Os três maiores colégios eleitorais da Bahia, Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, têm grande importância para as eleições estaduais por concentrarem um quarto dos votos válidos. Historicamente, os candidatos que venceram essas três cidades conseguiram disparar na disputa e até vencer em primeiro turno. Agora, os pré-candidatos ao governo da Bahia preparam estratégias para conquistar esses eleitores.
1. SALVADOR DOMINGO 11/5/2014B2 POLÍTICA
ELEIÇÕES 2014 Em 1998, 2006 e 2010, Salvador, Feira e Conquista cumpriram o
papel de ajudar os eleitos a disparar e vencer as disputas ainda em primeiro turno
Candidatos cobiçam os três
maiores colégios eleitorais
DONALDSON GOMES
Os candidatos vencedores
nas quatro últimas eleições
para o governo da Bahia con-
seguirammaisdametadedos
votos nos três principais co-
légios eleitorais – Salvador,
Feira de Santana e Vitória da
Conquista – em três ocasiões.
Em2002,únicaexceção,ogo-
vernadoreleitonaépoca,Pau-
lo Souto (DEM), perdeu nas
cidades por 200 mil votos.
Na maioria dos casos, em
1998, 2006 e 2010, Salvador,
Feira e Conquista cumpriram
o papel de ajudar os eleitos a
disparar e vencer as disputas
ainda em primeiro turno.
Foi assim em 2010, quando
Wagner disputou a reeleição e
saiu vencedor das urnas com
mais de quatro milhões de vo-
tos. Pouco mais de um milhão
saiu dos três centros urbanos.
Agora, quando o governa-
dor não terá o nome na urna
pela primeira vez em 12 anos,
os grupos que querem gover-
nar a Bahia preparam as es-
tratégias para ganhar essas
três áreas.
Em Salvador, onde foi o es-
colhido por pouco mais de
64% dos eleitores, Wagner
abriu mais de 620 mil votos
de frente em relação ao se-
gundo colocado.
NascidadesdeFeiradeSan-
tana e Vitória da Conquista, o
governadormanteveafrente,
embora com percentuais me-
nores, de 50,6% e 49,5%, res-
pectivamente.
Um em cada quatro votos
válidos na eleição de 2010
saiu das três cidades – únicas
com mais de 100 mil eleito-
res, e que por isso podem ter
disputas de segundo turno
em eleições municipais. Jun-
tas, elas respondem por pou-
co mais de 25% do total de
eleitores.
Isso em um estado com 417
municípios e dimensões con-
tinentais já é motivo mais do
que suficiente para despertar
aatençãodequemdesejacon-
quistar o direito de morar no
Alto de Ondina e trabalhar no
terceiro andar do prédio da
Governadoria pelos próxi-
mos quatro anos.
Mas, além da concentração
de eleitores, os representan-
tes dos pré-candidatos ouvi-
dos pela reportagem admi-
tem que vencer, principal-
mente na capital, terá um sa-
bor especial.
Estratégias
Apesar de destacar a impor-
tância de todas as cidades pa-
ra vencer a eleição, o presi-
dente do PT na Bahia, Eve-
raldo Anunciação, diz que o
pré-candidato governista, o
deputado federal Rui Costa
(PT), terá argumentos para
convencer os eleitores das
maiores cidades baianas a
apoiá-lo.
Ele lembra que o PT vinha
de derrota nas eleições mu-
nicipais em Salvador e Feira
de Santana de 2008 e, ainda
assim, o governador Jaques
64%
foi o percentual de votos
válidos que o governador
Jaques Wagner (PT)
recebeu em Salvador
quando foi candidato à
reeleição na última eleição
estadual, disputada há
quatro anos. Ele foi o
candidato ao governo do
estado mais votado na
capital baiana por três
eleições seguidas
Wagnertevedesempenhopo-
sitivo nos locais.
“O fato de termos sido der-
rotados nessas cidades não
significa necessariamente
que teremos um mau desem-
penhodeRui.Nóstemosmais
de R$ 8 bilhões em investi-
mentos de mobilidade. Se a
avaliação vai ser das ações,
teremos um desempenho ex-
traordinário”, aposta.
Para Anunciação, o poder
de transferência de votos dos
prefeitos do DEM em Salva-
dor e Feira de Santana não é
tão certo quanto a oposição
acredita. “O prefeito de Sal-
vador(ACMNeto)foieleitono
aperto, em segundo turno”.
Entretanto, é exatamente
emNetoenoprefeitodeFeira,
Zé Ronaldo, que a oposição
aposta para elevar os núme-
ros de Paulo Souto, que há
quatroanosteve198milvotos
nacapitale70milemFeirade
Santana.
“Nósnãotínhamosumaes-
trutura que nos permitisse
sonhar com um resultado di-
ferente naquela ocasião”,
lembra o presidente do DEM
baiano, José Carlos Aleluia.
Agora, as fichas serão apos-
tadasnasavaliaçõespositivas
dos dois prefeitos. “ACM Neto
é o nosso arquiteto político.
Ele e Zé Ronaldo, que faz um
grande governo em Feira, se-
rão nossos cartões de visitas”,
afirma Aleluia.
A senadora Lídice da Mata,
pré-candidata pelo PSB, deve
apostar no chamado voto de
opinião e no público ligado à
educação, diz o coordenador
dacampanhadela,Domingos
Leonelli. “Não só essas três
cidades, mas as 20 maiores
cidades têm uma grande con-
centração de pessoas que são
mais sensíveis ao discurso de
Lídice, que será focado na
questão da educação”, diz.
A reportagem tentou, sem
sucesso,contatosportelefone
com os pré-candidatos do
PSOL, Marcos Mendes, e do
PRTB, Rogério Tadeu da Luz.
53,5%
foi o percentual de votos
alcançado pelo prefeito de
Salvador, ACM Neto (DEM),
no segundo turno da
última eleição, disputado
contra Nelson Pelegrino
(PT)
Votação para governador nos três maiores
colégios eleitorais da Bahia
RETRATO DE 2010
FONTE Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Editoria de Arte A TARDE
26,7
50,6
Feira de Santana
Geddel Vieira Lima (PMDB)
Marcos Mendes (PSOL)
Luiz Carlos Bassuma (PV)
Paulo Souto (DEM)
Sandro Santa Bárbara (PCB)
Jaques Wagner (PT)
40.215
1.745
17.141
70.233
336
133.097
15,4
0,7
6,5
0,1
49,5
Conquista (136667 votos)
Marcos Mendes (PSOL)
Geddel Vieira Lima (PMDB)
Jaques Wagner (PT)
Luiz Carlos Bassuma (PV)
Paulo Souto (DEM)
Sandro Santa Bárbara (PCB)
531
18.847
67.693
10.253
39.275
68
0,4
13,8
7,5
28,7
0,1
Salvador
Luiz Carlos Bassuma (PV)
Sandro Santa Bárbara (PCB)
9
64,3
10,3
15
Marcos Mendes (PSOL)
Jaques Wagner (PT)
Geddel Vieira Lima (PMDB)
Paulo Souto (DEM)
113.613
1.368
17.386
815.314
131.398
189.126
0,1
1,3
Votos Votos válidos (em %)
Eleitor mais esclarecido leva em
conta a conjuntura para decidir
Respeitando-se as diferenças
que existem entre todos os
seres humanos, a principal
característica do eleitor de
uma grande cidade brasileira
é a insatisfação, expressa no
chamado voto de protesto.
O cientista político Jovinia-
no Neto diz que este eleitor
costuma escolher os candida-
tos muito mais com base em
uma conjuntura, uma situa-
ção de momento.
“Após a redemocratização,
construiu-se uma história de
alternância nas cidades
maiores, porém com marcas
mais oposicionistas. O elei-
torado é mais independente,
marcado por um grande grau
de insatisfação”, diz.
A situação, segundo ele,
contrasta com o quadro mais
usual nas menores cidades,
que guardariam um desenho
político em que candidatos
com perfis mais ligados ao
centro e à direita disputam o
poder.
“Esse desenho político da
política centro-conservadora
se perpetuou no interior. Os
políticos aprendem, às vezes
com base na realidade, que
precisam estar ao lado do go-
verno”, afirma.
O modelo do interior, se-
gundo Neto, remonta ao pe-
ríodo anterior ao golpe mi-
litarde1964,quandodoispar-
tidos eminentemente rurais,
a UDN e o antigo PSD, dis-
putavam o poder.
“Com o golpe, os dois gru-
pos convergiram para a Are-
na, mas mantiveram as dis-
putas internamente. Nas ca-
pitais não havia disputas mu-
nicipais, então esse modelo
ficou no interior”, explica.
JovinianoNetolembraaúl-
tima eleição municipal em
Salvador, cujo resultado teria
sido influenciado pelas gre-
ves de policiais e de profes-
sores naquele ano.
“Aquelas greves criaram
um clima negativo para a po-
pulação, o que terminou por
favorecer o candidato que re-
presentava a oposição”, lem-
bra o cientista político.
Para Neto, Salvador varia
muito mais de acordo com a
conjuntura que Feira de San-
tana e Vitória da Conquista.
“Em Conquista e Feira te-
mos posições partidárias
maisclaras.Noprimeirocaso,
temos uma cidade com bases
muito antigas do PT, e no se-
gundo, ainda que exista uma
divisão, ultimamente o elei-
toradopendemaisparaogru-
po que está no poder”, diz.
Apesar de reconhecer que a
dinâmica das grandes cida-
des difere das pequenas, o
professor do departamento
de ciência política da Univer-
sidade Federal da Bahia, Cló-
vis Oliveira, recomenda mui-
to cuidado para “não imagi-
nar que o eleitor das grandes
cidades é mais esclarecido,
enquanto o das pequenas são
reféns da ignorância”.
Paraele,agrandediferença
em cidades como Salvador e
Feira de Santana, as duas úni-
cas da Bahia com mais de
meio milhão de habitantes, é
uma realidade socioeconô-
mica mais difusa.
“De alguma maneira, as
grandes cidades têm um voto
mais crítico, porém também
formado por pequenos nú-
cleos em que se repetem pa-
drões de pequenas cidades.
Além disso, não se podem
pensar nos pequenos muni-
cípios como grotões. Quem
vive em cidades pequenas
não é refém da ignorância”,
diz Oliveira.
Poder de influência
Uma característica dos gran-
des centros urbanos é o que
ClóvisOliveirachamadeuma
maior “infraestrutura parti-
dária”. Nestes locais, os par-
tidos políticos estariam mais
bem estruturados e, durante
as campanhas eleitorais, te-
riam um maior poder de in-
fluência sobre a população.
“Basta verificarmos a quan-
tidade de mobilizações em
Salvador. Esse ativismo e essa
militância política mais des-
tacada é característica de ci-
dade grande”, diz.
Transferência de
votos não é
tarefa simples,
diz especialista
Depoisdeconcluírematarefa
de montar as chapas que vão
representar os grupos políti-
cos a que pertencem, o go-
vernador Jaques Wagner (PT)
e o prefeito de Salvador, ACM
Neto (DEM), vão tentar mos-
trar na próxima eleição que
são bons cabos eleitorais.
O processo de transferên-
cia de votos, no entanto, não
é tão simples como pode pa-
recer, avisa o professor Clóvis
Oliveira, do departamento de
ciência política da Universi-
dade Federal da Bahia.
“Temqueseverificarbema
popularidade do padrinho,
mas o processo de escolha
não depende só disso. A in-
fraestrutura partidária, es-
trutura de diretórios, capaci-
dade de mobilização de mi-
litantessãofatoresimportan-
tes”, lembra.
ParaOliveira,apopularida-
de deve ser analisada junto
com a logística de campanha
e com o aparato de comuni-
cação que o partido possui.
Além disso, complementa,
“não se pode imaginar que é
possível colar no candidato
apenas os aspectos positivos
do padrinho. Vai o conjunto
de qualidades e defeitos”.
Para o cientista político Jo-
viniano Neto, este é um fator
que pode variar de acordo
com a propaganda eleitoral.
“O governador, por exemplo,
pode estar mal avaliado hoje
e melhorar amanhã se con-
seguir mostrar o que fez”.
Eleição de 2012
foi influenciada
pelas greves de
policiais e
professores, diz
Joviniano Neto