A família de Pantico e Marcilene construiu uma Mandala com seis círculos de canteiros para cultivar diversas hortaliças e frutas com o apoio do Pronaf. Isso ampliou sua produção e renda, chegando a vender 300 maços de coentro por semana. Eles também criaram tilápias e patos, alternando as atividades. No entanto, enfrentam dificuldades com a falta de água e compradores, afetando a produção.
Mandala: círculos de produção pela garantia da sustentabilidade alimentar
1. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1431
Novembro/2013
Mandala: círculos de produção pela
garantia da sustentabilidade alimentar
Francisco Nunes Carvalho, conhecido
como Pantico, 37 anos, e Marcilene Felipe Vieira,
35 anos, residem com seus cinco filhos no
Assentamento Porto José Alves, distante oito
quilômetros de Aracati, na região Vale do
Jaguaribe.
O casal é filho de Baixio, uma comunidade
de Aracati. Mas, diante das dificuldades
decorrentes da falta de terra e água, sempre
buscou melhorias em outras localidades. Uma
das atividades desenvolvidas pelo agricultor até
bem pouco tempo era a pesca, ele percorria
quilômetros atrás de peixe para a alimentação
da família.
Chegaram ao Assentamento desde o
início de sua organização, quando na década de
1990 as famílias o conquistaram para morar e
produzir seu alimento. Desde então, vêm lutando para viver melhor.
A organização comunitária, reuniões, oficina de formação e discussões referentes ao
manejo adequado da terra são pontos abordados pelo Assentamento, que tem como
referência, a Associação dos Assentados do Projeto de Assentamento Porto José Alves
(AAPAPJA). “A nossa vida melhorou muito depois que chegamos aqui. Antes, a gente não
tinha sequer uma casa para morar. Com a
organização do assentamento tudo melhorou”,
atesta Pantico. “Aqui começou a aparecer
investimento”, diz Marcilene.
A família de Pantico e Marcilene sempre
viveu da agricultura, com a produção de feijão,
milho, mandioca e caju. Além disso, o cultivo de
hortaliças para o consumo e comercialização
sempre fez parte de sua produção.
Eles utilizavam o quintal ao redor de casa
para o plantio de coentro, cebolinha, alface,
pimentão e até tomate. As verduras eram
complementação da alimentação e da renda,
pois, além de ser consumida pela família, era
vendida para a comunidade.
No ano de 2012, a família de Pantico e
Marcilene foi beneficiada com o Programa
Aracati
Plantação de hortaliças e frutíferas na Mandala
Pantico, Marcilene e o filho caçula
2. Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Banco do Nordeste do Brasil
(BNB), com a assessoria da Cooperativa Mista de Trabalho, Assessoria e Consultoria Técnica
e Educacional (Comtacte) de Aracati, que acompanha as famílias nos processos formativos.
Com o projeto construíram uma Mandala e um poço, que proporcionou a ampliação de
sua produção. Atualmente, em seis círculos de cinco canteiros cada, a família cultiva banana,
macaxeira, batata-doce, melancia, abóbora, maxixe, acerola, mamão, pimentão, tomate,
alface, coentro, cebolinha, pimenta de cheiro, quiabo, berinjela, milho e feijão.
Da produção de hortaliças a família chegou a vender trezentos maços de cheiro verde
três vezes por semana a 25 centavos cada, chegando a uma renda mensal de 225 reais.
Outra atividade desenvolvida logo no início do projeto foi a criação de tilápia. “Criava
de seiscentos peixes. Em quatro meses chegavam ao tamanho de abate. Pesavam até 350
gramas cada peixe”, conta Pantico. Aproveitam a Mandala também para criar pato. E assim
vão alternando a forma de geração de renda. “O bom é que quando não temos uma coisa,
temos a outra. Dos patos aproveitamos as fezes para o adubo. E também reutilizamos a
água”, complementa Marcilene.
Cultivo do caju – a família de Pantico e Marcilene faz de tudo um pouco para viver melhor.
Eles trabalham também com cajueiro, uma cultura que necessita de cuidados o ano inteiro.
“A gente trabalha muito. Logo no início do ano faz a poda, depois passa o trator para drenar
os gravetos da própria planta para adubar a terra, e em seguida, a colheita, nos meses de
setembro, outubro e novembro. Quando é uma safra boa e tem comprador suficiente temos
um valor bruto de 18 a 20 mil reais. Desse a gente tira o que gastou e fica com uma renda
líquida em torno de 40%. Esse dinheiro já tem um destino certo: investir na lavoura no ano
seguinte”, conta o agricultor, deixando claro que aproveita de tudo que tem na área, de
forma que gasta menos e contribui mais com a natureza. Toda a produção é orgânica, não
usam nenhum tipo de veneno e nem queimam. Toda a folhagem é incorporada no solo para
melhorar sua fertilidade.
Dificuldades e perspectivas
As dificuldades existem. E a maior, segundo conta a família é a falta de água. Mas a carência
de compradores também emperra na distribuição dos produtos. “A gente não produz mais
porque a comercialização ainda é pouca”, diz Marcilene. Atualmente, a família dispõe de dois
poços artesianos com dez metros de
profundidade, mesmo assim falta água. “No
inverno não precisa aguar tanto, pois a terra está
molhada. No período de estiagem é que precisa
mais de água”, comenta Pantico.
“O mais importante é que deixamos de
trabalhar para os outros para trabalhar pra nós,
e ainda empregamos outras pessoas. O dinheiro
circula na comunidade, e a gente está ajudando
outras famílias”, conclui.
A expectativa é que chova logo para
manter o nível de água na Mandala e continuar
produzindo verduras. “Aquela Mandala é muito
importante, porque dali posso ter uma renda o
ano inteiro, diferente do caju, que produz
apenas durante uns três meses no ano”, conclui
o agricultor.
Realização Patrocínio
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas