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Dos Poemas que Nunca Serão Lidos
DOS POEMAS
QUE NUNCA
SERÃO
LIDOS
Gileno Araújo
Prefácio
Decidi escrever estes poemas depois de me dar conta de que estava
ausente da poesia há alguns anos.
Eu que sempre escrevi diariamente, fui largando a vontade de poetizar
pelo caminho.
O motivo é naturalmente a constatação de que a grande maioria das
pessoas não tem o menor interesse por poesia.
Em segundo lugar porque para que as pessoas se interessem por um
poeta, em geral ele precisa ser minimamente famoso, e minhas chances
nesse sentido estavam distantes.
Fui ficando também um pouco deprimido pela percepção da dura
realidade sociocultural em que a nossa civilização vive mergulhada.
Porém, mesmo com toda a reação a um mundo doente, onde a poesia
parece um contrassenso, dei por mim a perceber que era muito mais
feliz no tempo em que escrevia.
A sensação de preenchimento da existência me acompanhava, como se
isto fosse um diálogo com o Criador, ou com uma entidade humana
invisível, que me olhava por sobre os ombros.
Decidi portanto voltar a poetizar, a princípio com o seguinte
pensamento: “Que me importa se ninguém vai ler... Assim mesmo vou
continuar escrevendo estes poemas que nunca serão lidos.”
Daí surgiu o título para esta coletânea de versos.
Fui deixando as palavras fluírem, e de repente... “Tu um poeta?”
Gileno Araújo,
Recife,
Abril 2015.
Enquanto prossegue a eternidade
Como tempos mortos
Como forças sombrias
Desde antes...
De antes...
Como antes de nada.
Quando dias jogados na penumbra
Repercutiam
Feito forças fugazes
Como nada vivo
Quase vivo
Tudo morto
Os olhos rotos
Os rostos tortos
As almas fúteis
Os olhos mortos
Como quase nada
Tudo perdido na base
A vontade esquecida
O sentimento de perda
A derrocada
Nenhum sol no horizonte
Nenhuma galáxia
***
Abrindo céus que se fendem em dias
Aos olhares quietos
Às amarguras resistentes
Que caem quase de repente
Feito frutos quase podres
O olhar do que ficou
O poder de assimilar fronteiras
As fendas na escuridão
Que se espelham em sorrisos
Frutificam
Pesam e saem
Não se iluminam mas
Medram
Funcionam pouco
E chovem sobre os escatológicos
Olhos olhos olhos olhos
***
Disse adeus ao vento
Para pousar
Para possuir um pedaço do que foi
Ficando ficado
Meio solto
Meio de lado
Já sem sombra de sal
Sem vento
O movimento quieto
Tudo parado
Perdido ficou
Foi pouco
Sobrou
***
Não havendo horas
Os humanos
Acorrentados
Andam meio mortos
Passos perplexos
Rostos suados
Vão se aglomerando por aqui
Com um sentido de que tudo está perdido
Petrificado
Num enlameado
Alicerce do que vai sendo procurado
Não podendo ser dito de outra forma
É o que seria se tudo tivesse prosperado
Não aconteceu por acaso
Foi vasculhado por mentes doentias
Foi acontecido como um sortilégio
O lagarto no sol
Contempla o deserto
E vamos ficando
As horas voam
Os assassinos rondam
Muitas maneiras novas de sentir
São eclipsadas
Regurgitam as fúrias dementes
Se reapresentam devagar
Feito penitentes
Encontrando bases lunares para pousar
***
Os pontos que faltam acertam
Para que fique de maneira pronta
Sem sentimentos flutuantes
Sem sombras
Só o sal que numa epopeia dos astros
Cultivaram arranhacéus com pequenos mastros
O capitalismo criando monstros
As pequenas divagações
As crises
São partes de uma grande descoberta
Uma revelação no dia do adeus
A meia lua
A ponte sobre o nada
Que amargurada sempre foi jogada
Como algo que não leva a nada
O ponto no epicentro da calçada
Que vem se movimentando devagar e sempre
Mas mesmo assim sem o diapasão do destino
Como a procurar
O que espelha a tortuosa estrada
Numa lagarta que brilha
Ao céu de estrelas que rebrilham
No centro do luar
No mesmo lugar
Onde o nada tece uma camada nova
E teu ponto de retorno nem sempre se manifesta
Somente cai feito uma pluma seca
Sem brilho
Sem sentido de algo
Somente se esgueirando para chegar depois a algum lugar perdido
Não sem antes se estrepitar vigorosamente sobre uma camada de vento
Saindo daqui
Para o antes
Voltando para o depois
Resumindo-se a nada
Manifestando sua opinião ignara
Sem se desfazer dos velhos vícios e loucuras
***
Os escritos
Que passaram sobre tudo isto aqui
Para serem debatidos pelos doutos
Foram largados na praia
As ondas os engoliram
E regurgitaram
A mãe das águas não os quis
***
É música nas estradas
Música para quem não para
Feito uma orquestra
Tocando nas dunas ao luar
Feito camelos
Atravessando em silêncio
Longas estradas
Finalmente no chão
Finalmente sem temor de ser erguido ao céu
Somente largado no colo do vazio
Sentindo o prazer da quieta claridade
***
Não para ser lido
Ou para ser lindo
Para ser nada
Para o sentir fútil e voraz
De uma era sem essência
De um momento sem consciência
Sem consistência
***
Porque tudo foi parando ao redor
E de repente
Nada restava
Além de um sentir
Presente para o sempre
Solto na esperança
Aniquilado
Ressentido e frio
Dizendo adeus ao funeral de um deus
***
Nas horas frias
Em que depois de tudo aquilo
O que por aqui ficou
Ventilado pelo amanhecer
Que deste mundo se despenhou
A ponto de não ter mais o que dizer
Para essa gente
Ou para quem fica olhando
O tempo que foi assim
Costurado
E era como um sorriso de serpente
Numa estrela fria acumulado
Reagindo
Se de qualquer forma a vontade de ser
Ainda se apresenta
Isto pode não ser o fim de tudo
Mas a pequena brecha
Por onde adentra a demência
Deixando que o sonhador
Seja despedido da realidade
***
Como contar histórias repetidas
Que ainda assim
Causam reações no imaginário
Trazendo lembranças...
Sentimentos vagos...
A alma passeia por recônditos esquecidos
E alegra-se com velhas recordações
Como um quebra cabeças
Em que se vai juntando peças ao acaso
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Fico muito agradecido por compreender a importância desse
empreendimento para minha sobrevivência
e pela oportunidade de prosseguir criando poesia, neste
mundo tão carente de arte e cultura.
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  • 3. Prefácio Decidi escrever estes poemas depois de me dar conta de que estava ausente da poesia há alguns anos. Eu que sempre escrevi diariamente, fui largando a vontade de poetizar pelo caminho. O motivo é naturalmente a constatação de que a grande maioria das pessoas não tem o menor interesse por poesia. Em segundo lugar porque para que as pessoas se interessem por um poeta, em geral ele precisa ser minimamente famoso, e minhas chances nesse sentido estavam distantes. Fui ficando também um pouco deprimido pela percepção da dura realidade sociocultural em que a nossa civilização vive mergulhada. Porém, mesmo com toda a reação a um mundo doente, onde a poesia parece um contrassenso, dei por mim a perceber que era muito mais feliz no tempo em que escrevia. A sensação de preenchimento da existência me acompanhava, como se isto fosse um diálogo com o Criador, ou com uma entidade humana invisível, que me olhava por sobre os ombros. Decidi portanto voltar a poetizar, a princípio com o seguinte pensamento: “Que me importa se ninguém vai ler... Assim mesmo vou continuar escrevendo estes poemas que nunca serão lidos.” Daí surgiu o título para esta coletânea de versos. Fui deixando as palavras fluírem, e de repente... “Tu um poeta?” Gileno Araújo, Recife, Abril 2015.
  • 4. Enquanto prossegue a eternidade Como tempos mortos Como forças sombrias Desde antes... De antes... Como antes de nada. Quando dias jogados na penumbra Repercutiam Feito forças fugazes Como nada vivo Quase vivo Tudo morto Os olhos rotos Os rostos tortos As almas fúteis Os olhos mortos Como quase nada Tudo perdido na base A vontade esquecida O sentimento de perda A derrocada Nenhum sol no horizonte Nenhuma galáxia ***
  • 5. Abrindo céus que se fendem em dias Aos olhares quietos Às amarguras resistentes Que caem quase de repente Feito frutos quase podres O olhar do que ficou O poder de assimilar fronteiras As fendas na escuridão Que se espelham em sorrisos Frutificam Pesam e saem Não se iluminam mas Medram Funcionam pouco E chovem sobre os escatológicos Olhos olhos olhos olhos ***
  • 6. Disse adeus ao vento Para pousar Para possuir um pedaço do que foi Ficando ficado Meio solto Meio de lado Já sem sombra de sal Sem vento O movimento quieto Tudo parado Perdido ficou Foi pouco Sobrou ***
  • 7. Não havendo horas Os humanos Acorrentados Andam meio mortos Passos perplexos Rostos suados Vão se aglomerando por aqui Com um sentido de que tudo está perdido Petrificado Num enlameado Alicerce do que vai sendo procurado Não podendo ser dito de outra forma É o que seria se tudo tivesse prosperado Não aconteceu por acaso Foi vasculhado por mentes doentias Foi acontecido como um sortilégio O lagarto no sol Contempla o deserto E vamos ficando As horas voam Os assassinos rondam Muitas maneiras novas de sentir São eclipsadas Regurgitam as fúrias dementes Se reapresentam devagar Feito penitentes Encontrando bases lunares para pousar ***
  • 8. Os pontos que faltam acertam Para que fique de maneira pronta Sem sentimentos flutuantes Sem sombras Só o sal que numa epopeia dos astros Cultivaram arranhacéus com pequenos mastros O capitalismo criando monstros As pequenas divagações As crises São partes de uma grande descoberta Uma revelação no dia do adeus A meia lua A ponte sobre o nada Que amargurada sempre foi jogada Como algo que não leva a nada O ponto no epicentro da calçada Que vem se movimentando devagar e sempre Mas mesmo assim sem o diapasão do destino Como a procurar O que espelha a tortuosa estrada Numa lagarta que brilha Ao céu de estrelas que rebrilham No centro do luar No mesmo lugar Onde o nada tece uma camada nova E teu ponto de retorno nem sempre se manifesta Somente cai feito uma pluma seca Sem brilho Sem sentido de algo Somente se esgueirando para chegar depois a algum lugar perdido Não sem antes se estrepitar vigorosamente sobre uma camada de vento Saindo daqui Para o antes
  • 9. Voltando para o depois Resumindo-se a nada Manifestando sua opinião ignara Sem se desfazer dos velhos vícios e loucuras ***
  • 10. Os escritos Que passaram sobre tudo isto aqui Para serem debatidos pelos doutos Foram largados na praia As ondas os engoliram E regurgitaram A mãe das águas não os quis ***
  • 11. É música nas estradas Música para quem não para Feito uma orquestra Tocando nas dunas ao luar Feito camelos Atravessando em silêncio Longas estradas Finalmente no chão Finalmente sem temor de ser erguido ao céu Somente largado no colo do vazio Sentindo o prazer da quieta claridade ***
  • 12. Não para ser lido Ou para ser lindo Para ser nada Para o sentir fútil e voraz De uma era sem essência De um momento sem consciência Sem consistência ***
  • 13. Porque tudo foi parando ao redor E de repente Nada restava Além de um sentir Presente para o sempre Solto na esperança Aniquilado Ressentido e frio Dizendo adeus ao funeral de um deus ***
  • 14. Nas horas frias Em que depois de tudo aquilo O que por aqui ficou Ventilado pelo amanhecer Que deste mundo se despenhou A ponto de não ter mais o que dizer Para essa gente Ou para quem fica olhando O tempo que foi assim Costurado E era como um sorriso de serpente Numa estrela fria acumulado Reagindo Se de qualquer forma a vontade de ser Ainda se apresenta Isto pode não ser o fim de tudo Mas a pequena brecha Por onde adentra a demência Deixando que o sonhador Seja despedido da realidade ***
  • 15. Como contar histórias repetidas Que ainda assim Causam reações no imaginário Trazendo lembranças... Sentimentos vagos... A alma passeia por recônditos esquecidos E alegra-se com velhas recordações Como um quebra cabeças Em que se vai juntando peças ao acaso Criando um mosaico incompreensível ***
  • 16. ADQUIRA O LIVRO NA ÍNTEGRA NO MERCADO PAGO Vá a esta página do meu blog http://gilenopoet.blogspot.com.br/ chegando lá é só clicar no botão: Você será redirecionada(o) para a página do Mercado Pago onde será possível efetuar o pagamento no valor de R$ 10,00 (Dez Reais), pela forma à sua escolha. Com o seu suporte conseguirei prosseguir acreditando que é possível perseverar na luta por um sonho. Ao clicar no link será direcionado à página do Pague Seguro onde estão as opções de pagamento à sua escolha O livro em formato PDF, ou EPUB, estará disponível na íntegra, no seu e-mail, assim que receber a informação de pagamento. Fico muito agradecido por compreender a importância desse empreendimento para minha sobrevivência e pela oportunidade de prosseguir criando poesia, neste mundo tão carente de arte e cultura. http://gilenopoet.blogspot.com.br/