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4-
congresso
do
algarve
1986
1923fev
vol. 1
□IRRCRL
CLUBE
033 01
AS PRIMÍCIAS JORNALÍSTICAS DE MESTRE
AQUILINO RIBEIRO NA VILA DE OLHÃO
JOSfi CARLOS VILHENA MESQUITA
RESUMO
Numa altura em que jubilosamente se comemora o 1B Centen&rio
do Nascimento do grande mestre da literatura contempor&nea.
Aquilino Iíibeiro, justo serâ lembrar que foi em Olhão que, o
então jovem seminarista, se estreou no mundo do jornalismo.
Por incrível que pareça,tal facto tem sido esquecido pelos
seus biégrafos, para além de que a maioria dos algarvios des­
conhecera este importante evento da nossa cultura regional.
Esta comunicação tem por objectivo a recuperação do
primeiro texto que Mestre Aquilino Ribeiro deu & estampa, o
qual serâ integralmente transcrito. Julgamos que 6 a primei*
ra vez que o mesmo vem a pGblico apòs 83 anos de obscuro re­
pouso nas modestas colunas de "O Cruzeiro do Sul", seman&rio
olhanense de efémera mem&ria.
Poucos saberão certamente que o escritor Aquilino Gomes Ribeiro fez
as suas primícias de publicista emérito no Algarve, mais precisamente na vila
de Olhão, tendo escolhido para palco da sua estreia jornalística o modesto se­
man&rio "0 Cruzeiro do Sul", fundado e dirigido por José Marques Corpas Centeno,
dedicado secret&rio da edilidade local e not&vel jornalista.
Trata-se de um pormenor biogr&fico,frequentemente descurado,que à pri­
meira vista poder& parecer irrelevante mas que,no fundo, assume particular inte­
resse para o roteiro literário e estilístico do autor do Malhadinhas. cujo 10
centen&rio do seu nascimento se comemora no presente ano. Por outro lado,consti­
tui um elemento de insofism&vel orgulho para a Uist6ria da Imprensa Algarvia,que
de forma alguma se poder& desdenhar, sob pena de incorrermos num verdadeiro aten­
tado à mem&ria daquele que muito justamente se considera como o maior romancista
português do século XX.
A data da sua primeira incursão jornalística tinha, Aquilino Ribeiro,
apenas 18 anos e e m um dos mais argutos e acrisolados minorenses do Semin&rio
Episcopal de Beja. Cursava Teologia,mas o seu afeado espirito de livre pensador
não se caldeava com a dogmática disciplina da Igreja. No seminal viveiro ponti­
ficava uma frugal abstinência^que a todos trazia escorreitos no físico mas ana­
253
033 02
fados na sageza, contrastando com uma certa liberdade de costumes que por ali
graçava na classe presbítera. Ao que parece, o sagrado celibatismo eclesiástico,
em terras do Alentejoyera corroida amarra de que os leigos brandamente se alhea­
vam (1), Só que para um vylsigótico beirão como Aquilino Ribeiro nada passava des­
percebido & sua acerada censura. Mortificado pela frugal dieta, a que se vira com­
pelido (2)/ e nada vocacionado para a vida sacerdotal, depressa se fizera notar o
seu descontentamento. Dirigia o seminário o Bispo da diocese,D. António Xavier
de Sousa Monteiro, mas era o seu vice-reltor,Padre José Maria Ança,quem exercia
verdadeiramente essa autoridade. Era homem culto, inteligente e polido, muito
estimado pelos seus dotes de brilhante orador, e vagamente inspirado para o culto
das musas (3). Porém, era seu irmão, Manuel Ançã,quem superintendia na população
escolar^>que domesticava com um autoritarismo quase militar^ ao mesmo tempo que
geria a administração do Seminário. Mas, quem não tragava os manos Ançãs era o
jovem Aquilino que/< pouco Apouco,se apercebera do obscuro e vantajoso negócio
que para eles constituía a regência daquele eclesiástico viveiro (4). Em face
dessas e de muitas outras cincunstancias, as incompatibilidades sucediam-se e a
irreverência do futuro escritor acabaria por ditar a sua expulsão.
Merece, contudo, especial destaque o facto de ter sido a sua primacial
investida jornalística um dos busilis do seu banimento. Na verdade, a descoberta
de tão profano comportamento atraiu a inveja dum colega,que para se vingar de
certas desavenças e conquistar a simpatia dos superiores, o denunciou ao vice-
-reitor. 0 consequente castigo,que Aquilino recusara cumprir,originou a sua ex­
clusão do rebanho. Por causa dum pueril conto.de bucólica trama literária, anu­
lava-se um aspirante ao sacerdócio, o que, olhando para o futuro, só pode ter
sido por "sentença divina". Anos mais tarde a justiça veio & luz e os nanos Ançãs
acabaram, também eles,por serem expulsos do Seminário de Beja (5).
" 0 CauíEIRO <!o â ld " — fta.jõfc4 At a/w  A . i-M a íh a
Porque razão teria Aquilino Ribeiro escolhido o humilde semanário olha
nense, "0 Cruzeiro do Sul",para tablado da sua primeira semente literária ?
Porque razão teria aparecido em público embuçado no enigmático pseu­
dónimo de Bias Agro ? (6)
Revelaria o seu escrito os merecimentos estilísticos, aquela facúndia
lexicológica e frásica, que o haveriam de distinguir entre os mais prolixos es­
critores da língua de Camões ?
Entre muitas outras, foram estas as questões que mais espicaçaram a
nossa curiosidade e para as quais tentamos obter uma explicação plausível e ra­
cional. Faltou-nos,porém,a disponibilidade necessária para poder descer ati ao
cerne de todas as interrogações e,por outro lado,escasseia-nos o espaço para so­
bre todas elas poder discernir com meticulosa acuidade.
Quando Aquilino Iíibeiro frequentava o Seminário Episcopal de Beja,
encetou relações de sólida amizade com João Machado Gonçalves que viria a orde­
nar-se presbítero e a exercer aquele múnus na vigararia de Faro (7). Foi ele,
254
033 03
segundo consta (8), quem induziu o Aquilino a mandar o seu primeiro vagido lite­
rário para "0 Cruzeiro do Sul", e nada nos inibe de supôr que,em face do mesmo
estar acobertado por um pseudónimo,tenha sido ele a dar o aval de idoneidade ao
seu director, José Marques Corpas Centeno, ao tempo recêm promovido a secretário
da Câmara, que em Olhão todos conheciam e muito estimavam, li a prova está no fac­
to de João íiachado Gonçalves ser um dos colaboradores assíduos do próprio jornal,
curiosamente ao lado do Padre José Maria Ançã;que para as mesmas colunas desti­
nava alguns dos seus desenxabidos poemas. Como se verifica, tudo isto não acon­
teceu por mero acaso^mas antes pela intenção inequívoca de ajudar a manter e até
a melhorar a qualidade literária daquele simples e despretencioso semanário.
Convêm acrescentar que "0 Cruzeiro do Sul", fundado em 22 de Janeiro
de 1903, foi o quarto jonnal a vir à luz da estampa na vila de Olhão, que por
sinal era o segundo a ser editado por José Marques Corpas Centeno, pois que em
5 de Março de 1892 publicara já um semanário intitulado "0 Olhanense", tendo
ambos em comum a particularidade de durarem a vida das "rosas de Malherbe". Não
obstante, teve "0 Cruzeiro do Sul"( o mérito de poder ser considerado como "um
dos melhores^j^rnais^que^ein todos os tempos se publicaram em Olhão e mesmo talvez
am dos melhores de todo o Algarve" (9). Tinha,este periódico, por complemento de
titulo a indicação de ser um "semanário, litterario. noticioso e cliaradistico".
embora o seu carácter polltico-1iterário fosse predominante, o que facilmente se
comprova através do magnifico naipe de colaboradores, de entre os quais destaca­
mos os nomes de Lourenço do ô (que usava o pseudónimo de João Capuz), António
Pessoa, Bernardo de Passos, Dr. Cândido Guerreiro, Dr. Carlos Fuzeta, Carlos de
Pádua, Dr. João L&cio, Dr. José Ribeiro Castanho, Luiz Sep&lveda Mascarenhas (fun
dador de "0 Algarve", actual decano da imprensa algarvia), Marcos Algarve (pseu­
dónimo de Francisco Marques da Luz), Maria Veleda, Dr. Rodrigues Davim, Jaime
Quirino Chaves, Rodrigo Valente, P. José liaria Ançã e João Machado Gonçalves,
ambos"companheiros" de Aquilino Ribeiro no Seminário Episcopal de Beja, Mas,já
que estamos em maré de pormenores, podemos ainda acrescentar,a titulo de curio­
sidade, que "0 Cruzeiro do Sul" tinha a sua redacção e oficinas gráficas na Rua
de Santo António n0 45-47, em Olhão, publicava-se às quintas-feiras, custava por
assinatura anual 1300 réis e tinha como proprietário,director e editor José Mar­
ques Corpas Centeno. Assumia-se,porém, como um semanário partidariamente isento
e imparcial, desafecto ao tempestuoso radicalismo dos republicanos e afastado da
insulsa hipocrisia conservadora. Era dos outros, daqueles que amam a paz e a to­
lerância sem, contudo, abdicarem da honra e do bom senso. Por isso no seu artigo
de apresentação abria com este tão sugestivo quanto elucidativo parágrafo:
'lAinda_uma vez mais, leitor amavel. terás de abrir generosamente e
galhardamente a tua porta, para este novo conviva que pede a tua delicada atten-
cão e um curto logar na roda dos teus periodicos, porque, entre as tendas verme­
lhas dos que te faliam de generosas utupias revolucionarias e as tendas negras dos
oue te__fcartamudeam pacatas caturrices conservadoras, deseja elle assentar modes­
tamente a sua tenda branca de campanha" tioj.
................................. ’ " 255
033 04
Também é assaz curioso notar que o jornal propunha manter-se alheio
aos escândalos políticos frequentemente perpetrados pelos comissários régios
ou pelos assanhados e corruptos deputados^que/apreguando a defesa do povo^visa­
vam apenas os seus interesses pessoais:
» para que te tranquillises, elle começa, porém, por te assegurar que
a sua bocca nunca incommodar& os teus ouvidos delatando—te os martellados escân­
dalos dos commissarios regios, nem o ver&s puxar-te desabridamente, para te bra-
d_ar_t__desgrenhado, com a voz rouca e turva de ódio, que certo deputado ou certo
conselheiro acaba de pôr soffregamente o seu talher n»aquella tragica coisa que
a rethorica nacional chama a mesa do Orçamento»11 (11)
U-hv PiimàoTHTfto por Obc^o-t/alo ou U u fiú U a ta . ?
Conforme afirmamos anteriormente/foi o padre João Machado Gonçalves
quem trouxe para o "Cruzeiro do Sul" a primeira peça literária de Àquilino Ri­
beiro, porém, em face de nele igualmente colaborar o padre José Maria Ançã, vice-
-reitor do Seminário Episcopal de Beja, pareceu-lhe mais sensato e prudente es­
conder a autenticidade do seu produtor, evitando-se, deste modo, possíveis repre­
sálias ou sanções que dali pudessem advir. Importa lembrar que aos seminaristas
estavam vedadas quaisquer veleidades literárias, que não passassem primeiramente
pelo crivo censurador do Reverendíssimo Reitor.
0 pseudónimo adoptado foi o de Bias Agro ,e confesso que a sua relação
cora o autor me tem deixado vivamente intrigado. Ê certo que a maioria das onoma-
tóposes não passam de embustes sem qualquer sentido lógico ou de correlação au­
toral, porém há que reconhecer nestes domínios a predominância não só da ficção
como, essencialmente, da criptografia, prática milenar, frequentemente usada
contra a rapace censorina, ou em certas academias particulares e nos clubes ma­
çónicos. Por isso acreditamos que este Bias Agro tenha para Aquilino Ribeiro um
significado muito especial. Analisando mais de perto a sua composição,verifica­
mos que não se trata de um anagrama baseado no nome do autor, mas antes de dois
vocábulos onomásticos com acepções bastante diferenciadas. Assim, o nome Bias
poderá corresponder ao do célebre filósofo de Priena, considerado como um dos
sete sábios da Grécia, cuja reputação de jurista lhe granjeara a admiração do
povo helénico. A ele se ficaram devendo várias máximas de profundo alcance fi­
losófico, como, por exemplo: ".0 saber é a única propriedade que não pode perder-
-se". ou,ainda, "A maior riqueza é não dese.jar nada".
Pretenderia Aquilino Ribeiro equiparar-se a este filósofo quando ar­
quitectou o seu pseudónimo ?
Falta, contudo, perceber o significado de Agro, cuja polivalência se­
mântica nos deixa francamente indecisos. Na verdade, como adjectivo pode si-
gnificai'; àspero, azedo, escabroso, etc.; como substantivo pode traduzir: azedu­
me, amargo, sabor àcido, desgosto, etc; mas quando derivar do étimo latino agru
pode significar: campo, terra lavrada, renda agrícola, etc... Vemos assim que
coexistem várias acepções para o termo agro, quase todas elas difíceis de adaptar
256
033 05
ao pseudónimo usado por Aquilino Ribeiro. Por isso, supomos que as hipóteses an­
teriores não tenham razão de ser. Pessoalmente,S8SÍÍâl*Íg㧫㫠origem beirã do
escritor, admitimos que Bias seja uma corruptela do termo vias, que significa
camiijjps, estradas,etc, podendo,deste modo, associar-se a agro que significa
fragoso, àspero,etc. Neste contexto, o pseudónimo do jovem seminarista, desen­
raizado e inconvicto, traduz, provavelmente, os caminhos fragosos e amargos que
marcavam o trilho da sua juventude. Será isto ? Sinceramente não o posso jurar.
11A l/OLTft L ti IM)'— Uty> U m a VtlKo para twm OLuVor "ro^O
Quanto ao merecimento literário do seu primeiro conto haveria,certa­
mente, muito para dizer, se a tanto nos valesse o génio crítico^que temos cons­
ciência de não possuir. Apesar disso, tomamos a liberdade de tecer algumas con­
siderações^ formais e aprioristicas, aguardando para mais tarde o confronto das
análises criteriosas e profundas dos verdadeiros especialistas na matéria.
Com o titulo "A Volta do Brasileiro",P58SjÉx*è2uAquilino Ribeiro o
seu primeiro grito literário no semanário olhanense "0 Cruzeiro do Sul" iniciado
no nO 18 de 21 de Maio de 1903 e concluído no numero seguinte. Trata-se de uma
história da emigração, semelhante a muitas outras que por esse tempo se contavam,
denunciando alguma inspiração camilianista, provavelmente involuntária. A figura
sociológica do brasileiro de torna-viagem, magistralmente delineada e salirisada
por Eça de Queiroz, assume neste conto um certo entrosamento romântico/traduzí-
vel na fragilidade económica do chefe de família que abala para a América (mais
vulgarmente para o Brasil), perde o contacto com os seus e é dado por"esquecido1,'
supostamente morto, mas que um dia volta para os braços da mulher e filhos car­
regando um bafi de libras, disposto a vingar-se das privações de outrora e a fa­
zer-se um respeitável proprietário, que a política de feição poderia transfor­
mar em honorável Barão.
Verifica-se,porém, que a inexperiencia do futuro escritor não lhe
permitiu traçar um quadro sociológico mais perfeito e mais aproveitável, do pon­
to de vista político, limitando-se a enveredar pelos valores morais e religiosos
Jo povo, ingénuo, benevolente e crédulo. A intriga literária revela-se, contudo,
pouco criativa, urdindo-se num desfecho previsível e bastante peculiar no espí­
rito das nossas gentes: o regresso do salvador, iíá sempre alguém que nos redime
e salva, seja ele um emissário divino ou um Seoastião qualquer, no fundo um misto
das duas coisas. Csta parece ser a grande lição a retirar da história.
ílas, vejamos, em resumo, como se estrutura a sua trama literária.
A acção focaliza-se no lar, com particular incidência em Rosa, filha
do emigrante e amparo da mãe. Localiza-se,algures,na bacia hidrográfica do rio
Paiva, imediações de Soutosa no concelho de iloimenta da Beira - situação geográ­
fica que(de algum modo,se identifica com o autor (1J). o espaço temporal decorre
unicamente durante o dia de Páscoa, em Abril de um ano indistinto, certamente de
fim de século. A delimitação ê do tipo narrativa fechada, visto que a acção é
solucionada com o retorno do emigrante e o casamento de Rosa. As personagens são
257
033 06
apenas qnatro: o emigrante, a esposa, a filha Iiosa e o seu amado João. A sua
concepção e formulação são ligeiramente modeladas, com especial destaque para a
liosa que é dotada de certa densidade psicológica. Os protagonistas da acção con­
centram-se nas figuras do pai e da filha, sob presença testemunhal e omnisciente
do narrador. A sequSncia narrativa da acção ê do tipo encadeada, seguindo um
processo de desenvolvimento linear, levemente alterado pelos pensamentos român­
ticos de Kosa e. apenas, com ura encaixe de carácter etnográfico,que o autor ex­
plica era nota-de-rodapé. 0 processo de caracterização dos personagens é do tipo
directo, constatável através do retrato e opiniões valorativas do narrador. Os
modos de expressão literária na caracterização da acção,ambiente e personagens,
processafffKe entre a narração, deacrição, diálogo,reflexão e efusão lírica. A lin­
guagem revela alguma riqueza vocabular e uiu certo regionalismo frâsico— caracte­
rística que,Aquilino lUbeiro, sempre manteve com incomparável maestria ao longo
da sua numerosa e multifacetada obra literária. 0 enredo ê simples,moralista e
religioso, podendo resumir-se do seguinte modo: na casa do emigrante havia um
ano que chegara a notícia da sua morte; a filha ao recordar o pai evoca a figura
do seu apaixonado que partira para cumprir o serviço militar; entretanto ouvem-se
foguetes acompanhados dem&sica e cSnticos populares, era o pai que regressava de­
pois de ter escapado ao naufrágio que o dera como desaparecido; vem rico e de
passagem livra da tropa o nauiorado da filha.cujo casamento fica logo assente,
consumando-se,assim, o sonho de Uosa.
Verifica-se, portanto, que a história é banal e modesta, própria de
um estreante. Seja como for, ela marca o inicio de uma fulgurante carreira lite­
rária e naturalmente assinala um dos dias mais felizes na vida de Aquilino lii-
beiro. Aliás, é ele mesmo quem o afirma em carta dirigida ao bibliófilo olhanen-
se Abílio Gouveia, que, anos mais tarde, dela publicou um extrato na imprensa
local- "ilnje. 60 anos decorridos, pergunto-rae intrigado que estado_de espírito
t.ãn chocha e melada insignificância. Supunhamos que me
laqueia hora a envide puerperal. Em verdade fui eu que provoquei o "Cruzei
Sul" a publicar a minha gracinha como ura pescador de cana,amador, lança o
aos peixinhos. Pegou, e esse dia para mira foi uma deslumbrada aurora de
manha ao sol por,11 (13)
Apesar do natural descontentamento do consagrado romancista, a vila
de Olhão sente-se profundamente orgulhosa por ter dado guarida às primícias li­
terárias de um escritor como Aquilino líibeiro. E de tal maneira assim é que em
1970 o então presidente da eailidade, sr. Alfredo Timóteo Ferro Galvão, promo­
veu uma sessão de homenagem à memória do insigne romancista, durante a qual se
descerrou uma lápide toponímica numa das artérias do burgo.
rosto isto, só nos resta, para terminar, proceder à transcriçao do
primeiro conto de Aquilino lUbeiro, dado à estampa há cerca de 83 anos e até
hoje esquecido nas mortiças colunas do efêiuero semanário olhanense "0 Cruzeiro
do Sul". No fundo é este o principal e quase único interesse desta comunicação.
258
033 07
A VOLTA DO BRASILEIRO
N'aquelle dia a Rosinha chorara tanto! e era logo n'um dia
de primavera e amores, dia de Paschoa, em que a natureza veste
suas galas, o ceu deixa ver o azul sem fim, e o passarêdo chil­
reia doidamente nos galhos das arvores I? Se fazia um anno que
do Brasil viera a fatidica carta tarjada de negro a annunciar a
morte do pae, do pae que fôra para longe ganhar o dote de noiva
do para a filha, já então uma mocetona forte como um castello e
linda como os amores. Não pensava porém só n'isto a Rosinha! O
João, o seu escolhido, um esbelto e airoso rapaz deixara-a, par­
tira para soldado e então que despedida: Beijara-a, sobrepticia
mente, pois era lá possivel que offerecesse o seu rosto, ella
que corava ao minimo attentado ao pudor, que zombava de seus
apaixonados, que em troca de olhares cupidos e fogosos offere-
cia o seu olhar rigido e impassível!
E a lembrança d'aquelle beijo escaldava-lhe as faces, fazia-
-a estremecer de prazer, ao mesmo tempo que lhe incutia n'alma o
receio, de que o João, que depois d'aquella ousadia, deixara en­
tupido, attonito, mas contrito, sem uma palavra, um adeus, a es­
quecesse por outra d'essas terras grandes: das cidades.
E a recriminar-se, murmurava:"Se ha tantas raparigas e tão
lindas; mas que tola que eu fui em despedir assim o rapaz que tan
to me queria! e que importava um beijo! era lá algum mal! era ago
ra bem feito que me esquecesse." E passando do rancor para o sen­
timentalismo continuava "oh mas se me deixasse, matava-me, deita­
va-me a um poço, e tudo estava acabado. E alongava-se em conside­
rações, como seria a sua morte, se devia escrever ao perjuro, ac-
cusando-lhe a perfidia, os repiques funereos, o seu funeral, em-
fim, tudo isto lhe affluia rapido ã imaginação esquentada, fazen-
do-lhe vibrar a escala sentimentalista. Foi assim que passou o
dia de Paschoa, dia que traz ã alma tão gratas recordações dos de
vaneios e illusões infantis.
Chegou a noite, formosa noite de abril, a fadada para sonhos
e paixões. Brilha com todo o explendor a lua diamantina, e myria-
des de estrellas matisam os páramos d*anil, como lantejoulas em
vestidos de neve. E' na parte exterior da casita, no horto onde
avultam aqui e ali laranjeiras e outras arvores de fructo, que as
duas mulheres estão a murmurar ás estrellas as queixas do seu co­
ração macerado. Mãe a bichanar preces, passando pelos dedos as
contas do seu rosário a competirem em alvura com seus cabellos,
filha n'um enlevo d'alma a acariciar novas chimeras ao brando e
longiquo som da guitarra que a viração nocturna lhe bafeja nos
ouvidos, acariciandos-lhos como contos de magica. E a guitarra a
gemer demoradamente, como supplicas de namorados, e o pensamento
a voar para o seu João, para uma casita que mandaria edificar so­
bre o Paiva, mais além de Soutosa, para onde levaria a mãe, o pae
se fosse vivo, se fosse rica como as mouras encantadas da noite
de S. João. E a lua no seu eterno fado, na sua correria aeria,
ora mergulhava para logo immergir pallida e altiva no seio das nu
vens. Passam-se horas, e do povoado vem rumoros, sons vagos de vo
zes que cantam e instrumentos que tocam, e agora destacadamente
o entralejar de muitos foguetes, cujos echos se vão perder nas
concavidades dos valles. E as duas mulheres, unidas ainda mais pe­
lo amplexo da desventura, em presença da magestade da noite, da
festa universal, mais e mais se entranham no amago da dôr e tris­
teza, como ebrios que procurem nas fezes o remedio para a sêde
que os devõra. E sempre o ruido do logarejo que canta e ri, a so­
ar-lhe como escarneo malévolo, e casquinadas de feroz contentamen
to contra os desamparados da sorte. Acossadas fogem para a casita,
por cuja fresta irrompe um fácho de luz a luctar com a claridade
da noite; um murmurio dolente (preces a Deus pelo pae e marido
mortos) corta o silencio do quintalejo, as vozes extinguem-se e
com ellas a luz da candeia e tudo recahe na mudez primitiva. As
commoções do dia tendo-lhes prostrado a alma, postraram-lhe em
breve o corpo, por isso já, somnolentas, mal distinguiam um murmu
rio longinquo que, approximando-se convertera n'um concerto alde­
ão de que a instrumental indispensável são: uns ferrinhos, uma
sossobrouj andei tres dias e tres noites ã mercê das ondas, perdi
a cabeça, até que appareci longe n'uma ilha não sei como, não os
percebia. Agora aqui me teem e rico, trago dinheiro, muito dinhei
ro ganho honradamente.
- Oh! louvado Deus, acclamam levantando as mãos ao ceo.
- Bem pena tenho de não ter visto o nosso abbade tirar o fo­
lar, devia chegar hontem, porém um caso de força maior me reteve,
caso que contarei, mas primeiro digam-me ambas são muito felizes?
- Muito, respondem as duas.
- E agradecidas a Deus?
- Sim, agradecidas.
- De modo que abraçavam o maior inimigo que ahi lhe appare-
cesse fosse elle quem fosse?
- Fosse elle quem fosse.
- Pois bem. Rosa, se trouxesse aqui a teus pés quem te des­
peitou, perdoavas-lhe?
- Perdoava, accedeu Rosa.
- Em vista d'isto, exclamou elle sobrelevando o sussurro ge­
ral, oh! João, vem cá!
E no fundo azul da porta destacou-se a figura altiva e bella
do moço soldado.
Rosa ruborisou-se, mal contendo o jubilo.
- Aqui te apresento o noivo, rapariga, que ainda hontem li­
vrei de militar, e que causou a demora. Estima-o que é bem digno
de ti, e agora ordeno que se abracem e beijem.
E no meio do jubilo dos noivos o concerto aldeão começou a
executar uma melodia festiva, realisando-se assim o sonho de Rosa.
_18 BIASAGRO
(1)- No norte, principalmente na Beira Alta, quando algum filho da
terra, se annuncia pelo estralejar de alguns foguetes, vindo de lon
ge, tem a recepção na taberna ao som de toques e danças e assim
acompanhado segue para casa da família.
viola ou guitarra, um harmoniam, não olvidando o tradicional za­
bumba. Os instrumentos podem acrescer, se faltar porem algum d'
estes, perde o tique meritorio que o povoléu lhe dá.(l) Passando
em frente do horto, aquella eimphonia era para a apaixonada de
João, que começava de sonhar a festa do seu hymineo. Fortes ar­
goladas retumbam no silencio da casita, as mulheres accordam es­
tremunhadas, julgando ser ludibrio d'algum pesadello.
- Abram! brada alguem.
- Andará fogo em casa Rosa, lamúria a mãe saltando afflicta
da cama.
- Não sei, responde não menos pavida a filha, mas eu vejo
tanta gente!
E as duas precipitam-se seminuas para a porta e abrem-na.
Ao abrir da porta corresponde uma melodia do concerto aldeão,
emquanto na sua frente alguem exclama: Não me esperavam?!!!
Ao metal d'aquella voz, que lhes recordava alguem querido,
recuam, soltando um pequeno grito, julgando mais uma vez sonha-
- Pois não me reconhecem? torna elle, não serei eu o Thomé
Reis, esposo da Joanna e pae de Rosa?
- Deus seja louvado, que me trouxe o meu homem a porto de
salvação quando já o julgava morto! exclama a pobre Joanna lan­
çando-se-lhe nos braços e chorando copiosamente.
- Até que emfim! murmura elle, e tu rapariga como vaes?
- Sempre bem, meu pae, responde ella beijando-lhe as mãos.
- Mas, perguntam ambas ao mesmo tempo, disseram-nos que ti­
nha morrido?!
- Se aqui me vêdes é porque não morri, mas o que lá vae lá
vae, com aguas passadas não moem moinhos.
- Pois sim, mas queriamos ...
- Querem saber como fui, pronunciou com ar grave, accenando
aos tocadores a que se calassem, e porque artes aqui appareço, é
bem simples, o navio em que voltava mettendo agua, que nem cesto,
259
As primícias jornalísticas de Aquilino Ribeiro em Olhão

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As primícias jornalísticas de Aquilino Ribeiro em Olhão

  • 2. 033 01 AS PRIMÍCIAS JORNALÍSTICAS DE MESTRE AQUILINO RIBEIRO NA VILA DE OLHÃO JOSfi CARLOS VILHENA MESQUITA RESUMO Numa altura em que jubilosamente se comemora o 1B Centen&rio do Nascimento do grande mestre da literatura contempor&nea. Aquilino Iíibeiro, justo serâ lembrar que foi em Olhão que, o então jovem seminarista, se estreou no mundo do jornalismo. Por incrível que pareça,tal facto tem sido esquecido pelos seus biégrafos, para além de que a maioria dos algarvios des­ conhecera este importante evento da nossa cultura regional. Esta comunicação tem por objectivo a recuperação do primeiro texto que Mestre Aquilino Ribeiro deu & estampa, o qual serâ integralmente transcrito. Julgamos que 6 a primei* ra vez que o mesmo vem a pGblico apòs 83 anos de obscuro re­ pouso nas modestas colunas de "O Cruzeiro do Sul", seman&rio olhanense de efémera mem&ria. Poucos saberão certamente que o escritor Aquilino Gomes Ribeiro fez as suas primícias de publicista emérito no Algarve, mais precisamente na vila de Olhão, tendo escolhido para palco da sua estreia jornalística o modesto se­ man&rio "0 Cruzeiro do Sul", fundado e dirigido por José Marques Corpas Centeno, dedicado secret&rio da edilidade local e not&vel jornalista. Trata-se de um pormenor biogr&fico,frequentemente descurado,que à pri­ meira vista poder& parecer irrelevante mas que,no fundo, assume particular inte­ resse para o roteiro literário e estilístico do autor do Malhadinhas. cujo 10 centen&rio do seu nascimento se comemora no presente ano. Por outro lado,consti­ tui um elemento de insofism&vel orgulho para a Uist6ria da Imprensa Algarvia,que de forma alguma se poder& desdenhar, sob pena de incorrermos num verdadeiro aten­ tado à mem&ria daquele que muito justamente se considera como o maior romancista português do século XX. A data da sua primeira incursão jornalística tinha, Aquilino Ribeiro, apenas 18 anos e e m um dos mais argutos e acrisolados minorenses do Semin&rio Episcopal de Beja. Cursava Teologia,mas o seu afeado espirito de livre pensador não se caldeava com a dogmática disciplina da Igreja. No seminal viveiro ponti­ ficava uma frugal abstinência^que a todos trazia escorreitos no físico mas ana­ 253
  • 3. 033 02 fados na sageza, contrastando com uma certa liberdade de costumes que por ali graçava na classe presbítera. Ao que parece, o sagrado celibatismo eclesiástico, em terras do Alentejoyera corroida amarra de que os leigos brandamente se alhea­ vam (1), Só que para um vylsigótico beirão como Aquilino Ribeiro nada passava des­ percebido & sua acerada censura. Mortificado pela frugal dieta, a que se vira com­ pelido (2)/ e nada vocacionado para a vida sacerdotal, depressa se fizera notar o seu descontentamento. Dirigia o seminário o Bispo da diocese,D. António Xavier de Sousa Monteiro, mas era o seu vice-reltor,Padre José Maria Ança,quem exercia verdadeiramente essa autoridade. Era homem culto, inteligente e polido, muito estimado pelos seus dotes de brilhante orador, e vagamente inspirado para o culto das musas (3). Porém, era seu irmão, Manuel Ançã,quem superintendia na população escolar^>que domesticava com um autoritarismo quase militar^ ao mesmo tempo que geria a administração do Seminário. Mas, quem não tragava os manos Ançãs era o jovem Aquilino que/< pouco Apouco,se apercebera do obscuro e vantajoso negócio que para eles constituía a regência daquele eclesiástico viveiro (4). Em face dessas e de muitas outras cincunstancias, as incompatibilidades sucediam-se e a irreverência do futuro escritor acabaria por ditar a sua expulsão. Merece, contudo, especial destaque o facto de ter sido a sua primacial investida jornalística um dos busilis do seu banimento. Na verdade, a descoberta de tão profano comportamento atraiu a inveja dum colega,que para se vingar de certas desavenças e conquistar a simpatia dos superiores, o denunciou ao vice- -reitor. 0 consequente castigo,que Aquilino recusara cumprir,originou a sua ex­ clusão do rebanho. Por causa dum pueril conto.de bucólica trama literária, anu­ lava-se um aspirante ao sacerdócio, o que, olhando para o futuro, só pode ter sido por "sentença divina". Anos mais tarde a justiça veio & luz e os nanos Ançãs acabaram, também eles,por serem expulsos do Seminário de Beja (5). " 0 CauíEIRO <!o â ld " — fta.jõfc4 At a/w A . i-M a íh a Porque razão teria Aquilino Ribeiro escolhido o humilde semanário olha nense, "0 Cruzeiro do Sul",para tablado da sua primeira semente literária ? Porque razão teria aparecido em público embuçado no enigmático pseu­ dónimo de Bias Agro ? (6) Revelaria o seu escrito os merecimentos estilísticos, aquela facúndia lexicológica e frásica, que o haveriam de distinguir entre os mais prolixos es­ critores da língua de Camões ? Entre muitas outras, foram estas as questões que mais espicaçaram a nossa curiosidade e para as quais tentamos obter uma explicação plausível e ra­ cional. Faltou-nos,porém,a disponibilidade necessária para poder descer ati ao cerne de todas as interrogações e,por outro lado,escasseia-nos o espaço para so­ bre todas elas poder discernir com meticulosa acuidade. Quando Aquilino Iíibeiro frequentava o Seminário Episcopal de Beja, encetou relações de sólida amizade com João Machado Gonçalves que viria a orde­ nar-se presbítero e a exercer aquele múnus na vigararia de Faro (7). Foi ele, 254
  • 4. 033 03 segundo consta (8), quem induziu o Aquilino a mandar o seu primeiro vagido lite­ rário para "0 Cruzeiro do Sul", e nada nos inibe de supôr que,em face do mesmo estar acobertado por um pseudónimo,tenha sido ele a dar o aval de idoneidade ao seu director, José Marques Corpas Centeno, ao tempo recêm promovido a secretário da Câmara, que em Olhão todos conheciam e muito estimavam, li a prova está no fac­ to de João íiachado Gonçalves ser um dos colaboradores assíduos do próprio jornal, curiosamente ao lado do Padre José Maria Ançã;que para as mesmas colunas desti­ nava alguns dos seus desenxabidos poemas. Como se verifica, tudo isto não acon­ teceu por mero acaso^mas antes pela intenção inequívoca de ajudar a manter e até a melhorar a qualidade literária daquele simples e despretencioso semanário. Convêm acrescentar que "0 Cruzeiro do Sul", fundado em 22 de Janeiro de 1903, foi o quarto jonnal a vir à luz da estampa na vila de Olhão, que por sinal era o segundo a ser editado por José Marques Corpas Centeno, pois que em 5 de Março de 1892 publicara já um semanário intitulado "0 Olhanense", tendo ambos em comum a particularidade de durarem a vida das "rosas de Malherbe". Não obstante, teve "0 Cruzeiro do Sul"( o mérito de poder ser considerado como "um dos melhores^j^rnais^que^ein todos os tempos se publicaram em Olhão e mesmo talvez am dos melhores de todo o Algarve" (9). Tinha,este periódico, por complemento de titulo a indicação de ser um "semanário, litterario. noticioso e cliaradistico". embora o seu carácter polltico-1iterário fosse predominante, o que facilmente se comprova através do magnifico naipe de colaboradores, de entre os quais destaca­ mos os nomes de Lourenço do ô (que usava o pseudónimo de João Capuz), António Pessoa, Bernardo de Passos, Dr. Cândido Guerreiro, Dr. Carlos Fuzeta, Carlos de Pádua, Dr. João L&cio, Dr. José Ribeiro Castanho, Luiz Sep&lveda Mascarenhas (fun dador de "0 Algarve", actual decano da imprensa algarvia), Marcos Algarve (pseu­ dónimo de Francisco Marques da Luz), Maria Veleda, Dr. Rodrigues Davim, Jaime Quirino Chaves, Rodrigo Valente, P. José liaria Ançã e João Machado Gonçalves, ambos"companheiros" de Aquilino Ribeiro no Seminário Episcopal de Beja, Mas,já que estamos em maré de pormenores, podemos ainda acrescentar,a titulo de curio­ sidade, que "0 Cruzeiro do Sul" tinha a sua redacção e oficinas gráficas na Rua de Santo António n0 45-47, em Olhão, publicava-se às quintas-feiras, custava por assinatura anual 1300 réis e tinha como proprietário,director e editor José Mar­ ques Corpas Centeno. Assumia-se,porém, como um semanário partidariamente isento e imparcial, desafecto ao tempestuoso radicalismo dos republicanos e afastado da insulsa hipocrisia conservadora. Era dos outros, daqueles que amam a paz e a to­ lerância sem, contudo, abdicarem da honra e do bom senso. Por isso no seu artigo de apresentação abria com este tão sugestivo quanto elucidativo parágrafo: 'lAinda_uma vez mais, leitor amavel. terás de abrir generosamente e galhardamente a tua porta, para este novo conviva que pede a tua delicada atten- cão e um curto logar na roda dos teus periodicos, porque, entre as tendas verme­ lhas dos que te faliam de generosas utupias revolucionarias e as tendas negras dos oue te__fcartamudeam pacatas caturrices conservadoras, deseja elle assentar modes­ tamente a sua tenda branca de campanha" tioj. ................................. ’ " 255
  • 5. 033 04 Também é assaz curioso notar que o jornal propunha manter-se alheio aos escândalos políticos frequentemente perpetrados pelos comissários régios ou pelos assanhados e corruptos deputados^que/apreguando a defesa do povo^visa­ vam apenas os seus interesses pessoais: » para que te tranquillises, elle começa, porém, por te assegurar que a sua bocca nunca incommodar& os teus ouvidos delatando—te os martellados escân­ dalos dos commissarios regios, nem o ver&s puxar-te desabridamente, para te bra- d_ar_t__desgrenhado, com a voz rouca e turva de ódio, que certo deputado ou certo conselheiro acaba de pôr soffregamente o seu talher n»aquella tragica coisa que a rethorica nacional chama a mesa do Orçamento»11 (11) U-hv PiimàoTHTfto por Obc^o-t/alo ou U u fiú U a ta . ? Conforme afirmamos anteriormente/foi o padre João Machado Gonçalves quem trouxe para o "Cruzeiro do Sul" a primeira peça literária de Àquilino Ri­ beiro, porém, em face de nele igualmente colaborar o padre José Maria Ançã, vice- -reitor do Seminário Episcopal de Beja, pareceu-lhe mais sensato e prudente es­ conder a autenticidade do seu produtor, evitando-se, deste modo, possíveis repre­ sálias ou sanções que dali pudessem advir. Importa lembrar que aos seminaristas estavam vedadas quaisquer veleidades literárias, que não passassem primeiramente pelo crivo censurador do Reverendíssimo Reitor. 0 pseudónimo adoptado foi o de Bias Agro ,e confesso que a sua relação cora o autor me tem deixado vivamente intrigado. Ê certo que a maioria das onoma- tóposes não passam de embustes sem qualquer sentido lógico ou de correlação au­ toral, porém há que reconhecer nestes domínios a predominância não só da ficção como, essencialmente, da criptografia, prática milenar, frequentemente usada contra a rapace censorina, ou em certas academias particulares e nos clubes ma­ çónicos. Por isso acreditamos que este Bias Agro tenha para Aquilino Ribeiro um significado muito especial. Analisando mais de perto a sua composição,verifica­ mos que não se trata de um anagrama baseado no nome do autor, mas antes de dois vocábulos onomásticos com acepções bastante diferenciadas. Assim, o nome Bias poderá corresponder ao do célebre filósofo de Priena, considerado como um dos sete sábios da Grécia, cuja reputação de jurista lhe granjeara a admiração do povo helénico. A ele se ficaram devendo várias máximas de profundo alcance fi­ losófico, como, por exemplo: ".0 saber é a única propriedade que não pode perder- -se". ou,ainda, "A maior riqueza é não dese.jar nada". Pretenderia Aquilino Ribeiro equiparar-se a este filósofo quando ar­ quitectou o seu pseudónimo ? Falta, contudo, perceber o significado de Agro, cuja polivalência se­ mântica nos deixa francamente indecisos. Na verdade, como adjectivo pode si- gnificai'; àspero, azedo, escabroso, etc.; como substantivo pode traduzir: azedu­ me, amargo, sabor àcido, desgosto, etc; mas quando derivar do étimo latino agru pode significar: campo, terra lavrada, renda agrícola, etc... Vemos assim que coexistem várias acepções para o termo agro, quase todas elas difíceis de adaptar 256
  • 6. 033 05 ao pseudónimo usado por Aquilino Ribeiro. Por isso, supomos que as hipóteses an­ teriores não tenham razão de ser. Pessoalmente,S8SÍÍâl*Íg㧫㫠origem beirã do escritor, admitimos que Bias seja uma corruptela do termo vias, que significa camiijjps, estradas,etc, podendo,deste modo, associar-se a agro que significa fragoso, àspero,etc. Neste contexto, o pseudónimo do jovem seminarista, desen­ raizado e inconvicto, traduz, provavelmente, os caminhos fragosos e amargos que marcavam o trilho da sua juventude. Será isto ? Sinceramente não o posso jurar. 11A l/OLTft L ti IM)'— Uty> U m a VtlKo para twm OLuVor "ro^O Quanto ao merecimento literário do seu primeiro conto haveria,certa­ mente, muito para dizer, se a tanto nos valesse o génio crítico^que temos cons­ ciência de não possuir. Apesar disso, tomamos a liberdade de tecer algumas con­ siderações^ formais e aprioristicas, aguardando para mais tarde o confronto das análises criteriosas e profundas dos verdadeiros especialistas na matéria. Com o titulo "A Volta do Brasileiro",P58SjÉx*è2uAquilino Ribeiro o seu primeiro grito literário no semanário olhanense "0 Cruzeiro do Sul" iniciado no nO 18 de 21 de Maio de 1903 e concluído no numero seguinte. Trata-se de uma história da emigração, semelhante a muitas outras que por esse tempo se contavam, denunciando alguma inspiração camilianista, provavelmente involuntária. A figura sociológica do brasileiro de torna-viagem, magistralmente delineada e salirisada por Eça de Queiroz, assume neste conto um certo entrosamento romântico/traduzí- vel na fragilidade económica do chefe de família que abala para a América (mais vulgarmente para o Brasil), perde o contacto com os seus e é dado por"esquecido1,' supostamente morto, mas que um dia volta para os braços da mulher e filhos car­ regando um bafi de libras, disposto a vingar-se das privações de outrora e a fa­ zer-se um respeitável proprietário, que a política de feição poderia transfor­ mar em honorável Barão. Verifica-se,porém, que a inexperiencia do futuro escritor não lhe permitiu traçar um quadro sociológico mais perfeito e mais aproveitável, do pon­ to de vista político, limitando-se a enveredar pelos valores morais e religiosos Jo povo, ingénuo, benevolente e crédulo. A intriga literária revela-se, contudo, pouco criativa, urdindo-se num desfecho previsível e bastante peculiar no espí­ rito das nossas gentes: o regresso do salvador, iíá sempre alguém que nos redime e salva, seja ele um emissário divino ou um Seoastião qualquer, no fundo um misto das duas coisas. Csta parece ser a grande lição a retirar da história. ílas, vejamos, em resumo, como se estrutura a sua trama literária. A acção focaliza-se no lar, com particular incidência em Rosa, filha do emigrante e amparo da mãe. Localiza-se,algures,na bacia hidrográfica do rio Paiva, imediações de Soutosa no concelho de iloimenta da Beira - situação geográ­ fica que(de algum modo,se identifica com o autor (1J). o espaço temporal decorre unicamente durante o dia de Páscoa, em Abril de um ano indistinto, certamente de fim de século. A delimitação ê do tipo narrativa fechada, visto que a acção é solucionada com o retorno do emigrante e o casamento de Rosa. As personagens são 257
  • 7. 033 06 apenas qnatro: o emigrante, a esposa, a filha Iiosa e o seu amado João. A sua concepção e formulação são ligeiramente modeladas, com especial destaque para a liosa que é dotada de certa densidade psicológica. Os protagonistas da acção con­ centram-se nas figuras do pai e da filha, sob presença testemunhal e omnisciente do narrador. A sequSncia narrativa da acção ê do tipo encadeada, seguindo um processo de desenvolvimento linear, levemente alterado pelos pensamentos român­ ticos de Kosa e. apenas, com ura encaixe de carácter etnográfico,que o autor ex­ plica era nota-de-rodapé. 0 processo de caracterização dos personagens é do tipo directo, constatável através do retrato e opiniões valorativas do narrador. Os modos de expressão literária na caracterização da acção,ambiente e personagens, processafffKe entre a narração, deacrição, diálogo,reflexão e efusão lírica. A lin­ guagem revela alguma riqueza vocabular e uiu certo regionalismo frâsico— caracte­ rística que,Aquilino lUbeiro, sempre manteve com incomparável maestria ao longo da sua numerosa e multifacetada obra literária. 0 enredo ê simples,moralista e religioso, podendo resumir-se do seguinte modo: na casa do emigrante havia um ano que chegara a notícia da sua morte; a filha ao recordar o pai evoca a figura do seu apaixonado que partira para cumprir o serviço militar; entretanto ouvem-se foguetes acompanhados dem&sica e cSnticos populares, era o pai que regressava de­ pois de ter escapado ao naufrágio que o dera como desaparecido; vem rico e de passagem livra da tropa o nauiorado da filha.cujo casamento fica logo assente, consumando-se,assim, o sonho de Uosa. Verifica-se, portanto, que a história é banal e modesta, própria de um estreante. Seja como for, ela marca o inicio de uma fulgurante carreira lite­ rária e naturalmente assinala um dos dias mais felizes na vida de Aquilino lii- beiro. Aliás, é ele mesmo quem o afirma em carta dirigida ao bibliófilo olhanen- se Abílio Gouveia, que, anos mais tarde, dela publicou um extrato na imprensa local- "ilnje. 60 anos decorridos, pergunto-rae intrigado que estado_de espírito t.ãn chocha e melada insignificância. Supunhamos que me laqueia hora a envide puerperal. Em verdade fui eu que provoquei o "Cruzei Sul" a publicar a minha gracinha como ura pescador de cana,amador, lança o aos peixinhos. Pegou, e esse dia para mira foi uma deslumbrada aurora de manha ao sol por,11 (13) Apesar do natural descontentamento do consagrado romancista, a vila de Olhão sente-se profundamente orgulhosa por ter dado guarida às primícias li­ terárias de um escritor como Aquilino líibeiro. E de tal maneira assim é que em 1970 o então presidente da eailidade, sr. Alfredo Timóteo Ferro Galvão, promo­ veu uma sessão de homenagem à memória do insigne romancista, durante a qual se descerrou uma lápide toponímica numa das artérias do burgo. rosto isto, só nos resta, para terminar, proceder à transcriçao do primeiro conto de Aquilino lUbeiro, dado à estampa há cerca de 83 anos e até hoje esquecido nas mortiças colunas do efêiuero semanário olhanense "0 Cruzeiro do Sul". No fundo é este o principal e quase único interesse desta comunicação. 258
  • 8. 033 07 A VOLTA DO BRASILEIRO N'aquelle dia a Rosinha chorara tanto! e era logo n'um dia de primavera e amores, dia de Paschoa, em que a natureza veste suas galas, o ceu deixa ver o azul sem fim, e o passarêdo chil­ reia doidamente nos galhos das arvores I? Se fazia um anno que do Brasil viera a fatidica carta tarjada de negro a annunciar a morte do pae, do pae que fôra para longe ganhar o dote de noiva do para a filha, já então uma mocetona forte como um castello e linda como os amores. Não pensava porém só n'isto a Rosinha! O João, o seu escolhido, um esbelto e airoso rapaz deixara-a, par­ tira para soldado e então que despedida: Beijara-a, sobrepticia mente, pois era lá possivel que offerecesse o seu rosto, ella que corava ao minimo attentado ao pudor, que zombava de seus apaixonados, que em troca de olhares cupidos e fogosos offere- cia o seu olhar rigido e impassível! E a lembrança d'aquelle beijo escaldava-lhe as faces, fazia- -a estremecer de prazer, ao mesmo tempo que lhe incutia n'alma o receio, de que o João, que depois d'aquella ousadia, deixara en­ tupido, attonito, mas contrito, sem uma palavra, um adeus, a es­ quecesse por outra d'essas terras grandes: das cidades. E a recriminar-se, murmurava:"Se ha tantas raparigas e tão lindas; mas que tola que eu fui em despedir assim o rapaz que tan to me queria! e que importava um beijo! era lá algum mal! era ago ra bem feito que me esquecesse." E passando do rancor para o sen­ timentalismo continuava "oh mas se me deixasse, matava-me, deita­ va-me a um poço, e tudo estava acabado. E alongava-se em conside­ rações, como seria a sua morte, se devia escrever ao perjuro, ac- cusando-lhe a perfidia, os repiques funereos, o seu funeral, em- fim, tudo isto lhe affluia rapido ã imaginação esquentada, fazen- do-lhe vibrar a escala sentimentalista. Foi assim que passou o dia de Paschoa, dia que traz ã alma tão gratas recordações dos de vaneios e illusões infantis. Chegou a noite, formosa noite de abril, a fadada para sonhos e paixões. Brilha com todo o explendor a lua diamantina, e myria- des de estrellas matisam os páramos d*anil, como lantejoulas em vestidos de neve. E' na parte exterior da casita, no horto onde avultam aqui e ali laranjeiras e outras arvores de fructo, que as duas mulheres estão a murmurar ás estrellas as queixas do seu co­ ração macerado. Mãe a bichanar preces, passando pelos dedos as contas do seu rosário a competirem em alvura com seus cabellos, filha n'um enlevo d'alma a acariciar novas chimeras ao brando e longiquo som da guitarra que a viração nocturna lhe bafeja nos ouvidos, acariciandos-lhos como contos de magica. E a guitarra a gemer demoradamente, como supplicas de namorados, e o pensamento a voar para o seu João, para uma casita que mandaria edificar so­ bre o Paiva, mais além de Soutosa, para onde levaria a mãe, o pae se fosse vivo, se fosse rica como as mouras encantadas da noite de S. João. E a lua no seu eterno fado, na sua correria aeria, ora mergulhava para logo immergir pallida e altiva no seio das nu vens. Passam-se horas, e do povoado vem rumoros, sons vagos de vo zes que cantam e instrumentos que tocam, e agora destacadamente o entralejar de muitos foguetes, cujos echos se vão perder nas concavidades dos valles. E as duas mulheres, unidas ainda mais pe­ lo amplexo da desventura, em presença da magestade da noite, da festa universal, mais e mais se entranham no amago da dôr e tris­ teza, como ebrios que procurem nas fezes o remedio para a sêde que os devõra. E sempre o ruido do logarejo que canta e ri, a so­ ar-lhe como escarneo malévolo, e casquinadas de feroz contentamen to contra os desamparados da sorte. Acossadas fogem para a casita, por cuja fresta irrompe um fácho de luz a luctar com a claridade da noite; um murmurio dolente (preces a Deus pelo pae e marido mortos) corta o silencio do quintalejo, as vozes extinguem-se e com ellas a luz da candeia e tudo recahe na mudez primitiva. As commoções do dia tendo-lhes prostrado a alma, postraram-lhe em breve o corpo, por isso já, somnolentas, mal distinguiam um murmu rio longinquo que, approximando-se convertera n'um concerto alde­ ão de que a instrumental indispensável são: uns ferrinhos, uma sossobrouj andei tres dias e tres noites ã mercê das ondas, perdi a cabeça, até que appareci longe n'uma ilha não sei como, não os percebia. Agora aqui me teem e rico, trago dinheiro, muito dinhei ro ganho honradamente. - Oh! louvado Deus, acclamam levantando as mãos ao ceo. - Bem pena tenho de não ter visto o nosso abbade tirar o fo­ lar, devia chegar hontem, porém um caso de força maior me reteve, caso que contarei, mas primeiro digam-me ambas são muito felizes? - Muito, respondem as duas. - E agradecidas a Deus? - Sim, agradecidas. - De modo que abraçavam o maior inimigo que ahi lhe appare- cesse fosse elle quem fosse? - Fosse elle quem fosse. - Pois bem. Rosa, se trouxesse aqui a teus pés quem te des­ peitou, perdoavas-lhe? - Perdoava, accedeu Rosa. - Em vista d'isto, exclamou elle sobrelevando o sussurro ge­ ral, oh! João, vem cá! E no fundo azul da porta destacou-se a figura altiva e bella do moço soldado. Rosa ruborisou-se, mal contendo o jubilo. - Aqui te apresento o noivo, rapariga, que ainda hontem li­ vrei de militar, e que causou a demora. Estima-o que é bem digno de ti, e agora ordeno que se abracem e beijem. E no meio do jubilo dos noivos o concerto aldeão começou a executar uma melodia festiva, realisando-se assim o sonho de Rosa. _18 BIASAGRO (1)- No norte, principalmente na Beira Alta, quando algum filho da terra, se annuncia pelo estralejar de alguns foguetes, vindo de lon ge, tem a recepção na taberna ao som de toques e danças e assim acompanhado segue para casa da família. viola ou guitarra, um harmoniam, não olvidando o tradicional za­ bumba. Os instrumentos podem acrescer, se faltar porem algum d' estes, perde o tique meritorio que o povoléu lhe dá.(l) Passando em frente do horto, aquella eimphonia era para a apaixonada de João, que começava de sonhar a festa do seu hymineo. Fortes ar­ goladas retumbam no silencio da casita, as mulheres accordam es­ tremunhadas, julgando ser ludibrio d'algum pesadello. - Abram! brada alguem. - Andará fogo em casa Rosa, lamúria a mãe saltando afflicta da cama. - Não sei, responde não menos pavida a filha, mas eu vejo tanta gente! E as duas precipitam-se seminuas para a porta e abrem-na. Ao abrir da porta corresponde uma melodia do concerto aldeão, emquanto na sua frente alguem exclama: Não me esperavam?!!! Ao metal d'aquella voz, que lhes recordava alguem querido, recuam, soltando um pequeno grito, julgando mais uma vez sonha- - Pois não me reconhecem? torna elle, não serei eu o Thomé Reis, esposo da Joanna e pae de Rosa? - Deus seja louvado, que me trouxe o meu homem a porto de salvação quando já o julgava morto! exclama a pobre Joanna lan­ çando-se-lhe nos braços e chorando copiosamente. - Até que emfim! murmura elle, e tu rapariga como vaes? - Sempre bem, meu pae, responde ella beijando-lhe as mãos. - Mas, perguntam ambas ao mesmo tempo, disseram-nos que ti­ nha morrido?! - Se aqui me vêdes é porque não morri, mas o que lá vae lá vae, com aguas passadas não moem moinhos. - Pois sim, mas queriamos ... - Querem saber como fui, pronunciou com ar grave, accenando aos tocadores a que se calassem, e porque artes aqui appareço, é bem simples, o navio em que voltava mettendo agua, que nem cesto, 259