresentarem comportamento contrário 
ao interesse coletivo. A depender de cada rede específica, as atitudes não desejáveis e 
respectivas sanções poderão estar pré-estabelecidas no próprio estatuto da rede. 
Alternativamente um comitê, pré-constituído ou não, determinará as sanções cabíveis em 
cada situação concreta; 
f) Organização por ações e eventos: o caráter flexível e dinâmico das redes recomenda a 
adoção dos Grupos de Trabalho como mecanismo básico de realização das ações e gestão 
das atividades e projetos. 
Salvo necessidades específicas, o formato organizacional geral da rede deverá 
compreender a instância (ou grupo) de coordenação, à qual estarão ligados os diversos 
grupos de trabalho que implementam as ações da rede. 
g) Indicadores de resultado e desempenho: deverá ser adotado como procedimento 
operacional básico a definição e avaliação de indicadores de resultados e de desempenho 
da ação da rede, inspirados na abordagem multidimensional do Balanced Scored Card - 
BSC. 
O BSC orienta no sentido da adoção de indicadores estratégicos relacionados a quatro 
dimensões do desempenho organizacional: Econômico-Financeira, Clientes/Usuários, 
Processos e Aprendizagem/Crescimento. 
124 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
A modelagem dos indicadores admite ampla flexibilidade, de modo a possibilitar a 
avaliação de aspectos quantitativos e qualitativos específicos do contexto de atuação de 
cada rede. Nessa perspectiva, os indicadores aqui sugeridos têm um caráter 
exemplificativo, e estão referenciados a uma rede de certa complexidade, podendo ser 
simplificados em situações menos complexas. 
A dimensão Econômico-Financeira envolve a especificação de indicadores de resultados 
tangíveis da ação da rede, expressos como resultados das organizações finalísticas 
(aquelas diretamente relacionadas aos objetivos finalísticos da rede). 
No caso de uma rede de apoio a um APL de MPE, por exemplo, os indicadores poderiam 
ainda ser divididos em um nível geral e em um nível específico. No nível geral, 
envolveriam “o aumento da participação do APL no mercado nacional” e/ou “o aumento 
das vendas” e/ou “aumento das exportações”, e/ou “índice de MPE certificadas ISO- 
9.000”, entre outros. No nível específico, estariam indicadores relacionados à adoção de 
práticas de cooperação, como “número de ações de capacitação conjunta realizadas”, e/ou 
“valor de compras coletivas / valor total de compras do APL”. Caso se tratasse de uma 
rede de organizações de apoio à inovação tecnológica, os indicadores poderiam ser 
“número de MPE atendidas”, e/ou “inovações efetivamente implementadas em MPE”, 
e/ou “valor agregado das inovações em MPE”. 
A dimensão Clientes/Usuários engloba o conjunto de indicadores relacionados ao 
tamanho e à representatividade da rede em relação ao universo das organizações do seu 
escopo. Ainda tomando como exemplo o caso da rede de apoio a um APL de MPE, os 
indicadores poderiam abarcar “% de MPE associadas à rede”, e/ou “% de organizações 
relevantes de apoio associadas à rede”, e/ou “índice de organizações parceiras satisfeitas 
com os resultados gerais da atuação da rede”. 
Na dimensão de Processos, estão os indicadores relacionados à qualidade e à eficácia dos 
processos de gestão da rede. Estariam incluídos aqui indicadores do tipo “índice de 
consecução das metas estabelecidas na Agenda da rede”, “número de eventos de 
125 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
avaliação das ações da Agenda”, “eficiência da infra-estrutura de informações para os 
gestores da rede”, “formalização dos processos de trabalho e decisão no âmbito da rede”, 
“satisfação das organizações parceiras com a atuação dos gestores da rede”, entre outros. 
Na dimensão de Aprendizagem/Crescimento, estão englobados os indicadores focados no 
desenvolvimento das competências e habilidades dos gestores e das organizações 
parceiras para a ação em redes. Aí estão índices que reflitam “investimentos em 
competências e habilidades para o trabalho em rede”, “percepções das pessoas sobre a 
qualidade do relacionamento cooperativo no âmbito da rede”, “número de conflitos 
estabelecidos no contexto organizacional da rede”, “grau de sustentabilidade (auto-administração) 
A definição dos indicadores inclui a especificação da(s) variável(is) operacional(is) que 
proporcionará(ão) a medida do indicador, a fonte e a procedimento que será utilizado 
para captar e organizar a informação do estado da variável, o ciclo de tempo com que 
essa informação deve ser captada/atualizada e os agentes responsáveis pela captação, 
organização e disseminação da informação. 
O desenho organizacional da rede, que compreende as definições específicas relacionadas aos 
princípios, papéis, parâmetros e processos organizacionais sugeridos acima, deverá ser 
desenvolvido através do processo participativo mais amplo possível e formalizado por um 
instrumento que poderá ser desde um simples protocolo entre as organizações até 
instrumentos mais formais como convênios e acordos de cooperação. 
A escolha da organização de suporte é talvez a decisão mais importante para o processo de 
construção da rede. Condições técnicas, isenção de interesses e credibilidade institucional são 
condições que devem ser cuidadosamente analisados no processo de escolha. 
126 
da rede”, por exemplo. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Desenho Informacional 
A relação entre as redes interorganizacionais e a tecnologia da informação é muito profunda, e 
se considera mesmo que as redes são o formato organizacional específico da revolução 
digital. 
Em primeiro lugar, as mudanças tecnológicas modernas estão na raiz mesma dos processos 
produtivos flexíveis, do conhecimento como vantagem competitiva e da dinamização dos 
mercados, fatores que determinam a necessidade das empresas e organizações articularem 
suas ações de forma dinâmica e cooperativa, ou seja, em redes. 
Por outro lado, a tecnologia da informação oferece a infra-estrutura para que as organizações 
integrem sistemas, processos e serviços, estruturando redes de relacionamentos, 
independentemente da localização espacial de cada uma. 
Desse modo, a correta análise e implementação dos aspectos informacionais constitui um 
elemento básico para que uma rede explore toda a potencialidade de seu formato 
organizacional e de sua natureza cooperativa. 
a) Apoio ao grupo de coordenação da rede: o grupo de coordenação das atividades da 
rede (instância de coordenação) é geralmente formado por representantes das diversas 
organizações parceiras, situadas em diferentes locais (diversos prédios, ou bairros, ou 
mesmo cidades). 
Daí surge a necessidade de uma infra-estrutura tecnológica que possibilite ao grupo 
funcionar também virtualmente, impedindo que o distanciamento espacial seja um fator 
restritivo à atividade de coordenação das atividades da rede. As características dessa 
127 
Os principais níveis onde deve incidir o planejamento do desenho informacional são: 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
infra-estrutura podem variar, desde uma simples lista de discussão baseada em correio 
eletrônico, até serviços interativos e de gestão do conhecimento bastante sofisticados. 
Aspecto fundamental da implementação desses serviços é a definição das 
responsabilidades pela manutenção das informações e pela animação das atividades 
interativas. 
b) Apoio às ações da rede: as ações definidas na Agenda da rede, para sua implementação, 
freqüentemente envolvem o acesso ou mesmo a estruturação de serviços virtuais de 
informação. 
Por exemplo, uma determinada rede define como ação de sua Agenda a prospecção e 
difusão, para as organizações da rede, de indicadores econômicos e de mercado. 
O desenho informacional da rede deverá detectar e tratar essa necessidade, projetando a 
implementação (ou a integração, caso já exista e seja acessível) de um serviço de 
informações integrado à plataforma de tecnologia da rede. 
A definição de serviços informacionais deve ser feita diretamente em função das necessidades 
concretas da rede, evitando-se qualquer tipo de “deslumbramento tecnológico”. Por outro 
lado, envolve geralmente questões complexas, sendo prudente contar com apoio técnico 
competente na tomada de decisões. 
A rede é um organismo aberto por natureza: ao longo da sua implementação e operação, 
haverá uma tendência ao aumento do número das organizações participantes e poderão 
ocorrer ajustes e modificações nos seus elementos definidores: Visão, Agenda, desenhos 
Organizacional e Informacional. 
128 
4 REQUISITOS DE GESTÃO DA REDE 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
O processo de gestão da rede se desenvolve de acordo com as estruturas, estratégias e 
procedimentos criados e implementados durante a fase de construção. A metodologia 
preconiza um conjunto de requisitos que endereçam aspectos essenciais ao equilíbrio do 
processo de gestão. 
As questões-chave tratadas pelos requisitos de gestão são: avaliação e atualização sistemática 
da Visão, da Agenda de ações e dos desenhos organizacional e informacional da rede, 
consolidação progressiva da sustentabilidade da rede e tratamento das conexões com outras 
redes. 
Gestão de Redes 
Avaliação e 
Atualização da 
Visão, da Agenda, 
dos desenhos 
Organizacional e 
Informacional 
Consolidação da 
Sustentabilidade 
Conexões entre 
Redes 
Como constantemente assinalado nessa abordagem metodológica, os requisitos constituem 
referencias gerais para o processo concreto de gestão, a serem aplicados conforme as 
conveniências específicas que só podem ser julgadas dentro de cada situação. 
Avaliação e Atualização da Visão, da Agenda, dos desenhos Organizacional e 
Informacional 
Ainda que todos os cuidados tenham sido adotados na fase de construção, e que o 
planejamento da rede tenha resultado em uma rica concepção do futuro (Visão), em 
excelentes idéias do que é necessário fazer para chegar nesse futuro (Agenda de ações), e em 
pessoas e organizações motivadas e comprometidas, será necessária uma grande capacidade 
129 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
de gestão e articulação para que de fato a rede se consolide e alcance seus objetivos ao longo 
do tempo. 
A gestão das redes – que é da responsabilidade principal do grupo de coordenação, mas se 
estende a todos os parceiros – enfrenta dois grandes desafios cotidianos: 
a) Assegurar que as idéias saiam do papel para a prática, vale dizer, fazer com que a Agenda 
Aqui, é necessário monitoramento do alcance das metas dentro do cronograma 
estabelecido, o que requer constantes interações com as equipes e organizações que 
tenham assumido responsabilidades operacionais, e exige disposição e habilidade para 
equacionar e negociar a tempo os pequenos problemas não previstos que inevitavelmente 
surgem em qualquer ação inovadora. 
Uma rede vive da confiança dos parceiros na sua utilidade, e para adquirir confiança é 
preciso demonstrar capacidade de concretizar planos e atingir resultados. Além disso, 
considerando a importância extrema das relações intersubjetivas de confiança, é 
fundamental sempre avaliar também a percepção, pelos usuários finais das ações da rede, 
dos resultados obtidos e do desempenho das lideranças. 
A base para a avaliação de resultados e de desempenho da rede é o conjunto de 
indicadores relacionados às quatro dimensões do Balanced Scored Card – BSC, 
especificados na fase de Construção da rede, que também estarão sujeitos a atualizações e 
aperfeiçoamentos ao longo do processo de gestão. 
É essencial levar em conta a intensa dinâmica dos contextos políticos, institucionais e 
econômicos, que pode demandar mudanças na Agenda e mesmo na Visão de futuro da 
rede. 
130 
das ações da rede seja eficazmente implementada. 
b) Interpretar continuamente as modificações dos cenários externo e interno da rede. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
É exatamente por causa dessa dinâmica que as redes são importantes, com sua 
flexibilidade e capacidade de rápida adaptação a novos contextos. 
As formas para realizar esse monitoramento são várias e devem ser simples, desde a 
organização de momentos regulares de avaliação de conjuntura no nível do grupo de 
coordenação, bem como a interação com especialistas ou lideranças para o 
aprofundamento de questões específicas (a aprovação de uma nova lei ou novas políticas 
setoriais de governo, por exemplo), envolvendo o conjunto dos parceiros. 
A forma exata de realizar essas ações de monitoramento (de resultados e de cenários), e o 
ciclo de tempo no qual devam ser realizadas, só podem ser estabelecidos de forma 
adequada no contexto particular de cada rede, e mesmo podem variar conforme o 
momento específico da evolução da rede. 
c) Ciclo regular de avaliação de resultados e de cenários: para cada rede, e em cada 
momento de seu desenvolvimento, deve ser pré-estabelecido com clareza a periodicidade 
com que se realizarão as ações de avaliação; 
d) Produção prévia dos indicadores: o grupo de coordenação deve prover, diretamente ou 
não, a produção e distribuição prévia das informações e dados necessários à avaliação dos 
indicadores estabelecidos; 
e) Instâncias de avaliação: no nível geral da rede, em principio deve haver um processo de 
avaliação no âmbito do grupo de coordenação, como atividade preparatória para um 
procedimento de avaliação envolvendo todos os parceiros. A depender das condições 
específicas de cada rede, poderá haver ciclos avaliativos do grupo de coordenação mais 
curtos que os de maior âmbito, ou poderá ocorrer apenas uma atividade de avaliação 
conjunta do grupo de coordenação mais todas as organizações parceiras; 
131 
De um modo geral, devem ser consideradas as seguintes orientações: 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
f) Disseminação da cultura de avaliação: a cultura de avaliação de resultados, de 
desempenho e de cenários, deve ser estendida a todos os grupos de trabalho integrantes 
da rede. 
Consolidação e Sustentabilidade 
Apesar dos benefícios potenciais para as organizações finalísticas envolvidas, a cooperação 
interorganizacional frequentemente não surge de forma espontânea. 
a) Os custos adicionais associados às atividades de identificar parceiros convenientes e de 
b) As dificuldades de valorar, comparar e gerenciar o fluxo e contra-fluxos de informações e 
c) O risco institucional de assumir, perante as demais organizações parceiras, a promoção de 
d) A permanente e natural tensão entre os interesses específicos de cada organização 
Em decorrência dessas restrições, é comum que a iniciativa do desenvolvimento das redes 
esteja geralmente associada à presença de uma organização externa às organizações parceiras, 
que assume tarefas de gestor-chave da rede, desempenhando o papel de facilitadora, ou 
organização de suporte da rede. 
Essa organização pode ser uma firma de consultoria, uma instituição de ensino, um centro de 
inovações, ou, mais geralmente, uma instituição pública ou não governamental. 
132 
Existem alguns fatores que explicam esse bloqueio: 
desenvolver relacionamentos; 
inovações que formam a base do relacionamento entre as organizações parceiras; 
uma ação fracassada; 
parceira e os interesses coletivos da rede. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
O essencial é que, pelo seu posicionamento externo às organizações parceiras, a organização 
de suporte pode contribuir de forma importante para a superação dos obstáculos à 
dinamização do processo de cooperação interorganizacional. 
É importante compreender que o foco da organização de suporte é atuar junto às demais 
organizações da rede (finalísticas e de apoio), estimulando ações para que os esforços de 
todos sejam sinérgicos, sendo reconhecida pelas outras organizações como uma instância 
legítima para acompanhamento e articulação da Agenda da rede. 
Um critério fundamental para se avaliar o grau de sustentabilidade (auto-administração) da 
rede é verificar o quanto as organizações finalísticas atuam com autonomia e precedência face 
à organização de suporte, determinando e gerindo a Agenda da rede. 
O cenário ideal é aquele em que a influência direta da organização de suporte na gestão da 
rede, que tende a ser significativa no momento inicial da sua construção, seja 
progressivamente subordinada à iniciativa das próprias organizações finalísticas. 
Estas, uma vez que tenham adquirido um grau de maturidade para o trabalho em rede, são as 
melhores intérpretes de suas necessidades coletivas. 
Com o tempo, a organização de suporte posiciona-se como um serviço efetivamente de 
assistência às organizações finalísticas e de apoio, especialmente auxiliando o grupo de 
coordenação da rede a avaliar periodicamente os rumos tomados pela rede e a diagnosticar o 
sucesso das atividades. 
Três indicadores complementares são importantes para determinar o grau de sustentabilidade 
da rede: 
a) Qual a parcela das organizações finalísticas, presentes no contexto, que participam 
133 
efetivamente do processo de gestão e das atividades da rede; 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
b) Em que medida os serviços prestados pela rede são suportados financeiramente pelas 
c) Em que medida a obtenção de recursos e serviços externos resulta da ação articuladora 
Os processos periódicos de avaliação e atualização da Agenda da rede devem incluir pelo 
menos um indicador para verificação do progresso na sustentabilidade da rede. 
Além disso, na formulação, execução e financiamento de todas as ações da rede é sempre 
necessário determinar de que forma pode ser ampliada a participação das organizações 
finalísticas. 
Conexões entre redes 
As iniciativas de construção de redes têm se multiplicado, tanto no Brasil quanto no exterior, 
envolvendo múltiplas organizações de suporte a apoio, e milhares de redes de empresas e 
institucionais. 
Este movimento corresponde à crescente necessidade de coordenação dos cada vez mais 
diversificados interesses relacionados aos processos econômicos e institucionais da 
atualidade. 
O contexto geral onde se dá o processo de construção de uma rede, portanto, é um contexto 
onde atuam e estão em formação um grande número de outras redes. 
Algumas dessas redes têm natureza semelhante àquela que está sendo construída, outras não, 
e muitas guardam relações de complementaridade entre si. 
134 
próprias organizações finalísticas; 
direta das organizações finalísticas. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Nessa situação, é de grande importância que a instância de gestão da rede, desde o início de 
sua operação, busque conhecer e desenvolver relacionamentos com outras redes, existentes ou 
em formação, que tenham objetivos similares ou complementares com os seus. 
Troca de informações, conhecimentos e experiências, ou integração de serviços, são as 
possibilidades mais interessantes a serem exploradas nesses relacionamentos. 
A plataforma de tecnologia utilizada pela rede - estabelecido em seu desenho informacional - 
deve estar especificada de forma a facilitar esse processo de intercâmbio e integração entre as 
redes relevantes, provendo informações qualificadas sobre a atuação dessas redes e acesso 
virtual online aos serviços por elas disponibilizadas. 
A emergência das redes reflete o fato de que, ao longo das últimas décadas, as relações entre 
as empresas, entre as instituições, e entre as empresas e as instituições passaram por grandes 
transformações. 
As tradicionais relações puramente competitivas e conflituosas cederam espaço para relações, 
que para se sustentarem, precisam estar baseadas na confiança. 
Foi justamente este novo padrão de relacionamento - representado aqui pelas redes de 
cooperação - que viabilizou o sucesso de muitas regiões industriais na Alemanha, na Itália e 
no Japão. Por outro lado, muitas economias acabam não se desenvolvendo por não 
conseguirem estabelecer relações de confiança entre suas empresas e entre essas e suas 
instituições. 
Além dos requisitos que prospectam e articulam interesses e técnicas de planejamento e 
gestão, é importante referenciar ações específicas voltadas para criar as condições de 
desenvolvimento da confiança entre os parceiros. 
135 
5 REQUISITOS DE ASPECTOS COMPORTAMENTAIS 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Aspectos Comportamentais 
Promoção de Valores 
Comportamentais 
Negociação e Resolução de 
Conflitos 
Os requisitos comportamentais são transversais a todo o processo de construção e gestão das 
redes, e iniciativas neles referenciadas devem estar integradas às demais ações. 
Promoção de Valores Comportamentais 
No desenvolvimento de atividades em rede, é necessário que a confiança mútua seja 
estimulada e preservada. 
Os princípios éticos devem ser estabelecidos em processos participativos, de modo que sejam 
expressos com a abrangência e na linguagem consistentes com o pensamento do conjunto das 
organizações parceiras. Nesse processo, sugerimos a análise das seguintes restrições de 
comportamento, como base para o estabelecimento dos princípios: 
I. Uso de cargos ou de informações sobre assuntos da rede para influenciar decisões 
136 
Para que floresça um clima de confiança, são necessários: 
a) a formação de uma base compartilhada de princípios éticos; 
b) o incentivo a um novo tipo de liderança, de natureza conectiva. 
que venham a favorecer interesses particulares; 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
II. Aceitação de favores ou presentes de caráter pessoal, que resultem de 
relacionamento de terceiros com a rede, e que possam influenciar decisões e 
favorecer negócios particulares; 
III. Adoção de atitudes que discriminem pessoas (e, por consequência, organizações) 
em função de cor, sexo, religião, origem, classe social, idade ou incapacidade física; 
IV. Uso de equipamentos e recursos da rede para finalidades particulares não 
V. Uso, para fins de ganhos particulares ou de repasse a terceiros, de tecnologias, 
IX. Desrespeito aos princípios éticos gerais de honrar compromissos, ser honesto e leal, 
Para que, ao longo do tempo, os princípios estabelecidos, com base nessas restrições, sejam 
fortalecidos, é necessário definir sanções que criem incentivos para a ação correta das 
organizações e penalizem as que não agirem corretamente. 
Outro aspecto essencial ao desenvolvimento de relações de confiança e de parceria é o 
desenvolvimento e a multiplicação de um novo tipo de liderança. 
Tradicionalmente, o conceito de liderança é associado à dimensão carismática, à auto-suficiência 
137 
referendadas na rede; 
metodologias, know-how, e outras informações de propriedade da rede; 
VI. Manifestação não autorizada em nome da rede; 
VII. Prática de concorrência econômica ou institucional desleal com os parceiros; 
VIII. Desrespeito às leis e normas vigentes; 
respeitar as pessoas e assumir as responsabilidades pelos atos praticados. 
e à iniciativa pessoal do líder. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Porém o mesmo contexto institucional e econômico moderno, que determina a necessidade do 
trabalho cooperativo em rede, determina também a necessidade de lideranças de natureza 
agregadora, conectivas, aptas ao exercício do papel de articulação e fortalecimento de 
coletivos, sejam equipes, sejam redes interorganizacionais. 
Na base da liderança conectiva, está o reconhecimento da diversidade e da interdependência 
como forças existenciais fundamentais, que são parte integrante e interligada da natureza 
humana e da natureza dos atos humanos. 
A diversidade afirma a identidade e as diferenças, mas muita independência gera conflitos que 
desgastam relacionamentos de forma improdutiva. 
Por sua vez a interdependência gera colaboração, alianças e redes, mas a simples 
subordinação ao interesse do outro conduz à perda de identidade e sacrifício da diferença e da 
singularidade. 
A maior qualidade possível, presente na liderança conectiva, é o reconhecimento e aceitação 
das diferenças e a busca ativa dos pontos de convergência possíveis. 
O traço principal do novo líder é inteligência emocional para enxergar as dimensões de 
compatibilidade entre o que usualmente é visto como irreconciliável e contraditório. 
É a liderança do futuro, de um mundo onde as fronteiras geográficas e políticas se dissolvem e 
as ideologias morrem. Nesse mundo, o papel da liderança é concatenar e transcender as falsas 
dicotomias tradicionais: amigo-inimigo, interdependência-diversidade, união-separação, 
semelhanças-diferenças. 
Na medida em que cresça o espírito de equipe - comprometimento pessoal e cooperação 
interpessoal em função dos objetivos coletivos do grupo -, tenderão a se afirmar as lideranças 
afinadas com a perspectiva da conectividade. 
138 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Negociação e Resolução de conflitos 
A promoção de valores éticos e o estímulo ao desenvolvimento de equipes são ações 
essenciais para o desenvolvimento das redes de cooperação. 
No entanto, é importante reconhecer que, no nosso contexto, os conflitos são inerentes à vida 
em grupo e às mudanças. 
Quando não ferem princípios éticos estabelecidos - sujeitos a tratamento específico - os 
conflitos devem ser encarados com naturalidade e como oportunidades de crescimento. 
São vários os níveis de conflito que podem se expressar nas atividades da rede: conflitos 
interpessoais, conflitos de interesses entre organizações parceiras e conflitos entre interesses 
de organizações parceiras e interesses coletivos da rede. 
Em grande medida, o crescimento da rede resultará da forma como esses conflitos sejam 
equacionados. 
O conflito, em si, portanto, não é necessariamente negativo, e a estratégia da negociação é o 
instrumento de que dispomos para que os conflitos resultem em processo de crescimento, ao 
romper a rotina e a acomodação, desvelar problemas não explícitos e demandar soluções 
criativas e inovadoras. 
A ação de um terceiro elemento (mediador, que pode ser uma pessoa ou um grupo) é 
fundamental para a estratégia de negociação. 
Este elemento deve ser capaz de acompanhar a emergência de conflitos no âmbito da rede, de 
se colocar em uma posição de neutralidade perante as partes envolvidas, de assegurar que o 
processo de negociação se dê em um contexto de razoável equilíbrio emocional das partes, e 
139 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
de estimular que as partes realizem movimentos táticos que a cada passo as aproximem de 
uma solução total ou parcial da contenda. 
a) Movimentos de aproximação ao propósito da outra parte: propostas, concessões, gestos 
b) Movimentos de modificação de expectativas da outra parte: persuasão, dissuasão, 
c) Movimentos de esclarecimentos que clarificam uma situação: perguntas, respostas, 
d) Movimentos de relaxamento que colocam questões específicas que possam aproximar as 
e) Movimentos protelatórios, que buscam estender as negociações, criando novas situações 
O terceiro elemento (mediador) poderá ter caráter temporário ou permanente, a depender das 
características de cada rede. 
Caso sejam esgotadas as possibilidades de negociação, a instância de coordenação da rede 
decide o conflito. 
A análise do contexto e do conjunto dos requisitos metodológicos fundamentam a elaboração 
do Plano de Construção da rede, que será o instrumento norteador do conjunto do processo. 
140 
Os movimentos táticos capazes de influir no rumo das negociações envolvem: 
de boa vontade; 
fornecimento de informações; 
exposições de fatos; 
partes; 
a serem examinadas. 
6 O PLANO DE CONSTRUÇÃO DA REDE 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Desenvolvido para cada rede específica, cada plano conterá as atividades e eventos mais 
adequados para que os requisitos sejam atendidos da melhor maneira possível, levando em 
conta: o contexto de cada situação, a natureza da rede, as características das organizações 
envolvidas e as condicionantes do ambiente econômico, institucional e político. 
Precede a elaboração do plano a existência de um grupo inicial de organizações interessadas 
na possível rede, que identificam potenciais convergências entre elas, e realizam o trabalho de 
levantamento das informações e construção dos consensos necessários à formalização do 
Plano de Construção. 
Descrição geral do contexto ao qual a rede em construção está referenciada, com ênfase 
nos aspectos relevantes para o Objetivo da rede e para o desenvolvimento dos 
relacionamentos estratégicos entre as organizações relevantes (atores). 
Caracterização preliminar do Objetivo Geral e dos Objetivos Específicos visados pela 
atuação da rede. 
Identificação, caracterização e avaliação preliminar das organizações relacionadas à rede 
(atores), bem como dos relacionamentos que essas organizações mantém – ou podem vir a 
manter - entre si. 
141 
A estrutura interna do Plano é composta das seguintes seções: 
1) Caracterização do Contexto 
2) Objetivos da Rede 
3) Atores e Relacionamentos 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Descrição das atividades e eventos que serão realizados para a construção da rede, 
atendendo aos requisitos estabelecidos pela metodologia. 
As atividades e eventos, concebidos conforme o contexto específico de cada rede, devem 
ser estruturados em um fluxo concatenado de ações e vinculados a um cronograma de 
execução. 
Para cada atividade e evento deverão ser indicados os recursos necessários, o(s) 
responsável (is) pela sua execução e os produtos esperados. 
As atividades e eventos devem indicar com precisão as ações específicas pelas quais se 
promoverá: 
a) a Sensibilização e a ampliação do universo das organizações mobilizadas para a 
b) a validação dos Objetivos, da qualificação de Atores, e dos relacionamentos, pelo 
conjunto ampliado das organizações envolvidas com o processo construtivo da rede; 
Cada uma dessas atividades e eventos específicos deve ser definida à luz dos requisitos 
estabelecidos na metodologia para o processo de Construção da Rede, inclusive os requisitos 
de Aspectos Comportamentais, que devem ser observados em todas as ações planejadas para a 
rede. 
142 
4) Atividades e Eventos 
construção da rede; 
c) a construção da Visão e da Agenda inicial de ações da rede; 
d) a definição e a implementação do Desenho Organizacional da rede; 
e) a especificação e desenvolvimento do Desenho Informacional da rede. 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
Uma vez elaborado, o Plano deve ser apresentado, debatido e consensuado com as 
organizações que tenham sido identificadas, até aquele momento, como parceiras estratégicas 
para o processo de construção da rede. 
Após essa etapa, o processo de construção da rede prosseguirá com a execução do Plano e o 
atendimento dos requisitos de construção, até que esteja implementada a estrutura de gestão e 
a agenda inicial de ações da rede. 
A partir desse momento, o processo tem sequência com as ações de gestão, orientadas pelos 
requisitos de gestão e de aspectos comportamentais. 
A consideração do caráter amplo, diversificado e aberto dos contextos e processos de 
construção de redes interorganizacionais conduziu à elaboração de uma metodologia 
assemelhada a um framework, ou seja, uma estrutura de referencia e inspiração para a criação 
de planos específicos para a formação e gestão de redes. 
O trabalho aqui apresentado é também aberto em um outro sentido, na medida em que a 
multiplicação das redes e a utilização deste framework certamente proporcionarão novas 
experiências e novos conhecimentos que conduzirão a revisões, ajustes e aperfeiçoamentos 
nas formulações aqui apresentadas. 
143 
7 COMENTÁRIO FINAL 
Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014

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Texto 6 metodologia de redes

  • 1. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO E GESTÃO DE REDES INTERORGANIZACIONAIS Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 2. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho Um segredo de Polichinelo da moderna dinâmica econômica exibe-se nas conexões nem sempre transparentes entre, de um lado, as operações de mercado amparadas pelo complexo política-negócios e, de outro, as operações geralmente eficazes do sistema midiático, mega-produtor da parafernália de factoides e mitologias que fluem pelas antenas de TV e preparam subjetivamente os cidadãos para desejar, festejar e demandar o portfólio de mercadorias que são um índice de banalidade da vida moderna. Necessário assinalar, para evitar simplificações castigadas pela história, que esta é uma dimensão sempre parcial da realidade política e social, na medida em que nem tudo que acontece na dinâmica dos negócios é determinado pelos “clusters” político-econômicos dominantes, e nem tudo que acontece no complexo midiático é instrumental para os “negócios” dos “clusters”. Mas é fato que a realização das mercadorias (submetidas a uma constante redução do ciclo de vida e a uma crescente diferenciação subjetiva) depende, cada vez mais, de um processo articulado com as operações simbólicas da grande mídia. Nesse contexto, a atual profusão de “metodologias” nas prateleiras das livrarias indica um caso particular desse fenômeno no campo do conhecimento gerencial, com o pregão de métodos baseados em infalíveis passo-a-passo para solucionar toda espécie de problemas organizacionais: o discurso subjacente, sofisticado em multimídia, afirma que é suficiente seguir a receita para garantir o sucesso do bolo, ainda que a experiência prática de muitos pacientes demonstre um alto percentual de distúrbios digestivos. 108 METODOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO E GESTÃO DE REDES INTERORGANIZACIONAIS 1 APRESENTAÇÃO Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 3. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho Por outro lado, é necessário reconhecer, nesta profusão de metodologias, uma tendência positiva, na medida em que significa a disponibilização social de conhecimento explícito formatado em modo de aplicação à realidade, cumprindo, portanto, a função disseminatória de todo processo de explicitação de conhecimento. Nesse cenário contraditório, justifica-se, portanto, preceder a apresentação de uma metodologia de construção de redes interorganizacionais qualificando esse duplo aspecto presente no mercado de metodologias organizacionais. Justifica-se, também, invocar um mínimo de advertências que, apontando o caráter complexo e a dependência de contexto de toda prescrição de ação social, amplie as possibilidades de eficácia na sua utilização. Entre as várias dificuldades gerais e específicas que cercam a formulação e a aplicação de uma metodologia de construção de redes interorganizacionais, algumas certamente ainda por descobrir, destacaremos aqui uma, que são na verdade duas, ainda que relacionadas: a complexidade e a diferenciação dos contextos sociais e organizacionais onde as redes emergem. No que se refere à complexidade do contexto, é suficiente observar a multiplicidade de interesses sociais, econômicos, políticos, organizacionais, grupais e pessoais que interferem, muitas vezes de forma contraditória entre si, em um processo pelo qual duas ou mais organizações desenvolvem um relacionamento cooperativo em rede. Quando falamos de redes organizacionais, mais especificamente das redes horizontais de organizações, mais complexidade é adicionada ao contexto, pelo fato de que a dinâmica cooperativa da rede deve ser instituída sobre a dinâmica competitiva das empresas, e as duas devem conviver. 109 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 4. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho Ainda: se aceitarmos que uma medida da complexidade e da incerteza é a falta de conhecimento, o caráter recente das redes interorganizacionais - ao menos em sua forma deliberada contemporânea - implica pouca experiência acumulada, deficiência de conhecimento que se apresenta sob a forma de mais complexidade para os formuladores de metodologias e para os atores de processos construtivos das redes. No que se refere à diferenciação dos contextos, e nos mantendo apenas no campo designado como “organizacional”, podemos observar distinções em vários planos, que eventualmente podem se combinar gerando novos planos de diferenciação. As distinções mais significativas são determinadas pela natureza geral da rede: redes verticais de empresas (envolvendo a cadeia produtiva de fornecedores sucessivos), redes horizontais, (envolvendo empresas com elos produtivos concorrentes), redes institucionais (envolvendo instituições de diferentes e complementares funcionalidades, ou envolvendo instituições de funcionalidades similares), redes de arranjos produtivos ou de setores econômicos (envolvendo empresas - em redes verticais ou horizontais - e instituições relacionadas aos processos produtivos). Os contextos das redes são também diferenciados segundo a especificidade dos seus propósitos, o que envolve redes de escopo amplo (redes genéricas de cooperação), redes de aprendizagem, e redes de propósitos especiais de maior ou menor duração. Conforme a natureza da rede e o escopo dos seus objetivos, o seu contexto interno - o perfil organizacional dos seus atores - será mais ou menos heterogêneo. Para lidar com as dificuldades que apontamos acima, a arquitetura de uma metodologia eficaz de construção de redes terá de utilizar como blocos construtivos elementos conceituais básicos, focados nos requisitos essenciais à existência de uma rede, e deverá indicar o processo pelo qual esses requisitos devem ser articulados em um plano específico de construção de cada rede. 110 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 5. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho Demanda-se na verdade uma espécie de meta-metodologia, que renuncie às prescrições de detalhe e à linearidade de etapas, para preservar a especificidade dos contextos, acolher a diversidade de interesses, e encaminhar o difícil e promissor processo de localização e gestão dos pontos de convergência e de sinergia entre os atores envolvidos. Ultrapassadas essas advertências preliminares, esse artigo propõe um framework para a concepção e operacionalização de planos específicos de construção e gestão de redes interorganizacionais. Sintetizando nosso entendimento: as redes são um poderoso instrumento de ação coletiva, que é utilizado por diversos tipos de organizações, em variados contextos e com diferentes objetivos específicos. A força das redes reside exatamente nessa sua flexibilidade, nas suas diversas possibilidades construtivas e operacionais. A construção de uma rede específica, portanto, pode se realizar através de um entre vários caminhos alternativos, e sua estrutura e estilo de gestão e atuação podem assumir características bastante singulares. É por essa razão que uma metodologia de construção de redes, vocacionada para ser aplicável a diversas situações, não pode ser concebida como uma sequência linear de ações, como um encadeamento rígido de procedimentos: a metodologia é formada por um conjunto de requisitos básicos, que indicam as condições essenciais que devem ser atendidas, para que uma iniciativa específica de construção e gestão de rede seja bem sucedida. 111 2 ESTRATÉGIA DE CONSTRUÇÃO DE REDES Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 6. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho Baseado nesses requisitos metodológicos, em cada situação é então produzido um plano específico, que define os eventos e atividades mais indicadas para construir a rede naquele caso. É com base nessa concepção estratégica que a metodologia pode ser aplicada, de forma diferenciada, em uma grande variedade de situações, como expresso no gráfico a seguir. Os requisitos metodológicos, então, são uma base de referencia para a elaboração de um Plano de Construção da rede a partir de acuradas análises de contexto. 112 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 7. Metodologia para Construção e Gestão de Redes Interorganizacionais Prof. Sergio Fialho Construção de Redes Gestão de Redes Aspectos Comportamentais Os blocos de Construção e Gestão relacionam-se por uma linearidade natural (ainda que os requisitos internos de cada bloco não impliquem causalidades necessárias), e o bloco de Aspectos Comportamentais contém requisitos que devem ser considerados tanto para as ações de Construção quanto para as ações de Gestão de Redes. O gráfico a seguir indica a articulação entre os requisitos metodológicos e o Plano de Construção da rede, e esclarece a forma como se integram ao processo operativo de formação da rede. 113 Os requisitos estabelecidos pela metodologia estão organizados em três grandes blocos: Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 8. MODO DE ARTICULAÇÃO DOS REQUISITOS METODOLÓGICOS, PLANO DE CONSTRUÇÃO E PROCESSO DE 114 FORMAÇÃO DA REDE Organizações inicialmente interessadas Construção Gestão Elaboração do Plano de Construção da rede Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014 Ações de Construção da rede Ações de Gestão da rede Plano de Construção da rede Requisitos Metodológicos Plano de Construção Processo de Formação da Rede Aspectos Comportamentais
  • 9. O bloco de Construção de Redes é composto por cinco requisitos, cujo atendimento cria as condições para um processo de construção bem sucedido: a definição do Objetivo; a qualificação dos Atores da rede; a Sensibilização das organizações; o estabelecimento da Visão de futuro e de uma Agenda inicial de ações da rede; e a estruturação dos desenhos Organizacional e Informacional da rede. Construção de Redes Objetivos e Atores Desenho Informacio-nal Sensibiliza ção Visão e Agenda Desenho Organiza-cional A aplicação dos requisitos escapa necessariamente - como temos reiterado - a uma linearidade rígida, na medida em que os processos reais de construção de redes se iniciam já com um acervo de compromissos, possibilidades, interesses e recursos presentes: o atendimento aos requisitos se dá na realidade em várias frentes e com múltiplos movimentos de aproximação e decisão, sucessivos e complementares. Objetivos e Atores A definição dos Objetivos da rede é um momento de vital importância para todo o processo de sua construção e gestão. Objetivos claramente definidos possibilitam a identificação de quais atores (pessoas e organizações) devem ser integrados à rede, e fornece uma referencia sólida para que se 115 3 REQUISITOS DE CONSTRUÇÃO DE REDES Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 10. estabeleçam atividades, metas e indicadores de avaliação de resultados das ações colaborativas. Na definição dos Objetivos deve ser levada em conta a natureza colaborativa das redes, ou seja, os Objetivos da rede devem estar focados nos pontos de soma, onde podem convergir e se harmonizar os interesses das organizações envolvidas. A definição preliminar dos Objetivos e dos Atores é realizada, pelas organizações inicialmente interessadas, a partir do exame do contexto econômico-político-organizacional da possível rede, através da consulta a estudos existentes, entrevistas com outras organizações participantes do contexto e, se necessário, levantamentos específicos de campo. O estudo do contexto possibilita uma melhor compreensão da realidade, e especialmente dos interesses e necessidades em jogo. Uma vez identificados os atores será necessário organizar e complementar o conhecimento existente sobre eles, para esclarecer as principais ações que realizam no contexto da rede, e, especialmente, qualificar e avaliar os relacionamentos que esses atores mantém entre si. Compreender os relacionamentos existentes e desejados entre os atores permitirá identificar parcerias-chave para a elaboração do Plano de Construção da Rede e para a execução da estratégia de sensibilização das organizações para a construção da rede. Ao longo do processo de construção da rede os objetivos e atores estarão submetidos a múltiplos ajustes, tornando cada vez mais precisos os alvos da rede e integrando novas organizações relevantes. 116 Podemos dizer que uma rede eficaz depende de Objetivos bem definidos. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 11. Sensibilização A construção bem sucedida de redes organizacionais de colaboração depende fundamentalmente de duas condições. A primeira é o entendimento claro do contexto, dos objetivos, dos interesses, necessidades e relacionamentos dos atores, como vimos. A segunda - tão importante como a primeira - é a motivação efetiva dos atores para se envolverem no processo de construção. A motivação é uma consequência direta do grau de consciência que cada ator adquire quanto às vantagens reais em participar da rede. Portanto, para mobilizar, é preciso ter em mente que as organizações - e especialmente as empresas - tendem a agir com base em seus interesses, sendo necessário demonstrar sistematicamente como esses interesses serão beneficiados pela atuação em rede. No início do processo de construção da rede, o primeiro contato das organizações (atores) com a proposta de constituir uma rede, se dará através das organizações inicialmente interessadas, quando da realização dos levantamentos e entrevistas necessários à definição do Objetivo. Torna-se, portanto, muito importante que os agentes, desde esses contatos iniciais, estejam preparados para transmitir as informações e atitudes que desenvolvam a confiança das organizações no potencial do processo. Para tanto, é preciso que os agentes tenham, eles próprios, clareza sobre os benefícios concretos que a ação em rede poderá trazer, naquele contexto específico, para as 117 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 12. organizações. As reuniões de definição dos Objetivos, portanto, devem incluir um ponto de pauta para debate e explicitação dos benefícios da ação em rede. Um dos participantes poderá ficar responsável por elaborar uma pequena apresentação que estabeleça uma base comum e fundamentada para a atuação de todos envolvidos nos contatos iniciais com as organizações. Será muito importante que se consiga incluir, nessa apresentação, casos que exemplifiquem experiências bem sucedidas de atuação em rede em contextos similares. Além de preparar-se com argumentos adequados e bem apresentados, outro aspecto fundamental da atitude da equipe de agentes é a postura dialogal e participativa: as organizações parceiras serão tanto mais facilmente sensibilizadas para a ação em rede quanto mais se sentirem ouvidas e consideradas nos seus interesses e percepções. Trata-se de entender a relação com os parceiros como uma relação ganha-ganha, típica de uma verdadeira rede de colaboração. Na verdade, a construção da rede já começa aí. Mas a ação de sensibilização não se esgota nesses movimentos iniciais, pois tem um caráter abrangente e permanente. Para todas as ações projetadas, devem ser analisadas e estabelecidas iniciativas especificamente voltadas para a sensibilização e motivação dos atores, baseadas na comunicação, interação e conscientização das vantagens em participar da rede. Visão e Agenda Este requisito está relacionado a um grau de amadurecimento do processo de constituição da rede, quando a iniciativa se desloca das organizações inicialmente interessadas para o conjunto de organizações-atores identificadas, qualificadas, sensibilizadas e unidas em torno do Objetivo consensual de atuação em rede. 118 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 13. A construção da Visão (cenários atual e desejado) e o estabelecimento da Agenda de ações da rede são o fruto de um processo de interpretação da realidade e de negociação de decisões, vivenciado coletivamente pelos atores envolvidos. Trata-se de um processo chave para a solidez da rede, e toda atenção deve ser desenvolvida pelos agentes no sentido de perceber e criar as condições para equacionar possíveis conflitos de interesses e percepções que surjam no processo de definição da Visão. O princípio básico que deve presidir as ações das organizações inicialmente interessadas é a ênfase nos pontos de convergência, evitando eventuais desgastes derivados de confrontos em pontos onde o consenso não seja possível. O segredo de uma rede bem sucedida é a progressiva ampliação da confiança entre os atores, e para isso é indispensável uma cuidadosa seleção dos elementos de consenso. Está em jogo aqui um processo de aprendizagem coletiva, o desenvolvimento da capacidade de separar o plano dos consensos do plano das diferenças, ou seja, a capacidade de trabalhar em conjunto em ações específicas, preservando a autonomia de cada ator na condução das suas ações particulares. No primeiro movimento - construção da Visão - variadas técnicas facilitadoras do trabalho em grupo podem ser utilizadas. O essencial estará na postura e na compreensão do processo em andamento, e não na sofisticação do ferramental técnico aplicado. Estabelecida a Visão - os atributos do cenário atual e os atributos do cenário desejado pelos atores - trata-se de debater, analisar e estabelecer as ações que possam transformar o cenário atual em direção ao cenário desejado - a Agenda. Neste ponto é importante a compreensão de que, na maior parte dos casos, esse processo de transformação do cenário é um processo social de reposicionamentos e ajustes a médio e longo prazos entre múltiplas organizações: a passagem para o cenário desejado não se dará por uma lista exaustiva de ações sequenciais, mas pela adoção, a cada momento, de iniciativas 119 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 14. capazes de gerar resultados práticos que acumulem confiança entre os atores e conhecimento do potencial das suas forças coletivas. Cada ciclo de iniciativas bem sucedidas criará condições mais avançadas para a ação coletiva. Ao lado da determinação das primeiras ações da Agenda, é conveniente examinar a pertinência de desenvolver uma ação paralela de benchmarking, que possibilite trazer ao exame do conjunto dos atores os indicadores de desempenho e as melhores práticas de redes similares em atividade em outros locais. Especialmente na construção da primeira Agenda de ações da rede, deve ser considerada a necessidade de estabelecer o consenso em torno de ações viáveis e com resultados concretos e de impacto, que possam repercutir no aumento da confiança e motivação dos atores envolvidos. Desenho Organizacional A forma organizacional mais adequada para o funcionamento de uma rede depende de uma série de fatores, como por exemplo: São fatores que só podem ser considerados com precisão no contexto de cada rede específica. Em consequência dessa especificidade de fatores, o desenho organizacional de uma rede pode variar muito, desde formas simples, baseadas, por exemplo, na mera realização periódica de reuniões entre representantes das organizações-atores, até formas complexas, que podem 120 a) a complexidade e abrangência do Objetivo da rede; b) o seu caráter mais ou menos permanente; c) o número e as características dos atores que a integram; Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 15. envolver múltiplos níveis de decisão, setores de apoio operacional, e diversos grupos de trabalho. A definição da forma organizacional própria de cada rede, portanto, depende da reflexão e do consenso das organizações envolvidas na sua construção e gestão. No entanto, existem alguns princípios e uma série de aspectos operacionais que são comuns a todas as redes, e que constituem os requisitos organizacionais da metodologia. Em primeiro lugar, é preciso considerar que as redes são uma forma de coordenação organizacional que depende fundamentalmente do consenso entre organizações independentes, o que é muito diferente das relações administrativas-hierárquicas (baseadas no exercício do poder de mando do controlador) e também das relações comerciais de mercado (baseadas na defesa do interesse individual contra todos os outros interesses). Por este motivo, o desenho organizacional da rede deve privilegiar, com a utilização das salvaguardas necessárias, o fortalecimento da confiança entre as organizações. Em segundo lugar, devemos observar que a rede é uma forma organizacional que surgiu exatamente pela necessidade das organizações lidarem com mudanças cada vez mais intensas. É, portanto, uma forma dinâmica por excelência, e seu desenho e estratégia organizacionais devem assegurar ampla flexibilidade, com a possibilidade permanente de adaptações em sua composição, em suas estruturas e em seus processos. A flexibilidade de uma rede inclui a capacidade de lidar com as saídas e entradas de novos membros, em função dos impactos sobre o desempenho e das modificações funcionais na ação coletiva. Inclui também a habilidade de conectar-se com outras instâncias, como entidades, associações e outras redes, com as quais a rede está frequentemente em interação. A configuração de uma rede pode evoluir com o tempo, e gerar novas formas de colaboração entre as organizações. Por isso, não se pode considerar que o desfazimento de uma rede após um certo período de colaboração, ou antes de atingir seus objetivos, é necessariamente 121 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 16. negativo, se as organizações adquiriram a capacidade de estabelecer novas e diferentes relações. A experiência tem demonstrado que a formação bem sucedida de uma rede geralmente está associada à atuação de uma organização de suporte, que desempenha o papel de facilitadora do processo de construção e gestão da rede. O fato da organização de suporte ter como seu interesse central a ação coletiva da rede lhe exige e possibilita agir com isenção perante os interesses particulares de cada organização participante, e, com isso, lhe fornece legitimidade para atuar como mediadora e facilitadora da coordenação desses objetivos particulares em ações coletivas. A organização de suporte, por seu turno, não desenvolve sua atividade segundo um padrão pré-definido, pois seu papel é auxiliar as organizações parceiras a definir e implementar planos de ação dependendo de suas necessidades e oportunidades estratégicas. Na estrutura genérica de uma rede, portanto, podemos distinguir dois tipos básicos de organizações participantes, ou organizações-atores: a organização de suporte e as organizações parceiras. Entre as organizações parceiras, podemos ainda distinguir as organizações de apoio, que não atuam diretamente para os objetivos finalísticos da rede, mas prestam serviços e apoio às organizações diretamente envolvidas com esses objetivos. Eventualmente uma organização de suporte pode também desempenhar um papel de apoio, mas as duas funções devem ser consideradas diferenciadamente. Exemplificando, podemos considerar, numa rede típica que tivesse por objetivo desenvolver a competitividade de um Arranjo Produtivo Local de Micro e Pequenas Empresas na área de software: 122 a) o SOFTEX como uma organização de suporte; Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 17. b) as micro e pequenas empresas, representadas por suas associações e sindicatos, como as organizações finalísticas, diretamente vinculadas ao objetivo finalístico da rede (desenvolvimento da competitividade do APL); c) a Prefeitura, os órgãos de financiamento, os centros de pesquisa, como organizações de Esses diferentes papéis devem ser claramente especificados no desenho organizacional da rede, e estabelecidas as responsabilidades e o nível de participação de cada tipo de organização na instância de coordenação da rede. Os principais aspectos operacionais que devem ser equacionados pela forma organizacional da rede são: a) Mediação de conflitos: como temos visto, as redes são estratégias focadas na convergência e no consenso, portanto é fundamental que existam mecanismos claramente definidos de mediação de eventuais conflitos que surjam entre as organizações-atores. Esses mecanismos devem favorecer a intensa negociação dos conflitos em direção a consensos, mas podem também envolver a aceitação prévia, pelas organizações-atores, da atribuição ao grupo de coordenação da palavra final no caso de determinados conflitos de interesses; b) Critérios de ingresso: as redes são organismos dinâmicos, e em geral abertos ao ingresso de novos membros. É de grande importância que sejam estabelecidos previamente os critérios específicos que devem ser atendidos para o ingresso de uma nova organização, ou indicado o procedimento que será seguido para sua aceitação; c) Participação nos resultados: em função dos resultados (geralmente serviços) decorrentes da ação da rede, é necessário definir os critérios que serão adotados para sua distribuição entre as organizações participantes. Esses critérios podem ser de diversos tipos (tempo de adesão à rede, porte, entre outros) podendo haver redes onde essa distribuição é igualitária para todas as organizações participantes; 123 apoio. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 18. d) Tomada de decisão: compreende a definição de como se darão os processos decisórios e de quais as instâncias de decisão no âmbito da rede. Dependendo do caráter central ou periférico da organização de suporte e das organizações de apoio, essas terão maior ou menor participação nos processos decisórios; e) Mecanismos de sanções coletivas: as redes são instâncias de cooperação que se desenvolvem sobre uma cultura de competição (econômica e/ou política), e estão sujeitas a ações oportunistas de organizações integrantes. Para assegurar a confiança no ambiente da rede, é importante reconhecer este risco de oportunismo e definir previamente as sanções que serão aplicáveis às organizações que apresentarem comportamento contrário ao interesse coletivo. A depender de cada rede específica, as atitudes não desejáveis e respectivas sanções poderão estar pré-estabelecidas no próprio estatuto da rede. Alternativamente um comitê, pré-constituído ou não, determinará as sanções cabíveis em cada situação concreta; f) Organização por ações e eventos: o caráter flexível e dinâmico das redes recomenda a adoção dos Grupos de Trabalho como mecanismo básico de realização das ações e gestão das atividades e projetos. Salvo necessidades específicas, o formato organizacional geral da rede deverá compreender a instância (ou grupo) de coordenação, à qual estarão ligados os diversos grupos de trabalho que implementam as ações da rede. g) Indicadores de resultado e desempenho: deverá ser adotado como procedimento operacional básico a definição e avaliação de indicadores de resultados e de desempenho da ação da rede, inspirados na abordagem multidimensional do Balanced Scored Card - BSC. O BSC orienta no sentido da adoção de indicadores estratégicos relacionados a quatro dimensões do desempenho organizacional: Econômico-Financeira, Clientes/Usuários, Processos e Aprendizagem/Crescimento. 124 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 19. A modelagem dos indicadores admite ampla flexibilidade, de modo a possibilitar a avaliação de aspectos quantitativos e qualitativos específicos do contexto de atuação de cada rede. Nessa perspectiva, os indicadores aqui sugeridos têm um caráter exemplificativo, e estão referenciados a uma rede de certa complexidade, podendo ser simplificados em situações menos complexas. A dimensão Econômico-Financeira envolve a especificação de indicadores de resultados tangíveis da ação da rede, expressos como resultados das organizações finalísticas (aquelas diretamente relacionadas aos objetivos finalísticos da rede). No caso de uma rede de apoio a um APL de MPE, por exemplo, os indicadores poderiam ainda ser divididos em um nível geral e em um nível específico. No nível geral, envolveriam “o aumento da participação do APL no mercado nacional” e/ou “o aumento das vendas” e/ou “aumento das exportações”, e/ou “índice de MPE certificadas ISO- 9.000”, entre outros. No nível específico, estariam indicadores relacionados à adoção de práticas de cooperação, como “número de ações de capacitação conjunta realizadas”, e/ou “valor de compras coletivas / valor total de compras do APL”. Caso se tratasse de uma rede de organizações de apoio à inovação tecnológica, os indicadores poderiam ser “número de MPE atendidas”, e/ou “inovações efetivamente implementadas em MPE”, e/ou “valor agregado das inovações em MPE”. A dimensão Clientes/Usuários engloba o conjunto de indicadores relacionados ao tamanho e à representatividade da rede em relação ao universo das organizações do seu escopo. Ainda tomando como exemplo o caso da rede de apoio a um APL de MPE, os indicadores poderiam abarcar “% de MPE associadas à rede”, e/ou “% de organizações relevantes de apoio associadas à rede”, e/ou “índice de organizações parceiras satisfeitas com os resultados gerais da atuação da rede”. Na dimensão de Processos, estão os indicadores relacionados à qualidade e à eficácia dos processos de gestão da rede. Estariam incluídos aqui indicadores do tipo “índice de consecução das metas estabelecidas na Agenda da rede”, “número de eventos de 125 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 20. avaliação das ações da Agenda”, “eficiência da infra-estrutura de informações para os gestores da rede”, “formalização dos processos de trabalho e decisão no âmbito da rede”, “satisfação das organizações parceiras com a atuação dos gestores da rede”, entre outros. Na dimensão de Aprendizagem/Crescimento, estão englobados os indicadores focados no desenvolvimento das competências e habilidades dos gestores e das organizações parceiras para a ação em redes. Aí estão índices que reflitam “investimentos em competências e habilidades para o trabalho em rede”, “percepções das pessoas sobre a qualidade do relacionamento cooperativo no âmbito da rede”, “número de conflitos estabelecidos no contexto organizacional da rede”, “grau de sustentabilidade (auto-administração) A definição dos indicadores inclui a especificação da(s) variável(is) operacional(is) que proporcionará(ão) a medida do indicador, a fonte e a procedimento que será utilizado para captar e organizar a informação do estado da variável, o ciclo de tempo com que essa informação deve ser captada/atualizada e os agentes responsáveis pela captação, organização e disseminação da informação. O desenho organizacional da rede, que compreende as definições específicas relacionadas aos princípios, papéis, parâmetros e processos organizacionais sugeridos acima, deverá ser desenvolvido através do processo participativo mais amplo possível e formalizado por um instrumento que poderá ser desde um simples protocolo entre as organizações até instrumentos mais formais como convênios e acordos de cooperação. A escolha da organização de suporte é talvez a decisão mais importante para o processo de construção da rede. Condições técnicas, isenção de interesses e credibilidade institucional são condições que devem ser cuidadosamente analisados no processo de escolha. 126 da rede”, por exemplo. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 21. Desenho Informacional A relação entre as redes interorganizacionais e a tecnologia da informação é muito profunda, e se considera mesmo que as redes são o formato organizacional específico da revolução digital. Em primeiro lugar, as mudanças tecnológicas modernas estão na raiz mesma dos processos produtivos flexíveis, do conhecimento como vantagem competitiva e da dinamização dos mercados, fatores que determinam a necessidade das empresas e organizações articularem suas ações de forma dinâmica e cooperativa, ou seja, em redes. Por outro lado, a tecnologia da informação oferece a infra-estrutura para que as organizações integrem sistemas, processos e serviços, estruturando redes de relacionamentos, independentemente da localização espacial de cada uma. Desse modo, a correta análise e implementação dos aspectos informacionais constitui um elemento básico para que uma rede explore toda a potencialidade de seu formato organizacional e de sua natureza cooperativa. a) Apoio ao grupo de coordenação da rede: o grupo de coordenação das atividades da rede (instância de coordenação) é geralmente formado por representantes das diversas organizações parceiras, situadas em diferentes locais (diversos prédios, ou bairros, ou mesmo cidades). Daí surge a necessidade de uma infra-estrutura tecnológica que possibilite ao grupo funcionar também virtualmente, impedindo que o distanciamento espacial seja um fator restritivo à atividade de coordenação das atividades da rede. As características dessa 127 Os principais níveis onde deve incidir o planejamento do desenho informacional são: Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 22. infra-estrutura podem variar, desde uma simples lista de discussão baseada em correio eletrônico, até serviços interativos e de gestão do conhecimento bastante sofisticados. Aspecto fundamental da implementação desses serviços é a definição das responsabilidades pela manutenção das informações e pela animação das atividades interativas. b) Apoio às ações da rede: as ações definidas na Agenda da rede, para sua implementação, freqüentemente envolvem o acesso ou mesmo a estruturação de serviços virtuais de informação. Por exemplo, uma determinada rede define como ação de sua Agenda a prospecção e difusão, para as organizações da rede, de indicadores econômicos e de mercado. O desenho informacional da rede deverá detectar e tratar essa necessidade, projetando a implementação (ou a integração, caso já exista e seja acessível) de um serviço de informações integrado à plataforma de tecnologia da rede. A definição de serviços informacionais deve ser feita diretamente em função das necessidades concretas da rede, evitando-se qualquer tipo de “deslumbramento tecnológico”. Por outro lado, envolve geralmente questões complexas, sendo prudente contar com apoio técnico competente na tomada de decisões. A rede é um organismo aberto por natureza: ao longo da sua implementação e operação, haverá uma tendência ao aumento do número das organizações participantes e poderão ocorrer ajustes e modificações nos seus elementos definidores: Visão, Agenda, desenhos Organizacional e Informacional. 128 4 REQUISITOS DE GESTÃO DA REDE Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 23. O processo de gestão da rede se desenvolve de acordo com as estruturas, estratégias e procedimentos criados e implementados durante a fase de construção. A metodologia preconiza um conjunto de requisitos que endereçam aspectos essenciais ao equilíbrio do processo de gestão. As questões-chave tratadas pelos requisitos de gestão são: avaliação e atualização sistemática da Visão, da Agenda de ações e dos desenhos organizacional e informacional da rede, consolidação progressiva da sustentabilidade da rede e tratamento das conexões com outras redes. Gestão de Redes Avaliação e Atualização da Visão, da Agenda, dos desenhos Organizacional e Informacional Consolidação da Sustentabilidade Conexões entre Redes Como constantemente assinalado nessa abordagem metodológica, os requisitos constituem referencias gerais para o processo concreto de gestão, a serem aplicados conforme as conveniências específicas que só podem ser julgadas dentro de cada situação. Avaliação e Atualização da Visão, da Agenda, dos desenhos Organizacional e Informacional Ainda que todos os cuidados tenham sido adotados na fase de construção, e que o planejamento da rede tenha resultado em uma rica concepção do futuro (Visão), em excelentes idéias do que é necessário fazer para chegar nesse futuro (Agenda de ações), e em pessoas e organizações motivadas e comprometidas, será necessária uma grande capacidade 129 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 24. de gestão e articulação para que de fato a rede se consolide e alcance seus objetivos ao longo do tempo. A gestão das redes – que é da responsabilidade principal do grupo de coordenação, mas se estende a todos os parceiros – enfrenta dois grandes desafios cotidianos: a) Assegurar que as idéias saiam do papel para a prática, vale dizer, fazer com que a Agenda Aqui, é necessário monitoramento do alcance das metas dentro do cronograma estabelecido, o que requer constantes interações com as equipes e organizações que tenham assumido responsabilidades operacionais, e exige disposição e habilidade para equacionar e negociar a tempo os pequenos problemas não previstos que inevitavelmente surgem em qualquer ação inovadora. Uma rede vive da confiança dos parceiros na sua utilidade, e para adquirir confiança é preciso demonstrar capacidade de concretizar planos e atingir resultados. Além disso, considerando a importância extrema das relações intersubjetivas de confiança, é fundamental sempre avaliar também a percepção, pelos usuários finais das ações da rede, dos resultados obtidos e do desempenho das lideranças. A base para a avaliação de resultados e de desempenho da rede é o conjunto de indicadores relacionados às quatro dimensões do Balanced Scored Card – BSC, especificados na fase de Construção da rede, que também estarão sujeitos a atualizações e aperfeiçoamentos ao longo do processo de gestão. É essencial levar em conta a intensa dinâmica dos contextos políticos, institucionais e econômicos, que pode demandar mudanças na Agenda e mesmo na Visão de futuro da rede. 130 das ações da rede seja eficazmente implementada. b) Interpretar continuamente as modificações dos cenários externo e interno da rede. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 25. É exatamente por causa dessa dinâmica que as redes são importantes, com sua flexibilidade e capacidade de rápida adaptação a novos contextos. As formas para realizar esse monitoramento são várias e devem ser simples, desde a organização de momentos regulares de avaliação de conjuntura no nível do grupo de coordenação, bem como a interação com especialistas ou lideranças para o aprofundamento de questões específicas (a aprovação de uma nova lei ou novas políticas setoriais de governo, por exemplo), envolvendo o conjunto dos parceiros. A forma exata de realizar essas ações de monitoramento (de resultados e de cenários), e o ciclo de tempo no qual devam ser realizadas, só podem ser estabelecidos de forma adequada no contexto particular de cada rede, e mesmo podem variar conforme o momento específico da evolução da rede. c) Ciclo regular de avaliação de resultados e de cenários: para cada rede, e em cada momento de seu desenvolvimento, deve ser pré-estabelecido com clareza a periodicidade com que se realizarão as ações de avaliação; d) Produção prévia dos indicadores: o grupo de coordenação deve prover, diretamente ou não, a produção e distribuição prévia das informações e dados necessários à avaliação dos indicadores estabelecidos; e) Instâncias de avaliação: no nível geral da rede, em principio deve haver um processo de avaliação no âmbito do grupo de coordenação, como atividade preparatória para um procedimento de avaliação envolvendo todos os parceiros. A depender das condições específicas de cada rede, poderá haver ciclos avaliativos do grupo de coordenação mais curtos que os de maior âmbito, ou poderá ocorrer apenas uma atividade de avaliação conjunta do grupo de coordenação mais todas as organizações parceiras; 131 De um modo geral, devem ser consideradas as seguintes orientações: Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 26. f) Disseminação da cultura de avaliação: a cultura de avaliação de resultados, de desempenho e de cenários, deve ser estendida a todos os grupos de trabalho integrantes da rede. Consolidação e Sustentabilidade Apesar dos benefícios potenciais para as organizações finalísticas envolvidas, a cooperação interorganizacional frequentemente não surge de forma espontânea. a) Os custos adicionais associados às atividades de identificar parceiros convenientes e de b) As dificuldades de valorar, comparar e gerenciar o fluxo e contra-fluxos de informações e c) O risco institucional de assumir, perante as demais organizações parceiras, a promoção de d) A permanente e natural tensão entre os interesses específicos de cada organização Em decorrência dessas restrições, é comum que a iniciativa do desenvolvimento das redes esteja geralmente associada à presença de uma organização externa às organizações parceiras, que assume tarefas de gestor-chave da rede, desempenhando o papel de facilitadora, ou organização de suporte da rede. Essa organização pode ser uma firma de consultoria, uma instituição de ensino, um centro de inovações, ou, mais geralmente, uma instituição pública ou não governamental. 132 Existem alguns fatores que explicam esse bloqueio: desenvolver relacionamentos; inovações que formam a base do relacionamento entre as organizações parceiras; uma ação fracassada; parceira e os interesses coletivos da rede. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 27. O essencial é que, pelo seu posicionamento externo às organizações parceiras, a organização de suporte pode contribuir de forma importante para a superação dos obstáculos à dinamização do processo de cooperação interorganizacional. É importante compreender que o foco da organização de suporte é atuar junto às demais organizações da rede (finalísticas e de apoio), estimulando ações para que os esforços de todos sejam sinérgicos, sendo reconhecida pelas outras organizações como uma instância legítima para acompanhamento e articulação da Agenda da rede. Um critério fundamental para se avaliar o grau de sustentabilidade (auto-administração) da rede é verificar o quanto as organizações finalísticas atuam com autonomia e precedência face à organização de suporte, determinando e gerindo a Agenda da rede. O cenário ideal é aquele em que a influência direta da organização de suporte na gestão da rede, que tende a ser significativa no momento inicial da sua construção, seja progressivamente subordinada à iniciativa das próprias organizações finalísticas. Estas, uma vez que tenham adquirido um grau de maturidade para o trabalho em rede, são as melhores intérpretes de suas necessidades coletivas. Com o tempo, a organização de suporte posiciona-se como um serviço efetivamente de assistência às organizações finalísticas e de apoio, especialmente auxiliando o grupo de coordenação da rede a avaliar periodicamente os rumos tomados pela rede e a diagnosticar o sucesso das atividades. Três indicadores complementares são importantes para determinar o grau de sustentabilidade da rede: a) Qual a parcela das organizações finalísticas, presentes no contexto, que participam 133 efetivamente do processo de gestão e das atividades da rede; Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 28. b) Em que medida os serviços prestados pela rede são suportados financeiramente pelas c) Em que medida a obtenção de recursos e serviços externos resulta da ação articuladora Os processos periódicos de avaliação e atualização da Agenda da rede devem incluir pelo menos um indicador para verificação do progresso na sustentabilidade da rede. Além disso, na formulação, execução e financiamento de todas as ações da rede é sempre necessário determinar de que forma pode ser ampliada a participação das organizações finalísticas. Conexões entre redes As iniciativas de construção de redes têm se multiplicado, tanto no Brasil quanto no exterior, envolvendo múltiplas organizações de suporte a apoio, e milhares de redes de empresas e institucionais. Este movimento corresponde à crescente necessidade de coordenação dos cada vez mais diversificados interesses relacionados aos processos econômicos e institucionais da atualidade. O contexto geral onde se dá o processo de construção de uma rede, portanto, é um contexto onde atuam e estão em formação um grande número de outras redes. Algumas dessas redes têm natureza semelhante àquela que está sendo construída, outras não, e muitas guardam relações de complementaridade entre si. 134 próprias organizações finalísticas; direta das organizações finalísticas. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 29. Nessa situação, é de grande importância que a instância de gestão da rede, desde o início de sua operação, busque conhecer e desenvolver relacionamentos com outras redes, existentes ou em formação, que tenham objetivos similares ou complementares com os seus. Troca de informações, conhecimentos e experiências, ou integração de serviços, são as possibilidades mais interessantes a serem exploradas nesses relacionamentos. A plataforma de tecnologia utilizada pela rede - estabelecido em seu desenho informacional - deve estar especificada de forma a facilitar esse processo de intercâmbio e integração entre as redes relevantes, provendo informações qualificadas sobre a atuação dessas redes e acesso virtual online aos serviços por elas disponibilizadas. A emergência das redes reflete o fato de que, ao longo das últimas décadas, as relações entre as empresas, entre as instituições, e entre as empresas e as instituições passaram por grandes transformações. As tradicionais relações puramente competitivas e conflituosas cederam espaço para relações, que para se sustentarem, precisam estar baseadas na confiança. Foi justamente este novo padrão de relacionamento - representado aqui pelas redes de cooperação - que viabilizou o sucesso de muitas regiões industriais na Alemanha, na Itália e no Japão. Por outro lado, muitas economias acabam não se desenvolvendo por não conseguirem estabelecer relações de confiança entre suas empresas e entre essas e suas instituições. Além dos requisitos que prospectam e articulam interesses e técnicas de planejamento e gestão, é importante referenciar ações específicas voltadas para criar as condições de desenvolvimento da confiança entre os parceiros. 135 5 REQUISITOS DE ASPECTOS COMPORTAMENTAIS Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 30. Aspectos Comportamentais Promoção de Valores Comportamentais Negociação e Resolução de Conflitos Os requisitos comportamentais são transversais a todo o processo de construção e gestão das redes, e iniciativas neles referenciadas devem estar integradas às demais ações. Promoção de Valores Comportamentais No desenvolvimento de atividades em rede, é necessário que a confiança mútua seja estimulada e preservada. Os princípios éticos devem ser estabelecidos em processos participativos, de modo que sejam expressos com a abrangência e na linguagem consistentes com o pensamento do conjunto das organizações parceiras. Nesse processo, sugerimos a análise das seguintes restrições de comportamento, como base para o estabelecimento dos princípios: I. Uso de cargos ou de informações sobre assuntos da rede para influenciar decisões 136 Para que floresça um clima de confiança, são necessários: a) a formação de uma base compartilhada de princípios éticos; b) o incentivo a um novo tipo de liderança, de natureza conectiva. que venham a favorecer interesses particulares; Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 31. II. Aceitação de favores ou presentes de caráter pessoal, que resultem de relacionamento de terceiros com a rede, e que possam influenciar decisões e favorecer negócios particulares; III. Adoção de atitudes que discriminem pessoas (e, por consequência, organizações) em função de cor, sexo, religião, origem, classe social, idade ou incapacidade física; IV. Uso de equipamentos e recursos da rede para finalidades particulares não V. Uso, para fins de ganhos particulares ou de repasse a terceiros, de tecnologias, IX. Desrespeito aos princípios éticos gerais de honrar compromissos, ser honesto e leal, Para que, ao longo do tempo, os princípios estabelecidos, com base nessas restrições, sejam fortalecidos, é necessário definir sanções que criem incentivos para a ação correta das organizações e penalizem as que não agirem corretamente. Outro aspecto essencial ao desenvolvimento de relações de confiança e de parceria é o desenvolvimento e a multiplicação de um novo tipo de liderança. Tradicionalmente, o conceito de liderança é associado à dimensão carismática, à auto-suficiência 137 referendadas na rede; metodologias, know-how, e outras informações de propriedade da rede; VI. Manifestação não autorizada em nome da rede; VII. Prática de concorrência econômica ou institucional desleal com os parceiros; VIII. Desrespeito às leis e normas vigentes; respeitar as pessoas e assumir as responsabilidades pelos atos praticados. e à iniciativa pessoal do líder. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 32. Porém o mesmo contexto institucional e econômico moderno, que determina a necessidade do trabalho cooperativo em rede, determina também a necessidade de lideranças de natureza agregadora, conectivas, aptas ao exercício do papel de articulação e fortalecimento de coletivos, sejam equipes, sejam redes interorganizacionais. Na base da liderança conectiva, está o reconhecimento da diversidade e da interdependência como forças existenciais fundamentais, que são parte integrante e interligada da natureza humana e da natureza dos atos humanos. A diversidade afirma a identidade e as diferenças, mas muita independência gera conflitos que desgastam relacionamentos de forma improdutiva. Por sua vez a interdependência gera colaboração, alianças e redes, mas a simples subordinação ao interesse do outro conduz à perda de identidade e sacrifício da diferença e da singularidade. A maior qualidade possível, presente na liderança conectiva, é o reconhecimento e aceitação das diferenças e a busca ativa dos pontos de convergência possíveis. O traço principal do novo líder é inteligência emocional para enxergar as dimensões de compatibilidade entre o que usualmente é visto como irreconciliável e contraditório. É a liderança do futuro, de um mundo onde as fronteiras geográficas e políticas se dissolvem e as ideologias morrem. Nesse mundo, o papel da liderança é concatenar e transcender as falsas dicotomias tradicionais: amigo-inimigo, interdependência-diversidade, união-separação, semelhanças-diferenças. Na medida em que cresça o espírito de equipe - comprometimento pessoal e cooperação interpessoal em função dos objetivos coletivos do grupo -, tenderão a se afirmar as lideranças afinadas com a perspectiva da conectividade. 138 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 33. Negociação e Resolução de conflitos A promoção de valores éticos e o estímulo ao desenvolvimento de equipes são ações essenciais para o desenvolvimento das redes de cooperação. No entanto, é importante reconhecer que, no nosso contexto, os conflitos são inerentes à vida em grupo e às mudanças. Quando não ferem princípios éticos estabelecidos - sujeitos a tratamento específico - os conflitos devem ser encarados com naturalidade e como oportunidades de crescimento. São vários os níveis de conflito que podem se expressar nas atividades da rede: conflitos interpessoais, conflitos de interesses entre organizações parceiras e conflitos entre interesses de organizações parceiras e interesses coletivos da rede. Em grande medida, o crescimento da rede resultará da forma como esses conflitos sejam equacionados. O conflito, em si, portanto, não é necessariamente negativo, e a estratégia da negociação é o instrumento de que dispomos para que os conflitos resultem em processo de crescimento, ao romper a rotina e a acomodação, desvelar problemas não explícitos e demandar soluções criativas e inovadoras. A ação de um terceiro elemento (mediador, que pode ser uma pessoa ou um grupo) é fundamental para a estratégia de negociação. Este elemento deve ser capaz de acompanhar a emergência de conflitos no âmbito da rede, de se colocar em uma posição de neutralidade perante as partes envolvidas, de assegurar que o processo de negociação se dê em um contexto de razoável equilíbrio emocional das partes, e 139 Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 34. de estimular que as partes realizem movimentos táticos que a cada passo as aproximem de uma solução total ou parcial da contenda. a) Movimentos de aproximação ao propósito da outra parte: propostas, concessões, gestos b) Movimentos de modificação de expectativas da outra parte: persuasão, dissuasão, c) Movimentos de esclarecimentos que clarificam uma situação: perguntas, respostas, d) Movimentos de relaxamento que colocam questões específicas que possam aproximar as e) Movimentos protelatórios, que buscam estender as negociações, criando novas situações O terceiro elemento (mediador) poderá ter caráter temporário ou permanente, a depender das características de cada rede. Caso sejam esgotadas as possibilidades de negociação, a instância de coordenação da rede decide o conflito. A análise do contexto e do conjunto dos requisitos metodológicos fundamentam a elaboração do Plano de Construção da rede, que será o instrumento norteador do conjunto do processo. 140 Os movimentos táticos capazes de influir no rumo das negociações envolvem: de boa vontade; fornecimento de informações; exposições de fatos; partes; a serem examinadas. 6 O PLANO DE CONSTRUÇÃO DA REDE Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 35. Desenvolvido para cada rede específica, cada plano conterá as atividades e eventos mais adequados para que os requisitos sejam atendidos da melhor maneira possível, levando em conta: o contexto de cada situação, a natureza da rede, as características das organizações envolvidas e as condicionantes do ambiente econômico, institucional e político. Precede a elaboração do plano a existência de um grupo inicial de organizações interessadas na possível rede, que identificam potenciais convergências entre elas, e realizam o trabalho de levantamento das informações e construção dos consensos necessários à formalização do Plano de Construção. Descrição geral do contexto ao qual a rede em construção está referenciada, com ênfase nos aspectos relevantes para o Objetivo da rede e para o desenvolvimento dos relacionamentos estratégicos entre as organizações relevantes (atores). Caracterização preliminar do Objetivo Geral e dos Objetivos Específicos visados pela atuação da rede. Identificação, caracterização e avaliação preliminar das organizações relacionadas à rede (atores), bem como dos relacionamentos que essas organizações mantém – ou podem vir a manter - entre si. 141 A estrutura interna do Plano é composta das seguintes seções: 1) Caracterização do Contexto 2) Objetivos da Rede 3) Atores e Relacionamentos Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 36. Descrição das atividades e eventos que serão realizados para a construção da rede, atendendo aos requisitos estabelecidos pela metodologia. As atividades e eventos, concebidos conforme o contexto específico de cada rede, devem ser estruturados em um fluxo concatenado de ações e vinculados a um cronograma de execução. Para cada atividade e evento deverão ser indicados os recursos necessários, o(s) responsável (is) pela sua execução e os produtos esperados. As atividades e eventos devem indicar com precisão as ações específicas pelas quais se promoverá: a) a Sensibilização e a ampliação do universo das organizações mobilizadas para a b) a validação dos Objetivos, da qualificação de Atores, e dos relacionamentos, pelo conjunto ampliado das organizações envolvidas com o processo construtivo da rede; Cada uma dessas atividades e eventos específicos deve ser definida à luz dos requisitos estabelecidos na metodologia para o processo de Construção da Rede, inclusive os requisitos de Aspectos Comportamentais, que devem ser observados em todas as ações planejadas para a rede. 142 4) Atividades e Eventos construção da rede; c) a construção da Visão e da Agenda inicial de ações da rede; d) a definição e a implementação do Desenho Organizacional da rede; e) a especificação e desenvolvimento do Desenho Informacional da rede. Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014
  • 37. Uma vez elaborado, o Plano deve ser apresentado, debatido e consensuado com as organizações que tenham sido identificadas, até aquele momento, como parceiras estratégicas para o processo de construção da rede. Após essa etapa, o processo de construção da rede prosseguirá com a execução do Plano e o atendimento dos requisitos de construção, até que esteja implementada a estrutura de gestão e a agenda inicial de ações da rede. A partir desse momento, o processo tem sequência com as ações de gestão, orientadas pelos requisitos de gestão e de aspectos comportamentais. A consideração do caráter amplo, diversificado e aberto dos contextos e processos de construção de redes interorganizacionais conduziu à elaboração de uma metodologia assemelhada a um framework, ou seja, uma estrutura de referencia e inspiração para a criação de planos específicos para a formação e gestão de redes. O trabalho aqui apresentado é também aberto em um outro sentido, na medida em que a multiplicação das redes e a utilização deste framework certamente proporcionarão novas experiências e novos conhecimentos que conduzirão a revisões, ajustes e aperfeiçoamentos nas formulações aqui apresentadas. 143 7 COMENTÁRIO FINAL Programa da Rede de Inovação em Gestão do Turismo – SETUR- 2014