Errorragia é uma compilação de trabalhos entre contos e crônicas, resultante de um neologismo de erro e verborragia; ou de uma certeza e uma insegurança.
As histórias se imiscuem entre coisas reais e muita criatividade ao ponto de enredarem situações que realmente aconteceram e aquelas que repousaram no íntimo de uma situação inventada.
Não se sabe o que foi feito nas entrelinhas da experiência ou na divagação de um sonho inconfortável.
Errorragia é um erro entre muitas coisas que nunca foram aceitas; compreendidas. É também a verborragia do medo, enquanto as histórias vão procurando sua altivez. É a colisão das ideias que misturam o erro e a hemorragia cerebral. É a visão de pensamentos que se encontram no erro e no acerto, mas nunca essas duas instâncias se harmonizam nestas palavras.
Errorragia é uma compilação de trabalhos entre contos e crônicas, resultante de um neologismo de erro e verborragia; ou de uma certeza e uma insegurança.
As histórias se imiscuem entre coisas reais e muita criatividade ao ponto de enredarem situações que realmente aconteceram e aquelas que repousaram no íntimo de uma situação inventada.
Não se sabe o que foi feito nas entrelinhas da experiência ou na divagação de um sonho inconfortável.
Errorragia é um erro entre muitas coisas que nunca foram aceitas; compreendidas. É também a verborragia do medo, enquanto as histórias vão procurando sua altivez. É a colisão das ideias que misturam o erro e a hemorragia cerebral. É a visão de pensamentos que se encontram no erro e no acerto, mas nunca essas duas instâncias se harmonizam nestas palavras.
A Maré de sangue
Escalda por Minh ‘alma
Assim sedenta como Dante
Se cala ao alvorecer da palma
A Coletânea “A Estirpe do Barão” apresenta uma série de poemas com a sutileza da nobreza e a acidez da realidade intempérie. Seco como o vinho, ardente como o purgatório. A vida do Barão se torna paradoxal ao descobrir-se vivo, ou mesmo morto dentro de si e do qualquer.
A arte pictórica e de imagem, bailado
e canto, são os três pilares do
edifício que queremos que perdure
através da fundação Henrique
Leote, instituída oficialmente há três
anos, para perpetuar a conservação
e vivência do Convento de São Paulo
no período contemporâneo à ordem
que aí construiu e viveu.
A mística desta exposição de Maria
Sobral Mendonça, que hoje se inaugura,
integra-se no espírito da
conservação da igreja do convento
como uma ruína viva, infelizmente
despojada dos seus tesouros de
outrora mas agora guarnecida por
manifestações culturais que a
consagram e perpetuam.
Com a sua pintura abstracta que
nos transmite muitas e variadas
sugestões, a pintora encoraja-nos
no caminho da elevação com o seu
toque terreno indispensável à nossa
vivência no quotidiano.
Henrique Leote
A Maré de sangue
Escalda por Minh ‘alma
Assim sedenta como Dante
Se cala ao alvorecer da palma
A Coletânea “A Estirpe do Barão” apresenta uma série de poemas com a sutileza da nobreza e a acidez da realidade intempérie. Seco como o vinho, ardente como o purgatório. A vida do Barão se torna paradoxal ao descobrir-se vivo, ou mesmo morto dentro de si e do qualquer.
A arte pictórica e de imagem, bailado
e canto, são os três pilares do
edifício que queremos que perdure
através da fundação Henrique
Leote, instituída oficialmente há três
anos, para perpetuar a conservação
e vivência do Convento de São Paulo
no período contemporâneo à ordem
que aí construiu e viveu.
A mística desta exposição de Maria
Sobral Mendonça, que hoje se inaugura,
integra-se no espírito da
conservação da igreja do convento
como uma ruína viva, infelizmente
despojada dos seus tesouros de
outrora mas agora guarnecida por
manifestações culturais que a
consagram e perpetuam.
Com a sua pintura abstracta que
nos transmite muitas e variadas
sugestões, a pintora encoraja-nos
no caminho da elevação com o seu
toque terreno indispensável à nossa
vivência no quotidiano.
Henrique Leote
A SubVersa é uma revista on-line de literatura luso-brasileira que se propõe a manter um canal aberto entre autores contemporâneos brasileiros e portugueses, com o objetivo de divulgar práticas diversas de escrita e conectar diferentes modos de expressão e conhecimento. Quer sejam textos literários ou não, o que caracteriza o conteúdo da SubVersa é, exclusivamente, a qualidade da boa literatura.
1. Alberto andava por ruelas escuras sem saber onde estava. Corria descalço sentido as
ruas encharcadas de uma chuva recente gelar a sola dos seus pés, enquanto olhava
freneticamente de um lado pro outro tentando descobrir que lugar era aquele. Entretanto ao
invés de familiaridade tudo que ele encontrou foi hostilidade e desprezo vindo dos prédios
negros e longilíneos, tão apertados entre si que pareciam que iam esmagá-lo a qualquer
instante. Tão altos que pareciam não ter fim.
2. Assim Alberto corria percorrendo quarteirões inteiros, virava esquinas, entrava e saia de
becos e corria um pouco mais tentando sair dali, mas sem sucesso. E só quando seu corpo não
agüentou mais a fadiga é que ele parou. Ofegando, com o suor colando o fino pijama em seu
corpo, ele se viu no meio de uma praça circular cheia de ornamentos góticos e um obelisco
pontiagudo no centro.
Uma brisa fria corria pelo pequeno espaço e ao entrar nas vielas estreitas uivava como
uma fera faminta. A lua alta no céu, enorme, parecia um gigantesco olho observando cada
movimento de Alberto com atenção o que reforçava ainda mais a opressão e o desalento que
ele sentia.
Afinal de contas, onde estava? Como havia chegado ali? E por que, por mais assustador
que o lugar lhe parecesse, ele tinha a estranha sensação de que precisava estar ali?
Novamente o jovem rapaz olhou a sua volta tentando entender o que acontecia e mais
uma vez se frustrou. A cidade não possuía iluminação pública, porém a claridade da lua era o
suficiente para permitir que Alberto distinguisse as formas na escuridão, mas tudo que viu
foram os mesmos prédios negros ameaçadores e uma grande quantidade de estranhos
embrulhos, como sacos de lixo enormes, espalhados por todo o lugar.
Alberto então levou as mãos à cabeça em claro desespero. Nada fazia sentido. Cada
fibra de sua mente dizia que aquilo não podia ser real, mas seus cinco sentidos corroboravam
até o mais ínfimo dos fatos ali presente. Sua pele sentia o frio da noite alta, seu nariz aspirava
o ar áspero da cidade, seus olhos eram atacados pela lua bestial, sua boca sentia o gosto
amargo do medo e seus ouvidos captavam até mesmo o menor sussurro da brisa que corria.
Foi então que discretamente um barulho rascado começou e se juntou ao vento. Depois
outro e mais outro até que um burburinho tomou conta do local como se milhares de insetos
rastejassem no chão.
A principio Alberto não conseguiu identificar os sons ou sua origem, mas à medida que
eles aumentavam e se tornavam mais claros a terrível realidade se mostrou diante dele: eram
gemidos. Lamentos de dor, de medo, de solidão, que ecoavam de toda parte e cresciam como
uma onda tentando engolir o rapaz. No entanto a origem deles era mais perturbadora. Aquilo
que outrora ele pensava serem sacos de lixo a luz da lua, na verdade eram pessoas.
Seres humanos jogados ao chão, envoltos em panos negros, alucinados como se
sentissem intenso sofrimento. A cena aterrorizou Alberto de tal maneira que ele perdeu o
controle sobre o próprio corpo. Tremia desesperadamente, mas não conseguia se mexer; seu
rosto se contorcia em terror, no entanto ele não era capaz gritar e sua razão lhe repetia que
devia fugir dali enquanto seu coração lhe dizia que precisava fazer alguma coisa.
Foi quando tudo mudou.
3. Lenta e gradativamente uma canção, suave e doce, surgiu em meio aos gemidos e logo
os estava sobrepujando e abafando. Ecoando por toda a cidade, reverberando nos prédios,
dando nova vida ao lugar e no instante em que tudo estava envolto nela eles surgiram. Alberto
não conseguia vê-los direito, pois eles pareciam feitos de pura luz. Primeiro um, depois três,
dez, vinte, cem, até que milhares deles estavam por toda a cidade. Silhuetas humanas
brilhantes que se aproximavam das pessoas caídas no chão, uma a uma, e as envolviam em
casulos luminosos onde o rapaz sabia, muito embora não soubesse como, que todas as dores
deles estavam sendo curadas.
Sem que percebesse uma dessas figuras se aproximou por trás dele e logo ele também
estava numa bolha de pura luz onde sentia toda a sorte de sentimentos felizes. Era como se
todo o medo e angustia que sentira até então nunca tivessem existido, era como se tudo
estivesse certo e em seu devido lugar sem que existissem razões para duvidar. E foi quando
uma voz ecoou dentro de sua cabeça.
“Meu filho, não tema, não desvie o olhar. Nada do que você vê foi feito para assustá-lo,
mas use o que foi lhe mostrado aqui para lembrar de que o mundo está cheio de cidades
sombrias onde as pessoas se contorcem na solidão e no desespero. Cada um desses pobres
que se encontram aqui no chão são os amigos, os parentes, os vizinhos que encontramos
todos os dias e que esquecemos de olhá-los nos olhos tentando entender suas dores e ajudá-
los. E a luz que aqui os ampara, são meramente as palavras e atos de carinho reais que
podemos fazer a todo instante, mas que negamos por indiferença. Lembre-se meu filho que
todos só precisam de uma palavra de amor para serem salvos.”
Em nenhum momento Alberto se virou para olhar a fonte da luz que o envolvia, um
pouco por medo e um pouco por respeito, e logo que a voz terminou a luz começou a se
expandir, até se tornar uma imensa estrela pulsante que não permitia que o garoto visse ou
ouvisse mais nada do mundo exterior. Dominando toda a mente e consciência dele e a
preenchendo de lembranças de momentos alegres, de seus amigos, e familiares, de todos que
amava, e de tudo que adorava como se quisesse mostrá-lo a beleza da vida.
Subitamente ele acordou.
4. Assustado, demorou alguns instantes até que ele entendesse que estava de volta ao
seu corpo e ao seu quarto. Seus sentidos lentamente se acostumaram com a nova realidade e
só quando os primeiros raios de sol entraram pela cortina fina é que ele percebeu que tudo
não passara de um sonho.
Mas teria sido mesmo só um sonho?
Ele se levantou ainda meio zonzo de sono e foi até a janela de seu apartamento e viu a
imensa cidade vibrante e barulhenta que se expandia abaixo dele. O sol já brilhava intenso e o
dia corria solto com todo mundo seguindo suas vidas. Atento ele assistiu pessoas saindo pra
trabalhar, voltando do trabalho, crianças e adolescente indo estudar, alguns casais chegando
da noite, ainda ébrios de álcool e amor e outras tantas pessoas sem um objetivo apenas
andando por ai a fim de ver o mundo. Também acompanhou prédios começando a serem
construídos, ambicionando serem os mais altos, lojas abrindo e artistas de rua iniciando suas
apresentações. E enfim percebeu como não conhecia ninguém que via e como não era capaz
de apreender realmente toda a complexidade que se mostrava diante dele.
5. Alberto não conseguiu evitar pensar na cidade escura e em como ela realmente parecia
com esta, distante, opressora, fria e carente de calor humano. E principalmente pensou em
como cada uma daquelas pessoas que via lá embaixo podia ser um daqueles sofredores a
espera de luz e como ele talvez nunca viesse a saber a dor que os afligia.
Ele então fechou os olhos, como se preparasse para fazer uma prece, sentido a
luminosidade batendo em seu rosto e aquecendo sua alma. Repassou então todos os
momentos de seu sonho, um a um, repetindo-os continuamente tentado fixá-los em sua
mente e num murmúrio ele falou.
“Eu prometo que me lembrarei. E farei o melhor que puder”
FIM
TEXTO E ARTE: João Victor Alves dos Santos