SlideShare a Scribd company logo
1 of 10
Download to read offline
ISCTE-IUL 2013/2014 
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa 
Doutoramento em Arquitectura 
dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos 
Ano Lectivo 2013 / 2014 Prof. Doutora Ana Vaz Milheiro 
Sustentabilidade e Dinâmica Urbana nos processos de Regeneração 
(ARTE E CULTURA - PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE DA CIDADE TRADICIONAL?) 
“ A chave do futuro encontra-se no espírito do Homem e não nas suas tecnologias” - Frederico Mayor 
O desenvolvimento sustentado, integrado na dinâmica urbana deixou de passar 
exclusivamente pela ‘Construção’. Cada vez mais o conceito – chave ‘Regeneração’, 
reabilitação, e conectividades de rede, entrarão nos parâmetros de intervenção, para uma 
política de intervenção de combate a crise (da 'cidade'), diferente da praticada nas últimas 
décadas. 
Sustentabilidade – modo ou condição que permite a existência continuada do homem, 
possibilitando uma vida segura, saudável e produtiva, em harmonia com a natureza e os 
valores culturais e espirituais locais. 
O documento ‘Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, 2002’, diz que na 
década de 90, “a área construída aumentou significativamente, sendo uma das mais 
elevadas da Europa, quer em termos de percentagem do território quer em termos de 
área construída per capita”, o documento propõe como linha de orientação, promover uma 
política de ordenamento do território sustentável, através de medidas que permitam “ 
contrariar a expansão urbana (em ‘mancha de óleo’), fruto de incorrectas políticas de 
ordenamento do território e de inadequadas formas de criação de receitas municipais, 
contabilizando as externalidades* económicas e ambientais daí resultantes, 
nomeadamente em termos dos transportes (indução ao uso do transporte individual, 
degradação e ineficiência dos transportes colectivos), alterações ao uso do solo e 
degradação dos centros históricos, conferindo primazia à reabilitação...” (regeneração) 
externalidade* - Ocorre quando o bem-estar de um consumidor ou o produto de uma empresa são afectados por decisões 
de consumo ou de produção de outros. A existência de externalidades implica mudanças em algumas de nossas avaliações 
sobre o funcionamento dos mercados. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
... “ Desenvolver uma política de habitação sustentável, visando a revalorização das áreas 
suburbanas, de zonas residenciais degradadas e a reabilitação do parque urbano. Esta 
política deverá assentar em três vectores: 
- A Durabilidade, nomeadamente dos materiais de construção e a adaptação à 
ocupação ao longo do tempo; 
- A coesão social, garantindo a acessibilidade ao mercado de habitação ... diminuir 
os custos indirectos resultantes dos transportes / localização; 
- A eficiência ecológica, contemplando a racionalização do uso do solo, dos 
materiais de construção, da energia e da água.” 
A quase inesgotável possibilidade de expansão urbana consagrada nos PDMs alimentou 
até agora os interesses imobiliários, tendo potenciado a actual crise, uma vez que 
permitiu (passivamente) um crescimento não sustentável. A não programação de 
intervenções em espaço urbano (construído (e aproveitamento dos 'vazios urbanos')) 
deixou em suspenso esta grande reserva, que são os centros urbanos (tradicionais) das 
cidades - com um potencial resiliente que absorve facilmente alterações programadas de 
uso (regeneração). Os espaços construídos são o futuro das oportunidades da cidade. 
Uma das ferramentas para a realização da requalificação e para a redefinição funcional 
serão os processos de Regeneração. 
‘Hoje’, fruto de uma maior consciência dos problemas da dispersão, alentados pela crise 
do mercado imobiliário, começa-se a despertar para a Regeneração Urbana. Os centros 
tem sido progressivamente abandonados. O nosso país é o pais da União Europeia que 
menos investe em Recuperação / Reabilitação / Regeneração. 
As lógicas de mercado têm-se acomodado à expansão urbana. Os técnicos e promotores 
achavam mais fácil e acessível construir a partir do nada. Este facto é agravando pela 
insuficiente formação (informação) para as práticas e processos de regeneração, 
agravados por não existir uma dinamização do mercado de regeneração - faltou uma 
política e sistemas de penalizarão da construção nova e incentivos á 'regeneração 
urbana'. 
A super – valorização do preço do solo urbano (e da construção), colocam o acesso a 
casa própria a níveis muito altos, e o desequilíbrio do mercado de arrendamento, tornou 
pouco fluida a mobilidade residencial ('o pequeno proprietário quis ser especulador'). 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
Actualmente com a crise do financiamento, os problemas energéticos e a necessidade de 
melhor gestão de recursos põe em causa a manutenção de enormes fracções da cidade 
que estão vazias ou obsoletas. O desaproveitamento de infra – estruturas urbanas 
existentes, os gastos de energia em deslocações, a extensão dos serviços urbanos 
(recolha de lixos, segurança), a ampliação dos espaços e vias a conservar, facilmente 
revela os custos ocultos das políticas de expansão. Os processos de regeneração 
assumem assim um papel de acção estruturante para a recriação e reabilitação de modo 
sustentável dos espaços da cidade, exigindo um urbanismo mais interventivo e uma 
disposição activa para soluções participativas e abertas. 
Os processos de regeneração têm algumas dificuldades iniciais a ultrapassar. O tecido 
preexistente em muitos casos não se encontra capaz de receber as actuais exigências de 
conforto urbano. A resolução de problemas de propriedade, o fraccionamento da 
propriedade dificulta as operações integradas em conjuntos urbanos. A circulação e o 
estacionamento automóvel constitui um obstáculo a ultrapassar, essencial para o sucesso 
da operação. A articulação da operação com as preexistências, a programação da 
ocupação têm que ser estudadas ao nível da cidade, envolvendo novos mecanismos, 
estudos de viabilidade, e processos de acção (assim como novos processos de marketing 
(por operação)), devendo todos os intervenientes acordarem de modo participativo as 
acções (município, promotores, moradores - devendo o processo ser o mais participativo 
possível para um consenso alagado - para o sucesso da operação). 
A regeneração urbana tem de evidenciar vantagens, de modo a ganhar adeptos, 
redireccionar o mercado, demostrando o valor da alternativa. As acções de regeneração 
devem valorizar o património urbano e ambiental, fiscalidade adequada, redefinição de 
índices, definição e programação da circulação e estacionamento articuladas com a 
mobilidade urbana e implementação de processos de renovação do espaço publico – o 
redesenho do espaço público mais acolhedor e com maior conforto urbano, readaptado a 
novas vivências das cidades provoca sinergias atractivas. 
Abordagem sobre o Processo e Metodologia de Regeneração 
A Regeneração Urbana e Ambiental são estratégias e acções sustentáveis destinadas a 
potenciar os valores sócio – económicos, ambientais e funcionais de determinadas áreas 
de modo a elevar a qualidade de vida das populações residentes, melhorando as 
condições físicas do parque edificado, os níveis de habitabilidade e equipamentos 
comunitários, infra-estruturas, instalações e espaços livres. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
O Processo regeneração Sustentável terá de constituir e fazer parte integrante dos 
processos de fazer cidade. É urgente a criação de opções estratégicas e definições de 
acções necessárias à sua eficaz implementação. Um factor importante do sucesso de 
uma acção de Regeneração passa pela interacção entre os vários agentes envolvidos. Os 
técnicos devem adoptar uma abordagem mais integrada no conjunto estudado, tendo em 
consideração os fundamentos da sustentabilidade e dos valores ambientais (como a eco 
– eficiência e sustentabilidade nos processos construtivos). É essencial o trabalho em 
equipar multidisciplinares, de modo a atingir objectivos de um modo mais eficaz – através 
de soluções optimizadas, métodos e ferramentas de controlo do desenho urbano, custo, 
ambiente, monitorização, manutenção, vida útil, energia, gestão de resíduos, saúde, 
tecnologia, etc. O Processo deve possuir ferramentas de gestão que possam assegurar a 
funcionalidade do sistema e a flexibilidade de usos (sistema aberto). 
Uma metodologia de intervenção sustentável passa pela análise do território, nas mais 
diversas componentes e reportar as debilidades e potencialidades. A análise segundo 
indicadores de sustentabilidade produz meios de comparação com outros sistemas. A 
síntese das análises referidas determina os principais aspectos a trabalhar para que um 
determinado território se requalifique. 
Os objectivos Gerais de uma sustentável estratégia ou acção de Regeneração são os 
enunciados na ‘Carta de Aalborg’** 
A definição dos objectivos específicos da ‘regeneração’ deverá ser discutida e analisada 
pelos intervenientes locais e investidores (estratégia de acção prevista na Agenda 21). Os 
técnicos deverão fazer parte do processo como mediadores, moderadores, elaboração de 
processos geradores de consensos e produtores de instrumentos eficazes para a 
realização dos objectivos a atingir. 
O processo de Regeneração não deve de modo algum ser um sistema fechado. Deve 
possuir um sistema de gestão processual que possa introduzir e rectificar vectores de 
modo a gerar actualizações constantes à programação. Esta abertura programática 
permite que no fim de cada ciclo ou fase seja feita uma avaliação. A avaliação do 
processo e a introdução de informação permite (se for caso disso) redefenir o plano inicial 
e criar ou recriar novas ferramentas. Através deste processo o plano e os objectivos a 
atingir actualizam a sua sustentabilidade e eficácia perante o sistema de intervenção. 
** Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade (aprovada pelos participantes na Conferência Europeia sobre 
Cidades Sustentáveis, realizada em Aalborg, Dinamarca, a 27 de Maio de 1994) 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
O lançamento de uma iniciativa de Regeneração (Urbana) deve ser fundamentada 
através da criação ou consolidação de parcerias e de sensibilização da comunidade 
global (área de abrangência ). 
A realização de Diagnóstico do Sistema de Intervenção permite identificar as principais 
potencialidades e debilidades, oportunidades e ameaças. O estrutura desta análise deve 
ter uma componente participativa da comunidade, dos agentes e parcerias e uma 
componente técnica. 
O diagnostico / Análise deverá reportar debilidade e potencialidades nas seguintes 
componentes: Localização Geográfica; Ambiente e Paisagem (urbano e natural); 
Património; Habitação; Educação; História e Urbanismo; Demografia e ‘Fisionomia’ Social; 
Dinâmica Económica e Profissional; Turismo; Transportes; e Cultura e Lazer. 
A realização de um documento de análise de uma área deverá cruzar as várias 
componentes estudadas aplicando-lhes uma matrizes SWOT – Strenghts, Weakness, 
Opportunities e Threats – pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças. 
Tendo por base as matrizes SWOT anteriormente referidas (uma por cada componente 
estratégica definida), efectuar-se-á um esforço de reflexão e síntese tendo em vista a 
produção de uma matriz SWOT global incidente sobre a área de abrangência da 
intervenção, permitindo, deste modo, não só efectuar um retracto da situação actual, mas 
também introduzir uma dimensão prospectiva relativamente a: evolução e significado dos 
pontos fortes e fracos num contexto temporal; evolução e significado das oportunidades e 
ameaças que foram possíveis identificar tendo em vista o dinamismo do contexto interno 
num horizonte de médio prazo. 
· Consideração, na realização do diagnóstico, a definição de indicadores que 
permitam a monitorização e futuros ajustamentos das políticas e das acções. 
· Processo de validação dos indicadores definidos e os agentes económicos, 
sociais e institucionais. 
A Definição de áreas de actuação para a aplicação de uma estratégia de Regeneração 
Sustentável deve ser definida com metas concretas para as quais se deverá caminhar. 
Estas metas / objectivos deverão ser de carácter científico, social ou cultural, a curto, 
médio ou longo prazo. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
O processo de definição de objectivos / Metas deve envolver os vários participantes e 
actores do processo, de modo a produzir uma Proposta Estratégica de Regeneração 
sustentável (Planeamento participativo): 
A análise e avaliação dos dados do diagnóstico e as reuniões com os vários actores auto 
- define as Grandes Opções e Linhas de Orientação Estratégica Conducentes ao Plano 
de Acção de um Processo de Regeneração, resultando a definição dos grandes 
objectivos gerais e por área estratégica, formulando-se as estratégias adequadas à 
prossecução desses objectivos e definindo um leque de acções concretas estruturadas 
através de modelo de gestão adequados que funcionem como ferramenta descritiva e 
operacional corporizando as estratégias do processo de Regeneração; 
O Modelo de Gestão descritiva e operativa por acção, poderá ser o seguinte: 
 Designação da acção; 
 Área estratégica de intervenção; 
 Descrição detalhada da acção; 
 Justificação respeitante à área estratégica em que se integra; 
 Justificação/efeitos noutras áreas estratégicas; 
 Contributos para a sustentabilidade; 
 Síntese de efeitos esperados; 
 Pontos fortes e fracos da acção (incluindo apreciação do grau de exequibilidade); 
 Identificação de alternativas para a sua implementação; 
 Identificação dos agentes envolvidos ou a envolver e do seu grau de compromisso; 
 Investimento expectável; 
 Fontes de financiamento possíveis; 
 Complementaridades com outros projectos e prioridades temporais; 
 Calendarização prevista para a execução; 
 Actividades a impulsionar no processo; 
 Elementos para a avaliação da acção (indicadores específicos). 
A Criação do Plano de Acção como elemento central no processo de Regeneração sustentável 
trata-se da criação de um instrumento de gestão orientado para a implementação de estratégias 
identificadas. Este Instrumento de intervenção deverá ser tão prático quanto possível surgindo 
como resultado das conclusões. O Plano de Acção de Regeneração identifica acções concretas a 
implementar bem como a sua descrição, os seus promotores e os parceiros envolvidos. Este 
instrumento deverá estar aberto a novos contributos. 
O Plano de Acção de um Processo de Regeneração, consubstancia as Linhas de Orientação 
Estratégica num Programa Sustentável organizado em torno de objectivos claros e faseados e 
submetido a uma disciplina de monitorização técnica e financeira. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
Onde surgirem problemas, surgirão também, as soluções. Isto significa que, embora seja a 
autoridade local quem conhece melhor os problemas, esta não deve solucioná-los todos sem ajuda 
do exterior, por exemplo, das redes de associações, pois é de extrema importância o seu 
relacionamento com outras autoridades locais. 
Existem também muitas organizações, grupos e indivíduos implicados na gestão local, geralmente 
designados por “actores”. Estes actores podem ser agrupados, de um modo geral, nas seguintes 
categorias, embora estas se sobreponham em termos da respectiva posição numa comunidade: 
Cidadãos; 
Grupos de interesse; 
Comércio e indústria locais; 
Administração (central). 
A Importância do Desenho Urbano nas Acções de Regeneração Urbana e Ambiental 
Os projectos de Regeneração Urbana e Ambiental, tem de obter financiamento para a sua 
realização. Sem querer, retiram o papel fundamental dos estudos de viabilidade / 
económica de uma determinada acção, a qualidade do Desenho Urbano assume-se cada 
vez mais como o principal factor de decisão para a realização das acções de 
regeneração. 
A avaliação da qualidade do Desenho Urbano de uma determinada acção de regeneração 
urbana, passa por vários estágios de aproximação decorrentes do desenvolvimento e 
detalhe de cada acção. O desenho urbano é a ferramenta da regeneração para ‘mudar’ a 
paisagem urbana e criação de lugares onde as pessoas queiram viver, trabalhar e 
interagirem em sociedade, desde a rua à ‘nova cidade’. O desenho sustentável pode 
gerar novos apelos à cidade ‘tradicional’, sendo fundamental a qualidade para atrair, 
redireccionar e desenvolver o mercado, mudando a perspectiva do lugar e criando valor. 
Pode-se atribuir alguns aspectos chave para a criação de um Desenho Urbano de 
qualidade e sustentável: 
Espaços para as Pessoas – Para que os lugares sejam bem usados e bem vividos devem ser 
seguros, confortáveis, com variedade e atractivos. Aos lugares deve ser atribuídas características 
de distinção, e devem ser criados lugares de oportunidade e reunião. 
Valorizar o Existente – O desenvolvimento, enriquecimento e valorização das qualidades dos 
espaços urbanos existentes (em cada escala de intervenção - Região; Cidade; Bairro ; Rua). 
Promover a Conexão – Os lugares devem ter características de fácil identificação e conexão com a 
envolvente, de modo a facilitar a georeferenciação do utente com os lugares, facilitando as 
deslocações e ligações entre espaços, ao nível do peão; bicicleta; transportes públicos e transporte 
particular. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
Meio - Ambiente – É importante que o desenho trabalhe os espaços de modo a criar um equilíbrio 
sustentável entre o ‘natural’ e o urbano. O desenho deverá tirar o máximo partido do clima, da 
orientação e dos recursos naturais dos espaços, o ‘eco – desenho’ promove lugares e construções 
com maior eficácia energética e com maior conforto urbano. 
Formas e Usos Mistos – A criação de espaços com forma e função heterogénea estimula e 
promove a coesão social, fomentam a diversidade, desenvolvimento e inovação. 
Controlo do Investimento – Um processo de regeneração terá de ser bem gerido, monitorizado e 
mantido (manutenção), para que o seu sucesso e sustentabilidade seja continuado. O processo 
devem ter etapas definidas e mecanismos de implementação. 
Promover Desenvolvimento através do Desenho – O Desenho deve ser flexível de modo a poder 
responder a mudanças futuras de uso, estilo de vida e densidade de ocupação. Os processos 
devem gerir eficazmente os recursos desenvolvidos, criando a flexibilidade do uso da propriedade, 
dos espaços públicos, das infra – estruturas, ligações a rede de transportes, gerência do tráfego e 
estacionamento. 
Considerações: 
- Análise e apreciação do contexto da intervenção - devem ser analisados a comunidade, os espaços, os 
recursos naturais, as ligações, a flexibilidade e a ‘visibilidade’ do espaço da intervenção. 
- Regeneração de estruturas urbanas – é importante analisar os movimentos casa-trabalho; densidade, 
equipamentos, a morfologia urbana, a eficácia energética, a paisagem, as marcas de referência do espaço e 
dos lugares e os usos; 
- Transportes, mobilidade e ligações – um processo de regeneração nunca deve isolar uma área, mas sim 
promover a ligação dos espaços, promovendo ligações pedonais, criação de ciclovias, gestão de transportes 
públicos e tráfego, parqueamento e infra - estruturas de apoio. 
- Promover e criar identidade do lugar – através de espaço urbano ‘positivo’, animação dos centros, construir 
com atenção à escala do lugar, criação de edifícios e espaços multifuncionais ( com flexibilidade de usos), 
criar um lugar desejado, próspero e profícuo. 
ARTE E CULTURA - PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE DA CIDADE TRADICIONAL? 
A preocupação com a cidade tradicional e com a sua regeneração tem vindo a fazer parte 
de programas e iniciativas de modo a criar maior atracção de fixação e de oportunidades 
através da valorização dos valores da cidade tradicional como base sustentável para uma 
melhor economia, sociedade e conforto. 
O movimento capital europeia da cultura pretende, promover a cultura local/regional da 
cidade, entendendo-se este movimento como uma forma de valorizar a cultura de cidade 
pressupondo que é nela que se geram os maiores fenómenos de experiências culturais 
da Europa. Este movimento regenerador confere ao lugar da cultura e à arte um vector de 
desenvolvimento e (re)valorização das cidades. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
A relação da cultura e da arte com a cidade tende hoje a ser vista como contendo um 
potencial ímpar de regeneração urbana. 
A arte e a cultura são ingredientes de identidade da cidade, ficando em aberto o modo 
como a cidade, aproveitando a oportunidade de acontecimentos culturais ‘globalizantes’, o 
pode projectar de forma coerente e duradoura, para não tornar um acontecimento 
regenerador numa oportunidade esgotada. 
A fragmentação urbana, a degradação das relações primárias, o estímulo ao mercado, à 
diferenciação e à mobilidade, converteram as novas expansões em lugares de 
desencanto e desconforto urbano – traduzindo de um modo simplista o ‘Projecto Moderno’ 
(modernismo). 
A atitude pós-moderna será a re-orientação das políticas urbanas dos subúrbios e bairros 
periféricos para os centros das cidades – sustentada com operações de regeneração da 
cidade tradicional? 
Um caso paradigmático da cidade industrial era o seu crescimento a partir do centro para 
as margens. Actualmente a resposta a decadência funcional a todos os níveis das 
periferias coloca em sentido inverso, uma cidade virada para o comércio e serviços (pós 
industrial) cresce das margens para o centro. 
Este crescimento só pode ser sustentável pela regeneração do centro de uma cidade, 
através da re - construção de uma nova identidade para a cidade, no empenhamento de 
numerosos agentes locais na construção de uma nova paisagem cultural com uma 
espacialização específica - regeneração cultural. Este processo já despertou uma 
dinâmica económica simbólica posta em prática por artistas e artesãos que se vão fixando 
no centro degradado da cidade, existindo recuperação residencial de instauração de 
zonas alternativas de produção cultural, boémia e de regeneração de zonas ribeirinhas, 
manifestada na multiplicação de ateliers de design, galerias, restaurantes, etc. 
No entanto o fenómenos de re - apropriação de certas zonas por ‘gente da arte e cultura’, 
pode garantir que o investimento cultural teve efeitos positivos directos sobre a renovação 
urbana e a imagem da cidade, no entanto o êxito está na criação de políticas continuadas 
para refazer a imagem do centro da cidade e a nova identidade, de forma a que articulem 
no futuro a lógica económico-política da cidade para captar a iniciativa de novos agentes 
e criar novas oportunidades. 
O impacto da globalização, a concorrência inter-cidades impõe, sobre a cidade, 
exigências e desafios novos, cuja resolução depende da sua modernização. Uma das 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
ISCTE-IUL 2013/2014 
formas de modernização das cidades, é através da reinvenção da tradição e da sua 
reconversão em recurso competitivo. 
A através da ‘destradicionalização’ pode mudar-se a imagem da cidade de província, 
culturalmente fechada e tradicionalista, para uma cidade simbolicamente global, aberta e 
em processo de modernização. O património histórico e monumental local, desempenha 
um papel crucial nesta reconfiguração da identidade-imagem da cidade. Um processo de 
regeneração urbana pode ser dinamizado pela globalização da imagem através das 
candidaturas e títulos conferidos pela UNESCO (ex. ‘Património da Humanidade’). O 
aproveitamento destes títulos proporciona a abertura ao turismo urbano e cultural, sendo 
o património, um dos seus recursos mais valiosos, proporcionando à redinamização da 
cultura e da economia locais, através da projecção internacional. 
Nota: O tema que pretendo desenvolver na tese de Doutoramento prende-se com 
as questões da resiliencia da cidade e com os processos de Regeneração Urbana, 
com enfoque na importância da Arte e Cultura como a cola de ligação entre as 
várias partes da cidade e o sociedade. Proponho-me igualmente estudar o 
desenvolvimento da cidade durante o século XX, nomeadamente no que diz 
respeito a Arte e Cultura, nomeadamente a Arte Publica, o espaço publico, as 
manifestações culturais, como vectores de desenvolvimento da cidade dentro dos 
processos de regeneração urbana. 
BIBLIOGRAFIA 
· ‘A Green Vitruvius’ – Princípios e Práticas de Projecto para uma Arquitectura Sustentável 
· Better Places to Live: by Design was prepared by consultants Llewelyn – Davies in association with 
Alan Baxter  Associates 
· Domingues, A. , Política urbana e competitividade Sociedade e Território, 
· ‘Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, ENDS 2002 
· Guia Europeu de Planeamento para a Agenda 21 Local 
· Revista ‘Planeamento’ n.º 1 – Associação Portuguesa de Planeadores do Território (Universidade de 
Aveiro) 
· Salgueiro, T. B., “A Cidade em Portugal: Uma Geografia Urbana” 
· Silva, Vítor Cóias e, Revista ‘Pedra e Cal’, n.º11 e 17 
· Pereira, Nuno Teotónio Revista ‘Pedra e Cal’ n.º 9 e 18 
· Zukin, S. , The Cultures of Cities. Cambridge (Mass.) e Oxford, Blackwell. 
trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) 
Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014

More Related Content

What's hot

BIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVEL
BIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVELBIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVEL
BIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVELBiotera
 
ECCC : Economia Circular, Compartilhada e Criativa
ECCC : Economia Circular, Compartilhada e CriativaECCC : Economia Circular, Compartilhada e Criativa
ECCC : Economia Circular, Compartilhada e CriativaBiotera
 
Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...
Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...
Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...Bruno Amaral de Andrade
 
Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00
Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00
Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00forumsustentar
 

What's hot (6)

BIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVEL
BIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVELBIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVEL
BIOTERA- ESCOLA SUSTENTÁVEL
 
ECCC : Economia Circular, Compartilhada e Criativa
ECCC : Economia Circular, Compartilhada e CriativaECCC : Economia Circular, Compartilhada e Criativa
ECCC : Economia Circular, Compartilhada e Criativa
 
Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...
Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...
Uma análise sobre a sustentabilidade de Santa Leopoldina/ES, com base nos cri...
 
Introdução aula 6
Introdução   aula 6Introdução   aula 6
Introdução aula 6
 
Cap3
Cap3Cap3
Cap3
 
Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00
Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00
Apresentacao fkl sustentar_ago11 florence 17_00
 

Similar to Regeneração Urbana Sustentável e Dinâmica da Cidade

Experiencia rm vitoria
Experiencia rm vitoriaExperiencia rm vitoria
Experiencia rm vitoriaIDEMER2017
 
Gerenciamento_construcao.pdf
Gerenciamento_construcao.pdfGerenciamento_construcao.pdf
Gerenciamento_construcao.pdfGeovana Thiara
 
Gerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdfGerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdfGeovana Thiara
 
Gerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdfGerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdfGeovanaThiara2
 
A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009
A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009
A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009Laercio Bruno
 
Manual de Obras Públicas Sustentáveis
Manual de Obras Públicas SustentáveisManual de Obras Públicas Sustentáveis
Manual de Obras Públicas SustentáveisPref_SBC
 
Cidades sustentabilidade urbana
Cidades sustentabilidade urbanaCidades sustentabilidade urbana
Cidades sustentabilidade urbanamanjosp
 
Af6 asbea sustentabilidade
Af6 asbea sustentabilidadeAf6 asbea sustentabilidade
Af6 asbea sustentabilidadeAna Claudia
 
Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001
Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001
Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001Myllena Azevedo
 
AReasurbanas 120302180125-phpapp02
AReasurbanas 120302180125-phpapp02AReasurbanas 120302180125-phpapp02
AReasurbanas 120302180125-phpapp02Tiago Ramos
 
Aula 4. rsu parte 1pdf
Aula 4. rsu parte 1pdfAula 4. rsu parte 1pdf
Aula 4. rsu parte 1pdfGiovanna Ortiz
 
Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...
Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...
Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...Luis Neto
 
Desenvolvimento turístico do patrimônio urbano
Desenvolvimento turístico do patrimônio urbanoDesenvolvimento turístico do patrimônio urbano
Desenvolvimento turístico do patrimônio urbanoFábia Tarraf Macarron
 
responsabilidade social e meio ambiente
responsabilidade social e meio ambienteresponsabilidade social e meio ambiente
responsabilidade social e meio ambienterenatabofreire
 
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores CríticosCidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores CríticosFundação Dom Cabral - FDC
 
Desenvolvimento sustentavel do turismo
Desenvolvimento sustentavel do turismoDesenvolvimento sustentavel do turismo
Desenvolvimento sustentavel do turismoFábia Tarraf Macarron
 
vaziopleno_visao de paisagem
vaziopleno_visao de paisagemvaziopleno_visao de paisagem
vaziopleno_visao de paisagemTaícia Marques
 

Similar to Regeneração Urbana Sustentável e Dinâmica da Cidade (20)

Desenvolvimento Sustentável na Gestão das Cidades.
Desenvolvimento Sustentável na Gestão das Cidades.Desenvolvimento Sustentável na Gestão das Cidades.
Desenvolvimento Sustentável na Gestão das Cidades.
 
Rui Passos - Arquitecto
Rui Passos - ArquitectoRui Passos - Arquitecto
Rui Passos - Arquitecto
 
Experiencia rm vitoria
Experiencia rm vitoriaExperiencia rm vitoria
Experiencia rm vitoria
 
Gerenciamento_construcao.pdf
Gerenciamento_construcao.pdfGerenciamento_construcao.pdf
Gerenciamento_construcao.pdf
 
Gerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdfGerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdf
 
Gerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdfGerenciamento construção.pdf
Gerenciamento construção.pdf
 
A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009
A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009
A Arquitetura Da Sustentabilidade Out 2009
 
Manual de Obras Públicas Sustentáveis
Manual de Obras Públicas SustentáveisManual de Obras Públicas Sustentáveis
Manual de Obras Públicas Sustentáveis
 
Cidades sustentabilidade urbana
Cidades sustentabilidade urbanaCidades sustentabilidade urbana
Cidades sustentabilidade urbana
 
Af6 asbea sustentabilidade
Af6 asbea sustentabilidadeAf6 asbea sustentabilidade
Af6 asbea sustentabilidade
 
Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001
Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001
Estudo de Requalificacao Urbana Centro Maceió 2001
 
AReasurbanas 120302180125-phpapp02
AReasurbanas 120302180125-phpapp02AReasurbanas 120302180125-phpapp02
AReasurbanas 120302180125-phpapp02
 
Aula 4. rsu parte 1pdf
Aula 4. rsu parte 1pdfAula 4. rsu parte 1pdf
Aula 4. rsu parte 1pdf
 
Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...
Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...
Procura de Eficiência Energética e ambiental , distribuição de correio no mei...
 
Desenvolvimento turístico do patrimônio urbano
Desenvolvimento turístico do patrimônio urbanoDesenvolvimento turístico do patrimônio urbano
Desenvolvimento turístico do patrimônio urbano
 
responsabilidade social e meio ambiente
responsabilidade social e meio ambienteresponsabilidade social e meio ambiente
responsabilidade social e meio ambiente
 
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores CríticosCidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
Cidades Sustentáveis: Alguns Enfoques e Fatores Críticos
 
Desenvolvimento sustentavel do turismo
Desenvolvimento sustentavel do turismoDesenvolvimento sustentavel do turismo
Desenvolvimento sustentavel do turismo
 
vaziopleno_visao de paisagem
vaziopleno_visao de paisagemvaziopleno_visao de paisagem
vaziopleno_visao de paisagem
 
Gonzalez Pesquisa
Gonzalez PesquisaGonzalez Pesquisa
Gonzalez Pesquisa
 

Regeneração Urbana Sustentável e Dinâmica da Cidade

  • 1. ISCTE-IUL 2013/2014 ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Ano Lectivo 2013 / 2014 Prof. Doutora Ana Vaz Milheiro Sustentabilidade e Dinâmica Urbana nos processos de Regeneração (ARTE E CULTURA - PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE DA CIDADE TRADICIONAL?) “ A chave do futuro encontra-se no espírito do Homem e não nas suas tecnologias” - Frederico Mayor O desenvolvimento sustentado, integrado na dinâmica urbana deixou de passar exclusivamente pela ‘Construção’. Cada vez mais o conceito – chave ‘Regeneração’, reabilitação, e conectividades de rede, entrarão nos parâmetros de intervenção, para uma política de intervenção de combate a crise (da 'cidade'), diferente da praticada nas últimas décadas. Sustentabilidade – modo ou condição que permite a existência continuada do homem, possibilitando uma vida segura, saudável e produtiva, em harmonia com a natureza e os valores culturais e espirituais locais. O documento ‘Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, 2002’, diz que na década de 90, “a área construída aumentou significativamente, sendo uma das mais elevadas da Europa, quer em termos de percentagem do território quer em termos de área construída per capita”, o documento propõe como linha de orientação, promover uma política de ordenamento do território sustentável, através de medidas que permitam “ contrariar a expansão urbana (em ‘mancha de óleo’), fruto de incorrectas políticas de ordenamento do território e de inadequadas formas de criação de receitas municipais, contabilizando as externalidades* económicas e ambientais daí resultantes, nomeadamente em termos dos transportes (indução ao uso do transporte individual, degradação e ineficiência dos transportes colectivos), alterações ao uso do solo e degradação dos centros históricos, conferindo primazia à reabilitação...” (regeneração) externalidade* - Ocorre quando o bem-estar de um consumidor ou o produto de uma empresa são afectados por decisões de consumo ou de produção de outros. A existência de externalidades implica mudanças em algumas de nossas avaliações sobre o funcionamento dos mercados. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 2. ISCTE-IUL 2013/2014 ... “ Desenvolver uma política de habitação sustentável, visando a revalorização das áreas suburbanas, de zonas residenciais degradadas e a reabilitação do parque urbano. Esta política deverá assentar em três vectores: - A Durabilidade, nomeadamente dos materiais de construção e a adaptação à ocupação ao longo do tempo; - A coesão social, garantindo a acessibilidade ao mercado de habitação ... diminuir os custos indirectos resultantes dos transportes / localização; - A eficiência ecológica, contemplando a racionalização do uso do solo, dos materiais de construção, da energia e da água.” A quase inesgotável possibilidade de expansão urbana consagrada nos PDMs alimentou até agora os interesses imobiliários, tendo potenciado a actual crise, uma vez que permitiu (passivamente) um crescimento não sustentável. A não programação de intervenções em espaço urbano (construído (e aproveitamento dos 'vazios urbanos')) deixou em suspenso esta grande reserva, que são os centros urbanos (tradicionais) das cidades - com um potencial resiliente que absorve facilmente alterações programadas de uso (regeneração). Os espaços construídos são o futuro das oportunidades da cidade. Uma das ferramentas para a realização da requalificação e para a redefinição funcional serão os processos de Regeneração. ‘Hoje’, fruto de uma maior consciência dos problemas da dispersão, alentados pela crise do mercado imobiliário, começa-se a despertar para a Regeneração Urbana. Os centros tem sido progressivamente abandonados. O nosso país é o pais da União Europeia que menos investe em Recuperação / Reabilitação / Regeneração. As lógicas de mercado têm-se acomodado à expansão urbana. Os técnicos e promotores achavam mais fácil e acessível construir a partir do nada. Este facto é agravando pela insuficiente formação (informação) para as práticas e processos de regeneração, agravados por não existir uma dinamização do mercado de regeneração - faltou uma política e sistemas de penalizarão da construção nova e incentivos á 'regeneração urbana'. A super – valorização do preço do solo urbano (e da construção), colocam o acesso a casa própria a níveis muito altos, e o desequilíbrio do mercado de arrendamento, tornou pouco fluida a mobilidade residencial ('o pequeno proprietário quis ser especulador'). trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 3. ISCTE-IUL 2013/2014 Actualmente com a crise do financiamento, os problemas energéticos e a necessidade de melhor gestão de recursos põe em causa a manutenção de enormes fracções da cidade que estão vazias ou obsoletas. O desaproveitamento de infra – estruturas urbanas existentes, os gastos de energia em deslocações, a extensão dos serviços urbanos (recolha de lixos, segurança), a ampliação dos espaços e vias a conservar, facilmente revela os custos ocultos das políticas de expansão. Os processos de regeneração assumem assim um papel de acção estruturante para a recriação e reabilitação de modo sustentável dos espaços da cidade, exigindo um urbanismo mais interventivo e uma disposição activa para soluções participativas e abertas. Os processos de regeneração têm algumas dificuldades iniciais a ultrapassar. O tecido preexistente em muitos casos não se encontra capaz de receber as actuais exigências de conforto urbano. A resolução de problemas de propriedade, o fraccionamento da propriedade dificulta as operações integradas em conjuntos urbanos. A circulação e o estacionamento automóvel constitui um obstáculo a ultrapassar, essencial para o sucesso da operação. A articulação da operação com as preexistências, a programação da ocupação têm que ser estudadas ao nível da cidade, envolvendo novos mecanismos, estudos de viabilidade, e processos de acção (assim como novos processos de marketing (por operação)), devendo todos os intervenientes acordarem de modo participativo as acções (município, promotores, moradores - devendo o processo ser o mais participativo possível para um consenso alagado - para o sucesso da operação). A regeneração urbana tem de evidenciar vantagens, de modo a ganhar adeptos, redireccionar o mercado, demostrando o valor da alternativa. As acções de regeneração devem valorizar o património urbano e ambiental, fiscalidade adequada, redefinição de índices, definição e programação da circulação e estacionamento articuladas com a mobilidade urbana e implementação de processos de renovação do espaço publico – o redesenho do espaço público mais acolhedor e com maior conforto urbano, readaptado a novas vivências das cidades provoca sinergias atractivas. Abordagem sobre o Processo e Metodologia de Regeneração A Regeneração Urbana e Ambiental são estratégias e acções sustentáveis destinadas a potenciar os valores sócio – económicos, ambientais e funcionais de determinadas áreas de modo a elevar a qualidade de vida das populações residentes, melhorando as condições físicas do parque edificado, os níveis de habitabilidade e equipamentos comunitários, infra-estruturas, instalações e espaços livres. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 4. ISCTE-IUL 2013/2014 O Processo regeneração Sustentável terá de constituir e fazer parte integrante dos processos de fazer cidade. É urgente a criação de opções estratégicas e definições de acções necessárias à sua eficaz implementação. Um factor importante do sucesso de uma acção de Regeneração passa pela interacção entre os vários agentes envolvidos. Os técnicos devem adoptar uma abordagem mais integrada no conjunto estudado, tendo em consideração os fundamentos da sustentabilidade e dos valores ambientais (como a eco – eficiência e sustentabilidade nos processos construtivos). É essencial o trabalho em equipar multidisciplinares, de modo a atingir objectivos de um modo mais eficaz – através de soluções optimizadas, métodos e ferramentas de controlo do desenho urbano, custo, ambiente, monitorização, manutenção, vida útil, energia, gestão de resíduos, saúde, tecnologia, etc. O Processo deve possuir ferramentas de gestão que possam assegurar a funcionalidade do sistema e a flexibilidade de usos (sistema aberto). Uma metodologia de intervenção sustentável passa pela análise do território, nas mais diversas componentes e reportar as debilidades e potencialidades. A análise segundo indicadores de sustentabilidade produz meios de comparação com outros sistemas. A síntese das análises referidas determina os principais aspectos a trabalhar para que um determinado território se requalifique. Os objectivos Gerais de uma sustentável estratégia ou acção de Regeneração são os enunciados na ‘Carta de Aalborg’** A definição dos objectivos específicos da ‘regeneração’ deverá ser discutida e analisada pelos intervenientes locais e investidores (estratégia de acção prevista na Agenda 21). Os técnicos deverão fazer parte do processo como mediadores, moderadores, elaboração de processos geradores de consensos e produtores de instrumentos eficazes para a realização dos objectivos a atingir. O processo de Regeneração não deve de modo algum ser um sistema fechado. Deve possuir um sistema de gestão processual que possa introduzir e rectificar vectores de modo a gerar actualizações constantes à programação. Esta abertura programática permite que no fim de cada ciclo ou fase seja feita uma avaliação. A avaliação do processo e a introdução de informação permite (se for caso disso) redefenir o plano inicial e criar ou recriar novas ferramentas. Através deste processo o plano e os objectivos a atingir actualizam a sua sustentabilidade e eficácia perante o sistema de intervenção. ** Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade (aprovada pelos participantes na Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis, realizada em Aalborg, Dinamarca, a 27 de Maio de 1994) trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 5. ISCTE-IUL 2013/2014 O lançamento de uma iniciativa de Regeneração (Urbana) deve ser fundamentada através da criação ou consolidação de parcerias e de sensibilização da comunidade global (área de abrangência ). A realização de Diagnóstico do Sistema de Intervenção permite identificar as principais potencialidades e debilidades, oportunidades e ameaças. O estrutura desta análise deve ter uma componente participativa da comunidade, dos agentes e parcerias e uma componente técnica. O diagnostico / Análise deverá reportar debilidade e potencialidades nas seguintes componentes: Localização Geográfica; Ambiente e Paisagem (urbano e natural); Património; Habitação; Educação; História e Urbanismo; Demografia e ‘Fisionomia’ Social; Dinâmica Económica e Profissional; Turismo; Transportes; e Cultura e Lazer. A realização de um documento de análise de uma área deverá cruzar as várias componentes estudadas aplicando-lhes uma matrizes SWOT – Strenghts, Weakness, Opportunities e Threats – pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças. Tendo por base as matrizes SWOT anteriormente referidas (uma por cada componente estratégica definida), efectuar-se-á um esforço de reflexão e síntese tendo em vista a produção de uma matriz SWOT global incidente sobre a área de abrangência da intervenção, permitindo, deste modo, não só efectuar um retracto da situação actual, mas também introduzir uma dimensão prospectiva relativamente a: evolução e significado dos pontos fortes e fracos num contexto temporal; evolução e significado das oportunidades e ameaças que foram possíveis identificar tendo em vista o dinamismo do contexto interno num horizonte de médio prazo. · Consideração, na realização do diagnóstico, a definição de indicadores que permitam a monitorização e futuros ajustamentos das políticas e das acções. · Processo de validação dos indicadores definidos e os agentes económicos, sociais e institucionais. A Definição de áreas de actuação para a aplicação de uma estratégia de Regeneração Sustentável deve ser definida com metas concretas para as quais se deverá caminhar. Estas metas / objectivos deverão ser de carácter científico, social ou cultural, a curto, médio ou longo prazo. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 6. ISCTE-IUL 2013/2014 O processo de definição de objectivos / Metas deve envolver os vários participantes e actores do processo, de modo a produzir uma Proposta Estratégica de Regeneração sustentável (Planeamento participativo): A análise e avaliação dos dados do diagnóstico e as reuniões com os vários actores auto - define as Grandes Opções e Linhas de Orientação Estratégica Conducentes ao Plano de Acção de um Processo de Regeneração, resultando a definição dos grandes objectivos gerais e por área estratégica, formulando-se as estratégias adequadas à prossecução desses objectivos e definindo um leque de acções concretas estruturadas através de modelo de gestão adequados que funcionem como ferramenta descritiva e operacional corporizando as estratégias do processo de Regeneração; O Modelo de Gestão descritiva e operativa por acção, poderá ser o seguinte: Designação da acção; Área estratégica de intervenção; Descrição detalhada da acção; Justificação respeitante à área estratégica em que se integra; Justificação/efeitos noutras áreas estratégicas; Contributos para a sustentabilidade; Síntese de efeitos esperados; Pontos fortes e fracos da acção (incluindo apreciação do grau de exequibilidade); Identificação de alternativas para a sua implementação; Identificação dos agentes envolvidos ou a envolver e do seu grau de compromisso; Investimento expectável; Fontes de financiamento possíveis; Complementaridades com outros projectos e prioridades temporais; Calendarização prevista para a execução; Actividades a impulsionar no processo; Elementos para a avaliação da acção (indicadores específicos). A Criação do Plano de Acção como elemento central no processo de Regeneração sustentável trata-se da criação de um instrumento de gestão orientado para a implementação de estratégias identificadas. Este Instrumento de intervenção deverá ser tão prático quanto possível surgindo como resultado das conclusões. O Plano de Acção de Regeneração identifica acções concretas a implementar bem como a sua descrição, os seus promotores e os parceiros envolvidos. Este instrumento deverá estar aberto a novos contributos. O Plano de Acção de um Processo de Regeneração, consubstancia as Linhas de Orientação Estratégica num Programa Sustentável organizado em torno de objectivos claros e faseados e submetido a uma disciplina de monitorização técnica e financeira. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 7. ISCTE-IUL 2013/2014 Onde surgirem problemas, surgirão também, as soluções. Isto significa que, embora seja a autoridade local quem conhece melhor os problemas, esta não deve solucioná-los todos sem ajuda do exterior, por exemplo, das redes de associações, pois é de extrema importância o seu relacionamento com outras autoridades locais. Existem também muitas organizações, grupos e indivíduos implicados na gestão local, geralmente designados por “actores”. Estes actores podem ser agrupados, de um modo geral, nas seguintes categorias, embora estas se sobreponham em termos da respectiva posição numa comunidade: Cidadãos; Grupos de interesse; Comércio e indústria locais; Administração (central). A Importância do Desenho Urbano nas Acções de Regeneração Urbana e Ambiental Os projectos de Regeneração Urbana e Ambiental, tem de obter financiamento para a sua realização. Sem querer, retiram o papel fundamental dos estudos de viabilidade / económica de uma determinada acção, a qualidade do Desenho Urbano assume-se cada vez mais como o principal factor de decisão para a realização das acções de regeneração. A avaliação da qualidade do Desenho Urbano de uma determinada acção de regeneração urbana, passa por vários estágios de aproximação decorrentes do desenvolvimento e detalhe de cada acção. O desenho urbano é a ferramenta da regeneração para ‘mudar’ a paisagem urbana e criação de lugares onde as pessoas queiram viver, trabalhar e interagirem em sociedade, desde a rua à ‘nova cidade’. O desenho sustentável pode gerar novos apelos à cidade ‘tradicional’, sendo fundamental a qualidade para atrair, redireccionar e desenvolver o mercado, mudando a perspectiva do lugar e criando valor. Pode-se atribuir alguns aspectos chave para a criação de um Desenho Urbano de qualidade e sustentável: Espaços para as Pessoas – Para que os lugares sejam bem usados e bem vividos devem ser seguros, confortáveis, com variedade e atractivos. Aos lugares deve ser atribuídas características de distinção, e devem ser criados lugares de oportunidade e reunião. Valorizar o Existente – O desenvolvimento, enriquecimento e valorização das qualidades dos espaços urbanos existentes (em cada escala de intervenção - Região; Cidade; Bairro ; Rua). Promover a Conexão – Os lugares devem ter características de fácil identificação e conexão com a envolvente, de modo a facilitar a georeferenciação do utente com os lugares, facilitando as deslocações e ligações entre espaços, ao nível do peão; bicicleta; transportes públicos e transporte particular. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 8. ISCTE-IUL 2013/2014 Meio - Ambiente – É importante que o desenho trabalhe os espaços de modo a criar um equilíbrio sustentável entre o ‘natural’ e o urbano. O desenho deverá tirar o máximo partido do clima, da orientação e dos recursos naturais dos espaços, o ‘eco – desenho’ promove lugares e construções com maior eficácia energética e com maior conforto urbano. Formas e Usos Mistos – A criação de espaços com forma e função heterogénea estimula e promove a coesão social, fomentam a diversidade, desenvolvimento e inovação. Controlo do Investimento – Um processo de regeneração terá de ser bem gerido, monitorizado e mantido (manutenção), para que o seu sucesso e sustentabilidade seja continuado. O processo devem ter etapas definidas e mecanismos de implementação. Promover Desenvolvimento através do Desenho – O Desenho deve ser flexível de modo a poder responder a mudanças futuras de uso, estilo de vida e densidade de ocupação. Os processos devem gerir eficazmente os recursos desenvolvidos, criando a flexibilidade do uso da propriedade, dos espaços públicos, das infra – estruturas, ligações a rede de transportes, gerência do tráfego e estacionamento. Considerações: - Análise e apreciação do contexto da intervenção - devem ser analisados a comunidade, os espaços, os recursos naturais, as ligações, a flexibilidade e a ‘visibilidade’ do espaço da intervenção. - Regeneração de estruturas urbanas – é importante analisar os movimentos casa-trabalho; densidade, equipamentos, a morfologia urbana, a eficácia energética, a paisagem, as marcas de referência do espaço e dos lugares e os usos; - Transportes, mobilidade e ligações – um processo de regeneração nunca deve isolar uma área, mas sim promover a ligação dos espaços, promovendo ligações pedonais, criação de ciclovias, gestão de transportes públicos e tráfego, parqueamento e infra - estruturas de apoio. - Promover e criar identidade do lugar – através de espaço urbano ‘positivo’, animação dos centros, construir com atenção à escala do lugar, criação de edifícios e espaços multifuncionais ( com flexibilidade de usos), criar um lugar desejado, próspero e profícuo. ARTE E CULTURA - PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE DA CIDADE TRADICIONAL? A preocupação com a cidade tradicional e com a sua regeneração tem vindo a fazer parte de programas e iniciativas de modo a criar maior atracção de fixação e de oportunidades através da valorização dos valores da cidade tradicional como base sustentável para uma melhor economia, sociedade e conforto. O movimento capital europeia da cultura pretende, promover a cultura local/regional da cidade, entendendo-se este movimento como uma forma de valorizar a cultura de cidade pressupondo que é nela que se geram os maiores fenómenos de experiências culturais da Europa. Este movimento regenerador confere ao lugar da cultura e à arte um vector de desenvolvimento e (re)valorização das cidades. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 9. ISCTE-IUL 2013/2014 A relação da cultura e da arte com a cidade tende hoje a ser vista como contendo um potencial ímpar de regeneração urbana. A arte e a cultura são ingredientes de identidade da cidade, ficando em aberto o modo como a cidade, aproveitando a oportunidade de acontecimentos culturais ‘globalizantes’, o pode projectar de forma coerente e duradoura, para não tornar um acontecimento regenerador numa oportunidade esgotada. A fragmentação urbana, a degradação das relações primárias, o estímulo ao mercado, à diferenciação e à mobilidade, converteram as novas expansões em lugares de desencanto e desconforto urbano – traduzindo de um modo simplista o ‘Projecto Moderno’ (modernismo). A atitude pós-moderna será a re-orientação das políticas urbanas dos subúrbios e bairros periféricos para os centros das cidades – sustentada com operações de regeneração da cidade tradicional? Um caso paradigmático da cidade industrial era o seu crescimento a partir do centro para as margens. Actualmente a resposta a decadência funcional a todos os níveis das periferias coloca em sentido inverso, uma cidade virada para o comércio e serviços (pós industrial) cresce das margens para o centro. Este crescimento só pode ser sustentável pela regeneração do centro de uma cidade, através da re - construção de uma nova identidade para a cidade, no empenhamento de numerosos agentes locais na construção de uma nova paisagem cultural com uma espacialização específica - regeneração cultural. Este processo já despertou uma dinâmica económica simbólica posta em prática por artistas e artesãos que se vão fixando no centro degradado da cidade, existindo recuperação residencial de instauração de zonas alternativas de produção cultural, boémia e de regeneração de zonas ribeirinhas, manifestada na multiplicação de ateliers de design, galerias, restaurantes, etc. No entanto o fenómenos de re - apropriação de certas zonas por ‘gente da arte e cultura’, pode garantir que o investimento cultural teve efeitos positivos directos sobre a renovação urbana e a imagem da cidade, no entanto o êxito está na criação de políticas continuadas para refazer a imagem do centro da cidade e a nova identidade, de forma a que articulem no futuro a lógica económico-política da cidade para captar a iniciativa de novos agentes e criar novas oportunidades. O impacto da globalização, a concorrência inter-cidades impõe, sobre a cidade, exigências e desafios novos, cuja resolução depende da sua modernização. Uma das trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014
  • 10. ISCTE-IUL 2013/2014 formas de modernização das cidades, é através da reinvenção da tradição e da sua reconversão em recurso competitivo. A através da ‘destradicionalização’ pode mudar-se a imagem da cidade de província, culturalmente fechada e tradicionalista, para uma cidade simbolicamente global, aberta e em processo de modernização. O património histórico e monumental local, desempenha um papel crucial nesta reconfiguração da identidade-imagem da cidade. Um processo de regeneração urbana pode ser dinamizado pela globalização da imagem através das candidaturas e títulos conferidos pela UNESCO (ex. ‘Património da Humanidade’). O aproveitamento destes títulos proporciona a abertura ao turismo urbano e cultural, sendo o património, um dos seus recursos mais valiosos, proporcionando à redinamização da cultura e da economia locais, através da projecção internacional. Nota: O tema que pretendo desenvolver na tese de Doutoramento prende-se com as questões da resiliencia da cidade e com os processos de Regeneração Urbana, com enfoque na importância da Arte e Cultura como a cola de ligação entre as várias partes da cidade e o sociedade. Proponho-me igualmente estudar o desenvolvimento da cidade durante o século XX, nomeadamente no que diz respeito a Arte e Cultura, nomeadamente a Arte Publica, o espaço publico, as manifestações culturais, como vectores de desenvolvimento da cidade dentro dos processos de regeneração urbana. BIBLIOGRAFIA · ‘A Green Vitruvius’ – Princípios e Práticas de Projecto para uma Arquitectura Sustentável · Better Places to Live: by Design was prepared by consultants Llewelyn – Davies in association with Alan Baxter Associates · Domingues, A. , Política urbana e competitividade Sociedade e Território, · ‘Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, ENDS 2002 · Guia Europeu de Planeamento para a Agenda 21 Local · Revista ‘Planeamento’ n.º 1 – Associação Portuguesa de Planeadores do Território (Universidade de Aveiro) · Salgueiro, T. B., “A Cidade em Portugal: Uma Geografia Urbana” · Silva, Vítor Cóias e, Revista ‘Pedra e Cal’, n.º11 e 17 · Pereira, Nuno Teotónio Revista ‘Pedra e Cal’ n.º 9 e 18 · Zukin, S. , The Cultures of Cities. Cambridge (Mass.) e Oxford, Blackwell. trabalho realizado por : DÁRIO CAMPOS VIEIRA (66257) Doutoramento em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos Julho 2014