Revista mensal com os melhores artigos, reportagens e entrevistas na área do desenvolvimento, comportamento e educação das crianças, desde a gravidez até à adolescência.
1. Só o instinto não chega
MÁRIO CORDEIRO FÉRIAS E PAIS SEPARADOS HISTÓRIA DE GONÇALO M. TAVARES
PARENTALIDADE CONSCIENTE EXERCÍCIO NA GRAVIDEZ RECEITAS VEGETARIANAS
N. 295
agosto 2015
CESARIANA
HUMANIZADA
O que está
a mudar?
EDUARDO SÁ
Instruções para
uma criança feliz
VACINAS
Sempre em dia
A importância
dos primeiros
1000 dias
COMO COMBATER
O CALOR
GRÁVIDA
NO VERÃO
ALIMENTAÇÃO
FÉRIASsemospais
primeiras
10 IDEIAS
para umas férias
inesquecíveis
as crianças também podem meditar
parar
HORA DE
INCLUIABC das DOENÇAS INFANTIS(Volume 2)
www.paisefilhos.pt
5. www.paisefilhos.pt 3
00
00
sumário
MINDFULNESS
AGOSTO
97
LIFESTYLE
90
HISTÓRIA
88
LER
84
ROTEIRO
82
VIAGEM
78
BELEZA
63
CADERNOS
72
RECEITAS
60
SHOPPING
Sabe quais são os benefícios desta prática?
Crianças e jovens mais atentos e empáticos podem ser mais felizes.
edição 295
14
22 32
Grávida no verão
Como enfrentar o calor
Bebé
Os primeiros mil dias
54
38
44
Entrevista
Shefali Tsabary
Férias inesquecíveis
Ideias para fazer uma vez na vida
Moda
Em viagem
Mães como nós
Carolina Patrocínio
Vacinas
Tudo o que deve saber
Adolescentes
De férias sozinhos
48
Cesariana
É possível humanizar
26
CRÓNICAS: 12 Eduardo Sá 20 Mário Cordeiro 3O Sónia Morais Santos 36 Isabel Stilwell 42 Enrique Pinto Coelho
7276
58
6. 4 Pais&ilhos agosto2015
editorial Parar… e saborear
A
s férias são o tempo ideal para
quebrar rotinas, experimentar
desaios e cumprir promessas.
E, assim, partir à aventura, fazer
descobertas e criar cumplicida-
des. Que podem estar ali à mão, sem neces-
sidade de percorrer milhares de quilómetros,
frequentar resorts de luxo ou programas cul-
turais exaustivos. Mais à frente, como inspira-
ção, deixamos 10 ideias “simples”, mas muitas
mais haverá para testar, repetir ou inventar à
“medida” do humor e do destino de cada um.
De preferência, simples. Do banho de lua ao
passeio-mistério, da dança das cadeiras à festa
branca, do concurso de fotograia ao desile de
máscaras, do “esconde-esconde” ao “adivinha
quem sou…” Ah! E se a viagem for longa não se
esqueça de alguns truques “infalíveis” como o
jogo das cores, das palavras, dos personagens
ou das matrículas...
Há momentos especiais – como as férias – que
é obrigatório “celebrar” em família. Mesmo que
seja de modo simbólico ou fugaz. Porque esque-
cer os horários e desfrutar de uma companhia
de “luxo” 24 horas por dia é um momento cada
vez mais escasso que não convém desperdiçar.
E porque o descanso é merecido e retempera-
dor (para todos!) e, mais do que isso, capaz de
verdadeiros milagres. Com bom senso, alguma
imaginação e, sobretudo, boa disposição, verá
que é possível passar uns dias, no mínimo, dife-
rentes. E torná-los inesquecíveis… para todos.
Tempo de férias também é, por excelência,
tempo para parar… e – porque não? – pensar.
Nos dias alucinantes que correm, com pressões
e solicitações constantes, cada vez mais há
quem sinta necessidade de abrandar o ritmo
e… meditar. Para gerir os pensamentos e de-
cifrar as emoções, acalmar a mente e conhe-
cer o corpo, eliminar as mágoas do passado e
viver as dádivas do presente. Moda ou não, a
verdade é que a meditação (e, em particular o
mindfulness) parece ter vindo para icar, livran-
do-se, aos poucos, do seu cunho meramente
esotérico ou místico.
Ainal, a “mindfulness revolution” que (talvez
na altura surpreendentemente) anunciava a
“Time” há pouco mais de um ano parece mesmo
estar aí. E a prática com 2500 anos de existên-
cia que nos habituámos a associar a monges
budistas e a personagens hippies continua a
ultrapassar barreiras e a conquistar adeptos
no mundo ocidental (por alguma coisa, empre-
sas como a Google e a General Mills incluem
programas de mindfulness e liderança para os
seus funcionários).
No meio de toda esta “revolução”, também as
crianças começam a ser convidadas a treinar
o “poder da mente” e, assim, a tornar-se “me-
lhores pessoas”. Porque, também elas, sentem
necessidade de abrandar, sentir... e fazer uma
coisa de cada vez. Dizem os entendidos que
a prática da atenção plena, quando cultivada
desde cedo, no início da vida, dará “bons frutos”
mais tarde. Dalai Lama garante mesmo “que
se todas as crianças com oito anos aprendes-
sem meditação, eliminaríamos a violência do
mundo numa geração”. Arrojado? Talvez. Na
dúvida, experimente abrandar... e saborear o
momento. Agora.
José Manuel Silva
[bastonário da Ordem
dos Médicos]
“A legislação que
concede o direito à
amamentação das
mulheres levanta
alguns problemas e é
geradora de algumas
desigualdades entre
as mulheres”
Maria Barroso, in
jornal I, Maio de 2015
“Devemos colocar
o melhor de nós na
formação das mentes
dos mais jovens, cabeças
que são constantemente
perturbadas pela
violência dos nossos
tempos”.
Também as crianças começam a sentir
necessidade de abrandar, sentir e fazer
uma coisa de cada vez
Helena Gatinho
[diretora]
Eles dizem...
Débora,
fotografada por
Marta Barreiro
8. Notícias
6 Pais&ilhos agosto2015
bloco de notas
6 Pais&ilhos
PRÉ-ESCOLAR PARA TODOS
a partir dos quatro anos
A partir do ano letivo 2016/2017, as
crianças que atinjam os quatro anos
terão direito a um lugar na rede de
estabelecimentos públicos de ensino
pré-escolar. É, assim, estabelecido o
regime de escolaridade obrigatória para
as crianças e jovens que se encontram
em idade escolar, consagrando-se a
universalidade da educação pré-escolar
para as crianças a partir dos quatro
anos de idade. A garantia de ensino
pré-escolar público abrangia apenas
as crianças a partir dos cinco anos.
O Governo tem agora seis meses para
implantar as novas normas, o que
signiica que as crianças que atinjam
os quatro anos no início do ano letivo
de 2016/2017 serão as primeiras a
beneiciar desta alteração.
Os homens já podem desfrutar de um período de 15
dias úteis após o nascimento do bebé, o que traduz
um aumento de cinco dias em relação à versão
antiga da lei das licenças obrigatórias parentais.
Esta alteração ao Código do Trabalho, na prática,
signiica que os homens icam em casa três semanas
após o parto. Para além do aumento dos dias úteis
de licença parental masculina, todas as outras
regras são mantidas: o pai deve usufruir da licença
nos “30 dias seguintes ao nascimento do ilho”,
cinco dos quais “gozados de modo consecutivos
imediatamente a seguir” ao nascimento. As
alterações agora aprovadas na especialidade
necessitam da promulgação do Presidente da
República antes de entrarem em vigor.
TRÊS SEMANAS DE LICENÇA
para pais
Sabia que o humor e a boa disposição ajudam as crianças
com menos de 18 meses a aprenderem mais depressa? A
garantia é dada por psicólogos franceses da Universidade
de Descartes. Para os investigadores, a base deste
fenómeno pode ser química. “As emoções positivas têm
um efeito na libertação de dopaminas e endorfinas a nível
cerebral e sabe-se que estes dois compostos influenciam
a capacidade de aprendizagem de forma positiva”. Outro
bom efeito é o aumento da capacidade de resolução
de problemas e da flexibilidade cognitiva. “O riso é um
estimulante da aprendizagem”, concluem.
O poder do riso
FAMÍLIA
9. www.paisefilhos.pt 7
Mais instruídas e preparadas proissionalmente do que as gerações
que as precederam, altamente dependentes das novas tecnologias
para funcionar no quotidiano e preparadas para mudanças
fundamentais a partir do momento em que nascem os ilhos. Assim
são, de acordo com o estudo “Millenial Mums: he Mothers of
Invention”, as mulheres que hoje têm entre 25 e 34 anos. O projeto
de investigação é da agência de meios Initiative e foi desenvolvida
em 19 países. Os dados mostram que 41 por cento das inquiridas
já tem ilhos e que 12 por cento planeia vir a ser mãe nos próximos
cinco anos. As “Mães Milénio” reconhecem que fazem parte de uma
geração mais preparada e mais instruída que todas as anteriores e
por isso assumem um papel muito mais exigente perante a vida, quer
a nível pessoal, quer a nível proissional.
Para quem foi pensado o “Explorar
Lisboa”?
Para todas as famílias curiosas. Mas também
é uma ótima ferramenta para educadores ou
uma boa opção para um grupo de amigos.
Também vocês, os criadores desta
ideia, são “exploradores proissionais”?
Podemos dizer que sim! Eu, a Márcia e o
Francisco temos esse bichinho explorador
connosco. Somos inquietos e queremos passar
este gosto aos nossos ilhos, familiares e
amigos. Foi assim que nasceu a I Play My City.
Como foi o desaio de preparar estes
percursos? Muito divertido?
Divertimo-nos muito a pesquisar as atividades
e a pensar na perspetiva dos mais pequenos,
mas também a encontrar conteúdos para
que os mais crescidos pudessem participar
ativamente. O Explorar Lisboa não é só para
crianças.; também nós aprendemos muito.
Como pode o “Explorar Lisboa”
promover tempo de qualidade para as
famílias?
O “Explorar Lisboa” é um jogo de equipa. Há
espaço para todos. Para os mais crescidos
ensinarem canções aos mais pequenos, para
descobrirem curiosidades, para fazerem
corridas pelos miradouros, parar rirem, para
desenharem em conjunto, para tirarem fotos,
no fundo para fortalecerem relações e criarem
laços. O “Explorar Lisboa” promete criar uma
dinâmica de entreajuda e partilha e usa os
espaços que nos rodeiam como território de
brincadeira e aprendizagem.
Maria Baeta
[fundadora I Play My City]
“MÃES MILÉNIO”
Mais instruídas
e dependentes das tecnologias
Bebés descalços e felizes
Os bebés que são deixados
descalços tendem a ter melhores
experiências de aprendizagem
e a serem mais felizes. Para os
cientistas da Escola Universitária de
Enfermaria, Fisioterapia e Podologia
da Universidade Complutense de
Madrid, todas as crianças a partir
dos sete meses deveriam andar
regularmente descalças, já que os
pés são uma ferramenta cognitiva
importante e, por vezes, mais eficaz
que as mãos. O calçado, explicam,
impede de receber estímulos físicos
e sensoriais, adiciona um peso
excessivo, trava os movimentos
e pode mesmo causar lesões..
10. Notícias
8 Pais&ilhos agosto2015
bloco de notas
A espécie humana está cada vez mais alta e
mais inteligente, revelam os resultados de uma
avaliação de mais de 100 estudos realizados em
todo o mundo. Na base desta evolução parece
estar a riqueza genética que resulta da mistura
entre populações e etnias, que é cada vez mais
comum. Os investigadores da Universidade de
Edimburgo analisaram a saúde e a informação
do ADN de mais de 350 mil pessoas, distribuídas
entre comunidades urbanas e rurais. A equipa
descobriu que uma maior diversidade genética
está relacionada com um aumento médio da
altura, melhores habilidades cognitivas e níveis
mais elevados de educação. O estudo foi publicado
na revista “Nature” e foi inanciado pelo Conselho
de Investigação Médica do Reino Unido.
Mais altos
E INTELIGENTES
PAIS
As vantagens de um marsúpio são evidentes: permite
que os pais se movimentem com liberdade, mantendo
em simultâneo, o conforto para o bebé. Além de prático
e versátil, acompanha o seu crescimento, permitindo
manter o contacto próximo e prolongado com os pais de
modo a sentir-se mais protegido e seguro. Especialmente
nas primeiras semanas de vida, quando mãe e ilho ainda
têm presente na memória a relação intensa que viveram
durante a gravidez, a utilização do marsúpio revela-se
muito importante precisamente pela proximidade que
proporciona. Para a mãe, a utilização do marsúpio tem um
efeito positivo, imediato e duradouro. Manter o bebé em
contacto próximo durante algumas horas, todos os dias,
favorece a sua afetividade para cuidar do bebé e aumenta
a coniança na sua capacidade de gerir, compreender e
satisfazer as necessidades do seu ilho. Também para o pai,
o marsúpio torna-se num fabuloso aliado porque permite a
proximidade física com o bebé, reforçando assim os laços de
cumplicidade e afetividade. Esta experiência produz efeitos
positivos para ambos pois um simples passeio torna-se num
momento especialmente íntimo e único entre pai e ilho.
Durante os primeiros meses, o bebé deverá ser sempre
transportado virado para a mãe/pai por ser a posição mais
confortável e adequada à sua isionomia e a que protege
e apoia a sua cabeça. É sempre importante lembrar que
periodicamente se devem fazer pausas, retirando o bebé
e pegando-lhe ao colo. Os bebés precisam de mudar de
posição com frequência, sobretudo nas primeiras semanas
de vida.
UM MARSÚPIO PARA FICAREM
MAIS JUNTINHOS
O observatório Chicco acompanha o desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida,
com a colaboração de mães, médicos, especialistas em puericultura, associações e creches,
para propor produtos simples e seguros para cada fase do crescimento. www.chicco.pt
B Ó
Demasiada supervisão adulta limita a necessária
exploração de limites. Os receios sobre a insegurança
sobrepõem-se, cada vez mais, às “brincadeiras livres”
mas, de acordo, com investigadores canadianos,
arriscar sem supervisão adulta não só é divertido como
importante para o desenvolvimento das crianças e jovens.
Os especialistas da Escola de Saúde Pública da
Universidade da Colúmbia Britânica garantem que as
crianças que são autorizadas a brincar em algumas
situações “de risco” apresentam um maior nível de
atividade física e ganham competências sociais
acrescidas. “Quando não há nenhum adulto por perto,
elas aprendem a negociar umas com as outras, a
darem- -se bem e a criarem regras próprias, utilizadas
para cimentar as redes de amizade”, garante Mariana
Brussoni, uma das líderes da pesquisa. A especialista
recorda que são este tipo de brincadeiras “que ficam na
nossa memória para sempre”.
Brincadeiras arriscadas
são importantes
11. MÃES QUE “SEMEIAM”
bactérias boas nos bebés
Uma nova tendência nos cuidados neonatais, surgida
na Austrália, está a ganhar cada vez mais adeptos,
embora o número de críticos seja tão grande como
o de defensores. Trata-se de realizar o “seeding”
(ou “semear”, em tradução livre) ao bebé nascido
por cesariana. E como é que isso se faz? Expondo o
recém-nascido que não teve oportunidade de passar
pelo canal de parto, às bactérias boas presentes no
luido vaginal da mãe. Dizem os adeptos que assim é
possível fazer a colonização bacteriana necessária ao
aumento da imunidade. Há muito que é sabido que
os bebés nascidos de parto vaginal recebem cerca
de 300 bactérias boas à medida que percorrem o
caminho até ao exterior. E são essas bactérias que os
ajudam a defenderem-se de muitos microrganismos
prejudiciais. Os que nascem via cesariana são
privados desta exposição. As australianas solicitam o
“seeding” nos primeiros minutos de vida, através de
um esfregaço vaginal que é passado nos lábios, face e
corpo do bebé.
PUB
Quem dá voltas à cabeça para ocupar as crianças durante
o verão pode ir já preparando a agenda para mais uma
semana. De acordo com informação divulgada pelo
Ministério da Educação, no próximo ano letivo as escolas
estão autorizadas a abrir entre os dias 15 e 21 de setembro.
Isto significa sete dias a mais de “férias grandes”.
De acordo com o calendário estabelecido pelo ministério, o
primeiro período começa entre os dias 15 e 21 de setembro
e termina a 17 de dezembro. O segundo vai de quatro de
janeiro de 2016 a 18 de março. E o terceiro período de quatro
de abril a três de junho (para os 9.º, 11.º e 12.º anos), nove de
junho (do 1.º ao 8.º anos e também 10.º ano), um de julho (pré-
escolar) e 12 de julho (4.º e 6.º anos).
Mais uma semana de férias
FAMÍLIA
12. 10 Pais&ilhos agosto2015
bloco de notas
A cantora norte-americana Carrie Underwood, mãe de um bebé de quatro meses, viu o
carro acabado de estacionar trancar automaticamente as portas com o filho no interior
e, após várias tentativas, acabou por ter que partir um dos vidros para entrar. O site
“Today” lançou entretanto uma campanha com dicas para evitar este tipo de situações:
Sempre que o bebé viajar no banco traseiro coloque um brinquedo, o saco das fraldas
ou outro objeto pessoal no banco dianteiro. Isto servirá como um ‘lembrete’ do pequeno
passageiro, que poderá ser novo demais para se manifestar ou estar a dormir.
Se o problema não for esquecimento mas sim um veículo trancado chame de imediato
o 112, mesmo que, entretanto, o bebé seja retirado do interior. O golpe de calor e/ou a
desidratação podem acontecer muito rapidamente.
Enquanto espera por socorro, cubra os vidros com uma peça de roupa ou outro material
que sirva de barreira aos raios solares, travando o aumento da temperatura no interior.
Se perceber o bebé assustado ou com sinais de prostração, quebre uma das janelas.
O bebé ficou no carro! O que fazer?
É comum durante o período de férias as famílias
fazerem viagens mais longas de carro, para ir
para a praia, para o campo ou para o local onde
vão passar alguns dias. Nestes dias, de grande
animação, parece que nada pode correr mal. Mas,
para que tal aconteça tenha em conta o seguinte:
Todas as crianças e adultos devem utilizar o cinto de
segurança bem colocado e sem folgas. As crianças,
até pelo menos 1,35m de altura, devem usar também
uma cadeirinha adequada à sua idade, tamanho e
peso, bem instalada no automóvel.
As bagagens devem ser bem acondicionadas pois,
em caso de acidente, os objetos soltos podem causar
lesões graves nos passageiros. Se não couberem na
bagageira ou no porta-luvas, prenda-as com os cintos
de segurança livres. Transporte os animais em caixas
próprias, na bagageira ou presos com o cinto, com
sistemas adequados.
Faça paragens frequentes. Escolha locais afastados
do trânsito e tire as crianças das cadeirinhas para
mudarem de posição, descansarem, brincarem, etc.
Dê-lhes água para evitar que desidratem.
Em caso de avaria ou acidente vista o colete refletor
antes de sair do carro. Comece por ligar as luzes
de perigo (quatro piscas) e colocar o triângulo de
sinalização e ligue para o 112 ou para a polícia.
Verifique se há feridos, ajude-os a manter a calma e
evite mexer-lhes até chegar o socorro. Não retire os
passageiros do automóvel e mantenha as crianças
nas cadeirinhas exceto se este estiver num local de
risco ou houver possibilidade de um incêndio.
APSI – Associação para a Promoção da Segurança Infantil
www.facebook.com/apsi.org.pt
www.apsi.org.pt | apsi@apsi.org.pt | 21 884 41 00
Viagens em família
DICAS DE SEGURANÇA
Falta de dilatação, cordão umbilical enrolado no pescoço,
cesariana prévia e bacia estreita. Nenhum destes motivos é
considerado, pela Federação Brasileira das Associações de
Ginecologia e Obstetrícia, como justiicativos, à partida, para
a realização de uma cesariana. De acordo com James Cadidé,
da Comissão de Parto daquela instituição, só existem duas
indicações absolutas para o parto cirúrgico: a desproporção
céfalo-pélvica e a apresentação prévia da placenta.
A desproporção ocorre aquando a ossatura da bacia da
mãe é incompatível com a da cabeça do bebé ou em casos
em que o bebé tem a cabeça maior que a regra, devido a
problemas de saúde como hidrocefalia ou diabetes. No caso
da apresentação prévia da placenta, o parto normal não
acontece devido à “tampagem” do canal de parto.
De acordo com James Cadidé há ainda indicações relativas
para a cesariana, ou seja, dependem da avaliação do médico,
como: sofrimento fetal quando a mulher não tem dilatação
completa, descolamento prematuro de placenta, placenta
prévia com sangramento intenso, distocia (complicações
que atrapalham ou impedem a passagem do bebé), herpes
vaginal ativa (por conta do risco de desenvolver cegueira no
bebé) e mãe portadora de HIV.
PARTO
CESARIANAS
apenas em dois casos
foi o aumento de criançs
nscids em Portugal entre
janeiro e junho de 2015
2,8%
14. crónica Porque sim não é resposta
12 Pais&ilhos agosto2015
O
s pais tão depressa reconhecem que a sua infância terá sido mais livre, mais
amiga do brincar, menos atolada em compromissos e mais feliz como, ao mesmo
tempo que não fazem tanto como deviam para replicarem essa “fórmula de
sucesso”, repetem (de forma exaustiva) que quase tudo seria diferente na relação
com os seus ilhos se eles nascessem equipados com manuais de instruções.
Não serão estes pais escolarizados tentadoramente tecnocráticos? E se ainda hoje guardam
a infância como um período feliz, isso deve-se ao bom manual de instruções que os seus pais
seguiram a preceito ou ao modo como tiveram tempo para ser crianças, com a ajuda preciosa
que isso representa para cicatrizar trapalhadas e engendrar paixão pela vida e engenho para
crescer? Seja como for, se a desculpa passa por não haver um “manual de instruções”, vamos lá
imaginar um, mais ou menos clandestino, para que não haja mais desculpas...
1. Nunca estamos preparados para ser pais. As crianças dão imenso trabalho. Só crescemos com
elas quando somos obrigados a crescer. E nada é fácil para os pais.
2. Nunca se educa só por instinto (materno ou paterno). Mas quando se educa “by de book”
todas as crianças se estragam.
3. As crianças precisam de tempo para crescer. E precisam de (muitas) oportunidades para
aprenderem a ser crianças!
4. Todas as crianças são inteligentes. E se, hoje, elas parecem mais espertas, é porque os pais,
quando os ilhos são pequeninos, as estragaram muito menos.
5. Todas as crianças saudáveis são de ideias ixas e são teimosas. A teimosia depende, de forma
direta, do modo como elas sentem que o pai ou a mãe ora se zangam, como deviam, ora hesitam
e se encolhem, quando se trata de lhes dizer: “Não!”. São, portanto, precisos ritmos, regras e
rotinas coerentes e constantes para crescer.
6. Todas as crianças sabem o que querem. Se o não manifestam, e são certinhas, é porque
têm medo de contrariar os pais. Já aquelas que parecem ter uma “personalidade forte” estão a
transformar-se, contra a vontade de todos, em chefes da família. E isso só lhes faz mal!
7. Todas as crianças precisam de brincar duas horas, todos os dias, depois do jardim de infância
ou da escola. Brincar é tempo livre! Tempo gerido por elas, sob o olhar atento de um dos pais ou
dos avós.
8. Os brinquedos não têm sexo. Não é a forma como os rapazes brincam com bonecas ou as
raparigas com carrinhos que estraga as crianças na sua relação com a identidade. Mas o modo
como o pai e a mãe se dão como modelos, com equívocos (levando a que nem sempre apeteça,
quando se cresce, ser como eles), ajuda a isso.
9. Todas as crianças precisam de correr, de falar alto, de se mexer e de imaginar. Transformar
vídeos, telefones, tablets ou computadores em babysitters, todos os dias e a todas as horas, faz
mal à saúde das crianças.
10. Para serem felizes, as crianças precisam de estar tristes. Crianças que podem estar tristes
são crianças mais seguras.
11. Sempre que uma criança está triste, os pais estão proibidos de perguntar porque é que ela
Para serem felizes, as crianças precisam de estar tristes.
Crianças que podem estar tristes são crianças mais seguras
Manual de instruçõesEduardo Sá
[psicólogo]
para uma criança feliz
15. www.paisefilhos.pt 13
está assim. Mas se lhe derem um bocadinho de corpo de mãe ou de pai (sem palavras!) a tristeza
delas leva a que cresçam melhor.
12. As crianças não crescem felizes à margem da autoridade dos pais. Os pais saudáveis dão
com uma mão e exigem com a outra. Não explicam todas as regras nem as justiicam, mas
exigem em função dos exemplos que dão. Sem nunca falarem demais!
13. As crianças felizes têm nas birras o “último grito” duma “prova de vida”. Signiica que têm
pais atentos mas que não são nem ameaçadores nem tirânicos. Por mais que uma birra não
possa ter muito mais de 10 minutos!
14. Crianças felizes não se transformam em metas curriculares para os seus pais.
15. A família ensina mais que a escola e brincar é tão indispensável como aprender. Logo,
crianças que, para além da escola, se desdobram em atividades extra-curriculares e trabalham
das oito às oito, crescem infelizes e com pouca amizade pelo conhecimento.
16. Crianças felizes ligam orgulho, esperança e humildade. São valorizadas por aquilo que fazem
bem, são corrigidas sempre que se enganam e repreendidas logo que não tentam.
17. As crianças não são o melhor do mundo, para os pais, se as relações amorosas adultas, que
eles tiverem, viverem, unicamente, à sombra delas.
18. As crianças precisam de mãe e de pai para crescer. Pais que convivam, mesmo que não
coabitem. E ganham se os sentirem, diariamente, atentos e participativos.
19. O pai e a mãe não estão sempre de acordo. E isso torna as crianças mais saudáveis! O desacordo
dos pais está para o seu crescimento como o contraditório para o exercício da justiça.
20. As madrastas ou os padrastos, quando os há, nunca são tios! São segundos pais! Devem,
portanto, dar colo, exercer a autoridade e promover a autonomia como só os bons pais sabem
fazer!
21. Os avós devem “estragar” as crianças com mimos. Quanto mais os avós interpelam os pais,
mais as crianças crescem saudáveis.
22. Os bons pais estão autorizados a não se zangarem um com o outro à frente das crianças! Por
mais que isso não adiante quase nada. Na medida em que, por maiores que sejam os seus cuidados,
as crianças nunca deixem de sentir se eles estarão ligados um ao outro, amuados ou, até, birrentos.
23. Os bons pais não se desautorizam um ao outro, diante das crianças. Se bem que elas
reconheçam que, sempre que a mãe e o pai discordam, a propósito delas e seja acerca do que for,
é impossível que alguém ique indiferente.
24. Os bons pais erram! Esganiçam-se, têm “ataques de nervos” e “passam-se”! Tirando os pais
que fazem de Dupont e Dupond, e aqueles que nunca se enganam e raramente têm dúvidas,
todos os os outros são bons pais! Sobretudo, quando assumem, com lealdade, que aprendem
sempre que se reconhecem num erro.
25. Os bons pais adoram os ilhos e adoram estar sem eles! Mas os bons pais não podem viver
os seus tempos sequestrados pelos tempos dos ilhos. Pais que namoram todos os dias são
melhores pais! Pais que coniam os ilhos à guarda dos avós ou dos tios, uma vez por mês, ao im
de semana, amam-nos mais!
26. Os bons pais reconhecem que, todos os dias, há 200 minutos, que separam as crianças
da felicidade: 30 minutos de ilho único de mãe ou de pai, depois da escola; 120 minutos para
brincar, todos os dias; 30 minutos para jantar, sem televisão; 20 minutos para namorar com a
vida e para contar uma história, antes de adormecer.
27. Crianças felizes gerem cabeça, coração, corpo e alma; pais, irmãos, avós, tios e amigos;
escola e brincar. Têm dores, têm medos, têm sonhos e projetos. E tudo isso ao mesmo tempo!
Mas não são felizes se precisarem de ser “as melhores do mundo”. Para serem felizes, basta que
sejam um bocadinho do melhor que há no mundo para quem só lhes quer bem.
Os bons pais erram! Esganiçam-se, têm “ataques de nervos” e “passam-se”!
Tirando os pais que fazem de Dupont e Dupond, e aqueles que nunca se enganam
e raramente têm dúvidas, todos os os outros são bons pais!
16. 14 Pais&ilhos agosto2015
aquie agora
M
indfulnesséumatécnicade
meditação que nos ajuda a
afastarmos todos os pensa-
mentosqueestãoaomesmo
tempo na nossa mente e a
concentrarmo-nosnaquiloqueestamosafazer
no momento presente”. Quem o diz é Catarina,
uma criança com apenas 11 anos, que frequen-
tou o curso Mindfulness para Jovens, no Cen-
tro BudaDharma, em Lisboa. Catarina gostava
muitode“continuaraaprenderMindfulnessna
aquiescola, porque ia ajudar-nos a ter mais sucesso,
a diminuir o stresse dos exames, a estarmos
menos ansiosos e a icarmos mais tranquilos
e concentrados”. Mesmo com poucas sessões,
reconhece que já sentiu resultados: “Quando
estava a preparar-me para os exames do sexto
ano, pratiquei Mindfulness antes de estudar.
Normalmente sou distraída e desconcentrada
e aprendi a focar-me mais e até descobri que
tenho muito mais memória do que pensava!”
O desejo de Catarina já é realidade num nú-
mero crescente de escolas em todo o mundo,
que reconhecem os benefícios da introdução
desta prática desde cedo.
Carla Martins, doutorada em Psicologia e com
formaçãonaáreadeMindfulnessparacrianças
Prática diária
Cerca de 15/20
minutos durante
oito semanas.
Aí começa a
transformação
Mindfulness. Já ouviu falar? É uma
prática budista ancestral que a ciência
veio agora validar. Os benefícios para
as crianças são surpreendentes. Vale a
pena parar e ler com atenção… plena.
[texto] Ana Soia Rodrigues [fotograia] Marta Barreiro
tema de capa Mindfulness
17. www.paisefilhos.pt 15
João Palma
“A prática implica
parar e passar do
modo fazer para o
modo estar. Quando
pratico Mindfulness
eu crio uma âncora,
se não a minha
mente andava
dispersa. A minha
âncora é o corpo, a
respiração e os cinco
sentidos”.
eadolescentes,destacaasprincipaisvantagens
estudadas:“Ascriançasquecompletamospro-
gramas de Mindfulness demonstram maior
capacidadedeatenção;menoransiedadeemais
capacidade de se manterem calmos; aumento
da consciência do seu corpo, pensamentos e
emoções, o que melhora a capacidade de ges-
tão emocional e mental perante situações de
stresse e desaio; melhoria nas relações inter-
pessoais com aumento da compaixão, genti-
leza, paciência, controlo de impulsos reativos
e redução do bullying; aumento da sua função
executiva, associada ao desempenho cognitivo
e sucesso escolar”.
EmPortugal,CarlaMartinsconseguiuesteano
levar a cabo uma intervenção piloto de oito
semanas, num colégio privado em Braga, com
crianças do primeiro ciclo. Mas reconhece que
ainda é muito difícil a abordagem às escolas
portuguesas. João Palma fez a sua formação
em Mindfulness in Schools no Reino Unido e
partilha essa diiculdade, junto das escolas de
Lisboa. “A maior parte das pessoas nem nunca
ouviu falar de Mindfulness, não sabem o que
é. É mesmo desbravar terreno!”
Obrigado, ciência
GonçaloPereirapraticaMindfulnesshá20anos
e é com um prazer enorme que assiste à expan-
sãodestaprática.“OMindfulnesséumaprática
com 2500 anos. A ciência acabou por ser o seu
grande trampolim e a razão por estar a ser tão
bemaceite.Agora,atéoparlamentobritânicojá
medita!”Nosúltimostempos,forampublicados
mais de 3000 estudos cientíicos sobre o tema,
tornando-o uma questão de massas. É tema
de capa de revistas e jornais como a TIME,
Huington Post, Forbes, New York Times, he
Economist. É um dos benefícios laborais da
Google, do Facebook e até do Exército dos Es-
Autoconhecimento
A criança ganha a
consciência de si
própria
Treino
O Mindfulness treina
o foco, a atenção e a
regulação emocional
18. 16 Pais&ilhos agosto2015
tema de capa Mindfulness
que as práticas para essas faixas etárias são
muito breves”, esclarece Carla Martins. “Mas a
plasticidade dos seus cérebros e a rapidez com
que ganham bons hábitos é incrível!”, reforça
Gonçalo Pereira. E acrescenta: “Se a criança
for exposta a este treino mental desde cedo,
vai beneiciá-la para o resto da vida”.
Ana Feijó Cunha tem observado, na prática,
os bons hábitos que o seu ilho Manuel, de 14
anos, ganhou com o Mindfulness. “Aprendeu a
estar atento aos sinais da sua agitação, apren-
deu que pode gerir essa informação e antecipar
algumasreações,evitandoalgumas‘explosões’,
aprendeu que é possível aproveitar o presente
de outra forma e a fazer certas tarefas com
consciência do momento. Isso traz-lhe uma
imensa calma. Noto o meu ilho muito mais
atento ao que se está a passar no ‘agora’, o que
lhe dá capacidade para poder decidir como vai
querer agir e noto que a sua reação é menos
‘aparatosa’ e mais reletida”.
O que é
Jon Kabat-Zinn, diretor executivo do Centro de
Mindfulness na Medicina, Saúde e Sociedade
da Universidade de Massachusetts e um dos
maiores responsáveis pela emergência deste
movimentonoOcidente,descreveMindfulness
como “a consciência que surge ao prestarmos
atençãodedeterminadamaneira:depropósito,
no momento presente e sem julgamento”.
Emportuguês,Mindfulnessquerdizer“atenção
plena”. Parece simples? É simples, mas não é
fácil. “A nossa tendência é estarmos sempre a
projetar o que vamos fazer ou presos no que
aconteceu”, resume João Palma.
“Costumo apresentar a ideia às crianças com
um ensinamento do mestre do ilme Panda
Kung Fu, que elas tanto gostam: ‘Ontem é
história; amanhã é mistério; o presente é uma
prenda’”.Echamaaatençãoparaalgumasideias
feitas: “Aprender a meditar não é aprender a
relaxar. É uma tomada de consciência de nós
próprios, dos nossos pensamentos, emoções e
comportamentos”.
ou tentarem ver-se
livre dessas emoções
desagradáveis. O
Mindfulness ajuda
as crianças a sentir e
aceitar essas emoções,
o que lhes permite
acalmar a mente e
o corpo, deixando
um espaço para
compreenderem
melhor essa pressão
e escolherem outras
formas de gerir o seu
stresse. O Mindfulness
desenvolve a atenção
plena, que ajuda a
criança a compreender
os outros e o mundo
que a rodeia, incluindo
as suas relações com
os amigos, família e
colegas. À medida que
se vão conhecendo
melhor, a forma como
compreendem os
outros e o mundo
naturalmente evolui
e isso aumenta a sua
felicidade.
O ensino de
Mindfulness nas
escolas devia ser
obrigatório?
Sim. Eu falo do ensino
de um novo ABC:
atenção, equilíbrio
[balance] e compaixão.
Através do Mindfulness
desenvolvem-se
estas capacidades
e aplicamo-las no
que dizemos, no que
fazemos e na forma
como nos relacionamos
com os outros. Quando
vamos ao ginásio,
desenvolvemos os
nossos músculos. Esses
músculos mais fortes
ajudam-nos em muitos
aspetos da nossa vida
e não apenas nos
exercícios de ginástica.
Da mesma forma, a
atenção, o equilíbrio
e a compaixão que
aprendemos no
Mindfulness ajudam-
-nos em todas as
nossas capacidades
académicas, sociais e
emocionais.
É possível termos uma
“criança mindful”
numa “família não
mindful”?
Sim, mas para a
mudança ser mesmo
efetiva, a melhor forma
é trabalhar com toda
a família. As crianças
aprendem pelo
exemplo, pelo que o
melhor conselho que
podemos dar aos pais
é eles começarem pela
sua própria prática de
Mindfulness. A partir
daí, tudo fluirá. As
crianças vão notar que
estamos mais calmos,
mais regulados, mais
atentos e felizes e vão
aprender a partir do
nosso exemplo.
A pioneira
Susan
Greenland
Susan Greenland,
em conjunto com a
Universidade de Los
Angeles, desenvolveu
um programa pioneiro
de Mindfulness
para crianças a
partir dos quatro
anos. As práticas
são adaptadas à
idade das crianças
e a aprendizagem
é baseada em
exercícios, canções,
jogos e fábulas
Susan Greenland,
considerada a pioneira
mundial no ensino
de Mindfulness para
Crianças, deixa alguns
conselhos aos leitores
da Pais&filhos.
As crianças nunca
estiveram sob tanta
pressão. Como pode o
Mindfulness ajudá-las
a serem mais felizes?
Além da pressão, as
crianças estão a sentir
emoções fortes e
difíceis. Os adultos têm
a tendência de ignorar
tadosUnidos.Épraticadoemhospitais,prisões
e escolas de liderança. Naturalmente, surgiu
a vontade de antecipar o seu ensino também
às crianças e jovens.
“Todas as formações indicam como possível
idade de início os quatro anos, pois já têm o
mínimo de funções cognitivas para fazerem
a aprendizagem do Mindfulness. Mas claro
“Ontem é história, amanhã
é mistério, o presente
é uma prenda”
20. 18 Pais&ilhos agosto2015
tema de capa Mindfulness
Gonçalo Pereira exempliica algumas das téc-
nicas lúdicas, trabalhadas com os mais novos.
“Uma é o ‘Fofboc’, que lhes pede para se senta-
rem, pararem e sentirem muito bem os pés no
chão, o rabo na cadeira, as costas mais direitas
e sentirem a respiração”.
Outra que eles adoram é o “exercício do Malte-
ser: têm que o cheirar, tocar, ouvi-lo, pô-lo na
boca e sentirem o sabor, estando o tempo todo
com a atenção focada no que sentem quando o
estão a comer”. Uma mais “difícil” é pensarem
em si próprios com muita bondade, querendo
que estejam mesmo bem e felizes. Depois têm
de pensar na mesma forma em relação a um
amigo e, por im, relativamente a uma pessoa
de quem não gostam muito. “Nos Estados
Unidos, já dizem que a compaixão é o novo
Mindfulness, porque os programas estão a dar
cada vez mais ênfase a este lado relacional. É
uma ideia importante que se passa à criança:
o cuidar da felicidade do outro traz-lhe muito
mais felicidade do que se se preocupasse ape-
nas com a sua”.
Prática é essencial
Se há área em que a teoria não basta, é esta.
“Só praticando é que sentimos efeitos. Não há
outra hipótese!”, defende João Palma, convicto.
E explica: “Está comprovado que uma prática
diária de cerca de 15 minutos, ao longo de oito
semanas, começa a trazer alguma transfor-
mação”. Por isso, após as sessões, as crianças
costumam ter sempre “trabalhos de casa”. “Na
sessão seguinte tiramos dúvidas, percebemos
se izeram ou não os exercícios e, se os boico-
taram, qual foi a razão”.
Carla Martins destaca as vantagens de toda a
família estar envolvida. “Tudo pode ser otimi-
zado se, no contexto familiar, os pais também
praticarem. Dessa forma, após as sessões, há
uma presença constante a motivar a imple-
mentação e o desenvolvimento contínuo dessa
forma de estar”.
É o caso da família de Ilda Ferraz: “Inscrevi
o nosso ilho João, após ter realizado com o
meu marido um curso. Ganhei a convicção –
baseada na minha própria experiência e na do
pai – de que o Mindfulness é uma ferramenta
poderosa para reduzir a ansiedade, aumentar
o foco, incrementar a autoconsciência e o au-
toconhecimento, promovendo relações intra e
interpessoais mais gratiicantes. É o caminho
paraobemestar,comanoçãodequeasrespos-
tas estão no nosso interior e não em qualquer
forma de estimulação/aquisição exterior”.
Mas com uma oferta de cursos ainda escassa,
como podem os pais, que não vivem nem em
Lisboa nem no Porto, entrar neste universo do
Mindfulness? Carla Martins deixa algumas
dicas. “Sente-se num jardim e sintam o cheiro.
Pergunte ao seu ilho ‘O que estás a notar?’;
quando nos sentamos à mesa, reparar bem em
todas as cores que estão no prato e sentir com
calma o sabor de cada uma; antes de saírem
de casa façam uma respiração em conjunto,
Carla Martins
“Com o MIndfulness,
percebemos que
nós não somos os
nossos pensamentos.
Os pensamentos
vão surgindo como
nuvens no céu: eles
vêm e vão. O que
torna um pensamento
real é quando nos
agarramos a ele”
A melhor forma das crianças aprenderem
é pelo exemplo. Por isso aventure-se e tente
descobrir um pouco mais
Novas ferramentas
As crianças aprendem
a responder de forma
mais criativa a situações
de agressividade
Lado relacional
Os programas de
Mindfulness dão ênfase
ao lado da bondade e
da compaixão
21. www.paisefilhos.pt 19
coloquem a intenção de estarem presentes e
conscientes nesse dia; ao longo do dia, faça
várias pausas e vá perguntando ao seu ilho:
‘Como te estás a sentir?’; em momentos de agi-
tação, pergunte-lhe: ‘Qual é a tua lorpreferida?
Como é que fazemos para a cheirar? Inspira
profundo, profundo e agora muito lentamente
vamos expirar pela boca’. Tudo isto são exercí-
cios de Mindfulness!”
Abrandar e saborear
Na própria forma de exercer a paternidade,
é possível um toque de atenção plena. Carla
Naumburg, autora do livro “Parenting in the
Present Moment”, levanta o véu. Abrandar, sa-
borear e fazer uma coisa de cada vez. Três con-
selhossábios.Quandoabrandamos,enraizando
a nossa presença no momento, a interação com
os ilhos é mais agradável e luida. Observar e
saborear a presença dos ilhos, mesmo que seja
algo rotineiro, pode ser retemperador. Notar as
diferenças na forma como brincam, sorriem,
falam… porque cada momento é único e irre-
petível. Treinar a capacidade de fazer apenas
umacoisadecadaveztrazresultados.Seestiver
a dar banho ao seu ilho, foque a sua atenção
nessa ação. Não espreite para o telemóvel para
ver se tem mensagens…
Também no Mindfulness, a melhor forma das
crianças aprenderem é pelo exemplo, por isso
aventure-se e tente descobrir um pouco mais.
Se coniar nas palavras de Dalai Lama – “Se for
ensinada meditação às crianças de oito anos,
iremos eliminar a violência do mundo numa
geração” – vale a pena o desaio.
PUB
22. crónica A Sedução do SER
20 Pais&ilhos agosto2015
H
á um par de anos, ao ler num “blogue de mãe” as queixas de uma progenitora
divorciada sobre o facto de a ilha ir passar 15 dias de férias com o pai, senti que algo
estava errado, quando, os comentários eram praticamente todos no sentido de “como
é que deixas?”, “eu se fosse a ti, proibia e pronto!” ou ainda “mas por que raio é que ele
leva a tua ilha durante duas semanas?”. Fiquei perplexo, apesar de estar habituado
a quase tudo. Acredito que para essa mãe (como para o pai da criança), a ausência da ilha fosse dura
e dolorosa. Segundo entendi, a repartição do tempo beneiciava a mãe, num esquema (já serôdio em
termos conceptuais) de “para o pai, um im-de-semana de 15 em 15 dias e uma quarta-feira na outra
semana”, mas (talvez por isso) ela deixava percetível que “não iria aguentar”. Ela, mãe. Da criança
pouco ou nada se falava. Compreendo os desabafos de uma mulher que tem sentimentos e que resolve
partilhá-los com a blogosfera. Sei que é difícil a gestão das férias quando o casal está divorciado e a
criança ica duas semanas (ou mais) com um e com o outro. Mas o que me chocou, neste caso, foi a ideia
de que, para a blogger e para as comentaristas, o interesse da criança era algo secundário porque se
sobrepunha “o direito da mãe a estar com a criança”. E com o pai? Por acaso esta criança até o tinha…
Acredito que, para a mãe (habituada a ter o ilho num esquema obsoleto, antiquado e que não
responde às necessidades da criança) fosse difícil aguentar 15 dias de ausência. A legislação atual, que
veio estabelecer novos conceitos, em 2008, com um salto qualitativo bem grande, airma claramente
que a criança tem dois progenitores e que a história de que as mães são mais importantes do que os
pais (ou vice-versa) é, desculpem a crueza das palavras, uma grande treta. Desde sempre, as crianças
precisam de pai e de mãe, de um modo efetivo e afetivo, designadamente nas férias, em que a relação
entre pais e ilhos pode ser mais livre, mais autêntica e mais solidária.
Há ainda juízes e procuradores que consideram que “os pais apenas os fazem e as mães é que
os aturam”. Não é por ser homem que considero esta visão das coisas absolutamente dantesca,
cientiicamente errada e socialmente inaceitável. Os pais, pelo menos muitos deles, são pais “de
corpo inteiro”, dadivosos, amam os ilhos, sacriicam-se por eles, levantam-se durante a noite para
os acalmar quando de um sonho mau, adormecem-nos contando histórias, dão mimo, estimulam o
crescimento, aligem-se quando adoecem, estão presentes nas consultas, desde as ecograias até à
vigilância da saúde infantil. Sendo claro que pais e mães têm ambos direitos e deveres iguais perante
os ilhos, é ainda mais claro que as crianças têm o direito de ter um pai e uma mãe e de estar com eles.
É conveniente, pois, que pais e mães se entendam, ultrapassem as suas angústias, “lambam as
feridas”, não transportem para a criança as suas inseguranças e assumam que os ilhos serão tanto
mais felizes quanto os pais se entenderem.
Quanto ao resto, é altura de acabar com visões dicotómicas, maniqueístas ou que conduzem a um
descarte de um dos progenitores, numa verdadeira alienação parental. Salvo casos extremos, do foro
da Justiça ou por desinteresse de um pai ou de uma mãe (que também as há) as crianças merecem
viver em responsabilidade parental conjunta e residência partilhada... incluindo nas férias.
Morreu a Drª Maria Barroso, mas não morreu uma “primeira-dama”. Tal figura não existe em Portugal. Morreu uma cidadã exemplar, uma
Mulher, uma Senhora, uma Dama, isso sim, com a qual tive a honra e o privilégio de partilhar ideias, preocupações, ideais e projectos. E
amizade, uma grande amizade pessoal. Bem-Haja Drª Maria de Jesus, por tudo o que promoveu de bom nos que consigo aprenderam.
É altura de acabar com visões dicotómicas, maniqueístas
ou que conduzem a um descarte de um dos progenitores
FériasMário Cordeiro
[pediatra]
e pais divorciados
23. www.paisefilhos.pt 21
Nada é mais
precioso do que
um bebé!
A delicadeza da sua pele, a ternura
do seu sorriso, a intensidade das suas
emoções e olhar inocente, despertam
Para uma necessidade diária de
Foi a pensar nesta necessidade
que, com o compromisso de complementares, para momentos
A B I O L O G I A A O S E R V I Ç O D A P E D I A T R I A
25. www.paisefilhos.pt 23
aosolEstar grávida no pico do
verão pode ser cansativo,
mas não é motivo para
desanimar e desistir das
tão merecidas férias.
Damos-lhe algumas dicas
para sobreviver ao calor
e aproveitar melhor estes
dias de descanso.
O
calor aperta e a sua silhueta
mostra uma barriga enorme,
pesada, imprópria para gran-
desaventuras,desvariosounoi-
tadas. Passar o mês de agosto
grávida, sobretudo se for o terceiro trimestre,
pode não ser a situação ideal, mas também não
tem de ser um drama. O calor não é o melhor
amigodagrávida,maséumajanelaabertapara
dias (e noites) bastante agradáveis: pense nos
vestidos leves e frescos, nos pés descalços, nas
esplanadas ao im do dia, nas sestas ao ar livre,
na boa disposição das pessoas à sua volta e,
acima de tudo, no tempo disponível para na-
morar, descansar e retemperar energias. Tudo
o que precisa antes de receber nos braços o seu
bebé. O resto pode ser contornado com alguns
cuidados, paciência e imaginação.
de barriga
Chegar ao destino
Férias de verão são quase sempre sinónimo de
viagem.Deaviãooudecarro,paraoestrangeiro
oucádentro,nãohánadamaisanimadordoque
saber que vamos sair do nosso ambiente e da
nossarotinaporalgumtempo.Estargrávidanão
é impedimento para viajar, mas requer alguns
cuidados. Apesar de não existirem contraindi-
caçõesparaandardeavião,amaioriadascom-
panhias aéreas tem uma política de restrição a
partir da 32ª semana de gravidez para evitar o
risco de parto prematuro durante o voo.
Nas viagens de carro, o melhor é fazer paragens
de dez minutos a cada duas horas para “esticar
as pernas” e caminhar um pouco. Mesmo que
não se lembre desta “regra”, é natural que a sua
bexiga lhe recorde que é preciso parar amiúde,
sobretudo quando a barriga já pesa! É impor-
tante colocar o cinto de segurança de forma
correta para não exercer demasiada pressão
na barriga (a parte inferior do cinto abaixo do
abdómen e a parte diagonal entre o peito). Se
puder, passe a tarefa de conduzir e instale-se
O calor não é o melhor amigo da grávida,
mas é um janela aberta para dias (e noites)
bastante agradáveis
Andar de avião
A maioria das
companhias
aéreas tem
uma política de
restrição a partir
da 32ª semana
de gravidez
26. 24 Pais&ilhos agosto2015
Fora de casa, deixe de lado as saladas. Apesar
de muito apetecíveis, nesta altura do ano, é
preferível não arriscar
confortavelmente no banco ao lado. Peça ao
condutor alguma contenção no acelerador e
aproveite para relaxar, conversar e apreciar
a paisagem.
Cuidados com a alimentação
Tal como no resto do ano, é importante manter
uma alimentação equilibrada e saudável no
verão. Por si e pelo bebé. Opte por peixe e carne
grelhados, mas tenha em atenção que estes
devem ser sempre bem passados, para evitar
intoxicações e infeções alimentares. Se izer
refeições fora de casa, deixe de lado as saladas.
Apesar de muito apetecíveis nesta altura do
ano, é preferível não arriscar, sobretudo se não
forimuneàtoxoplasmose.Quemdizsalada,diz
também gaspachos e fruta com casca.
Opteporlegumescozidos,frutasdescascadase
deixeassaladaseosgaspachosparaasrefeições
feitas em casa, onde tem a certeza de que as
verduras são muito bem lavadas. Assim, pode
icar descansada em relação à toxoplasmose e
tambémevitaoriscodeintoxicaçõesalimenta-
res, que, na gravidez, podem ter consequências
mais sérias.
Esqueça os molhos, como a maionese, e preira
temperar as saladas e os legumes com azeite. É
importante ter atenção ao aumento de peso e
respeitar as “proibições” ditadas pelo seu mé-
dico, sobretudo se sofrer de diabetes gesta-
Nascer no verão
pode ser vantajoso
para os bebés:
as investigações
realizadas nesta
área mostram que as
crianças nascidas em
agosto e setembro são
mais altas e têm uma
estrutura óssea maior
do que as nascidas
na primavera e no
inverno. Isto porque
as mães receberam
um maior aporte de
vitamina D, através
da exposição ao
sol, durante o último
trimestre de gravidez.
Além disso, estes
recém-nascidos estão
menos expostos
aos vírus típicos dos
meses frios, pelo que
adoecem menos no
início de vida. A asma
também parece ser
menos prevalente
nas crianças nascidas
nos meses quentes:
durante o outono e o
inverno, a tendência
é passar mais tempo
em casa, com as
janelas fechadas e o
aquecimento ligado,
o que faz com que
o bebé esteja mais
exposto a alergénios.
Benefícios para o bebé
Gravidez&parto Grávida no verão
cional. Nesse caso, não facilite. Mas se o peso
não for um problema de maior, então também
haverálugarparaumououtropecado.Ainal,as
fériastambémsãodeliciosasporisso.Etambém
aqui,podefazerescolhasinteligentes.Evite,por
exemplo, os gelados de nata, muito calóricos,
e opte pelos de iogurte. Regra geral, são feitos
à base de iogurte natural magro e, por isso,
têm poucas calorias. Opte pelos simples, sem
toppings! Para a praia, o melhor é levar fruta
fresca, bem lavada e água, muita água. Evite os
refrigerantes e não abuse dos sumos naturais:
apesar de saudáveis, contêm açúcar e, por isso,
não convém exagerar.
Pele nutrida e bem protegida
É natural que a pele ique mais seca durante a
gravidez, um problema que se acentua ainda
mais se aumentar o número de banhos por dia
por causa do calor e da transpiração. Mas com
um bom creme hidratante e mais aplicações
por dia consegue devolver à sua pele a sensa-
ção de conforto e elasticidade. Se puder, use
cremes especíicos para as zonas mais críticas:
antiestrias para a barriga, coxas e peito.
Na praia, na piscina, no campo ou cidade, a
regra número um é proteger a pele do sol. Use
e abuse do protetor solar (com um índice de
proteção elevado). Evite as horas mais peri-
gosas (entre as 11h e as 16h) e não se exponha
durante muito tempo. O ideal seria alternar
15 minutos ao sol com 15 minutos à sombra.
Não se esqueça de reforçar o protetor solar,
sobretudo na barriga e no rosto (para evitar
o aparecimento de manchas). Também é im-
portante proteger a cabeça e, hoje em dia, já
não há desculpa para não usar chapéu ou boné
porque existem modelos para todos os gostos.
Guerra à retenção de líquidos
Se tem tendência para ter as pernas inchadas
e pesadas, esta é uma época complicada, pois
o calor agrava a retenção de líquidos e a pres-
27. www.paisefilhos.pt 25
são nas veias. Por outro lado, as temperaturas
elevadas favorecem a desidratação e a perda
de minerais, o que potencia o aparecimento
de cãibras. O mesmo acontece com as varizes:
o verão não ajuda, sobretudo se já estiver no
último trimestre de gestação. Mas é possível
atenuar os incómodos.
Caminhar é uma boa estratégia. Se está de
férias na praia, aproveite o início ou o im do
diaparafazerlongospasseiosàbeira-mar.Além
de ser relaxante, ajuda a aliviar os sintomas.
Hidratar também é fundamental: beba muita
água e evite refrigerantes e bebidas gaseiica-
das. Aumente também o consumo de frutas
e verduras.
Outra opção para atenuar o inchaço e a sensa-
ção de peso nas pernas é a massagem. E não
precisa de gastar dinheiro em terapeutas: pode
pedir ao marido que lhe faça esse miminho,
uma vez por dia.
Para intensiicar o efeito da massagem pode
usar um gel apropriado, que deixa uma sen-
sação de frescura e leveza. À noite, e durante
a sesta (se a izer), durma com as pernas um
pouco elevadas (cerca de 20 centímetros).
Duches tépidos
Comocaloreasalteraçõeshormonaisénatural
que transpire mais. Para não se sentir descon-
fortável, opte por duches tépidos frequentes,
(lembre-se de hidratar muito bem a pele após
o banho). Se está no último trimestre de gravi-
dez, evite os banhos de imersão, porque existe
o risco de não detetar uma possível rutura da
bolsa de águas.
No inal da gestação, o colo do útero começa
a abrir e, por isso, também são de evitar os
mergulhos nas piscinas públicas, já que o risco
de infeção aumenta. Uma boa forma de se re-
frescar frequentemente é usar um spray de
água termal. Na praia ou em casa, ajudam a
evitar a sensação de pele ressequida. Pode até
colocar o spray no frigoríico para reforçar a
sensação de frescura. Estes sprays podem ser
grandes aliados nas noites muito quentes em
que é difícil adormecer.
Bonita e muito confortável
Esqueça os quilos a mais, não pense na silhueta
que perdeu, ignore a roupa que não lhe serve.
Concentre-senalindabarrigaquecarregaenos
olhares e sorrisos que recebe na rua (não há
quemresistaàgraciosidadedeumagrávida).Na
verdade, vai ter saudades da sua barriga mais
cedodoqueimagina.Porisso,maisvaleexibi-la
com orgulho. Opte por roupas leves, frescas,
de tecidos naturais (algodão, linho, seda…) e
luidas. É essencial que se sinta confortável.
Evite roupa muito justa. Os vestidos amplos,
curtos ou compridos, são uma boa opção para
estaalturaeajudamasuportarosdiasquentes.
Provavelmente, não lhe apetece gastar muito
dinheiroemroupaquesóvaiusardurantesdois
ou três meses, mas também não precisa: peça
algumas roupas emprestadas às suas amigas
que tiveram ilhos recentemente. Assim, até
tem desculpa para um telefonema e dois dedos
de conversa.
Além da roupa, também é importante escolher
calçado confortável. Invista numas sandálias
cómodas e ponha de lado os saltos altos… pelo
menos por agora. O conforto deve ser a sua
prioridade máxima.
Caminhadas
Longos passeios
à beira-mar
ajudam na luta
contra a retenção
de líquidos nas
pernas
28. 26 Pais&ilhos agosto2015
gravidez&parto Cesariana
[texto] Teresa Martins
humanizar a
A cesariana também pode ser uma experiência
gratificante e não são necessários muitos esforços
para minimizar a agressividade do ambiente cirúrgico.
F
lornasceuhátrêsanos,decesariana,
numhospitalprivado,nasequência
deumainduçãoàs40semanasque
terminou em sofrimento fetal. As
memórias que a mãe, Rita Gonçal-
ves, guarda desse momento são “boas – ainal
nasceu a minha ilha, certo? – mas estão longe
do maravilhoso. Foi tudo muito mecanizado,
não tive qualquer contacto com ela até entrar
norecobro.Sóentãoapudecheirar,tocar,beijar
e inalmente, dar de mamar”. Há cinco meses,
Ritafoimãepelasegundaveze,apesardeFran-
cisco também ter nascido de cesariana, viveu
umaexperiênciacompletamentediferente.“Foi
maravilhoso, não podia ter sido mais perfeito:
paiàcabeceira,anestesistaaolado,enfermeiras
a sorrir, só momentos felizes e boas energias
para receber o meu ilho”, relembra. “Sempre,
mas sempre com toques, com aconchegos,
preocupação em saber se estava bem. Todos se
apresentavam – ‘Olá, eu sou a enfermeira Soia,
sou eu que vou receber o Francisco assim que
vier ao mundo!’; ‘Olá, eu sou a pediatra que vai
observar o rapagão’ – todos estavam comigo,
tenho plena certeza disso. Eu e o meu bebé éra-
mosaspessoasmaisimportantesdaquelasala.
Mais ninguém!”. Minutos antes de Francisco
nascer, o pano que impede a mãe de observar
cesariana
a cirurgia foi baixado para Rita ver o seu bebé
a vir ao mundo. “A anestesista levantou-me a
cabeçaeascostasedisse‘AquiestáoFrancisco!
Este é o vosso ilho!’ e nesse preciso momento
vejo rasgar a bolsa e o nosso ilho a nascer”,
conta,emocionada.“Aquelasalatornou-seuma
sala tão, mas tão familiar, que nos fez esquecer
que de uma cirurgia se tratava...”. Enquanto a
cirurgia decorria, Francisco foi colocado em
cima da mãe e no instante em que ouviu a sua
voz parou de chorar. “Nunca esquecerei esse
momento.Nuncasentinadaassim.Aquelemo-
mento foi só nosso e todos os que lá estavam
izeram questão de o mostrar”.
Francisco nasceu no Hospital dos Lusíadas,
onde há um cuidado extremo para que as ce-
sarianassejammaishumanizadasepermitam
recriar, dentro do possível, a experiência de um
parto normal. Porque nem todas as grávidas
conseguem (ou desejam) ter um parto vaginal,
mas merecem igualmente viver um momento
inesquecível e gratiicante, sentindo-se apoia-
das,acarinhadase,acimadetudo,respeitadas.
“Quandoàindicaçãoparacesariana,estamosa
fugiràquiloqueéoparto‘normal’.Nóstentamos
quenestassituações,quenãosãonaturais,haja
também alguns cuidados, nomeadamente no
que diz respeito ao acompanhamento da mãe,
Rita Gonçalves
Os dois filhos de Rita
nasceram de cesariana,
mas o último parto
foi completamente
diferente do primeiro:
“Não podia ter sido mais
perfeito”
29. www.paisefilhos.pt 27
“Aqui está o
Francisco”
Rita e o marido
viram o filho
nascer
Ao colo
Enquanto a
cirurgia decorria,
Francisco foi
colocado em
cima da mãe
30. 28 Pais&ilhos agosto2015
gravidez&parto Cesariana
e privilegiamos muito o relacionamento entre
a mãe e o recém-nascido, para que seja feito de
imediato,talcomonumpartoespontâneo”,ex-
plicaAntónioFonseca,coordenadordaUnidade
de Ginecologia e Obstetrícia daquele hospital,
sublinhando que “tirando os casos em que há
algum tipo de complicação com a mãe ou com
o bebé, tudo se passa naturalmente como se o
parto tivesse sido normal: o pai está sempre ao
ladodagrávida,damostemponalaqueaçãodo
cordão (não tem de ser imediata), o bebé ica
em contacto pele a pele com a mãe...”.
Por outro lado, adianta, “procuramos criar
todo o apoio e suporte familiar, dentro de uma
estrutura hospitalar, que é sempre agressiva.
Tentamos minimizar o fosso entre o hospital e
oambientedecasa.Temsidoumapreocupação
nossaedetodososproissionaisquetrabalham
aqui, envolvermos o mais possível o casal, pro-
movendo a intervenção da família, para que a
mãe se sinta apoiada”.
Foi assim que Rita Gonçalves se sentiu e, por
isso,garante“nãopoderiaterhavidopartomais
humanizadodoqueomeueemmomentoalgum
me senti menos participativa. Fui mãe naquele
momento, o meu ilho nasceu e eu renasci com
ele. Em pleno e mais feliz que nunca”.
Mudar mentalidades
Ahumanizaçãodopartotemsidoumapreocu-
paçãocrescentedasmaternidadesnosúltimos
anos, mas são raros os hospitais públicos onde
o pai pode estar presente quando é realizada
umacesariana.Asnormasrelativasaestaques-
tão deixam ao critério das diferentes unidades
essa possibilidade, mas pouco tem sido feito
para alterar os procedimentos instalados. Há
poucas semanas chegou ao Parlamento uma
petiçãoparaqueospaispossamassistiracesa-
rianas.Assinadapormaisdeduasmilpessoas,
em pouco mais de uma semana, esta petição
pretendeacabarcomaquiloqueconsiderauma
“lagrante injustiça”. Se os pais podem assistir
ao nascimento dos ilhos por cesariana num
hospital privado, por que razão não o podem
fazer na quase totalidade dos públicos?
Soia Serrano, obstetra no Hospital de Faro,
refere que a justiicação para que os pais não
possamassistirnaquelaunidade,àsemelhança
do que acontece na maioria, prende-se com o
facto de se tratar de “uma cirurgia feita num
bloco operatório, com risco de infeção, sendo
a presença do pai um fator de risco”. Além
disso, “as condições físicas do bloco nem sem-
pre permitem ter mais elementos na sala, e um
nascimento por cesariana tem mais risco de
complicações e de ser ‘impressionante’ – está
muito longe da magia do parto natural”.
Contudo, sublinha, nos casos em que os hos-
pitais “tenham condições físicas para permitir
a presença do pai na sala operatória durante a
cesariana, se a situação o permitir e se casal o
desejar, era ótimo o pai poder icar à cabeceira
damãe,respeitandoascondiçõeshigieno-sani-
táriasnecessárias.Destaforma,poderiaassistir
aonascimentodoilhoevê-lopelaprimeiravez
ao mesmo tempo que a mãe”.
Ainda assim, Soia Serrano lembra que “as
cesarianas não ocorrem todas pelos mesmos
motivoseémuitodiferentefazerumacesariana
programadaporumbebéestarpélvico,emque
há tempo para todos os procedimentos serem
realizadoscomtranquilidade,ouumacesariana
emergente quando há um sofrimento fetal e é
preciso fazer o parto o mais rapidamente pos-
sível para salvar a vida do bebé”.
Soia Serrano
No Hospital de Faro,
onde exerce obstetrícia,
não é possível os
pais assistirem a
cesarianas. Porque
“nao há condições
físicas” e existe um risco
aumentado de infeção
António Fonseca
O coordenador da
Unidade de Ginecologia
e Obstetrícia do Hospital
dos Lusíadas explica
que, se não houver
complicações, tudo
decorre como se de um
parto normal se tratasse
Marta Clemente teve dois partos e
duas experiências completamente
diferentes: um parto normal há seis
anos e uma cesariana, há poucos
meses, no Hospital dos Lusíadas.
“Comparando os dois, prefiro o
primeiro em termos físicos, mas
definitivamente o segundo no que
respeita à humanização. Permitiram
que tocássemos na nossa filha
assim que nasceu e que ficássemos
sempre juntas”. Segundos depois de
ter nascido, a bebé foi colocada em
cima da mãe: “Desviaram a camisa
do hospital que tinha vestida e ela
foi logo colocada, só com fralda, ao
meu lado, apoiada no meu braço.
Ficámos assim mais de três horas”.
Marta, que teve o marido sempre
ao lado, ficou deliciada a observar a
sua filha instintivamente à procura da
mama para se alimentar. “Ajudei-a a
encontrar o caminho e ela começou
a mamar. Depois aninhou-se e
adormeceu”. Só quando saiu do
recobro é que a bebé foi vestida.
“Confesso que, como não tinham
feito o mesmo com a mais velha,
achava estranho não a vestirem. Só
pensava que, como nasceu maior
do que se esperava, a roupa não lhe
servia. Uma enfermeira é que me
explicou que promovem o contacto
pele a pele”. Marta admite que a
recuperação deste parto foi mais difícil
do que do primeiro (parto vaginal),
mas não se sente “menos mãe” pelo
facto da segunda filha “ter nascido
através de uma intervenção cirúrgica”.
“Ficámos mais de três horas pele com pele”
31. www.paisefilhos.pt 29
Humanizar a cesariana passa, acima de tudo,
por mudar mentalidades e criar condições
logísticas nos hospitais
Faltam condições físicas
No Hospital Garcia de Orta, em Almada, “o
espaço físico e a localização dos blocos ope-
ratórios não reúne as condições para permitir
a presença do pai na cesariana”, explica Ester
Casal, diretora adjunta do serviço de obstetrí-
cia, justiicando que “a acessibilidade ao bloco
deve ser feita por um circuito diferente do dos
proissionais de saúde e em condições que não
condicionemriscosdeinfeção”.Porestemotivo,
“sem obras de fundo, não vejo condições para
que tal seja possível”.
Outro aspeto da humanização da cesariana
que ainda não é assegurado neste hospital é
o contacto pele a pele entre a mãe e o recém-
-nascido: “É difícil porque a temperatura dos
blocos é muito instável, está muitas vezes frio
e o berçário está localizado fora do bloco ope-
ratório”. Só depois de vestido é que o bebé volta
para perto da mãe.
Na opinião de Soia Serrano, este contacto
pele a pele poderá ser “perfeitamente possível,
deixando o bebé no peito da mãe e cobrindo-o
com lençóis aquecidos (como já se faz no parto
vaginal)”. Nesta posição, defende, “o bebé não
vai interferir com o prosseguir da cirurgia.” Fi-
nalmente, acrescenta a obstetra – referindo-se
ao que poderia ser feito para amenizar a frieza
das cesarianas – “se a sala operatória assim o
permitir, o bebé pode ser examinado pelo pe-
diatra e vestido no mesmo local da cesariana,
não saindo assim do campo de visão dos pais, e
eventualmentepermitindoaopaiparticiparno
processo.”Istonumasituaçãoprogramadaede
baixorisco,porquenumaemergênciaocenário
mudaradicalmente.Éprecisosalvaramãeouo
bebé, em muito poucos minutos (cerca de oito)
e não há tempo a perder.
No cenário ideal, sem situações de risco nem
complicações, o pai também é uma igura de
pesonoparto:aquelemomento“éacontinuidade
de um vínculo relacional que foi estabelecido
há muito, de uma experiência que foi vivida ao
longodenovemeses,entreopai,amãeeobebé”,
defendeAntónioFonseca.Porisso,defendeque,
acimadetudo,paraquesejapossívelhumanizar
a cesariana na maioria dos hospitais “é preciso
umaaberturadementalidadesecriarcondições
logísticas”.“Nãoéprecisofazernadadeextraor-
dinário”, mas é necessário “envolver o pai neste
processo”. É esse o caminho.
Pele com pele
O frio do bloco
operatório não
tem de ser um
obstáculo para
o bebé ficar ao
colo da mãe
Pai presente
O parto é a
continuidade
de um vínculo
relacional
estabelecido
há muito
O parto
do Francisco
registado pelo
pai e também
pela médica
anestesista
32. crónica Crónicas Umbilicais
30 Pais&ilhos agosto2015
*AutoradoBlogueCocónaFralda.
Sónia
Morais Santos
[jornalista*]
com quatro ilhos
F
ui uma semana de férias para Paris com os meus quatro ilhos. Dois dias na Disney,
como não podia deixar de ser, e três dias pela cidade do amor. Não é por nada mas
acho que entre tudo o que viram e experimentaram talvez o que os tenha marcado
mais tenham sido as nossas loucas viagens de metro. Sim, é porventura estranho que,
da cidade Luz, eles retenham sobretudo as trevas do metropolitano. A explicação
é simples. Imaginem um casal com quatro crianças. Uma delas dentro de um carrinho. Agora
imaginem as carruagens a abarrotar, pessoas encostadas às portas como sardinhas em lata. E nós,
em equilíbrio instável (sim, porque mesmo quando o bebé seguia ao colo nunca ninguém nos deu o
lugar), a contar cabeças e a torcer para conseguirmos sair todos na próxima estação.
Os próprios túneis do metro tinham “grandes” aventuras. Corredores enormes onde eles corriam
(e nós a pedir que se mantivessem por perto), escadarias que obrigavam a força de braços para
transportar o Mateus no carrinho, escadas rolantes onde era preciso estar de olho na Madalena e no
carro do bebé, o fosso do metro à beira do qual os do meio brincavam, como se tivesse um íman.
Mas, claro, Paris é Paris e eles nunca esquecem a Torre Eifel (os mais velhos já a conheciam, de
outra incursão pela cidade), o Arco do Triunfo, os Champs Elysées, e todos os pontos fortes da
capital francesa (que são muitos).
Quando voltei, houve muita gente a perguntar como conseguimos. Como é que temos “coragem” de
viajar com quatro crianças? E eu respondo: como assim, coragem?
Para começo de conversa, não são quatro crianças pequenas. O Manel já tem 13 anos e, por isso, já
ajuda a carregar malas, carrinhos, já pega no irmão, já olha pelos outros, já está naturalmente atento
aos mais pequenos, sem que seja preciso dizer-lhe alguma coisa (é a consequência de se ter vários
irmãos). O Martim também já tem dez anos, ou seja, não falamos de um bebezinho que chore para
comer ou para fazer xixi de meia em meia hora.
Feitas as contas, temos 50 por cento de miúdos crescidos e 50 por cento de crianças efetivas. Mas
a Madalena, como senhorita que é, porta-se geralmente muito bem, exceção para uma ou outra
choradeira por querer alguma coisa que não lhe demos. E o Mateus... bom, o Mateus calhou ser o
bebé mais ixe do mundo, sempre bem onde quer que o ponhamos.
Viajar com crianças, de resto, não tem muito que saber. É prepará-los com antecedência para as
longas caminhadas, explicar que os almoços podem bem ser às quatro da tarde e em andamento,
não ser demasiado stressado com coisa alguma, e pronto, a coisa faz-se bem. Se calhar se fôssemos
do género certinho, unhas cortadas todas as quartas-feiras, jantar impreterivelmente às 19h e tudo
na cama às 20h45 estava tudo tramado. Como não somos, nas férias temos a natural tendência para
deixar rolar sem dramas. Não tomou banho? Paciência. Olha, são cinco da tarde e ainda só comemos
um pão e duas peças de fruta? Azarinho, reforçamos o jantar.
Agora estamos de malas aviadas para Marraquexe. Algumas amigas olham-me como se fosse choné!
Marraquexe? Com as crianças todas? Até o bebé? E se ele tem uma dor de barriga? Ora essa! Qual é o
problema? Porventura não há bebés em Marrocos? Minhas pessoas, as crianças não são de cristal. No
dia em que perceberem isso – acreditem nesta quase-anciã – vão todos ser mais felizes. Boas viagens!
Viajar com crianças não tem muito que saber. É prepará-los
com antecedência para as longas caminhadas, explicar que os
almoços podem ser às quatro da tarde e não ser stressado
Viajar
33. www.paisefilhos.pt 31
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2
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TAMANHO
34. [texto] Ana Soia Rodrigues [fotograia] Fotolia
bebés 1000 dias
32 Pais&ilhos agosto2015
a importância
35. www.paisefilhos.pt 33
dos primeiros
Do momento da conceção
ao final dos dois anos
de idade passam-se
1000 dias. Talvez os mais
importantes da vida do
seu bebé. Saiba porquê.
O
s primeiros 1000 dias de
vida incluem os nove me-
ses de gravidez e os dois
primeiros anos de vida do
bebé. “Trata-se de uma fase
crítica de plasticidade, em que o organismo
tem a capacidade de se adaptar de acordo
com o ambiente que o rodeia”, esclarece a
pediatra Rute Neves. E destaca: “A epigené-
tica, área cientíica relativamente recente,
permitiu-nos perceber como é que, apesar de
herdarmos o código genético dos nossos pais,
a forma como os nossos genes se expressam
depende do ambiente em que vivemos nos
primeiros anos. Assim, os nossos hábitos
de vida nestes primeiros 1000 dias deixam
marcas irreversíveis no ‘software’ do nosso
organismo”.
Uma correta nutrição e a criação de um vín-
culo emocional forte parecem ser, assim, o
melhor seguro de saúde física e mental, nas
mãos de todos os pais. Aqui icam alguns
cuidados essenciais a seguir.
Helena Canário
“Quanto mais variada
for a alimentação
do bebé, mais
predisposição vai
ter para ser um
adulto saudável.
Os pais devem dar
o exemplo, serem
pacientes, insistirem
e não desistirem”
Estudos indicam que uma correta nutrição
e um vínculo emocional forte parecem ser
o melhor seguro de saúde física e mental
1000 dias
Uma correta nutrição neste período contribui
paraumestadodesaúdenavidaadulta,jáque
inluencia, não só, o desenvolvimento psico-
motor, como constitui um fator de proteção
para doenças como a obesidade, síndrome
metabólico, doença cardiovascular e doença
alérgica, entre outras. É ainda fundamental
paraacriaçãodehábitosalimentaressaudáveis,
jáqueaexperiênciacomdiferentessaborestem
início na vida fetal e os hábitos alimentares se
deinem essencialmente durante os primeiros
dois anos de vida. “Para mim, os princípios
básicos são acima de tudo moderação e bom
senso”, defende a nutricionista Helena Canário.
E ajuda-nos a destacar os princípios básicos a
serem seguidos.
Alimentação rica
Duranteagravidez,deve-seterumaalimentação
diversiicadaesemexcessosourestriçõesexces-
sivas.“Émuitoimportantequeamãetenhauma
alimentação rica em nutrientes, procurando
manterumequilíbrioentreascaloriasqueingere
eaenergiaquedespende.Estaédeterminanteno
ganhodepesoduranteagestaçãomastambém
seiráreletirnodesenvolvimentoecrescimento,
bem como no peso que o bebé terá ao nascer.
A grávida deve dar preferência ao consumo de
legumes e frutas, tendo sempre atenção à sua
proveniência e consumindo-os sempre bem la-
vados. Deve consumir diariamente fontes de
proteínasanimais(carne,peixe,ovos,leiteede-
rivados)combinadascomasproteínasvegetais
(leguminosasecereais)semprebemcozinhados.
Açúcares reinados e alimentos processados
devemserevitados.Éfundamentalfazersuple-
mentaçãodeferro,ácidofólico,iodo,bemcomo
36. 34 Pais&ilhos agosto2015
bebés 1000 dias
de outras vitaminas e minerais sempre que se
justiique ou quando a alimentação não for
suicientemente equilibrada e o proissional
de saúde o recomende”.
Até aos quatro/seis meses, a amamentação
em exclusivo é preferencial. O leite materno
contém os nutrientes essenciais e faz face às
necessidades nutricionais do bebé. É o ali-
mento completo e de excelência para esta fase.
No caso de a mãe não poder (ou não querer)
amamentar deve consultar o seu médico para
que este possa recomendar um leite infantil
que melhor se adapte ao seu bebé. “No último
ano tem-se investido muito em investigação
nesta área e já foram desenvolvidas fórmulas
muito semelhantes (essencialmente no que
diz respeito ao conteúdo de proteínas) ao leite
materno,fórmulasessasquediminuemorisco
de desenvolver alergias, promovem uma lora
intestinal saudável e previnem o rápido ganho
de peso devido ao seu baixo teor proteico”,
destaca Helena Canário.
A diversiicação alimentar deve ser feita de
forma gradual e é necessária alguma persis-
tência para que o bebé se adapte à nova forma
dealimentação,bemcomoàsnovastexturase
sabores. Durante esta fase é importante intro-
duziroslegumes(atravésdaofertadeumpuré)
queirátreinaropaladardobebéparaumnovo
sabor, preferir fruta à sobremesa (crua, ralada
ouesmagada)ealimentosricosemferro,como
a carne, o peixe, ou uma papa infantil. É nesta
idade que se criam hábitos que vão ajudar a
deinir as escolhas e padrões alimentares das
crianças no futuro, pelo que a dieta deve ser
desde logo diversiicada, sem excesso de pro-
teína, açúcares ou gorduras saturadas. Helena
Canário destaca: “Quanto mais variada for
a alimentação do bebé, mais predisposição
vai ter para ser um adulto saudável. Estudos
comprovam que as crianças que ingerem mais
legumes e vegetais em pequenos são aquelas
que mais consomem estes alimentos quando
maisvelhos”.Ospaisdevemdar,acimadetudo,
o exemplo aos mais pequenos, ser pacientes,
insistirem, persistirem e não desistirem.
Vinculação
“Estes 1000 dias são um tempo fundador para
odesenvolvimentodacriançaedascaracterís-
ticas da sua personalidade individual futura.
Em particular durante o primeiro ano de vida,
estabelecem-se as bases da vida relacional e
afetiva que irão determinar o seu percurso”,
resume a psicóloga Margarida Fornelos. E
reforça: “O desenvolvimento é um processo
relacionalesocial,queseiniciaprecocemente,
ainda antes do nascimento, a partir da rela-
ção que se constrói entre a mãe e o bebé, mas
que inclui o pai, irmãos e família alargada.
As bases da individualidade constroem-se a
partir do sentimento de coniança em si e no
seu meio, pela experiência de continuidade
dos afetos”. A qualidade e a harmonia afetivas
Rute Neves
“A forma como os
nossos genes se
expressam depende
do ambiente em
que vivemos nos
primeiros anos.
Os hábitos de vida
nestes primeiros
dias deixam marcas
irreversíveis no
‘software’ do nosso
organismo”
Margarida
Fornelos
“Durante o primeiro
ano de vida,
estabelecem-se
as bases da vida
relacional e afetiva
que irão determinar
o percurso de vida
da criança”
A dieta deve ser diversificada, sem excesso
de proteínas, açúcares ou gorduras saturadas
37. www.paisefilhos.pt 35
A qualidade e a harmonia afetivas
são o principal fator de saúde mental
ao longo da vida
são, assim, o principal fator de saúde mental
ao longo da vida, por isso, nestes 1000 dias,
abuse dos mimos ao seu bebé.
Até aos três meses a tarefa principal do desen-
volvimento é a regulação dos ritmos alimen-
tares e de sono/vigília, pelo que os pais devem
estarespecialmenteatentosparaconseguirem
interpretar os sinais do bebé e, assim, presta-
rem os cuidados necessários. “A partir dos três
meses, estabelecem-se os padrões individuais
de vinculação. O período sensível para a vin-
culação parece situar-se entre os três e os 12
meses, com um máximo entre os quatro e os
seis meses”. Uma vinculação segura é funda-
mental para o desenvolvimento da coniança e
autoestima.“Écombasenessarelaçãoprimária
e na sua qualidade, que as crianças poderão
estabeleceroutrasrelaçõescomoutraspessoas
signiicativas no seu meio familiar e social”. A
experiência de vinculação segura na infância
promove a autoestima, a autonomia e um fun-
cionamento social adaptado. Ao longo destes
1000 dias, todos os esforços para criar-se um
clima de afeto, intimidade e conhecimento
mútuo serão recompensados.
Como conclui a pediatra Rute Neves, “a forma
como alimentamos física e emocionalmente
os bebés neste período é essencial para que as
crianças de hoje se transformem em adultos
saudáveis e felizes no futuro”.
A pediatra Rute Neves responde.
“Sem dúvida, pois ficam marcados nos
nossos genes. Dou alguns exemplos
de erros frequentes que muitas vezes
são feitos com as melhores das
intenções.
1. Durante a gravidez é habitual que a
mulher que já é obesa tente ganhar
muito pouco peso. Sabemos hoje que
a gravidez não é um momento para
restrições. Obviamente que esta mulher
deve aumentar menos de peso durante
a gravidez que uma mulher magra,
mas a restrição nutricional excessiva
vai aumentar ainda mais o risco do seu
filho sofrer de excesso de peso.
2. Ainda durante a gravidez é muito
frequente as mulheres evitarem
alguns alimentos por medo que
os seus filhos venham a sofrer de
alergias. No entanto, não há qualquer
evidência que o consumo de alimentos
potencialmente alergénicos aumente o
risco de alergia nos filhos. Este tipo de
restrições podem mesmo resultar em
desequilíbrios nutricionais, tanto para a
mulher como para o filho.
3. Já após o nascimento é frequente
as mães acharem que têm pouco
leite. O controlo da necessidade de
suplementar o aleitamento materno
com uma fórmula infantil deve ser
sempre feito com base na pesagem
da criança. Uma criança que aumente
bem de peso é uma criança que
recebe leite materno suficiente.
4. Após a diversificação alimentar, um
dos erros mais frequentes é pensar
na criança como se fosse um adulto
pequeno. Na tentativa de prevenir
que a criança seja obesa, alguns
pais limitam o aporte de gordura e
hidratos de carbono. A questão é que,
ao contrário dos adultos, os estudos
têm demonstrado que nesta fase da
vida é essencialmente o excesso de
proteína que está associada ao risco
de obesidade a curto e longo prazo”.
Erros nesta fase têm consequências para sempre?
1000 dias
Incluem os
nove meses de
gravidez e os
dois primeiros
anos de vida do
bebé
Exercício
É muito
importante
estimular a
atividade física
desde cedo
38. Q
uando se olha para uma mãe com um bebé ao peito, percebe-se que há qualquer
mistério da ordem do milagre no amamentar. Percebe-se que aquela mãe e aquele
ilho estão unidos por laços tão fortes, que quase formam um escudo invisível que
os protege e isola num mundo só deles. Qualquer coisa que vai muito para além de
alimentar o mais pequenino. As avós sabem-no bem. Aqueles momentos em que o
nosso bebé parava de mamar, para nos olhar nos olhos, sorrindo, partiu-nos o coração, ou melhor
dito, encheu-o de uma paixão tão explosiva, que nada antes ou depois se lhe compara. Decidida-
mente não se esquece.
Não admira que agora, remetidas ao papel de observadoras, sintam ciúmes, como todos os outros
que olham de fora esta relação tão potente, de que não fazem parte.
Não admira que cada uma de nós, à sua maneira, e quase sem consciência do que nos move, acabe
por tentar boicotar esta unidade sagrada. Numa conissão pública admito que talvez seja por
isso que dou por mim a louvar os benefícios das mamadas de quatro em quatro horas, como se
ao transformá-las em pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar, e vá lá, uma ceia, esteja a reduzir
este momento ao “valor” de uma refeição, e nada mais do que isso. E quantas vezes suspeito da
generosidade com que sugiro que a Ana tire leite e prepare biberões, para poder sair sem a ilha, a
pretexto de lhe dar mais liberdade, quando ela nunca a pediu. Nem dela sentiu falta.
As gémeas, por seu lado, bombardeiam a relação intensa que passa perante os seus olhos, como
podem. A Madalena, mais esporadicamente, tão maternal ela própria, agarrando-se nos momentos
de insegurança ao seu próprio “ó-ó” e chucha, e respondendo a quem lhe pergunta quando os vai
deixar, com um sábio “Quando estiver preparada!”, que deixa toda a gente às gargalhadas.
A Carminho sofre mais, atirando borda fora todos os sinais exteriores de bebé, mas a cada passo
que dá para o mundo dos crescidos, morre de medo de perder o colo da mãe. Encena teatros de
uma soisticação espantosa, em que também ela tem uma “ilha” que anda a tiracolo e, claro,
mama; também ela tem duas ilhas mais velhas que não gostam nada da quota parte de atenção
que perderam. Pergunta à Ana: “As tuas ilhas mais velhas também estão zangadas por brincares
menos com elas?” E a Ana, com uma sabedoria que me orgulha tanto, responde: “Ah, se calhar
estão! Como é que a senhora faz para que não iquem zangadas?”. Ao que a Carminho/Senhora
Mãe que passeia a boneca/ilha numa mochila colocada ao peito, responde: “Sento-me no chão e,
com uma mão dou de mamar, e com a outra brinco com elas.” Como se fosse tão simples aplicá-la.
Pobresmães,aquemninguémdeixaempazparagozaremestemilagrequeéveremumbebécrescer,
tornar-se mais comunicativo, graças ao seu leite, graças ao seu amor, uma continuação dos nove
meses que passou dentro de si, mas agora sob o seu olhar. Mas é graças a tudo isto que a Marta é um
bebé sereno e feliz, que ri às gargalhadas quando vê as manas, que sorri para toda a gente e “fala”
com quem lhe queira dar uns segundos de atenção. Ao ser o melhor do mundo para alguém, não
se fecha sobre si, como anunciam os velhos do Restelo (tantas vezes nós, avós), mas pelo contrário
abre-se aos outros, com a segurança de quem é profundamente amado. É bom de ver.
crónica Diário de uma avó galinha
36 Pais&ilhos agosto 2015
São tão hábeis. E nós tão fracas. Sempre a trabalhar para
o pódio, sempre em discreta competição com os pais, sempre
aflitas de perder o lugar no coração dos nossos netos
Avós com ciúmesIsabel Stilwell
[jornalista]
de mães que amamentam
39. www.paisefilhos.pt 37
Muitas coisas podem acordar o seu bebé,
mas uma fralda húmida não será uma delas.
Mais seco mais rápido.
Porque tem o primeiro dente a nascer ou tem
saudades suas. Há muitas razões pelas quais
o seu bebé pode acordar de noite, mas com
Dodot não será por culpa de uma fralda húmida.
Só Dodot fica mais seca em menos tempo,
proporcionando até 12 h de secura para uma
noite de sono sem interrupções.
40. 38 Pais&ilhos agosto2015
[texto] Ana Soia Rodrigues [ilustração] Margarida Botelho
crianças Atividades
obrigatório
1
Aqui vai bomba!
Piscina sem mergulhos é algo que
nãofazsentidonacabeçadascrian-
ças(eadultos,jáagora).Comoépos-
sívelresistir?Apetecemesmodaras
famosas “bombas”, os mergulhos de cabeça, as
cambalhotas, os “parafusos”… Mas a verdade é
quehojeemdia,namaioriadoshotéisepiscinas
públicas, lá está aixado o aviso “Não mergu-
lhar”.Paraquemjáfoicriança,sabemosqueesta
proibiçãodeviaserproibida.Porisso,investigue
e tente encontrar uma piscina onde se possa
dar mergulhos à vontade e, já agora, enquanto
fazer
Há coisas que todas as famílias
em férias deviam fazer. Pelo menos
uma vez na vida! Não espere
mais. Escolha uma das nossas dez
propostas e aproveite. É um tempo
que não se repete.
ainda existem, porque não uma piscina com
pranchas? Já são tão raras, que de certeza será
um programa sensação. Algumas propostas:
piscina oceânica de Oeiras, piscina das termas
do Vimeiro, piscina municipal da Vidigueira.
2. Ficar off
Nos dias de hoje, este desaio é cada vez mais
difícil, mas deveria ser experimentado por
todas as famílias, sobretudo em tempo de
férias. Pelo menos durante um dia, nenhum
dos elementos pode ter acesso a dispositivos
eletrónicos. A televisão, as consolas, os tablets
41. www.paisefilhos.pt 39
Viajar
As viagens em
família são das
memórias que mais
perduram
Festas populares
Dançar, cantar,
comprar rifas, andar
de carrossel, comer
um algodão doce.
Quem não gosta?
e até os telemóveis icam desligados. Será que
conseguem?Seaquestãoforapresentadacomo
umdesaiocoletivo,aumentaacompetitividade
saudável entre os vários membros. Todos terão
que dar asas à criatividade e perceber quão
viciados estão. No inal do tempo combinado,
vale a pena conversarem sobre as alternativas
encontradas, sobre a forma como se sentiram
e até fazer algum compromisso de mudança,
para ser cumprido após as férias terminarem.
3. Mãos à obra
Imagine aqueles inais de dia de maré vazia… A
praiaparececrescereaúltimacoisaqueapetece
é pensar em ir para casa. Nada melhor do que
tentarem fazer em conjunto o maior e melhor
castelo de areia de sempre. Com areia húmida,
pás, baldes e outros acessórios, dê largas ao
construtor que tem em si. Podem também
apanhar conchas, pedras, pauzinhos e algas
paraadecoração.Sejamambiciososedemorem
um bom tempo nesta missão. Juntos, não vão
dar pelas horas passar. No inal, a sensação de
Desafio: durante um dia, desligar a televisão,
as consolas, os tablets e até os telemóveis.
Será que conseguem?
obra feita vai deixar todos orgulhosos. Mesmo
que esteja no “dia of”, pode recorrer à “velha”
máquina fotográica e registar esse momento.
No regresso, imprima a fotograia em papel e
ofereça-a aos seus ilhos para levarem para a
escola e mostrarem na sala, no primeiro dia
de aulas.
4. Destino diferente
Estáestudadoqueaexperiênciadeviajaréuma
das que mais perduram na nossa memória. Se
for em família, os efeitos secundários positivos
sãoclaramentepotenciados.Conhecerumlocal
completamentediferentedaqueleemquevivem
émuitoenriquecedorparatodos.Paisagensfora
do comum, hábitos opostos, outras maneiras
de falar ou outras línguas… são ingredientes
que transformam um simples passeio em algo
memorável. Claro que se tiverem possibilidade
de viajar para outros países, como Marrocos,
Índia, México, Brasil, a aposta é certamente
ganha,masmaisperto,nonossopaís,hátantos
destinosaexplorar…EmAveiropodemverruas
comcanais,numailhadosAçoressentirocalor
daterravulcânica,noGerêstomarbanhonuma
cascata, em Monsanto conhecer uma aldeia de
silêncio… Planeie com alguma antecedência e
leve já um roteiro de coisas diferentes para ver
e viver com eles. Vão aprender mais do que em
qualquer aula de Estudo do Meio ou História!
5. Divertir, divertir, divertir
Numparquedediversões,qualquerumsesente
criança. A música, as cores, as atrações… ofe-
recem a oportunidade de as famílias passarem
algumas horas, simplesmente a… divertir-se.
Qualquer família deveria ter o direito de, pelo
menos uma vez na vida, visitar um parque
destes. Infelizmente, em Portugal, a oferta é
quase inexistente. Em Penaiel, encontra-se
a Magikland e, na Guia, o Zoomarine. São
os exemplos mais aproximados. Mas no país
vizinho, já tem várias ofertas muito interes-
santes: em Sevilha, a Isla Mágica; em Madrid,
o Parque Warner e o Parque de Atracciones;
em Barcelona, o Port Aventura. Espreitem os
sitesemconjuntoepodeserquefuncionecomo
42. 40 Pais&ilhos agosto2015
crianças Atividades
6. Banho com as estrelas
Noverão,ascriançaspassamquasemaistempo
dentro de água do que fora. Mas já experimen-
toualgumavezdeixá-lostomarbanhonapraia
à noite? Vai ver que a ideia vai ser recebida com
um “sim” cheio de entusiasmo. Escolha uma
noite de luar, façam um lanche ajantarado e,
ao anoitecer, voltem à praia. Sem objetos de
valor,nemnecessidadedeprotetorsolar,levem
apenas a vontade de uma nova experiência em
conjunto. Quando foi a última vez que fez uma
coisa pela primeira vez? Nem imagina o poder
rejuvenescedorquetem.Opteporumapraiaque
tenhaalgumailuminação.Nãoseaventuremse
o mar estiver revolto e mantenham-se sempre
em zona “com pé”. Entrem na água de mãos
dadasemergulhemaomesmotempo.Osilêncio
e a dimensão da Natureza que os envolve vão
icar na vossa memória. Miúdos e graúdos vão
adorar boiar a ver a lua e as estrelas…
Se estiverem a Sul, a 29 de agosto, informem-se
sobre as praias onde ainda se festeja o “Banho
29”. Este ritual recorda a antiga tradição das
populações se deslocarem à praia nesse dia e
banharem-seporvoltadameia-noite.Umafesta!
43. www.paisefilhos.pt 41
objetivo para uma poupança familiar anual.
Vai valer a pena!
7. Vamos ao baile?
Esta é a altura das festas populares. Não há
terra, por mais pequena que seja, que não se
alegre, todas as noites, nos meses de julho e
agosto.Oquepodeparecerumprogramapara
gerações mais velhas, pode tornar-se muito
divertidotambémparaosmaisnovos.Àsvezes
é a primeira vez que têm a possibilidade de
comprarrifas,andardecarrosseloucarrinhos
de choque. As músicas alegres e divertidas
convidam os pais a dançar e não é todos os
diasquesepodedançaremfamília,semmedo
de “fazer iguras tristes”. Com o extra de ter-
minar a noite com uma gulosa fartura ou um
enorme algodão doce.
8.Passeio ao luar
Quando os seus ilhos pensarem que o dia já
chegou ao im, faça a surpresa de um último
programa. Um passeio à noite. Há empresas
que organizam caminhadas guiadas para fa-
mílias, mas pode arranjar uma solução mais
caseira. Se estiver na cidade, escolha um tra-
jeto com ciclovias e assim podem também
andar de bicicleta. Pode sempre optar por
um jardim. Levem as lanternas, um casaco
leve e descubram as diferenças que se ouvem,
observam e sentem à noite. Visitem um local
conhecido por vós durante o dia e vejam o que
muda a horas mais tardias.
9. Caça ao tesouro
Há milhões de geocaches espalhadas pelo
Mundo. O que são geocaches? São peque-
nos “tesouros” escondidos, devidamente
sinalizados, à espera de serem encontrados.
Seja no campo, seja na cidade, é um ótimo
divertimento para fazer em família. Quem
experimenta, sente-se “viciado”. Em www.
geocaching.com, crie uma conta gratuita.
Se tiver iPhone ou Android, pode descarre-
gar a aplicação oicial. Basta ter um recetor
GPS, escolher a caixa que quer encontrar e
partir à aventura. Pelo caminho, aproveitem
com calma o percurso. Um divertimento para
todas as idades.
10. Dormir numa tenda
Qual é a criança que não tem o desejo de,
pelo menos uma vez na vida, acampar? Não
precisa de ir para um parque de campismo,
caso a sua família não goste muito do “con-
ceito”. O quintal ou o jardim de um amigo
servem perfeitamente. Peça uma ou duas
tendas emprestadas e faça o gosto aos mais
pequenos. Vai ver que também se vai divertir.
Sacos cama ou pequenos colchões, lanternas
e alguns snacks são o suiciente para uma
noite única. Deixe-os estar até tarde a contar
histórias assustadoras ou anedotas. No dia
seguinte até vão dormir até mais tarde, no
conforto da sua cama de sempre.
Qualquer família deveria ter o direito de, pelo
menos uma vez na vida, visitar um parque de
diversões nas férias
Acampar
Nem que seja
no quintal de um
amigo, montem
as tendas e
divirtam-se
44. 42 Pais&ilhos agosto2015
crónica Ser Pai
e puzzles cor-de-rosa
Enrique
Pinto-Coelho
[jornalista]
A
Ana tem pouco mais de três anos e já come sushi. Tive a sorte de partilhar com
ela muitas refeições no último ano, e as vezes que rejeitou um prato contam-se
pelos dedos das mãos. Devora cuscuz, raramente diz não à sopa e come todas as
sobremesas do mundo; se gostar muito (por exemplo, gelado de chocolate), é incapaz
de olhar ou responder aos interlocutores enquanto não tiver dado conta do recado.
A Ana é, como costumamos dizer lá em casa, “a rainha da motricidade ina”, porque domina
lápis e talheres precoce e magistralmente. Por contraste, o meu ilho Guilherme tem quatro
anos e meio e, às vezes, ainda pega mal no garfo, embora a causa esteja menos nele e mais em
quem insiste em meter-lhe a comidinha na boca a estas alturas...
A Ana parece decalcada da menina de rabo-de-cavalo preto e sorriso esticado que aparece no
genérico de “O Meu Vizinho Totoro”, ilme japonês de animação protagonizado por uma espécie
de peluche gigante. Ela e o Gui costumam sentar-se a ver o arquivo de “anime” em espanhol,
porque ele é bilingue e a Ana não só não desgosta como dá cada vez mais a impressão de
compreender tudo o que dizem, apesar de nunca ter aprendido castelhano. De facto, quando
é autorizada a ver desenhos animados (ou “bonecos, quero boneeeecos!”, como tende a repetir
até à exaustão geral), pouco importa a língua em que se expressam, porque ela papa tudo o
que houver. Caso a deixassem, faria maratonas de Mickey Mouse, Jake, Princesa Soia, Doutora
Brinquedos e quaisquer outras séries disponíveis, em quaisquer formatos.
A Ana adora tirar a roupa e ir a abrir pelo corredor para mostrar a sua nudez, mas detesta
vestir-se e foge, vezes sem conta, quando tentamos eniar-lhe umas calças ou umas sapatilhas.
A sua cor preferida é o rosa – nada original numa menina, é certo, mas acredito que poucas
crianças no mundo levam tão a peito e vestem com tanta convicção as cores de eleição como
ela. Recentemente, tornou-se uma máquina de fazer puzzles. Aproveitou, e bem, a coleção semi-
-herdada do Gui e agora faz e desfaz, reconstrói e volta a destruir por toda a casa, com os seus
dedos inos e hábeis, as imagens fragmentadas dos ícones infantis.
Também gosta muito de desenhar, claro – algumas paredes que o digam; de colar adesivos
nos móveis e portas; de fazer iguras de plasticina que nascem frescas e brilhantes e morrem
escuras e secas, com cabelos e migalhas à mistura; e de icar a olhar-se no espelho, sobretudo se
tiver bigodes de leite a seguir ao pequeno-almoço.
A Ana e eu tivemos (de vez em quando ainda temos) as nossas desavenças, pequenos e
recíprocos problemas de adaptação geralmente ultrapassados sem demasiados esforços. Hoje
somos quase inseparáveis. Há uns dias fomos fotografados numa esplanada lisboeta, ao lado de
um veado de papelão. Eu estou por baixo, ela a ombros, e na primeira imagem da sequência a
minha cara está tapada por uma saia lorida. Na segunda, ambos sorrimos e a saia transforma-
-se num turbante sobre o meu cabelo e barba, o que me confere um exótico ar oriental.
A foto só tem umas horas, mas já é das minhas preferidas. A Ana foi, porventura, a conquista
feminina mais difícil da minha conturbada carreira, e ainda bem: as mais exigentes são, muitas
vezes, as mais duradouras. .
A Ana parece decalcada da menina de rabo-de-cavalo preto
e sorriso esticado que aparece no genérico de “O Meu Vizinho
Totoro”, filme japonês de animação
Sushi, “anime”
47. www.paisefilhos.pt 45
Para os filhos é uma
aventura, cheia de
expectativas, emoções
e novas experiências.
Para quem fica, este voo
desacompanhado causa
um misto de orgulho –
“que grandes!” – e de
preocupação – “será que
vai correr tudo bem?”. A
boa notícia é que quase
sempre corre tudo bem. E,
no regresso a casa, todos
estão mais crescidos.
M
arianatem“12anosemeio”,
como gosta de lembrar, e
está a fazer as malas para
passar uma semana em
Espanha. Cavaleira juvenil
federada, vai participar num campo de verão
organizado pela sua escola de equitação e por
uma congénere na zona de Toledo. É a primeira
vez que sai de férias sem os pais ou os avós e a
mãe,SandraViana,escondemalapreocupação.
“Ela é responsável, vai com algumas amigas e
dois professores, acredito que lá existe segu-
rança e, principalmente, vai aprender coisas
novas e divertir-se. Mas não estou completa-
mente descansada. Se fosse possível, ia com
ela!”, confessa.
Depois de anos de férias em família ou com
amigos próximos, chega a altura de dar o passo
seguinte: os primeiros dias fora sem pais, avós,
tios ou adultos “de todos os dias”, como diz
Mariana.Apré-adolescenteestáentusiasmada,
“até me pediu para lhe ensinar frases em espa-
nhol”, sorri a mãe que, até ao momento, apenas
a via sair “no máximo por dois dias, para ir a
competições. Já sei que agora vai ser assim, é
uma questão de habituação…” admite.
Evolução em família
“A primeira vez que uma criança ou um jovem
vãodefériasforadouniversoprotetordafamília
marca o início de uma etapa importante no
seu processo de autonomização. Antes desse
momento, a exploração e conhecimento do
‘mundo’ eram feitos com a segurança da pre-
sença de adultos signiicantes. No momento
em que esses adultos não estão presentes, é
todo um novo conjunto de desaios que se co-
locam”. Quem o airma é o psicólogo Mauro
Paulino, para quem esta é uma oportunidade
imperdível tanto para os ilhos como para os
pais. No caso dos primeiros, estarem mais en-
tregues a si mesmos num ambiente estranho
“ajuda a aumentar as competências sociais e a
perceberqueexistemoutrosmodelosdefuncio-
namento de grupo, outras dinâmicas e outros
conjuntos de regras e limites para além do seu
quotidiano habitual. Também é importante
para a aquisição de ferramentas para lidar com
a conlitualidade, gerir a frustração e procurar
consensos. E é tudo isso que os ajuda a crescer”,
refere o mesmo especialista.
Já para os adultos, “o tempo em que os ilhos
Férias sem os pais são importantes para lidar
com a conflitualidade e com a frustração e
para procurar consensos. É assim que crescem