1. O Conselho ECOFIN adoptou novas orientações de política económica para a UE e Estados-membros, definindo 10 linhas directrizes para reformas estruturais.
2. Foi aprovada uma directiva sobre limitação de bónus bancários e novas exigências de fundos próprios.
3. Os dados do Eurostat apontam para um défice da balança comercial da zona euro em Maio, decorrente de aumento das importações superior ao das exportações.
3. FICHA TÉCNICA
Propriedade
AEP - Associação Empresarial
de Portugal
Edifício de Serviços
Av. Dr. António Macedo
4450-617 LEÇA DA PALMEIRA
Director
José António Barros
Edição
AEP/ Gabinete de Estudos
S U M Á R I O
Redacção
AEP/ Gabinete de Estudos
António Queiroz Menezes
Maria do Céu Filipe
Maria de Lurdes Fonseca
Nuno Torres
Pedro Capucho
DESTAQUE
...................................................................... 2
Sede de Redacção
AEP - Associação Empresarial
de Portugal
Edifício de Serviços ECONOMIA INTERNACIONAL
Av. Dr. António Macedo
4450-617 LEÇA DA PALMEIRA
1. União Europeia / Zona do Euro
NIPC 500971315
................................................................................ 5
Publicidade
AEP – Associação Empresarial
de Portugal
2. Estados Unidos da América
Telef.: 22 998 1500 .............................................................................. 11
Design Gráfico
Designarte® - Comunicação 3. Japão
.............................................................................. 15
Periodicidade
Mensal
4. Mercados e Organizações Internacionais
ISSN: 0871-9365 .............................................................................. 17
Depósito Legal
N.o 28804
Registo no ICS: 117830
ECONOMIA NACIONAL
É autorizada a reprodução dos 1. Envolvente Política, Social e Económica
trabalhos publicados, desde
que .............................................................................. 25
citada a fonte e informada
a direcção da revista.
2. Economia Monetária e Financeira
.............................................................................. 38
3. Economia Real
.............................................................................. 41
1
4. DESTAQUE
Economia Internacional
O Conselho ECOFIN adoptou uma recomendação que estabelece novas orientações
de política económica para a União Europeia e os seus Estados-membros. (pág. 5)
Os dados de Maio do Eurostat indicam uma evolução positiva no desempenho
industrial (…) (pág. 8)
O Congresso [norte-americano] deu aprovação final à reforma do sistema financeiro
(…) (pág. 12)
(…) a informação mais recente do Instituto Conference Board revelou-se
desfavorável, apontando para um abrandamento da retoma económica dos Estados
Unidos nos próximos meses. (pág. 15)
Em Junho, o euro voltou a registar uma depreciação nos principais câmbios,
reflectindo sobretudo rumores de um pedido de ajuda da Espanha ao FMI no início do
mês. A moeda recuperou depois parte do seu valor (…) (pág. 17)
(…) os principais índices accionistas internacionais recuaram pelo segundo mês
consecutivo (…) (pág. 19)
Os preços médios das matérias-primas recuaram pelo segundo mês consecutivo em
Junho, traduzindo as dúvidas crescentes sobre a robustez da retoma económica
global (…) (pág. 21)
(…) o comércio mundial cresceu cerca de 28% em valor no primeiro trimestre de
2010, em termos homólogos, mas inverteu a sua evolução em cadeia, reduzindo-se
3% face ao último trimestre de 2009. (pág. 22)
2 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
5. Economia Nacional
(…) a procura interna deverá abrandar ao longo de 2010 e diminuir em 2011 (…). O
ligeiro aumento previsto para o PIB em 2011 (0,2%) decorrerá assim exclusivamente
da procura externa líquida. (pág. 26)
Em Julho, foi apresentada no Europarque (…) a Estratégia para a Aceleração da
Execução de Projectos Empresariais, no âmbito do Quadro de Referência Estratégico
Nacional (…) (pág. 31)
As taxas de juro do mercado monetário europeu aumentaram em Junho, embora de
forma ligeira (…) (pág. 38)
Espera-se (…) uma diminuição dos depósitos junto do Banco Central (…), que têm
vindo a subir para valores muito elevados, significando uma quase paragem do
mercado interbancário por falta de confiança entre os bancos. (pág. 38)
(…) o Governo português (…) teve sucesso nas emissões de dívida que decorreram
em Junho, mas, à semelhança de Espanha, teve de pagar taxas de remuneração
superiores às das emissores anteriores para as mesmas maturidades (…) (pág. 39)
Em Junho, o índice de referência da bolsa portuguesa manteve-se praticamente
inalterado, para o que terá contribuído atenuação dos receios em torno da dívida
soberana (…) (pág. 40)
Na indústria, o índice de produção recuperou algum dinamismo em Maio, tendo-se
registado um crescimento homólogo de 3,3% (…) (pág. 45)
Mantém-se, desde Novembro de 2009, a tendência de aumento ligeiro mas
persistente da taxa de inflação (…) (pág. 50)
3
7. E C O N O M I A I N T E R N A C I O N A L
1. União Europeia / Zona Euro
1.1. Envolvente
O Conselho ECOFIN adoptou uma recomendação que estabelece novas
orientações de política económica para a União Europeia e os seus Estados-
membros.
Juntamente com um projecto de decisão relativa às políticas de emprego, a
recomendação define as dez linhas directrizes para as reformas estruturais que
deverão ser implementadas nos próximos anos, no quadro da nova estratégia Europa
2020, apresentada em Março deste ano e que sucede à designada Estratégia de
Lisboa.
Com base nestas linhas directrizes integradas, os Estados-membros estabelecerão
programas nacionais de reforma.
No final de negociações entre o Conselho e o Parlamento Europeu foi aprovada, no
início de Julho, uma directiva sobre os bónus dos banqueiros. A directiva
estabelece ainda novas exigências relativas aos fundos próprios dos bancos. As
novas regras sobre a limitação dos bónus serão aplicáveis a partir de Janeiro de 2011
e as normas relativas aos fundos próprios dos bancos no final desse ano.
A directiva impõe limites aos montantes dos bónus que podem ser pagos em dinheiro
e à cabeça. Os bónus não deverão ser desproporcionais em relação aos salários e
uma parte substancial, entre 40% a 60%, será diferida por pelo menos três anos.
No caso das instituições de crédito que beneficiem da intervenção excepcional dos
respectivos governos, haverá regras mais apertadas.
5
8. ECONOMIA INTERNACIONAL
1.2. Política Monetária
Indicadores monetários e financeiros – zona euro
09: II 09: III 09: IV 10: I Fev-10 Mar-10 Abr-10 Mai-10 Jun-10
(1) 4,10 2,50 -0,10 -0,20 -0,20 -0,20 -0,20 -0,20 -
Agregado Monetário M3
Taxas de Juro Mercado Monetário
- taxa overnight 0,77 0,36 0,36 0,34 0,34 0,35 0,35 0,34 0,35
- Euribor a 3 meses 1,31 0,87 0,72 0,66 0,66 0,64 0,64 0,69 0,73
Yields Obrig. Estado a 10 anos
(2) 3,99 3,69 3,67 3,54 3,49 3,46 3,40 3,00 3,03
Taxas de Juro Bancárias
- Depósitos a prazo até 1 ano 1,92 1,73 1,67 1,80 1,75 1,90 2,02 2.04 -
- Emprést. até 1 ano a empresas
(3) 3,73 3,45 3,32 3,25 3,25 3,24 3,19 3,25 -
Fonte: Banco Central Europeu; valores médios do período, em percentagem;
(1)
Taxa de variação homóloga em média móvel de três meses, em percentagem. Valores corrigidos de todas as
detenções de instrumentos negociáveis por agentes residentes fora da área do euro.
(2)
Obrigações com notação AAA.
(3)
Taxas de juro para empréstimos a taxa variável até 1 milhão de euros.
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a manter as suas taxas de juro
directoras em mínimos históricos no início de Julho (1%, no caso da taxa
aplicável às operações principais de refinanciamento, valor que foi fixado em 13 de
Maio de 2009), ante a perspectiva de continuação de uma retoma económica
moderada (mas desigual e talvez irregular, dada a elevada incerteza) na área do
euro e de baixas pressões sobre os preços, conforme as análises económica e
monetária regulares.
O BCE reiterou ainda que todas as medidas não convencionais tomadas
durante o período de fortes tensões nos mercados financeiros, classificadas
como “de maior apoio ao crédito”, e o programa dos mercados de títulos de dívida
(Securities Markets Programme), estão em plena consonância com o mandato do
Conselho do BCE e são, por definição, de natureza temporária. O Conselho do
BCE permanece firmemente empenhado na estabilidade de preços a médio e a
mais longo prazo, e irá ajustar a orientação da política monetária e a cedência
global de liquidez conforme apropriado, continuando a “acompanhar muito
atentamente todos os desenvolvimentos no período que se avizinha”.
A análise monetária confirma que as pressões inflacionistas a médio prazo
permanecem contidas, como sugerido pelo crescimento fraco da moeda e do
crédito.
No que respeita à análise económica, após um período de queda acentuada, a
actividade económica na área do euro tem vindo a expandir-se desde meados de
6 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
9. 2009. A recuperação em curso a nível mundial e o seu impacto na procura de
exportações da área do euro, conjuntamente com a orientação acomodatícia da
política monetária e as medidas adoptadas para restabelecer o funcionamento do
sistema financeiro, deverão apoiar a economia da área do euro. No entanto,
espera-se que a retoma da actividade seja atenuada pelo processo de correcção
de balanços em vários sectores e pelas perspectivas para o mercado de trabalho.
De acordo com a avaliação do Conselho do BCE, os riscos para as perspectivas
económicas encontram-se, no geral, equilibrados, num contexto de elevada
incerteza. Do lado ascendente, a recuperação da economia mundial e do
comércio externo poderá ser mais forte do que o projectado, apoiando as
exportações da área do euro. Do lado descendente, mantêm-se as preocupações
associadas a uma renovação das tensões nos mercados financeiros, com
possíveis novos efeitos adversos sobre as condições de financiamento e a
confiança. Além disso, uma espiral de reacções negativas entre a economia real e o
sector financeiro mais fortes do que o esperado, aumentos renovados dos preços do
petróleo e de outras matérias-primas, assim como pressões proteccionistas e a
possibilidade de uma correcção desordenada dos desequilíbrios mundiais, podem ter
impacto do lado descendente.
Na sequência da fixação da taxa de conversão da coroa estónia pelo Conselho,
em 13 de Julho de 2010 (através de uma alteração ao Regulamento (CE) N.º
2866/98, que deverá entrar em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2011), o Banco
Central Europeu e o Banco Central da Estónia (Eesti Pank) acompanharão a
evolução da taxa de câmbio de mercado da coroa estónia face ao euro no
contexto do acordo do MTC II.
1.3. Economia Real
Relativamente ao comércio externo, os dados do Eurostat apontam para um
défice da balança comercial da zona do euro de 3,4 mil milhões de euros em
Maio (primeiras estimativas) contra excedentes de 2,2 mil milhões de euros em
igual mês de 2009 e de 0,3 mil milhões em Abril. Estes números decorrem de um
aumento de 1,6% nas exportações, entre Abril e Maio, e de 4,2% nas importações
(valores ajustados da sazonalidade).
O conjunto da União Europeia apresentou em Maio um défice de 15,1 mil milhões de
euros na balança comercial contra défices de 7,8 mil milhões de euros em Maio de
2009 e 11,0 mil milhões de euros em Abril de 2010. Entre Abril e Maio, as
exportações da UE subiram 0,9% e as importações 4,1%.
7
10. ECONOMIA INTERNACIONAL
Evolução recente da Balança Comercial UE-27 e Zona do
euro
10000
5000
0
-5000
-10000
-15000
-20000
06
07
08
09
10
11
12
01
02
03
04
05
M
M
M
M
M
M
M
M
M
M
M
M
09
09
09
09
09
09
09
10
10
10
10
10
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Euro area (16 countries) EU (27 countries)
Fonte: Eurostat, em milhões de euros, valores mensais
Os dados de Maio do Eurostat indicam uma evolução positiva no desempenho
industrial, tendo a produção aumentado, em termos mensais, 0,9% na zona do euro
e 1,0% no conjunto da UE. Em termos homólogos, registou-se, também, uma subida
deste indicador (9,4% na zona do euro e 8,7% no conjunto da União), confirmando os
sinais de melhoria na evolução, que já eram visíveis nos últimos meses. No entanto,
estes números representam uma ligeira desaceleração relativamente ao mês anterior
em termos de variação anual.
Da análise do desempenho dos agrupamentos de bens, destacam-se, pela positiva,
os bens intermédios e os bens de capital.
Produção Industrial
Dez-09 Jan-10 Fev-10 Mar-10 Abr-10 Mai-10
Total da Indústria -3,7 2,1 4,4 7,8 9,6 9,4
Bens Intermédios 0,0 4,9 7,3 12,0 15,8 14,7
Energia -1,6 0,8 2,4 5,8 5,6 5,7
Bens de capital -11,0 0,1 3,1 4,7 9,2 8,6
Bens de consumo duradouro -7,2 -2,5 1,0 1,6 1,1 6,3
Bens de consumo não duradouro 0,0 2,3 2,9 6,5 3,2 3,7
Fonte: Eurostat; tvh em %, valores revistos
Ao nível dos Estados-membros, e em termos homólogos, saliente-se, pela positiva, o
crescimento da produção industrial na Alemanha e na Suécia (13,1% e 13,4%,
respectivamente). Em Espanha, a produção industrial aumentou em 3,3% contra
2,3% em Abril. Fora da zona do euro, a produção industrial do Reino Unido passou de
uma tvh de 1,1% em Abril para 3,9% no mês de Maio.
8 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
11. Em relação aos indicadores de procura interna final, os dados do Eurostat mostram
que o volume de negócios do comércio a retalho em Maio aumentou 0,2%, na
zona do euro e 0,4% no conjunto da União Europeia. Em termos homólogos,
verificou-se aumento de 0,3% e de 0,5%, respectivamente. Estes valores
representaram uma recuperação relativamente à situação de Abril.
Volume de Negócios no Comércio a Retalho
Dez-09 Jan-10 Fev-10 Mar-10 Abr-10 Mai-10
União Europeia 0,0 -1,4 0,0 1,6 -1,0 0,5
Zona do euro 0,1 -0,7 0,1 1,6 -0,5 0,3
Fonte: Eurostat, tvh em %, valores corrigidos
Em Junho, a taxa de variação homóloga dos preços na zona do euro baixou
para 1,4%, menos 0,2 p.p. do que em Maio. No conjunto da União Europeia, os
preços aumentaram 1,9%, menos 0,1 p.p. que em Maio.
Evolução da Inflação
Taxas Taxa
tvh
médias mensal
de 12
Mar-10 Abr-10 Mai-10 Jun-10 Jun 10-09
meses Jun-10
União Europeia 1,9 2,0 2,0 1,9 1,3 0,0
Zona do euro 1,4 1,5 1,6 1,4 0,7 0,0
Fonte: Eurostat, % variação HCPI
Entre os países da zona do euro, as taxas homólogas de inflação mais baixas
verificaram-se novamente na Irlanda (-2,0%), nos Países Baixos (0,2%, valor
provisório), e na Eslováquia (0,7%) e as mais elevadas na Grécia e na Bélgica (5,2%
e 2,7%, respectivamente). Na Espanha, os preços subiram, também em termos
homólogos, 1,5%.
A inflação subjacente na zona do euro foi de 0,9% (valor provisório).
De acordo com dados do Eurostat (ajustados de sazonalidade), a taxa de
desemprego da zona do euro fixou-se em 10,0% no mês de Maio, o mesmo valor
verificado em Março e Abril. O Eurostat estima assim que 15,79 milhões de
pessoas na zona do euro (mais 35 000 que em Março e mais um milhão que no
mesmo mês de 2009) se encontrassem em situação de desemprego no mês em
9
12. ECONOMIA INTERNACIONAL
destaque. Considerando o cômputo geral da UE, a taxa de desemprego manteve-se
nos 9,6%, com cerca de 23,1 milhões de desempregados.
Taxa de Desemprego
Dez-09 Jan-10 Fev-10 Mar-10 Abr-10 Mai-10
União Europeia 9,4 9,5 9,6 9,6 9,6 9,6
Zona do euro 9,9 9,9 9,9 10,0 10,0 10,0
Fonte: Eurostat; % da população activa, ajustada de sazonalidade. Valores revistos.
Os países da zona do euro (com dados disponíveis) com taxas de desemprego mais
baixas eram, em Maio, os Países Baixos (4,3%) e a Áustria (4,0%). Por outro lado, o
país com taxa mais alta de desemprego era a Espanha (19,9%). A taxa de
desemprego subiu ligeiramente ou estabilizou na maioria dos países da zona do euro.
Os últimos resultados fornecidos pelos inquéritos aos consumidores e às
empresas (compilados pela Comissão Europeia) apontam para ligeira deterioração
do clima de confiança dos agentes económicos na zona do euro e na UE.
Indicador de Confiança na União Europeia
Dez-09 Jan-10 Fev-10 Mar-10 Abr-10 Mai-10 Jun-10
Indústria -16 -13 -12 -9 -7 -5 -6
Construção -33 -34 -32 -29 -28 -30 -32
Comércio a retalho -6 -3 -5 -4 0 -4 -4
Serviços -2 -2 0 1 4 2 4
Consumidores -14 -13 -13 -14 -12 -15 -15
Indicador do Clima 95,0 97,2 97,6 99,8 101,9 100,2 100,1
Económico (ESI)
Fonte: Comissão Europeia. Poderá ter ocorrido uma quebra de série em Maio devido à utilização de novos fornecedores
de informação.
No mês de Junho, este indicador na zona do euro subiu ligeiramente para os 98,7
pontos (melhoria de 0,3 pontos). O indicador de clima na UE apresentou uma
evolução inversa baixando ligeiramente. A grande maioria dos países da União
Europeia registou alterações positivas neste indicador, com as excepções mais
perceptíveis, e que influenciaram o índice, na Bélgica, nos Países Baixos, Portugal e
Reino Unido.
10 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
13. Índice de Clima Económico (ESI) - UE e zona euro
120,0
110,0
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
Ago-07
Ago-08
Ago-09
Fev-07
Abr-07
Jun-07
Out-07
Nov-07
Fev-08
Abr-08
Jun-08
Out-08
Nov-08
Fev-09
Abr-09
Jun-09
Out-09
Nov-09
Fev-10
Abr-10
Jun-10
Jan-07
Set-07
Jan-08
Set-08
Jan-09
Set-09
Mar-07
Mai-07
Jul-07
Dez-07
Mar-08
Mai-08
Jul-08
Dez-08
Mar-09
Mai-09
Jul-09
Dez-09
Jan-10
Mar-10
Mai-10
Fonte: Comissão Europeia
Series1 Series2
Chama-se a atenção para a leitura deste gráfico ter de ter em conta a possível quebra de série em Maio: apenas
números relativos a meses subsequentes poderão dar uma ideia correcta de se essa quebra influiu significativamente
na informação que se pretende mostrar.
2. Estados Unidos da América
2.1. Envolvente Política, Social e Económica
Em Junho, a Reserva Federal manteve a principal taxa de juro de referência num
mínimo histórico (intervalo de 0 a 0,25%) e a perspectiva de um nível
excepcionalmente baixo durante bastante tempo, em face da retoma gradual dos
baixos níveis de utilização da capacidade produtiva, que limitam as pressões
inflacionistas. No que se refere aos dados económicos, foi salientada a retoma
gradual do emprego e a deterioração das condições de financiamento, devido,
em larga medida, aos desenvolvimentos no estrangeiro, condicionando o
consumo e o investimento.
Nas minutas da reunião, entretanto divulgadas, ficou a saber-se que a Reserva
Federal reduziu as suas previsões de crescimento económico para 2010 para
um intervalo de 3% a 3,5% (3,2% a 3,7% em Abril, valores referentes à variação
homóloga do PIB no quarto trimestre). O ritmo de crescimento da actividade está
condicionado por uma série de factores, como a incerteza dos consumidores e
11
14. ECONOMIA INTERNACIONAL
empresas, a fraqueza do mercado residencial, a melhoria apenas gradual do
emprego, o fim do estímulo orçamental e a lenta melhoria das condições de
concessão de crédito bancário. A maioria dos membros do Conselho de Política
Monetária considerou que, dada a severidade da recente recessão, demorará
cinco ou seis anos até a economia convergir para uma trajectória de longo
prazo com valores sustentáveis de crescimento económico, taxa de
desemprego e inflação compatíveis com o objectivo dual da Reserva Federal
(máximo de emprego com estabilidade de preços).
Já em Julho, o FMI considerou que a retoma da economia norte-americana,
embora ainda modesta em termos históricos, tem sido mais rápida do que o
esperado, muito por causa da forte e efectiva actuação das autoridades do país.
Contudo, o FMI alertou para o risco de contágio da crise de crédito soberano na
Europa por via dos mercados financeiros e do comércio externo.
O Gabinete orçamental do Congresso alertou, no início de Julho, para a
urgência de reduzir a dívida pública dos Estados Unidos. Num cenário sem
grandes alterações à actual legislação, a dívida passaria de 62% do PIB em 2010
para 80% em 2035, reflectindo, em larga medida, o crescimento da despesa social
associada ao envelhecimento da população (mesmo contando com a recente reforma
do sistema de saúde, que permite alguma atenuação destes custos, a prazo). No
entanto, num cenário alternativo de alterações legislativas possíveis, com destaque
para a extensão dos cortes de impostos da anterior Administração, a dívida atingiria
185% do PIB em 2035. Acresce ainda, segundo o Director do CBO, que as
projecções podem subestimar a severidade dos altos níveis de dívida no longo prazo,
dado que podem conduzir a taxas de juro mais elevadas e a um menor crescimento
económico.
O anterior Presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Geenspan,
defendeu, em Julho, a expiração dos cortes de impostos decididos em 2001 pela
Administração Bush, a que ele também deu o seu aval, de modo a reduzir o
elevado défice orçamental.
O Congresso deu aprovação final à reforma do sistema financeiro (designada Lei
Dodd-Frank), faltando agora definir quem será o responsável pela agência de
protecção dos consumidores de produtos financeiros, que será criada no âmbito
da nova legislação. Entre as principais medidas, destaca-se a imposição de
restrições aos sistemas proprietários de trading dos bancos, o novo
mecanismo para a liquidação de instituições financeiras, até agora consideradas
12 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
15. demasiado grandes para deixar falir, o reforço da vigilância dos riscos
económicos e financeiros por um conselho de reguladores, e as restrições à
comercialização bancária de produtos derivados. Outra das medidas, até agora
pouco difundida, é a obrigação das companhias norte-americanas passarem a
divulgar os detalhes das taxas, royalties e outras comissões pagas nos países
em que operam. Esta medida, aclamada pelos militantes anti-corrupção, obrigará,
nomeadamente, as empresas petrolíferas e mineiras a divulgar os biliões de
dólares que pagam aos governos dos países onde estão presentes.
Pela mesma altura, a British Petroleum (BP) anunciou que conseguiu estancar a
fuga de petróleo da plataforma que explodiu a 20 de Abril no Golfo do México,
provocando o maior desastre ambiental de sempre nos Estados Unidos. O
Presidente Obama considerou a notícia muito positiva, mas pediu cautela pois ainda
existe o risco de novas fugas, sendo que a situação só ficará resolvida com a
perfuração de um novo poço ao lado para intersecção com o original, de modo a
fechá-lo permanentemente. A fuga poderá custar à BP entre 30 e 100 mil milhões
de dólares, conforme as estimativas. A petrolífera britânica já pagou 200 milhões a
32 mil queixosos, e há outros 17 mil em avaliação para elegibilidade de pagamento,
mais 61 mil em fase de recolha de dados. O desastre terá levado já à falência de
um terço da indústria da pesca na costa local.
Também pela mesma altura, a Goldman Sachs acordou o pagamento de uma
multa de 550 milhões de dólares para terminar o processo movido pelo
regulador financeiro (Securities and Exchange Comission, SEC) por induzir em
erro os investidores em produtos financeiros relacionados com crédito
hipotecário. Apesar de esta ter sido a maior multa já aplicada a um banco norte-
americano, corresponde a apenas uma semana de receitas de trading da
empresa e a cerca de metade do montante de fraude que a SEC alegou em Abril.
2.2. Economia Real
De acordo com dados revistos das contas nacionais dos Estados Unidos, o PIB
cresceu apenas 2,7% no primeiro trimestre (variação em cadeia anualizada, com
ajustamento de sazonalidade), face a 3,2% nas primeiras estimativas.
O mais recente relatório de conjuntura da Reserva Federal (Livro Bege), com
informação até metade de Julho, deu conta de um crescimento ligeiramente mais
forte da actividade económica, com destaque para o bom desempenho da
produção industrial e uma melhoria do andamento nos serviços. Pelo contrário,
13
16. ECONOMIA INTERNACIONAL
as despesas de consumo perderam dinamismo na maior parte dos distritos, mas
os relatórios apontaram um maior optimismo nas perspectivas económicas. No
que concerne o comportamento dos salários e dos preços dos bens finais, não foram
reportadas pressões significativas.
Em Junho, a taxa de inflação homóloga medida pelo índice de preços no
consumidor reduziu-se para 1,1% (menos 0,9 p.p. que em Maio), o mínimo desde
Outubro. O indicador de inflação subjacente, que retira as componentes voláteis
de energia e alimentação, manteve-se, pelo terceiro mês consecutivo, em 0,9%, o
nível mais baixo desde 1961.
As despesas de consumo recuperaram uma trajectória de crescimento em Maio
(variação real em cadeia de 0,3%, após uma estagnação em Abril), mas que não
deverá ser suficiente para evitar um abrandamento no segundo trimestre. O
rendimento disponível voltou a aumentar mais do que o consumo (0,5%,
também em termos reais, menos 0,1 p.p. que em Abril), elevando a taxa de
poupança para 4% (mais 0,2 p.p. que em Abril).
No lado da oferta, os dados sectoriais revelaram um reforço do dinamismo na
indústria, um ligeiro abrandamento nos serviços e a continuação do
desagravamento das quebras na construção:
- o crescimento homólogo da produção industrial aumentou para 7,9% em Junho
(mais 2,5 p.p. que no mês precedente), tendo passado de 2,7% para 7,2% do
primeiro para o segundo trimestre;
- o índice ISM não industrial recuou para 53,8 pontos em Junho (55,4 pontos em
Maio), traduzindo um menor crescimento da actividade;
- as despesas de construção registaram uma quebra homóloga de 8% em Maio,
inferior à descida homóloga de Janeiro a Maio, de 12% (variações nominais),
confirmando que a tendência de desagravamento se mantém.
Em Junho, a taxa de desemprego reduziu-se para o mínimo de quase um ano
(9,5%, menos 0,2 p.p. que em Maio), mas em resultado da passagem de
desempregados para inactivos. Nos dados por estabelecimento, o número de
postos de trabalho não agrícolas diminuiu pela primeira vez desde Dezembro
(em 125 mil), mas em resultado da descida no sector público (provavelmente
associada ao fim da contratação para os censos). O emprego diminuiu a menor
ritmo na construção e acelerou nos serviços privados, ainda que se tenha registado
um abrandamento na indústria.
14 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
17. Em termos de indicadores avançados, a informação mais recente do Instituto
Conference Board revelou-se desfavorável, apontando para um abrandamento
da retoma económica dos Estados Unidos nos próximos meses. Em Junho, o
índice de confiança dos consumidores recuou de forma significativa, após três
meses de subida, reflectindo a incerteza sobre a evolução no mercado de trabalho. O
índice dos indicadores avançados do mesmo Instituto confirmou a tendência
recente de desaceleração em Maio (subida de 0,4%, após 0% e 1,4% nos dois
meses anteriores), esperando-se uma evolução semelhante da actividade económica
nos próximos meses.
3. Japão
3.1. Envolvente Política, Social e Económica
Em Julho, o Banco do Japão manteve a sua taxa de juro inalterada em 0,1%
(valor fixado em Dezembro de 2008). A actividade económica continuou a
recuperar moderadamente, assente sobretudo na melhoria da procura externa,
reflectindo o elevado crescimento dos países emergentes e o aumento da procura
global de bens ligados às tecnologias de informação e comunicação. O investimento
começa a dar sinais de retoma, com a melhoria dos resultados e da confiança dos
empresários, e o consumo privado tem vindo a recuperar devido às medidas de
estímulo do Governo, já que as condições de emprego e rendimento se mantêm
difíceis. Dado o nível ainda baixo de utilização da capacidade produtiva, o IPC
continuou a exibir uma tendência de queda, embora o ritmo de descida tenha vindo a
atenuar-se.
No que se refere a perspectivas, o Banco do Japão espera a continuação da
retoma moderada da actividade, tendo revisto em alta a projecção de
crescimento para o ano fiscal de 2010 (2,6%, o valor mais alto da década, mais 0,8
p.p. que em Abril, considerando os pontos medianos dos intervalos de previsão),
devido à aceleração da procura nas economias emergentes. No ano fiscal de
2011, que terá início em Abril, o crescimento deverá reduzir-se para 1,9%, valor
ligeiramente inferior à anterior projecção (menos 0,1 p.p.). A previsão dos
preços manteve-se praticamente inalterada (descida de 0,4% em 2010 e aumento
de 0,1% em 2011, referentes à variação homóloga do IPC sem a componente de
bens alimentares frescos).
No início de Julho, a coligação governamental perdeu a maioria na Câmara Alta
do Parlamento japonês, numas eleições cuja campanha foi centrada na
15
18. ECONOMIA INTERNACIONAL
proposta do novo primeiro-ministro, Naoto Kan, de aumento do imposto sobre
o consumo (actualmente de 5%, muito abaixo da generalidade dos países
desenvolvidos). O resultado poderá adiar os esforços para restaurar a
sustentabilidade fiscal da segunda maior economia mundial e travar o impulso
reformista do novo Governo, já que o primeiro-ministro Naoto Kan (o quinto em
menos de 4 anos) ficou vulnerável perante os parceiros de coligação e vê-se sujeito a
adiamentos e bloqueios de medidas na Câmara Alta. Kan admitiu que a questão do
aumento do imposto poderá ter sido decisiva para o resultado, mas afastou a
possibilidade de demissão e considerou que o resultado não podia ser
interpretado como uma rejeição da medida pelos eleitores, mas como um sinal
de que as reformas devem ser mais discutidas. No entanto, pouco depois, e de
forma súbita, Kan prometeu não voltar a insistir no aumento do imposto sobre o
consumo antes das próximas eleições gerais, que só terão lugar em 2013.
Passados alguns dias, no âmbito da sua análise anual à economia nipónica, o FMI
defendeu que o aumento do imposto sobre o consumo deverá ser parte da
estratégia para estabilizar a emissão de dívida e alcançar um saldo primário
equilibrado em 2020. O Fundo preconizou uma subida anunciada da taxa de
imposto de 5% para 15%, ao longo de vários anos, de modo a inverter o actual
adiamento de despesa dos consumidores devido à deflação, em combinação
com a redução do imposto sobre o rendimento singular e uma reforma dos impostos
sobre as empresas, para estimular o investimento. No combate à deflação, o FMI
considera que o Banco do Japão pode comprometer-se mais fortemente com a
política monetária acomodatícia até que a inflação subjacente atinja 1% ou mais.
3.2. Economia Real
Em Maio, o índice de preços no consumidor registou uma descida homóloga
menos acentuada (0,9%, menos 0,3 p.p. que no mês anterior), mas a quebra do
índice subjacente, que exclui alimentação e energia, manteve-se bastante
significativa (1,6%).
A despesa de consumo das famílias trabalhadoras agravou o ritmo de quebra
homóloga em Maio (1,1 p.p., para 3,4%, em termos reais), após uma subida de
0,5% no primeiro trimestre. O rendimento disponível passou também a
apresentar um comportamento negativo (variação homóloga de -5,3%, após 0,8%
em Abril).
16 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
19. A taxa de desemprego do Japão aumentou pelo terceiro mês consecutivo em
Maio, situando-se em 5,2% (mais 0,1 p.p. que em Abril), o nível mais alto desde
Dezembro.
Os indicadores avançados disponíveis sugerem a continuação da retoma
económica nos próximos meses. O inquérito Tankan do Banco do Japão mostrou
uma melhoria da confiança dos empresários nipónicos no segundo trimestre,
com o indicador a tornar-se positivo nas grandes empresas industriais, pela
primeira vez em dois anos. O índice de confiança dos consumidores continuou a
aumentar em Junho, atingindo um máximo de quase três anos, em claro
contraste com a recente quebra das despesas de consumo.
4. Mercados e Organizações Internacionais
4.1. Mercado de Câmbios
Cross rates das principais divisas internacionais
(fecho das sessões de início e fim das semanas de Junho)
Dólares por Libras por Ienes por Libras por Ienes por
Euro Euro Euro Dólar Dólar
Terça, 1 1,216 0,835 110,650 0,687 91,032
Sexta, 4 1,206 0,827 111,730 0,686 92,645
Segunda, 7 1,196 0,825 109,860 0,690 91,864
Sexta, 11 1,213 0,829 111,130 0,684 91,638
Segunda, 14 1,225 0,831 112,430 0,678 91,787
Sexta, 18 1,237 0,836 112,120 0,675 90,624
Segunda, 21 1,239 0,834 113,100 0,673 91,276
Sexta, 25 1,229 0,824 109,990 0,670 89,466
Segunda, 28 1,234 0,820 110,250 0,665 89,351
Quarta, 30 1,227 0,817 108,790 0,666 88,656
Variação (1) -0,29% -3,67% -3,40% -3,39% -3,12%
(1) Variação registada entre a última cotação do(s) mês(es) em análise e a última cotação do mês anterior.
Nota: cálculo com base no ´fixing’ do Banco Central Europeu
Em Junho, o euro voltou a registar uma depreciação nos principais câmbios,
reflectindo sobretudo rumores de um pedido de ajuda da Espanha ao FMI no
início do mês. A moeda recuperou depois parte do seu valor (em especial face ao
dólar), com o sucesso de colocação de dívida espanhola, o menor recurso a uma das
facilidades de financiamento do BCE e o anúncio de divulgação dos testes de stress
aos bancos europeus a atenuarem os receios em torno da zona euro. Salienta-se
ainda o anúncio de manutenção da posição em euros do fundo com maior exposição
17
20. ECONOMIA INTERNACIONAL
(chinês), e a rejeição, pelo tribunal constitucional alemão, de uma injunção que
poderia impedir o país de participar no pacote de estabilização financeira da zona
euro. No decurso do mês, o euro atingiu mínimos de quase 9 anos face ao iene,
de 4 anos em relação ao dólar, e de 20 meses na cotação com a libra
Ao longo do mês, as preocupações foram passando do risco de crédito
soberano na Europa para a possibilidade de uma recaída da economia norte-
americana face ao esgotamento dos programas de estímulo orçamental (e um
provável prolongamento das baixas taxas da Reserva Federal), na sequência de
divulgação de dados desfavoráveis nos EUA. Esta perspectiva enfraqueceu o dólar
também na perspectiva de moeda de refúgio, tornando o iene mais procurado
nos períodos de maior aversão ao risco. Este comportamento explicou a
apreciação mensal do iene nos principais câmbios, após uma breve descida no
início de Junho, com rumores de que o novo primeiro-ministro, Naoto Kan, tentará
depreciar a moeda com intervenções cambais, tendo em conta a sua posição sobre a
matéria no passado, como ministro das Finanças.
No caso da libra, o anúncio de cortes profundos de despesa pública pelo novo
governo britânico reduziu a preocupação com a situação orçamental do Reino
Unido e o risco de uma descida acentuada do rating da dívida, traduzindo-se numa
apreciação significativa da moeda face ao euro e ao dólar. A libra situou-se num
máximo de 20 meses face ao euro e recuperou de um mínimo de 14 meses face ao
dólar.
A variação das principais taxas de câmbio em Junho (no primeiro semestre) foi a
seguinte: depreciação do euro relativamente à libra, ao iene e ao dólar em 3,67%,
3,4% e 0,29%, respectivamente (7,96%, 18,3% e 14,82%) e do dólar face à libra
(apreciação de 8,06%); recuo de 3,12% (4,09%) do dólar na cotação com o iene.
Finalmente, destaca-se o anúncio de flexibilização do regime cambial chinês em
Junho, após dois anos de ligação ao dólar. As autoridades chinesas consideraram
que a maior estabilidade das condições económicas permite retomar a reforma
do sistema de câmbio com referência a um cabaz de moedas, mas com uma
banda diária de variação face ao dólar bastante estreita e vigiada, permitindo
apenas uma apreciação lenta e controlada. O anúncio levou a uma subida das
moedas de outros exportadores asiáticos (que poderão assim acomodar uma
apreciação das suas moedas sem perda de competitividade face à concorrência
chinesa) e a um breve período de euforia dos mercados financeiros, que retirou
18 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
21. procura como moeda refúgio ao dólar e iene, mas este movimento inverteu-se logo a
seguir com a divulgação de dados económicos menos favoráveis.
4.2. Mercados Bolsistas Internacionais
Em Junho, os principais índices accionistas internacionais recuaram pelo
segundo mês consecutivo, na maioria dos casos, traduzindo os receios de
abrandamento da retoma económica global, que prevaleceram à medida que as
preocupações com o risco de crédito soberano na Europa se foram atenuando.
O anúncio de flexibilização do regime cambial chinês e a perspectiva de
divulgação dos resultados dos testes de stress financeiro aos bancos europeus
proporcionaram alguma recuperação das bolsas em meados dos mês, que
rapidamente se desvaneceu com a divulgação de dados económicos desfavoráveis
nos EUA e China.
No caso dos índices norte-americanos de referência, o Dow Jones industrials
(representativo dos 30 títulos mais tradicionais) registou uma perda mensal de
3,6%, enquanto o índice tecnológico Nasdaq Composite recuou 6,6%. O saldo
do primeiro semestre foi negativo em ambos os casos, com quebras de 6,3% no
Dow e de 7,1% no Nasdaq.
Os receios de abrandamento da actividade económica provocaram uma descida
da yield das obrigações do Tesouro norte-americano a 10 anos abaixo dos 3%
(2,97%, no dia 30, após 3,27% no dia 1 de Junho), pela primeira vez em 14 meses.
Estados Unidos - índice Dow Jones Industrials
15000,00
14000,00
13000,00
12000,00
11205,03
Índice (em pontos)
11000,00
10000,00
9816,49
9000,00
8000,00
7000,00
6000,00 6547,05
5000,00
06/02/09
25/02/09
16/03/09
02/04/09
21/04/09
08/05/09
27/05/09
01/10/09
20/10/09
06/11/09
25/11/09
14/12/09
31/12/09
19/01/10
07/05/10
26/05/10
14/06/10
01/01/09
20/01/09
15/06/09
02/07/09
21/07/09
07/08/09
26/08/09
14/09/09
05/02/10
24/02/10
15/03/10
01/04/10
20/04/10
Fonte: Yahoo Finance
19
22. ECONOMIA INTERNACIONAL
Na Europa, os índices representativos das duas principais praças financeiras
evidenciaram comportamentos distintos. Em Frankfurt, o índice alemão Dax Xetra
registou uma variação nula, travando as perdas graças à atenuação da crise de
dívida soberana europeia, enquanto o índice inglês Ftse-100 perdeu 5,2% em
face das medidas de austeridade do novo Governo britânico. No cômputo do
primeiro semestre, o Ftse recuou 9,2%, um desempenho contrastante com a
subida de 0,1% do Dax, que reflecte, em grande medida, a capacidade de
resistência da economia alemã à crise internacional.
Alemanha e Reino Unido
8400,00
7800,00
7200,00
6600,00
Índice (em pontos)
Alemanha
6000,00
índice Dax Xetra
5400,00
4800,00
Reino Unido
4200,00
índice Footsie 100
3600,00
3000,00
01/01/09
20/01/09
21/04/09
08/05/09
27/05/09
15/06/09
02/07/09
14/09/09
01/10/09
20/10/09
06/11/09
25/11/09
24/02/10
15/03/10
01/04/10
20/04/10
06/02/09
25/02/09
16/03/09
02/04/09
21/07/09
07/08/09
26/08/09
14/12/09
31/12/09
19/01/10
05/02/10
07/05/10
26/05/10
14/06/10
Fonte: Yahoo Finance
O índice japonês Nikkei-225 perdeu cerca de 4% em Junho, traduzindo os
receios de abrandamento da economia global e a apreciação do iene, que
penaliza o sector exportador. O primeiro semestre saldou-se por uma descida de 11%
do índice.
20 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
23. 4.3. Mercados de Matérias-Primas
2008 2009 1T 10 2T 10 Mai-10 Jun-10
Brent (Mar do Norte) 98 62 76,7 78,7 76,3 74,8
Algodão 71 63 81 90 90 92
Alumínio (99,7% pureza) 2578 1699 2165 2096 2045 1929
Cobre 6963 5165 7234 7025 6843 6502
Chumbo 2093 1719 2214 1952 1877 1707
Níquel 21141 14672 19978 22457 21930 19411
Estanho 18467 13603 17190 17819 17565 17258
Zinco 1885 1658 2284 2028 1970 1747
(1)
Minério de Ferro (Fe) 141 101 101 167 167 167
Fonte: Fundo Monetário Internacional
Cotações Spot; média das cotações diárias, excepto no caso do algodão (média das cotações semanais).
Unidades: brent: dólares por barril; algodão: cêntimos de dólar (cts USD) por libra de peso (1 libra de peso equivale a
453,6 gramas); alumínio (grau de pureza mínimo de 99,5%), cobre, chumbo, níquel, estanho, zinco: dólares por
tonelada; minério de ferro: cts USD por 1% Fe DMTU (Dry Metric Ton Unit), tendo o minério Carajas Fines (Brasil) um
conteúdo de 67,55% Fe DMTU – por exemplo, uma cotação de 77 cts USD / DMTU (Carajas) equivale a 52,01 USD /
tonelada.
(1)
os preços do Minério de ferro são fixados trimestralmente (anualmente, antes de Abril de 2010) pelas três principais
empresas a nível mundial (Rio Tinto, BHP Militon e Vale), constituindo a referência para os restantes produtores.
Os preços médios das matérias-primas recuaram pelo segundo mês
consecutivo em Junho, traduzindo as dúvidas crescentes sobre a robustez da
retoma económica global, em particular devido às medidas de austeridade na
Europa. A quebra das cotações concentrou-se no final do mês, com a
divulgação de alguns dados menos favoráveis nos EUA e China a reacender os
receios de abrandamento económico, invertendo a trajectória de recuperação
observada no início do mês. Esta recuperação esteve associada ao anúncio de
maior flexibilidade do yuan pelas autoridades chinesas e ao recuo da
preocupação com a dívida soberana na Europa.
No caso do brent, a cotação média diminuiu 2% em Junho (para 74,8 dólares por
barril), após uma quebra de 10% no mês anterior. A aproximação da época de
furacões no Atlântico e a diminuição da aversão ao risco provocou uma subida do
preço durante alguns períodos de Junho, mas a tendência mensal voltou a ser
negativa. No cômputo do segundo semestre, no entanto, a cotação média
aumentou 2,7%, registando-se uma subida de 33,2% em termos homólogos.
O preço médio do algodão continuou a aumentar em Junho (2,3%, para 92
cêntimos de dólar por libra de peso, o nível mais elevado desde 1995), em contra-
ciclo com as restantes matérias-primas, reflectindo a perspectiva de
insuficiência de oferta. A evolução no segundo trimestre caracterizou-se por uma
subida em cadeia de 11,1% e homóloga de 50%.
21
24. ECONOMIA INTERNACIONAL
Nos metais de base, as cotações diminuíram de forma generalizada em Junho
(com destaque para a quebra de 16,8% no zinco), conseguindo manter, em alguns
casos, uma variação trimestral positiva - subidas de 12,4% no níquel, de 3,7% no
estanho e de 65,3% no minério de ferro (que passou a ter uma fixação trimestral, em
vez de anual), face a quedas entre 2,9% (cobre) e 11,8% (chumbo) nos restantes. As
variações homólogas continuaram a ser bastante acentuadas, tendo oscilado
entre 29,8% (chumbo) e 72,5% (níquel) no segundo trimestre.
4.4. Comércio Internacional / Organização Mundial do Comércio (OMC)
Segundo dados coligidos pela OMC, o comércio mundial cresceu cerca de 28%
em valor no primeiro trimestre de 2010, em termos homólogos, mas inverteu a
sua evolução em cadeia, reduzindo-se 3% face ao último trimestre de 2009.
Comércio Mundial
4500000
4000000
3500000
3000000
2500000
2000000
1500000
2007Q4
2007Q1
2007Q2
2007Q3
2008Q1
2008Q2
2008Q3
2008Q4
2009Q1
2009Q2
2009Q3
2009Q4
2010Q1
Fonte: OMC
O FMI divulgou uma actualização para o seu World Economic Outlook em que prevê
um crescimento, em volume, do comércio mundial de 9,0% em 2010 (mais 2p.p. que
na previsão anterior) e de 6,3% em 2011 (mais 0,2p.p. que na previsão anterior).
22 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
25. 4.5. Organizações Económicas Internacionais
Em informação divulgada no início do mês de Maio, a OCDE considera que os seus
Indicadores Compostos Avançados – CLI continuam a evidenciar sinais de expansão
na maioria das economias da OCDE. Com excepção da Alemanha nota-se, no
entanto, que o ritmo de expansão diminuiu claramente de ritmo na generalidade
dos países.
Indicadores Avançados da OCDE
110
105
100
95
90
85
Aug-2008
Aug-2009
Ago-07
May-2008
May-2009
May-2010
Out-07
Nov-07
Fev-08
Apr-2008
Jun-2008
Nov-2008
Apr-2009
Jun-2009
Abr-10
Nov-2009
Jul-07
Set-07
Dez-07
Jan-08
Mar-08
Jul-2008
Sep-2008
Oct-2008
Dec-2008
Jan-2009
Feb-2009
Jul-2009
Sep-2009
Oct-2009
Jan-2010
Mar-2009
Dec-2009
Feb-2010
Mar-2010
Portugal United States Euro area
OECD - Total United Kingdom Germany
Fonte: OCDE, indicadores ajustados de amplitude
No princípio de Julho o FMI reviu em alta as suas previsões para o PIB dos principais
países. Essas previsões constam do quadro seguinte:
23
26. ECONOMIA INTERNACIONAL
Previsões do FMI
Previsões de Julho Diferença em relação às previsões
de Primavera (p.p.)
2010 2011 2010 2011
PIB
Mundo 4,6 4,3 0,4 0,0
EUA 3,3 2,9 0,2 0,3
Zona do Euro 1,0 1,3 0,0 -0,2
Japão 2,4 1,8 0,5 -0,2
Reino Unido 1,2 2,1 -0,1 -0,4
China 10,5 9,6 0,5 -0,3
Brasil 7,1 4,2 1,6 0,1
Taxas de juro
LIBOR (euros) 0,8 1,2 -0,1 -0,4
LIBOR (dólares) 0,6 0,9 0,1 -0,8
Fonte: FMI, valores em tvh excepto LIBOR (taxas de depósitos a seis meses)
As diferenças de taxas LIBOR em dólares e euros acima levam a crer que a OCDE
preveja, a prazo, que o euro se possa depreciar relativamente ao dólar.
24 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
27. E C O N O M I A N A C I O N A L
1. Envolvente Política, Social e Económica
Projecções Macroeconómicas
Foram publicadas pelo Banco de Portugal, no Boletim Económico de Verão, novas
projecções para a evolução da economia portuguesa.
Previsões de Verão Diferença em relação às
previsões de Primavera (p.p.)
2009 2010 2011 2010 2011
PIB -2,7 0,9 0,2 +0,5 -0,6
Consumo privado -0,8 1,3 -0,9 +0,2 -1,2
Consumo público 3,5 -0,9 -1,4 -0,2 -1,6
FBCF -11,1 -3,3 -1,6 +3,0 -1,9
Procura Interna -2,5 0,0 -1,1 +0,5 -1,3
Exportações -11,6 5,2 3,7 +1,6 0,0
Importações -9,2 1,7 -0,7 +1,5 -2,1
Contribuições para o PIB
Procura Interna -2,8 0,1 -1,2 +0,9 -1,0
Exportações Líquidas 0,1 0,9 1,3 0,0 +0,7
Fonte: BdP, Boletim Económico de Verão, valores em tvh, excepto contribuições para o PIB (em p.p.).
As projecções agora apresentadas forma revistas em alta para 2010, como seria de
esperar tendo em conta o desempenho da economia portuguesa durante o primeiro
trimestre do ano. No entanto, o BdP afirmou que o cenário subjacente às
projecções aponta para um crescimento limitado e para uma forte
desaceleração da actividade na segunda metade do ano e ao longo do ano de
2011, em resultado de um mais visível ajustamento da economia portuguesa, uma
vez que o dinamismo revelado pela procura interna deixará de ser sustentável.
A queda do investimento (-3,3% em 2010) deverá prolongar-se ainda em 2011,
embora de forma menos pronunciada (-1,6%). O consumo público deverá reduzir-se
durante os dois anos, em resultado das medidas de consolidação orçamental
incluídas no Orçamento do Estado e no Programa de Estabilidade e Crescimento
2010-2013. O consumo privado, que se prevê aumentar 1,3% em 2010, sofrerá em
25
28. ECONOMIA NACIONAL
2011 uma queda de 0,9%, em linha com as limitações impostas pelas condições de
solvabilidade decorrentes das restrições orçamentais das famílias.
Desta forma, a procura interna deverá abrandar ao longo de 2010 e diminuir em
2011, reflectindo, entre outros factores, o impacto das medidas de consolidação
orçamental, a manutenção de condições adversas no mercado de trabalho, o
aumento da incerteza quanto ao rendimento das famílias e as condições mais
restritivas de acesso ao crédito.
O ligeiro aumento previsto para o PIB em 2011 (0,2%) decorrerá assim
exclusivamente da procura externa líquida.
De facto, a única componente da despesa cuja evolução não é revista em baixa para
2011 são as exportações, enquanto as importações permanecerão contidas devido
ao comportamento da procura interna, podendo mesmo evoluir negativamente em
2011.
O BdP sublinha que estas suas previsões estão sujeitas a um alto grau de incerteza,
associado ao enquadramento financeiro internacional e à fragilidade da actual
recuperação da economia mundial, bem como ao actual processo de consolidação
orçamental em Portugal, admitindo mesmo a possibilidade de ocorrência de uma
nova recessão.
O Banco de Portugal continua a chamar a atenção para a necessidade de se
prosseguir uma estratégia de consolidação orçamental credível, de modo a
diminuir os riscos de que a percepção dos mercados internacionais sobre as
condições de financiamento externo da economia portuguesa se deteriore.
Os pressupostos das actuais previsões do BdP incluem a possibilidade de um ligeiro
crescimento dos níveis das taxas de juro, tanto de curto como de longo prazo, uma
depreciação efectiva do euro e um preço médio do barril de petróleo de 76 dólares
em 2010 e de 80 dólares em 2011.
Contas Públicas
Em Julho, a agência de rating Moody’s reviu em baixa a notação da dívida
portuguesa em dois níveis (de Aa2 para A1), mas com perspectiva estável,
salientando a deterioração crescente dos números da dívida do país, que
“enfraquece a força financeira do Governo português a médio prazo”. Em
reacção à decisão, o Ministério das Finanças referiu, em comunicado, que ela
26 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
29. “decorre da crise financeira internacional que se faz sentir desde há mais de dois
anos e que, na primeira metade de 2010, se tem manifestado sobretudo numa forte
pressão” sobre a dívida soberana. O Ministério das Finanças sublinhou que,
apesar do corte no rating da dívida pública portuguesa, a perspectiva estável da
Moody's dá um sinal de confiança na estratégia de política económica do
Governo português. Ainda segundo o comunicado do Ministério, “será de
sublinhar que, no actual contexto de incerteza, a prioridade de consolidação
orçamental, ainda que não garanta uma rápida recuperação da economia
portuguesa, é uma condição necessária para o seu crescimento sustentado”. O
ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, disse que a decisão da agência de
notação financeira já era esperada porque há 12 anos que a empresa não revia o
rating português, e apenas surpreende por ser tardia, já que segue as outras
agências de notação.
Em Julho, o Governo apresentou o Relatório de Orientação e Política
Orçamental, que actualiza as metas do Programa de Estabilidade e Crescimento
de 2010 a 2013 (em que se destaca a redução do défice orçamental para 7,3% do
PIB em 2010 e 4,6% em 2011, substituindo as anteriores metas de 8,3% e 6,6%) em
face das medidas de consolidação orçamental entretanto decididas. Não foram
previstas quaisquer receitas com a introdução e portagens nas anteriores SCUT
em 2010, numa altura em que o modelo de cobrança ainda se encontra em discussão
no Parlamento, tendo sido inscrito um valor anual de 0,11% do PIB de 2011 a
2013.
Em Junho, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, admitiu que nos
próximos anos não haverá condições para pagar prémios e progressões na
carreira aos funcionários públicos. Segundo Teixeira dos Santos, em 2010 foi
necessário cativar 40% das verbas para esses fins e não há margem de manobra nos
próximos anos, apenas estando garantidas as progressões obrigatórias.
27
30. ECONOMIA NACIONAL
Estimativa de Execução Orçamental do Estado
Junho 2009 Junho 2010 Variação homóloga
Receita corrente 15821,5 16334,8 3,2%
Despesa corrente 22080,0 23214,6 5,1%
Saldo corrente -6258,5 -6879,8 9,9%
Receita de capital 288,5 331,1 14,8%
Despesa de capital 1330,7 1214,3 -8,7%
Saldo de capital -1042,2 -883,2 -15,3%
Saldo de execução orçamental -7300,8 -7763,0 6,3%
Saldo primário -4384,0 -4782,5 9,1%
valores em milhões de euros (m.e.); óptica da Contabilidade Pública; s.s. – sem significado
Nota: os valores de despesa excluem gastos de anos anteriores, activos financeiros, passivos financeiros e a
transferência para o Fundo de Regularização da Dívida Pública.
Fonte: Direcção-geral do Orçamento (DGO) - Boletim de Execução Orçamental
A mais recente síntese de execução orçamental da DGO, referente ao primeiro
semestre de 2010, revelou um défice de 7763 m.e. no subsector Estado,
correspondendo a uma subida de 6,3% em termos homólogos, em resultado de
um crescimento mais forte da despesa (4,3%, face a uma meta de 1,9% no
Orçamento de Estado de 2010) do que da receita (3,5%, mais 0,2 p.p. que o
previsto).
No que se refere à evolução da receita no primeiro semestre, destaca-se a
subida homóloga de 6% na receita fiscal (menos 0,3 p.p. que no acumulado até
Maio), em termos homólogos, mais do que compensando a quebra de 12,2% na
receita não fiscal (com um peso de apenas 12% na receita total), relacionada
sobretudo com a quebra dos rendimentos de propriedade.
A progressão da receita fiscal teve origem nos impostos indirectos (subida
homóloga de 13,2%), que contrariaram a quebra de 3,8% nos impostos directos,
onde a descida de 13,5% no IRS, associada à antecipação de reembolsos, mais do
que compensou o acréscimo de 11,8% no IRC, explicado pelo aumento das
liquidações e a diminuição dos reembolsos. Nos impostos indirectos, salienta-se o
crescimento de 16,3% da cobrança de IVA (18,2% até Maio), a traduzir o aumento
da receita bruta com o crescimento da actividade económica, assim como um efeito
de base associado à diminuição do prazo médio de reembolso. Outro contributo
importante para o aumento da receita fiscal veio da subida de 59,7% no Imposto
sobre o Tabaco, devido ao forte crescimento da introdução ao consumo (i.e.,
taxação do produto antes de distribuição e venda). Destaca-se ainda o aumento de
21,3% no Imposto sobre Veículos e de 13,8% no Imposto Único de Circulação,
muito provavelmente a reflectir a antecipação de compras de automóveis antes
do aumento da taxa de IVA, em Julho. Pela negativa, destaca-se a quebra do
28 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
31. Imposto de Selo (7,8%), explicada fundamentalmente pela diminuição das operações
financeiras, tendo-se registado uma quebra menos significativa (0,8%) no ISP.
Na despesa do Estado, a subida homóloga de 4,3% no primeiro semestre (1,3%
até Maio) foi influenciada pelo acréscimo de 5,1% dos gastos correntes, que se
sobrepôs ao recuo de 8,7% das despesas de capital, com origem nas
transferências (devido a um efeito de base, associado ao programa orçamental
Iniciativa para o Investimento e o Emprego de 2009).
Entre as componentes da despesa corrente, destaca-se a subida de 7,1% das
transferências (para a Segurança Social, o SNS e a CGA, nomeadamente) e de
1,7% da despesa com pessoal. Salienta-se ainda a progressão de 2,2% da
despesa com juros, que inverteu o movimento de quebra (de 25,1%, até Maio)
em face da crise de crédito soberano na Europa e do aumento do risco da dívida
nacional percebido pelos mercados. O crescimento da despesa com subsídios
(16,6%) foi influenciado por um efeito de base relacionado com a maior expressão
orçamental dos apoios à instalação de painéis solares térmicos na segunda metade
de 2009. O recuo das aquisições de bens (4,3%) foi também explicado por um efeito
de base, designadamente o pagamento de dívidas vencidas a credores privados em
2009.
Em termos de taxas de execução, os valores até Junho foram de 46,4% na
receita (47,3% no caso das receita fiscal) e de 48,7% na despesa, situando-se, nos
dois casos, abaixo do padrão de execução uniforme ao longo do ano (50%).
Sistema Fiscal
Foi publicada a Lei n.º 11/2010, de 15 de Junho, que introduz uma nova taxa, de
45%, de IRS para sujeitos passivos ou agregados familiares que obtenham
rendimentos anuais superiores a 150.000 euros, aplicável aos rendimentos obtidos
entre os anos de 2010 e 2013, inclusive.
Através do Decreto-Lei n.º 73/2010, de 21 de Junho, foi aprovado o novo Código
dos Impostos Especiais de Consumo (CIEC), que clarifica diversos conceitos
relativos à situação de exigibilidade do imposto, ao momento da introdução no
consumo e às regras relativas aos reembolsos.
O CIEC adopta um sistema informatizado dos movimentos e dos controlos dos
produtos sujeitos a impostos especiais de consumo que permitirá a cobrança e o
pagamento deste imposto de forma mais simples e rápida.
29
32. ECONOMIA NACIONAL
Foram publicadas as medidas adicionais de reforço e aceleração da estratégia
de consolidação orçamental prevista no PEC 2010-2013, de modo a atingir as
novas metas de redução do défice e o controlo do crescimento da dívida pública.
Em matéria fiscal regista-se:
O aumento, em 1 ponto percentual, de cada uma das taxas do IVA, a normal, a
intermédia e a reduzida, que passam a ser, respectivamente, de 6%, 13% e 21%;
Uma tributação adicional em sede de IRS, mediante um aumento,
correspondente a 1 ponto percentual, das taxas gerais deste imposto aplicáveis
até ao 3.º escalão de rendimentos e a 1,5 pontos percentuais a partir do 4.º
escalão, bem como um aumento equivalente nas taxas liberatórias de IRS que
passam a ser de 21,5%;
Uma tributação adicional em sede de IRC, aplicando uma sobretaxa
correspondente a uma derrama estadual de 2,5 pontos percentuais às empresas
cujo lucro tributável seja superior a 2 milhões de euros; e
O agravamento da tributação em sede de Imposto do Selo na concessão de
crédito ao consumo.
No que respeita a medidas relativas à despesa, prevê-se uma redução das
transferências para o Sector Empresarial do Estado, reforçando a adopção de
medidas de racionalização e sustentabilidade financeira, bem como a redução em 5%
das remunerações de titulares de cargos políticos, gestores públicos e equiparados.
O reforço da redução da despesa passará, ainda, pelo controlo estrito do
recrutamento de trabalhadores em funções públicas, nas diferentes administrações
públicas.
O Presidente da República, Cavaco e Silva, decidiu que, após a publicação e
entrada em vigor do diploma que prevê medidas fiscais adicionais ao PEC (Lei n.º 12-
A/2010, de 30 de Junho), irá pedir a fiscalização sucessiva junto do Tribunal
Constitucional relativamente a algumas normas de natureza fiscal nela
previstas.
Foi publicado o Despacho normativo n.º 18-A/2010, de 1 de Julho, que regulamenta
os pedidos de reembolso do IVA, bem como, os termos e condições de acesso e
inscrição no regime de reembolso mensal. A partir de 2 de Julho de 2010, os
sujeitos passivos podem requerer a inscrição neste regime.
De acordo com as conclusões da auditoria da Inspecção-Geral de Finanças
(IGF) ao sistema de controlo das manifestações de fortuna, que constam do
relatório de combate à fraude e evasão fiscais referente a 2009, 62% dos
recursos resultaram em decisões total ou parcialmente favoráveis ao sujeito
30 A s s o c i a ç ã o E m p r e s a r i a l d e P o r t u g a l
33. passivo. Os principais constrangimentos identificados prendem-se com as áreas de
informação e sistemas informáticos disponíveis, bem como, ao nível do quadro legal.
Nas conclusões desta auditoria a IGF considera a avaliação indirecta da matéria
tributável em sede de IRS essencial na luta contra a evasão e fraude fiscais e sugere
à DGCI a divulgação de instruções administrativas actualizadas, bem como a
alteração do regime legal no sentido da simplificação deste procedimento.
Do relatório de combate à fraude e evasão fiscais, do Ministério das Finanças,
consta ainda que, no final de 2009, as dívidas fiscais acumuladas ascendiam a
14,1 mil milhões de euros.
No ano passado, a Direcção-Geral dos Impostos concluiu e remeteu para o Ministério
Público 5023 processos de inquérito, mais do dobro de 2008 (2455 processos). A
maioria dos processos respeita ao crime de abuso de confiança fiscal (não entrega de
IRS retido na fonte, IVA e Imposto do Selo de valor superior a 7500 euros por
declaração).
Como prioridades ao combate à fraude e evasão fiscais para 2010, o relatório
refere: facturação falsa, reembolsos de IVA, planeamento fiscal agressivo,
manifestações de fortuna, sector da construção civil, obras públicas e
subempreiteiros, actividades artísticas e de espectáculos, restauração, organização
de eventos e outros negócios associados, actividades de saúde, comércio de
equipamentos informáticos e telemóveis, relojoarias e ourivesarias, fraude ao IVA nas
aquisições intracomunitárias.
Foi regulamentada a certificação prévia dos programas informáticos de
facturação do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
e determinado que os programas informáticos, utilizados por sujeitos passivos de IRS
ou de IRC, para emissão de facturas ou documentos equivalentes e talões de venda,
devem ser objecto de prévia certificação pela Direcção-Geral dos Impostos.
A partir de 1 de Janeiro de 2011 a utilização de programas certificados é obrigatória
para os sujeitos passivos que tenham um volume de negócios superior a 250.000 € e
a partir de 1 de Janeiro de 2012, para aqueles cujo volume de negócios seja superior
a 150.000 €.
Política Industrial e Comercial e de Investimentos Públicos
Em Julho, foi apresentada no Europarque, com a presença do Primeiro-ministro e
do Ministro da Economia, a Estratégia para a Aceleração da Execução de
Projectos Empresariais, no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional
31