1. Direção e distâncias
em Astronomia
Núcleo de Astronomia Galileu Galilei
Agrupamento de Escolas Dr. Correia Mateus – Leiria
2. A esfera celeste
A astronomia é uma ciência essencialmente observacional, ao contrário de
outras ciências físicas que utilizam o método experimental. Apesar de a
astronomia actual não se limitar à observação e catalogação dos objectos
observados, esta ciência foi no seu início quase exclusivamente observacional,
assim se mantendo durante séculos ou mesmo milénios. Na verdade desde
cedo se tornou necessário o registo das direcções dos objectos que iam sendo
observados em número cada vez maior. Para isso, isto é, para efectuar o
registo dessas direcções, considerou-se vantajoso utilizar uma esfera de raio
arbitrário, a esfera celeste, ocupando a Terra (o observador) o seu centro. Os
objectos astronómicos supõem-se projectados nesta esfera.
3. Na superfície da esfera celeste, para além de se assinalarem as
posições dos objectos observados convém igualmente localizar alguns
pontos de referência importantes, de entre os quais se destacam:
o pólo norte celeste (PNC) e pólo sul celeste (PSC) que resultam
da intersecção do eixo de rotação da Terra com a superfície da esfera
celeste;
o zénite (Z) e o nadir (N) que resultam da intersecção da superfície
da esfera celeste com a vertical do observador - o zénite fica acima do
observador (e daí, visível), o nadir, por ficar abaixo do observador é
invisível.
4. Por outro lado, da intersecção de alguns planos de referência com a
esfera celeste podem resultar:
círculos máximos, se os planos passarem pelo centro da esfera;
círculos menores, se os planos não passarem pelo centro da
esfera.
De entre os planos, ou círculos correspondentes, assumem maior
importância os seguintes:
o equador é o círculo máximo ortogonal ao eixo de rotação da Terra;
5. um círculo horário é qualquer círculo máximo, cujo plano
correspondente contém a direcção do eixo de rotação da Terra, isto é
a direcção PNC - PSC;
o meridiano de um lugar é o círculo horário cujo plano contém a
vertical do lugar, e que portanto intersecta o plano do horizonte
segundo a direcção Norte - Sul;
paralelo é qualquer círculo menor que resulta da intersecção da
esfera celeste com um plano paralelo ao equador;
o horizonte é o círculo máximo ortogonal à vertical do lugar;
6. círculo de altura é qualquer círculo menor resultante da intersecção
da esfera celeste com um plano paralelo ao horizonte;
um círculo vertical é qualquer círculo máximo cujo plano
correspondente contém a direcção da vertical;
o primeiro vertical é o vertical ortogonal ao plano do meridiano e
portanto intersecta o horizonte segundo a direcção Este - Oeste.
Estes pontos e planos (ou círculos) de referência servem para
caracterizar alguns dos sistemas de coordenadas mais utilizados em
astronomia.
7. A direção dos Astros
Sistemas de coordenadas
Os sistemas de referência podem ser classificados de acordo com a
localização da sua origem. De entre as diversas possibilidades
destacam-se as seguintes:
um referencial chama-se topocêntrico se a sua origem coincide com
a posição do observador à superfície da Terra;
um referencial é designado por referencial geocêntrico quando se
escolhe para origem o centro da Terra;
um referencial para o qual a origem adoptada é o centro do Sol é
designado por referencial heliocêntrico.
8. Para localizar pontos na superfície de uma esfera (a esfera celeste),
duas coordenadas esféricas são necessárias e suficientes para definir
a posição desses pontos. Assim, os sistemas de referência
astronómicos ficam completamente caracterizados quando é definido o
seu plano fundamental, o qual determina univocamente a direção
fundamental, que é a direcção perpendicular ao plano fundamental.
Na Terra, o sistema de coordenadas geográficas (esféricas) tem o
plano do equador como plano fundamental, sendo a direcção
fundamental a direcção do eixo de rotação.
9. O sistema equatorial celeste
Para resolver o problema levantado no sistema de referência
equatorial local, quanto à dependência de uma das suas
coordenadas com o observador, considera-se um outro plano que,
tal como o equador, é também independente do local de
observação. esse plano é o plano da órbita da Terra, isto é, o plano
definido pelo centro do Sol e o pelo vector velocidade heliocêntrica
do centro de massa do sistema Terra - Lua. É o chamado plano da
eclíptica.
10. Este plano faz um ângulo e com o plano do equador, designado por
obliquidade da eclíptica e cujo valor é 23,5º. A intersecção entre o
plano do equador e o plano da eclíptica define uma direcção, que é
naturalmente independente do observador, a linha dos equinócios,
que por sua vez determina, na superfície da esfera celeste, a posição
do equinócio da Primavera e do equinócio do Outono.
11. O equinócio da Primavera, também designado por ponto vernal (γ), é
o ponto em que o Sol, no seu movimento aparente, atravessa o plano
do equador de Sul para Norte. O equinócio do Outono é, naturalmente,
o ponto em que o Sol, ao efectuar aquele movimento, atravessa o
plano do equador de Norte para Sul. Ficam assim igualmente definidos
sobre o plano da eclíptica os pontos dos solstícios que distam 90º dos
pontos dos equinócios.
12. Considerando então um sistema de referência em que o plano
fundamental continua a ser o equador e em que a origem da segunda
coordenada, a que é medida sobre o equador, é o ponto vernal,
obtemos um sistema de coordenadas independente do local de
observação. este sistema de referência a que se dá o nome de sistema
equatorial celeste, é semelhante ao sistema equatorial local, tendo em
comum uma das coordenadas, a declinação δ. No entanto, a
coordenada medida sobre o equador é contada a partir de uma nova
origem, o ponto vernal γ, que é independente do observador. Esta
coordenada tem o nome de ascensão reta, representa-se por a, e é
medida em sentido oposto ao de H, isto é, em sentido directo. A
ascensão recta α, tem valores no mesmo intervalo que o ângulo horário,
isto é:
0h ≤ α ≤ 24h
13.
14. Uma vez que no sistema equatorial celeste as coordenadas são
independentes da posição do observador, as coordenadas de uma
mesma estrela são constantes neste referencial. Este facto tem
inúmeras vantagens. Em particular permite:
elaborar catálogos de estrelas e galáxias, por exemplo, utilizáveis por
qualquer observador;
comparar observações independentes, isto é, efectuadas por
diversos observadores em diferentes locais de observação.