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AUTORES E OBRAS DA POESIA PARNASIANA
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TAÇA DE CORAL Lícias, pastor - enquanto o sol recebe, Mugindo, o manso armento e ao largo espraia. Em sede abrasa, qual de amor por Febe, - Sede também, sede maior, desmaia. Mas aplacar-lhe vem piedosa Naia A sede d'água: entre vinhedo e sebe Corre uma linfa, e ele no seu de faia De ao pé do Alfeu tarro escultado bebe. Bebe, e a golpe e mais golpe: - "Quer ventura  (Suspira e diz) que eu mate uma ânsia louca,  E outra fique a penar, zagala ingrata! Outra que mais me aflige e me tortura, E não em vaso assim, mas de uma boca Na taça de coral é que se mata",   Alberto de Oliveira
A ESTÁTUA Às mãos o escopro, olhando o mármor: “Quero O estatuário disse – uma por uma As perfeições que têm as formas de Hero Talhar em pedra que o ideal resuma.” E rasga o Paros. Graça  toda a esmero, A fronte se arredonda em nívea espuma; Eis ressalta o nariz de talho austero, Alça-se o colo, o seio se avoluma; Alargam-se as espáduas; veia a veia Mostram-se os braços... Cede a pedra ainda A um golpe, e o ventre nítido se arqueia; A curva, enfim, das pernas se acentua... E ei-la, acabada, a estátua heróica e linda, Cópia divina da beleza nua.
CHORO DE VAGAS Não é de águas apenas e de ventos, No rude som, formada a voz do Oceano. Em seu clamor - ouço um clamor humano; Em seu lamento - todos os lamentos. São de náufragos mil estes acentos, Estes gemidos, este aiar insano; Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano, Vejo-os varridos de tufões violentos; Vejo-os na escuridão da noite, aflitos, Bracejando ou já mortos e de bruços, Largados das marés, em ermas plagas. .. Ah! que são deles estes surdos gritos,  Este rumor de preces e soluços  E o choro de saudades destas vagas! Alberto de Oliveira
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MARÍLIA Ó Marília! Ó Dirceu! Eram dois ninhos Os vossos corações, ninhos de flores; Mas, entre os quais, sentíeis os rigores Lacerantes de incógnitos espinhos; Tremiam, como em flácidos arminhos, Promiscuamente, neles os amores, As saudades, os cânticos, as dores, Como uma multidão de passarinhos... O sulco profundíssimo que traça Nos corações amantes a desgraça, Ambos nos corações traçados vistes, Quando os vossos olhares, no momento, Cruzaram-se, do negro afastamento, Marejados de lágrimas e tristes... Raimundo Correia
PLENA NUDEZ  Eu amo os gregos tipos de escultura: Pagãs nuas no mármore entalhadas; Não essas produções que a estufa escura Das modas cria, tortas e enfezadas. Quero um pleno esplendor, viço e frescura Os corpos nus; as linhas onduladas Livres: de carne exuberante e pura Todas as saliências destacadas... Não quero, a Vênus opulenta e bela De luxuriantes formas, entrevê-la De transparente túnica através: Quero vê-la, sem pejo, sem receios, Os braços nus, o dorso nu, os seios Nus... toda nua, da cabeça aos pés!   Raimundo Correia
ANOITECER Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados,  Por céus de oiro e de púrpura raiados, Fogem...Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia.. Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. Raimundo Correia
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SONETO Leio-te: - o pranto dos meus olhos rola: - Do seu cabelo o delicado cheiro, Da sua voz o timbre prazenteiro, Tudo do livro sinto que se evola ... Todo o nosso romance: - a doce esmola Do seu primeiro olhar, o seu primeiro Sorriso, - neste poema verdadeiro, Tudo ao meu triste olhar se desenrola. Sinto animar-se todo o meu passado: E quanto mais as páginas folheio, Mais vejo em tudo aquele vulto amado. Ouço junto de mim bater-lhe o seio, E cuido vê-la, plácida, a meu lado, Lendo comigo a página que leio.
A GONÇALVES DIAS Celebraste o domínio soberano Das grandes tribos, o tropel fremente Da guerra bruta, o entrechocar insano Dos tacapes vibrados rijamente, O maracá e as flechas, o estridente Troar da inúbia, e o cantar indiano... E, eternizando o povo americano, Vives eterno em teu poema ingente. Estes revoltos, largos rios, estas Zonas fecundas, estas seculares Verdejantes e amplíssimas florestas Guardam teu nome: e a lira que pulsaste Inda se escuta, a derramar nos ares O estridor das batalhas que contaste. Olavo Bilac
LÍNGUA PORTUGUESA Última flor do Lácio, inculta e bela,  És, a um tempo, esplendor e sepultura:  ouro nativo, que na ganga impura a bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura,  Tuba de algo clangor, lira singela,  Que tens o tom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amor o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” E em que Camões chorou, no exílio amargo,  O gênio sem ventura e o amor sem brilho! ( Olavo Bilac )
INANIA VERBA Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,  O que a boca não diz, o que a mão não escreve?  - Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,  Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...  O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava;  A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...  E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,  Que, perfume e clarão, refulgia e voava.  Quem o molde achará para a expressão de tudo?  Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas  Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?  E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?  E as palavras de fé que nunca foram ditas?  E as confissões de amor que morrem na garganta?    Olavo Bilac
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AINDA DO PONTO DE VISTA FORMAL SUA POESIA APROXIMA-SE DO PARNASIANISMO PELO USO DO SONETO, VERSOS DECASSÍLABOS, METRIFICADOS E DE RIMAS REGULARES.
BRAÇOS Braços nervosos, brancas opulências,   brumais brancuras, fúlgidas brancuras,   alvuras castas, virginais alvuras,   latescências das raras latescências.     As fascinantes, mórbidas dormências   dos teus abraços de letais flexuras,   produzem sensações de agres torturas,   dos desejos as mornas florescências.     Braços nervosos, tentadoras serpes  que prendem, tetanizam como os herpes,   dos delírios na trêmula coorte ...     Pompa de carnes tépidas e flóreas,   braços de estranhas correções marmóreas,  abertos para o Amor e para a Morte!
RÉQUIEM DO SOL   Águia triste do Tédio, sol cansado,  Velho guerreiro das batalhas fortes!  Das ilusões as trêmulas coortes  Buscam a luz do teu clarão magoado...  A tremenda avalanche do Passado  Que arrebatou tantos milhões de mortes  Passa em tropel de trágicos Mavortes  Sobre o teu coração ensangüentado...  Do alto dominas vastidões supremas  Águia do Tédio presa nas algemas  Da Legenda imortal que tudo engelha...  Mas lá, na Eternidade, de onde habitas,  Vagam finas tristezas infinitas,  Todo o mistério da beleza velha!    Cruz e Souza
CÁRCERE DAS ALMAS Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,  Soluçando nas trevas, entre as grades  Do calabouço olhando imensidades,  Mares, estrelas, tardes, natureza.  Tudo se veste de uma igual grandeza  Quando a alma entre grilhões as liberdades  Sonha e, sonhando, as imortalidades  Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.  Ó almas presas, mudas e fechadas  Nas prisões colossais e abandonadas,  Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!  Nesses silêncios solitários, graves,  que chaveiro do Céu possui as chaves  para abrir-vos as portas do Mistério?!    Cruz e Souza
CAVADOR DO INFINITO   Com a lâmpada do Sonho desce aflito  E sobe aos mundos mais imponderáveis,  Vai abafando as queixas implacáveis,  Da alma o profundo e soluçado grito.  Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito  Sente, em redor, nos astros inefáveis.  Cava nas fundas eras insondáveis  O cavador do trágico Infinito.  E quanto mais pelo Infinito cava  mais o Infinito se transforma em lava  E o cavador se perde nas distâncias...  Alto levanta a lâmpada do Sonho.  E como seu vulto pálido e tristonho  Cava os abismos das eternas ânsias!    Cruz e Souza
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NOIVA DA AGONIA Trêmula e só, de um túmulo surgindo, Aparição dos ermos desolados, Trazes na face os frios tons magoados De quem anda por túmulos dormindo... A alta cabeça no esplendor, cingindo Cabelos de reflexos irisados, Por entre auréolas de clarões prateados, Lembras o aspecto de um luar diluindo... Não és, no entanto, a torva Morte horrenda, Atra, sinistra, gélida, tremenda, Que as avalanches da ilusão governa... Mas ah! És da Agonia a Noiva triste Que os longos braços lívidos abriste Para abraçar-me pra a Vida eterna! Alphonsus Guimarães
SONETO  Hirta e branca... Repousa a sua áurea cabeça  Numa almofada de cetim bordada em lírios.  Ei-la morta afinal como quem adormeça Aqui para sofrer Além novos martírios. De mãos postas, num sonho ausente, a sombra espessa Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios: Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa Da Idade Média, morta em sagrados delírios. Os poentes sepulcrais do extremo desengano  Vão enchendo de luto as paredes vazias,  E velam para sempre o seu olhar humano. Expira, ao longe, o vento, e o luar, longinquamente,  Alveja, embalsamando as brancas agonias Na sonolenta paz desta Câmara-ardente...   Alphonsus de Guimaraens
SONETO  Hão de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tombar do dia. Dos laranjais hão de cair os pomos, Lembrando-se daquela que os colhia. As estrelas dirão: - "Ai! nada somos, Pois ela se morreu, silente e fria..." E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria. A lua, que lhe foi mãe carinhosa, Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa. Os meus sonhos de amor serão defuntos... E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?" Alphonsus de Guimaraens

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  • 2. AUTORES E OBRAS DA POESIA PARNASIANA
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  • 6. TAÇA DE CORAL Lícias, pastor - enquanto o sol recebe, Mugindo, o manso armento e ao largo espraia. Em sede abrasa, qual de amor por Febe, - Sede também, sede maior, desmaia. Mas aplacar-lhe vem piedosa Naia A sede d'água: entre vinhedo e sebe Corre uma linfa, e ele no seu de faia De ao pé do Alfeu tarro escultado bebe. Bebe, e a golpe e mais golpe: - "Quer ventura (Suspira e diz) que eu mate uma ânsia louca, E outra fique a penar, zagala ingrata! Outra que mais me aflige e me tortura, E não em vaso assim, mas de uma boca Na taça de coral é que se mata", Alberto de Oliveira
  • 7. A ESTÁTUA Às mãos o escopro, olhando o mármor: “Quero O estatuário disse – uma por uma As perfeições que têm as formas de Hero Talhar em pedra que o ideal resuma.” E rasga o Paros. Graça toda a esmero, A fronte se arredonda em nívea espuma; Eis ressalta o nariz de talho austero, Alça-se o colo, o seio se avoluma; Alargam-se as espáduas; veia a veia Mostram-se os braços... Cede a pedra ainda A um golpe, e o ventre nítido se arqueia; A curva, enfim, das pernas se acentua... E ei-la, acabada, a estátua heróica e linda, Cópia divina da beleza nua.
  • 8. CHORO DE VAGAS Não é de águas apenas e de ventos, No rude som, formada a voz do Oceano. Em seu clamor - ouço um clamor humano; Em seu lamento - todos os lamentos. São de náufragos mil estes acentos, Estes gemidos, este aiar insano; Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano, Vejo-os varridos de tufões violentos; Vejo-os na escuridão da noite, aflitos, Bracejando ou já mortos e de bruços, Largados das marés, em ermas plagas. .. Ah! que são deles estes surdos gritos, Este rumor de preces e soluços E o choro de saudades destas vagas! Alberto de Oliveira
  • 9.
  • 10. MARÍLIA Ó Marília! Ó Dirceu! Eram dois ninhos Os vossos corações, ninhos de flores; Mas, entre os quais, sentíeis os rigores Lacerantes de incógnitos espinhos; Tremiam, como em flácidos arminhos, Promiscuamente, neles os amores, As saudades, os cânticos, as dores, Como uma multidão de passarinhos... O sulco profundíssimo que traça Nos corações amantes a desgraça, Ambos nos corações traçados vistes, Quando os vossos olhares, no momento, Cruzaram-se, do negro afastamento, Marejados de lágrimas e tristes... Raimundo Correia
  • 11. PLENA NUDEZ Eu amo os gregos tipos de escultura: Pagãs nuas no mármore entalhadas; Não essas produções que a estufa escura Das modas cria, tortas e enfezadas. Quero um pleno esplendor, viço e frescura Os corpos nus; as linhas onduladas Livres: de carne exuberante e pura Todas as saliências destacadas... Não quero, a Vênus opulenta e bela De luxuriantes formas, entrevê-la De transparente túnica através: Quero vê-la, sem pejo, sem receios, Os braços nus, o dorso nu, os seios Nus... toda nua, da cabeça aos pés! Raimundo Correia
  • 12. ANOITECER Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de oiro e de púrpura raiados, Fogem...Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além da serrania Os vértices de chama aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia.. Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua... A natureza apática esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. Raimundo Correia
  • 13.
  • 14.
  • 15. SONETO Leio-te: - o pranto dos meus olhos rola: - Do seu cabelo o delicado cheiro, Da sua voz o timbre prazenteiro, Tudo do livro sinto que se evola ... Todo o nosso romance: - a doce esmola Do seu primeiro olhar, o seu primeiro Sorriso, - neste poema verdadeiro, Tudo ao meu triste olhar se desenrola. Sinto animar-se todo o meu passado: E quanto mais as páginas folheio, Mais vejo em tudo aquele vulto amado. Ouço junto de mim bater-lhe o seio, E cuido vê-la, plácida, a meu lado, Lendo comigo a página que leio.
  • 16. A GONÇALVES DIAS Celebraste o domínio soberano Das grandes tribos, o tropel fremente Da guerra bruta, o entrechocar insano Dos tacapes vibrados rijamente, O maracá e as flechas, o estridente Troar da inúbia, e o cantar indiano... E, eternizando o povo americano, Vives eterno em teu poema ingente. Estes revoltos, largos rios, estas Zonas fecundas, estas seculares Verdejantes e amplíssimas florestas Guardam teu nome: e a lira que pulsaste Inda se escuta, a derramar nos ares O estridor das batalhas que contaste. Olavo Bilac
  • 17. LÍNGUA PORTUGUESA Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: ouro nativo, que na ganga impura a bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de algo clangor, lira singela, Que tens o tom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amor o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!” E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! ( Olavo Bilac )
  • 18. INANIA VERBA Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, O que a boca não diz, o que a mão não escreve? - Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve, Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava... O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava; A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve... E a Palavra pesada abafa a Idéia leve, Que, perfume e clarão, refulgia e voava. Quem o molde achará para a expressão de tudo? Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta? E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo? E as palavras de fé que nunca foram ditas? E as confissões de amor que morrem na garganta? Olavo Bilac
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 22. AINDA DO PONTO DE VISTA FORMAL SUA POESIA APROXIMA-SE DO PARNASIANISMO PELO USO DO SONETO, VERSOS DECASSÍLABOS, METRIFICADOS E DE RIMAS REGULARES.
  • 23. BRAÇOS Braços nervosos, brancas opulências,  brumais brancuras, fúlgidas brancuras,  alvuras castas, virginais alvuras,  latescências das raras latescências.   As fascinantes, mórbidas dormências  dos teus abraços de letais flexuras,  produzem sensações de agres torturas,  dos desejos as mornas florescências.   Braços nervosos, tentadoras serpes que prendem, tetanizam como os herpes,  dos delírios na trêmula coorte ...   Pompa de carnes tépidas e flóreas,  braços de estranhas correções marmóreas, abertos para o Amor e para a Morte!
  • 24. RÉQUIEM DO SOL Águia triste do Tédio, sol cansado, Velho guerreiro das batalhas fortes! Das ilusões as trêmulas coortes Buscam a luz do teu clarão magoado... A tremenda avalanche do Passado Que arrebatou tantos milhões de mortes Passa em tropel de trágicos Mavortes Sobre o teu coração ensangüentado... Do alto dominas vastidões supremas Águia do Tédio presa nas algemas Da Legenda imortal que tudo engelha... Mas lá, na Eternidade, de onde habitas, Vagam finas tristezas infinitas, Todo o mistério da beleza velha! Cruz e Souza
  • 25. CÁRCERE DAS ALMAS Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! Cruz e Souza
  • 26. CAVADOR DO INFINITO Com a lâmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderáveis, Vai abafando as queixas implacáveis, Da alma o profundo e soluçado grito. Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito Sente, em redor, nos astros inefáveis. Cava nas fundas eras insondáveis O cavador do trágico Infinito. E quanto mais pelo Infinito cava mais o Infinito se transforma em lava E o cavador se perde nas distâncias... Alto levanta a lâmpada do Sonho. E como seu vulto pálido e tristonho Cava os abismos das eternas ânsias! Cruz e Souza
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  • 30. NOIVA DA AGONIA Trêmula e só, de um túmulo surgindo, Aparição dos ermos desolados, Trazes na face os frios tons magoados De quem anda por túmulos dormindo... A alta cabeça no esplendor, cingindo Cabelos de reflexos irisados, Por entre auréolas de clarões prateados, Lembras o aspecto de um luar diluindo... Não és, no entanto, a torva Morte horrenda, Atra, sinistra, gélida, tremenda, Que as avalanches da ilusão governa... Mas ah! És da Agonia a Noiva triste Que os longos braços lívidos abriste Para abraçar-me pra a Vida eterna! Alphonsus Guimarães
  • 31. SONETO Hirta e branca... Repousa a sua áurea cabeça Numa almofada de cetim bordada em lírios. Ei-la morta afinal como quem adormeça Aqui para sofrer Além novos martírios. De mãos postas, num sonho ausente, a sombra espessa Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios: Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa Da Idade Média, morta em sagrados delírios. Os poentes sepulcrais do extremo desengano Vão enchendo de luto as paredes vazias, E velam para sempre o seu olhar humano. Expira, ao longe, o vento, e o luar, longinquamente, Alveja, embalsamando as brancas agonias Na sonolenta paz desta Câmara-ardente... Alphonsus de Guimaraens
  • 32. SONETO Hão de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tombar do dia. Dos laranjais hão de cair os pomos, Lembrando-se daquela que os colhia. As estrelas dirão: - "Ai! nada somos, Pois ela se morreu, silente e fria..." E pondo os olhos nela como pomos, Hão de chorar a irmã que lhes sorria. A lua, que lhe foi mãe carinhosa, Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa. Os meus sonhos de amor serão defuntos... E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?" Alphonsus de Guimaraens