Este documento discute três tópicos principais:
1) A abertura descreve como os israelitas foram forçados a deixar seu país como passarinhos fora do ninho e sentem saudade de Deus.
2) A carta ao leitor apresenta o tema principal da edição sobre o "dom inefável" de Deus em Cristo.
3) A seção pastorais fala sobre como Isaías anunciou o juízo sobre Israel, mas também deixou o "toco da esperança" de que Deus traria um novo começo através
1. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 1
Quem é
cristão?
FECHAMENTOAUTORIZADO.PodeserabertopelosCorreios.
M A R ÇO – A B R I L 2 01 2 • A N O X LV • N º 3 3 5
Rubem Amorese
Tateandonoclaro
Bráulia Ribeiro
religião@eu.com
Especial
Celebrandoa
vidacomarte
(ou não)
3. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 3
Passarinhos fora do ninho
Abertura
A
ninhada de passarinhos mal tinha saído
dos ovos. Era ainda cedo para abandonar a
presença, o calor e a proteção da mãe. Os
pássaros nem sequer tinham aprendido a ciscar. E,
muito menos, a bater as minúsculas asas e alçar os céus.
Contudo, foram embora e nunca mais voltaram.
Esta é a figura de linguagem que o profeta Isaías
usa para se referir aos moabitas, que foram obrigados
a deixar o próprio país por causa da guerra: “Como
passarinhos que foram espantados dos seus ninhos,
assim os moabitas andam de um lado para o outro nas
margens do rio Arnom” (Is 16.2).
Na verdade, toda mulher e todo homem são como
passarinhos fora do ninho. É uma tristeza! Estamos
distantes do lar onde nascemos. Por causa disso,
estamos também confusos, perdidos, sem endereço
certo, agitados, vagando por todos os lados, correndo
atrás do vento. Não sabemos voltar, não conseguimos
voltar e, às vezes, aturdidos e enganados, nem sequer
queremos voltar. É uma situação complicada!
O ninho que deixamos, muito longe de nós e há
muito tempo, está lá em cima. Em vez de voarmos nas
alturas, descemos para a terra. Por isso, como a corça
deseja e procura ansiosamente um riacho para matar
a sede, assim também a nossa alma tem sede de Deus
e quer voltar ao ninho. Enquanto isso não acontece,
estranhas e frequentes ondas de tristeza se abatem
contra nós (Sl 42.1-11).
Fora do ninho, temos uma espécie de saudade
contínua de Deus, de sede contínua, de insatisfação
contínua, de insônia contínua, de vazio contínuo e
vivemos em um corre-corre contínuo. A nossa sede
interior de Deus é como a de uma terra cansada, seca e
sem água há muito tempo. Queremos voltar ao ninho e
nos encontrar com Deus (Sl 63.1-2).
Agostinho, africano que se converteu em Milão,
na Itália, aos 33 anos, é um dos mais conhecidos
passarinhos fora do ninho. A certa altura, ele conta que
percebeu a voz de Deus atrás dele: “Uma voz que me
chamou a voltar, mas [que] mal pude escutá-la por causa
do ruído e da falta de paz”. Depois de finalmente ouvir
a voz de Deus, Agostinho escreve: “Agora, aqui estou
eu! Volto à sua fonte, ardendo de calor e sem respiração.
Ninguém nem coisa alguma pode me proibir de voltar.
Vou beber dessa fonte e por ela encontrar minha vida
autêntica”. De volta ao ninho, o bispo de Hipona
lamenta o tempo perdido fora dele e confessa: “Tarde
te amei, ó tão antiga e tão nova beleza! Tarde demais
eu te amei! Eis que estavas dentro em mim, e eu do
lado de fora te procurava! Comigo estavas, mas eu não
estava contigo […]. Tu me chamaste, e teu grito rompeu
a minha surdez. Fulguraste e brilhaste, e a tua luz
afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância
e, respirando-a, por ti suspirei”. A mais conhecida
confissão de Agostinho a respeito da necessidade interior
de Deus é esta: “Porque nos fizeste, Senhor, para ti,
nosso coração anda sempre inquieto enquanto não se
tranquiliza e descansa em ti!”.
O cardeal inglês John Henry Newman (1801–1890)
exemplifica aqueles que querem o auxílio de Deus para
voltar ao ninho: “Conduze-me, doce voz, pela escuridão
que me cerca, sê tu a me conduzir! A noite é escura e
estou longe de casa [ou do ninho], sê tu a me conduzir!”.
Em muitos casos de depressão precisamos procurar
um profissional de saúde; em outros, precisamos apenas
voltar para o ninho!
MichalZacharzewski
4. 4 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
D
eus, Jesus Cristo e o mundo não são compartimentos estanques.
Ao contrário, eles se relacionam de maneira admirável. Uma única
sentença diz tudo: “Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único
Filho, para que todo aquele que nele crê não morra, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3.16). O sujeito da frase não é o Filho de Deus, mas o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo. Movido unicamente pelo amor ao ser humano, Deus deu o seu
Filho. Precisamos chegar à mesma conclusão de Paulo: “Agradeçamos a Deus
o presente que ele nos dá, um presente que palavras não podem descrever”
(2Co 9.15). (A maior parte das versões fala em “dom inefável”; outras, em
“dom inexprimível”, “dom indescritível”, “dom extraordinário” e “dom de
inefável grandeza”). Por ter esta característica, ninguém — nem o asceta, nem
o teólogo, nem o artista — consegue medir a largura, o comprimento, a altura
nem a profundidade de tal presente (Ef 3.18).
Nós precisamos desesperadamente dele, mais do que de qualquer outro. A
frase que define tudo já diz que o propósito desse dom é “que todo aquele que
nele crê não morra, mas tenha a vida eterna”.
Esta edição de Ultimato trata desse dom de inefável grandeza. Os que o
conhecem e dele já se apropriaram, precisam contribuir para que outros se
beneficiem dele — embora só Deus possa remover as escamas que fecham
os olhos, a cera que tapa os ouvidos e tornar o dom inefável visível, audível e
aceitável.
Na seção “Ponto final”, você verá que não é só no escuro que precisamos
tatear, mas também no claro (p. 66).
Em uma pequena ou grande discussão entre marido e mulher, a voz de
quem deve prevalecer? A resposta está em “Casamento e família” (p. 45).
À boca miúda fala-se que o pastor de uma congregação pequena ou grande
é maior do que o missionário, que anuncia o evangelho — o dom inefável
— aos não alcançados. A seção “Caminhos da missão” aborda o assunto mais
claramente (p. 57).
Elben César
Carta ao leitor
ISSN 1415-3165
Revista Ultimato – Ano XLV – Nº 335
Março-Abril 2012
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica destinada à evangelização e
edificação, não denominacional, Ultimato relaciona
Escritura com Escritura e acontecimentos com
Escrituras. Visa contribuir para criar uma mentalidade
bíblica e estimular a arte de encarar os acontecimentos
sob uma perspectiva cristã. Pretende associar a teoria
com a prática, a fé com as obras, a evangelização com
a ação social, a oração com a ação, a conversão com
santidade de vida, o suor de hoje com a glória por vir.
Circula em meses ímpares
Diretor de redação e jornalista responsável:
Elben M. Lenz César – MTb 13.162 MG
Arte: Liz Valente
Impressão: Plural
Tiragem: 35.000 exemplares
Colunistas: Alderi Matos • Bráulia Ribeiro
Carlos “Catito” Grzybowski • Carlinhos Veiga
Dagmar Fuchs Grzybowski • Ed René Kivitz
Jorge Barro • Lissânder Dias • Marcos Bontempo
Marina Silva • Paul Freston • René Padilla
Ricardo Barbosa de Sousa • Robinson Cavalcanti
Rubem Amorese • Valdir Steuernagel
Participam desta edição: Antônio Carlos de Azeredo
Davi Chang • Klênia Fassoni • Mariana Furst
Whaner Endo
Publicidade: anuncio@ultimato.com.br
Assinaturas e edições anteriores:
atendimento@ultimato.com.br
Reprodução permitida: Favor mencionar a fonte.
Os artigos não assinados são de autoria da redação.
Publicado pela Editora Ultimato Ltda., membro
da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
Editora Ultimato
Telefone: (31) 3611-8500
Caixa Postal 43
36570-000 — Viçosa, MG
Administração/Marketing: Klênia Fassoni
Ana Cláudia Nunes • Ariane dos Santos
Ivny Monteiro • Lucas Rolim • Luiza Pacheco
EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE:
Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro
Djanira Momesso César • Lídia Nunes
Lissândes Dias • Mariana Furst • Pabline Félix
FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos
Aline Melo • Ana Paula Fernandes • Cristina Pereira
Daniel César • Edson Ramos • Jair Avillez
Luís Carlos Gonçalves • Rodrigo Duarte
Solange dos Santos
VENDAS: Lúcia Viana • Henife Oliveira
Lucinéia Campos • Marcela Pimentel
Romilda Oliveira • Tatiana Alves • Vanilda Costa
ESTAGIÁRIOS: André Bontempo • Bruno Menezes
Daniela Marçal • Marcos Vinícius Oliveira
Raquel Bastos • Tiago Tardim
fundada em 1968
4 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
O domde inefável grandeza
6. 6 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
79.
U
ma vez chamado por Deus para ser
profeta, no ano em que o rei Uzias morreu
(cerca de 740 a.C.), Isaías começa a anunciar
primeiro o juízo e, depois, a misericórdia do Senhor
sobre a nação eleita. Durante 40 anos, o profeta fez
ambas as coisas. Logo no início recebeu uma estranha
ordem: “Isaías, faça com que esse povo fique com a
mente fechada, com os ouvidos surdos e com os olhos
cegos, a fim de que não possam ver, nem ouvir, nem
entender ” (Is 6.10). Com essa mensagem, o profeta
realiza a primeira obrigação que tinha: convencer o
povo do pecado e do juízo que cairia sobre a nação. Essa
incapacidade de ver, ouvir e entender tornaria difíceis
— senão impossíveis — a conversão e a cura do povo.
Porém, o profeta deveria clamar continuamente (segundo
a tradição, Isaías é o herói da fé “serrado pelo meio”, do
qual fala a Carta aos Hebreus). O pico do juízo divino
aconteceria mais de 150 anos depois, com a destruição
de Jerusalém e a deportação do povo para a Babilônia
(586 a.C.).
Entretanto, como o ministério do profeta era duplo,
Isaías anuncia também a graça divina: “Os que restarem
[os israelitas não deportados] serão como o toco de
um carvalho que foi cortado” (Is 6.13). Eis o toco da
esperança!
Digamos que esse carvalho tivesse 12 metros de
diâmetro (como um cipreste do México) e 110 metros
de altura (como a sequoia gigante da Califórnia). Ainda
assim ele seria cortado ao rés do chão, perderia o tronco,
os ramos, as folhas e a imponência, mas não as raízes.
Ficaria o toco da esperança e o carvalho cresceria outra
vez. O juízo divino não poupa a árvore e a graça divina
poupa o toco da árvore. Isaías explica: “O toco representa
um novo começo para o povo de Deus” (Is 6.13).
Deus nunca acaba com tudo! Ele sempre deixa o toco
da esperança. Precisamos enxergar os tocos da esperança
que estão nas Escrituras, na história e nos eventos. São
apenas tocos, mas estão enraizados, firmes, cheios de vida
e de potencialidade, que vão nos surpreender. Mesmo com
uma mensagem carregada de guerras, sangue e “barulho
de choro” (Is 15.8), o profeta, não apenas uma vez, mas
várias, aponta para o mais solene e glorioso toco de
esperança, tanto para os judeus como para os não-judeus:
A aflição dos que estiverem sofrendo vai acabar [...]. O povo
que andava na escuridão [sem poder ouvir, ver e entender]
viu uma forte luz; a luz brilhou sobre os que viviam nas
trevas. Tu, ó Deus, aumentaste esse povo e lhe deste
muita felicidade […]. Tu arrebentaste as suas correntes de
escravos, quebraste o bastão com que eram castigados […].
As botas barulhentas dos soldados e todas as suas roupas
sujas de sangue serão completamente destruídas pelo fogo.
Pois já nasceu uma criança, Deus nos mandou um menino
que será o nosso rei. Ele será chamado de “Conselheiro
Maravilhoso”, “Deus Poderoso”, “Pai Eterno”, “Príncipe da
Paz”. […] No seu grande amor, o Senhor Todo-Poderoso
fará com que tudo isso aconteça (Is 9.1-7).
A criança, o menino, o rei, o “Príncipe da Paz”, são
uma só pessoa: o Senhor Jesus Cristo. Esse notável toco
de esperança “representa um novo começo para o povo de
Deus” (Is 6.13b). O Apocalipse também nos fala de um
novo começo: “Então vi um novo céu e uma nova terra. O
primeiro céu e a primeira terra desapareceram” (Ap 21.1).
Pastorais
O toco da esperança
FranGambín
7. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 7
Sumário
3 Abertura
4 Carta ao leitor
6 Pastorais
8 Cartas
12 Frases
12 Números
14 Mais do que notícias
20 Notícias l Lissânder Dias
38 O leitor pergunta l Ed René Kivitz
40 De hoje em diante...
41 Novos acordes l Carlinhos Veiga
42 Altos papos l Davi Chang
54 vamos ler!
56 Caminhos da missão l Antônio Carlos de Azeredo
61 especial
Quem é (ou não)
cristão?
CAPA
Seções
O caminho do coração
32 Separação e contraste
Ricardo Barbosa de Sousa
Da linha de frente
37 religião@eu.com
Bráulia Ribeiro
Meio ambiente e fé cristã
43 O ambiente humano
Marina Silva
Missão integral
44 A missão integral de Jesus
René Padilla
Casamento e família
45 Não vou me deixar controlar!
Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski
Reflexão
46 Profetismo — item esquecido da
missão integral
Robinson Cavalcanti
Redescobrindo a Palavra de Deus
48 O indivíduo, a família e o evangelho
Valdir Steuernagel
História
50 O legado de Constantino
Alderi Souza de Matos
Ética
52 A primavera árabe e os cristãos
(parte 1)
Paul Freston
Cidade em foco
58 Templo urbano: lugar e não lugar
Jorge Henrique Barro
Ponto final
66 Tateando no claro
Rubem Amorese
Colunistas
ABREVIAÇÕES:
AS21 - Almeida Século 21; BH - Bíblia Hebraica; BJ - A Bíblia de Jerusalém; BP - A Bíblia
do Peregrino; BV - A Bíblia Viva; CNBB - Tradução da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil; CT - Novo Testamento (Comunidade de Taizé); EP - Edição Pastoral; EPC - Edição
Pastoral - Catequética; HR – Tradução de Huberto Rohden; KJ - King James (Nova Tradução
Atualizada dos Quatro Evangelhos); NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje; TEB
- Tradução Ecumênica da Bíblia. As referências bíblicas não seguidas de indicação foram
retiradas da Edição Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, ou da Nova Versão
Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.
“Se você não está atado a Cristo, você
não é cristão.” Quem diz isso não é uma
pessoa qualquer. Não é um exagerado nem
um simplório. Essas palavras, que parecem
radicais, foram pronunciadas pelo médico e
pregador Martyn Lloyd-Jones. E ele tem toda
razão: se você não está atado a Cristo, pela
convicção e pela fé, então você, a rigor, ainda
não é um cristão.
JohnByer
Um ponto de encontro
www.ultimato.com.br
22
8. 8 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
Cartas
Culpa e mancha
Surpreendente a matéria de capa Como se
livrar da culpa e da mancha (janeiro/fevereiro
de 2012), que chega em momento oportuno.
Precisamos aprender a usar o único caminho
que nos livra da culpa e da mancha do
pecado. Vale lembrar Provérbios 28.13: “Quem
esconde os seus pecados não prospera, mas
quem os confessa e os abandona encontra
misericórdia”. Que Ultimato continue trazendo
textos como este, para enriquecimento e
advertência de todos os comprometidos com a
verdade de Deus para os homens.
Oraci do Amaral, Jundiaí, SP
Gostei da matéria de capa Como se livrar da
culpa e da mancha, mas as frases “veem-se
cristãos paupérrimos e angustiados devido a
cobranças de dízimos” e “imposição legalista
da cobrança de dízimos nas igrejas” dão a
entender que o dízimo é uma prática opressora.
Antes, o dízimo é uma bênção! Ele proporciona
um importante exercício de gratidão, além de
ser uma forma de afirmar a nossa dependência
de Deus e um dos meios pelos quais temos o
privilégio de investir na obra cristã. Dizimar é
uma prática que a Bíblia ensina e encoraja. O
que considero abusivo é a cobrança de ofertas
que relaciona a quantia ofertada ao tamanho da
fé da pessoa. Em algumas igrejas, os membros
são coagidos a ofertar grandes quantias sob a
acusação de que, se não o fazem, demonstram
que não têm fé. E muitos ofertam com medo de,
se recusarem, não serem abençoados. Esse
é um tipo de “bullying espiritual”, que deve ser
combatido.
Clarice Rinco, Belo Horizonte, MG
Não quero beber mais
É maravilhoso constatar como atua a multiforme
graça divina em sua ação regeneradora. Acolho
esse testemunho (“De hoje em diante”, janeiro/
fevereiro de 2012) como estímulo a nunca
deixar de anunciar o evangelho aos que sofrem
com o alcoolismo. A Palavra de Deus é viva e
eficaz o tempo todo, para todas as pessoas.
Essa bendita e infalível Palavra não retorna a
Deus (sua origem) sem antes produzir os efeitos
para os quais foi liberada.
Elias Fernando, Campo Grande, MS
Usaremos o texto Não quero beber mais (“De
hoje em diante”, janeiro/fevereiro de 2012)
em uma das reuniões para tratamento de
dependência química. Parabéns a Ultimato!
Antonio Carlos Silva Junior, Juiz de Fora,
MG
Li agradecida o artigo da seção “De hoje em
diante” (janeiro/fevereiro de 2012). Há nove anos
encontrei Deus, recuperação e solidariedade em
uma sala de alcoólicos anônimos.
Lucinéa de Campos, Viçosa, MG
Conflitos de símbolos e
mandato cultural
Felizmente, nestes tempos de fé equivocada,
ainda existem pessoas que têm a autenticidade
e a fibra para dizer o que pensam e o que
acham ser o melhor para o povo de Deus.
Quero salientar o artigo de Robinson Cavalcanti
(“Reflexão”, janeiro/fevereiro de 2012), que nos
9. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 9
traz séria e alarmante realidade: a cegueira dos
que se dizem responsáveis pela evangelização
em não perceber que o cristianismo está sendo
varrido dos ambientes públicos e substituído
pelos adversários históricos, que, como
sempre, sabem usar “uma balança e duas
medidas”. Os responsáveis, que se dizem
encarregados pela divulgação da palavra
do reino, estão cada vez mais acomodados,
mornos e apáticos, deixando as “ovelhas”
à mercê dos lobos sorrateiros, que com
persistência pretendem dispersar todo o
rebanho. Ninguém mais tem coragem de subir
nos telhados e gritar; antes, se escondem no
fundo da despensa, preocupados, talvez, com
seus cargos e com receio de melindrar os
corruptores da obra de Deus.
Abílio Nardelli, Rio do Sul, SC
O leitor pergunta
Vivemos dias de extremos eclesiásticos. A
saúde do povo é tratada por alguns de modo
reducionista: ou espiritualizam os agravos
ou os entregam nas mãos da ciência, para
que resolva os problemas da gestão do
cuidado integral do ser criado à imagem
e semelhança do Criador. Na realidade, o
cuidado, de integral, só tem o nome, pois está
reduzido a atos sociais, psíquicos e físicos,
que desconsideram a espiritualidade do ser.
Conquanto já existam cientistas estudando
neuroteologia ou bioteologia, para entender o
papel da fé na cura de doenças, estamos longe
de aprender sobre saúde integral. Espero que
nosso Deus levante em nosso meio líderes que
se dediquem a interagir com o setor de saúde,
para que a gestão do cuidado se faça coerente
com a visão integral do ser.
Dércio, São João do Meriti, RJ
Abertura de alma
O artigo Abertura de alma (“Especial”, janeiro/
fevereiro de 2012) dispensa defesa. Porém,
em que pese o desafio de Jesus pela unidade
(Jo 17) e a necessidade de busca pela
expansão do reino de Deus na terra, dizer
que se tem inveja ou ciúme de posturas
notoriamente fora das Escrituras não é
legal. Elben César se mostra simpático a um
“cristianismo” hostil aos protestantes, sectarista
e exclusivista. A Igreja de Jesus Cristo será
sempre multifacetada. Contudo, até que Jesus
volte, não é possível aceitar tudo em nome da
unidade.
Antonio Carlos Silva, São Bernardo do
Campo, SP
Precisamos acordar e entender que o reino de
Deus é maior que as denominações. O “vento
sopra onde quer”.
David Livingstone, Guarapuava, PR
Dois pesos e duas medidas
Com cálculos simples verifica-se que houve um
crescimento de 233% no número de mesquitas
no Brasil, de 350% no número de pontos de
oração e de 5.456% no número de muçulmanos
em terras brasileiras — e isto no período de
2000 a 2011, ou seja, apenas 11 anos! É um
crescimento médio anual de 49% no número
de muçulmanos. Enquanto isso, vemos a igreja
cristã no Brasil diminuindo e inundando-se
de vexames e vergonha. É hora de a igreja
brasileira acordar e se unir — este é o segredo.
O Islã cresce cada vez mais devido à união e às
ações missionárias mundo afora.
Vitor Hugo Cid, São Paulo, SP
Boas novas aos pobres
Excelente o artigo Boas novas aos pobres, de
René Padilla (“Missão integral”, janeiro/fevereiro
de 2012). Padilla foi feliz ao chamar o texto
de Lucas 4.18-19 de “manifesto” programático
de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre
mim, pelo que me ungiu para evangelizar os
10. 10 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
Cartas
pobres; enviou-me para proclamar libertação
aos cativos e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar
o ano aceitável do Senhor”. Por que não
adotamos este “manifesto” em nossas igrejas e
em nossas vidas, sendo imitadores de Jesus?
Wilson de Oliveira Júnior, Recife, PE
Evangelização por proximidade
Às vezes, leio o sumário de Ultimato e depois
a minha atenção se dirige para a seção “Ponto
final”. Foi o caso com a edição de janeiro/
fevereiro de 2012. Li e reli o excelente artigo
Evangelização por proximidade, de Rubem
Amorese, e deu uma vontade enorme de
novamente meditar no prólogo do Evangelho de
João. Eugene H. Peterson o traduz assim: “A
Palavra tornou-se carne e sangue, e veio viver
perto de nós. Nós vimos a glória com nossos
olhos, uma glória única: o Filho é como o Pai,
sempre generoso, autêntico do início ao fim”.
Eude da Rocha, Bauru, SP
Não quero ser indeciso
A meu ver, um problema ligado ao complexo
ato de decidir (Não quero ser indeciso, “De
hoje em diante”, setembro/outubro de 2011) é
a ausência de discernimento ou a minúscula
quantidade dele. É imprescindível discernir e
decidir. Discernir para decidir. Porém, como
fazê-lo se as mínimas (ou aparentemente
mínimas) coisas da vida se apresentam
envoltas em mistérios diante dos quais o
homem, embora seja a imagem e semelhança
do Criador, confunde-se, hesita, espanta-se?
José Medeiros, Conselheiro Lafaiete, MG
Homossexualismo
A carta de Luciano Silva (“Cartas”, novembro/
dezembro de 2011) deixou-me consternado
pela realidade à qual os homossexuais acabam
sendo submetidos quando frequentam uma
igreja evangélica, tendo que ouvir referências
nada agradáveis a respeito de sua condição.
Fiquei mais consternado ainda pelo fato de
Luciano ter sido induzido à homossexualidade
por um pastor evangélico. Tudo isto nos revela
dois importantes fatos: primeiro, que não temos
tido a sensibilidade desejável para abordarmos
um tema tão delicado; segundo, que também
temos os nossos porões, onde a luz não penetra
e o inominável se esconde. Fiquei esperando
que pelo menos o final da carta fosse feliz, o que
não aconteceu. Seria ótimo se não tivéssemos
que nos preocupar com aquilo que fazemos
ou com o modo como nos comportamos,
bastando pedir a Deus, até mesmo à revelia
da nossa consciência, que todas as nossas
ações contrárias a sua Palavra fossem
miraculosamente lançadas para longe de nós.
Infelizmente, não é assim que funciona. O
ponto de vista de Deus é o que ele externou
nas primeiras páginas das Escrituras. Caim
não havia procedido bem e, por isso, não pôde
contar com a aprovação de Deus, que lhe
disse: “Se procederes bem, não é certo que
serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis
que o pecado jaz à porta; o seu desejo será
contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gn. 4.7).
A Palavra de Deus nos revela o que é pecado,
mas é nossa a responsabilidade de identificá-
lo em todas as suas variantes e lutar para que
ele não crie raízes em nossas vidas.
Christiano da Silva Neto, Belo Horizonte,
MG
Quando o medo de engordar
supera o medo de morrer
Ao ler Ultimato durante o plantão hoje tive
a dádiva de ver o testemunho e a foto da
doutora Cristiane Zambolim (“Especial”,
setembro/outubro de 2011), a qual conheci em
Viçosa, em 1994. A imagem da adolescente
emagrecida e frágil dos meus arquivos
11. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 11
Fale conosco
Cartas à Redação
• cartas@ultimato.com.br
• Cartas à Redação, Ultimato,
Caixa Postal 43, 36570-000, Viçosa, MG
Inclua seu nome completo, endereço, e-mail
e número de telefone. As cartas poderão
ser editadas e usadas em mídia impressa e
eletrônica.
Economize Tempo.
Faça pela Internet
Para assinaturas e livros acesse
www.ultimato.com.br
Assinaturas
• atendimento@ultimato.com.br
• 31 3611-8500
• Ultimato, Caixa Postal 43, 36570-000,
Viçosa, MG
Edições Anteriores
• atendimento@ultimato.com.br
• www.ultimato.com.br
cerebrais foi substituída pela de agora: linda,
vitoriosa e segura. É maravilhoso perceber que
acima de toda a avançada (e limitada) medicina
existe um Deus que realiza curas e milagres
impossíveis aos nossos olhos. A Deus toda a
honra e glória!
Marcos Pavione, Aracaju, SE
Cartas da prisão
Tenho 40 anos e estou encarcerado na
Penitenciária 1 de Serra Azul. Apaixonei-me
por Ultimato quando alguns irmãos daqui nos
mostraram a revista. Nunca mais deixei de
lê-la. Na penitenciária, é muito difícil ter paz,
pois a superlotação e os processos esquecidos
nos fóruns deixam-nos quase em depressão.
Tenho dificuldade de conversar com dois de
meus filhos, frutos do primeiro e do segundo
casamentos, uma menina de 18 anos e um
adolescente de 16. Quero evangelizá-los
por meio de Ultimato. Ambos têm tendência
homossexual. Porém, em nome de Jesus,
conseguiremos ajudá-los. Meus outros três
filhos menores estão com minha esposa atual.
Pedro Gonçalves, Serra Azul, SP
São poucos os que se lembram dos
encarcerados, como a Bíblia ordena. Muitos
nos enxergam como o lixo da sociedade.
Porém, alguns estão saindo da prisão e
sendo usados por Deus. Estou aguardando
uma vaga desde o segundo semestre de
2011 para estudar.
Andrey da Silva Borges, Serra Azul, SP
Francamente, não sei como uma revista com
uma tiragem de 35 mil exemplares, com a
qualidade que tem, com os colunistas que
tem, com o preço de assinatura que tem,
consegue abençoar tantos necessitados. Fico
impressionado! Não vou escrever: “Passou
a época da colheita, acabou o verão, e não
estamos salvos” (Jr 8.20). Prefiro escrever:
“Passou a época da colheita, acabou o
verão... e eu fui sustentado pela graça de
Deus e pelo amor de Jesus, e me mantive
como habitação do Espírito Santo”.
Samuel Lourenço Filho, Rio de Janeiro, RJ
— Os seguintes encarcerados gostariam de
receber cartas: William César A. Siqueira
(Raio 3, Cela 139, Penitenciária Casa Branca
— Caixa postal 19, 13700-970 Casa Branca,
SP) e Sílvio Carlos Monteiro Gomides (Cela
1, Anexo 1 — Rua Adolfo Bertodott, 330,
12912-100 Bragança Paulista, SP).
12. 12 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
“Ser reformado hoje não significa
voltarmos a Lutero ou Calvino. Significa,
isso sim, voltar às Escrituras.
Editorial do Brasil Presbiteriano,
novembro de 2011
“Amera aversão [ao homossexualismo]
não constitui, por si só, um crime. O
que não é legítimo é transformar uma aversão
em instrumento de discriminação ou violência.
Não porque isso seja um crime homofóbico.
Mas porque isso é simplesmente um crime.
João Pereira Coutinho, jornalista da
Folha de São Paulo
“Aprendemos
com Jesus
que não podemos
ser um corpo social
estranho ao mundo.
Não temos o
direito de nos
separar socialmente
dos outros
homens e mulheres.
Nossa separação foi moral e espiritual.
Fomos retirados do mundo, purificados de
sua imundícia, fortalecidos pela graça e
devolvidos, inseridos no mundo, para servi-lo
graciosamente pelo testemunho, posição e
ações concretas que beneficiem os homens.
Luiz Fernando dos Santos, pastor da Igreja
Presbiteriana Central de Itapira, SP
“Aapostasia é um comportamento
condenável, a partir do ponto de vista
religioso, mas constitui um tema estritamente
privado sob o ponto de vista dos direitos
humanos. Refere-se unicamente ao homem e à
sua consciência.
Abderrazak Sayadi, professor da Universidade
de Manouba, em Tunis, Tunísia
“Sempre existem tentações ao longo do
caminho percorrido pelo missionário!
Tentação de frivolidade ou de proselitismo,
tentação de confusão da obra missionária com
a busca de interesses políticos, tentação de
inculcar o evangelho sem qualquer respeito pela
liberdade daqueles que são os seus destinatários.
Jean-Marc Aveline, diretor do Instituto Católico
do Mediterrâneo
“Sem dúvida, o islamismo foi
frequentemente usado tanto para
justificar o autoritarismo como para legitimar a
contestação, o que é bastante paradoxal.
Bertrand Badie, professor do Instituto de
Estudos Políticos de Paris
“Acredito que a própria sociedade irá
conduzir a Igreja a uma grande reflexão
e talvez essa situação [do celibato], tão forte
no seio da Igreja Católica, seja um sinal para
que as mudanças ocorram.
José Edson da Silva, padre casado, presidente
do Movimento das Famílias dos Padres Casados
FRASES
”
”
”
”
”
””
”
NÚMEROS
671.000
crianças brasileiras entre 10
e 14 anos ainda não estavam
alfabetizadas em 2010. Dez anos
antes, eram 1,2 milhão
30.000
norte-coreanos cristãos estão
detidos em acampamentos para
presos políticos e 10 mil estão
escondidos na Coreia do Norte.
Quando um norte-coreano se
torna cristão, tem que enfrentar
perseguição, prisão e possivelmente
a morte
396
votos a favor e nove contrários foi
o resultado da votação realizada
na Câmara de Representantes dos
Estados Unidos sobre a permanência
da frase In God we trust há cinquenta
anos gravada nas notas de dólar e
em edifícios públicos
5.000
folhetos da Sociedade Bíblica do
Egito salientando o conselho de
Paulo — “Não se entristeçam como
aqueles que não têm esperança”
(Ts 4.13) — foram distribuídos na
Catedral Copta do Cairo, no dia do
funeral em massa dos cristãos que
foram mortos no segundo domingo
de outubro de 2011
214.000.000
de pessoas vivem longe de seus
países de origem, em busca de
sobrevivência econômica, de
segurança e liberdade política
e religiosa, de desenvolvimento
pessoal e profissional e de uma
melhor qualidade de vida. O
número deve aumentar nas
próximas décadas e já é uma das
megatendências do século 21
12 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
“Jesus é o insondável amor voltado para
o carente, é o Príncipe da Paz para
um mundo beligerante, o Rei dos reis para
uma nação em desgoverno, o impecável justo
para vergonha dos corruptos, a luz do mundo
resplandecente na vereda tenebrosa, a verdade
em antítese à falsidade, a vida radiante para
a morbidez do espírito, o portal da esperança
para o desvalido.
Kléos Magalhães Lenz César, pastor
presbiteriano
UltimatoImagemArquivopessoal
14. 14 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
N
a República dos
Camarões (na costa
ocidental da África),
um país majoritariamente
cristão, é possível encontrar
mães e outras mulheres da
família que “engomam”
os seios das meninas
quando se tornam moças.
Segundo dados de uma
pesquisa realizada em 2010,
aproximadamente 24%
das adolescentes do país já
passaram por essa experiência.
Não relacionada à fé ou a
questões de ordem religiosa,
esta prática tradicional na
África Ocidental e Central
— chamada pela agência
alemã GTZ de mutilação
feminina — tem o propósito
de esconder os seios das
jovens para protegê-las
de olhares libidinosos,
encontros sexuais prematuros,
ameaças de estupro, gravidez
indesejada e abortos. A
operação consiste em passar
algo quente (pedras, paus de
malhar cereais e até martelo)
nos seios das mulheres,
diariamente, até obter o
resultado desejado.
Para conscientizar os
responsáveis por essa prática,
“Não forcem os seios a aparecer ou desaparecer:
deixem que eles cresçam naturalmente”
+DO QUE NOTíCIAS
um grupo de adolescentes
produziu uma campanha
de televisão que expõe o
problema. Um dos anúncios
diz: “Comprimir os seios
de jovens meninas é muito
perigoso para a saúde. Não
force os seios a aparecer ou
desaparecer: deixem que eles
cresçam naturalmente”.
Apesar da compreensível
preocupação das mães em
proteger as filhas adolescentes
da vida sexual prematura,
da licenciosidade, da
gravidez e do consequente
afastamento das atividades
escolares, a mutilação dos
seios não é justificável.
Além de causar sérios danos
físicos e psicológicos, é uma
ofensa e um desrespeito ao
ser humano, uma prática
criminosa e contrária à
criação.
É lamentável que no
contexto camaronês — e de
alguns outros países da África
Ocidental e Central — os
seios não sejam reconhecidos
como parte do projeto de
Deus para o corpo da mulher
(nem pelos que os mutilam
nem pelos que abusam
sexualmente das meninas
e mulheres). Além de ser
a parte do corpo feminino
que alimenta os bebês, não
se pode negar que eles o
adornam e despertam no
outro sexo amor e paixão.
No Cântico dos Cânticos,
o amado descreve a beleza
física da amada. Ele se
refere aos olhos, aos cabelos
ondulados, aos dentes
brancos e bem alinhados, aos
lábios vermelhos, mas não
deixa de falar dos seios dela:
“Os seus seios parecem duas
crias, crias gêmeas de uma
gazela, pastando entre os
lírios” (Ct 4.5). No poema,
ele volta a elogiá-los mais
adiante (7.3) e acrescenta:
“Os seus seios são para
mim como cachos de uvas”
(7.8). A própria amada diz
desinibidamente: “Eu sou
uma muralha e os meus seios
são as suas torres” (8.10).
Naturalmente, essa
intimidade não pode ser
profanada ou prostituída,
como se vê claramente em
outro livro atribuído ao
mesmo autor dos Cânticos:
“Beba das águas da sua
cisterna, das águas que
brotam do seu próprio poço
[...]. Seja bendita a sua fonte!
Alegre-se com a esposa
da sua juventude. Gazela
amorosa, corça graciosa;
que os seios de sua esposa
sempre o fartem de prazer,
e sempre o embriaguem os
carinhos dela. Por que, meu
filho, ser desencaminhado
pela mulher imoral? Por
que abraçar o seio de uma
leviana [ou, “os encantos da
mulher de outro homem”]?”
(Pv 5.15-20).
Não se alcança um
comportamento sexual
responsável e correto
(monogâmico e hétero) com
providências desequilibradas,
como mutilação, castração,
cinto de castidade, celibato
obrigatório e fuga para o
deserto. Na esfera pessoal,
isso depende de uma
decisão constantemente
reafirmada de negar-se
a si mesmo, quando se
trata de comportamento
ilícito. No âmbito social,
depende de iniciativas de
famílias e sociedade que
criem condições favoráveis
à prática saudável do sexo, o
que incluiria esforços contra
o abuso e a mutilação.
16. 16 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
+DO QUE NOTíCIAS
A propósito de “minha casa, minha vida”
N
a primeira metade
do século 8 antes
de Cristo, o profeta
Amós, falando em nome de
Deus, deu uma má notícia
aos ricos perdulários de
Israel: “Destruirei as casas
de inverno e as casas de
verão, as casas luxuosas, as
casas enfeitadas de marfim,
todas elas serão destruídas”
(Am 3.15). A profecia se
cumpriu poucos anos depois,
quando a Assíria invadiu o
país no ano 722 antes de
Cristo, sob o comando de
Salmaneser V (2Rs 17.3-6).
Hoje, a má distribuição
da riqueza continua em
várias partes do mundo,
sobretudo no Brasil. Nos
Estados Unidos há americanos
comprando abotoaduras de
500 dólares e, no Brasil, há
mulheres comprando colares
de dezoito voltas e 100
diamantes por 85 mil reais.
Com o valor de cada colar
daria para se construir seis
casas de padrão popular de 56
metros quadrados (sala, dois
quartos, banheiro, cozinha e
área de serviço) para alguns
dos milhões de brasileiros
que vivem abaixo da linha de
pobreza, sem acesso a casa,
terra, saneamento básico,
trabalho, educação e saúde
pública. Com 2 milhões de
dólares que uma socialite
brasileira gastou para decorar
um quarto na mansão que
construiu na Riviera Francesa,
daria para construir 1.600
quartos de casal ou erguer
uma vila de 266 casas para
abrigar mais de mil pessoas
que perderam suas moradias
com as chuvas de janeiro deste
ano. Com os 57 milhões de
dólares que um cantor inglês
despendeu em dois anos, daria
para se construir uma cidade
de 7.600 casas populares para
30.400 habitantes, o que
corresponderia a uma cidade
trinta vezes mais populosa que
Borá, município brasileiro
com o menor número de
habitantes, no interior de São
Paulo. Amós não foi o único
a condenar a autoindulgência
dos ricos. Depois dele, na
segunda metade do século
8, o profeta Isaías avisou:
“Ai de vocês que compram
casas e mais casas, que se
tornam donos de mais e mais
terrenos! Daqui a pouco
não haverá mais lugar para
os outros morarem e vocês
serão os únicos moradores do
país. [...] As grandes e belas
mansões serão destruídas,
e ninguém ficará morando
nelas” (Is 5.8-9).
N
o topo de uma
coluna na Piazza
di Spagna, em
Roma, há uma estátua de
Maria, inspirada na mulher
do Apocalipse, “vestida do
sol, com a lua debaixo dos
seus pés e uma coroa de
doze estrelas sobre a cabeça”
(Ap 12.1). Bento XVI estava
nesta praça no dia
anterior ao 157°
aniversário da
promulgação
da imaculada
concepção de
Maria (8 de
dezembro de
2011). O papa
não economizou
palavras para descrever
a importância da mãe de
Jesus. Para ele, Maria supera a
morte e a mortalidade porque
é a “plenitude associada à
vitória de Cristo, seu Filho,
sobre o pecado e a morte”.
A intercessão de Maria,
afirmou o papa, é essencial,
“especialmente neste
momento difícil para a Itália,
para a Europa e para várias
partes do mundo”.
No dia seguinte ao
da comemoração, 9 de
dezembro, não em Roma,
mas em Lyon, na França, nas
janelas de muitas casas havia
uma vela acesa e grandes
cartazes ostentavam duas
palavras apenas: “Obrigado,
Maria”. Nesse Festival de
Luzes, como é chamado o
evento, celebrado ano após
ano, o bispo auxiliar da
Diocese de Lyon, explicou:
“A salvação vem de Cristo,
único Salvador de todos”,
portanto, “a graça da
Imaculada Conceição vem de
Cristo por antecipação”.
Essas festividades
relembram a bula Ineffabilis
Deus, definida por Pio IX no
dia 8 de dezembro de 1854,
segundo a qual “a santíssima
Virgem Maria, no primeiro
instante da sua concepção
[…] foi preservada imune
de toda mancha do pecado
original”.
Se estivesse naqueles dias
em Roma e Lyon, Maria teria
pedido a palavra para declarar
pública e modestamente,
como Paulo e Barnabé
fizeram em Derbe, na Ásia
Menor: “Por que vocês
estão fazendo isso? Não me
divinizem! Eu sou apenas um
ser humano, como vocês”
(At 14.15). Ou falaria como
o anjo que disse a João
quando este caiu aos seus pés
para adorá-lo: “Não faça isso!
Sou servo como você e como
os seus irmãos que se mantêm
fiéis ao testemunho de Jesus.
Adore a Deus!” (Ap 19.10).
18. 18 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
S
omente na Espanha,
no decorrer de
2010, 314 crianças
foram retiradas do ventre
materno a cada dia. Foram
113.031 abortos provocados
durante o ano, segundo
o ministério da saúde
daquele país. Em números
absolutos, houve um
aumento de 1.550 abortos
em relação ao ano anterior.
Para contrabalançar essa
epidemia, a americana Abby
Johnson, ex-diretora de uma
clínica de abortos no Texas,
lançou o livro Sin Planificar,
na Universidade CEU San
Pablo, em Madri, cinco dias
antes do último Natal.
Depois de trabalhar
durante anos em uma
clínica especializada em
abortos, Johnson mudou
de opinião e de profissão
de uma hora para outra e
declarou que o aborto se
converteu em um vírus
que está se infiltrando na
sociedade. Para ela, os que
financiam ou trabalham
em centros que praticam
o aborto deveriam se dar
conta da humanidade da
criança destruída.
Em seu livro, Abby
Johnson explica que mudou
de lado definitivamente
porque, ao realizar
um aborto, percebeu
pela ultrassonografia
que o feto de treze
semanas reagia contra o
processo, retorcendo-se
violentamente. A criança
+DO QUE NOTíCIAS
queria permanecer
onde estava.
Isso aconteceu
em setembro de
2008, quando
ela estava com
28 anos. Não é
apenas a pessoa
que está sendo
formada na
barriga da mãe
(Sl 139.13)
que sofre:
“Normalmente,
o aborto deixa
a mulher com
sequelas de dor,
culpa e sobrecarga
emocional que,
em muitos casos,
podem durar
a vida inteira”.
Johnson
acrescenta que o “efeito
dominó” não termina aí.
De algum modo, toda
a família e as pessoas
próximas também sofrem
com o aborto. Casada com
um ex-luterano e mãe de
uma menina de 6 anos,
Johnson trabalha hoje com
a organização americana
Unidos pela Vida.
A recente experiência
de Abby Johnson coincide
com a experiência mais
remota de outra americana
que também mudou de
ideia e fechou a clínica de
abortos fundada em Jackson,
no Mississipi. Trata-se
de Beverly A. McMillan,
médica especializada em
ginecologia e obstetrícia.
Em seu período de
residência na Clínica
Mayo, em Chicago, em
1969, McMillan teve que
tratar de mulheres com
febre, sangramento, úteros
inchados e sensíveis, vítimas
de abortos clandestinos, o
que a tornou aborcionista
por convicção. Ela recebeu
com alegria a decisão
da Suprema Corte que
legalizou o aborto em 22 de
janeiro de 1973. À época,
a médica era agnóstica e
tinha tudo o que desejava
(casamento estável, três
filhos saudáveis, uma carreira
médica promissora, roupas
à vontade, uma boa casa,
um carro novo). Contudo,
sentia-se deprimida e chegou
a pensar em suicídio. Depois
de ler o livro O Poder do
Pensamento Positivo, de N.
V. Peale, McMillan comprou
uma Bíblia e leu em
pouco tempo todo o Novo
Testamento. “À medida
que lia a Bíblia nos meses
seguintes, me sentia cada vez
mais desconfortável em fazer
abortos”, afirmou a médica.
Por causa disso, ela deixou a
prática, embora continuasse
como diretora da clínica
até 1978. Por ter crescido
na fé e se tornado membro
de uma igreja evangélica,
McMillan desligou-se de
qualquer atividade ligada
ao aborto. Ela mesma
explica: “Quando entendi a
santidade da vida humana
antes do nascimento, mudei
de ideia sobre o aborto”.
A humanidade da criança
(não nascida) destruída
HerbCollingridge
20. 20 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
ocasião da conferência: a primeira
são cartões postais (Ore&Envie) com
pedidos de oração e uma mensagem
para autoridades governamentais; a
segunda é o Carbon Fast, que consiste
em orar e realizar ações diárias em
favor do meio ambiente durante as seis
semanas que antecedem o domingo de
Páscoa.
Este mesmo grupo realizou palestras
sobre cristianismo e meio ambiente
durante o Fórum Social Temático na
última semana de janeiro em Porto
Alegre, RS.
NOTíCIAS
por Lissânder Dias
Dois mil jovens
africanos celebram
a obra missionária
Mais de 2 mil jovens africanos se
reuniram na virada do ano no Quênia
para a Conferência Missionária
Commission, que acontece a cada
três anos e é promovida pela Aliança
Bíblica Universitária do país. A maior
parte dos participantes era formada
por universitários e recém-graduados
quenianos. O tema foi “Assim como o
Pai me enviou, eu envio vocês”.
“Tivemos muitos testemunhos
(bem escolhidos e desafiadores),
excelente ensino bíblico baseado no
livro de Daniel, palestras e ensino
voltado para o desafio missionário.
Havia muito louvor: um grupo já
Evangélicos se
mobilizam para
Rio+20
Mais de dezesseis organizações
evangélicas se preparam para participar
da Rio+20, a conferência das Nações
Unidas sobre desenvolvimento
sustentável que acontece de 20 a 22 de
junho no Rio de Janeiro, RJ. Tearfund,
A Rocha Brasil e Rede FALE estão
à frente do processo. No final de
março acontece a segunda reunião de
preparação.
As organizações estão trabalhando
para lançar duas campanhas por
formado, um coral que se formou
ali mesmo e que crescia a cada
dia e grupos musicais dos países
representados. Foi uma alegria
contagiante”, conta a brasileira e
professora de missiologia Antonia
Leonora van der Meer (Tonica), única
mulher que pregou na plenária do
evento. O livro de Atos foi a base
para os estudos bíblicos em pequenos
grupos de doze pessoas.
Segundo o diretor do Commission,
Simon Kande, 1.663 pessoas
assinaram o compromisso de se
envolver com missões. Na última
noite houve um apelo para que
aqueles que quisessem consagrar
suas vidas à obra missionária se
apresentassem. A princípio foram dez,
depois mais de trinta, até que pelo
menos 2 mil jovens se levantaram.
Missões com os
pés latinos
Novecentos participantes de mais de
trinta países. Estes são os números
esperados pela Fraternidade
Teológica Latino-Americana (FTL)
para o 5º Congresso Latino-
Americano de Evangelização
(CLADE 5), que acontece de 9 a
13 de julho em San Jose, na Costa
Rica. Os CLADE’s fazem parte da
caminhada histórica de reflexão
sobre a missão integral na América
Latina e pretendem refletir sobre o
papel dos cristãos no contexto do
continente. “Esperamos chamar
a atenção da Igreja na América
Latina para a nossa realidade,
nossos problemas atuais e para o
modo como estamos respondendo
a eles. Devemos nos confrontar
em meio a esta sociedade de morte
e refletir sobre a maneira como
estamos levando a mensagem de
vida pregada por Jesus”, afirma Juan
Carlos Morales Serrano, gerente
operacional do evento.
Desde setembro de 2011,
núcleos da FTL, igrejas,
movimentos e grupos de amigos
estão sendo encorajados a estudar o
Caderno de Participação, um livreto
com estudos bíblicos sobre o tema
do evento: “Sigamos a Jesus Cristo
em seu reino de vida! Guia-nos,
Espírito Santo!”. Espera-se formar
pelo menos trinta grupos de estudo
em diversos países do continente.
AntoniaLeonoravanderMeer
CatiuskaPerez
Jovens africanos estudam
o livro de Atos em
pequenos grupos
Diretores da FTL trabalham
nos preparativos do CLADE V
Notícias sobre a Rio+20, no portal
ultimato.com.br
Notícias sobre o Clade 5, no portal
ultimato.com.br
+ +
21. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 21
Dez mil Bíblias em
áudio no Nordeste
Feira internacional
vai reunir livreiros
cristãos
De 2 a 6 de maio
acontece em São
Paulo, SP, a 1ª Feira
Literária Internacio-
nal Cristã (FLIC),
que espera reunir cerca
de 5 mil pessoas por dia. A iniciativa é
da Associação de Editores Cristãos do
Brasil (ASEC), que reúne 36 editoras
Os ateus liderados pelo filósofo
Alan de Botton querem construir
um “templo para ateus” no centro
financeiro de Londres, Inglaterra.
O projeto prevê a construção
de uma torre de 46 metros de
altura para representar, segundo o
filósofo, os milhares de anos de vida
humana na terra e para celebrar o
“novo ateísmo”, um contraponto à
abordagem mais “agressiva” de ateus
como Richard Dawkins (o polêmico
autor do livro Deus, Um Delírio). A
parte exterior do templo será marcada
por um código binário que denota a
sequência do genoma humano. De
Botton acredita que os templos são
uma boa ideia para fortalecer nas
pessoas o senso da vida. “Você pode
construir um templo para tudo o que
é positivo e bom”, afirmou ao jornal
britânico The Guardian. O templo
começará a ser construído no final
de 2013, caso seja aprovado pela
prefeitura.
Dawkins critica a ideia e diz que
é mau uso de dinheiro. Para ele, um
templo para ateus é uma contradição.
“Não precisamos de templos”, diz.
Curiosamente, o reverendo anglicano
George Pitcher celebrou a ideia. “Este
templo mostra que há um sentido de
transcendência humana, que existe
algo maior do que a nossa existência
visceral”, disse.
Ateus querem
construir templo
evangélicas brasileiras. Com discurso
otimista, a ASEC acredita no aqueci-
mento deste segmento do mercado de
livros (um aumento de 14,4%
nas vendas em 2012) e aposta
na realização da feira como
um excelente balcão de
negócios entre editoras,
livrarias e consumidores.
A associação quer tam-
bém promover na FLIC uma discussão
de alto nível sobre a literatura cristã e o
cristianismo no Brasil. Para isso, have-
rá bate-papos com autores, encenação
de contos e histórias, sarau literário,
congressos e cursos em geral nas áreas
de teologia, família, liderança, mulhe-
res, infantil e infanto-juvenil, juventu-
de, missões, artes, ação social etc.
Pela primeira vez o público poderá
votar no Prêmio Arete, uma premiação
que elege as melhores publicações
do universo editorial evangélico
brasileiro. Os vencedores serão
anunciados durante o evento.
A Sociedade Bíblica do Brasil
(SBB) quer doar 10 mil Novos
Testamentos em áudio para apoiar
as ações evangelizadoras dos
obreiros que atuam em lugarejos
com alto índice de analfabetismo
no Sertão Nordestino. Para
isso, lançou uma campanha de
arrecadação. O alvo é arrecadar 100
mil reais. Até janeiro a SBB havia
conseguido pouco menos de 10
mil.
Para o pastor Eude Martins,
coordenador da campanha, há um
grande índice de analfabetismo na
região e a população gosta muito
de rádio e de ouvir CD. Segundo
ele, “mesmo faltando televisão
em algumas residências, não falta
aparelho de rádio com CD player
acoplado”. A ideia é formar grupos
de audição nos lares ou nas igrejas.
no blog do Guilherme de Carvalho
ultimato.com.br/blogs
Notícias sobre a FLIC, no portal
ultimato.com.br
+
+
22. 22 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
“
“
Q
uem diz isso não é uma pessoa
qualquer. Não é um exagerado nem
um simplório. Essas palavras, que
parecem radicais, foram pronunciadas
pelo médico e pregador Martyn Lloyd-Jones, do
púlpito da Capela de Westminster, no centro de
Londres, na primeira metade do século 20.
Como se verá nesta matéria de capa,
Lloyd-Jones tem toda razão: se você ainda não
está atado a Cristo, pela convicção e pela fé, então
você, a rigor, ainda não é um cristão. É necessário
que você admita isso, humilde e honestamente,
tendo ou não rótulo de cristão, sendo católico,
protestante, carismático ou neopentecostal. Pode
ser que você esteja atado apenas ao Cristo do
evangelho da prosperidade, do evangelho social e
da teologia liberal, mas não ao Verbo feito carne.
[Capa][Capa]
Sevocê
não está atado
a Cristo, você
não é Cristão
O Jesus que tomou sobre si os nossos pecados e
nos trouxe perdão, que morreu e ressuscitou, que
está sentado à direita do Pai, que colocou debaixo
dos pés os estragos da queda e do pecado e que
voltará em poder e muita glória — esse é o único
Jesus. Não há outro. Fora do Jesus do Antigo e do
Novo Testamentos, qualquer outro seria vulgar e
mesmo desnecessário.
A cristologia bíblica é fantástica, coerente,
convidativa, redentora e gloriosa. Agarre-se a esse
Jesus e não a outro.
Só é possível conhecer Jesus Cristo como ele
de fato é, removendo as escamas que estão nos
olhos e o véu que se interpõe entre nós e ele. Essa
operação vem de cima (de Deus) e não de baixo
(do ser humano). Ela desce e não sobe. É graça
pura, que pode ser suplicada!
MarcinKrawczyk
23. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 23
O nome acima de
qualquer outro nome
P
aulo não diz que o nome de Jesus será o
mais importante de todos os nomes. Ele já
é o nome mais exaltado desde a ressurreição
e a ascensão. Mesmo antes da plenitude da
salvação. Muitos fatos são responsáveis por isso.
Para datar os acontecimentos anteriores ao
nascimento de Jesus, os historiadores escrevem o ano
acompanhado da sigla “a.C.” (antes de Cristo). Para
datar os acontecimentos imediatamente posteriores,
usam “d.C.” (depois de Cristo). Para fornecer qualquer
documento, os escrivães colocam o ano seguido da
expressão “da era cristã”.
Por chamarmos de domingo (o dia do Senhor) o
primeiro dia da semana, quer saibamos ou não, quer
creiamos ou não, relembramos de sete em sete dias um
dos pilares do cristianismo: a ressurreição de Jesus.
Mesmo desconhecendo o solene significado da cruz,
ela é o símbolo religioso mais exposto. Mais do que
a estrela de Davi, do judaísmo, o crescente lunar, do
islamismo, a palavra OM, em sânscrito, do hinduísmo,
a roda viva, do budismo, e o torii, dos xintoístas. A
cruz está em todo lugar — nas igrejas, nos cemitérios,
no alto dos morros, nos nichos, nos monumentos, nas
pinturas, nos adornos, nas tatuagens.
Mais da metade do credo dos apóstolos refere-se
a Jesus Cristo. A declaração “creio em Jesus” é a mais
antiga, a mais conhecida e a mais repetida de todas as
confissões de fé da igreja cristã por quase dois milênios.
As Escrituras Sagradas são o mais antigo, o mais
traduzido, o mais vendido e o mais lido best-seller, que
testifica de Jesus tanto no Antigo Testamento como no
Novo.
A maior de todas as declarações de amor, a mais
divulgada e a mais decorada em qualquer lugar onde
haja pelo menos um cristão, diz respeito a Jesus:
“Porque Deus amou tanto o mundo, que deu o seu
único Filho, para que todo aquele que nele crer não
morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
O Natal (que aponta para o fato de que o Verbo se
fez carne) e a Sexta-feira da Paixão (que aponta para a
ruptura do véu que separava o Criador da criatura) são
os feriados mais consagrados e mais internacionais do
calendário ocidental.
A cerimônia religiosa mais repetida em todos os
círculos cristãos desde que foi instituída (na véspera
da crucificação) — celebrada por alguns todos os dias
e, por outros, todos os domingos, todos os meses ou
todos os anos — rememora a pessoa de Jesus Cristo
e seu sacrifício vicário (“Façam isso em memória de
mim”). Chama-se Santa Ceia, Eucaristia ou o partir do
pão.
Jesus é o filme mais traduzido — para mais de 1.060
línguas e dialetos —, mais projetado e mais visto —
por mais de 200 milhões de pessoas — da história.
O que ainda não aconteceu é o momento em que
todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos
mortos vão cair de joelhos e declarar abertamente que
Jesus Cristo é o Senhor (Fp 2.10-11).
24. 24 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
A imagem visível do
E
nquanto o Evangelho de
Mateus e o Evangelho de
Lucas começam a história
de Jesus contando o seu
nascimento, as primeiras palavras do
Evangelho de João são bem resumidas:
“No princípio [o mais remoto de
todos os princípios] era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus e o Verbo era
Deus” (Jo 1.1).
Com apenas dezessete palavras (no
original grego) o apóstolo nos leva às
alturas e nos faz viajar no tempo. De
acordo com esse prólogo, entendemos
a declaração de Jesus que deixou os
fariseus enraivecidos: “Eu lhes afirmo
que antes de Abraão nascer, Eu sou!”
(Jo 8.58).
A
mais antiga promessa a
respeito de Jesus foi feita
pelo próprio Deus, pouco
depois da criação dos
céus e da terra que agora existem,
e imediatamente após a queda do
ser humano: “De agora em diante,
você [a serpente] e a mulher [a mãe
de todos os seres humanos] serão
inimigas. O mesmo ocorrerá entre
a sua descendência [as potestades
do ar] e a descendência dela [Jesus].
O descendente da mulher [Jesus]
esmagará a sua cabeça [a cabeça
da serpente], e você [serpente]
ferirá o calcanhar dele [de Jesus]”
(Gn 3.15).
Essa curta e enfática promessa
é conhecida como “o germe
da promessa messiânica”, “o
primeiro clarão da salvação”, “o
protoevangelho”.
Entre os muitos descendentes
da mulher, apenas um se encaixa
perfeitamente na primeira profecia
da história da religião. Ele descende
só da mulher, sem a participação de
homem algum, e recebeu o nome
de Jesus, que quer dizer: “O Senhor
é a salvação”.
O primeiro clarão da salvação
João assimila de tal modo a
eternidade de Jesus que acrescenta,
sem pestanejar, mais duas informações
solenes: “Todas as coisas foram feitas
por intermédio dele, e, sem ele, nada
do que foi feito se fez” (Jo 1.3) e “o
Verbo se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito
do Pai” (Jo 1.14).
Jesus é o único cuja história não
tem início no dia do nascimento nem
no dia da concepção. Quando se fez
carne, ele entrou no tempo e tornou-se
visível, audível e palpável. O propósito
da descida de Jesus do nível mais alto
para o nível mais baixo é fazer-nos
subir deste para aquele.
É inegável que desde então e ao
longo da história tem havido entre
a serpente e a humanidade, entre o
bem e o mal, entre o justo e o injusto,
inimizade, hostilidade, antagonismo,
incompatibilidade, rivalidade, atrito
e repulsa mútua. Daquele dia em
diante o clima é de guerra e não de
paz. De guerra total, pois ninguém
está de fora apenas assistindo,
acompanhando, filmando. De guerra
cósmica, pois envolve extraterrestres
(anjos e demônios). Não há outro
pronunciamento tão explicativo para a
nossa conturbada história como esse.
Quando o Verbo se fez carne, ele
somou a natureza humana à natureza
divina e tornou-se tanto “Filho de
Deus” como “Filho do homem”. Ele
não deixa de ser Deus quando toma a
forma humana (Fp 2.1-8) nem deixa de
ser homem quando ressuscita dentre os
mortos (Lc 24.39-43; Jo 20.27). Por
sua natureza divina, Jesus está acima
das leis cósmicas e não debaixo delas.
Assim, realiza muitas coisas impossíveis
ao homem. Por sua natureza humana,
experimenta coisas que não combinam
com a sua divindade, tais como ter
fome, sede, sono e se sentir cansado.
Ao se fazer carne, Jesus passou a ser
“a imagem visível do Deus invisível”
(Cl 1.15)!
Deus invisível
25. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 25
andou sobre o mar?
com uma só ordem fez parar
o vento, os relâmpagos, os
trovões e a tempestade do mar?
com uma só palavra fez secar
uma figueira?
transformou 600 litros de água
em vinho da melhor qualidade?
multiplicou cinco pães e dois
peixes para satisfazer mais de
5 mil estômagos e ainda fez
sobrar doze cestos?
cura toda sorte de doenças,
desde uma simples febre até
um paralítico de nascença?
é capaz de reimplantar, fora
de um centro cirúrgico, uma
orelha decepada?
consegue parar um cortejo
fúnebre e ordenar ao morto
que saia do caixão?
tem poder para fazer viver
outra vez um morto já
sepultado e em estado de
putrefação?
no tempo e no espaço torna a
viver, por seu próprio poder, e
abandona o túmulo por conta
própria?
Porém, a unicidade de Jesus vai
além disso. Quem mais...
amou como ele amou?
falou com tanta autoridade
como ele?
perdoou como ele?
sofreu como ele?
se deu aos outros como ele?
suportou desafios, escárnios e
injustiça como ele?
deu a vida como oferta pelo
pecado como ele?
é imatável como ele?
derramou voluntariamente a
alma na morte como ele?
proferiu palavras tão duras sem
pecar como ele?
não se apegou aos seus direitos
como ele?
se esvaziou como ele?
se humilhou sendo obediente
até a morte e morte de cruz?
A unicidade de Jesus continua.
Quem afinal é...
o pão da vida?
a luz do mundo?
o bom pastor?
a ressurreição e a vida?
o caminho, a verdade e a vida?
a videira verdadeira?
o único mediador entre Deus e
os homens?
o nosso intercessor junto ao Pai
em caso de pecado e culpa?
a propiciação pelos nossos
pecados?
São até aqui 32 interrogações
a respeito da unicidade de
Jesus. Outras poderiam ser
formuladas. O que importa é
que todas têm uma só resposta:
Jesus Cristo!
Jesus é o único a
fazer o que fez
N
a noite em que foi traído e instituiu a Santa Ceia, em
uma reunião reservada, em certo cenáculo de Jerusalém,
Jesus se abriu com os discípulos: “Se eu não tivesse
realizado obras que ninguém mais fez, [aqueles que
me viram ou ouviram] não seriam considerados culpados. Mas
agora, eles as viram, e mesmo assim odeiam a mim e ao meu Pai”
(Jo 15.24). Ele é o único a fazer o que fez. Além dele, quem mais...MichaelFaes
26. 26 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
Em Cristo não somos caloteiros
E
m poucas palavras, o teólogo brasileiro Alfredo
Borges Teixeira (1878–1975) explica o sacrifício
vicário do Filho unigênito de Deus: “A Jesus foram
imputados os pecados dos homens e aos homens
foi imputada a justiça de Jesus”.
Há uma dupla transferência: a culpa pelos nossos pecados
do passado, do presente e do futuro passa para Jesus e a
justiça dele é transmitida a nós. Há uma substituição: Jesus
recebe em nosso lugar
a justa retribuição que
nossos pecados merecem.
O resultado é a eliminação
definitiva e irrevogável
da nossa culpa pelo
cumprimento da punição
que ela merece. Esse gesto
de maravilhosa graça
proporciona a libertação da
culpa do pecado. Quando
o pecador conhece e aceita
a oferta de salvação, é salvo
e deixa de ser réu.
O livramento, embora
planejado antes da
fundação do mundo
(1Pe 1.20) e da queda
do homem e anunciado
progressivamente no
Antigo Testamento, se
concretiza na Sexta-Feira
da Paixão, entre o meio-
dia e as três horas da tarde,
em uma colina fora dos muros de Jerusalém, chamada de
Lugar da Caveira, Calvário ou Gólgota (em aramaico). Entre
os acontecimentos misteriosos e aterrorizantes que se deram
durante ou logo após a crucificação de Jesus (escuridão,
tremor de terra e abertura de túmulos, dos quais saíram
alguns mortos), o mais significativo foi o rompimento do
véu do templo, que se rasgou de cima a baixo (Mt 27.51).
Este sinal demonstra o sucesso do sacrifício expiatório de
Jesus e confirma todos os seus sete “Eu sou”, notadamente, o
“Eu sou a porta” (Jo 10.7), “Eu sou o bom pastor” (Jo 10.14)
e “Eu sou o caminho” (Jo 14.6).
Por causa da morte vicária, João Batista apresenta Jesus
como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”
(Jo 1.29); o apóstolo João assevera que “o sangue de Jesus,
o seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7); e Paulo
garante que Deus perdoou todos os pecados e “riscou essa
condenação que pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a
completamente e pregando-a na cruz sobre a sua própria
cabeça” (Cl 2.14).
O fato é que para livrar o pecador da culpa, da dívida,
da vergonha, do fardo — o Cordeiro de Deus assumiu
consciente e voluntariamente a culpa, a dívida, a vergonha e
o fardo do pecador contrito e sofreu o castigo que era dele.
O complicado
cerimonial provisório
do Antigo Testamento
perdeu o valor por
um sacrifício melhor,
perfeito e único.
Porque o sangue de
touros e bodes não
pôde, de modo algum,
tirar os pecados de
ninguém. Jesus, ao
entrar na história,
declara: “Estou aqui, ó
Deus, para fazer a tua
vontade”. E porque
Jesus Cristo fez o que
Deus quis, nós somos
purificados do pecado,
por meio da oferta de
seu corpo uma vez por
todas (Hb 10.5-14).
Para ser salvo sem
a obra vicária de
Cristo, o ser humano
precisaria obedecer à lei de Deus sem nem um deslize
sequer, o que nunca aconteceria. Ou, então, pagar a dívida
contraída pela desobediência, o que ninguém conseguiria
nem nesta vida nem nas chamadas reencarnações. Deus
não aceita boas obras como pagamento da dívida. A única
solução está na obediência ativa e passiva à lei divina, que
Cristo realizou no lugar do pecador. Alfredo Borges Teixeira
explica que a obediência ativa de Cristo consiste no fato de
ele nunca ter pecado e a obediência passiva de Cristo consiste
no fato de Jesus ter sido obediente até a morte vicária, por
meio da qual a cortina que separava o absolutamente santo
do absolutamente pecador se rasgou. Essa obediência é o
cobertor da salvação, ou o manto da justiça, com o qual
fomos eficazmente cobertos. Em Cristo não somos mais
caloteiros!
ShiYali
o Cordeiro de Deus assumiu consciente
e voluntariamente a culpa, a dívida, a
vergonha e o fardo do pecador contrito
27. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 27
Jesus no “Livro das Coisas Melhores”
A cruz
cravejada
de notas
de débito
A
Epístola aos Hebreus, escrita antes da destruição
de Jerusalém, no ano 70, é endereçada não a uma
igreja ou a uma pessoa, mas “aos hebreus”, cristãos
de origem judaica da diáspora.
Foi escrita por alguém que conhecia bem o Antigo
Testamento, talvez Paulo, Barnabé ou Apolo. Outros nomes
cotados seriam Lucas, Priscila, Silas e Epafras.
Essa epístola, a terceira maior das 21 epístolas (junto com
a de 2 Coríntios), “podia ser chamada o ‘Livro das Coisas
Melhores’, visto que as duas palavras gregas traduzidas por
‘melhor’ e ‘superior’ ocorrem quinze vezes na carta”.1
Fala-se
em uma melhor aliança, em um melhor santuário e em um
melhor sacrifício.
O tema é a total supremacia e suficiência de Cristo. O autor
tinha em vista dois sérios perigos: o retorno dos hebreus ao
judaísmo ou a tentativa deles de judaizarem o evangelho. O
capítulo mais conhecido (talvez o único) é o capítulo onze,
que enumera os heróis da fé.
Logo no início, no primeiro capítulo, há algumas
referências à proeminência de Jesus. A NTLH (Nova Tradução
na Linguagem de Hoje) chama-o de Filho por sete vezes.
Jesus é o porta-voz de Deus: “Antigamente, por meio dos
profetas, Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos
nossos antepassados, mas nestes últimos tempos ele nos falou
por meio do seu Filho” (v. 2).
Jesus é o dono de tudo: “Foi ele quem Deus escolheu para
possuir todas as coisas” (v. 2 ).
Jesus é o criador do universo: “Foi por meio dele que Deus
criou o universo” (v. 2).
Jesus é o próprio Deus: “O Filho é a perfeita semelhança do
próprio Deus” [a expressão exata de seu ser] (v. 3).
Jesus é o sustentador de tudo: “Ele sustenta o universo com a
sua palavra poderosa” (v. 3).
Jesus é o purificador do pecado: “Depois de ter purificado os
seres humanos de seus pecados, sentou-se no céu, do lado
direito de Deus, o Todo-poderoso” (v. 3).
Jesus é superior aos anjos: “Deus fez com que o Filho fosse
superior aos anjos e lhe deu um nome que é superior ao
nome deles” (v. 4).
Jesus é o enviado de Deus: “Quando Deus enviou ao mundo
o seu primeiro Filho, ele disse: ‘Que todos os anjos o
adorem’” (v. 6).
Jesus é o soberano Senhor: “Sente-se do meu lado direito, até
que eu ponha os seus inimigos como estrado dos seus pés”
(v. 13).
Nota
1. Bíblia de Estudo NVI
O que Deus perdoou?
Todos os nossos pecados
Todas as nossas falhas
Todos os nossos deslizes
O que Deus fez?
Aboliu, anulou, apagou
Cancelou, deixou de lado, destruiu
Eliminou, fez desaparecer, reduziu a nada
Removeu, riscou, suprimiu
O que Deus cancelou?
O documento contrário a nós
A condenação que pesava sobre nós
O título da dívida que havia contra nós
O documento manuscrito que era contra nós
O comprovante da nossa dívida
Que fim Deus deu ao título de dívida?
Depois de anular
Depois de cancelar
Depois de remover
Depois de riscar
Deus encravou tudo na cruz!
Fonte: Colossenses 2.14 em diferentes versões
AmondoSzegi
Jesus na edição 271, no portal
ultimato.com.br/revista/271
+
28. 28 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
J
esus estava com Deus desde
o princípio e que o mundo
foi feito por ele;
Maria tenha engravidado
sem ter relações sexuais com o
carpinteiro ou com outro homem;
Jesus era Deus e homem ao mesmo
tempo ou alternadamente. Ele não era
um ser humanizado nem divinizado.
Era simplesmente um ser humano,
igual a nós: nasceu, viveu e morreu;
Jesus era o Cordeiro de Deus que
tira o pecado. Nem mesmo creio em
pecado. Pode haver equívocos, erros,
falhas e insucessos, mas nunca pecado.
Pecado é uma palavra inventada pelo
cristianismo para meter medo;
Jesus é imatável. Essa palavra nem
sequer existe. Ele não foi jogado
precipício abaixo em Nazaré nem
apedrejado em Jerusalém, porque em
ambas ocasiões ele apenas fugiu com
ajuda dos discípulos;
A água tenha sido transformada em
vinho e que os pães e peixes tenham
sido multiplicados. Pode ter havido
algum truque ou coisa inventada para
promover o Nazareno e enfraquecer o
poder do Império Romano;
Jesus tenha dado vista aos cegos,
audição aos surdos, fala aos mudos,
cura aos doentes; Uma mulher
permaneceu menstruada por doze
anos nem que Jesus estancou o
sangue dela. Se houve uma ou outra
cura de doenças mais leves foi por
causa do aparato armado por Jesus
e os discípulos. Foi uma questão
psicológica;
Jesus tenha ressuscitado a filha
de Jairo, o filho da viúva de Naim
e o irmão de Maria e Marta. Além
de impossíveis, essas coisas nunca
aconteceram;
eu Não creioNão creio
que...
Jesus tenha patinado sobre a
superfície líquida do mar da Galileia.
Creria se houvesse inverno rigoroso
naquela região e naquela época do
ano capaz de congelar a água do lago.
A tempestade estava passando e ele
aproveitou para dar a impressão de
que era maior do que as forças da
natureza;
Jesus tenha tornado a viver três dias
depois de sua morte e sepultamento
nem que tenha aparecido em vários
lugares por um espaço de quarenta
dias. A guarda inventou o drama da
ressurreição, tendo em vista a grande
soma de dinheiro que receberia do
Sinédrio. A mentira dos guardas foi a
notícia da ressurreição e não a notícia
de que o corpo de Jesus teria sido
levado para um lugar ignorado pelos
discípulos. Jesus foi enterrado em uma
cova rasa e permaneceu para todo
sempre no mundo dos mortos (que os
judeus chamam de Hades);
Jesus foi assunto aos céus e que
uma nuvem o tenha encoberto, nem
que ele tenha se assentado à direita de
Deus para então arrumar os estragos
29. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 29
Em português
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho,
nosso Senhor, o qual foi concebido por obra
do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria;
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado; desceu ao
Hades; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia;
subiu aos céus; está assentado à mão direita
de Deus Pai Todo-poderoso, de onde há de
vir para julgar os vivos e os mortos.
Em latim
Credo in Iesum Christum, Filium Eius
unicum
Em espanhol
Creo en Jesucristo, su único Hijo, Nuestro
Señor
Em inglês
I believe in Jesus Christ, his only Son, our
Lord
Em francês
Je crois en Jésus Christ, son Fils unique,
notre Seigneur
Em alemão
Ich glaube Und an Jesus Christus, seinen
eingeborenen Sohn
Em coreano
그 외아들 우리 주 예수 그리스도를
믿사오니,
Em japonês
我はその独り子、我らの主、イエス・キ
リストを信ず。
* Uma declaração de fé usada pelos cristãos
desde meados do segundo século e repetida
até hoje por todos os cristãos (católico-
romanos, grego-ortodoxos e protestantes).
eu creio O credo dos
apóstolos*
(Apenas o parágrafo que se
refere a Jesus Cristo)
LizValente
provocados pela chamada queda
do homem nem, ainda, que há de
voltar “em poder e muita glória”
para julgar. Nada disso aconteceu
nem vai acontecer. Não existe
esperança em um morto que a
morte levou irreversivelmente
Não há Apocalipse. Se a
humanidade não evoluir por
conta própria, as coisas vão
continuar perenemente como
estão. A realidade é muito melhor
do que a fantasia!
Pode ser difícil achar alguém
que verbalize todas essas
negações. Talvez, para a maioria
dos descrentes, uma ou duas delas
bastem para não levar a sério as
afirmações da fé cristã. Ainda
bem que o testemunho do cristão
pode balançar a dificuldade de
crer do não cristão, contribuindo
para levá-lo à fé. Afinal, os
seguidores de Jesus são (ou
deveriam ser) o sal da terra e a luz
do mundo, para que os demais
vejam as suas boas obras e estas
glorifiquem a Deus (Mt 5.16).
30. 30 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
É
tudo muito
simples. O
primeiro clarão
da salvação está
em Gênesis, o primeiro
livro da Bíblia. O segundo
está em Apocalipse, o
último livro da Bíblia.
O primeiro clarão é uma
promessa anunciada; o
segundo, uma promessa
cumprida. O primeiro
clarão vem depois da
criação do céu e da terra;
o segundo culmina com
a criação de novos céus
e nova terra. O primeiro
clarão fornece uma
pálida imagem de Jesus
(diz-se apenas que ele é “o
descendente da mulher”);
T
alvez a mais solene das
profecias messiânicas de
Isaías seja esta: “[Porque]
vocês estão confiando
em mentiras e pensam que a
desonestidade os protegerá [da terrível
desgraça], o Senhor Deus diz: ‘Estou
colocando em Sião uma pedra, uma
pedra preciosa que eu escolhi, para
ser a pedra principal do alicerce’.
Nela está escrito
isto: ‘Quem tem fé
não tem medo’” (Is
28.16).
A pedra à qual o
texto se refere não é
qualquer pedra. As
diferentes versões
usam uma grande
quantidade de
sinônimos e dizem
que se trata de
uma pedra angular,
básica, escolhida,
estabelecida, experimentada, firme,
fundamental, preciosa, principal,
provada, segura, sólida, testada e
valiosa. É uma pedra de granito (BJ),
um bloco escolhido (EPC), “uma
pedra para ser a principal pedra do
alicerce firme e precioso sobre o qual
se pode construir em segurança”
(NBV), uma pedra “para alicerce
seguro” (NVI).
Em qualquer tempo, lugar e
circunstância, quem levar essa pedra
a sério, quem nela crer, nela confiar,
nela se apoiar, jamais terá medo,
será abalado, ficará desiludido ou
vacilará. Porém, quem não conhecer
ou levar em consideração esse bloco
Uma pedra de granito
no alicerce para
prevenir desabamentos
de granito, verá implacavelmente o
deslizamento, o desmoronamento,
a destruição de toda esperança, de
todo o conteúdo da fé religiosa. É
por isso que essa pedra é também
chamada “pedra de tropeço” (Is 8.14;
Rm 9.32; 1Pe 2.8). Ela pode nos fazer
tropeçar ou mesmo cair na escalada da
salvação, sem que haja possibilidade
de retrocesso.
Resta saber quem
é a pedra angular,
a primeira pedra, a
pedra de absoluta
confiança que sustenta
todo o edifício da
salvação. A resposta
é óbvia: “A pedra
fundamental desse
edifício [a igreja] é o
próprio Jesus Cristo”
(Ef 2.20).
Pedro estava
absolutamente certo
disso quando, cheio do Espírito
Santo, declarou ao Sinédrio judaico:
“Jesus é aquele de quem as Escrituras
Sagradas dizem: ‘A pedra que vocês,
os construtores, rejeitaram veio a ser
a mais importante de todas’, [pois] a
salvação só pode ser conseguida por
meio dele” (At 4.11-12).
Em vez de ser a tremenda pedra de
salvação, Jesus pode ser a tremenda
pedra de tropeço para os descrentes,
os de dura cerviz, os guias religiosos
vazios e irresponsáveis, os teólogos
liberais, os reencarnacionistas e os
cristãos apenas de nome.
Nota: Sobre as versões da Bíblia citadas, ver pág. 7.
Em qualquer
tempo, quem
levar essa
pedra a sério,
jamais terá
medo ou será
abalado
31. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 31
O último clarão da salvação
o segundo fornece uma gloriosa imagem de Jesus (ele é o
Rei dos reis, o Senhor dos senhores). O primeiro clarão
é como o momento da concepção; o segundo, como o
momento do parto. Apertados entre um momento e outro
estão o desenvolvimento e a história da salvação, que nem
todos enxergam. No primeiro clarão a serpente é ameaçada
(o descendente da mulher esmagará a cabeça da serpente);
no segundo, o diabo, a antiga serpente, é jogado no lago de
fogo e enxofre para ser atormentado para todo o sempre, de
dia e de noite (Ap 20.10).
No Apocalipse, isto é, na “revelação de Jesus Cristo”
(Ap 1.1), ou no levantar da cortina (desvelamento da
imagem de Jesus), começa o último ato da história da
salvação. O Jesus do Apocalipse não é o desfigurado,
o desprezado e rejeitado, o varão de dores, o oprimido
e afligido, o Cordeiro levado para o matadouro, o
crucificado, o transpassado, o ensanguentado, não é
simplesmente o rei dos judeus, não tem uma coroa de
espinhos na cabeça nem uma cana seca na mão!
No Apocalipse, Jesus é o primeiro a se levantar da morte
para não morrer mais; é mais importante do que qualquer
rei da terra (1.5); é o que vem com as nuvens (1.7); é o
Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas; o
Senhor Todo-Poderoso (1.8); é o vivente que morreu, mas
que agora está vivo para sempre; o que tem as chaves da
morte e do inferno (1.18; 2.8); é o santo e verdadeiro, que
tem a chave de Davi para abrir o que ninguém pode fechar
e fechar o que ninguém pode abrir (3.7); é a fonte primitiva
da criação de Deus (3.14); é aquele que permanece à
porta e que está batendo sempre (3.20); é o Leão da tribo
de Judá, que venceu e se mostrou digno de abrir o livro
e quebrar os sete selos que empurravam a história para
frente (5.5); é aquele que é digno de receber o poder, e
a riqueza, e a sabedoria, e a força, e a honra, e a glória e
o louvor (5.12); é aquele de quem vem a nossa salvação
(7.10); é aquele que enxuga toda lágrima dos olhos de suas
ovelhas (7.17); é o Rei de todos os reis e Senhor de todos os
senhores (17.14); é a candeia que ilumina a nova Jerusalém
(21.23); é a brilhante Estrela da Manhã (22.16).
Esse último ato de salvação nunca termina, o último
clarão da salvação nunca se apaga, pois Jesus nunca se retira
do palco da salvação!
32. 32 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
daqueles dias, diz o Senhor: Na mente,
lhes imprimirei as minhas leis, também
no coração lhas inscreverei; eu serei
o seu Deus, e eles serão o meu povo”
(Jr 31.33). O apóstolo Pedro faz coro,
dizendo: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim
de proclamardes as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para sua
maravilhosa luz; vós, sim, que, antes,
não éreis povo, mas, agora, sois povo
de Deus, que não tínheis alcançado
misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia” (1Pe 2.9-10).
Conversão significa responder ao
chamado de Cristo em obediência e fé,
renunciar o mundo e viver como povo
santo de Deus. Isto requer separação
e contraste. É por esta razão que Jesus
disse aos discípulos que, se eles fossem
do mundo, o mundo os amaria; porém,
como eles foram chamados do mundo
para Cristo, o mundo os odeia como
também o odiou (Jo 15.18-19). Viver
como Cristo viveu implica participar
do mesmo sofrimento e das mesmas
alegrias. Jesus afirmou: “O servo não é
maior que o seu Senhor”.
A esperança para o mundo repousa
neste povo separado por Deus. Um
povo cuja vida, relacionamentos,
conduta, ética, moral, expõem
o contraste entre a humanidade
pretendida por Deus e revelada em
Jesus Cristo e a forma como o mundo
e a cultura se estruturam sem Deus.
Este contraste traz esperança para
alguns, tensões para outros e, inclusive,
incompreensão e perseguição.
Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do
Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília.
É autor de Janelas para a Vida e O Caminho do Coração.
que importa. O discurso cristão não é
mais contracultural. O mundo e a carne
deixam de ser inimigos. Ser cristão
significa sentir-se bem e ajustado com a
cultura secularizada.
Contudo, o chamado para sermos
santos permanece central para a vida
cristã. Mesmo que nossa compreensão
seja limitada ou condicionada por
modelos culturais, a identidade cristã
repousa sobre o fato de que Deus é
santo e, porque ele é santo, somos
chamados a ser santos como ele. E o
que isso quer dizer?
O reverendo J. I. Packer afirma que a
santidade envolve separação e contraste.
A vida de Jesus ilustra bem isto. Por
um lado, ele afirma que seu reino não é
deste mundo (separação). Por outro, a
forma como vive representa um enorme
contraste com a cultura da época.
Ser santo é ser separado do mundo.
Não uma separação alienada ou
esquizofrênica, mas sim uma separação
que intensifica o contraste entre o
mundo e o reino de Deus.
Tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, Deus chama e separa um
povo para ser seu, um povo sobre o qual
ele reina e governa. O profeta Jeremias
reafirma o significado da aliança,
dizendo: “Porque esta é a aliança que
firmarei com a casa de Israel, depois
O CAMINHO DO CORAçãO Ricardo Barbosa
Conversão significa
responder ao chamado
de Cristo, renunciar o
mundo e viver como
povo santo de Deus
S
ou de uma geração que
ouviu falar muito sobre
santidade. Na minha
juventude havia uma
preocupação sincera
com a necessidade de se viver uma vida
santa. Livros como Em Seus Passos o
Que Faria Jesus? e a constante pergunta
se Jesus faria o mesmo no meu lugar
funcionavam como uma forma de freio
moral. A luta contra os três grandes
inimigos da santidade — o diabo, o
mundo e a carne — era levada a sério.
A vontade de resistir-lhes era grande. A
luta era incansável.
A busca pela santidade trouxe, para
muitos, um tipo de paranoia, uma
preocupação com a “perfeição” moral
que negava o prazer. Isto levou alguns
a abandonarem a fé, a fim de preservar
a sanidade. Outros, sem abandoná-
la, tornaram-se cínicos em relação ao
discurso moralista cristão. As mudanças
sociais dos anos 60 e 70 questionaram
a herança cristã vitoriana, promovendo
uma mudança de paradigmas.
A partir dos anos 80, o tema da
santidade perdeu força e interesse.
Em seu lugar, entrou a preocupação
com a “saúde espiritual”. Cresceu a
busca por uma espiritualidade mais
humana, centrada no bem-estar pessoal
e no reconhecimento do prazer como
expressão saudável da fé. Se o velho
modelo era fundamentado na renúncia
e no sacrifício, o novo foi construído
sob o alicerce do prazer e da aceitação.
Entramos no século 21 e percebemos
que “saúde espiritual” tornou-se
sinônimo de “saúde emocional” e
substituto para a salvação por meio do
arrependimento e da fé. Sentir-se bem
e ter saúde emocional e espiritual é o
Separação e contraste
37. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 37
irrelevante, incapaz de dialogar com a
sociedade.
Se nos sábados à noite vamos à
casa do Zé para beber vinho, fumar
charutos e discutir questões bíblicas,
esta é a nossa igreja. Fumar charutos e
beber vinho passam a ser nossas práticas
religiosas. A casa do Zé ou da Maria
se institucionaliza e se torna nosso
“templo”. Assim é o ser humano, assim
se forma a cultura. É arrogante pensar
que essa pseudo não forma é melhor do
que uma proposta atual ou histórica.
Quando entendemos a verdadeira
natureza do evangelho, percebemos que
a religião cristã não é a grande inimiga.
Antes, o vazio dela o é. Jesus não pregou
a rejeição às formas culturais da religião,
mas a encheu de graça e significado. Ao
fazê-lo, virou o establishment religioso
de cabeça para baixo. Não porque os
odiasse, mas porque os amava. Quando
entendemos este amor, passamos a
colecionar as graças mais diversas
encontradas por toda parte e em todas
as formas religiosas. Passamos a nos
compadecer dos homens que tentam
reproduzir o sublime tanto nas igrejas-
garagens como nas catedrais.
A graça se torna história coletiva e
toma a forma da casinha de madeira
que hospedou a primeira Assembleia
de Deus fundada no Brasil ou da
catedral Metodista, de concreto cinza,
ainda imponente, e que diz ao bairro
Liberdade, em São Paulo: “Ele se
importa”. A graça se torna memória
nos hinos antigos e coletiva quando sai
de mim e é formalizada no plural, no
serviço religioso. Negar a importância
dos símbolos, dos cheiros, dos sons da
mensagem sublime de Deus, manifesta
na religião, é negar a nossa condição
humana.
O Verbo se fez carne. Para que
continue se fazendo carne hoje, ele nos
chama como somos: seres culturais.
Seres que sinalizam a mensagem divina
por meiox de ideias, rituais, hábitos,
projetos arquitetônicos, propostas de
ressocialização, conversas, pregações,
músicas, pinturas, esculturas. Tudo o
que faz parte da vida humana pode ser
transformado em mensagem divina.
Este processo de divinização coletivizada
se chama religião.
É preferível, então, se ter religião a
ser religioso. O religioso é aquele que
faz da forma o seu deus. Pergunto-me se
não é isto que muitos dos que protestam
contra a religião estão fazendo. O
Deus que advogam é tão pequeno que
não pode se misturar à história e à
sociedade humana e sair incólume. Jesus
é diferente. Senta-se humildemente na
igreja-garagem ou levanta-se com voz
impostada para pregar nas catedrais,
sempre ocupado em tocar vidas.
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta
anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua
família e está envolvida em projetos internacionais de
desenvolvimento na Ásia. É autora de Chamado Radical.
braulia_ribeiro@yahoo.com
religião@eu.com
Bráulia Ribeiro DA LINHA DE FRENTE
R
idicularizar a religião é
hoje esporte popular. O
irônico é que até pastores
e profissionais religiosos se
especializam em maldizê-
la. Não sem razão, pois o estado atual
do evangelicalismo brasileiro provoca
náuseas. Porém, a onda de revolta contra
a religião não é apenas nossa. O debate,
que tem ar virtuoso, circula o Ocidente
e é alimentado por vídeos virais e pelas
mídias sociais. O jovem que aparece em
um vídeo no youtube, em uma praça,
dizendo que odeia a religião, mas ama
Jesus tem jeito de herói.
Pergunto-me se existe mesmo virtude
nessa conversa. Haveria a possibilidade
de dar alguma resposta a Jesus e ao
seu amor sem que ela tomasse uma
forma social? O debate é, no mínimo,
inócuo. Não conduz a nenhuma atitude
transformadora, mas a um orgulho
excludente.
O Brasil de hoje precisa levar a
sério a religião. Os protestantes atuais,
dados à iconoclastia e à difamação
indiscriminada uns dos outros, odeiam
esta palavra e tudo o que se relaciona
com ela. A verdadeira espiritualidade
vem sendo proclamada como uma
abstração de tudo. Abstrai-se o viver
em comunidade, pois a forma igreja já
não corresponde ao ideal; assim como
se abstrai o servir, o adorar, a mensagem
da salvação e a Bíblia. Só eu e você não
somos abstraídos. Aliás, continuamos
humanos e cheios de necessidades não
abstratas.
Temos de entender que a não forma
é uma forma. Pregar um evangelho sem
forma cultural alguma, sem nenhuma
proposta institucional, é torná-lo vazio,
Negar a importância dos
símbolos, dos cheiros, dos
sons da mensagem sublime
de Deus, manifesta na
religião, é negar a nossa
condição humana
38. 38 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
Você é a favor do sexo antes do casamento? Queria
saber se posso fazer sexo com minha namorada.
— Lucas, 19 anos
Lucas, a primeira coisa que me ocorre dizer é que quem
pergunta se pode, não pode. É isso que ensino para os jovens
na igreja onde sou pastor. A primeira referência ao assunto
na Bíblia está em Gênesis 2.24. “Deixar pai e mãe” implica
autonomia, isto é, tornar-se adulto, plenamente responsável
por suas ações e respectivas consequências. “Unir-se à
sua mulher” (ou cônjuge) indica um relacionamento
integral, com implicações não apenas físicas, mas também
psicoemocionais, espirituais e sociais, que envolvem
inclusive questões econômicas. “Tornar-se uma só carne”
indica a prática do sexo, não apenas relacionado ao prazer
lúdico do amor, mas também à perspectiva de gerar filhos.
O sexo é para pessoas adultas, emancipadas, responsáveis e
que se assumem integralmente para uma vida comum. Isso
chamamos de casamento. A relação entre um homem e uma
mulher deve caminhar para a integralidade. Há muita gente
casada no cartório que ainda não abandonou pai e mãe, não
se entregou totalmente ao outro e muito menos assumiu
o outro em termos integrais. São dois estranhos vivendo
sob o mesmo teto e dormindo na mesma cama, mas com
vidas paralelas. Vivem em pecado, distantes do propósito
de Deus para o caminho entre um homem e uma mulher.
Há também muita gente praticando sexo, mas vivendo
aquém do propósito de Deus. São apenas dois corpos que
se encontram, mas sem qualquer implicação ou perspectiva
de intimidade e afetividade nas dimensões psicoemocional
e espiritual, as quais denominamos amor. Sexo sem amor é
caminho de dissolução, que leva os praticantes a um estado
de incapacidade de amor denso e à vivência de “amores
aguados”, sem possibilidade de vinculação profunda e
entrega completa. O ideal cristão implica o desafio constante
de integrar sexo, amor e casamento.
O leitor
pergunta
Ed René Kivitz
Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo. É mestre em ciências da religião e autor de, entre outros, O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia www.edrenekivitz.com
O pastor da igreja que frequento quer
fazer um congresso sobre prosperidade.
O que devo fazer?
O que fazer quando a igreja não atende
mais às expectativas, necessidades ou
critérios bíblicos e teológicos mínimos
considerados indispensáveis por você? São
pelo menos três as opções: 1. A maioria
das igrejas tem donos, quer sejam pastores
que a sustentam com seu carisma pessoal
e personalista, ou famílias fundadoras
que geralmente constituem o núcleo de
liderança em modelo feudal. A substituição
da liderança comunitária é um processo
lento, que pode levar anos, e até depender
da mudança de gerações. Há basicamente
dois motivos que justificam a substituição
de uma liderança eclesiástica: falta de
integridade (pecados varridos para debaixo
do tapete) e heresias (desvios doutrinários
de acordo com o consenso da comunidade);
2. Mudar de igreja nem sempre é a solução.
Até mesmo pela falta de opção. É o famoso
“trocar seis por meia dúzia”; 3. Cair em
uma espécie de clandestinidade dentro
da própria comunidade em questão, sem
afrontar ou se rebelar contra a liderança
instituída: desenvolver relações de serviço
mútuo e engajamento em ações diaconais
informais. Longe de ser o ideal, é um
mal menor. Em casos extremos, nada a
fazer senão buscar outro ambiente para a
experiência coletiva da fé. Triste cenário.
Extraordinário desafio esse (inegociável) de
viver em comunidade.
edrenekivitz@ultimato.com.br
Envie sua pergunta para:
Sexo Prosperidade
LizValente
40. 40 ULTIMATO I Março-Abril, 2012
Não vou tomar o
nome de Deus em vão
S
e eu jurar por Deus que
a partir de hoje não
tomarei o santo nome
dele em vão, já estarei
fazendo o que não devo.
Jesus ampliou o terceiro mandamento
da lei de Deus proibindo qualquer
tipo de juramento, seja pelo céu, que
é o trono de Deus, pela terra, que é
o estrado onde ele descansa os pés,
ou por Jerusalém, que é a cidade do
grande rei. De acordo com o ensino
do Mestre, devo dizer simplesmente:
“Sim, eu farei” ou “não, eu não farei”
(Mt 5.34-37). Sendo assim, devo
apenas afirmar cuidadosamente:
“De hoje em diante, com o auxílio
de Deus, não vou usar o nome dele
aventureiramente”.
Reconheço que pronunciar o
nome de Deus não é brincadeira.
Ele não é para ser mencionado a
torto e a direito nem é para ser
repetido mecanicamente; não é uma
interjeição, nem panaceia, nem
talismã. Estou ciente de que não devo
DE HOJE EM DIANTE...
“tomar carona” no nome de Deus para
prometer alguma coisa, receber algo,
me valorizar ou ser ouvido. Tomarei
cuidado com certas expressões, como
“Deus me falou”, “Deus me mostrou”,
“Deus me enviou”.
Ao meu redor quase todos
mencionam o nome de Deus sem o
menor respeito, em novelas, programas
humorísticos, anedotas, brincadeiras,
piadas, pornochanchadas, charges,
mentiras etc. O nome mais alto, mais
santo, mais solene aparece de maneira
totalmente profana na televisão, no
rádio, no teatro, na música e nas
rodas de bebedores. Eu não posso
agir dessa maneira em casa ou no
templo, antes ou depois de orar: “Pai
Nosso, que estás nos céus, santificado
[e não profanado] seja o teu nome”
(Mt 6.9).
Preciso levar em consideração que
esse mandamento foi escrito pelo dedo
do próprio Deus — não no fino pó
que cobre as calçadas, nem em uma
cerâmica ou tabuleta de madeira, mas
em duas tábuas de pedra (Êx 31.18).
Frente a esse mandamento, não me
permitirei usar expressões rotineiras
que tomam o nome de Deus em vão,
como “Valha-me Deus”, “Deus me
livre”, “Deus me acuda”, “Deus me é
testemunha” etc.
Embora quebrassem outros
mandamentos, os judeus eram tão
ciosos dessa terceira obrigação que
só falavam o nome de Deus uma vez
por ano, no grande Dia da Expiação.
Contudo, somente uma pessoa podia
pronunciá-lo (o sumo sacerdote).
Não, de hoje em diante “trancarei”
a minha língua para não usar de forma
leviana e fútil o majestoso nome de
Deus. Essa decisão inclui a citação
de seu nome em orações formais e
adoração hipócrita. Antes de me chegar
aos lábios, o nome de Deus estará de
fato no meu coração (Is 29.13).
Ademais, não posso me esquecer
da cláusula que diz: “O Senhor não
deixará impune quem pronunciar o seu
santo nome em falso” (Êx 20.7).
41. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 41
Fontes da vida
Ramon Goulart
Ramon havia desistido
de gravar, depois de
lançar quatro trabalhos
autorais. É sempre
assim. O artista
independente é um eterno incompreendido.
Porém, movido por sonhos, recomeçou a compor
e sentiu-se desafiado a gravar algo novo. E aí está
um CD eletro soul. Para os arranjos, ele bebeu
nas fontes de Ed Mota, George Benson, Stevie
Wonder e outros “monstros”. A banda tem uma
“pegada” black soul consistente, semelhante à
dos anos 80, mesclada com uma parafernália
tecnológica atualíssima. Ramon adverte os que
ainda ouvirão o trabalho a não comparar Fontes
da vida com nada: “Apenas ouçam, leiam os textos
bíblicos relacionados e ouçam Deus falando com
vocês”. A produção do CD é do próprio Ramon,
que também fez os arranjos. Saiba mais pelo site
www.ramongoulart.com.br
Brasileirar
Sérgio Carvalho
Nos anos 80 e 90, Sérgio
Carvalho participou
de vários festivais na
região de onde vem — o
Centro-Oeste brasileiro
—, algo muito comum à época. Quase 30 anos
depois, ele reúne algumas composições e lança seu
primeiro CD. As canções descrevem momentos
especiais na vida do autor e da nação. A faixa
título, “Brasileirar”, é inspirada no movimento
dos caras pintadas, do começo dos anos 90, que
pediu o impeachment presidencial: “Um novo
quadro surgirá! Com muita fé e esperança, que
são os novos tons: Brasileirar!”. Destaque ainda
para as canções “Segredo de caminhar” e “Tens”.
Gravado e mixado no Estúdio Melodia, em
Brasília, o CD contou com a produção de Ronan
Barros. A arte gráfica é de Rodrigo Paiva e as
fotos, de Karina Viveiros. Contatos pelo e-mail
sergiocarvalho2001@gmail.com
Felipe Silveira
Felipe Silveira
Finalmente saiu o
aguardado trabalho
de Felipe Silveira.
Esperamos que
seja o primeiro de
muitos. Com arranjos na medida certa, o CD é
sonoramente limpo. Os competentes Osmário
Marinho (bateria), Sidiel Vieira (baixo acústico)
e João Alexandre (violão) — pai de Felipe —
somaram-se ao piano do rapaz, que revela grande
maturidade e sensibilidade nas composições
e arranjos. Há canções em parceria com Jorge
Camargo, Stênio Marcius, João Alexandre e
Diego Venâncio. Ademir Júnior (sax) e Bruno
Mangueira (guitarra) fazem participações mais
que especiais. Um CD que precisa ser ouvido,
necessariamente, com tempo e dedicação, na
quietude. Como toda boa arte, não é para ser
consumido, mas fruído. A produção é de Davi
Heller, do Toca de Barro Produções.
Melodia
Rapha Sousas
Rapha Sousas integra
a Vila do Louvor,
ministério da JOCUM
voltado para as artes,
estabelecido em
Piratininga e Pompéia, SP. É um movimento
artístico interessante. Já passaram por lá os
conhecidos Beto Tavares, Raphael Costa
(grande guitarrista), Danni Distler, entre outros.
Rapha é compositor e cantor pop. Este é o seu
primeiro trabalho. Ele define melodia como
“a arte de construir caminhos imaginários na
vida, na esperança de traduzir o futuro em
sons presentes”. É isso que deseja levar com sua
música. Com um total de sete faixas, o CD traz
composições próprias, duas em parceria e uma
canção de Marcela Fernandes, que também
faz participação especial. Produção de Amauri
Muniz e do próprio Sousas. Ouça esse som em
myspace.com/raphaelsousas
NOVOS ACORdESCarlinhos Veiga
YucelTellici
43. Março-Abril, 2012 I ULTIMATO 43
O ambiente humano
MEIO AMBIENTE E fé cristãMarina Silva
cuidar dele (Gn 2.15).
Fez-nos corpo e espírito
(Gn 2.7), portanto, com
capacidade criativa, que nos
permite criar sobre e com
a criação. Assim, temos no
planeta o ambiente natural
e aquele que brotou dos
artifícios humanos. Estes
os cientistas chamam de
cultura material. Quanto
a eles, temos a seguinte
recomendação: “Quando
edificares uma casa nova,
farás um parapeito, no
eirado, para que não ponhas
culpa de sangue na tua casa,
se alguém de algum modo
cair dela” (Dt 22.8).
Os primeiros escombros revelam
nosso pouco cuidado com o ambiente
que produzimos, com as normas
técnicas, com a segurança, com a
durabilidade do que fazemos. Os
segundos, denunciam o pouco cuidado
com as pessoas, com seus direitos, com
sua felicidade. Falhamos na ética do
cuidado na criação de nosso ambiente
humano.
Foi um mau começo para o país que
vai sediar no Rio de Janeiro, entre 13 e
24 de junho de 2012, a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, apelidada de “Rio + 20”.
Esse será um grande evento para se falar
sobre o cuidado com o planeta, com
os recursos naturais e com as pessoas,
e para o qual se espera a participação
do governo de mais de 100 países,
além de membros da sociedade civil.
Serão debatidos temas ambientais,
como segurança climática, segurança
O
Brasil passou a última
semana de janeiro
vendo escombros em
reportagens televisivas
sobre o resgate das
vítimas do desabamento dos três
prédios no centro da cidade do Rio
de Janeiro. Além de sofrermos com
as famílias e torcermos por um final
feliz para cada espera, perguntamos,
em escala nacional, qual seria a causa
da tragédia. Aos poucos a causa foi
ficando clara, pois nenhum fenômeno
natural estava em sua raiz. Não
foi desabamento por chuvas nem
movimento de terras subterrâneas. O
colapso da estrutura de um dos prédios,
provocado por falha humana, era a
explicação.
No mesmo período vimos outras
imagens de escombros. Dessa vez, nas
notícias sobre a ação do governo do
estado de São Paulo na desocupação
de áreas pertencentes à massa falida
da empresa do Grupo Naji Nahas, em
Pinheirinho, São José dos Campos.
Seis mil pessoas foram desalojadas pela
polícia. Máquinas destruíram casas sem
que seus moradores pudessem retirar
delas um garfo sequer, deixando atrás
de si destruição, desolamento, pedaços
estraçalhados de bens. De novo a causa
não foi ventania, furacão ou outra razão
natural, mas a atuação de instituições
oficiais.
De tais escombros se eleva
uma mensagem, uma reflexão. O
Salmo 115.16 diz que Deus nos
deu este planeta. No-lo deu pleno
de vida (Gn 1.22) e de recursos
para satisfazer nossas necessidades
(Gn 1.29-30) e encarregou-nos de
energética, biodiversidade, cidades,
água e oceanos. E também temas de
natureza técnico-econômica, tais como
desenvolvimento sustentável, produção
e consumo sustentável, inovação
tecnológica para sustentabilidade. O
cuidado com as pessoas será expresso
em temas como, segurança alimentar,
migrações, trabalho decente e
erradicação da pobreza.
A ONU se move por valores da
civilização humana, por princípios
erigidos na convivência laica. Qual não
será a responsabilidade dos cristãos,
que têm como guia a Bíblia, na qual
passagens inteiras nos admoestam e
educam quanto ao cuidado? Tomemos
esta como exemplo: “Acaso não vos
basta pastar os bons pastos, senão que
pisais o resto de vossos pastos aos vossos
pés? E não vos basta beber as águas
claras, senão que sujais o resto com os
vossos pés?” (Ez 34.18).
Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.
Os cristãos, que têm como guia a
Bíblia, são admoestados e educados
quanto ao cuidado com o planeta
BijuJoshi