SlideShare a Scribd company logo
1 of 8
Download to read offline
A Melodia
do Silêncio



  Um romance de Joel Flor
A Melodia do Silêncio
“Até mesmo das cinzas, renasce a esperança.”

                                    Joel Flor
Capítulo I
Certos momentos da nossa vida, recordamos
com mais lucidez do que os dias comuns que se
desfazem pela memória como pétalas de uma flor
morta no fim da sua estação. Sendo lentamente
carregadas pelo vento do tempo.
         Lembro-me da primeira vez que a morte me
visitou, estava no meio da segunda guerra mundial, era
piloto da força aérea americana quando fui atingido na
costa do espaço aéreo da França pelos Nazis. O meu
avião despenhou-se nas águas frias do mar
mediterrâneo como um meteorito sobre a terra. Nunca
tinha lutado com tanta persistência para sobreviver
como naqueles infindáveis segundos em que o mar me
gelava os ossos e me interrompia o fôlego, apenas
cinco quilómetros de água me separavam da costa
francesa ocupada pelos alemães, por mais que
soubesse que iria ser capturado, afundar-me
juntamente com o meu avião não me pareceu grande
opção no momento de desespero. Lembro-me quando
alcancei aquela praia exausto, completamente
derrotado e sem rumo. Naquele momento prevaleceu
um instinto que desconhecia em mim, a minha
capacidade de manter-me vivo acima das leis da minha
própria natureza. Nos dias que se seguiram eu
esperava que cada um deles fosse o último, mas aquele
último dia não chegou, sobrevivi a todos os entraves do
destino.
Passaram-se cinquenta anos, perdi a conta das
vezes que contei a minha história à minha esposa
Megan minha companheira dos longos anos que se
procederam na tranquilidade do meu lar, aos meus
filhos, aos meus netos e aos poucos amigos, sempre a
recordei com orgulho e patriotismo, até ao dia em que
a Megan partiu da minha vida e me deixou só no
mundo. Pela primeira vez na minha vida senti-me fraco,
desnorteado, sem o escudo da invencibilidade que me
tinha sido concedido durante décadas. Comecei a
recordar aqueles dias de um modo diferente, via-me a
atravessar aqueles pântanos debaixo da fria neblina,
amedrontado com a ausência do som que não existia,
que não denunciava o meu fim, mantendo-me num
inconstante compasso de espera de um incerto
destino.
         O tempo levou as minhas forças, definhou os
meus músculos, invalidou a minha confiança e
incapacitou-me de caminhar só no mundo. Depois de
cinco anos de sofrimento e solidão a minha filha
Maggie me acolheu e cuidou de mim enquanto pode,
todavia em poucos meses a minha presença tornou-se
um incómodo e começou a abalar o seu casamento.
Cinco anos depois no ano de 2007 o problema da
Maggie foi resolvido, fui colocado num lar longe da sua
casa. Entrei num autocarro com uma mala e deixei a
minha casa pela segunda vez na minha vida desde que
havia retornado da guerra.
No fim do mundo ali estava eu, deixei o
autocarro observando os altos muros que rodeavam
aquele enorme espaço, duvidava que algum idoso
conseguisse trepar aquela altura absurda que mais
parecia a vedação de uma prisão. O lugar era tão
silencioso que nem os pássaros cantavam, a própria
natureza parecia acompanhar os nossos passos
cansados e gastos. Foi nesse primeiro dia que conheci a
minha amiga Catherine, olhos claros e vividos, cabelos
loiros esbranquiçados, pele enrugada e salpicada sobre
o efeito do sol que se apresentava forte naquela
região, parecia a única pessoa viva num cemitério
ambulante, estava rodeado de velhos. Nunca
esquecerei aquelas primeiras palavras que ouvi serem
proferidas pelos seus lábios…

        - Seja bem-vindo John!
        - Capitão John Stevens, o prazer é todo meu! –
Respondi eu na minha ainda persistente arrogância. As
demais carcaças humanas que moravam naquele lugar
riram-se de mim comentando ironicamente um deles
de seguida:
        - Capitão do quê? Das fraldas molhadas? –
Comentou Francis, possivelmente o rei daqueles
dementes sem vida que morriam lentamente
abandonados num deserto humano.
        Num passado não muito distante certamente
consideraria aquilo um insulto digno que me
envolvesse em confusões, mas naquele dia a ferida foi
demasiado profunda, o meu escudo da insensibilidade
há muito que havia caído também, senti-me triste,
ridículo e derrotado com um só golpe. Virei-lhes as
costas, sentindo-me humilhado e procurei o meu canto
por entre as sombras da solidão.
        Aquele primeiro dia não foi muito positivo para
criar amizades, nos dias que se seguiram fui me
mantendo sempre á distância sem falar com ninguém.
Passava horas no pátio observando as nuvens,
recordando os velhos tempos em que comandava os
céus, procurava me alimentar do passado como
antigamente, mas as memórias não me traziam mais
ânimo, apenas me ocupavam os pensamentos
permitindo-me evadir daquela prisão em que a única
liberdade seria a morte.

More Related Content

What's hot

Fantásticas Memórias do Exilio
Fantásticas Memórias do ExilioFantásticas Memórias do Exilio
Fantásticas Memórias do Exiliowelingtonjh
 
Palavras - Silvana Duboc
Palavras - Silvana DubocPalavras - Silvana Duboc
Palavras - Silvana DubocMima Badan
 
SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4heyitsjota
 
Filhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexoFilhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexoPoeta Jardim .
 
Verdadeiro
VerdadeiroVerdadeiro
Verdadeiroguida04
 
Revista encontro literário edital 01.2011
Revista encontro literário   edital 01.2011Revista encontro literário   edital 01.2011
Revista encontro literário edital 01.2011Ailton
 
Folhas Soltas do GAP nº10
Folhas Soltas do GAP nº10Folhas Soltas do GAP nº10
Folhas Soltas do GAP nº10GAP
 
Poesias ilustradas
Poesias ilustradasPoesias ilustradas
Poesias ilustradasnaldivana
 

What's hot (12)

Fantásticas Memórias do Exilio
Fantásticas Memórias do ExilioFantásticas Memórias do Exilio
Fantásticas Memórias do Exilio
 
Visita de um amigo
Visita de um amigoVisita de um amigo
Visita de um amigo
 
Palavras - Silvana Duboc
Palavras - Silvana DubocPalavras - Silvana Duboc
Palavras - Silvana Duboc
 
SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4SILENTIUM | Chapter 4
SILENTIUM | Chapter 4
 
O Rio de Vinicius de Moraes
O Rio de Vinicius de MoraesO Rio de Vinicius de Moraes
O Rio de Vinicius de Moraes
 
Filhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexoFilhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexo
 
VII - H. M. Castor
VII - H. M. CastorVII - H. M. Castor
VII - H. M. Castor
 
Verdadeiro
VerdadeiroVerdadeiro
Verdadeiro
 
Revista encontro literário edital 01.2011
Revista encontro literário   edital 01.2011Revista encontro literário   edital 01.2011
Revista encontro literário edital 01.2011
 
Fragmentos
FragmentosFragmentos
Fragmentos
 
Folhas Soltas do GAP nº10
Folhas Soltas do GAP nº10Folhas Soltas do GAP nº10
Folhas Soltas do GAP nº10
 
Poesias ilustradas
Poesias ilustradasPoesias ilustradas
Poesias ilustradas
 

Viewers also liked

Variables e hipotesis yesenia
Variables e hipotesis yeseniaVariables e hipotesis yesenia
Variables e hipotesis yeseniatatianafer
 
18.ago ametista 15.15_531_chesf
18.ago ametista 15.15_531_chesf18.ago ametista 15.15_531_chesf
18.ago ametista 15.15_531_chesfitgfiles
 
Mi biografia rossana portela
Mi biografia rossana portelaMi biografia rossana portela
Mi biografia rossana portelaRosanaPortela
 
Elaboración de documentos digitales avanzados
Elaboración de documentos digitales avanzadosElaboración de documentos digitales avanzados
Elaboración de documentos digitales avanzadossponky18
 
Jornal Boas Novas Junho
Jornal Boas Novas JunhoJornal Boas Novas Junho
Jornal Boas Novas Junhojucrismm
 
17.ago topázio 14.15_475_ampla
17.ago topázio 14.15_475_ampla17.ago topázio 14.15_475_ampla
17.ago topázio 14.15_475_amplaitgfiles
 
Caminata por los Animales
Caminata por los AnimalesCaminata por los Animales
Caminata por los Animalesirenecmc_uny
 
Semillero de investigacion. betcy ruiz
Semillero de investigacion. betcy ruizSemillero de investigacion. betcy ruiz
Semillero de investigacion. betcy ruizdianypa18
 
Como se hace una noticia isabela vasquez peña
Como se hace una noticia   isabela vasquez peñaComo se hace una noticia   isabela vasquez peña
Como se hace una noticia isabela vasquez peñaisavape
 
Reingenieria
ReingenieriaReingenieria
Reingenieriaiiselita
 
Trabajo final modificado.rosana
Trabajo final modificado.rosanaTrabajo final modificado.rosana
Trabajo final modificado.rosanarosiale23
 

Viewers also liked (20)

Variables e hipotesis yesenia
Variables e hipotesis yeseniaVariables e hipotesis yesenia
Variables e hipotesis yesenia
 
18.ago ametista 15.15_531_chesf
18.ago ametista 15.15_531_chesf18.ago ametista 15.15_531_chesf
18.ago ametista 15.15_531_chesf
 
Mi biografia..
Mi biografia..Mi biografia..
Mi biografia..
 
Mi biografia rossana portela
Mi biografia rossana portelaMi biografia rossana portela
Mi biografia rossana portela
 
Sandwich y wraps
Sandwich  y  wrapsSandwich  y  wraps
Sandwich y wraps
 
Elaboración de documentos digitales avanzados
Elaboración de documentos digitales avanzadosElaboración de documentos digitales avanzados
Elaboración de documentos digitales avanzados
 
Presentación1
Presentación1Presentación1
Presentación1
 
Datos
DatosDatos
Datos
 
Tp fisico quimica
Tp fisico quimicaTp fisico quimica
Tp fisico quimica
 
Electronica digital
Electronica digitalElectronica digital
Electronica digital
 
Jornal Boas Novas Junho
Jornal Boas Novas JunhoJornal Boas Novas Junho
Jornal Boas Novas Junho
 
17.ago topázio 14.15_475_ampla
17.ago topázio 14.15_475_ampla17.ago topázio 14.15_475_ampla
17.ago topázio 14.15_475_ampla
 
Salud
SaludSalud
Salud
 
Caminata por los Animales
Caminata por los AnimalesCaminata por los Animales
Caminata por los Animales
 
Semillero de investigacion. betcy ruiz
Semillero de investigacion. betcy ruizSemillero de investigacion. betcy ruiz
Semillero de investigacion. betcy ruiz
 
Leccion 8
Leccion 8Leccion 8
Leccion 8
 
Club de calidad tesoros
Club de calidad tesorosClub de calidad tesoros
Club de calidad tesoros
 
Como se hace una noticia isabela vasquez peña
Como se hace una noticia   isabela vasquez peñaComo se hace una noticia   isabela vasquez peña
Como se hace una noticia isabela vasquez peña
 
Reingenieria
ReingenieriaReingenieria
Reingenieria
 
Trabajo final modificado.rosana
Trabajo final modificado.rosanaTrabajo final modificado.rosana
Trabajo final modificado.rosana
 

Similar to A melodia do silêncio (cap.i)

Robinson crusoe
Robinson crusoeRobinson crusoe
Robinson crusoeMorganauca
 
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptMODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptRildeniceSantos
 
2ª segundo momento
2ª   segundo momento2ª   segundo momento
2ª segundo momentoSusy Guedes
 
2ª segundo momento
2ª   segundo momento2ª   segundo momento
2ª segundo momentoprofelaine10
 
Atividade sobre o genero textual relato
Atividade sobre o genero textual relatoAtividade sobre o genero textual relato
Atividade sobre o genero textual relatoMarilza Fuentes
 
Livro do desejo i 1
Livro do desejo i 1Livro do desejo i 1
Livro do desejo i 1Ashera
 
Carlos ruiz zafon marina
Carlos ruiz zafon   marinaCarlos ruiz zafon   marina
Carlos ruiz zafon marinaAriovaldo Cunha
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeFabi
 
Jb news informativo nr. 1179
Jb news   informativo nr. 1179Jb news   informativo nr. 1179
Jb news informativo nr. 1179JBNews
 
Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book AMEOPOEMA Editora
 
Reflexões e interferências
Reflexões e interferênciasReflexões e interferências
Reflexões e interferênciasRegina Gouveia
 
Imortal Camões ou delírios poéticos de um náufrago
Imortal Camões ou delírios poéticos de um náufragoImortal Camões ou delírios poéticos de um náufrago
Imortal Camões ou delírios poéticos de um náufragopamarangoni
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)Mirian Souza
 
Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)
Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)
Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)Roosevelt F. Abrantes
 
Sem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_acenoSem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_acenoHBMenezes
 

Similar to A melodia do silêncio (cap.i) (20)

Robinson crusoe
Robinson crusoeRobinson crusoe
Robinson crusoe
 
Claro enigma
Claro enigmaClaro enigma
Claro enigma
 
O Crânio de Cristal
O Crânio de CristalO Crânio de Cristal
O Crânio de Cristal
 
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptMODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
 
2ª segundo momento
2ª   segundo momento2ª   segundo momento
2ª segundo momento
 
2ª segundo momento
2ª   segundo momento2ª   segundo momento
2ª segundo momento
 
Atividade sobre o genero textual relato
Atividade sobre o genero textual relatoAtividade sobre o genero textual relato
Atividade sobre o genero textual relato
 
Livro do desejo i 1
Livro do desejo i 1Livro do desejo i 1
Livro do desejo i 1
 
Carlos ruiz zafon marina
Carlos ruiz zafon   marinaCarlos ruiz zafon   marina
Carlos ruiz zafon marina
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andrade
 
Jb news informativo nr. 1179
Jb news   informativo nr. 1179Jb news   informativo nr. 1179
Jb news informativo nr. 1179
 
Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book Suplemento acre 0011 e book
Suplemento acre 0011 e book
 
Ria5
Ria5Ria5
Ria5
 
Chicos 19 janeiro 2009
Chicos 19 janeiro 2009Chicos 19 janeiro 2009
Chicos 19 janeiro 2009
 
Reflexões e interferências
Reflexões e interferênciasReflexões e interferências
Reflexões e interferências
 
Imortal Camões ou delírios poéticos de um náufrago
Imortal Camões ou delírios poéticos de um náufragoImortal Camões ou delírios poéticos de um náufrago
Imortal Camões ou delírios poéticos de um náufrago
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)
Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)
Apenas sobre os meus cacos e restos de vidros(poesia)
 
Sem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_acenoSem ao menos_um_aceno
Sem ao menos_um_aceno
 

Recently uploaded

O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.denisecompasso2
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfAutonoma
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Centro Jacques Delors
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Centro Jacques Delors
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024azulassessoria9
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)Centro Jacques Delors
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxFlviaGomes64
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do séculoBiblioteca UCS
 
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Cabiamar
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...azulassessoria9
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...MariaCristinaSouzaLe1
 
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPEli Gonçalves
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...azulassessoria9
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmicolourivalcaburite
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdLeonardoDeOliveiraLu2
 
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...marcelafinkler
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024azulassessoria9
 
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdfMissa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdfFbioFerreira207918
 

Recently uploaded (20)

O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 2)
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)Quiz | Dia da Europa 2024  (comemoração)
Quiz | Dia da Europa 2024 (comemoração)
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do séculoSistema de Bibliotecas UCS  - Cantos do fim do século
Sistema de Bibliotecas UCS - Cantos do fim do século
 
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
Historia de Portugal - Quarto Ano - 2024
 
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou...
 
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
Aula 25 - A america espanhola - colonização, exploraçãp e trabalho (mita e en...
 
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introd
 
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
Introdução às Funções 9º ano: Diagrama de flexas, Valor numérico de uma funçã...
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdfMissa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
 

A melodia do silêncio (cap.i)

  • 1. A Melodia do Silêncio Um romance de Joel Flor
  • 2. A Melodia do Silêncio
  • 3. “Até mesmo das cinzas, renasce a esperança.” Joel Flor
  • 5. Certos momentos da nossa vida, recordamos com mais lucidez do que os dias comuns que se desfazem pela memória como pétalas de uma flor morta no fim da sua estação. Sendo lentamente carregadas pelo vento do tempo. Lembro-me da primeira vez que a morte me visitou, estava no meio da segunda guerra mundial, era piloto da força aérea americana quando fui atingido na costa do espaço aéreo da França pelos Nazis. O meu avião despenhou-se nas águas frias do mar mediterrâneo como um meteorito sobre a terra. Nunca tinha lutado com tanta persistência para sobreviver como naqueles infindáveis segundos em que o mar me gelava os ossos e me interrompia o fôlego, apenas cinco quilómetros de água me separavam da costa francesa ocupada pelos alemães, por mais que soubesse que iria ser capturado, afundar-me juntamente com o meu avião não me pareceu grande opção no momento de desespero. Lembro-me quando alcancei aquela praia exausto, completamente derrotado e sem rumo. Naquele momento prevaleceu um instinto que desconhecia em mim, a minha capacidade de manter-me vivo acima das leis da minha própria natureza. Nos dias que se seguiram eu esperava que cada um deles fosse o último, mas aquele último dia não chegou, sobrevivi a todos os entraves do destino.
  • 6. Passaram-se cinquenta anos, perdi a conta das vezes que contei a minha história à minha esposa Megan minha companheira dos longos anos que se procederam na tranquilidade do meu lar, aos meus filhos, aos meus netos e aos poucos amigos, sempre a recordei com orgulho e patriotismo, até ao dia em que a Megan partiu da minha vida e me deixou só no mundo. Pela primeira vez na minha vida senti-me fraco, desnorteado, sem o escudo da invencibilidade que me tinha sido concedido durante décadas. Comecei a recordar aqueles dias de um modo diferente, via-me a atravessar aqueles pântanos debaixo da fria neblina, amedrontado com a ausência do som que não existia, que não denunciava o meu fim, mantendo-me num inconstante compasso de espera de um incerto destino. O tempo levou as minhas forças, definhou os meus músculos, invalidou a minha confiança e incapacitou-me de caminhar só no mundo. Depois de cinco anos de sofrimento e solidão a minha filha Maggie me acolheu e cuidou de mim enquanto pode, todavia em poucos meses a minha presença tornou-se um incómodo e começou a abalar o seu casamento. Cinco anos depois no ano de 2007 o problema da Maggie foi resolvido, fui colocado num lar longe da sua casa. Entrei num autocarro com uma mala e deixei a minha casa pela segunda vez na minha vida desde que havia retornado da guerra.
  • 7. No fim do mundo ali estava eu, deixei o autocarro observando os altos muros que rodeavam aquele enorme espaço, duvidava que algum idoso conseguisse trepar aquela altura absurda que mais parecia a vedação de uma prisão. O lugar era tão silencioso que nem os pássaros cantavam, a própria natureza parecia acompanhar os nossos passos cansados e gastos. Foi nesse primeiro dia que conheci a minha amiga Catherine, olhos claros e vividos, cabelos loiros esbranquiçados, pele enrugada e salpicada sobre o efeito do sol que se apresentava forte naquela região, parecia a única pessoa viva num cemitério ambulante, estava rodeado de velhos. Nunca esquecerei aquelas primeiras palavras que ouvi serem proferidas pelos seus lábios… - Seja bem-vindo John! - Capitão John Stevens, o prazer é todo meu! – Respondi eu na minha ainda persistente arrogância. As demais carcaças humanas que moravam naquele lugar riram-se de mim comentando ironicamente um deles de seguida: - Capitão do quê? Das fraldas molhadas? – Comentou Francis, possivelmente o rei daqueles dementes sem vida que morriam lentamente abandonados num deserto humano. Num passado não muito distante certamente consideraria aquilo um insulto digno que me envolvesse em confusões, mas naquele dia a ferida foi
  • 8. demasiado profunda, o meu escudo da insensibilidade há muito que havia caído também, senti-me triste, ridículo e derrotado com um só golpe. Virei-lhes as costas, sentindo-me humilhado e procurei o meu canto por entre as sombras da solidão. Aquele primeiro dia não foi muito positivo para criar amizades, nos dias que se seguiram fui me mantendo sempre á distância sem falar com ninguém. Passava horas no pátio observando as nuvens, recordando os velhos tempos em que comandava os céus, procurava me alimentar do passado como antigamente, mas as memórias não me traziam mais ânimo, apenas me ocupavam os pensamentos permitindo-me evadir daquela prisão em que a única liberdade seria a morte.