O documento descreve os métodos de amostragem utilizados para registrar a mastofauna, avifauna e entomofauna em determinada região. Foram realizadas capturas de pequenos mamíferos com armadilhas Sherman e gaiolas, e de médios e grandes mamíferos com armadilhas fotográficas e busca de vestígios. A avifauna foi amostrada por observação direta e captura com redes de neblina. Já a entomofauna foi coletada com armadilhas do tipo pitfall,
1. Mastofauna
• Amostragem de Mamíferos de pequeno porte não voadores
Para registro e captura de mamíferos de pequeno porte não
voadores, foram adotados dois tipos de amostragem. Em uma delas
utilizaram-se armadilhas convencionais do tipo “sherman”, de formato
retangular, confeccionada em chapas de alumínio, medindo 30 cm de
comprimento x 8 cm de largura x 9 cm de altura, associada a gaiolas
“tomahawk” de formato retangular, confeccionada em arame
galvanizado, medindo 36 cm de comprimento x 16 cm de largura x 16 cm
de altura.
2. Foto 01 e 02: Armadilhas utilizadas durante as campanhas para captura
de pequenos e médios mamíferos. A) Armadilha do tipo sherman em
formato retangular confeccionada em alumínio. B) Armadilha do tipo gaiola
– tomahawk em formato retangular, confeccionada em arame galvanizado.
3. Em cada um dos cinco sítios de amostragem foram instaladas, em
média, 6 armadilhas, distando 15 metros entre si, sendo os diferentes
modelos (Shermans e Gaiolas) colocados quando possível, a diferentes
alturas (ao nível do solo e até 2,0 m de altura) no intuito de capturar
espécies de tamanhos e hábitos diferentes.
As armadilhas do tipo sherman foram iscadas com uma mistura de
sardinha, banana, paçoca de amendoim e fubá. Já as gaiolas foram
iscadas com abacaxi embebido em óleo de fígado de bacalhau (Emulsão
Scotti), e mantidas abertas ininterruptamente durante os dias de
amostragem, sendo checadas diariamente para verificar a captura de
pequenos mamíferos e reposição das iscas.
Em cada sítio amostrado as armadilhas sherman e gaiola, permaneceram
abertas por cinco noites consecutivas, durante cada
campanha, totalizando um esforço amostral de 300 armadilhas-noite.
4. Outro tipo de amostragem adotado foi a disposição de armadilhas de
queda “pitfalls” que consistem baldes enterrados, onde a abertura fica
nivelada com o substrato, associados a cercas que interceptam os
indivíduos em deslocamento, conduzindo-os aos baldes.
O formato utilizado para disposição dos pitfalls foi o de “Y”, constituído por
um balde central, de onde partem três cercas guias separadas por um
ângulo de 120º, sendo que no extremo oposto de cada cerca há outro
balde. As cercas foram instaladas com 5 m de extensão e 1 m de altura, e
os baldes, com volume de 60 litros, sofreram pequenas perfurações na
base para facilitar o escoamento da água em dias de chuva. Portanto, as
cercas foram bem instaladas, com reforço de terra e folhiço nas
bordas, para evitar que os animais passassem embaixo delas.
Neste método de captura os baldes permaneceram abertos por cinco
noites consecutivas em cada campanha, totalizando 48.000 horas-balde.
5. Ao todo, foram instaladas 5 estações em Y, uma em cada sítio de
amostragem, dispostos em ambientes diferentes (áreas abertas e áreas
florestadas). As armadilhas foram mantidas abertas ininterruptamente
durante os dias de amostragem, sendo checadas diariamente para
verificar a captura de pequenos e médios mamíferos.
Os exemplares capturados tanto nas armadilhas Shermans, Gaiolas
quanto Pitfalls foram identificados quanto à
espécie, pesados, sexados, marcados com brincos numerados e liberados
no mesmo local.
• Amostragem de Mamíferos de médio e grande porte
Os mamíferos de médio e grande porte foram alvos de levantamentos
não-sistemáticos, obtidos por meio de evidências indiretas (procura por
rastros, fezes, realização de entrevistas) e diretas (visualizações e
registros fotográficos - câmeras trap).
6. Para localização de evidências indiretas de mamíferos de médio e grande
porte, os sítios de amostragem foram percorridos em busca de sinais
acústicos (vocalizações), tocas, fezes, pegadas ou outros sinais
indicativos da presença das espécies. Para auxiliar nas identificações das
pegadas, foram utilizados manuais de campo. Becker, Dalponte (1999) e
Borges, Tomás (2004).
O método de entrevistas constitui outro método indireto que, quando
corretamente aplicado, pode constituir uma ferramenta importante no
inventário da fauna, permitindo o registro de algumas espécies e a
confirmação do desaparecimento local de outras. Além disso, este método
é uma fonte essencial de informações para aqueles mamíferos facilmente
identificáveis por característica externas como, por exemplo, os xenarthra
(tatus e tamanduás), carnívoros, primatas, ungulados, etc
(Voss, Emmons, 1996).
7. No presente trabalho, entrevistas informais não estruturadas foram
aplicadas aos moradores locais, a fim de se obter dados referentes às
espécies de mamíferos ocorrentes na região. Durante essas entrevistas
foram apresentados, aos moradores, fotos de animais com distribuição
regional, objetivando a confirmação das espécies já mencionadas. Nessa
oportunidade aproveitou-se para investigar alguns hábitos e costumes da
população residente com relação à fauna nativa.
O armadilhamento fotográfico, por sua vez, permite o registro da fauna
terrestre, escansorial ou arborícola, tornando possível confirmar a
presença e ou esclarecer a identificação de espécies, obtidas por meio de
indícios indiretos (Alves e Andriolo, 2005). Essa metodologia colabora
principalmente para o registro de espécies arredias à presença humana e
difícil de serem identificadas por meio de outros métodos. Além
disso, podem individualizar os animais por meio de
cicatrizes, manchas, listras, permitindo uma estimativa inicial de
densidade das espécies.
8. Como o objetivo deste estudo não foi estimar a densidade populacional
dos animais registrados, a metodologia foi adaptada apenas para
obtenção de dados para confirmação da presença das espécies na região.
Foram instaladas cinco câmeras armadilha fotográfica da marca (Trapa
câmera) modelo digital, dispostas uma em cada sítio amostrado. Estas
permaneceram ativas no campo por um período de cinco noites em cada
campanha, totalizando 1200 horas-noite. A fim de atrair os animais foi
usada uma mistura de iscas incluindo batata-
doce, abacaxi, banana, fígado de vaca e enlatado de carne para felinos.
Também foram realizados sensos, onde todos os acessos dos cinco sítios
de amostragem foram percorridos de carro, durante o dia e também a
transição do crepúsculo para o anoitecer.
9. Com o intuito de registrar mamíferos noturnos, foram realizados três
censos noturnos por campanha, onde todos os acessos dos cinco sítios
de amostragem foram percorridos durante a transição do crepúsculo para
o anoitecer. Esses censos foram realizados utilizando-se de automóvel e
um possante refletor manual (silibim – potência 1.000.000 de velas) para
localização de animais isolados ou grupos deles, no campo ou bordas de
mata. As rotas noturnas seguiram aproximadamente o mesmo roteiro
durante o dia, sendo que no censo diurno incursões adentrando os
fragmentos foram efetuadas, permitindo a localização de vestígios
(toca, fezes e ninhos) somados à possibilidade de visualizar os animais.
Paralelamente rodovias próximas foram percorridas em busca de fauna
atropelada para aumentar as chances de detecção desses animais nas
áreas de estudo.
10. A condição de conservação das espécies da fauna em âmbito estadual foi
incluída no processo de análise seguindo apenas a Revisão das Listas
Vermelhas da Flora e da Fauna Ameaçadas de Extinção de Minas Gerais
(Biodiversitas, 2007). Para espécies endêmicas seguiu-se Marinho-Filho
et al. (2002).
Aviafauna
• Metodologia
As observações das aves foram feitas com o auxílio de binóculos (7X50;
8X40mm) e iniciadas ao amanhecer, com duração de, no mínimo, cinco
horas, bem como no final da tarde. Foram realizadas em trilhas pré-
existentes e estradas. Todas as aves vistas e/ou ouvidas durante o
percurso foram registradas.
11. O método de observação direta utilizado no estudo foi o método das listas
de Mackinnon, com dez listas como unidade amostral, que consiste em
registrar as dez primeiras espécies encontradas em uma lista. Nesse
método não se registra espécies repetidas em uma mesma lista, e quando
completar as dez espécies inicia-se então uma nova lista. Listas com
menos de dez espécies foram descartadas, e as espécies registradas
incluídas apenas na lista final de espécies (Ribon, 2010). A vantagem
dessa metodologia é que pode ser realizada ao longo de todo o dia, além
de oferecer parâmetros quantitativos sobre a comunidade de aves, visto
que suas amostras são as dezenas de listas obtidas ao longo do estudo.
Durante as observações foram registradas as espécies detectadas, hábitat
em que se encontram e o método de registro (acústico e/ou visual).
12. A aplicação deste método visa à obtenção de um índice de abundância
relativa das espécies de aves, denominado Índice de Frequência nas
Listas (IFL). Para calcular esse índice, divide-se o número de listas de dez
espécies em que determinada espécie ocorreu, pelo número total de listas
obtido. Desta forma, assume-se que quanto mais comum for uma
espécie, mais vezes ela será registrada e consequentemente maior será
seu IFL. Apesar de existirem métodos mais adequados para determinar a
abundância das espécies, o método das listas de Mackinnon é mais
eficiente na realização de inventários, pois, além de verificar a
riqueza, avalia também a abundância relativa das
espécies, independentemente de suas falhas quanto a estimativas de
abundância e verificações de associações de aves a habitats
(Ribon, 2010).
13. • Captura/Marcação das aves
Foram definidas por campanha, pelo menos duas áreas mais
representativas (uma na ADA e outra na AID) para realização das
capturas/marcações usando redes de neblina (mistnets), de 12 m de
comprimento por 2,8 m de altura (cada). Dados morfométricos e biológicos
das aves capturadas e identificadas foram coletados e foi realizado o
procedimento de marcação com anilhas metálicas cedidas pelo
Cemave/IBAMA. Após o processamento e documentação fotográfica, os
exemplares de aves capturados foram soltos no próprio local de captura.
14. As redes foram instaladas em trilhas previamente abertas nas áreas
escolhidas, abertas ao amanhecer, vistoriadas em intervalos regulares e
fechadas ao final da manhã. A quantidade de redes de neblina utilizada foi
definida de acordo com o tamanho e condições das áreas
escolhidas, obedecendo ao mínimo de 10 redes em cada local. O número
de amostragens em cada área foi o mesmo - no mínimo 01 (um) dia de
amostragem por área escolhida em cada campanha. Câmeras fotográficas
digitais foram usadas para documentação das espécies de aves
capturadas.
Para ambos os métodos, foram utilizados, quando necessários, guias de
campo para a identificação precisa das espécies (Develey; Endrigo, 2004;
Sigrist, 2007). Para a nomenclatura e ordem taxonômica serão utilizadas
as normas do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2009).
15. Entomofauna
• Metodologia
As coletas referentes à primeira campanha foram realizadas em setembro
de 2010 no final da estação seca e as coletas referentes à segunda
campanha foram realizadas na estação chuvosa em fevereiro de 2011.
Para abranger um maior número de espécies, as coletas foram realizadas
no período diurno e noturno, sendo utilizadas quatro metodologias:
armadilha de solo tipo pitfall, coleta direta (manualmente), rede
entomológica e armadilha luminosa. Os quatro métodos de coleta
utilizados estão detalhados a seguir:
16. • Armadilha tipo pitfall: para as armadilhas foram utilizados copos plástico
de 300 ml colocados no solo com a abertura rente à superfície e
preenchidos até um 1/3 com água e detergente. Em cada área de
coleta foram colocadas 10 armadilhas distantes 10 metros uma da
outra e após 48 horas as armadilhas foram retiradas e seu conteúdo
preservado em um recipiente contendo álcool.
17. • Coleta direta: este método consiste na procura ativa de espécies de
insetos forrageando sobre o solo, na serrapilheira, embaixo de troncos
caídos, pousados em folhas ou em ocos de troncos e cascas de
árvores. A procura ativa foi feita por uma hora em cada área e os
insetos encontrados foram capturados com o auxílio de pinças e
pincéis. Os insetos coletados foram colocados em câmara mortuária
confeccionada com um vidro de boca larga contendo algodão embebido
em acetato de etila no fundo (Azevedo-Filho & Prates-Júnior 2000). Em
seguida os insetos foram conservados em recipientes contendo álcool.
18. • Coleta por rede entomológica: este tipo de rede é o método mais
comumente utilizado na captura de insetos voadores diurnos (Azevedo-
Filho & Prates-Júnior 2000). A rede entomológica é também conhecida
como rede aérea ou puçá e trata-se de um saco de filó em forma de
cone (60 cm de profundidade), preso a um aro de arame de
aproximadamente 30 cm de diâmetro acoplado a um cabo de madeira
ou metal de tamanho variável (normalmente um metro de
comprimento). Os insetos são capturados em voo ou sobre a vegetação
através de movimentos rápidos, posicionando a área aberta da rede na
direção dos mesmos. As coletas ocorreram durante 1 hora em cada
área na procura de insetos e depois de capturados foram colocados em
câmara mortuária e posteriormente conservados em recipiente com
álcool.
19.
20. • Coleta por armadilha luminosa: armadilhas luminosas são consideradas
um dos métodos mais eficientes para captura de insetos noturnos. Esse
método captura vários grupos de insetos nas formas aladas e que
apresentam fototropismo positivo. Essa armadilha conta com um
aparato de metal em forma de funil que suporta uma lâmpada. Na base
desse aparato é fixada uma rede onde os insetos são capturados. A
fonte luminosa utilizada foi radiação ultravioleta, que é considerada a
mais eficiente em relação à atratividade dos insetos. As armadilhas
foram colocadas nas áreas 1, 2, 3 e 5 e deixadas em funcionamento
aproximadamente entre 19 horas e 4 horas do dia seguinte. Apenas na
área 4 não foi realizada coleta com armadilha luminosa devido à
proximidade com a área 2.
21.
22. Após as coletas os insetos foram levados ao laboratório, triados e
separados. Devido à alta diversidade de insetos, associada ao baixo
conhecimento taxonômico e ao reduzido número de especialistas em cada
grupo de insetos, a maioria das espécies foi separada até morfoespécie
com a finalidade de analisar a riqueza de espécies coletadas e as
diferenças na composição de espécies entre as áreas. Apenas quando
possível, os insetos coletados foram identificados em espécie. Os insetos
amostrados foram triados no Laboratório de Ecologia de Insetos Sociais
da Universidade Federal de Uberlândia e estão incluídos na coleção
entomológica do laboratório.
23. Herpetofauna
• Metodologia
A primeira campanha foi realizada no final do mês de setembro de 2010 e
a segunda campanha no mês de fevereiro de 2011, com observações
diurnas e noturnas. Além da procura por espécimes na natureza, foram
consultados moradores e/ou funcionários das fazendas amostradas, a fim
de se coligir informações sobre espécimes que não foram encontradas
durante o período de procura.
24. Os anfíbios foram amostrados utilizando-se duas metodologias
básicas, amostragens visual e auditiva simultaneamente, dois métodos
considerados complementares (Zimmerman, 1994). Caminhadas, durante
o dia e à noite, revirando pedras, cupinzeiros, folhiço e outros abrigos
potenciais, ou mesmo identificando as espécies a partir de sua
vocalização. Esse método propicia um acréscimo significativo nas
listas, permitindo uma comparação da riqueza de espécies entre as
diversas unidades de amostragem. Por outro lado, a sua eficiência varia
muito com a experiência do coletor (Lips, et al., 2001).
25. • Amostragem de Escamados (Lagartos e Serpentes)
O método aplicado para o levantamento de répteis foi a procura limitada
por tempo (Martins, 1994) que consiste no deslocamento a pé, muito
lento, através de trilhas, à procura destes espécimes. O esforço de
procura abrangeu todos os ambientes visualmente acessíveis, sendo
percorridas trilhas durante a noite e o dia. Com relação à procura de
serpentes foi dada ênfase no período noturno, uma vez que o maior
esforço a ser empregado à noite, deve-se a maior taxa de encontros de
escamados, principalmente serpentes (Martins, 1994). Além disso, galhos
e troncos foram revirados durante o dia a fim de se encontrar escamados
em repouso ou dormindo.
26. • Armadilhas de queda (pitfall traps)
As armadilhas de queda (pitfall traps) permitem a coleta
padronizada, independente da experiência do coletor, facilitando as
análises de abundância relativa das espécies e de similaridade das
comunidades. Além disso, é um método amplamente utilizado em
levantamentos e monitoramentos de anfíbios (Heyer et al., 1994; Brandão
& Péres JR., 2001). Consiste na colocação de baldes plásticos de 50
litros, enterrados no solo até a borda. Para cada unidade de
amostragem, foram utilizadas armadilhas dispostas em arranjos de quatro
e os baldes de cada linha foram unidos por uma barreira de lona plástica
preta (drift fence), de modo a direcionar a movimentação dos animais para
as armadilhas. As armadilhas foram montadas na primeira excursão a
campo, fechadas no período entre as excursões e abertas novamente na
campanha de campo seguinte. Durante cada campanha de campo
ocorreram inspeções diárias, para a retirada dos animais capturados.